A coruja-do-mato junto à muralha de Adriano
DO CORRESPONDENTE DE DESPERTAI! NA GRÃ-BRETANHA
UMA fina névoa ainda pairava na copa das árvores quando, de repente, um crescendo de agradável melodia rompeu o silêncio do alvorecer. Os migrantes do verão acabavam de chegar ao norte da Inglaterra, acrescentando seus gorjeios aos dos melros-pretos e tordos nativos.
Segui por um córrego de águas cor de turfa que corria entre margens salpicadas de prímulas e violetas silvestres, caminhando em direção ao lar ancestral da coruja-do-mato junto à muralha de Adriano.a Sabia que cerca de um quilômetro e meio córrego acima ela estaria perto do tronco de um velho olmeiro, vigiando seus quatro filhotinhos aconchegados e seguros no oco de um toco morto de freixo.
Que maravilha de criação é a coruja! Graças à sua visão noturna cem vezes mais aguçada que a dos humanos, ela consegue capturar a presa mesmo através da luz difusa do luar. Enquanto os olhos humanos são dotados de células chamadas cones que separam as cores, e de células chamadas bastonetes que captam a luz, nos olhos da coruja há uma concentração de bastonetes que contêm uma substância química conhecida como púrpura visual. Esta converte a mais tênue luz num sinal químico que transmite uma impressão visual à ave, ao passo que os humanos só enxergam uma luz.
As corujas, diferentes de muitas outras criaturas, não conseguem mover os olhos na sua órbita. Cada olho é fixo como os faróis de um carro. Para compensar isso, a coruja, graças à extrema versatilidade das vértebras do pescoço, consegue virar a cabeça num ângulo de 270 graus, e assim enxergar em todas as direções!
Tem-se dito que, pousada a uns 15 metros do chão numa árvore, a coruja não só consegue ver um camundongo como também ouvi-lo mexer-se na grama. Sua audição fantástica deve-se à disposição dos ouvidos. Se olhar para uma coruja de frente, verá que a sua face é dotada de plumas rígidas e curvas — os chamados discos faciais, que concentram as ondas sonoras e as transmitem aos ouvidos, reverberando o som nos maiores tímpanos do mundo das aves. Os ouvidos estão dispostos um num plano ligeiramente mais alto do que o outro, o que permite à coruja localizar o som com precisão.
Uma vez que a coruja tenha localizado a presa — quer pela vista quer pelo som — ela se lança silenciosamente sobre ela. Tendo o corpo recoberto de uma plumagem macia, todo o som é abafado. Até mesmo as bordas das penas das asas são recobertas de uma penugem macia para reduzir o atrito com o ar. Numa noite escura, camponeses às vezes se assustam ao ver um vulto brilhante de coruja num vôo rasante ao longo de uma estrada. Eles não sabem que a coruja pode cintilar quando suas asas ficam impregnadas de uma substância fosforescente, proveniente de um fungo luminescente que cresce na madeira podre de seu ninho.
Continuei a caminhar rio acima e logo cheguei ao toco retorcido de uma velha árvore. Com o ar quentinho da manhã, um dos filhotes havia saído, postando-se na entrada do oco, e banhava-se nos oblíquos raios do sol que vinham filtrados através das copas folhosas. Ali estava ele, piscando na luz dispersa do sol — que cena encantadora!
Escondida nos ramos acima, a velha coruja-do-mato estava pousada com o seu companheiro, observando tudo a sua volta através dos olhos semicerrados. Eu sabia que ela protegeria cuidadosamente seus filhotes até que eles soubessem se defender sozinhos, com a sabedoria instintiva com que o Criador os dotou.
[Nota(s) de rodapé]
a Ela foi construída entre 120 e 130 EC, pela ordem do imperador romano Adriano, a fim de impedir a passagem de tribos caledônias não subjugadas ao norte da Inglaterra. A sua extensão é de pouco mais de 115 quilômetros, do estuário Solway, no oeste da Inglaterra, até a embocadura do rio Tyne, na costa leste.
[Crédito da foto na página 15]
Cortesia de English Heritage