Quando falham as defesas auditivas
NOSSOS ouvidos possuem um sistema defensivo inato para protegê-los dos ruídos altos e prolongados. No ouvido médio existem dois pequenos músculos que se contraem por reflexo quando ocorrem ruídos altos que poderiam prejudicar o ouvido interno e causar a perda de audição.
Um de tais músculos se contrai a fim de reduzir a vibração do tímpano quando o ruído excede a um certo nível. O outro amortece o movimento do estribo no ouvido médio, reduzindo a intensidade das vibrações que transfere ao fluido do ouvido interno. Isto visa proteger as delicadas estruturas ali localizadas, nos órgãos de Corti, onde as vibrações são convertidas em impulsos elétricos que vão até a área auditiva do cérebro, através do nervo auditivo.
Barulho muito alto e prolongado, contudo provoca a morte gradual de mais e mais células no ouvido interno. Tais células não se recuperam, e a resultante perda de audição é permanente. Ao passo que um insulto auricular segue a outro, mais e mais dano é causado sem que a vítima se aperceba do que ocorre. A fala, em geral, situa-se entre a faixa de 300 a 3.000 ciclos por segundo, mas a maior parte da perda de audição causada por barulho começa aos 4.000 ciclos. Visto que isto é acima do nível da fala, a audição se desgasta sem a vítima se aperceber.
À medida que continua a exposição excessiva ao barulho alto, a capacidade de ouvir a fala humana é afetada. A vítima começa, então, a reclamar que todo mundo está sussurrando. Pede às pessoas que falem de novo. Tarde demais, fica cônscia de que sua perda de audição é grave.
Pesquisas indicam que mais de 5.000.000 de estadunidenses com menos de 18 anos de idade têm problemas de audição permanentes. Uma universidade relatou que 60 por cento de mais de 4.000 calouros testados tinham dificuldades auditivas. Certo teste que comparou a capacidade auditiva de estadunidenses com tribais africanos revelou que os tribais, no seu meio ambiente menos barulhento, possuíam melhor audição.
Os cientistas medem o som em termos de decibéis. Um cochicho gera cerca de 30 decibéis. Uma conversação comum chega a 60. O tráfego citadino, o barulho no local de trabalho, os aparelhos elétricos, os aeroportos — tal ambiência gera ruídos de 70 a 170 decibéis. Não mais de 70 decibéis podem ser tolerados por 24 horas, sem danos. “Toda sua permitida capacidade de exposição”, disse um engenheiro, “pode ser consumida em apenas uma hora, sob 90 decibéis”. Outro especialista no campo afirma que fortes abafadores de som, junto com protetores de ouvidos, são a melhor proteção.
Um pesquisador testou os efeitos do álcool sobre a audição, em ambientes barulhentos. Descobriu-se que os músculos do ouvido que se contraem para amortecer os altos ruídos, não reagem tão prontamente quando a pessoa submetida ao teste bebeu álcool. Além do mais, ela tolera melhor o barulho alto e, em conseqüência, sofre maior perda de audição do que a pessoa sóbria. Os sedativos também descontraem tais músculos defensivos do ouvido e interferem na sua ação reflexiva quando expostos ao barulho.
“Essa rapaziada que ouve muita música rock”, disse um médico que trata de problemas de ouvido, “gostaria de vê-los daqui a uns 30 anos”.
Já então será tarde demais.
“Na Bíblia, a palavra-chave preferida para a resposta do homem a Deus é ‘ouvir’ ao invés de ‘ver’ . . . Para as religiões místicas, a mais elevada experiência religiosa era ‘ver’ o deus; mas, no que concerne à Bíblia, onde a atitude religiosa básica é a obediência à palavra divina, a ênfase é em ‘ouvir’ sua voz. O mais importante preceito da religião de Israel começa caracteristicamente: ‘Ouve, Ó Israel.’ ‘Quem pertence a Deus não é o místico que viu uma visão, mas alguém que ‘ouve as palavras de Deus’ (João 8:47).” — The Interpreter’s Dictionary of the Bible, (Dicionário Bíblico do Intérprete) vol. 2, p. 1.