O Papa Pio XII e os nazistas — novo enfoque
AGIU certo em não falar abertamente? A controvérsia sobre o silêncio de Pio XII diante das atrocidades nazistas durante a Segunda Guerra Mundial persiste de forma intermitente já por três décadas. Os críticos afirmam que um protesto papal aos nazistas poderia ter salvo milhões de vidas. O papa atual, Paulo VI, porém, insiste que “uma atitude de protesto e de condenação não só teria sido fútil, mas também prejudicial”.
Mas, por que levantar esse assunto de novo? Não é apenas agitar uma questão morta? Não. O próprio Vaticano a mantém viva. As autoridades até mesmo puseram de lado sua política de esperar 50 anos para a publicação de documentos dos seus arquivos. Compreendem que, a menos que as pessoas entendam, os críticos possuem poderosíssimo argumento para ilustrar o fracasso moral da Igreja.
Muitos membros sinceros da Igreja querem saber a resposta. Sabem que até mesmo o Papa Paulo VI estava muitíssimo envolvido nos assuntos, lá naquele tempo, como auxiliar íntimo de Pio. Assim, uma comissão jesuíta publica documentos selecionados dos arquivos do Vaticano desde 1965. O último, intitulado “A Santa Sé e as Vítimas de Guerra”, saiu em abril de 1974. Fornece quaisquer novos vislumbres?
Questão Mais Profunda
Despachos noticiosos colocam na berlinda a evidência documental de que o Vaticano recebera muitas informações sobre as atrocidades nazistas desde uma data bem cedo. Muito mais significativo, porém, é outro item pouco notado. Mostra que um dos auxiliares em quem Pio XII muito confiava levantou uma questão que penetra muito mais a fundo do que a pergunta de por que o papa não falou abertamente contra os nazistas. O “Monsenhor” Domenico Tardini (mais tarde um cardeal), segundo se relata, perguntou exasperado:
“Todo o mundo entende que a Santa Sé não pode fazer com que Hitler se comporte. Mas, que não consiga manter um sacerdote sob controle — quem pode entender isto?”
O frívolo debate quanto ao bem que a voz de Pio XII teria causado quase que obscureceu por completo esta questão muito mais fundamental. Os cristãos honestos se vêem obrigados a confrontar essa questão: Como poderiam as atrocidades nazistas vir sequer a ser cometidas em primeiro lugar, se não fosse a cooperação do povo e de seus líderes espirituais? Noventa e cinco por cento dos alemães lá naquele tempo eram ou católicos ou protestantes. Quase 32 milhões, mais de 40 por cento, eram católicos, bem como quase toda a população dos aliados europeus da Alemanha, a Áustria e a Itália. Mesmo entre as temidas S.S., quase um quarto ainda eram católicos em 1939, apesar das pressões da liderança das S.S. para que desistissem disso.1
O próprio Pio XII expõe essa mesma questão numa carta particular, recentemente publicada, ao sacerdote que provocou o exaspero do “Mons.” Tardini. Como presidente, o sacerdote Josef Tisoa dominava o protetorado nazista da Eslováquia durante toda a guerra (1939-45). Pio escreveu ao “Monsenhor” Tiso que ele esperava que o governo e o povo eslovacos, “quase que inteiramente católicos, jamais executassem a remoção à força de pessoas que pertenciam à raça judaica”, e o fato de que “tais medidas são executadas entre um povo de grandes tradições católicas, por um governo que declara que é seu seguidor e depositário”, o angustiava grandemente. — 7 de abril de 1943.2
Mas, como podia qualquer forma de cooperação com o programa nazista de exterminação racial chegar sequer a ser considerado entre um povo que o próprio papa disse ser ‘quase que inteiramente católico e de grandes tradições católicas’. Por certo, os ensinamentos morais da Igreja tornariam inimaginável que o “Mons.” Tiso e seu rebanho tivessem qualquer parte no genocídio! A história mostra se tiveram ou não. Os membros de coração honesto da Igreja certamente desejam uma explicação de tal conduta, bem como a das outras chamadas nações “cristãs” envolvidas com os nazistas.
O próprio Cardeal Eugène Tisserantb do Vaticano fornece uma razão, com o candor e franqueza duma carta particular,c a um amigo. Depois da queda da França em 1940, escreveu queixando-se ao Cardeal Suhard, de Paris, que “a ideologia fascista e o hitlerismo transformaram as consciências dos jovens, e os com menos de trinta e cinco anos dispõem-se a cometer qualquer crime para qualquer propósito ordenado por seu líder”. Mas, como poderiam estas consciências treinadas pela Igreja ser tão facilmente ‘transformadas’? Afinal de contas, Hitler só estava operando sobre elas por cerca de sete anos, ao passo que a Igreja estava treinando seu rebanho por bem mais de mil anos!
“Ponto Vital do Cristianismo”
Por certo, o Papa Pio poderia fazer algo quanto a essa invasão nazista do território tradicional da Igreja — a consciência humana! Mas, lamenta o Cardeal Tisserant:
“Desde o início de novembro [de 1989], tenho solicitado com persistência à Santa Sé que proclame uma encíclica sobre o dever do indivíduo de obedecer aos ditames da consciência, porque este é o ponto vital do cristianismo.” (O grifo foi acrescentado.)
No entanto, a história não revela nenhuma declaração papal durante a guerra sobre este “ponto vital do cristianismo”. Com efeito, Tisserant passou a fazer a melancólica previsão: “Receio que a história possa ter razão em repreender a Santa Sé por ter seguido uma política de conveniência para si mesma, e muito pouco além disso. Isto é extremamente triste.”3
Sem dúvida, a “política” do cuidado diplomático do papa ao lidar com os nazistas deveras assegurou a “conveniência” da sobrevivência do Vaticano e da Igreja. O próprio Pio aconselhou os bispos alemães que “o perigo de represálias e pressões”, ou, algo pior ainda, exigiam “conter-se” em seus pronunciamentos “a fim de evitar maiores males. Este é um dos motivos”, escreveu ele, “para as limitações” que impôs às suas próprias declarações. — 30 de abril de 1943.4
Esta explicação nos ajuda a entender por que Pio se conduziu tão cuidadosamente. Mas, deixa inexplicado o seguinte: Por que ministros, sacerdotes e seus rebanhos se dispuseram a testemunhar, cooperar, ou, na realidade, em cometer as atrocidades nazistas — quase que até o último deles? O que aconteceu com suas consciências?
A Igreja e a Consciência
A resposta tem de residir no treinamento recebido por tais consciências. Como um católico leal, por exemplo, deveria entender a carta pastoral do próprio Pio XII, de 8 de dezembro de 1939, Asperis Commoti Anxietatibus, dirigida aos capelães nos vários exércitos das nações em guerra, mais de 500 deles servindo no exército de Hitler? Instou com os capelães de ambos os lados que tivessem confiança em seus respectivos bispos militares, considerando a guerra qual manifestação da vontade dum Pai celeste que sempre transforma o mal em bem, e, “como combatentes sob as bandeiras de seu país, lutem também pela Igreja”.5 (O grifo foi acrescentado.)
Esta contradição desconcertante é novamente demonstrada pelas cartas do papa aos bispos em ambos os lados. Numa carta de 6 de agosto de 1940 aos bispos germânicos, Pio expressou sua admiração pelos católicos que “leais até à morte, dão prova de sua disposição de partilhar os sacrifícios e sofrimentos dos outros Volksgenossen [co-alemães]”.6 Todavia, apenas nove meses antes, o papa dirigira similar mensagem aos bispos franceses, aconselhando-os de que tinham direito de apoiar todas as medidas para defender seu país contra esses mesmos católicos alemães “leais”!7 Os metropolitas da Igreja italiana receberam conselhos similares pouco antes de a Itália juntar-se à guerra contra os Aliados.8
Assim, quando o chefe da Igreja realmente falou sobre assuntos relativos à consciência, como o fizeram quase todos os seus clérigos, ele aplaudiu as consciências daqueles que serviam ‘lealmente’ nas forças militares de qualquer tipo. Com efeito, quando o correspondente do Vaticano em Berlim do jornal oficial, L’Osservatore Romano, perguntou certa vez a Pio XII se protestaria contra o extermínio dos judeus, o papa lhe disse que “não poderia esquecer que milhões de católicos servem nos exércitos germânicos. Devo conduzi-los a conflitos de consciência?”9
Foram os eclesiásticos protestantes menos responsáveis? Bem, note o que o Conselho Eclesiástico da Igreja Evangélica (Luterana) Alemã, o maior corpo protestante, telegrafou pessoalmente a Hitler, em 30 de junho de 1941:
“Que o Deus Onipotente auxilie V. Ex.ª e a nossa nação contra o inimigo duplo [Grã-Bretanha e a Rússia]. A vitória será nossa, e ganhá-la deve constituir o ponto principal em nossas aspirações e ações. . . . em todas as suas orações [a Igreja] está com V. Ex.ª, e com nossos incomparáveis soldados que agora estão prestes a eliminar a raiz desta pestilência, mediante duros golpes.”10
Com este tipo de orientação de seus “pastores”, o que mais poderiam os rebanhos fazer? O que realmente fizeram fala por si, não fala?
Será que a baixa estima em que Hitler tinha as igrejas lá em 1933 era correta? Jactava-se zombeteiramente de que “os párocos . . . trairão seu Deus a nós. Trairão qualquer coisa a bem de seus miseráveis empreguinhos e rendas. . . . Por que devemos discutir? Engolirão qualquer coisa de modo a manter suas vantagens materiais.”11 (O governo de Hitler continuou a dar grandes subsídios estatais às principais igrejas durante toda a guerra.)12
Para sublinhar a realidade do que Hitler afirmava sobre as igrejas, a pessoa só precisa perguntar a si mesma: “Se eu fosse sincero membro duma igreja na Alemanha, na Áustria, ou na Itália, durante esse período, o que me teriam aconselhado meus líderes espirituais — e o que eu teria feito?” Suponhamos que dissesse: “Não teria servido a Hitler.” O que teria enfrentado, não da parte dos nazistas, mas de seus próprios líderes espirituais?
As Consciências Enfrentam a Igreja
Não importou quanto procurasse, o erudito e educador católico, Gordon Zahn, só conseguiu encontrar evidência documentada de um único dentre 32 milhões de católicos alemães que se recusou por motivo de consciência a servir nos exércitos de Hitler. Além dos eclesiásticos perseguidos por oposição política aos nazistas, ele encontrou um total de sete pessoas, entre a Alemanha e a Áustria católica, que por motivo de consciência se recusaram a fazer o juramento militar.13 Talvez fique imaginando por que foram tão poucos.
Zahn responde que suas extensivas entrevistas com pessoas que conheciam estes homens produziram “garantia positiva, expressa por quase todo informante, de que qualquer católico que se decidisse a recusar o serviço militar não teria recebido nenhum apoio, fosse ele qual fosse, de seus líderes espirituais”. Ironicamente, aqueles poucos que deveras o recusaram, apegando-se a isso, eram realmente um embaraço para seus “líderes espirituais”.
Por exemplo, ao solicitar clemência do tribunal nazista para um sacerdote que se recusara, o Arcebispo Konrad Groeber, de Freiburg, escreveu que o sacerdote era “um idealista que crescera cada vez mais distanciado da realidade. . . . que desejava ajudar seu Volk e sua Vaterland, mas que agia segundo premissas erradas”.14 A outros se negou a comunhão, por parte de capelães das prisões, por violarem seu “dever cristão” de fazer o juramento militar nazista.15
O caso documentado dum camponês austríaco, Franz Jägerstätter, ilustra o que um membro duma igreja realmente enfrentava da parte de seus líderes espirituais. Jägerstätter foi finalmente encarcerado por sua posição, em Linz, Áustria, e mais tarde decapitado. O capelão católico da prisão escreve que “tentara deixar claro que ele tinha de ter em mente seu próprio bem-estar, e o de sua família, mesmo ao seguir seus ideais e princípios pessoais” — assim como o sacerdote do povoado de Jägerstätter há muito argumentara, antes de Jägerstätter ser preso. “Ele parecia ter vindo a entender meu ponto”, afirma o capelão, “e prometeu seguir minha recomendação e fazer o juramento [militar nazista]”.16
Vinha este conselho dum nazista? Não — vinha dum sacerdote que permaneceu em boa posição por muito tempo depois da guerra! Mas, essa não era a única pressão da parte dos líderes espirituais. O bispo Fliesser, da mesma diocese de Linz, revela que ele, também “conhecera pessoalmente Jägerstätter”, e argumentara “em vão” que Jägerstätter não era responsável “pelas ações da autoridade civil [nazista]”. Disse o bispo que o caso dele era “um caso inteiramente excecional, um caso a ser mais admirado do que copiado”. O Bispo Fliesser escrevia a um sacerdote depois da guerra, explicando a sua recusa em permitir a publicação da história de Jägerstätter no jornal diocesano de Linz. A história poderia “criar confusão e perturbar consciências”, disse ele.
Assim, o Bispo Fliesser considerava o homem que seguira sua consciência como ‘caso excecional’ — e não devendo ser copiado. “Considero maiores heróis aqueles exemplares jovens católicos, seminaristas, sacerdotes, e chefes de famílias, que lutaram e morreram no cumprimento heróico do dever”, continuou. Até mesmo o advogado Feldmann, designado pelo tribunal nazista, usou este argumento na tentativa de fazer com que Jägerstätter transigisse, mencionando que os milhões de católicos, inclusive os clérigos, empenhavam-se no combate com consciência “limpa”. Por fim, recorda Feldmann, desafiou-o a citar um único caso em que um bispo de qualquer modo desencorajasse o serviço militar nazista.17 Ele não conhecia nenhum. Conhece o leitor ou leitora?
Daí, retornando ao artigo rejeitado, intitulado “Coerência Heróica”, o Bispo Fliesser falou de modo vituperador “dos Bibelforschers [testemunhas de Jeová] e dos adventistas que, em sua ‘coerência’, preferiram morrer nos campos de concentração a levar armas”. Disse que eram influenciados por uma “consciência errônea” e que “para a instrução dos homens, os melhores modelos” são os “heróis” que lutaram, influenciados por “uma consciência clara e correta”.18
Por isso, mesmo depois da guerra, um bispo austríaco em boa posição ainda considerava como “correta” a consciência dos membros da igreja que permitiram ser arrebanhados nos exércitos nazistas para matar os co-membros da sua igreja. Aqueles que enfrentaram a morte nos campos de concentração, ao invés de serviram aos nazistas, dá a entender o bispo, eram covardes desorientados. O que acha o leitor?
A Igreja apoiou o conceito do Bispo Fliesser sobre estes cristãos Bibelforschers por meio de ações sob o governo de Hitler. A gazeta diocesana católica de Passau, Alemanha, de 6 de maio de 1933, noticia que a Igreja aceitou uma designação dos nazistas de delatar quaisquer testemunhas de Jeová na Baviera que ainda praticassem sua fé, depois de serem proscritas no mês anterior.19
Significativamente, a posição corajosa destes cristãos teve alguma influência sobre o católico Franz Jägerstätter. Gordon Zahn relata que seu pastor do povoado observou que “Franz amiúde falara com admiração sobre a fidelidade delas”, e os aldeões que o conheciam deram grande importância ao fato de que ele “passava horas discutindo religião e estudando a Bíblia” junto com seu primo Bibelforscher, o único não-católico do povoado.20
Até mesmo os programas nazistas de difamação contra os judeus não intimidaram as Testemunhas, levando-as a abandonar sua obrigação conscienciosa de expressar bondade cristã para com todos. O antigo editor do Danzinger Informator, J. Kirschbaum, escreveu no diário iídiche de Nova Iorque, Der Tog, de 2 de julho de 1939, noticiando que, em Danzig, Polônia, “quando, como uma epidemia, todas as espécies de mercearias começaram a colocar os letreiros bem-conhecidos ‘Juden unerwünscht’ (Não queremos judeus)”, as Testemunhas forneciam a “seus vizinhos judeus ou simples conhecidos o alimento ou leite, sem pedirem qualquer recompensa por isso”.
Este editor judeu também ficou admirado com as crianças Testemunhas alemãs que, em contraste com seus colegas de escola católicos e protestantes, conscienciosamente “recusaram-se a saudar a suástica e a usar a saudação ‘Heil Hitler!’ e todas as ameaças contra as crianças . . . de nada valem. As crianças declaram clara e distintamente que somente a Deus se pode saudar com um ‘Heil!’, e não algum homem, visto que tal ação é blasfêmia”.
Por Que o Contraste?
Em face de tais fatos históricos, os cristãos refletivos têm de perguntar: Por que uma organização, com todos os recursos e tendo bem mais de mil anos para treinar as consciências dos fiéis só conseguiu produzir a evidência de um único católico alemão dentre 32 milhões (0,000003 por cento) cuja consciência não lhe permitiria lutar em favor dos nazistas? Todavia, entre as 19.000 testemunhas de Jeová alemãs, em 1933, “uma proporção mais elevada (97 por cento) sofreu alguma forma de perseguição do que qualquer das outras igrejas”, segundo o historiador J. S. Conway. São as primeiras da “Lista das Seitas Proibidas Desde 1933”, circulada pela sede da Gestapo em 7 de junho de 1939. — The Nazi Persecution of the Churches 1933-45 (A Perseguição Nazista Contra as Igrejas, 1933-45), págs. 196, 370.
Por que foram as testemunhas de Jeová tão perseguidas? Em contraste com alguns eclesiásticos perseguidos pela atividade política anti-nazista, Conway relata que sua resistência “era centralizada, principalmente, contra qualquer forma de colaboração com os nazistas e contra servir no exército. Baseando seu caso no mandamento bíblico, recusavam-se a tomar armas até mesmo contra os inimigos daquela nação. . . . foram assim todas, praticamente, sentenciadas à morte”. (P. 198, o grifo foi acrescentado.) Os nazistas, na realidade, executaram mesmo 203 das 253 Testemunhas sentenciadas à morte, 635 morreram na prisão e 6.019 receberam sentenças de prisão que totalizavam 13.924 anos.
Mas, não estavam os católicos e os protestantes que serviram a Hitler sob o mesmo “mandamento bíblico”? Sim, estavam, assim como os líderes espirituais nos dias de Jesus conheciam a lei de Deus. Todavia, Jesus se admirou: “Quão engenhosamente contornais o mandamento de Deus a fim de preservar vossas próprias tradições!” — Mar. 7:9, Jerusalem Bible, católica.
Pode observar por si mesmo “quão engenhosamente” os hodiernos líderes religiosos ‘contornam o mandamento de Deus’ por examinar a New Catholic Encyclopedia sob o verbete “Pacifismo”. Ali, entre outras coisas, esta enciclopédia assevera: “Nem existe qualquer contradição intrínseca entre uma guerra justa e a ordem de Cristo para que amemos nossos inimigos. Uma guerra justa expressa ódio ao mal, ao invés de ao malfeitor. . . . Os católicos certamente estão livres para formar sua própria opinião quanto a se as condições exigidas para a justificação são prováveis de ser satisfeitas em qualquer guerra futura . . .” — Ed. 1967, Vol. 10, p. 856; veja também “Guerra, Moral da.”
Como é que este raciocínio ‘engenhoso’ é desenvolvido na prática? Bem, quantas guerras pode encontrar na história, envolvendo populações católicas ou protestantes — por qualquer causa — que deixaram de satisfazer as “condições exigidas para a justificação”, de modo que o rebanho se recusasse a lutar pelos seus amos políticos? Se as igrejas encarassem as mesmas circunstâncias hoje como encararam sob os nazistas, crê honestamente que agiriam de modo diferente? Podem os católicos europeus e estadunidenses, para exemplificar, sentir-se seguros de crer que os milhões de católicos poloneses, húngaros e tchecos não atacariam seus irmãos na fé, caso haja um confronto entre o Leste e o Oeste? Ou o conceito mais realista é o expresso na revista católica, St. Anthony Messenger (Mensageiro de S. Antônio), de que os sacerdotes e os ministros “amiúde transmitem a impressão de que abençoarão qualquer guerra ou aventura em que os líderes do estado decidam lançar-se”? — Maio de 1973, p. 21.
Todavia, Cristo Jesus, cujos discípulos afirmam ser, forneceu a seguinte regra do discipulado cristão: “Nisto precisamente todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros.” Também disse a um discípulo que procurava defendê-lo pela força — certamente uma causa “justa”: “Guarda a tua espada na bainha, pois todos os que pegarem da espada pela espada morrerão.” — João 13:35; Mat. 26:52, tradução do Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
Assim, se lhe pedissem que identificasse aqueles que são verdadeiramente dignos de levar o nome de “cristãos” hoje, usando as diretrizes fornecidas pelo próprio Jesus, poderia honestamente selecionar qualquer das igrejas da cristandade? Quem tem, na realidade, demonstrado o sinal identificador do verdadeiro amor, estabelecido pelo próprio Cristo? Quem é que ‘não ama por palavras nem com a língua, mas por obras e em verdade’? (1 João 3:18, PIB) A evidência histórica fala por si. As pessoas honestas pensarão nisso. Muitos tiram proveito agora da ajuda que as testemunhas de Jeová lhes oferecem livremente para ajudá-los a desenvolver uma consciência cristã treinada pela Bíblia, que não falhe debaixo de prova.
REFERÊNCIAS
1. Relatório interno das S.S., Arquivos Nacionais Washington, T-580, fileira 42, arquivo 245.
2. The Vatican in the Age of the Dictators (O Vaticano na Era dos Ditadores), Anthony Rhodes, 1973, p. 347.
3. Tisserant para Suhard, 11 de junho de 1940 (guardada no Bundesarchiv em Koblenz, R 43 II/1440a).
4. Documentation Catholique, Paris, 2 de fev. de 1964.
5. Publicado em Seelsorge und kirchliche Verwaltung im Krieg, Konrad Hoffmann, editor, 1940, p. 144.
6. Pio XII aos bispos alemães, cópia nos Arquivos Diocesanos em Regensburg.
7. Citada em Was sagen die Weltkirchen zu diesem Krieg? Zeugnisse und Urteile, Matthes Ziegler, 1940, págs. 109-112.
8. Mensagem de 24 de abril de 1940, citada em Der Vatikan und der Krieg, Alberto Giovannetti, 1961, p. 300.
9. Declaração em 11 de março de 1963, em Berlim, publicada em Summa iniuria oder Durfte der Papst schweigen?, Fritz J. Raddatz, editor 1963 p. 223.
10. Kirchliches Jahrbuch für die Evangelische Kirche in Deutschland 1933-1944 (Gütersloh, 1948), págs. 478-9.
11. The Voice of Destruction, Hermann Rauschning, 1940, págs. 50, 53.
12. Artigo 17 da Concordata Entre a Alemanha e a Santa Sé, 20 de julho de 1933, Documents on German Foreign Policy (Documentos da Política Estrangeira Alemã), Série D, Vol. VIII, págs. 896 e seguintes.
13. German Catholics and Hitler’s Wars (Católicos Alemães e as Guerras de Hitler), Gordon Zahn, 1962, págs. 54, 55.
14. Cópia nos arquivos da chancelaria arquidiocesana de Freiburg.
15. Franz Reinisch: Ein Martyrer unserer Zeit, Heinrich Kreuzberg, 1953, p. 86.
16. In Solitary Witness (Testemunho Solitário), Gordon Zahn, 1964, p. 75.
17. Ibidem, p. 86.
18. Carta de 27 de fevereiro de 1946, paróquia de St. Radegund, Áustria, “arquivo de Jägerstätter”.
19. Oberhirtliches Verordnungsblatt für die Dioezese Passau, N.º 10, 6 de maio de 1933, págs. 50-51.
20. In Solitary Witness, Gordon Zahn, 1964, págs. 108-110.
[Nota(s) de rodapé]
a “Por toda a sua vida manteve-se ativo na obra paroquial . . . sendo condenado à morte [depois da guerra] como o ‘Quisling’ eslovaco e executado, apesar dos poderosos apelos de clemência.” — New Catholic Encyclopedia (Ed. 1967), Vol. 14, págs. 173, 174.
b Deão do Sagrado Colégio de Cardeais até sua morte, em 1972.
c Encontrada pelos alemães que saqueavam o palácio do arcebispo de Paris, e mais tarde autenticada por Tisserant.
[Foto na página 18]
Como é possível que homens com consciências treinadas pelas igrejas estivessem dispostos a cometer qualquer crime ordenado por seus líderes?
[Fotos na página 19]
Quem foi responsável?