Cai às vezes nas garras de cobiça?
JÁ ESTEVE alguma fez numa festa em que havia uma abundância de comida deliciosa e de bebidas alcoólicas, sentindo-se tentado de exceder-se nelas? Muitos admitirão que, às vezes, são agarrados por alguma forma de cobiça. Consegue sempre resistir a ela? Ou é às vezes vencido por ela, resultando em dor de cabeça, em ressaca ou em algo pior? Quais são algumas das outras conseqüências da cobiça ou ganância? Como se pode evitar as garras sutis dela? Esta é uma questão vital, porque a Bíblia diz que nenhum ‘ganancioso herdará o reino de Deus’. — 1 Coríntios 6:10.
A cobiça tem sido definida como desejo excessivo ou avidez, um desejo sôfrego de mais do que se necessita ou merece. A cobiça ou ganância pode assumir formas diferentes, inclusive: amor ao dinheiro, desejo de poder ou fama, sofreguidão por comida, bebida, sexo e bens materiais. É a causa básica de muitos males que nos afligem hoje em dia. Por que estão aumentando o sexo ilícito e os crimes de todo tipo? Por que há milhões de pessoas superalimentadas, ao passo que outros milhões passam fome? Por que se esbanja tanto dinheiro com jogatina e loterias? O que está por detrás dos desfalques de dinheiros particulares e públicos, da exploração comercial e da corrupção de funcionários públicos? E o que há por detrás das guerras, com suas horrendas conseqüência de ruína e sofrimento? As garras depravantes da cobiça.
A Cobiça Sexual e Suas Conseqüências
A cobiça pode assumir formas muito feias e degradar seriamente a vida da pessoa. Por exemplo, um homem casado, com uma boa família, tinha uma descomedida cobiça do sexo. Certo dia, sob a influência de bebidas alcoólicas, seguiu duas moças até à casa delas, esperando poder seduzi-las. Mas o pai e outro parente delas saíram e o surraram. Ele foi levado ao hospital com o crânio rachado, o queixo quebrado e um olho gravemente danificado. Sua filha jovem ficou tão perturbada, que quis cometer suicídio. A família inteira ficou chocada e sentiu-se degradada. Que preço a pagar por ter cedido à cobiça sexual!
O que aconteceu com o Rei Davi, de Israel, confirma isso. Davi já tinha várias esposas. Mas, certo dia, do seu terraço, ele viu a bela mulher Bate-Seba tomar banho. Em vez de imediatamente se desviar e rejeitar a idéia, ele permitiu que o desejo sexual ilícito se arraigasse no seu coração. Daí cometeu adultério com ela, enquanto o marido dela estava fora, lutando no exército de Davi.
Quando Bate-Seba ficou grávida, Davi procurou primeiro encobrir seu adultério por fazer Urias voltar para casa e se deitar com sua esposa. Entretanto, quando este ardil fracassou e ele se viu confrontado com a terrível alternativa do apedrejamento de Bate-Seba como adúltera, ele optou fazer que Urias ficasse exposto na batalha para ter morte certa. Mas nada passa despercebido de Jeová. Ele enviou seu profeta Natã para censurar Davi pelo seu hediondo crime — o adultério, e causar a morte do marido dessa mulher. Davi sentiu-se compungido no coração e aceitou humildemente a censura. Contudo, pagou caro. Seu primeiro filho com Bate-Seba morreu criança, e sua família, daquele tempo em diante, foi afligida por calamidades. — 2 Samuel 11:1-12:23; capítulo 13.
Este exemplo de aviso contra ceder à tentação ilustra muito bem a reação em cadeia do pecado, conforme apresentado na Bíblia: “Cada um é provado por ser provocado e engodado pelo seu próprio desejo. Então o desejo, tendo-se tornado fértil, dá à luz o pecado; o pecado, por sua vez, tendo sido consumado, produz a morte.” (Tiago 1:14, 15) O erro que Davi — cometeu foi deixar a semente do cobiçoso desejo sexual se arraigasse e crescesse no coração. Uma vez estimulado o desejo pecaminoso, ele permitiu que a cobiça sexual o motivasse a se entregar à conduta errada.
Que contraste com isso apresentava José, no Egito, quando a esposa de Potifar tentou induzi-lo a se deitar com ela! Como reagiu José a essa tentação? O relato nos conta: “Resultou então que, falando ela a José dia após dia, ele nunca a escutava de modo a se deitar ao seu lado, para continuar com ela.” Mesmo sem a orientação moral dos Dez Mandamentos, que ainda não haviam sido dados, ele respondeu à insistência dela: “Como poderia eu cometer esta grande maldade e realmente pecar contra Deus?” Daí, finalmente, certo dia, ela agarrou-o, dizendo: “Deita-te comigo!” será que José ficou por ali e tentou argumentar ou raciocinar com ela? Não; ele ‘fugiu para fora’. Não deu à cobiça sexual nenhuma chance de germinar no seu coração. Pôs-se em fuga. — Gênesis 39:7-16.
Nenhum cristão sincero faria planos para adotar um proceder que manifestasse cobiça sexual. Mas, por outro lado, Davi tampouco tinha planejado pecar assim como pecou. De modo que seu exemplo devia induzir a todos nós a fortalecermos nossa determinação pessoal de resistir a quaisquer estímulos à cobiça em assuntos de sexo ilegal. Nós — quer solteiros, quer casados, jovens ou idosos — precisamos estar completamente decididos a rejeitar quaisquer de tais tentações assim que surgem. — Romanos 13:13, 14.
Cobiça de Dinheiro e Suas Conseqüências
Um exemplo flagrante duma pessoa gananciosa é o mais infame traidor na história humana — Judas Iscariotes. Quando foi escolhido por Jesus como apóstolo, ele deve ter sido fiel até aquele momento, e não cobiçoso. De fato, Jesus o encarregou do dinheiro deles. Mas, com o tempo, Judas começou a furtar parte do dinheiro. “Era ladrão e tinha a caixa de dinheiro e costumava retirar dinheiro posto nela.” — João 12:6.
É evidente que Judas tornou-se ladrão praticante, pessoa gananciosa. Quando se aproximou a culminante Páscoa de 33 EC, Judas, depois de ter sido censurado por Jesus, fez um trato com os principais sacerdotes assassinos para trair o Senhor por 30 moedas de prata. Mais tarde, Judas sentiu a monstruosidade de seu ato e suicidou-se. As garras da cobiça ou ganância fizeram mais uma vítima. — Lucas 22:3; Mateus 26:14-16.
As más conseqüências da cobiça são muitíssimas. Muitos dos que gananciosamente vão em busca de muito dinheiro gastam-no num estilo de vida luxuoso. Talvez virem as costas para uma alimentação simples, concentrando-se em alimentos de luxo, altamente refinados. No entanto, o excesso de alimentos ricos em calorias, que o dinheiro pode comprar, muitas vezes se vira contra eles na forma de indigestão ou de problemas piores, que podem apressar a morte. Disse um entendido em medicina: “É um duro fato comercial no mundo dos seguros que os excessos na alimentação e o excesso de peso no adulto não são bons para a expectativa de vida.”
Muito mais sério para o cristão é o perigo espiritual inerente na cobiça. O materialismo tem feito que algumas esposas cristãs, cujo marido recebe um ordenado razoável, procurassem um emprego, embora isso resultasse em negligenciar os filhos e em menos bênçãos na obra da pregação. Fez com que cristãos jovens sucumbissem ao resplendor de empregos bem remunerados, sem considerarem seriamente ingressar no ministério de tempo integral. Agradar à carne, quer por sexo ilícito, quer por cobiça de dinheiro (e de prazeres, e os bens que esse pode comprar,) pode levar a pecados sérios e até mesmo à perda da vida eterna. “Pois a mentalidade segundo a carne significa morte, . . . pois, se viverdes de acordo com a carne, certamente morrereis.” — Romanos 8:6, 13.
Como Podemos Prevenir ou Vencer as Garras da Cobiça?
Uma vez que a pessoa caiu nas garras da cobiça, é difícil ela se livrar. Portanto, a prevenção é melhor do que a cura. Os pais precisam coibir quaisquer tendências cobiçosas primeiro em si mesmos e depois nos seus filhos. A maioria das crianças tende a ser egoísta. Conta-se a história de que Abraão Lincoln, certo dia, levou seus dois filhos pequenos para passear, mas eles estavam chorando. Um vizinho perguntou: “O que é que há com esses garotos?” Lincoln respondeu: “O mesmo que há com o mundo inteiro. Eu tenho três nozes, mas cada um deles quer duas.”
Os pais devem ‘educar’ os meninos e as meninas coerente e amorosamente para serem altruístas e terem consideração para com os outros. (Provérbios 22:6) Isto os ajudará muito durante o estágio da adolescência, quando os apetites sexuais e outros desejos egoístas talvez se tornem fortes. Nos dias atuais, os jovens são constantemente assediados por provocações sexuais. No entanto, a Bíblia diz: “A fornicação e a impureza de toda sorte, ou a ganância, não sejam nem mesmo mencionadas entre vós, assim como é próprio dum povo santo; nem conduta vergonhosa, nem conversa tola, nem piadas obscenas, coisas que não são decentes . . . Nenhum fornicador, nem pessoa impura, nem pessoa gananciosa — que significa ser idólatra — tem qualquer herança no reino do Cristo e de Deus.” — Efésios 5:3-5.
Note que a “pessoa gananciosa” é também “idólatra”. Em que sentido? Os que ficam possuídos por desejos sexuais, pelo amor ao dinheiro (tal como expresso em furtos, desfalques e jogatina), pela sofreguidão por alimentos e bebidas, ou pela ambição por poder ou fama, tornam-se escravos de tais desejos e os transformam como que em seus ídolos. Seu objetivo principal na vida é satisfazer seu desejo cobiçoso. Os cristãos que praticam tais coisas de modo idólatra sem dúvida são ‘pessoas gananciosas’, na terminologia bíblica, e poderiam ser excluídos da congregação. Eles colocam a adoração de seus “deuses” acima da adoração de Jeová, que é “um Deus que exige devoção exclusiva”. — Êxodo 20:3-6, 17.
Dar atenção a programas de rádio e de TV, ou a livros e revistas que estimulam a cobiça de coisas prejudiciais, é muito perigoso para os cristãos — jovens e idosos. Lembre-se de que Davi deixou de desviar os olhos de Bate-Seba que se banhava, e, num momento de fraqueza, foi apanhado pela cobiça sensual. Será que você desliga a TV ou sai do cinema quando se apresentam imoralidades?
Davi, apesar do seu lapso, tinha um profundo amor a Jeová. Isto o ajudou a se recuperar de sua transgressão.. De modo similar, um antigo cristão, na África, pôde recuperar-se dum grave caso de ganância de dinheiro. Por causa de certas dificuldades, ele ficara endividado. Sendo o responsável pelas finanças da firma em que trabalhava, ficou tentado de “tomar emprestado” algum dinheiro, sem permissão. Ele permitiu que a “semente” da ganância germinasse, e desfalcou uma grande soma de dinheiro. Quando seus patrões começaram a investigar o assunto, ele entrou em pânico e fugiu do país, deixando atrás sua esposa e seus filhos. Mas logo teve dores de consciência e deu-se conta de que havia cometido um terrível erro. Ele voltou para casa e finalmente devolveu todo o montante de dinheiro. Foi repreendido por anciãos cristãos e agora faz elogiável progresso.
O que o ajudou a recuperar-se? A oração e a leitura da Bíblia. Viu que muitas das expressões nos salmos de Davi tocavam em pontos sensíveis no seu próprio coração, ajudando-o a orar mais fervorosa e significativamente. Aqui estão alguns exemplos desses salmos: “Mostra-me favor, ó Deus, segundo a tua benevolência. Segundo a abundância das tuas misericórdias, extingue as minhas transgressões. Cria em mim um coração puro, Ó Deus, e põe dentro de mim um espírito novo, firme.” “Refreia também teu servo de atos presunçosos; não deixes que me dominem.” — Salmo 51:1, 10; 19:13.
Se quiser evitar ou vencer as garras da cobiça, ‘chegue-se a Deus, e ele se chegará a você’. (Tiago 4:8) Quando o coração do cristão está cheio de amor a Jeová, aos irmãos cristãos e aos muitos que precisam de ajuda nestes tempos aflitivos, então será mais difícil para a horrível “semente” da cobiça germinar. Além disso, o espírito santo é um excelente exterminador da cobiça! Portanto, deixe que esta poderosa força penetre no seu coração, purificando-o de desejos impuros, e encha-o com o profundo anseio de servir a Jeová. Assim, a força repugnante da cobiça não o agarrará.
[Foto na página 29]
Judas Iscariotes caiu nas garras da cobiça.
[Foto na página 30]
‘É um duro fato comercial no mundo dos seguros que os excessos na alimentação e o excesso de peso não são bons para a expectativa de vida.’