Um exame esquadrinhador de Revelação
SE VOCÊ tivesse de alistar as coisas que poderiam torná-lo feliz, incluiria em sua lista o livro bíblico de Revelação ou Apocalipse? A maioria das pessoas não o faria. Mas, todo aquele que possui um entendimento razoável de Revelação pode concordar com as palavras do apóstolo João na introdução deste livro: “Feliz é quem lê em voz alta, e os que ouvem as palavras desta profecia e observam as coisas escritas nela.” — Revelação 1:3.
‘Mas’, você talvez diga, ‘é tão difícil compreender o que leio em Revelação’. Um dos motivos é que grande parte do livro foi escrita em linguagem simbólica. Para entender o significado, precisamos de conhecimento da Bíblia como um todo, bem como dos tratos de Deus com o seu povo no decorrer dos anos.
Talvez tenha encontrado outro obstáculo para o entendimento de Revelação. Visto que contém tantas diferentes visões, ou quadros descritivos, muitos tendem a perder a visão geral da seqüência dos acontecimentos. Por assim dizer, concentram-se em árvores individuais e deixam de recuar para ver a floresta inteira. Com isso em mente, examinemos cuidadosamente o livro de Revelação duma maneira que mostre como suas diferentes partes ou visões se interligam. Como pista, note que uma seqüência, tal como os sete selos, leva a outra série, as sete trombetas. O quadro da página 29 deve ajudá-lo. No transcorrer desse exame, acrescentaremos apenas alguns comentários interpretativos, havendo mais deles nos livros mencionados abaixo.a
COMEÇA A REVELAÇÃO
O livro de Revelação foi escrito em forma de carta, por volta de 96 EC, pelo apóstolo João, a “sete congregações” na Ásia Menor, representando toda a congregação dos cristãos ungidos pelo espírito. (1:4) A introdução (1:1-3) identifica Deus como a fonte e Jesus como o canal da Revelação. Assegura felicidade para aqueles que ouvem e observam as palavras da profecia.
Depois de mencionar Jeová e Jesus, o apóstolo se apresenta e indica que aquilo que segue diz respeito especialmente ao “dia do Senhor” (desde 1914). Ele tem uma visão da gloriosa aparência do ressuscitado Jesus, por meio de quem o livro foi apresentado a João. Devem-se escrever cartas a sete congregações. (1:4 a 3:22) Ciente da condição espiritual dos cristãos envolvidos, Jesus dá elogios, conselhos e advertências. Isso nos deve dar confiança em que Deus tem treinado aqueles que estarão no céu, reinando sobre a terra.
Depois de ver Aquele que é o canal da Revelação, João tem a seguir uma visão de seu Autor. (4:1-11) Deus é glorioso e inspira temor, merecendo nossa admiração e adoração. Há em torno do trono de Deus criaturas vivas que enfatizam as qualidades dele. Vinte e quatro pessoas idosas (cristãos que reinam no céu) tanto adoram o Criador como reconhecem que todas as criaturas devem fazer o mesmo. Jeová possui um rolo selado, mas quem o pode abrir? — 5:1-4.
João vê o Cordeiro, Jesus, tomar o rolo. O capítulo 5 explica que Cristo é digno dessa honra. Portanto, devemos atribuir honra a ele e estar interessados na mensagem do rolo, sobre o propósito de Deus que afeta atualmente o céu e a terra. Em vez de simplesmente ler o rolo, João o vê em ação. Cristo começa a abrir seus sete selos.
O primeiro revela Jesus como governante real avançando rumo à vitória final. O segundo até o quarto retratam, por meio de outros cavaleiros, guerra, fome e morte incomuns (tais como temos presenciado desde a Primeira Guerra Mundial) que levam vasto número de pessoas para o Hades, a sepultura. Com o rompimento do quinto selo, fornece-se a garantia de que Deus vingará os cristãos perseguidos e martirizados. O que João vê quando o sexto selo é aberto indica que haverá mudanças no céu e na terra, e que os homens procurarão esconder-se do vindouro furor de Deus. — 6:1-17.
Num intervalo, antes de o sétimo selo ser aberto, João visiona que obra tem de ser feita antes de Deus permitir que sobrevenha a destrutiva tormenta da tribulação. (7:1-17) Tem de ser completada a obra de selagem dos 144.000. (Mais tarde [14:1-3], indica-se como tendo sido completada.) Deterem os anjos a destrutiva tribulação permite que a “grande multidão” obtenha a aprovação de Deus e o adore junto com os 144.000. Então é rompido o sétimo selo, e há um breve período de oração e preparação para o que está para ocorrer. — 8:1-6.
SETE TROMBETAS
Sete anjos devem tocar sete trombetas. (Os servos terrestres de Deus começaram a proclamar mensagens de julgamento em seus congressos de 1922 a 1928.) Portanto, na abertura duma série de sete selos, o último se amplia numa visão de sete outras coisas, trombetas. Cinco mensagens semelhantes a trombetas, a respeito de elementos da organização de Satanás, são anunciadas. A quinta envolve uma praga de pregadores semelhantes a gafanhotos; menciona-se também ser esse o primeiro de três ais. Quando a sexta trombeta é tocada, faz-se menção de soltar aqueles que estão amarrados junto ao Eufrates, onde se situava a antiga Babilônia. (Na atualidade, alguns cristãos foram soltos do cativeiro babilônico após a Primeira Guerra Mundial.) A visão mostra também um exército de 200.000.000 de cavalarianos. — 8:7 a 9:21.
Há uma interrupção da sexta trombeta; João vê um anjo com um pequeno rolo comestível. (10:1-11) O apóstolo fica sabendo que nos dias do toque da sétima trombeta findará o mistério de Deus. Daí, ele toma o rolo, come-o, e é informado duma obra adicional de profetizarão a ser realizada. Também, ele precisa medir o templo (espiritual). João é informado sobre testemunhas que profetizaram por certo tempo (1914 a 1918), foram mortas pela fera e finalmente voltaram a viver. Note que entra em cena uma fera, mas sua identidade ainda não é esclarecida. A revivificação das testemunhas é seguida por um terremoto na Jerusalém apóstata, o que encerra o toque da sexta trombeta e o segundo ai. — 11:1-14.
Ao soar a sétima trombeta, faz-se um anúncio sobre o Reino estabelecido (o “terceiro ai” para os inimigos de Deus). Isso resulta numa furiosa perseguição por parte das nações. (11:15-19) O capítulo seguinte esclarece melhor o que ocorreu. João vê uma mulher gloriosa (a organização celestial de Deus) dar à luz, em segurança, um filho (o Reino) apesar da oposição do Diabo. Após uma guerra no céu, Satanás é lançado para a terra, onde persegue o restante cristão por causa da fidelidade deste. (12:1-17) Isso constitui aviso do principal inimigo, Satanás. Mas, entram em cena outros inimigos. Um deles é uma fera (a bestial organização política do Diabo) que sai do mar. Esta guerreia contra os cristãos, que por isso necessitam de perseverança e fé. (13:1-10) Outra fera, com dois chifres, que incentiva a adoração da imagem da fera que ascendeu do mar, retrata bem a poderosa dupla política anglo-americana, que, nos últimos tempos, tem dominado o cenário mundial. — 13:11-18.
Impedirão esses inimigos a selagem dos 144.000? Não! João vê os 144.000 cantando alegres no Monte Sião. (Tudo isso ainda sob a sétima trombeta.) Daí, três anjos, em especial, informam que os inimigos enfrentarão dificuldades. Um anjo declara que Deus executará julgamento. Por isso ele ordena: “Temei a Deus e dai-lhe glória.” O segundo anuncia que Babilônia, a Grande, caiu. O terceiro promete tormentos para os adoradores da fera ou da imagem dela. Outros anjos predizem uma ceifa e anunciam um aniquilamento no Armagedom. — 14:1-20.
SETE TIGELAS E BABILÔNIA, A GRANDE
Após tais julgamentos e anúncios preliminares, João vê sete anjos com sete pragas. (Isso também está sob o soar da sétima trombeta; de modo que novamente uma seqüência se une à seguinte.) Apesar da perseguição, muitos saem vitoriosos e entoam louvores. Os sete anjos derramarão sete tigelas da ira, o que salienta o conceito de Deus sobre diversas condições mundiais e as conseqüências ou os efeitos de Sua opinião judicial. Como se deu com a sexta trombeta, a sexta tigela envolve o Eufrates (Babilônia). Faz-se também menção do ajuntamento para “a guerra do grande dia de Deus, o Todo-Poderoso”, (o Armagedom), mas os pormenores ainda não são fornecidos. Com a sétima tigela, uma voz diz: “Está feito!”, e Babilônia, a Grande, é abalada e se desmorona. — 15:1 a 16:21.
Revelação explica a seguir a destruição da moderna Babilônia, que faz lembrar que a antiga Babilônia foi a origem da religião falsa. A Babilônia de Revelação é comparada a uma meretriz que está montada numa fera cor de escarlate, que possui sete cabeças, as quais representam reis — surgindo um oitavo rei oriundo dos sete anteriores. (Isso retrata apropriadamente a Liga das Nações, depois substituída pela ONU — ambas constituídas de muitas nações.) Um anjo diz que com o tempo os chifres militarizados da fera batalharão contra o Cordeiro. Antes, porém, os 10 chifres se voltarão contra a meretriz e a destruirão. (17:1-18) As pessoas são exortadas a sair da religiosa Babilônia, a Grande, antes que isso aconteça. Depois de ser destruída, os reis e os comerciantes sentem a falta dela, mas o céu se regozija devido à sua completa e derradeira destruição (18:1-24) Deus deve ser louvado por executar esse julgamento. É motivo de alegria especialmente para a noiva do Cordeiro, constituída dos “santos”, pois provou ter vencido a meretriz. — 19:1-10.
Agora, o assunto da guerra de Deus e daqueles que lutam contra o Cordeiro entra novamente em pauta e é ampliado. Organizações e pessoas opostas têm seu fim. (19:11-21) Que dizer dos espíritos malignos? Satanás é em seguida lançado no abismo por mil anos. Durante esse período, Cristo e os 144.000 serão reis e sacerdotes em sentido especial. Num rápido salto para o fim dos mil anos, visando mostrar o fim completo de Satanás, a visão retrata sua soltura e a rebelião de alguns humanos. Juntos, são lançados no lago de fogo. (20:1-10) Retrocedendo no tempo, para descrever acontecimentos durante o Milênio, a visão mostra os mortos serem ressuscitados e julgados dignos da vida eterna ou da destruição. — 20:11-15.
Visto que os velhos céu e terra já desapareceram, João vê um novo céu e uma nova terra, bem como as bênçãos que esses produzirão para a humanidade. Ele vê também uma cidade, não Babilônia, mas a noiva de Cristo. É santa e perfeita, fluindo dela um rio da vida. Fazem-se provisões abundantes para uma vida salutar. A série de visões de Revelação se encerra com esse glorioso e climático quadro da organização governante do novo sistema de coisas. — 21:1 a 22:7.
João fica dominado pela emoção e quer adorar o agente que lhe transmitiu a visão; mas é censurado. A profecia não deve ser selada. Os que a ouvem devem convidar outros a tomar “de graça a água da vida”. Ninguém deve acrescentar ou tirar nada do rolo. Jesus lembra novamente aos leitores que ele está vindo depressa. João responde e conclui por proferir uma bênção para os santos. — 22:8-21.
Examinando o quadro acompanhante, pode dizer agora que entende melhor o conteúdo de Revelação e como os elementos nele estão relacionados? Porém, necessita-se de mais do que isso. Devíamos estudar e compreender plenamente o significado simbólico das visões contidas nesse livro, e aplicar sua mensagem na nossa própria vida. Assim, nos estaremos candidatando a bênçãos, inclusive a felicidade mencionada por João nos versículos iniciais.
[Nota(s) de rodapé]
a As Testemunhas de Jeová encontram muita ajuda em dois compêndios bíblicos que consideram Revelação, versículo por versículo: “Caiu Babilônia, a Grande!” o Reino de Deus já Domina! (1972) e “Cumprir-se-á, Então, o Mistério de Deus” (1971), ambos distribuídos pela editora desta revista.
[Foto na página 29]
A abertura dos sete selos leva ao soar de sete trombetas.
Quando as últimas trombetas são soadas, ais são pronunciados. O terceiro ai leva a uma série de sete tigelas.
Sete anjos derramam tigelas da ira de Deus, sete pragas sobre a terra.