Capítulo 9
Judaísmo — a busca de Deus através das Escrituras e da tradição
1, 2. (a) Cite exemplos de judeus eminentes que influíram na história e na cultura. (b) Que pergunta talvez façam alguns?
MOISÉS, Jesus, Mahler, Marx, Freud e Einstein — o que todos eles tinham em comum? Todos eram judeus e, de diferentes maneiras, influíram na história e na cultura da humanidade. Bem obviamente, os judeus têm estado em evidência por milhares de anos. A própria Bíblia é um testemunho disso.
2 Diferente de outras antigas religiões e culturas, o judaísmo tem suas raízes na história, não na mitologia. Mas, alguns talvez perguntem: Sendo os judeus uma minoria tão pequena, uns 18 milhões num mundo de mais de 5 bilhões de pessoas, por que nos deveríamos interessar pela sua religião, o judaísmo?
Por Que o Judaísmo Deve Interessar-nos?
3, 4. (a) Em que consistem as Escrituras Hebraicas? (b) Quais são algumas das razões pelas quais devemos considerar a religião judaica e suas raízes?
3 Uma razão é que as raízes da religião judaica remontam a cerca de 4.000 anos na história, e outras grandes religiões estão endividadas para com suas Escrituras, em maior ou menor grau. (Veja quadro, página 220.) O cristianismo, fundado por Jesus (hebraico: Ye·shú·a‛), um judeu do primeiro século, tem suas raízes nas Escrituras Hebraicas. E, como a simples leitura do Qur’ān (Alcorão) mostrará, o islamismo também deve muito a essas escrituras. (Qur’ān, surata 2:49-57; 32:23, 24) Assim, ao examinarmos a religião judaica, examinamos também as raízes de centenas de outras religiões e seitas.
4 Uma segunda e vital razão é que a religião judaica provê o homem de um elo essencial na sua busca do Deus verdadeiro. Segundo as Escrituras Hebraicas, Abrão, o antepassado dos judeus, já adorava o Deus verdadeiro aproximadamente 4.000 anos atrás.a Razoavelmente, perguntamos: Como foi que surgiram os judeus e a sua fé? — Gênesis 17:18.
Como Se Originaram os Judeus?
5, 6. Qual, resumidamente, é a história da origem dos judeus e de seu nome?
5 Falando-se de modo geral, o povo judeu descende de um antigo ramo da raça semítica, de língua hebraica. (Gênesis 10:1, 21-32; 1 Crônicas 1:17-28, 34; 2:1, 2) Uns 4.000 anos atrás, seu antepassado Abrão emigrou da próspera metrópole de Ur dos Caldeus, na Suméria, para a terra de Canaã, sobre a qual Deus declarara: “Vou aquinhoar essa terra à tua descendência.”b (Gênesis 11:31-12:7) Fala-se dele como “Abrão, o hebreu”, em Gênesis 14:13, embora seu nome tenha sido mais tarde mudado para Abraão. (Gênesis 17:4-6) A partir dele os judeus traçam uma linha de descendentes que começa com seu filho Isaque e seu neto Jacó, cujo nome foi mudado para Israel. (Gênesis 32:27-29) Israel tinha 12 filhos homens, que se tornaram os fundadores das 12 tribos. Um destes era Judá, de cujo nome posteriormente se derivou a palavra “judeu”. — 2 Reis 16:6.
6 Com o tempo, o termo “judeu” foi aplicado a todos os israelitas, não apenas a um descendente de Judá. (Ester 3:6; 9:20) Visto que os registros genealógicos judaicos foram destruídos em 70 EC, quando os romanos arrasaram Jerusalém, nenhum judeu hoje pode corretamente determinar de que tribo descende. Não obstante, no decorrer dos milênios, a antiga religião judaica se desenvolveu e mudou. Hoje, o judaísmo é praticado por milhões de judeus na República de Israel e na Diáspora (dispersão por todo o mundo). Qual é a base dessa religião?
Moisés, a Lei e a Nação
7. Que juramento fez Deus a Abraão, e por quê?
7 Em 1943 AEC,c Deus escolheu Abrão para ser seu servo especial e mais tarde fez-lhe um solene juramento devido à sua fidelidade em dispor-se a oferecer seu filho Isaque em sacrifício, ainda que esse sacrifício não se consumasse. (Gênesis 12:1-3; 22:1-14) Naquele juramento, Deus disse: “Juro por Mim Mesmo, o SENHOR [hebraico: יהוה, YHWH] declara: Por teres feito isto, e não teres negado teu filho, teu dileto, dar-te-ei Minha bênção e farei teus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu . . . Todas as nações da terra se abençoarão a si mesmas por meio de teus descendentes [“semente”, Al, rev. e corr.], porque obedeceste a Minha ordem.” Este voto juramentado foi repetido ao filho e ao neto de Abraão, passando então à tribo de Judá e à linhagem de Davi. Este conceito estritamente monoteísta de um Deus pessoal tendo tratos diretos com humanos era ímpar naquele mundo antigo, e veio a formar a base da religião judaica. — Gênesis 22:15-18; 26:3-5; 28:13-15; Salmo 89:4, 5, 29, 30, 36, 37 (Salmo 89:3, 4, 28, 29, 35, 36, NM).
8. Quem era Moisés, e que papel desempenhou ele em Israel?
8 Para cumprir suas promessas feitas a Abraão, Deus lançou o fundamento para uma nação firmando um pacto especial com os descendentes de Abraão. Este pacto foi instituído por meio de Moisés, o grande líder hebreu e mediador entre Deus e Israel. Quem era Moisés, e por que é ele tão importante para os judeus? O relato bíblico de Êxodo nos diz que ele nasceu no Egito (1593 AEC) de pais israelitas que eram escravos no cativeiro junto com o restante de Israel. Foi ele “a quem o SENHOR escolheu” para conduzir o Seu povo à liberdade em Canaã, a Terra Prometida. (Deuteronômio 6:23; 34:10) Moisés cumpriu o papel vital de mediador do pacto da Lei dado por Deus a Israel, além de ser seu profeta, juiz, líder e historiador. — Êxodo 2:1-3:22.
9, 10. (a) O que era a Lei transmitida por meio de Moisés? (b) Que aspectos da vida abrangiam os Dez Mandamentos? (c) Que obrigação o pacto da Lei trouxe a Israel?
9 A Lei que Israel aceitou consistia em Dez Palavras, ou Mandamentos, e mais de 600 leis que formavam um extensivo código de diretrizes e orientações para a conduta diária. (Veja quadro, página 211.) Envolvia o temporal e o sagrado — os requisitos físicos e morais, bem como a adoração de Deus.
10 Este pacto da Lei, ou constituição religiosa, deu forma e substância à fé dos patriarcas. Em resultado, os descendentes de Abraão se tornaram uma nação dedicada ao serviço de Deus. Assim, a religião judaica começou a tomar contornos definidos, e os judeus se tornaram uma nação organizada para a adoração e o serviço de seu Deus. Em Êxodo 19:5, 6, Deus lhes prometeu: “Se Me obedecerdes fielmente e guardardes Meu pacto, . . . sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.” Assim, os israelitas tornar-se-iam um ‘povo escolhido’ para servir aos propósitos de Deus. Contudo, o cumprimento das promessas do pacto estava sujeito à condição “se Me obedecerdes”. Essa nação dedicada estava então obrigada para com seu Deus. Assim, numa data posterior, (oitavo século AEC), Deus podia dizer aos judeus: “Minhas testemunhas sois vós — declara o SENHOR [hebraico: יהוה, YHWH] — Meu servo, a quem escolhi.” — Isaías 43:10, 12.
Uma Nação com Sacerdotes, Profetas e Reis
11. Como foi que vieram a existir o sacerdócio e o reinado?
11 Enquanto a nação de Israel ainda estava no deserto e rumando para a Terra Prometida, foi estabelecido um sacerdócio na linhagem do irmão de Moisés, Arão. Uma grande tenda portátil, ou tabernáculo, tornou-se o centro da adoração e dos sacrifícios israelitas. (Êxodo, capítulos 26-28) Com o tempo, a nação de Israel chegou à Terra Prometida, Canaã, e conquistou-a, como Deus ordenara. (Josué 1:2-6) Por fim foi estabelecido um reinado terrestre e, em 1077 AEC, Davi, da tribo de Judá, tornou-se rei. Com o seu governo, tanto o reinado como o sacerdócio foram firmemente estabelecidos num novo centro nacional, Jerusalém. — 1 Samuel 8:7.
12. Que promessa fizera Deus a Davi?
12 Depois da morte de Davi, seu filho Salomão construiu um magnífico templo em Jerusalém, que substituiu o tabernáculo. Visto que Deus fizera um pacto com Davi, de que o reinado permaneceria para sempre na sua linhagem, entendia-se que um Rei ungido, o Messias, viria algum dia da linhagem de descendentes de Davi. As profecias indicavam que através desse Rei messiânico, ou “semente”, Israel e todas as nações teriam um governo perfeito. (Gênesis 22:18, Al) Esta esperança criou raízes, e a natureza messiânica da religião judaica tornou-se claramente cristalizada. — 2 Samuel 7:8-16; Salmo 72:1-20; Isaías 11:1-10; Zacarias 9:9, 10.
13. A quem usou Deus para corrigir as recaídas de Israel no erro? Dê um exemplo.
13 Contudo, os judeus deixaram-se influenciar pela falsa religião dos cananeus e de outras nações ao redor. Em resultado, eles violaram sua relação pactuada com Deus. Para corrigi-los e guiá-los de volta, Jeová enviou uma série de profetas que transmitiram as Suas mensagens ao povo. Assim, as profecias se tornaram outro aspecto ímpar da religião dos judeus e constituem grande parte das Escrituras Hebraicas. De fato, 18 livros das Escrituras Hebraicas têm nome de profeta. — Isaías 1:4-17.
14. De que modo os eventos vindicaram os profetas de Israel?
14 Entre tais profetas se destacam Isaías, Jeremias e Ezequiel, que avisaram a respeito da iminente punição que Jeová traria contra a nação por causa de sua adoração idólatra. Essa punição ocorreu em 607 AEC quando, devido à apostasia de Israel, Jeová permitiu que Babilônia, a então potência mundial dominante, derrubasse Jerusalém e seu templo e levasse a nação ao cativeiro. De modo que os profetas estavam certos no que haviam predito, e o exílio de 70 anos de Israel, abrangendo a maior parte do sexto século AEC, é assunto de registro histórico. — 2 Crônicas 36:20, 21; Jeremias 25:11, 12; Daniel 9:2.
15. (a) Como foi que uma nova forma de adoração se arraigou entre os judeus? (b) Que efeito tiveram as sinagogas sobre a adoração em Jerusalém?
15 Em 539 AEC, Ciro, o persa, derrotou Babilônia e permitiu que os judeus reocupassem a sua terra e reconstruíssem o templo em Jerusalém. Embora um restante reagisse favoravelmente, a maioria dos judeus permaneceu sob a influência da sociedade babilônica. Mais tarde, os judeus foram afetados pela cultura persa. Assim, surgiram colônias judaicas no Oriente Médio e em volta do Mediterrâneo. Em cada comunidade veio a existir uma nova forma de adoração que envolvia a sinagoga, um centro congregacional para os judeus em cada cidade. Naturalmente, esse arranjo diminuiu a ênfase no templo reconstruído em Jerusalém. Os amplamente dispersos judeus eram agora realmente uma Diáspora. — Esdras 2:64, 65.
O Judaísmo Emerge com um Manto Grego
16, 17. (a) Que nova influência varria o mundo mediterrâneo no quarto século AEC? (b) Quem contribuiu para divulgar a cultura grega, e como? (c) Assim, de que modo o judaísmo emergiu no cenário mundial?
16 Por volta do quarto século AEC, a comunidade judaica estava em estado de fluxo, à mercê das ondas duma cultura não-judaica que engolfava o mundo mediterrâneo e além. As águas emanavam da Grécia, e o judaísmo emergiu delas com um manto helênico.
17 Em 332 AEC, o general grego Alexandre, o Grande, conquistou o Oriente Médio numa vitória relâmpago e foi bem-recebido pelos judeus quando chegou à Jerusalém.d Os sucessores de Alexandre continuaram seu plano de helenização, imbuindo todas as partes do império com a língua, a cultura e a filosofia gregas. Em resultado, as culturas grega e judaica passaram por um processo de fusão que viria a ter surpreendentes resultados.
18. (a) Por que era necessária a tradução Septuaginta grega das Escrituras Hebraicas? (b) Que aspecto da cultura grega em especial afetou os judeus?
18 Os judeus da Diáspora passaram a falar grego em vez de hebraico. Assim, por volta do começo do terceiro século AEC, foi iniciada a primeira tradução das Escrituras Hebraicas para o grego, chamada de Septuaginta, e, através dela, muitos gentios passaram a respeitar a religião dos judeus e a familiarizar-se com ela, alguns até mesmo se convertendo.e Os judeus, por outro lado, tornavam-se entendidos em pensamento grego e alguns até mesmo tornaram-se filósofos, algo inteiramente novo para os judeus. Um exemplo é Filo de Alexandria, do primeiro século EC, que tentou explicar o judaísmo em termos de filosofia grega, como se os dois expressassem as mesmas derradeiras verdades.
19. De que modo certo escritor judeu descreve o período da fusão das culturas grega e judaica?
19 Resumindo esse período de reciprocidade entre as culturas grega e judaica, o autor judeu Max Dimont diz: “Enriquecidos com o pensamento platônico, a lógica aristotélica e a ciência euclidiana, os peritos judeus passaram a considerar a Tora com novos instrumentos . . . Adicionaram a lógica grega à revelação judaica.” Os eventos que ocorreriam sob o domínio romano, que absorveu o Império Grego, e daí Jerusalém, no ano 63 AEC, pavimentariam o caminho para mudanças ainda mais significativas.
O Judaísmo sob o Domínio Romano
20. Qual era a situação religiosa entre os judeus no primeiro século EC?
20 O judaísmo do primeiro século da Era Comum se encontrava num estágio ímpar. Max Dimont diz que estava espremido entre “a mente da Grécia e a espada de Roma”. As expectativas judaicas eram elevadas, devido à opressão política e às interpretações de profecias messiânicas, especialmente as de Daniel. Os judeus estavam divididos em facções. Os fariseus frisavam uma lei oral (veja quadro, página 221), em vez de sacrifícios no templo. Os saduceus enfatizavam a importância do templo e do sacerdócio. E havia ainda os essênios, os zelotes e os herodianos. Havia desacordo entre todos, religiosa e filosoficamente. Líderes judeus eram chamados de rabinos (mestres, instrutores), os quais, por causa de seu conhecimento da Lei, aumentaram em prestígio e se tornaram um novo tipo de líderes espirituais.
21. Que eventos afetaram drasticamente os judeus dos dois primeiros séculos EC?
21 No entanto, as divisões internas e externas do judaísmo continuaram, especialmente na terra de Israel. Por fim, irrompeu rebelião aberta contra Roma e, em 70 EC, tropas romanas sitiaram Jerusalém, desolaram a cidade, queimaram totalmente o seu templo e dispersaram seus habitantes. Por fim, Jerusalém foi decretada uma área totalmente vedada aos judeus. Sem templo, sem terra, com seu povo disperso por todo o Império Romano, o judaísmo necessitava de uma nova expressão religiosa para sobreviver.
22. (a) Como foi o judaísmo afetado pela perda do templo em Jerusalém? (b) De que modo os judeus dividem a Bíblia? (c) Que é o Talmude, e como veio a surgir?
22 Com a destruição do templo, os saduceus desapareceram, e a lei oral que os fariseus haviam promovido tornou-se a peça central de um novo judaísmo rabínico. Estudos mais intensos, oração e obras de piedade substituíram os sacrifícios no templo e as peregrinações. Assim, o judaísmo podia ser praticado em qualquer lugar, em qualquer ocasião, em qualquer ambiência cultural. Os rabinos assentaram por escrito essa lei oral, além de lhe adicionarem comentários, e daí comentários aos comentários, tudo o que, em conjunto, tornou-se conhecido como Talmude. — Veja quadro, páginas 220-1.
23. Que mudança na ênfase ocorreu sob a influência do pensamento grego?
23 O que resultou dessas variadas influências? Max Dimont diz em seu livro Jews, God and History (Os Judeus, Deus e a História) que, embora os fariseus carregassem a tocha da ideologia e religião judaicas, “a tocha em si havia sido acesa pelos filósofos gregos”. Ao passo que grande parte do Talmude era altamente legalista, suas ilustrações e explanações refletiam a clara influência da filosofia grega. Por exemplo, conceitos religiosos gregos, como a alma imortal, foram expressos em termos judaicos. De fato, nessa nova era rabínica, a veneração do Talmude — na época já uma fusão de filosofia legalista e grega — aumentou entre os judeus até que, por volta da Idade Média, o Talmude veio a ser reverenciado pelos judeus mais do que a própria Bíblia.
O Judaísmo na Idade Média
24. (a) Que duas principais comunidades surgiram dentre os judeus na Idade Média? (b) De que modo influenciaram o judaísmo?
24 Durante a Idade Média (de cerca de 500 a 1500 EC), surgiram duas diferentes comunidades judaicas — os judeus sefárdicos, que floresceram sob o domínio muçulmano na Espanha, e os judeus asquenazes, na Europa Central e Oriental. Ambas as comunidades produziram peritos rabínicos, cujos escritos e pensamentos formam a base para a interpretação religiosa judaica até os dias de hoje. Curiosamente, muitos dos costumes e práticas religiosas comuns hoje no judaísmo realmente tiveram início na Idade Média. — Veja quadro, página 231.
25. Como, por fim, reagiu a Igreja Católica à presença dos judeus na Europa?
25 No século 12, começou uma onda de expulsões de judeus de vários países. Conforme o escritor israelense Abba Eban explica em Meu Povo — A História dos Judeus (em inglês): “Em todos os países . . . submetidos à influência unilateral da Igreja Católica, a história é a mesma: horrível degradação, tortura, matança e expulsão.” Por fim, em 1492, a Espanha, que mais uma vez viera a estar sob domínio católico, seguiu o exemplo e ordenou a expulsão de todos os judeus de seu território. Assim, por volta do fim do século 15, os judeus haviam sido expulsos de praticamente toda a Europa Ocidental, fugindo para a Europa Oriental e países em volta do Mediterrâneo.
26. (a) O que levou à desilusão entre os judeus? (b) Que principais divisões passaram a desenvolver-se entre os judeus?
26 Durante os séculos de opressão e perseguição, muitos auto-proclamados Messias surgiram entre os judeus em diferentes partes do mundo, todos eles recebendo um certo grau de aceitação, mas terminando em desilusão. Por volta do século 17, faziam-se necessárias novas iniciativas para revigorar os judeus e tirá-los desse período obscuro. Em meados do século 18, surgiu uma resposta ao desespero que o povo judeu sentia. Era o hassidismo, (veja quadro, página 226), uma mistura de misticismo e êxtase religiosa na devoção e atividades diárias. Em contraste, por volta da mesma época, o filósofo Moisés Mendelssohn, um judeu-alemão, ofereceu ainda outra solução, o caminho do Hascalá, ou esclarecimento, que havia de conduzir ao que é historicamente considerado o “Judaísmo Moderno”.
Do “Esclarecimento” ao Sionismo
27. (a) De que modo Moisés Mendelssohn influenciou as atitudes judaicas? (b) Por que muitos judeus rejeitaram a esperança de um Messias pessoal?
27 Segundo Moisés Mendelssohn (1729-86), os judeus seriam aceitos se saíssem de sob as restrições do Talmude e se ajustassem à cultura Ocidental. Em seus dias, ele se tornou um dos judeus mais respeitados pelo mundo gentio. Contudo, renovadas irrupções de violento anti-semitismo no século 19, especialmente na Rússia “cristã”, desiludiram os seguidores do movimento, e muitos então se concentraram em encontrar um refúgio político para os judeus. Rejeitaram a idéia de um Messias pessoal que conduzisse os judeus de volta a Israel e passaram a trabalhar pelo estabelecimento de um Estado judaico através de outros meios. Isto então se tornou o conceito de sionismo: “A secularização do . . . messianismo judaico”, conforme definiu certo estudioso do assunto.
28. Que eventos no século 20 têm afetado as atitudes judaicas?
28 O assassinato de cerca de seis milhões de judeus europeus no Holocausto de inspiração nazista (1935-45) deu ao sionismo seu ímpeto final e granjeou-lhe muita simpatia no mundo todo. O sonho sionista realizou-se em 1948 com o estabelecimento do Estado de Israel, o que nos traz ao judaísmo de nossos dias e à pergunta: Em que crêem os judeus atuais?
Deus É um Só
29. (a) Expresso de modo simples, o que é o judaísmo moderno? (b) Como se expressa a identidade judaica? (c) Quais são algumas das festividades e costumes judaicos?
29 Dito de maneira simples, o judaísmo é a religião de um povo. Por conseguinte, o converso torna-se parte do povo judeu bem como da religião judaica. É uma religião monoteísta no mais estrito sentido, e sustenta que Deus intervém na história humana, especialmente com relação aos judeus. A adoração judaica envolve várias festividades anuais e diversos costumes. (Veja quadro, páginas 230-1.) Embora não haja credos ou dogmas aceitos por todos os judeus, a confissão da unicidade de Deus, conforme expressa na Shema, uma oração baseada em Deuteronômio 6:4 (JP), é um componente central da adoração na sinagoga: “OUVE, Ó ISRAEL: O SENHOR NOSSO DEUS, O SENHOR É UM SÓ.”
30. (a) Qual é o entendimento judaico a respeito de Deus? (b) De que modo o conceito judaico sobre Deus se conflita com o da cristandade?
30 Essa crença num Deus único foi repassada para o cristianismo e para o islamismo. Segundo disse o Dr. J. H. Hertz, um rabino: “Este sublime pronunciamento de absoluto monoteísmo foi uma declaração de guerra contra todo politeísmo . . . Da mesma maneira, a Shema exclui a trindade do credo cristão como violação da Unidade de Deus.”f Mas, consideremos a seguir a crença judaica sobre a vida após a morte.
Morte, Alma e Ressurreição
31. (a) Como foi que a doutrina da alma imortal se introduziu no ensinamento judaico? (b) Que dilema causou o ensino da imortalidade da alma?
31 Uma das crenças básicas do moderno judaísmo é a de que o homem tem uma alma imortal que sobrevive à morte do corpo. Mas, origina-se isto da Bíblia? A Enciclopédia Judaica (em inglês) admite francamente: “Foi provavelmente sob a influência grega que a doutrina da imortalidade da alma se introduziu no judaísmo.” Mas isso criou um dilema doutrinal, conforme a mesma fonte declara: “Basicamente, as duas crenças, a ressurreição e a imortalidade da alma, são contraditórias. A primeira se refere a uma ressurreição coletiva no fim dos dias, i.e., que os mortos que dormem na terra se levantarão da sepultura, ao passo que a outra se refere ao estado da alma após a morte do corpo.” Como foi resolvido esse dilema na teologia judaica? “Sustentava-se que quando o indivíduo morria a sua alma ainda vivia em outro domínio (isto fez surgir todas as crenças a respeito de céu e inferno), ao passo que o seu corpo jazia na sepultura para esperar a ressurreição física de todos os mortos aqui na terra.”
32. O que diz a Bíblia a respeito dos mortos?
32 O professor universitário Arthur Hertzberg escreve: “Na própria Bíblia [hebraica] a arena da vida do homem é este mundo. Não existe doutrina de céu e inferno, apenas um crescente conceito de uma derradeira ressurreição dos mortos no fim dos dias.” Trata-se de uma simples e correta explicação do conceito bíblico, a saber, que “os mortos nada sabem . . . Pois não existe ação, nem raciocínio, nem aprendizagem, nem sabedoria no Seol [sepultura comum da humanidade], para onde tu vais”. — Eclesiastes 9:5, 10; Daniel 12:1, 2; Isaías 26:19.
33. De que modo a doutrina da ressurreição era originalmente encarada pelos judeus?
33 Segundo a Enciclopédia Judaica, “no período rabínico, a doutrina da ressurreição dos mortos é considerada uma das doutrinas centrais do judaísmo” e “deve ser distinguida da crença na . . . imortalidade da alma”.g Hoje, contudo, ao passo que a imortalidade da alma é aceita por todas as facções do judaísmo, a ressurreição dos mortos não é.
34. Em contraste com o ponto de vista da Bíblia, como é que o Talmude descreve a alma? O que comentam a respeito disso escritores posteriores?
34 Em contraste com a Bíblia, o Talmude, influenciado pelo helenismo, está repleto de explanações e histórias e até mesmo de descrições da alma imortal. Posterior literatura mística judaica, a Cabala, vai ao ponto de ensinar a reencarnação (transmigração de almas), que é basicamente um antigo ensinamento hindu. (Veja Capítulo 5.) Atualmente, em Israel, isto é amplamente aceito como ensinamento judaico, e desempenha também um importante papel na crença e na literatura hassídica. Por exemplo, Martin Buber inclui em seu livro Histórias dos Hassidins — Os Mestres Posteriores (em inglês) uma história a respeito da alma, da escola de Elimeleque, um rabino de Lizhensk: “No Dia de Expiação, quando o rabino Abraão Yehoshua recitava o Avodá, a oração que reproduz o serviço do sumo sacerdote no Templo de Jerusalém, e chegava ao trecho: ‘E assim ele falou’, ele jamais dizia essas palavras, mas sim: ‘E assim eu falei.’ Pois ele não se esquecera do tempo em que a sua alma estava no corpo de um sumo sacerdote em Jerusalém.”
35. (a) Que posição adotou o Judaísmo Reformista concernente ao ensino da alma imortal? (b) Qual é o claro ensinamento da Bíblia a respeito da alma?
35 O judaísmo Reformista tem ido ao ponto de rejeitar a crença na ressurreição. Tendo removido essa palavra dos livros de oração reformistas, reconhece apenas a crença na alma imortal. Quão mais claro é o conceito bíblico, conforme expresso em Gênesis 2:7: “O SENHOR Deus formou o homem do pó do solo, e soprou em suas narinas o fôlego de vida; e o homem tornou-se uma alma vivente.” (JP) A combinação do corpo e do espírito, ou força de vida, constitui “uma alma vivente”.h (Gênesis 2:7; 7:22; Salmo 146:4) Inversamente, quando o humano pecador morre, a alma morre. (Ezequiel 18:4, 20) Assim, ao morrer, o homem cessa de ter qualquer existência consciente. A sua força de vida retorna a Deus que a deu. (Eclesiastes 3:19; 9:5, 10; 12:7) A esperança realmente bíblica para os mortos é a ressurreição — hebraico: tehhi·yáth ham·me·thím, ou “revivificação dos mortos”.
36, 37. O que criam fiéis hebreus dos tempos bíblicos a respeito de vida futura?
36 Ao passo que essa conclusão talvez surpreenda até mesmo muitos judeus, a ressurreição tem sido a esperança real de adoradores do verdadeiro Deus por milhares de anos. Uns 3.500 anos atrás, o fiel e sofredor Jó falou de um tempo futuro em que Deus o levantaria do Seol, ou sepultura. (Jó 14:14, 15) O profeta Daniel também recebeu a garantia de que seria levantado “no fim dos dias”. — Daniel 12:2, 12 (13, JP; NM).
37 Não há base nas Escrituras para se dizer que aqueles fiéis hebreus criam ter uma alma imortal que sobreviveria para um outro mundo. Eles claramente tinham suficientes motivos para crer que o Soberano Senhor, que conta e controla as estrelas do universo, lembrar-se-ia também deles na época da ressurreição. Haviam sido fiéis para com Ele e Seu nome. Ele lhes seria fiel. — Salmo 18:26 (Salmo 18:25, NM); Salmo 147:4; Isaías 25:7, 8; 40:25, 26.
O Judaísmo e o Nome de Deus
38. (a) O que tem acontecido ao longo dos séculos com relação ao uso do nome de Deus? (b) Qual é a base para o nome de Deus?
38 O judaísmo ensina que, ao passo que o nome de Deus existe em forma escrita, é sagrado demais para ser pronunciado.i O resultado foi que, no decurso dos últimos 2.000 anos, perdeu-se a pronúncia correta. Todavia, esta nem sempre foi a posição judaica. Uns 3.500 anos atrás, Deus falou a Moisés, dizendo: “Assim dirás aos israelitas: O SENHOR [hebraico: יהוה, YHWH], o Deus de vossos antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, enviou-me a vós: Este será Meu nome para sempre, esta Minha designação por toda a eternidade.” (Êxodo 3:15; Salmo 135:13) Qual era esse nome e designação? A nota de rodapé na Tanakh diz: “O nome YHWH (tradicionalmente lido Adonai “o SENHOR”) tem ligação aqui com a raiz hayah, ‘ser’.” Assim, temos aqui o sagrado nome de Deus, o Tetragrama, as quatro consoantes hebraicas YHWH (Yahweh) que, na sua forma latinizada, vieram a ser conhecidas ao longo dos séculos em português como JEOVÁ (JEHOVAH).
39. (a) Por que é importante o nome divino? (b) Por que os judeus pararam de pronunciar o nome divino?
39 No decorrer da história, os judeus sempre deram grande importância ao nome pessoal de Deus, embora a ênfase no uso tenha mudado drasticamente desde os tempos antigos. Como diz o Dr. A. Cohen em Everyman’s Talmud (O Talmude de Todos): “Reverência especial [era] atribuída ao ‘Nome distintivo’ (Shem Hamephorash) da Deidade que Ele revelara ao povo de Israel, a saber, o tetragrama, JHVH.” O nome divino era reverenciado porque representava e caracterizava a própria pessoa de Deus. Afinal, foi o próprio Deus quem anunciou seu nome e disse a seus adoradores que o usassem. Isto é enfatizado pelo fato de o nome aparecer na Bíblia Hebraica 6.828 vezes. Judeus devotos, porém, acham ser desrespeitoso pronunciar o nome pessoal de Deus.j
40. O que algumas autoridades judaicas declararam a respeito do uso do nome divino?
40 A respeito da antiga injunção rabínica (não bíblica) contra pronunciar o nome, A. Marmorstein, um rabino, escreveu em seu livro The Old Rabbinic Doctrine of God (A Antiga Doutrina Rabínica Sobre Deus): “Houve tempo em que essa proibição [de usar o nome divino] era inteiramente desconhecida entre os judeus . . . Nem no Egito, tampouco em Babilônia, os judeus conheciam ou guardavam uma lei que proibisse o uso do nome de Deus, o Tetragrama, na conversação comum ou nos cumprimentos. Todavia, do terceiro século AEC até o terceiro século DEC tal proibição existia e era parcialmente observada.” Não apenas se permitia o uso do nome em tempos anteriores, mas, como diz o Dr. Cohen: “Houve um tempo em que o livre e aberto uso do Nome, mesmo pelo leigo, era defendido . . . Tem-se sugerido que a recomendação baseava-se no desejo de distinguir o israelita do [não-judeu].”
41. Segundo certo rabino, que influências levaram à proibição do uso do nome de Deus?
41 O que foi, então, que causou a proibição do uso do nome divino? O Dr. Marmorstein responde: “A oposição helenística [de influência grega] à religião dos judeus, a apostasia dos sacerdotes e dos nobres, introduziram e estabeleceram a norma de não pronunciar o Tetragrama no Santuário [templo em Jerusalém].” Em seu excessivo zelo de evitar tomar o nome divino em vão, eles suprimiram completamente o seu uso na conversação e subverteram e diluíram a identificação do Deus verdadeiro. Sob a combinada pressão de oposição e apostasia religiosas, o nome divino caiu em desuso entre os judeus.
42. O que mostra o registro bíblico a respeito do uso do nome divino?
42 Contudo, como diz o Dr. Cohen: “No período bíblico parece não ter havido escrúpulo algum contra o uso [do nome divino] na linguagem cotidiana.” O patriarca Abraão “invocou o SENHOR por nome”. (Gênesis 12:8) A maioria dos escritores da Bíblia hebraica, liberal, mas respeitosamente, usou o nome, até a escrita de Malaquias, no quinto século AEC. — Rute 1:8, 9, 17.
43. (a) O que é bastante claro concernente ao uso judaico do nome divino? (b) Qual é um dos efeitos indiretos do fato de os judeus deixarem de usar o nome divino?
43 É bastante claro que os antigos hebreus efetivamente usavam e pronunciavam o nome divino. Marmorstein admite a respeito da mudança ocorrida mais tarde: “Pois neste tempo, na primeira metade do terceiro século [AEC], nota-se uma grande mudança no uso do nome de Deus, que provocou muitas mudanças na doutrina teológica e filosófica judaica, cujas influências se fazem sentir até os dias de hoje.” Um dos efeitos da perda do nome é que o conceito de um Deus anônimo ajudou a criar um vácuo teológico no qual a doutrina da Trindade, da cristandade, se desenvolveu com mais facilidade.k — Êxodo 15:1-3.
44. Quais são alguns dos outros efeitos causados pela supressão do nome de Deus?
44 A recusa de usar o nome divino enfraquece a adoração do Deus verdadeiro. Como disse certo comentarista: “Infelizmente, quando se refere a Deus como ‘o Senhor’, a expressão, embora correta, é fria e sem graça . . . Deve-se lembrar que, ao se traduzir YHWH ou Adonai por ‘o Senhor’, está-se introduzindo em muitas passagens do Velho Testamento um toque de abstração, de formalidade e de vagueza inteiramente estranho ao texto original.” (O Conhecimento de Deus no Antigo Israel [em inglês]) Quão triste é ver o sublime e significativo nome Yahweh, ou Jeová, omitido em muitas traduções da Bíblia, considerando que ele aparece claramente milhares de vezes no texto hebraico original! — Isaías 43:10-12.
Os Judeus Ainda Aguardam o Messias?
45. Que base bíblica existe para se crer num Messias?
45 Há muitas profecias nas Escrituras Hebraicas das quais os judeus de há mais de 2.000 anos derivaram a sua esperança messiânica. Segundo2 Samuel 7:11-16 indicava que o Messias seria da linhagem de Davi. Isaías 11:1-10 profetizou que ele traria justiça e paz a toda a humanidade. Daniel 9:24-27 forneceu a cronologia para o surgimento do Messias e ser ele decepado na morte.
46, 47. (a) Que tipo de Messias era esperado pelos judeus que viviam sob a dominação romana? (b) Que mudança ocorreu nas aspirações judaicas concernente ao Messias?
46 Como explica a Enciclopédia Judaica, por volta do primeiro século, as expectativas messiânicas eram intensas. Esperava-se que o Messias fosse “um carismático descendente de Davi, que os judeus do período romano acreditavam seria suscitado por Deus para quebrar o jugo dos pagãos e reinar sobre um restaurado reino de Israel”. Mas, o militante Messias que os judeus esperavam não apareceu.
47 Não obstante, como diz a Nova Enciclopédia Britânica, a esperança messiânica era vital para manter o povo judeu unido através de suas muitas provações: “O judaísmo indubitavelmente deve a sua sobrevivência, em grande parte, à sua firme fé na promessa messiânica e no futuro.” Mas, com o surgimento do moderno judaísmo entre os séculos 18 e 19, muitos judeus deixaram de esperar passivamente por um Messias. Por fim, com o Holocausto de inspiração nazista, muitos perderam a paciência e a esperança. Passaram a encarar a mensagem messiânica como fator negativo e, portanto, reinterpretaram-na meramente como nova era de prosperidade e paz. Desde então, embora haja exceções, dificilmente se pode dizer que os judeus, como um todo, aguardem um Messias pessoal.
48. Que perguntas podem razoavelmente ser suscitadas a respeito do judaísmo?
48 Esta mudança para uma religião não-messiânica suscita graves perguntas. Estava o judaísmo errado por milhares de anos em crer que o Messias seria um indivíduo? Que forma de judaísmo ajudará a pessoa na sua busca de Deus? Seria o judaísmo antigo, com seus adornos de filosofia grega? Ou uma das formas de judaísmo não-messiânico que se desenvolveram nos últimos 200 anos? Ou existe ainda outro caminho que, fiel e corretamente, preserva a esperança messiânica?
49. Que convite se faz a judeus sinceros?
49 Com estas perguntas em mente, sugerimos que os judeus sinceros reexaminem o assunto do Messias por investigarem as afirmações a respeito de Jesus de Nazaré, não como a cristandade o tem representado, mas sim como os escritores judeus das Escrituras Gregas o apresentaram. Existe uma grande diferença. As religiões da cristandade têm contribuído para que os judeus rejeitassem a Jesus, por causa da sua não-bíblica doutrina da Trindade, claramente inaceitável para qualquer judeu que preza o ensinamento puro de que “O SENHOR NOSSO DEUS, O SENHOR É UM SÓ”. (Deuteronômio 6:4, JP) Por conseguinte, convidamo-lo a ler o capítulo seguinte com mente aberta, a fim de conhecer o Jesus das Escrituras Gregas.
[Nota(s) de rodapé]
a Veja Gênesis 5:22-24, Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas — com Referências, segunda nota sobre o Gê 5 versículo 22.
b Todas as citações neste capítulo, salvo outra indicação, são da moderna (1985) Tanakh, Uma Nova Tradução das Escrituras Sagradas (em inglês), por peritos da Sociedade Publicadora Judaica.
c A cronologia apresentada aqui se baseia no texto bíblico como autoridade. (Veja o livro “Toda a Escritura É Inspirada por Deus e Proveitosa”, publicado pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, Estudo 3, “Consideração dos Eventos na Corrente do Tempo”.)
d O historiador judeu do primeiro século, Yoseph ben Mattityahu (Flávio Josefo) conta que quando Alexandre chegou a Jerusalém, os judeus abriram-lhe os portões e mostraram-lhe a profecia do livro de Daniel, escrita mais de 200 anos antes, que claramente descrevia as conquistas de Alexandre como ‘o Rei da Grécia’. — Jewish Antiquities (Antiguidades Judaicas), Livro XI, Capítulo VIII 5; Daniel 8:5-8, 21.
e Durante o período dos Macabeus (Hasmoneanos, de 165 a 63 AEC), líderes judeus tais como João Hircano até mesmo forçaram a conversão ao judaísmo em larga escala, pela conquista militar. É de interesse que, no começo da Era Comum, 10 por cento do mundo mediterrâneo era judaico. Essa porcentagem mostra claramente o impacto do proselitismo judaico.
f Segundo a Nova Enciclopédia Britânica (em inglês): “O credo trinitarista do cristianismo . . . coloca-o à parte das duas outras clássicas religiões monoteístas [judaísmo e islamismo].” A Trindade foi desenvolvida pela igreja muito embora “a Bíblia dos cristãos não inclua afirmações a respeito de Deus que sejam especificamente trinitaristas”.
g Em adição à autoridade bíblica, foi ensinada como artigo de fé na Míxena (Sinédrio 10:1) e foi incluída como o último dos 13 princípios de fé de Maimônides. Até a chegada do século 20, negar a ressurreição era encarado como heresia.
h “A Bíblia não diz que nós temos uma alma. ‘Nefesh’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser.” — Dr. H. M. Orlinsky, da Universidade União Hebraica (EUA).
i Veja Êxodo 6:3, onde, na versão Tanakh da Bíblia, o Tetragrama hebraico aparece no texto em inglês.
j A Enciclopédia Judaica diz: “A escusa de pronunciar o nome YHWH é . . . causada por uma má compreensão do Terceiro Mandamento (Êxo. 20:7; Deut. 5:11), como se significasse ‘Não deves tomar o nome de YHWH teu Deus em vão’, quando realmente significa ‘Não deves jurar falsamente em nome de YHWH, teu Deus.’”
k George Howard, professor-adjunto de religião e hebraico na Universidade da Geórgia (EUA), diz: “Com o tempo, essas duas figuras [Deus e Cristo] foram trazidas a uma unidade ainda mais íntima, até que não raro era impossível fazer uma distinção entre elas. Assim, pode ser que a remoção do Tetragrama contribuiu significativamente para posteriores debates cristológicos e trinitários que assolaram a igreja nos primeiros séculos. Qualquer que seja o caso, a remoção do Tetragrama provavelmente criou um clima teológico diferente do que existia durante o período do Novo Testamento, no primeiro século.” — Biblical Archaeology Review, março de 1978.
[Destaque na página 217]
Judeus sefárdicos e asquenazes formaram duas comunidades.
[Foto na página 206]
Abrão (Abraão), o antepassado dos judeus, adorou a Jeová Deus aproximadamente 4.000 anos atrás.
[Foto na página 208]
Estrela de Davi — um símbolo não-bíblico de Israel e do judaísmo.
[Foto na página 215]
Escriba judeu copiando texto hebraico.
[Foto na página 222]
Família judia hassidiana celebrando o Sabath.
[Foto na página 233]
Judeus devotos usando filactérios, ou caixinhas de rolo de orações, no braço e na testa.
[Foto/Quadro na página 211]
Dez Mandamentos Para Adoração e Conduta
Milhões de pessoas ouviram falar dos Dez Mandamentos, mas poucas realmente já os leram. Assim, reproduzimos aqui a essência de seu texto.
▪ “Não deves ter outros deuses além de Mim.
▪ “Não deves fazer para ti uma imagem esculpida, nem qualquer semelhança do que há nos céus acima, ou na terra embaixo, ou nas águas sob a terra. Não deves curvar-te perante elas nem servi-las. . . . [Nessa data remota, 1513 AEC, este mandamento era ímpar na sua rejeição da idolatria.]
▪ “Não deves jurar falsamente em nome do SENHOR [hebraico: יהוה] teu Deus . . .
▪ “Lembra-te do dia de sábado e mantém-no sagrado. . . . O SENHOR abençoou o dia de sábado e o consagrou.
▪ “Honra teu pai e tua mãe . . .
▪ “Não deves assassinar.
▪ “Não deves cometer adultério.
▪ “Não deves roubar.
▪ “Não deves dar falso testemunho contra o teu próximo.
▪ “Não deves cobiçar a casa . . . a esposa . . . o escravo ou a escrava de teu próximo, nem seu boi ou seu jumento, ou qualquer coisa que pertença a teu próximo.” — Êxodo 20:3-14.
Embora apenas os primeiros quatro mandamentos sejam diretamente ligados com a crença religiosa e a adoração, os outros mandamentos mostravam a conexão entre a conduta adequada e o correto relacionamento com o Criador.
[Foto]
Apesar da lei ímpar recebida de Deus, Israel imitou a adoração do bezerro, praticada por seus vizinhos pagãos. (Bezerro de ouro, em Biblos)
[Fotos/Quadro nas páginas 220 e 221]
Os Escritos Sagrados dos Hebreus
Os escritos sagrados hebraicos começaram com a “Tanakh”.
O nome “Tanakh” vem das três divisões da Bíblia judaica em hebraico: Torah (Lei), Nevi’im (Profetas) e Kethuvim (Escritos), usando-se a primeira letra de cada seção para formar a palavra TaNaKh. Estes livros foram escritos em hebraico e em aramaico a partir do século 16 e até o 5.º século AEC.
Os judeus crêem que foram escritos sob diferentes e decrescentes graus de inspiração. Assim, eles os colocam na seguinte ordem de importância:
Torah (Tora) — os cinco livros de Moisés, ou Pentateuco (do grego para “cinco rolos”), a Lei, consistindo de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Contudo, o termo “Torah” pode também ser usado para referir-se à Bíblia judaica como um todo, bem como à lei oral e ao Talmude (veja página seguinte).
Nevi’im — Os Profetas, abrangendo de Josué até os profetas maiores, Isaías, Jeremias e Ezequiel, e daí através dos 12 profetas “menores”, de Oséias a Malaquias.
Kethuvim — os Escritos, que abrangem as obras poéticas, os Salmos, Provérbios, Jó, O Cântico dos Cânticos e Lamentações. Inclui também Rute, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e Primeiro e Segundo Crônicas.
O Talmude
Do ponto de vista gentio, a “Tanakh”, ou Bíblia judaica, é o mais importante dos escritos judaicos. Contudo, o conceito judaico é diferente. Muitos judeus concordariam com o comentário de Adin Steinsaltz, um rabino: “Se a Bíblia é a pedra angular do judaísmo, o Talmude é a coluna central, erguendo-se a partir das fundações e sustentando o inteiro edifício espiritual e intelectual . . . Nenhuma outra obra teve uma influência comparável na teoria e na prática da vida judaica.” (The Essential Talmud) O que, então, é o Talmude?
Os judeus ortodoxos crêem não apenas que Deus deu a lei escrita, ou Tora, a Moisés no monte Sinai, mas também que Deus revelou-lhe explicações específicas sobre como aplicar essa Lei, e que essas deviam ser transmitidas através da palavra oral. Isso foi chamado de lei oral. Assim, o Talmude é o resumo escrito, com posteriores comentários e explicações, dessa lei oral, compilado por rabinos a partir do segundo século EC até a Idade Média.
O Talmude divide-se usualmente em duas seções principais:
Míxena: Uma coletânea de comentários suplementando a Lei escritural, baseada em explicações de rabinos chamados tanaítas (mestres). Foi escrita em fins do segundo e início do terceiro séculos EC.
Guemara (originalmente chamada de Talmude): Uma coletânea de comentários sobre a Míxena feita por rabinos de um período posterior (terceiro ao sexto séculos EC).
Além dessas duas divisões principais, o Talmude talvez inclua comentários sobre a Guemara feitos por rabinos já na Idade Média. Destacam-se os rabinos Rashi (Salomão ben Isaac, 1040-1105), que tornou bem mais compreensível a difícil linguagem do Talmude, e Rambam (Moisés ben Maimon, mais conhecido como Maimônides, 1135-1204), que reorganizou o Talmude e fez uma versão mais concisa dele (“Mishneh Torah”), tornando-o acessível a todos os judeus.
[Fotos]
Abaixo, antiga Tora do que é conhecido como Túmulo de Ester, no Irã; à direita, hino de louvor em hebraico e iídiche, baseado em versículos das Escrituras.
[Fotos/Quadro nas páginas 226 e 227]
Judaísmo — Uma Religião de Muitas Vozes
Existem importantes diferenças entre as várias facções do judaísmo. Tradicionalmente, o judaísmo enfatiza a prática religiosa. Debates sobre tais assuntos, em vez de sobre crenças, têm causado séria tensão entre os judeus e levou à formação de três principais divisões no judaísmo.
JUDAÍSMO ORTODOXO — Este ramo não apenas aceita que a “Tanakh” hebraica sejam as Escrituras inspiradas, como também crê que Moisés recebeu a lei oral de Deus no monte Sinai na mesma ocasião em que recebeu a Lei escrita. Judeus ortodoxos guardam escrupulosamente os mandamentos de ambas as leis. Crêem que o Messias ainda está para vir e levar Israel a uma era de ouro. Devido a diferenças de opinião entre o grupo ortodoxo, surgiram várias facções. Um exemplo é o hassidismo.
Hassidins (Chassidins, significando “os pios”) — São encarados como ultra-ortodoxos. Fundada por Israel ben Eliezer, conhecido como Baʽal Shem Tov (“Mestre do Bom Nome”), em meados do século 18 na Europa Oriental, seus adeptos seguem um ensino que destaca a música e a dança, resultando em alegria mística. Muitas de suas crenças, incluindo a reencarnação, baseiam-se nos livros místicos judaicos conhecidos como Cabala. Hoje são liderados por rebbes (“rabinos” em iídiche), ou tzádiks, considerados por seus seguidores como homens supremamente justos ou santos.
Os hassidins hoje são encontrados principalmente nos Estados Unidos e em Israel. Eles usam um tipo especial de vestimenta européia oriental, predominantemente preta, dos séculos 18 e 19, que os torna muito conspícuos, especialmente no cenário duma cidade moderna. Atualmente estão divididos em seitas que seguem diferentes destacados rebbes. Um grupo muito ativo são os Lubavitchers, que fazem vigoroso proselitismo entre judeus. Alguns grupos crêem que apenas o Messias tem o direito de restaurar Israel como nação dos judeus e, assim, opõem-se ao Estado secular de Israel.
JUDAÍSMO REFORMISTA (também conhecido como “Liberal” e “Progressista”) — O movimento começou na Europa Ocidental, perto do começo do século 19. Baseia-se nos conceitos de Moisés Mendelssohn, intelectual judeu do século 18, que cria que os judeus deviam assimilar a cultura ocidental, em vez de se separarem dos gentios. Os judeus reformistas negam que a Tora seja a verdade revelada por Deus. Consideram obsoletas as leis judaicas sobre dieta, pureza e vestimenta. Crêem no que chamam de “era messiânica de fraternidade universal”. Em anos recentes, têm voltado a um judaísmo mais tradicional.
JUDAÍSMO CONSERVADOR — Este começou na Alemanha, em 1845, como ramificação do Judaísmo Reformista, que, segundo se pensava, rejeitara um número excessivamente grande de práticas judaicas tradicionais. O judaísmo conservador não aceita que a lei oral tenha sido recebida por Moisés, da parte de Deus, mas sustenta que os rabinos, que tentaram adaptar o judaísmo a uma nova era, inventaram a Tora oral. Os judeus conservadores submetem-se aos preceitos bíblicos e à lei rabínica se estes “atenderem às exigências modernas da vida judaica”. (O Livro do Conhecimento Judaico [em inglês]) Eles usam o hebraico e o inglês na sua liturgia e seguem estritas leis dietéticas (kashruth). Permite-se que homens e mulheres sentem-se juntos durante a adoração, algo não permitido pelo judaísmo ortodoxo.
[Fotos]
À esquerda, judeus no Muro das Lamentações, em Jerusalém, e, acima, um judeu orando, com Jerusalém ao fundo.
[Fotos/Quadro nas páginas 230 e 231]
Algumas Importantes Festividades e Costumes
A maioria das festividades judaicas baseia-se na Bíblia e são, em geral, quer festividades sazonais, em conexão com diferentes colheitas, quer relacionadas com eventos históricos.
▪ Sabath — O sétimo dia da semana judaica (do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de sábado) é encarado como santificando a semana, e a observância especial desse dia é parte essencial da adoração. Os judeus vão à sinagoga para leituras da Tora e orações. — Êxodo 20:8-11.
▪ Iom Kipur — Dia de Expiação, festividade solene caracterizada por jejum e auto-exame. Culmina os Dez Dias de Penitência que começam com Rosh Hashanah, o Ano-Novo judaico, que cai em setembro, segundo o calendário judaico secular. — Levítico 16:29-31; 23:26-32.
▪ Sucot — Festividade das Tendas, ou Tabernáculos, ou Recolhimento. Comemora a colheita e o fim da maior parte do ano agrícola. Realizada em outubro. (Foto acima) — Levítico 23:34-43; Números 29:12-38; Deuteronômio 16:13-15.
▪ Hanucah — Festividade da Dedicação. Festividade popular realizada em dezembro, que comemora a restauração, pelos macabeus, da independência judaica da dominação siro-grega e a rededicação do templo em Jerusalém, em dezembro de 165 AEC. Em geral destaca-se por se acender velas durante oito dias.
▪ Purim — Festividade das Sortes. Celebrada em fins de fevereiro ou princípios de março, em comemoração da libertação dos judeus na Pérsia, no quinto século AEC, de Hamã e sua trama genocida. — Ester 9:20-28.
▪ Pesach — Festividade da Páscoa. Instituída para comemorar a libertação de Israel do cativeiro no Egito (1513 AEC). É a maior e mais antiga das festividades judaicas. Realizada em 14 de nisã (calendário judaico), em geral cai no fim de março ou começo de abril. Todas as famílias judaicas se reúnem para participar da refeição da Páscoa, ou Seder. Nos sete dias seguintes, não é permitido comer fermento. Este período é chamado de Festividade dos Pães Não-fermentados (Matzot). — Êxodo 12:14-20, 24-27.
Alguns Costumes Judaicos
▪ Circuncisão — Para meninos judeus, é uma importante cerimônia que acontece quando o bebê tem oito dias. Muitas vezes é chamada de Pacto de Abraão, uma vez que a circuncisão foi o sinal do pacto de Deus com ele. Os varões que se convertem ao judaísmo também têm de ser circuncidados. — Gênesis 17:9-14.
▪ Bar Mitzvah (abaixo) — Ainda outro ritual judaico essencial, que literalmente significa “filho do mandamento”, um “termo que denota tanto a obtenção de maturidade religiosa e legal como a ocasião em que esse status é formalmente assumido por meninos à idade de 13 anos mais um dia”. Tornou-se costume judaico apenas no século 15 EC. — Enciclopédia Judaica.
▪ Mezuzá (acima) — Geralmente é fácil de distinguir um lar judaico por causa do mezuzá, ou receptáculo de rolo, afixado na ombreira da porta, à direita de quem entra. Na realidade, o mezuzá é um pequeno pergaminho no qual estão escritas palavras citadas de Deuteronômio 6:4-9 e De 11:13-21. Este é enrolado dentro de um pequeno receptáculo. Daí o receptáculo é afixado a cada porta de cada cômodo em uso.
▪ Iármulque (solidéu para varões) — Segundo a Enciclopédia Judaica: “O povo judeu ortodoxo . . . considera a cobertura da cabeça, tanto fora como dentro da sinagoga, como sinal de fidelidade à tradição judaica.” Cobrir a cabeça durante a adoração não é mencionado em parte alguma da Tanakh, assim, o Talmude menciona isso como questão de costume opcional. Mulheres judias hassidianas usam sempre uma cobertura para a cabeça, ou então rapam a cabeça e usam peruca.