Sombras do passado
“Pois estas coisas são sombra de coisas vindouras, mas a realidade pertence ao Cristo.” — Col. 2:17, NM.
DO PASSADO longínquo erguem-se muitas sombras de realidades do século vinte, como testemunho silencioso, mas inconfundível. Estas sombras bíblicas, de contornos nítidos, predizem acontecimentos que ocorrem hoje em dia em escala global. Embora o pacto da Lei, mediado por Moisés, na antiguidade, contivesse inúmeras sombras das boas coisas vindouras, contudo, séculos antes dele, a lei e os costumes patriarcais também contribuíram a sua parte nas sombras que encontram hoje a sua realidade. (Heb. 10:1) É também a estas sombras anteriores ao pacto da Lei que as palavras de Paulo podem ser aplicadas: “Pois estas coisas são sombra de coisas vindouras, mas a realidade pertence, ao Cristo.” (Col. 2:17, NM) Em vista desta declaração, devemos esperar que essas primitivas sombras proféticas tenham seu cumprimento centralizado nos servos de Cristo Jesus. E veremos que isto é exatamente o que os fatos mostram. No número precedente desta revista já se fez um estudo preliminar da origem e do funcionamento da sociedade patriarcal, e passamos agora a considerar em pormenores algumas das particularidades jurídicas adicionais, que lançaram a sua sombra de realidades atuais.
A CUSTÓDIA DE PESSOAS E DE PROPRIEDADE
A sociedade patriarcal tinha leis e costumes bem definidos que governavam a custódia de propriedade pessoal e de pessoas. A questão da custódia surgia quando um proprietário ou um pai confiava a propriedade ou os filhos aos cuidados de outros. A propriedade ou as pessoas ou eram entregues a outro para cuidar delas ou eram emprestadas para o proveito do último. Havia ocasiões em que o irmão mais velho, que já era maduro, recebia a custódia sobre os seus irmãos menores. Visto que os patriarcas eram na maior parte criadores de gado e de ovelhas, a propriedade envolvia geralmente animais confiados aos cuidados de outros. No entanto, parece que as regras gerais se aplicavam a qualquer propriedade ou pessoa que se possa ter confiado a guardiães. Quando se confiavam a um pastor as ovelhas de certo proprietário, então, quando o pastor dizia que guardaria as ovelhas, recaía com isso responsabilidade legal sobre o pastor assim empregado. Observamos o caso do chefe de família Jacó, quando êle negociou com seu sogro Labão sobre a guarda das ovelhas deste último. Quando Jacó disse: “Tornarei a apascentar e a guardar o teu rebanho se me fizeres isto”, êle assumiu a responsabilidade legal pelas ovelhas entregues aos seus cuidados. — Gên. 30:31, Al.
Quais eram algumas das responsabilidades legais assumidas com a aceitação da custódia de animais que pertenciam a outra, pessoal Alguns dos regulamentos de Noé quanto à custódia foram anos depois divinamente incorporados no pacto da Lei feito com a nação de Israel. A lei de Moisés nos provê assim um registro destas responsabilidades. “Se alguém der a seu próximo a guardar um jumento, ou boi, ou ovelha, ou algum animal, e morrer, ou for dilacerado, ou afugentado, ninguém o vendo, então haverá juramento do Senhor [Jeová] entre ambos, de que não meteu a sua mão na fazenda do seu próximo: e seu dono o aceitará, e o outro não o restituirá. Mas se lhe for furtado, o pagará ao seu dono. Porém se lhe for dilacerado, trá-lo-á em testemunho disso, e não pagará o dilacerado.” — Êxo. 22:10-13, Al.
Exigia-se, portanto, que o pastor exercesse o devido cuidado na proteção dos animais que se lhe confiaram. Tinha de dar-lhes o suficiente cuidado para que os animais fossem alimentados e que não se perdessem. Enquanto os animais se achavam sob a sua supervisão, se alguns fossem roubados, quer por ele quer por seus empregados, então ele era responsável quanto a fazer plena restituição ao dono. Em pagamento dos roubados, ele tinha de dar cinco ou quatro vezes mais, dependendo se se tratava de bois ou de ovelhas. (Êxo. 22:1) Por outro lado, a lei patriarcal não exigia que o pastor exercesse cuidado extraordinário ao ponto de ser responsável por atos além de seu controle humano. Assim, caso um animal morresse sozinho, fosse ferido sem culpa ou negligência do guardião, ou fosse roubado por um bando armado, então o pastor não precisava restituir a perda. Isto se aplicava também no caso em que animais selvagens abatessem o animal, dilacerando-o. Ao mostrar ao proprietário a evidência do ataque que matou o animal, era o proprietário que tinha de arcar com a perda. O pastor guardião estava isento de responsabilidade.
Este fundo histórico nos habilita a entender melhor os tratos entre Jacó e seus filhos, por ocasião do desaparecimento de José. Dez filhos do patriarca Jacó tinham ficado com ciúme de seu irmão José, de dezessete anos de idade, que gozava do favor especial de seu pai. Jacó mandou seu filho José na missão de ver como estavam passando os seus dez irmãos mais velhos e de relatar o progresso do seu trabalho de pastorear os rebanhos de Jacó num lugar longínquo. Ao verem de longe a aproximação de José, seus irmãos ciumentos conspiraram entre si matá-lo e dizer a seu pai que um animal selvagem o tinha matado. Quando José chegou, tiraram-lhe a túnica de várias cores e lançaram-no numa cova. Mas Rúben, o irmão mais velho, que era legalmente responsável pela custódia de seu irmão mais moço, visto que estava então presente, objetou à conspiração e planejou devolver José a seu pai e assim livrar-se da responsabilidade como guardião especial. No ínterim, enquanto Rúben estava longe da cova, os outros irmãos venderam José como escravo a alguns mercadores que passavam por ali. Quando Rúben voltou à cova e viu que José tinha desaparecido, ele rasgou a sua roupa em angústia, sabendo que seria mantido legalmente responsável pelo desaparecimento de seu irmão mais moço. Exclamou: “O moço não aparece; e eu aonde irei?” — Gên. 37:12-30, Al.
O proceder que Rúben adotou então às instâncias de seus irmãos não foi apenas capricho. Antes, foi uma ação astuta para livrar-se da responsabilidade legal quando comparecessem perante seu pai para relatar o desaparecimento de José. Sabiam que teriam de enfrentar seu pai, que se assentaria como juiz patriarcal para pesar a evidência quanto a quem cabia a responsabilidade. Outrossim, sabiam que, sob a lei da custódia de pessoas e de propriedade, quando se apresentava evidência dum ataque por um animal selvagem, o guardião seria completamente absolvido e considerado inocente. Observe bem o relato bíblico do que aconteceu e como Jacó ficou legalmente obrigado a conhecer ou examinar a evidência, e, como juiz, a declarar que seus filhos estavam legalmente inocentes da suposta morte de José. “Tomaram a túnica de José, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue, e enviaram a túnica de várias cores, e fizeram levá-la a seu pai, e disseram: Temos achado esta túnica; conhece agora se esta será ou não a túnica de teu filho. E conheceu-a, e disse: É a túnica de meu filho; uma bêsta-fera o comeu, certamente foi despedaçado José.” (Gên. 37:30-34, Al) Esta última sentença, em linguagem jurídica, constituiu a sentença do juiz Jacó. Não podia sentenciar uma punição para os dez filhos. Jacó se achava impedido por lei de levar a questão mais avante. — Veja-se o artigo “A Sociedade Patriarcal”, no número precedente desta revista.
O juiz Jacó viu-se obrigado a decidir que a morte tinha sido causada por uma besta-fera. Não há evidência de que no íntimo suspeitasse alguma trama. Anos depois, quando surgiu a questão de confiar o seu filho mais jovem; o amado Benjamim, aos cuidados dos seus irmãos mais velhos, aos quais o primeiro-ministro egípcio (em realidade seu irmão José, a quem não reconheciam) pediu que trouxessem Benjamim ao Egito, Jacó negou-se a permitir que o rapaz fosse levado sob as garantias normais da custódia. Foi só quando Judá, o quarto filho de Jacó, fez um forte voto pessoal de garantia da segurança de Benjamim, fornecendo assim uma garantia muito forte, além do arranjo da custódia, que Jacó consentiu em permitir a ida de Benjamim. (Gên. 44:32, 33) Outrossim, Jacó expressou os seus temores e preocupações como pai por fazer seus filhos lembrar de que, anos antes, tinha sido obrigado, como juiz, a dizer ou proferir o veredicto de morte por um animal, e que desde então nunca mais vira José: “Um ausentou-se de mim, e eu disse: Certamente foi despedaçado, e não o tenho visto até agora.” — Gên. 44:28, Al.
A CUSTÓDIA NA REALIDADE
Esta sombra patriarcal do passado longínquo começou a ter a sua realidade no Pastor correto, Cristo Jesus, a. quem se confiaram as “ovelhas” de seu Pai. Jeová Deus é o grande Pastor e Proprietário das suas “ovelhas”. Seus fiéis servos cristãos são como ovelhas, que se tinham perdido mas que agora voltaram a Deus, o pastor e superintendente de suas almas. (Sal. 23:1; 1 Ped. 2:25, Rohden) Cristo Jesus foi enviado como pastor correto para cuidar destas ovelhas. “Eu sou o pastor correto; o pastor correto entrega sua alma em favor das ovelhas. O assalariado, que não é pastor e a quem não pertencem as ovelhas como propriedade sua, vê aproximar-se o lôbo e abandona as ovelhas, e foge — e o lôbo agarra-as e espalha-as — porque é assalariado e não se importa com as ovelhas. Eu sou o pastor correto, e eu conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e eu entrega a minha alma em benefício das ovelhas. E tenho outras ovelhas, que não são deste aprisco; essas também tenho de trazer, e elas escutarão a minha voz, e se tornarão um só rebanho, um só pastor.” — João 10:11-16, NM.
Quanto cuidado amoroso e devoção às ovelhas Jesus Cristo exerceu durante o seu ministério de três anos e meio de duração! Alimentava-as diligentemente com o abundante alimento espiritual Quando uma se perdia, deixava as no venta e nove restantes para buscar a perdida. (Mat. 18:12-14) Ajudava os espiritualmente pobres e doentes a se restabelecer. Mas, quando ocorriam a doença espiritual ou até mesmo a morte apesar de sua atenção amorosa, ele não podia ser mantido responsável pelo grau de Proprietário das “ovelhas”, Jeová Deus. A morte de Jesus não foi para perder as ovelhas, mas para salvar as ovelhas perdidas. Este pastor confiante protegia também as ovelhas contra o; ataques selvagens dos demônios e do próprio Satanás, que “anda em derredor como leão que ruge procurando alguém para devorar”. — 1 Ped. 5:8, ARA.
“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo Eu, porém, roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.” (Luc. 22:31, 32, ARA) Das doze ovelhas especiais que Jeová confiou Jesus apenas uma foi dilacerada para sua destruição pelo leão devorador, Satanás, o Diabo. Observe o seguinte relatório que Jesus fez na sua oração a Jeová, quanto ao seu trabalho de pastor “Quando eu estava com eles, costumava vigiar sobre eles por respeito a teu próprio nome, que me deste, e os conservei e nenhum deles está destruído, exceto o filho da destruição.” (João 17:12, NM) Conforme indicado na sombra patriarcal Jesus não foi considerado responsável pela destruição do traidor Judas Iscariotes. Visto que Jesus cuidara com bom êxito duma multidão de ovelhas, por levá-las à vida eterna, temos diante de nós, como líder, o glorificado Jesus Cristo, um pastor provado que é fidedigno e de confiança!
Enquanto Jesus estava empenhado na sua obra de pastorear, ele treinava também seus discípulos para se tornarem subpastores. Jesus estava sempre ocupado em edificar a sua fé, para que eles pudessem aceitar a responsabilidade como guardiães das ovelhas de Jeová. Antes de sua ascensão para o céu, Jesus enfatizou a Simão Pedro esta questão de pastorear. Três vezes enfatizou Jesus esta questão. ‘Simão, filho de João, amas-me mais do que êsses?’ Ele lhe disse: ‘Sim, Mestre, sabes que tenho afeição por ti.’ Ele lhe disse: ‘Apascenta meus cordeirinhos.’ Novamente lhe disse, pela segunda vez: ‘Simão, filho de João, amas-me?’ Êle lhe disse: ‘Sim, Mestre, tu sabes que tenho afeição por ti.’ Ele lhe disse: ‘Pastoreia minhas ovelhinhas: Disse-lhe pela terceira vez: ‘Simão, filho de João, tens afeição por mim?’ Pedro ficou triste que lhe dissesse pela terceira vez: ‘Tens afeição por mim?’ De modo que lhe disse: ‘Mestre, tu conheces todas as coisas; percebes que eu tenho afeição por ti: Jesus lhe disse: ‘Apascenta minhas ovelhinhas.’” — João 21:15-17, NM.
Este mesmo Pedro tornou-se fiel subpastor, seguindo as pisadas do seu Mestre Jesus Cristo. Pedro deu conselho sábio aos que naquele tempo eram com ele subpastores, e com força igual aos verdadeiros ministros cristãos da atualidade. “Pastoreai o rebanho de Deus, que está ao vosso cuidado, não sob compulsão, mas espontâneamente, nem por amor de lucro desonesto, mas com fervor, nem como tendo domínio sobre os que são a herança de Deus, mas tornando-vos exemplos para o rebanho.” (1 Ped. 5:2, 3, NM) Assim também agora, neste tempo, quando centenas de milhares das “outras ovelhas” do Senhor estão sendo ajuntadas no “um só rebanho” da organização da sociedade do Novo Mundo entrante, a sombra patriarcal da responsabilidade de pastorear delineia em pormenores a atual responsabilidade de pastorear, na realidade, entre, as congregações das testemunhas cristãs de Jeová. Servos ministeriais nas congregações, como estão cumprindo este requisito divino?
Tomam a sério a supervisão como servos maduros de Deus? Cumprem de bom grado os seus deveres como servos nomeados, não por amor de lucro desonesto, mas avidamente, em amor a Deus e seus concristãos? Estão alimentando eficientemente as ovelhas do Senhor, com o alimento espiritual correto, provido tão abundantemente por Jeová, na sua mesa? Fazem esforços para ajudar os espiritualmente doentes e os espiritualmente pobres a recuperar a saúde espiritual e a riqueza espiritual, para que sejam membros fortes de seu grupo local de testemunhas pregadoras? Protegem-nos na melhor de sua capacidade contra os ataques dos demônios e de Satanás, para que não sejam arrebatados do verdadeiro rebanho? Quando um se desvia, fazem esforços para recuperar esta ovelha perdida, para que haja regozijo com a volta dum arrependido, que ficou entristecido, de modo piedoso, e assim foi resgatado da possível destruição? (2 Cor. 7:8-11) Se os hodiernos subpastores puderem responder na afirmativa a todas estas perguntas, então estão à altura das suas responsabilidades teocráticas, conforme exemplificado pelos pastores Jesus e os apóstolos.
Mas, em escala maior, todas as testemunhas de Jeová, como ministros, têm a responsabilidade de pastorear no seu respectivo território, onde pregam. Ali, nos seus territórios individuais, há muitos dos que são prospectivas “outras ovelhas”, perdidos e doentios, e que necessitam do cuidado amoroso dos ministros que foram comissionados a pastorear. Se estiverem nessa situação devido à nossa negligência em cuidar de tais ovelhas, cuja custódia nos foi entregue pelo grande Proprietário, Jeová Deus, então seremos responsabilizados pelas vidas de tais pessoas. “Filho do homem, eu te nomeei: sentinela para Israel; sempre que ouvires de mim uma palavra, tu lhes terás de dar meu aviso. Quando eu disser ao iníquo: ‘Terás de morrer’, se tu não o avisares, se não disseres nada para avisar o iníquo contra o seu proceder iníquo, a fim de salvar a vida dele, então esse homem iníquo morrerá por causa da sua iniqüidade, mas te responsabilizarei pela morte dele.” (Eze. 3:17, 18, Moffatt) Portanto, se tentarmos ajudar a estes refratários, levando-lhes a mensagem de vida do Senhor, e se, apesar dos nossos esforços, Satanás; o leão que ruge, os devorar, então estamos livres da responsabilidade pela destruição de tais ovelhas prospetivas. Paulo expressou a seriedade de nosso ministério de pastorear nas seguintes palavras: “Pois me é imposta a obrigação. Realmente, ai de mim, se eu não declarasse as boas novas!” (1 Cor. 9:16, NM) Iguais a Jesus e os apóstolos, os que hoje são subpastores e se desincumbem seriamente de seu ministério terão a satisfação de ver a preservação duma vasta multidão das outras ovelhas do Senhor, as quais tiveram o privilégio de achar, ajudar e proteger para a vida eterna.
ESCRAVATURA
Outro assunto de interesse é o da escravatura que existiu nos dias dos patriarcas, costume aparentemente transmitido desde os tempos de Noé. Parece que, quando determinada família, sob o chefe da família, caía em dificuldades econômicas, devido à má administração ou a reveses financeiros, que significassem dívidas, então tal chefe de família podia livrar-se das dívidas por vender legal e voluntariamente tanto a si mesmo como a sua família como escravos. Isto significava que ele se vendia ou ao credor, pela soma da dívida, ou a um chefe de família em boa situação financeira e capaz de pagar o preço para libertar o novo escravo das suas dívidas. Tal escravo tornava-se o que era chamado de trabalhador forçado. Em pagamento pelos futuros serviços prestados pela família subserviente, a família abastada concordava em hospedar, vestir e alimentar os recém-empregados escravos voluntários. Este arranjo provia uma subsistência temporária à unidade familiar que servia como escravos. Era melhor do que padecer de pobreza. Assim se torna evidente que o serviço escravo, naqueles dias, significava emprego servil com a garantia das necessidades da vida fornecidas por um patriarca ou chefe de família superior. Observe o cuidado com que José foi tratado na sua escravidão no Egito. — Gên. 39:1-6.
A uniforme lei dos costumes sobre a escravidão voluntária, no Oriente Médio, fazia provisão adicional para a redenção do escravo, quer por si próprio, se chegasse a herdar dinheiro, quer por um parente chegado. A redenção, ou ser comprado de volta, importava no pagamento do preço negociado ao amo do escravo, para o livramento deste. O escravo e sua família, por sua vez, tinham o direito de receber presentes de seu ex-amo, pelos serviços, prestados.a A escravatura, como condição temporária, durava às vezes por gerações, quando não havia parente chegado que provesse prontamente o resgate. Isto nos faz lembrar dos doze filhos de Jacó e de suas famílias, que entraram voluntariamente no Egito para residir ali temporariamente, e que mais tarde foram lançados na escravidão por faraós agressivos. Os israelitas permaneceram nesta escravidão durante várias gerações. — Êxo. 2:23.
Nos dias de Moisés, o pacto da Lei legislado por revelação divina, incorporou a maior parte das provisões referentes à servidão voluntária. “Se teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como escravo. Como jornaleiro e peregrino estará contigo; até ao ano do jubileu te servirá: então sairá de tua casa, ele e seus filhos com ele, e tornará à sua família, e à possessão de seus pais. Quando o estrangeiro, ou peregrino, que está contigo, se tornar rico, e teu irmão junto dele empobrecer, e vender-se ao estrangeiro . . . depois de haver-se vendido, haverá ainda resgate para ele:um de seus irmãos poderá resgatá-lo.” (Lev. 25:3941, 47-49, ALA) Incidentalmente, em contraste com o arranjo brando que se acaba de mencionar havia também o costume de fazer escravos involuntários dos cativos de guerra, os quais não podiam ser remidos. Este último arranjo opressivo deve ter-se originado de Nemrod e dos seus sucessores satânicos, que recorriam à guerra.
Os homens, como membros da família humana, encontram-se hoje na escravidão ao pecado e à morte. O antepassado Adão sujeitou-se tola e voluntariamente à escravidão ao pecado e à morte, pelo preço de comer obstinadamente do fruto proibido. Ele vendeu a si mesmo bem como a toda a sua família futura ao serviço da morte. A morte começou a dominar como rei. Esta escravidão ao pecado ficou assim imposta a todos os homens. Todos foram vendidos e sujeitos a uma existência servil insegura. “Pois a criação foi sujeita à futilidade.” (Rom. 8:20, NM) Nem um único membro da família humana foi capaz de pagar o preço extremamente alto duma vida humana perfeita para resgatar-se desta escravidão mortífera. “Por um só homem entrou o pecado no mundo e a morte pelo pecado, e assim a morte se estendeu a todos os homens, visto que todos pecaram. No entanto, a morte dominou como rei desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é parecido com aquele que havia de vir.” (Rom. 5:12, 14, NM) Satanás, o deus iníquo deste velho mundo mau, depois de ter orginalmente induzido o homem a perder a sua liberdade na família teocrática de Deus, tem procurado adicionalmente manter a humanidade na escravidão a si mesmo, bem como na escravidão à morte. Satanás tem-se tornado o grande carcereiro e escravizador de toda a sua organização de homens e demônios. Por esta razão, os mais de dois bilhões de pessoas que agora vivem na terra estão na grande escravidão de dois amos opressivos, o “Deus Satanás”, e sua aliada, a “Rainha Morte”. — 2 Cor. 4:4.
A REDENÇÃO NA REALIDADE
Há qualquer esperança de se ficar livre desta escravidão: Sim, há. E isso em razão da possibilidade de redenção prefigurada na lei patriarcal que permitia a compra de escravos para libertá-los da escravidão. Lembre-se de que era o parente quem tinha o direito de remir ou comprar o seu parente para libertá-lo da escravidão. Outrossim, o preço de resgate tinha de ser pago por um parente chegado. Quem, então, podia ser o parente chegado do homem pecador, para pagar o preço extremamente alto exigido para a sua redenção? Esse parente chegado, como redentor, não é outro senão o Perfeito, Jesus Cristo, que se tornou carne a fim de que pudesse tornar-se parente dos homens fiéis. A Bíblia chama-o de “último Adão”. Jesus chamou a si mesmo de “Filho do homem”. (João 1:14; 1 Cor. 15:45; Mat. 16:13) Há assim abundante evidência que mostra que Jeová Deus enviou misericordiosa e amorosamente o seu Filho amado para a terra, a fim de que se tornasse parente chegado do homem, para libertar da destruição os fiéis. “Pois Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho unigênito, a fim de que todo aquele que nele exerce fé não seja destruído, mas tenha vida eterna.” — João 3:16, NM.
As Escrituras mostram também que os homens fiéis foram comprados com um preço de resgate, pois elas dizem, “porque fostes comprados por bom preço”. (1 Cor. 6:20, Al) Qual é, então, este preço? Segundo os princípios divinos de ‘vida por vida’ e de que ‘a vida está no sangue’, a justiça de Deus exigia que o prego de resgate correspondesse perfeitamente ao que Adão perdeu, a saber, a vida dum homem perfeito. (Êxo. 21:23; Lev.17:11) Em outras palavras, o preço seria o sangue dum homem perfeito, para corresponder ao do Adão perfeito antes de entrar na escravidão à morte. E isto é exatamente o que a Bíblia indica, “Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus, que se deu a si mesmo em resgate correspondente por todos — é isto o que deve ser testificado a seus próprios tempos.” — 1 Tim. 2:5, 6, NM.
O próprio Jesus dá testemunho de que um dos objetivos de sua vinda à terra foi derramar o seu sangue vital perfeito na morte, como preço de resgate, para comprar o livramento de multidões de pessoas da escravidão. “O Filho do homem veio, não para que se lhe ministrasse, mas para ministrar e dar a sua alma como resgate em troca de muitos.” (Mat. 20:28, NM) Jesus Cristo forneceu o preço de resgate em Jerusalém, na sexta-feira, 14 de Nisan (1.° de abril) de 33 E. C., quando seus inimigos, a hierarquia judaica e seus aliados romanos, o mataram numa estaca de tortura. Mas a vitória de seus inimigos foi de curta duração, pois em 16 de Nisan (3 de abril), Jeová Deus fez o seu maior milagre ao ressuscitar o seu Filho fiel para a vida imortal. Quarenta dias depois, este entrou no céu e pagou o mérito de seu sacrifício de resgate, estando ali o valor dele disponível para ser aplicado à humanidade fiel, para dar-lhe vida eterna. — Mat. 27:1-50; Heb. 9:25-28.
Para provar adicionalmente que Jesus é o grande emancipador ou libertador da escravidão, note o seguinte texto onde os remidos são chamados de “filhos jovens”. “Visto que os ‘filhos jovens’ são participantes de sangue e carne, ele [Jesus] participou também similarmente das mesmas coisas, para que, pela sua morte, pudesse destruir aquele que tem os meios de causar a morte, isto é, o Diabo, e emancipasse a todos aqueles que, com medo da morte, estavam sujeitos à escravidão durante toda a sua vida.” (Heb. 2:14, 15, NM) A verdadeira libertação da escravidão em que o homem se encontra está em Cristo Jesus, o redentor da humanidade. Portanto, os que exercem fé nesta provisão de resgate feita por Jeová Deus estão já agora numa liberdade relativa quanto ao controle de Satanás e o medo da morte. Outrossim, têm a esperança de serem libertos completamente da morte, quer pela ressurreição, quer por passarem vivos para o novo mundo, por ocasião do Armagedon.
Tendo alcançado a liberdade da escravidão que domina a humanidade, enfrentamos uma renhida luta para manter esta liberdade relativa que nos foi dada pela verdade de Deus. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão.” (Gál. 5:1, ARA) Isto significa seguir um proceder novo e limpo, afastado do sistema mortífero da escravidão encontrado na sociedade do velho mundo. Temos de resistir ao proceder pecaminoso da carne e seguir o novo caminho da liberdade, o que significa adotar a justiça e tornar-nos obedientes à vontade de Deus. “Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para lhe obedecer, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça” (Rom. 6:16, Maredsous) Já servimos por bastante tempo como escravos das nações gentias, em atos de conduta desenfreada, e estes deixaram os seus sinais. Mas agora, já que veio a libertação, vivamos pelo resto dos nossos dias com um objetivo mais elevado, o de ser servos agradáveis a nosso Deus. Pedro instou este proceder para os verdadeiros cristãos. “A fim de que viva, no tempo que ainda lhe resta na carne, não mais para os desejos dos homens, mas para a vontade de Deus. Porque já basta o tempo passado em que tendes feito a vontade das nações, quando praticastes atos de conduta desenfreada.” — 1 Ped. 4:2, 3, NM.
As obras e os atos que os cristãos costumavam praticar enquanto estavam na escravidão à organização de Satanás, e que agora são deixados de lado, foram bem descritos e comentados por Paulo. “Ora, as obras da carne são manifestas, e estas são a fornicação, a impureza, a conduta desenfreada, a idolatria, a prática do espiritismo, ódios, lutas, ciúmes, acessos de ira, contendas, divisões, seitas, invejas, bebedices, orgias e outras coisas semelhantes. Quanto a estas coisas, eu vos aviso de antemão, do mesmo modo como já vos avisei de antemão, que aqueles que praticam tais coisas não herdarão o reino de Deus.” Em contraste com isso, observe agora o que a recente libertação do cristão da escravatura satânica significa para ele, e que frutos isso produz. “Por outro lado, os frutos do espírito são amor, gôzo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, autocontrole. Contra estas coisas não há lei. Ainda mais, aqueles que pertencem a Cristo Jesus penduram na estaca a carne junto com suas paixões e desejos.” — Gál. 5:19-24, NM.
Não só nos libertamos da escravidão de Satanás, mas temos também a comissão de libertar outros, para que eles também possam aceitar a Cristo Jesus como seu redentor e achar a verdadeira liberdade. A comissão do ministro cristão é a mesma que a de Jesus, quando ele disse citando Isaías: “O espírito de Jeová está sobre mim, porque me ungiu para declarar boas novas aos pobres, enviou-me para pregar libertação aos cativos.” (Luc. 4:18, NM; Isa. 61:1) Por pregarmos a Cristo Jesus como único redentor do homem, instamos com os prisioneiros e escravos para que venham e aceitem a liberdade. ‘Por isso, saí do meio deles e separai-vos’, diz Jeová, ‘e deixai de tocar em coisa imunda’.” — 2 Cor. 6:17, NM.
“E ouvi outra voz do céu dizer: ‘Saí dela, povo meu, se não quiserdes participar com ela nos seus pecados, e se não quiserdes receber parte das suas pragas.’” (Apo. 18:4, NM) Isto significa que todos os libertos precisam romper completamente com a organização do velho mundo de Satanás. Precisam manter-se física, moral, social e espiritualmente separados dela. Quando chegar a hora H para a destruição da casa de escravidão de Satanás, no Armagedon, os cristãos libertos não se encontrarão presos nela, para sofrer a mesma sorte dos não libertos, na aniquilação dessa organização impura por Deus. Visto que somos avisados por estas sombras do passado remoto quanto ao nosso proceder atual, não sejamos dos que desconsideram os avisos claros dados nas Escrituras quanto ao nosso bem-estar presente e futuro.
[Nota(s) de rodapé]
a Biblical Law, de D. Daube, 1947, págs. 39-56.