Será que o Natal promove a ganância?
Jesus ensinou que é melhor dar do que receber. O mito de Papai Noel ensina que receber deve estar em primeiro lugar: se for bom, receberá presentes, se for mau, não ganhará.
HÁ ALGUNS anos, o editor-assistente executivo da revista U. S. Catholic escreveu:
“Ao passo que a verdadeira lição do Natal é uma mensagem de misericórdia e sacrifício divinos, Papai Noel é o agente de ligações das corporações gananciosas, e o tutor da ganância de milhões de crianças norte-americanas. Ele é o santo da obtenção de presentes. . . . Ele se tornou um vendilhão total ao materialismo e à ganância. Ele é a fonte de lucro dos grandes fabricantes de brinquedos e das lojas de departamentos. . . . Uma criança gananciosa jamais se sacia. Uma criança mimada não aprecia coisa alguma. Uma criança a quem se satisfaz todos os desejos se convence de que a figura principal do Natal não é Cristo, mas ela mesma.”
Este editor pensava que Papai Noel devia ter sido deixado lá no Pólo Norte. Realmente, a inteira celebração do Natal deveria ter sido deixada lá na Roma pagã. Cristo não nasceu em 25 de dezembro, mas esse era o dia em que os romanos adoravam o deus-sol. Sua festa de dezembro, as Saturnais, destacavam dar presentes e festas licenciosas. Alguns séculos depois de Cristo, a Igreja Católica incorporou tal dia e festa ao cristianismo apóstata, e a chamou de Natal (em inglês, Christmas, ou “missa de Cristo”).
De acordo com sua origem, a celebração do Natal é observada atualmente em muitas nações não-cristãs. Por exemplo, o Daily Yomiuri, do Japão, disse, em 1978, na época do Natal:
“Bolos de chantili, com a frase ‘Feliz Natal’ escrita em cima, em inglês, são obrigatórios para toda família que tem filhos. Os bolos, junto com miniaturas de ‘Santa Ojisan’ — isto é, Papai Noel — são vendidos por Cr$ 462,00 cada um. Muitas famílias possuem uma pequena árvore de Natal, encimada com neve feita de espuma. Este feriado emprestado se tornou um grande negócio no Japão.
“‘Nós, japoneses, somos cristãos de Natal’, disse Yukio Nomura, entrevistado enquanto comprava um carrinho de brinquedo, de Cr$ 13.980,00, dirigido por controle remoto, para seu filho de 11 anos. Nomura, empregado duma grande ‘trading company’ [empresa de intercâmbio comercial multinacional], disse que não era cristão, mas, mesmo assim, celebrava o feriado — ‘porque é uma desculpa para se comer e beber’.
“O período do Natal é também uma época em que muitas firmas realizam seu ‘bonenkai’ — festas de fim de ano — amiúde seguidas de bebedeiras à noite toda por uma cadeia de bares. Policiais extras patrulham os distritos das casas de diversões, a fim de guiar os farristas para casa.”
Semanas de compras, em preparação para o Natal, deixam os nervos abalados. Preparar a ceia da família é algo exaustivo. O orçamento familiar ficou arruinado. Os obesos comem demais, os alcoólicos bebem demais, e até mesmo pessoas moderadas talvez ganhem alguns quilinhos extras e sofram devido às ressacas. Os pobres sentem mais agudamente sua pobreza, e os solitários sentem mais vividamente sua solidão. Muitas crianças se sentem infelizes. Algumas não receberam o que desejavam, algumas não receberam tanto quanto desejavam, e ainda outras receberam muito pouco ou nada.
O Dr. John Donnelly, psiquiatra-chefe do mundialmente famoso Instituto da Vida, afirma que há muita gente na mesma situação, que se sente deprimida no dia de Natal. Ele acha que o Natal era uma época mais feliz, há 45 anos, quando as pessoas eram menos opulentas e se alegravam com pequenas coisas.
Os presentes natalinos agradam a carne, empanturram a carne. Poderia acontecer que o espírito fique faminto, e, por causa disso, sofra depressão?
“Celebramos o Natal”, explicou um menino de cinco anos, “porque os pais o celebram e os filhos também têm de celebrá-lo. Isso acontece para que as crianças possam obter alguns brinquedos e os adultos possam obter algumas roupas para si mesmos. Não freqüentamos nenhuma igreja”.
Uma menina de seis anos disse: “Minha canção favorita de Natal é: Quando Papai Noel ficou preso na chaminé, ele começou a berrar: Vocês, meninas e meninos, não receberão nenhum brinquedo, se não me tirarem daqui.” [Versão sem rima ou metrificação.]
Este menino de 10 anos calculou bem a finalidade financeira do Natal: “Tenho uma mesada. Disponho de Cr$ 1.500,00 para gastar no Natal. Acho que meus pais deviam gastar uns Cr$ 2.500,00 comigo.”
Jesus disse: “Há mais felicidade em dar do que há em receber.” (Atos 20:35) Se o presente for dado com o coração cheio de amor, isso é genuíno. Se é dado por sentimento de obrigação, perde-se grande parte da felicidade. A respeito dos presentes dados na época do Natal, a revista Science Digest disse: “A maioria de nós diz (e pensa que cremos) que ‘É mais abençoado dar do que receber’. Mas quando falamos da ‘troca de presentes’, revelamos que deveras esperamos que alguma coisinha nos seja retribuída.”
Este não é o tipo de dar que Jesus tinha em mente, pois ele também disse: “Quando ofereceres um almoço ou uma refeição noturna, não chames os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus ricos vizinhos. Talvez eles por sua vez te convidem também e isso se torne para ti uma restituição. Mas, quando ofereceres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos; e serás feliz, porque eles não têm nada com que te pagar de volta.” — Luc. 14:12-14.
Isto não quer dizer que não haverá uma retribuição, mas que o dar não é feito com qualquer retribuição em mente. “Praticai o dar”, disse Jesus, “e dar-vos-ão”. Se der ao pobre, ainda colherá uma retribuição. “Aquele que mostra favor ao de condição humilde está emprestando a Jeová, e Ele lhe retribuirá.” — Luc. 6:38; Pro. 19:17.
A época do Natal se caracteriza pelos presentes materiais, a troca de presentes, grande número de brinquedos sendo dados às crianças de muitas nações. Mas darem os pais de si mesmos a seus filhos é um presente muito maior, que todos os filhos precisam, e não se precisa fazer isso apenas uma vez ou algumas vezes por ano, mas todo dia de sua vida.a
[Nota(s) de rodapé]
a Veja o artigo “Para Seu Filho . . . É o Maior Presente!”, na Despertai! de 8 de junho de 1980, p. 5.
[Destaque na página 17]
Quando as pessoas tinham menos, sentiam-se mais felizes com menos.