CÉU, I
A palavra hebraica sha·má·yim (sempre no plural), traduzida “céu(s)”, parece ter o sentido básico de algo alto ou elevado. (Sal 103:11; Pr 25:3; Is 55:9) A etimologia da palavra grega para céu (ou·ra·nós) é incerta.
Céus Físicos. O pleno alcance dos céus físicos é abrangido pelo termo da língua original. O contexto usualmente provê informações suficientes para se determinar a que área dos céus físicos se refere o termo.
Céus da atmosfera terrestre. “O(s) céu(s)” pode(m) aplicar-se à plena extensão da atmosfera da terra, em que se formam orvalho e geada (Gên 27:28; Jó 38:29), as aves voam (De 4:17; Pr 30:19; Mt 6:26), os ventos sopram (Sal 78:26), os raios lampejam (Lu 17:24), e as nuvens flutuam e deixam cair chuva, neve ou granizo (Jos 10:11; 1Rs 18:45; Is 55:10; At 14:17). A referência ao “céu” às vezes é à abóbada aparente ou visível, que se arqueia por cima da terra. — Mt 16:1-3; At 1:10, 11.
Esta região atmosférica corresponde em geral à “expansão [hebr.: ra·qí·aʽ]” formada durante o segundo período criativo, descrito em Gênesis 1:6-8. Evidentemente é a este ‘céu’ que Gênesis 2:4; Êxodo 20:11; 31:17 se referem ao falar da criação “dos céus e da terra”. — Veja EXPANSÃO.
Quando foi formada a expansão da atmosfera, as águas na superfície da terra foram separadas de outras águas acima da expansão. Isto explica a expressão usada com respeito ao Dilúvio global dos dias de Noé, que “romperam-se todos os mananciais da vasta água de profundeza e abriram-se as comportas dos céus”. (Gên 7:11; compare isso com Pr 8:27, 28.) No Dilúvio, as águas suspensas sobre a expansão evidentemente desceram como que por certos canais, bem como por chuva. Quando este enorme reservatório se esvaziara, essas “comportas dos céus” como que “fecharam-se”. — Gên 8:2.
Espaço sideral. Os “céus” físicos estendem-se através da atmosfera da terra e mais além para as regiões do espaço sideral, com seus corpos estelares, “todo o exército dos céus” — sol, lua, estrelas e constelações. (De 4:19; Is 13:10; 1Co 15:40, 41; He 11:12) O primeiro versículo da Bíblia descreve a criação desses céus estrelados antes da preparação da terra para a habitação humana. (Gên 1:1) Esses céus mostram a glória de Deus, assim como faz a expansão da atmosfera, sendo a obra dos “dedos” de Deus. (Sal 8:3; 19:1-6) Os divinamente determinados “estatutos dos céus” controlam todos estes corpos celestes. Os astrônomos, apesar do seu equipamento moderno e do avançado conhecimento de matemática, ainda não conseguem compreender plenamente estes estatutos. (Jó 38:33; Je 33:25) Suas descobertas, porém, confirmam a impossibilidade de o homem pôr medida em tais céus ou de contar os corpos estelares. (Je 31:37; 33:22; veja ESTRELA.) Todavia, eles são contados por Deus, que os chama por nome. — Sal 147:4; Is 40:26.
O “meio do céu” e as “extremidades dos céus”. A expressão “meio do céu” aplica-se à região dentro da expansão da atmosfera terrestre onde voam aves tais como a águia. (Re 8:13; 14:6; 19:17; De 4:11 [hebr.: “coração dos céus”]) Algo similar é a expressão “entre a terra e os céus”. (1Cr 21:16; 2Sa 18:9) O avanço dos que atacariam Babilônia desde “a extremidade dos céus” evidentemente significa chegarem a ela desde o horizonte distante (onde a terra e o céu parecem encontrar-se, e o sol parece levantar-se e pôr-se). (Is 13:5; compare isso com Sal 19:4-6.) Similarmente, “das quatro extremidades dos céus” parece referir-se aos quatro pontos cardeais, indicando assim o abrangimento dos quatro cantos da terra. (Je 49:36; compare isso com Da 8:8; 11:4; Mt 24:31; Mr 13:27.) Assim como os céus rodeiam a terra em todos os lados, assim a visão de Jeová, de tudo “debaixo dos céus inteiros”, abrange todo o globo. — Jó 28:24.
Os céus nublados. Outro termo, o hebraico shá·hhaq, também é usado para se referir aos “céus” ou às suas nuvens. (De 33:26; Pr 3:20; Is 45:8) Esta palavra tem o sentido básico de algo triturado ou pulverizado, como “a camada fina de pó” (shá·hhaq) em Isaías 40:15. É definitivamente apropriado este sentido, visto que as nuvens se formam quando o ar quente, subindo da terra, esfria ao que se conhece como ponto de orvalho, e o vapor de água nele se condensa em minúsculas partículas às vezes chamadas de poeira de água. (Compare isso com Jó 36:27, 28; veja NUVEM.) Acrescentando algo à exatidão disso, o efeito visual da abóbada azul do céu é causado pela difusão dos raios do sol por moléculas de gás e outras partículas (inclusive pó) que compõem a atmosfera. Por Deus formar essa atmosfera, ele, na realidade, ‘achatou o céu nublado, duro como um espelho fundido’, dando um limite definido, ou uma clara demarcação da abóbada atmosférica azul acima do homem. — Jó 37:18.
“Céus dos céus.” A expressão “céus dos céus” é considerada como se referindo aos céus mais altos e abrangeria a plena extensão dos céus físicos, não importa quão vastos, visto que os céus se estendem da terra em todas as direções. — De 10:14; Ne 9:6.
Salomão, construtor do templo em Jerusalém, declarou que os “céus, sim, o céu dos céus”, não podem conter a Deus. (1Rs 8:27) A posição de Jeová, como Criador dos céus, é muito acima de todos eles, e “só o seu nome é inalcançavelmente elevado. Sua dignidade está acima da terra e do céu”. (Sal 148:13) Jeová mede os céus físicos com a mesma facilidade que um homem mediria um objeto por estender os dedos, para que o objeto ficasse entre a ponta do polegar e a do mindinho. (Is 40:12) A declaração de Salomão não significa que Deus não tenha um lugar específico de residência. Tampouco significa que ele seja onipresente, no sentido de literalmente estar em toda a parte e em tudo. Isto se pode ver em Salomão falar também de Jeová como ouvindo “desde os céus, teu lugar estabelecido de morada”, isto é, os céus do domínio espiritual. — 1Rs 8:30, 39.
Assim, em sentido físico, o termo “céus” tem grande latitude. Ao passo que pode referir-se aos mais distantes pontos do espaço universal, pode também referir-se a algo que simplesmente é alto, ou elevado, num grau fora do comum. Assim, diz-se que aqueles que se encontram em navios jogados pelo vento tempestuoso “sobem aos céus, descem às profundezas”. (Sal 107:26) Neste respeito, também, os construtores da Torre de Babel pretendiam erguer um edifício “com o seu topo nos céus”, como que um “arranha-céu”. (Gên 11:4; compare isso com Je 51:53.) E a profecia em Amós 9:2 fala de homens como ‘subindo aos céus’ no esforço vão de escapar dos julgamentos de Jeová, o que evidentemente significa que tentariam refugiar-se nas regiões montanhosas elevadas.
Céus Espirituais. As mesmas palavras das línguas originais usadas para os céus físicos também são aplicadas aos céus espirituais. Conforme vimos, Jeová Deus não reside nos céus físicos, por ser Espírito. Todavia, visto que ele é “o Enaltecido e Elevado”, que reside “no alto” (Is 57:15), o sentido básico daquilo que é “enaltecido” ou “elevado”, expresso na palavra da língua hebraica, torna-a apropriada para descrever a “morada excelsa de santidade e beleza”. (Is 63:15; Sal 33:13, 14; 115:3) Jeová, como Produtor dos céus físicos (Gên 14:19; Sal 33:6), é também seu Dono. (Sal 115:15, 16) Faz neles o que se agrada de fazer, inclusive atos milagrosos. — Sal 135:6.
Portanto, em muitos textos, os “céus” representam o próprio Deus e sua posição soberana. Seu trono está nos céus, quer dizer, no domínio espiritual que ele também governa. (Sal 103:19-21; 2Cr 20:6; Mt 23:22; At 7:49) Jeová, desde a sua posição suprema e máxima, realmente, ‘olha para baixo’, para os céus e a terra físicos (Sal 14:2; 102:19; 113:6), e também, da sua posição elevada, ele fala, atende petições e faz julgamentos. (1Rs 8:49; Sal 2:4-6; 76:8; Mt 3:17) De modo que lemos que Ezequias e Isaías, em face duma grave ameaça, “oravam . . . e clamavam aos céus por socorro”. (2Cr 32:20; compare isso com 2Cr 30:27.) Também Jesus usou os céus como representativos de Deus ao perguntar aos líderes religiosos se a origem do batismo de João era “do céu ou dos homens”. (Mt 21:25; compare isso com Jo 3:27.) O filho pródigo confessou ter pecado “contra o céu”, bem como contra o seu próprio pai. (Lu 15:18, 21) “O reino dos céus”, portanto, não significa apenas ele ter sua sede nos céus espirituais ou governar dali, mas também ser “o reino de Deus”. — Da 2:44; Mt 4:17; 21:43; 2Ti 4:18.
Também, por causa da posição celestial de Deus, tanto homens como anjos elevavam mãos ou face para os céus ao pedir que ele atuasse (Êx 9:22, 23; 10:21, 22), ao fazer um juramento (Da 12:7) e em oração (1Rs 8:22, 23; La 3:41; Mt 14:19; Jo 17:1). Em Deuteronômio 32:40, Jeová fala de si mesmo como ‘levantando a mão para o céu em juramento’. Em harmonia com Hebreus 6:13, isto evidentemente significa que Jeová jura por si mesmo. — Veja Is 45:23.
Moradia angélica. Os céus espirituais são também a “moradia correta” dos filhos espirituais de Deus. (Ju 6; Gên 28:12, 13; Mt 18:10; 24:36) A expressão “o exército dos céus”, frequentemente aplicada à criação estelar, às vezes descreve esses filhos angélicos de Deus. (1Rs 22:19; compare isso com Sal 103:20, 21; Da 7:10; Lu 2:13; Re 19:14.) Assim, também, “os céus” são personificados como representando os anjos, a “congregação dos santos”. — Sal 89:5-7; compare isso com Lu 15:7, 10; Re 12:12.
Representando Governo. Vimos que os céus podem referir-se a Jeová Deus na sua posição soberana. Assim, quando Daniel disse a Nabucodonosor que a experiência pela qual passaria esse imperador babilônio faria com que ele ‘soubesse que são os céus que governam’, isso queria dizer o mesmo que saber “que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade”. — Da 4:25, 26.
Todavia, fora da sua referência ao Soberano Supremo, o termo “céus” pode também referir-se a outros poderes governantes enaltecidos ou elevados acima dos seus povos sujeitos. A própria dinastia de reis babilônios, que Nabucodonosor representava, é descrita em Isaías 14:12 como estelar, um “brilhante, filho da alva”. Por meio da conquista de Jerusalém, em 607 AEC, esta dinastia babilônica elevara seu trono “acima das estrelas de Deus”, sendo que estas “estrelas” evidentemente se referem à linhagem davídica de reis de Judá (do mesmo modo que o Herdeiro do trono davídico, Cristo Jesus, é chamado de “a resplandecente estrela da manhã”, em Re 22:16; compare isso com Núm 24:17). Por ter derrubado o divinamente autorizado trono davídico, a dinastia babilônica, na realidade, enalteceu-se até os céus. (Is 14:13, 14) Esta enaltecida grandiosidade e extenso domínio foram também representados no sonho de Nabucodonosor por uma árvore simbólica, cuja altura “atingiu os céus”. — Da 4:20-22.
Novos céus e nova terra. A ligação dos “céus” com poder governante ajuda no entendimento do sentido da expressão “novos céus e uma nova terra”, encontrada em Isaías 65:17; 66:22, e citada pelo apóstolo Pedro em 2 Pedro 3:13. Observando esta relação, a Cyclopædia (Ciclopédia, 1891, Vol. IV, p. 122) de M’Clintock e Strong comenta: “Em Isa. lxv, 17, um novo céu e um nova terra significam um novo governo, novo reino, novo povo.”
Assim como a “terra” pode referir-se a uma sociedade de pessoas (Sal 96:1; veja TERRA); assim também “céus” pode simbolizar o superior poder dominante ou governo sobre essa “terra”. A profecia que apresenta a promessa de “novos céus e uma nova terra”, dada por meio de Isaías, tratava inicialmente da restauração de Israel do exílio babilônico. Quando os israelitas retornaram à sua pátria, eles entraram num novo sistema de coisas. Ciro, o Grande, foi destacadamente usado por Deus para realizar esta restauração. De volta em Jerusalém, Zorobabel (descendente de Davi) serviu como governador, e Josué, como sumo sacerdote. Em harmonia com o propósito de Jeová, este novo arranjo governamental, ou “novos céus”, dirigia ou supervisionava o povo sujeito. (2Cr 36:23; Ag 1:1, 14) Assim, conforme predisse o versículo 18 do capítulo 65 de Isaías, Jerusalém tornou-se “causa para júbilo e seu povo como causa para exultação”.
A citação de Pedro, porém, mostra que se devia aguardar um cumprimento futuro, à base da promessa de Deus. (2Pe 3:13) Visto que, neste caso, a promessa de Deus se relaciona com a presença de Cristo Jesus, conforme mostra o versículo 4, os “novos céus e uma nova terra” devem relacionar-se com o Reino messiânico de Deus e seu domínio sobre súditos obedientes. Cristo Jesus, por meio da sua ressurreição e ascensão à mão direita de Deus, passou a ser “mais alto do que os céus” (He 7:26), no sentido de que ele foi assim colocado “muito acima de todo governo, e autoridade, e poder, e senhorio . . . não só neste sistema de coisas, mas também no que há de vir”. — Ef 1:19-21; Mt 28:18.
Os seguidores cristãos de Jesus, como “participantes da chamada celestial” (He 3:1), são designados por Deus “herdeiros” em união com Cristo, por meio de quem Deus se propôs “ajuntar novamente todas as coisas”. “As coisas nos céus”, quer dizer, os chamados para a vida celestial, são os primeiros a serem assim ajuntados em união com Deus por meio de Cristo. (Ef 1:8-11) Sua herança lhes é “reservada nos céus”. (1Pe 1:3, 4; Col 1:5; compare isso com Jo 14:2, 3.) Estão “alistados” e têm sua “cidadania” nos céus. (He 12:20-23; Fil 3:20) Constituem a “Nova Jerusalém” observada na visão de João como “descendo do céu, da parte de Deus”. (Re 21:2, 9, 10; compare isso com Ef 5:24-27.) Uma vez que esta visão é inicialmente declarada ser de “um novo céu e uma nova terra” (Re 21:1), segue-se que ambos são representados no que se descreve depois. Portanto, o “novo céu” deve corresponder a Cristo junto com sua “noiva”, a “Nova Jerusalém”, e a “nova terra” é vista nos ‘povos da humanidade’, que são seus súditos e que recebem as bênçãos do seu governo, conforme descrito nos versículos 3 e 4.
Terceiro céu. Em 2 Coríntios 12:2-4, o apóstolo Paulo fala de um homem que “foi arrebatado . . . até o terceiro céu” e “para o paraíso”. As Escrituras não mencionam nenhuma outra pessoa que tenha tido uma experiência como essa. Por isso, parece lógico concluir que Paulo estava falando de sua própria experiência. Alguns têm buscado relacionar a referência de Paulo ao terceiro céu com o antigo conceito rabínico de que existem três estágios de céu, até mesmo “sete céus”. No entanto, não há nada nas Escrituras que apoie esse ponto de vista. Como vimos, os céus não foram descritos aqui de modo específico como se estivessem divididos em níveis ou estágios. Por isso, deve-se levar em conta o contexto para determinar se Paulo estava falando dos céus dentro da atmosfera terrestre, dos céus no espaço sideral, dos céus espirituais ou de outra coisa. Assim, tudo indica que “o terceiro céu” se refere à superioridade do governo do Reino do Messias. Para dar ênfase, palavras e expressões são repetidas três vezes na Bíblia. Veja como isso ocorre em Isaías 6:3, Ezequiel 21:27, João 21:15-17 e Revelação 4:8.
O passar do céu e da terra anteriores. A visão de João menciona passarem “o céu anterior e a terra anterior”. (Re 21:1; compare isso com 20:11.) Nas Escrituras Gregas Cristãs, os governos terrestres e seus povos são mostrados estarem sujeitos ao governo satânico. (Mt 4:8, 9; Jo 12:31; 2Co 4:3, 4; Re 12:9; 16:13, 14) O apóstolo Paulo referiu-se a “forças espirituais iníquas nos lugares celestiais”, junto com seus governos, suas autoridades e seus governantes mundiais. (Ef 6:12) De modo que passar “o céu anterior” indica o fim de governos políticos influenciados por Satanás e seus demônios. Isso está de acordo com o que 2 Pedro 3:7-12 diz sobre a destruição, como que por fogo, dos “céus . . . que agora existem”. O texto de Revelação (Apocalipse) 19:17-21 também descreve a destruição do sistema político mundial e de seus apoiadores. Lá diz que a fera simbólica será lançada “no lago ardente que queima com enxofre”. (Veja Re 13:1, 2) Quanto a Satanás, Revelação 20:1-3 diz que ele será lançado “no abismo”, onde ficará preso por mil anos, e depois será “solto por um pouco”.
Rebaixamento do Que É Enaltecido. Visto que os céus representam o que é elevado, o rebaixamento dessas coisas enaltecidas é às vezes representado pela derrubada, ou pelo ‘abalo’ ou pela ‘agitação’ dos céus. Diz-se que Jeová “lançou a beleza de Israel do céu para a terra” quando esse foi desolado. Esta beleza incluía o seu reino, e os seus governantes principescos, e o poder destes, e esta beleza foi como que devorada pelo fogo. (La 2:1-3) Mas o conquistador de Israel, Babilônia, mais tarde sofreu a agitação de seu próprio “céu” e o tremor da sua “terra”, quando os medos e os persas derrubaram Babilônia, e os deuses celestiais dela mostraram-se falsos e incapazes de salvá-la da perda de seu domínio sobre o país. — Is 13:1, 10-13.
De modo similar, profetizou-se que a posição de Edom, alta como o céu, não o salvaria da destruição, e que a espada de julgamento de Jeová ficaria encharcada nas alturas, ou “céus”, de Edom, sem que lhe viesse alguma ajuda de fonte celestial, ou enaltecida. (Is 34:4-7; compare isso com Ob 1-4, 8.) Aqueles que fazem grandes jactâncias, falando iniquamente num estilo elevado como que ‘pondo sua boca nos próprios céus’, certamente cairão em ruína. (Sal 73:8, 9, 18; compare isso com Re 13:5, 6.) A cidade de Cafarnaum tinha motivos para sentir-se muito favorecida, por causa da atenção que recebeu de Jesus e seu ministério. Entretanto, visto que deixou de aceitar as poderosas obras dele, Jesus perguntou: “Serás por acaso enaltecida ao céu?” e predisse, em vez disso: “Até o Hades descerás.” — Mt 11:23.
Escurecimento dos Céus. O escurecimento dos céus ou dos corpos estelares é muitas vezes usado para representar a eliminação das condições prósperas, favoráveis, e sua substituição por perspectivas e condições ameaçadoras, tenebrosas, como quando nuvens escuras eclipsam toda a luz, dia e noite. (Veja Is 50:2, 3, 10.) Este uso dos céus físicos em conexão com a perspectiva mental dos humanos é um tanto similar à antiga expressão árabe: “O céu dele caiu por terra”, significando que a superioridade ou prosperidade de alguém diminuiu muito. Em algumas ocasiões Deus usou fenômenos celestiais para demonstrar sua ira. Alguns desses fenômenos escureceram os céus de forma literal. — Êx 10:21-23; Jos 10:12-14; Lu 23:44, 45.
A Judá sobreveio tal dia de escuridão em cumprimento do julgamento feito por Jeová por meio do seu profeta Joel, e atingiu seu clímax na desolação de Judá por Babilônia. (Jl 2:1, 2, 10, 30, 31; compare isso com Je 4:23, 28.) Qualquer esperança de ajuda da parte duma fonte celestial parecia ter-se esgotado, e conforme predito em Deuteronômio 28:65-67, ficaram ‘apavorados noite e dia’, sem alívio ou esperança de luz do sol de manhã ou de luar à noite. No entanto, por meio do mesmo profeta, Joel, Jeová advertiu os inimigos de Judá que eles sofreriam a mesma situação quando ele executasse o julgamento neles. (Jl 3:12-16) Ezequiel e Isaías usaram este mesmo quadro figurativo ao predizer o julgamento de Deus sobre o Egito e sobre Babilônia, respectivamente. — Ez 32:7, 8, 12; Is 13:1, 10, 11.
O apóstolo Pedro citou a profecia de Joel no dia de Pentecostes, ao exortar uma multidão de ouvintes a ‘serem salvos desta geração pervertida’. (At 2:1, 16-21, 40) Os daquela geração que não acataram isso presenciaram um tempo de grave escuridão, quando os romanos sitiaram e finalmente assolaram Jerusalém menos de 40 anos depois. Antes de Pentecostes, porém, Jesus fez uma profecia similar e mostrou que ela se cumpriria no tempo da sua presença. — Mt 24:29-31; Lu 21:25-27; compre isso com Re 6:12-17.
Permanência dos Céus Físicos. Elifaz, o temanita, disse a respeito de Deus: “Eis que não confia nem nos seus santos, e os próprios céus não são realmente puros aos seus olhos.” Todavia, Jeová disse a Elifaz que este e seus dois companheiros ‘não falaram a verdade a meu respeito assim como fez meu servo Jó’. (Jó 15:1, 15; 42:7) Em contraste, Êxodo 24:10 refere-se aos céus como representando pureza. De modo que, na Bíblia, não se menciona nenhum motivo para Deus destruir os céus físicos.
Que os céus físicos são permanentes é mostrado pelo fato de que são usados em símiles relacionados com coisas eternas, tais como os resultados pacíficos e justos do reino davídico herdado pelo Filho de Deus. (Sal 72:5-7; Lu 1:32, 33) De modo que textos tais como Salmo 102:25, 26, que falam de os céus ‘perecerem’ e serem ‘substituídos assim como uma vestimenta gasta’, não devem ser entendidos em sentido literal.
Em Lucas 21:33, Jesus diz que “céu e terra passarão, mas as minhas palavras de modo algum passarão”. Outros textos mostram que “céu e terra” vão sempre existir. (Gên 9:16; Sal 104:5; Ec 1:4) Portanto, o “céu e terra” mencionados aqui podem muito bem ser simbólicos, assim como “o céu anterior e a terra anterior” em Revelação 21:1; compare isso com Mateus 24:35.
O Salmo 102:25-27 enfatiza a eternidade e a imperecibilidade de Deus, ao passo que a sua criação física dos céus e da terra é perecível, quer dizer, poderia ser destruída — se fosse do propósito de Deus. Dessemelhante da existência eterna de Deus, a permanência de qualquer parte da sua criação física não é independente. Conforme se vê na terra, a criação física tem de passar por um contínuo processo de renovação, se há de perdurar ou reter sua forma existente. Que os céus físicos dependem da vontade e do poder sustentador de Deus é indicado no Salmo 148, onde, depois de se referir ao sol, à lua e às estrelas, junto com outras partes da criação de Deus, o versículo 6 declara que Deus “os mantém estabelecidos para sempre, por tempo indefinido. Deu um regulamento, e este não passará”.
As palavras do Salmo 102:25, 26, aplicam-se a Jeová Deus, mas o apóstolo Paulo as cita com referência a Jesus Cristo. Isto se dá porque o Filho unigênito de Deus era o Agente pessoal de Deus usado na criação do universo físico. Paulo contrasta a permanência do Filho com a da criação física, a qual Deus, se intencionasse isso, poderia ‘enrolar assim como a uma capa’ e pôr de lado. — He 1:1, 2, 8, 10-12; compare isso com 1Pe 2:3 n.
Várias Expressões Poéticas e Figuradas. Visto que os céus físicos desempenham um papel vital em sustentar e fazer prosperar a vida na terra — pela luz do sol, a chuva, o orvalho, ventos refrescantes e outros benefícios atmosféricos — eles são mencionados poeticamente como “bom depósito” de Jeová. (De 28:11, 12; 33:13, 14) Jeová abre as “portas” desse para abençoar seus servos, assim como quando fez o maná, “o cereal do céu”, descer para o solo. (Sal 78:23, 24; Jo 6:31) As nuvens são como “talhas de água” nas câmaras superiores desse depósito, e a chuva cai dali como que por “condutos”, certos fatores, tais como montes ou mesmo a intervenção milagrosa de Deus, causando a condensação de água e a subsequente precipitação pluvial em regiões específicas. (Jó 38:37; Je 10:12, 13; 1Rs 18:41-45) Por outro lado, a retirada da bênção de Deus em certas ocasiões resultou em os céus sobre a terra de Canaã serem ‘cerrados’, tornando-se, na aparência, tão duros e não porosos como o ferro, e tendo um brilho metálico da cor de cobre, com uma atmosfera cheia de pó, sem chuva. — Le 26:19; De 11:16, 17; 28:23, 24; 1Rs 8:35, 36.
Isto ajuda a entender o quadro apresentado em Oseias 2:21-23. Depois de predizer os resultados devastadores da infidelidade de Israel, Jeová fala então do tempo do seu restabelecimento e das resultantes bênçãos. Naquele dia, ele diz, “responderei aos céus, e eles, da sua parte, responderão à terra; e a terra, da sua parte, responderá ao cereal, e ao vinho doce, e ao azeite; e eles, da sua parte, responderão a Jezreel”. Evidentemente, isto representa pedir Israel a bênção de Jeová por meio da série de coisas da criação Dele mencionadas aqui. Por este motivo, essas coisas são encaradas como personificadas, e, por isso, como que capazes de fazer uma solicitação ou um pedido. Israel pede cereais, vinho e azeite; estes produtos, por sua vez, procuram sua nutrição e água da terra; a terra, a fim de suprir estas necessidades, requer (ou figuradamente solicita) sol, chuva e orvalho dos céus; e os céus (até então ‘cerrados’, por causa da retirada da bênção de Deus) podem responder somente se Deus aceitar o pedido e restabelecer seu favor à nação, pondo assim em movimento o ciclo de produção. A profecia oferece garantia de que ele fará isso.
Em 2 Samuel 22:8-15, Davi aparentemente usa a figura dum tremendo temporal para representar o efeito da intervenção de Deus em favor de Davi, libertando-o dos seus inimigos. A ferocidade deste temporal simbólico agita os alicerces dos céus, e estes ‘se curvam para baixo’ em nuvens escuras, baixas. Compare isso com as condições literais dum temporal descrito em Êxodo 19:16-18; também com as expressões poéticas em Isaías 64:1, 2.
Jeová, o “Pai das luzes celestiais” (Tg 1:17), é frequentemente mencionado como tendo ‘estendido os céus’, assim como se faria com um pano de tenda. (Sal 104:1, 2; Is 45:12) Os céus, tanto a expansão atmosférica de dia como os céus estrelados à noite, do ponto de vista dos humanos na terra, têm a aparência duma imensa abóbada. Em Isaías 40:22, o símile é de se estender “uma gaze fina”, em vez de o pano de tenda mais grosso. Isto expressa a delicada ornamentação desta abóbada celeste. Numa noite clara, os milhares de estrelas, de fato, constituem um tecido rendado estendido sobre o fundo de veludo negro do espaço. Pode-se também notar que até mesmo a enorme galáxia conhecida como Via Láctea, na qual se encontra o nosso sistema solar, tem uma aparência de fina gaze, do ponto de vista da terra.
Do precedente se pode notar que sempre se precisa considerar o contexto para determinar o sentido das expressões figuradas. Assim, quando Moisés chamou “os céus e a terra” por testemunhas das coisas que declarava a Israel, é óbvio que ele não se referia à criação inanimada, mas, antes, aos habitantes inteligentes dos céus e da terra. (De 4:25, 26; 30:19; compare isso com Ef 1:9, 10; Fil 2:9, 10; Re 13:6.) Isto também se aplica à alegria dos céus e da terra com a queda de Babilônia, em Jeremias 51:48. (Veja Re 18:5; 19:1-3.) Igualmente, devem ser os céus espirituais que ‘escoam justiça’, conforme descrito em Isaías 45:8. Em outros casos, fala-se dos céus literais, mas eles são descritos figuradamente como alegrando-se ou bradando. Por ocasião da vinda de Jeová como juiz à terra, conforme descrito no Salmo 96:11-13, os céus, junto com a terra, o mar e a campina assumem aspecto alegre. (Veja Is 44:23.) Os céus físicos também louvam seu Criador, do mesmo modo que um produto de belo aspecto dá louvor ao artífice que o produz. Na realidade, falam do poder, da sabedoria e da majestade de Jeová. — Sal 19:1-4; 69:34.
Ascensão ao Céu. Em 2 Reis 2:11, 12, o profeta Elias é descrito como “subindo aos céus no vendaval”. Os céus, aqui, referem-se aos céus atmosféricos, nos quais ocorrem vendavais, não aos céus espirituais da presença de Deus. Elias não morreu por ocasião desta ascensão, mas continuou vivo por alguns anos após o seu transporte celestial para longe do seu sucessor Eliseu. Tampouco ascendeu Elias aos céus espirituais quando faleceu, visto que Jesus, enquanto na terra, disse claramente que “nenhum homem ascendeu ao céu”. (Jo 3:13; veja ELIAS N.º 1 (Eliseu o Sucede).) Em Pentecostes, Pedro disse igualmente a respeito de Davi, que ele “não ascendeu aos céus”. (At 2:34) Na realidade, nada nas Escrituras indica que se oferecesse aos servos de Deus uma esperança celestial antes da vinda de Cristo Jesus. Esta esperança surge pela primeira vez nas expressões de Jesus aos seus discípulos (Mt 19:21, 23-28; Lu 12:32; Jo 14:2, 3) e foi por eles plenamente compreendida apenas após Pentecostes de 33 EC. — At 1:6-8; 2:1-4, 29-36; Ro 8:16, 17.
As Escrituras mostram que Cristo Jesus foi o primeiro a ascender da terra aos céus da presença de Deus. (1Co 15:20; He 9:24) Por meio desta ascensão, e de ele apresentar ali o seu sacrifício de resgate, ele ‘abriu o caminho’ para os que seguiriam — os membros da sua congregação, gerados pelo espírito. (Jo 14:2, 3; He 6:19, 20; 10:19, 20) Estes, ao serem ressuscitados, têm de levar “a imagem do celestial”, Cristo Jesus, a fim de ascender aos céus do plano espiritual, porque “carne e sangue” não podem herdar o Reino celestial. — 1Co 15:42-50.
Como podem pessoas “nos lugares celestiais” ainda estar na terra?
O apóstolo Paulo, na sua carta aos efésios, fala de cristãos então vivos na terra como se já estivessem usufruindo uma posição celestial, levantados e ‘assentados junto nos lugares celestiais, em união com Cristo Jesus’. (Ef 1:3; 2:6) O contexto mostra que os cristãos ungidos são encarados assim por Deus, por ele os ter ‘designado herdeiros’ junto com seu Filho na herança celestial. Enquanto ainda na terra, eles foram enaltecidos, ou ‘levantados’, por meio desta designação. (Ef 1:11, 18-20; 2:4-7, 22) Estes pontos também lançam luz sobre a visão simbólica de Revelação 11:12. Fornecem também a chave para o entendimento do quadro profético de Daniel 8:9-12, onde aquilo que anteriormente foi mostrado representar um poder político é mencionado como ‘tornando-se cada vez maior até atingir o exército dos céus’, e até mesmo causando que alguns deste exército e das estrelas caíssem para a terra. Em Daniel 12:3, esses servos de Deus, na terra, no predito tempo do fim, são mencionados como raiando “como as estrelas por tempo indefinido”. Note também o uso simbólico de estrelas no livro de Revelação, capítulos 1 a 3, onde o contexto mostra que essas “estrelas” se referem a pessoas que obviamente vivem na terra e passam por experiências e tentações terrenas, estrelas que são responsáveis pelas congregações aos seus cuidados. — Re 1:20; 2:1, 8, 12, 18; 3:1, 7, 14.
O caminho para a vida celestial. O caminho para a vida celestial envolve mais do que apenas ter fé no sacrifício resgatador de Cristo e obras de fé em obediência às instruções de Deus. Os escritos inspirados dos apóstolos e discípulos mostram que precisa haver também uma chamada e escolha da pessoa por Deus, mediante seu Filho. (2Ti 1:9, 10; Mt 22:14; 1Pe 2:9) Este convite envolve uma série de passos, ou ações, a fim de qualificar a pessoa para a herança celestial; muitos desses passos são dados por Deus, outros pela pessoa chamada. Entre esses passos, ou ações, encontram-se declarar justo o cristão chamado (Ro 3:23, 24, 28; 8:33, 34); produzi-lo (‘gerá-lo’) com espírito santo (Jo 1:12, 13; 3:3-6; Tg 1:18); ser ele batizado na morte de Cristo (Ro 6:3, 4; Fil 3:8-11); ungi-lo (2Co 1:21; 1Jo 2:20, 27); santificá-lo (Jo 17:17). O chamado tem de manter a integridade até a morte (2Ti 2:11-13; Re 2:10), e depois de se ter mostrado fiel na sua chamada e escolha (Re 17:14), ele finalmente é ressuscitado para a vida espiritual. — Jo 6:39, 40; Ro 6:5; 1Co 15:42-49; veja DECLARAR JUSTO; RESSURREIÇÃO; SANTIFICAÇÃO; UNGIDO, UNÇÃO.