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“Mais cortante do que qualquer espada de dois gumes”A Sentinela — 1960 | 15 de dezembro
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cortante do que qualquer espada de dois gumes. Ela corta fundo, separando ou distinguindo a alma do espírito, a nossa vida como humanos e a nossa atitude mental. Revela-nos os pensamentos e propósitos do coração pelas suas próprias ordens quanto a que devemos e que não devemos fazer.
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Arrependimento que vale perante DeusA Sentinela — 1960 | 15 de dezembro
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Arrependimento que vale perante Deus
Milhares de pessoas, anualmente, professam arrepender-se ao ouvirem a pregação de algum evangelista. É o arrependimento tão simples assim? Que diz a Bíblia?
“ARREPENDEI-VOS, porque é chegado o reino dos céus.” Com estas palavras emocionantes, João Batista introduziu o seu ministério, e Jesus Cristo pregou a mesma mensagem depois do encarceramento de João. Daí, uns três anos depois de Jesus ter começado a pregar esta mensagem na Galiléia, ele disse aos seus discípulos que “em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados, a todas as nações, começando de Jerusalém”. Primeiro o apóstolo Pedro, depois Paulo, e hoje centenas de milhares de testemunhas cristãs de Jeová estão cumprindo estas palavras de Jesus. — Mat. 3:1, 2; 4:17; Luc. 24:47, ARA.
O arrependimento é um ensino elementar da Bíblia mencionado em relação com tais doutrinas básicas como a fé em Deus e o batismo. É exigido de todas as criaturas que desejam ganhar a salvação. — Heb. 6:1, 2.
Segundo o dicionário de Webster, arrepender-se significa “mudar de idéia ou de coração quanto a ações, conduta, etc., passadas ou intencionadas, por causa de remorso ou dessatisfação”. Significa “sentir remorso, contrição ou pesar pelo que foi feito ou não foi feito”. O arrependimento vai mais longe do que a penitência, somos informados, visto que enfatiza o elemento de um novo propósito; significa fazer uma completa reviravolta. A palavra quase invariavelmente traduzida “arrepender-se” nas versões mais populares das Escrituras Hebraicas é nahhám. Significa “suspirar, i. e., respirar fortemente”.
Portanto, por inferência, suspirar de alívio, sentir pesar, sentir lástima; mudar de idéia ou de atitude para com alguma coisa. É por causa deste significado que as Escrituras falam às vezes de Deus arrepender-se ou sentir lástima. Nas Escrituras Gregas Cristãs, o verbo correspondente é metanoéo, e significa simplesmente pensar de modo diferente, mudar de idéia, reconsiderar. O substantivo grego relacionado, metánoia, traduzido “arrependimento”, porém, envolve o sentido de pesar ou regenerar-se. — Lexicon de Strong.
AS VERDADES E OS PRINCÍPIOS ENVOLVIDOS
Para entendermos plenamente a espécie de arrependimento que tem valor diante de Deus precisamos em primeiro lugar reconhecer as verdades e os princípios envolvidos no arrependimento bíblico. Temos de reconhecer que Deus existe, que Ele é o Criador e Amo de todas as suas criaturas, e que Ele é o Altíssimo, o Juiz e o Legislador, e por isso, de direito, todas as suas criaturas têm de prestar contas a Ele. É evidente que o correlativo disso deve ser também inerente no arrependimento, a saber, que o homem não só é criação de Deus, mas também tem livre-arbítrio, sendo capaz de distinguir entre o certo e o errado, e, portanto, pode ser chamado às contas por Deus quanto às suas ações. Em outras palavras, Jeová Deus, em razão de sua posição superior, de suas infinitas qualidades e de suas obras de criação, é Aquele perante quem todas as suas criaturas inteligentes são responsáveis, em razão de sua posição inferior e de suas capacidades. Incidentalmente, estes princípios básicos são os que fazem invariavelmente tropeçar os ateus, os agnósticos e os deístas.
O ensino do arrependimento envolve também o fato de que o homem é pecador, e não só isso, mas que há circunstâncias atenuantes que podem ser alegadas por ele e que justificam que Deus lhe mostre a misericórdia do perdão. Conforme o Rei Davi rogou quando vencido por um sério pecado: “Vê! Com erro fui dado à luz em dores de parto, e em pecado concebeu-me minha mãe.” Se não houvesse circunstâncias atenuantes, não seria possível o verdadeiro arrependimento, nem se poderia Deus conceder o perdão. Lemos assim: “Porque, se praticarmos o pecado deliberadamente após termos recebido o conhecimento acurado da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas há uma certa expectação terrível de juízo.” Foi por isso que para Adão ou para Judas era impossível o arrependimento. — Sal. 51:5; Heb. 10:26, 27, NM.
O arrependimento bíblico exige além disso que haja certa provisão ou base em que Deus possa sustentar a majestade de sua lei e ainda tomar em consideração o arrependimento, pois ele não é dado a mudanças. (Mal. 3:6) Se o seu perdão fosse indiscriminado, desapareceria todo o medo e respeito dele e de suas leis. A Bíblia mostra que esta provisão é o sacrifício do Filho unigênito de Deus: “Pois todos pecaram e estão longe da glória de Deus, e é como dádiva gratuita que estão sendo declarados justos pela sua benignidade imerecida, por meio da redenção pelo resgate pago por Cristo Jesus. . . . para que seja justo até mesmo ao declarar justo o homem que tem fé em Jesus.” — Rom. 3:23-26, NM.
E, finalmente, a provisão do arrependimento que vale perante Deus envolve a questão: Quem é supremo? Jeová Deus ou Satanás, o Diabo? O testemunho bíblico, tal como o encontrado em Jó, capítulos um e dois, mostra que uma das maneiras principais em que a questão será decidida é à base da integridade mantida pelo homem. Para capacitar os que amam a justiça a manter a integridade — e assim provar que o Diabo era mentiroso quando se gabou que podia fazer que todos os homens se desviassem de Deus — era necessário fazer provisão para o arrependimento e o perdão deles. As Escrituras mostram repetidas vezes que os servos de Deus reconheciam a relação entre o perdão e a honra do Seu nome: “Por amor do teu nome, Jehovah, perdoa a minha iniquidade, pois é grande.” “Ajuda-nos, ó Deus da nossa salvação, pela gloria do teu nome; livra-nos, e releva os nossos peccados por amor do teu nome.” — Sal. 25:11; 79:9.
O SIGNIFICADO DO ARREPENDIMENTO
Durante muitos séculos, Jeová Deus tem desconsiderado os pecados de ignorância das nações, mas, começando com a conversão de Cornélio, e de modo especial em nossos dias, “diz à humanidade que todos, em toda a parte, se arrependam. Porque fixou um dia em que se propõe julgar em justiça a terra habitada, por” Jesus Cristo. Especialmente pertinentes para os nossos dias são também as palavras do apóstolo Pedro: “Jeová não é vagaroso com respeito à sua promessa, como alguns consideram a vagarosidade, mas é paciente convosco, porque não deseja que alguns sejam destruídos, mas deseja que todos alcancem o arrependimento.” — Atos 17:30, 31; 2 Ped. 3:9, NM.
Para nos chegarmos a Deus e obter seu beneplácito pelo sincero arrependimento temos de crer “que ha Deus e que se mostra remunerador dos que o buscam”. Além disso, temos de adquirir conhecimento dos seus justos requisitos, que são resumidos do seguinte modo: “Que é o que Jehovah requer de ti, senão que procedas com justiça, e ames a misericordia, e andes humilde com o teu Deus” — Heb. 11:6; Miq. 6:8.
Ao passo que chegamos a conhecer a Deus e os seus requisitos justos, temos de nos tornar ‘cônscios de nossa necessidade espiritual’, vivamente apercebidos de nossa condição pecaminosa, perdida, e sentir-nos realmente tristes por causa dos nossos pecados. Precisamos sentir-nos profundamente movidos, assim como o cobrador de impostos que se dirigiu ao templo para orar, e que, “estando a alguma distancia, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céo, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propicio a mim peccador”. Igual arrependimento sincero foi também expresso por Esdras, a favor dos exilados errantes que voltaram, e pelo apóstolo Pedro, depois de ter negado Jesus. — Luc. 18:13; Esd. 9:3-15; Mat. 26:75.
Para ter valor perante Deus, temos de mostrar tal arrependimento sincero à base da provisão de perdão de Deus: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os nossos pecados.” Isto é feito à base do Ajudador que temos “junto ao Pai . . ., Jesus Cristo, um justo”. Ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Esta provisão do resgate parece, naturalmente, tolice aos que não sentem nenhuma necessidade de se arrepender. — 1 João 1:9; 2:1; João 1:29, NM.
É também vital arrepender-se pelo motivo correto. Nosso motivo precisa ser um pesar piedoso, baseado no amor de Deus e da justiça, e não apenas o temor da punição. Somente “a tristeza, dum modo piedoso, produz o arrependimento para a salvação que não há de ser lastimada”. ‘É a qualidade benigna de Deus que está tentando guiar-nos ao arrependimento: Um remorso puramente egoísta não nos aproveitará de nada, assim como tampouco aproveitou a Esaú, Faraó ou Judas. — 2 Cor. 7:10; Rom. 2:4; Gên. 27:34-37; Êxo. 10:16, 17; Mat. 27: 3-5, NM.
“FRUTOS DIGNOS DO ARREPENDIMENTO”
João Batista disse às multidões que vieram ouvi-lo: “Produzi, pois, frutos dignos do arrependimento.” Assim como “a fé sem obras é morta”, assim também o arrependimento sem frutos dignos é em vão. Quais são estes frutos? — Luc. 3:8; Tia. 2:26, ARA.
O primeiro fruto do arrependimento é como que dar meia volta ou mudar de proceder. Pedro disse aos judeus nos seus dias: “Arrependei-vos, pois, e dai meia volta, de modo a serem apagados os vossos pecados.” Daí em diante não podemos mais viver “para os desejos dos homens, mas para a vontade de Deus”. Sim, os frutos dignos do arrependimento exigem que nos dediquemos a fazer a vontade de Deus e sigamos as pisadas de Jesus Cristo. E, visto que a primeira coisa que Jesus fez ao se dedicar foi expressar isto publicamente, simbolizando-o pelo batismo em água, não podemos demorar em ser batizados, uma vez que mudamos de proceder e resolvemos fazer a vontade de Deus. — Atos 3:19; 1 Ped. 4:2, NM.
Entre os principais frutos dignos do arrependimento acha-se dar testemunho do nome e do reino de Deus. Sem produzirmos tais frutos, nosso arrependimento não valeria nada, pois, embora ‘com o coração se exerça fé para a justiça, é com a boca que se faz declaração publica para a salvação’. Há várias maneiras em que se pode fazer esta confissão pública, e por aproveitarmos bem as nossas oportunidades, podemos produzir muitos frutos do Reino. — Rom. 10:10, NM.
Para produzirmos os frutos dignos do arrependimento, precisamos ter cuidado de continuar a nos abstermos das obras egoístas da carne. Precisamos sempre ter em mente que “já basta o tempo passado em. que tendes feito a vontade das nações, quando praticastes atos de conduta desenfreada, concupiscências, sem restrição legal”. Em vez de permitir que volte o anseio de tais coisas, precisamos fixar as nossas afeições no reino de Deus e seu serviço, e as nossas mentes em produzir os frutos do espírito, que são “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, autocontrole”. — 1 Ped. 4:3; Gál. 5:22, 23, NM.
Mostrarmos misericórdia e perdão aos que pecaram contra nós e que se arrependem é outro fruto digno do arrependimento, sem o qual o nosso arrependimento não terá valor diante de Deus. Só os misericordiosos receberão misericórdia. Jesus ensinou-nos a orar: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores.” E quantas vezes devemos perdoar? Jesus respondeu: “Eu te digo, não: Até sete vezes, mas: Até setenta e sete vezes.” — Mat. 6:12; 18:22, NM.
Embora sejamos conscienciosos em produzir tais frutos dignos do arrependimento, não devemos ir ao outro extremo de remoer sempre os nossos pecados, como se pudéssemos expiá-los por nos sentirmos desconsolados. Antes, precisamos ter a fé de que “o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo o peccado”. Longe de nos incentivar a ficarmos acabrunhados, as Escrituras nos dizem: “Feliz é aquelle . . . cujo peccado é coberto.” — 1 João 1:7; Sal. 32:1.
De todo o precedente se vê que não pode haver tal coisa como a salvação por um arrependimento no leito da morte.
AJUDAS DIVINAS NA PRODUÇÃO DOS FRUTOS DO ARREPENDIMENTO
Destacada entre as ajudas providas por Deus para a produção dos frutos dignos do arrependimento é a oração. Necessitamos da comunicação de Deus em oração, louvando-o e agradecendo-lhe, bem como pedindo-lhe continuamente perdão, sabedoria e força para fazer a sua vontade. Nossas orações altruístas devem incluir petições a favor da prosperidade de Sua causa e do bem-estar de nossos irmãos. — Fil. 4:6; Col. 4:2.
É também imperativo que estudemos regularmente a Palavra de Deus com as ajudas que ele forneceu providencialmente para que possamos entender o sentido do que lemos na sua Palavra. Não podemos viver “somente de pão, mas de todo proferimento que procede da boca de Jeová”. Só pelo estudo diligente podemos fazer progresso e nos tornar ‘inteiramente idôneos, completamente equipados para toda boa obra’. — Mat. 4:4; 2 Tim. 3:17, NM.
A associação cristã é outra ajuda provida por Deus, para produzirmos os frutos dignos do arrependimento. Assim como os membros do corpo humano têm necessidade uns dos outros, assim se dá também com nós, cristãos. Não podemos, portanto, deixar de nos reunir nas reuniões congregacionais, onde podemos animar-nos e estimular-nos uns aos outros ao amor e a obras corretas. — 1 Cor. 12:12-27; Heb. 10:23-25.
Quando um cristão se deixou vencer por um grave pecado, ele deve apressar-se a se arrepender de seu proceder errado. Deve fazer uma confissão aberta do seu erro, primeiro a Deus e depois aos responsáveis na Sua organização visível, expressando o seu arrependimento e sinceramente procurando perdão. Por endireitar assim os seus passos e sujeitar-se humildemente a qualquer disciplina que lhe possa ser aplicada, poderá demonstrar o seu arrependimento como realmente sendo devido à tristeza piedosa, e que ele deseja sinceramente andar nos caminhos da justiça.
Deveras, a verdade bíblica sobre o arrependimento que vale perante Deus satisfaz o coração e a mente. Enaltece a sabedoria e a justiça de Deus, e, acima de tudo, seu amor e sua misericórdia.
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