Perguntas dos Leitores
● Seria correto usar as expressões “outras ovelhas” (João 10:16) e “grande multidão” (Rev. 7:9) alternadamente em todas as ocasiões? — G. S.
Não, isto não seria biblicamente apropriado. Todos os que compõem a “grande multidão” de Revelação 7:9 são das “outras ovelhas”, mas nem todos dentre as “outras ovelhas” de João 10:16 constituem parte da “grande multidão”. Estes termos não são inteiramente sinônimos.
Todas as pessoas que têm a aprovação de Deus podem ser biblicamente consideradas como ovelhas. E disse Jesus Cristo: “Entrego a minha alma em beneficio das ovelhas.” (João 10:15) Ao passo que há um “pequeno rebanho” de 144.000 “ovelhas” com a perspectiva de ressurreição para a vida celeste, muitas outras pessoas semelhantes a ovelhas têm a perspectiva de vida na terra, na nova ordem prometida por Deus. (Luc. 12:32; Rev. 14:1-4; Sal. 37:11, 29) Todas as pessoas que têm esperanças e possibilidades terrestres são mencionadas como as “outras ovelhas” em João 10:16, para diferençá-las daquelas “ovelhas” que recebem a vida celeste. As “outras ovelhas” terrestres incluirão homens fiéis da antiguidade, como Abraão, Davi e Daniel. (Heb. 11:8-19, 32-35; Dan. 12:13) Muitas outras pessoas, ressuscitadas durante o reinado milenar de Cristo, mostrar-se-ão obedientes a Deus e, assim, mostrarão que também são das “outras ovelhas” do Pastor Excelente. Este termo também se aplica à “grande multidão” de pessoas de disposição justa que passará com vida o fim destrutivo deste sistema de coisas e a quaisquer de sua descendência justa durante o reinado milenar de Cristo.
Assim, “outras ovelhas” é expressão ampla. No entanto, a “grande multidão” constitui apenas uma parte da classe das “outras ovelhas”. Revelação 7:9, 14 nos diz: “Depois destas coisas eu vi, e eis uma grande multidão, que nenhum homem podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, trajados de compridas vestes brancas; e havia palmas nas suas mãos. . . . ‘Estes são os que saem da grande tribulação, e lavaram as suas vestes compridas e as embranqueceram no sangue do Cordeiro.’” Deve ser notado que os da “grande multidão”, que é diferençada dos 144.000 do Israel espiritual, “saem da grande tribulação” que marca os “últimos dias”. (Mat. 24:20, 21) A “grande multidão” de Revelação 7:9 não saiu antes de chegar ‘o tempo do fim’.
Por isso, a expressão “outras ovelhas” abrange todas as pessoas de disposição justa com perspectivas terrestres e abrange a “grande multidão”. A “grande multidão”, contudo, compõe-se apenas das pessoas semelhantes a ovelhas que têm esperanças terrestres e que se associaram com a organização terrestre de Jeová Deus durante o tempo assinalado pela “grande tribulação” que acompanha estes últimos dias.
● Diz-se que no tabernáculo de Israel e, posteriormente, no templo que Salomão construiu, havia a Shekinah. O que era isso? — A. G., EUA.
A palavra hebraica Shekinah significa “aquilo que habita” ou “a habitação”. Embora este termo não seja usado na Bíblia, acha-se no Targumim ou Targuns, as paráfrases aramaicas das Escrituras Hebraicas. Shekinah é usada nos Targuns em trechos bíblicos tais como os relacionados à habitação de Deus, ou a estar ele no tabernáculo ou morando entre seu povo escolhido. (Ex.: Êxo. 25:8; 29:45, 46; Núm. 5:3; 35:34) Nos Targuns, a palavra hebraica “habitar” ou “residir [temporàriamente, como num tabernáculo]” é traduzida “que descanse a Shekinah”. — Veja-se o Targum de Isaías 48:11; 63:17; 64:3, 6.
A Shekinah estava em evidência no Santíssimo tanto do tabernáculo como no templo de Salomão. Em seu compartimento mais intimo se achava a arca sagrada do pacto, ou testemunho, com dois querubins de ouro esculpidos para sua tampa ou cobertura. Fazendo referência a esta Arca, Deus disse a Moisés: “Colocarás a tampa sobre a arca e porás dentro da arca o testemunho que te darei. Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os Israelitas.” (Êxo. 25:21, 22, CBC) Mas, como é que Jeová se poderia apresentar ali a Moisés? Um modo apropriado seria por meio duma luz miraculosa. Também, o sumo sacerdote precisaria de luz enquanto estivesse no Santíssimo, no dia de expiação. — Lev. 16:11-16.
A Shekinah no tabernáculo e no templo de Salomão era tal luz ou brilho sobrenatural. Brilhava entre os dois querubins de ouro sobre a tampa de Arca. Não se pode determinar com exatidão a que altura ela se estendia acima dos querubins ou que tinha a sua fonte. No entanto, a luz Shekinah era a única fonte de iluminação no Santíssimo.
Qual é, então, o significado da luz Shekinah? Este fulgor do Santíssimo significava ou representava a presença de Deus. Naturalmente que Jeová mesmo não se poderia limitar a qualquer tabernáculo ou templo literal. (2 Crô. 6:18; Atos 17:24) Mas, esta luz maravilhosa era indicação para os israelitas de que o favor de Jeová os acompanhava.
Segundo a Mishnah judaica, a luz Shekinah no Santíssimo era uma das coisas que faltavam no templo construído sob a supervisão do Governador Zorobabel. — Yoma. 21, 2.
● Procurar adivinhações é condenado na Bíblia. (Deu. 18:10) Como, então, podemos explicar Gênesis 44:5, que indica que José, que tinha o favor de Deus, possuía um cálice por meio do qual fazia adivinhações? — A. J., Rep. do Congo.
José era o administrador de alimentos do Egito, alta autoridade dum país pagão. Por causa duma severa fome, seus irmãos vieram desde Canaã para obter suprimentos alimentícios no Egito. (Gên. 42:1-7) Anos antes, venderam José para ser escravo. Então, embora não o imaginassem, pediam alimento a seu próprio irmão. José ainda não resolvera revelar-se a eles. Antes, estava determinado a experimentá-los. Gênesis 44:5 deveria ser considerado com isto em mente.
Evidentemente, José procedia segundo certo projeto, representando a si mesmo, não como seu irmão que tinha fé em Jeová Deus, mas como administrador dum pais pagão. Em linha com seu propósito, José ordenou ao homem que cuidava de sua casa que enchesse suas sacolas de alimento, colocasse o dinheiro de cada um na boca da sacola e pusesse o cálice de prata de José na boca da sacola do caçula. (Gên. 44:1, 2) Os irmãos de José não tinham ido longe quando ele disse a seu servo: “Levanta-te e persegue estes homens, e, quando os tiveres alcançado, dir-lhes-á: ‘Por que pagastes o bem com o mal? (A taça que roubastes) é aquela em que bebe o meu senhor e da qual se serve para suas adivinhações. Fizestes muito mal.’” (Gên. 44:3-5, CBC) José, agindo de modo coerente com o que procurava conseguir, disse ao homem encarregado de sua casa o que este deveria falar. Fez que ele descrevesse o cálice como “a taça . . . em que bebe o meu senhor e da qual se serve para suas adivinhações”, possivelmente visando mostrar o grande valor deste cálice e assim destacar a seriedade do evento.
Quando José confrontou seus irmãos, continuou com este subterfúgio, perguntando-lhes: “Não sabeis que sou um homem dotado da faculdade de adivinhar?” (Gên. 44:15, CBC) Mais tarde, não mais se podendo controlar, José revelou sua verdadeira identidade. — Gên. 45:1-15.
Por isso, o cálice era evidentemente parte do subterfúgio. Podemos estar seguros de que José, como adorador de Jeová, realmente não usava o cálice para adivinhações, assim como Benjamim realmente não o roubou.
● Em 1 Reis 7:23 e 2 Crônicas 4:2, diz-se-nos que o mar de bronze circular, no átrio do templo de Salomão, tinha dez cúbitos de uma borda à outra e que “sua circunferência media-se com um fio de trinta côvados”. (CBC) Não é isto incorreto, visto que é impossível se ter um círculo com estes dois valores? — H. S., EUA.
Não há motivo de se concluir que os escritores foram culpados de sério engano. Jeremias, que escreveu Primeiro Reis, e Esdras, que escreveu Segundo Crônicas, eram homens fidedignos que escreveram estes relatos sob inspiração divina.
Atualmente, em cálculos matemáticos, é costumeiro usar pi, que indica a relação entre a circunferência e o diâmetro dum circulo. Segundo o costume geral, é uma quantidade equivalente a 3,1416. No entanto, nos tempos antigos, as pessoas não costumavam indicar os números decimais até à última fração. Por isso, o próprio pi não é apenas 3,1416. As pessoas que insistem em precisão escrupulosa e consideram que a Bíblia está enganada ao dar as medidas do mar de bronze, fariam bem em compreender que, para elas mesmas serem mais exatas, seria apropriado levar o pi pelo menos a oito casas decimais, o que seria 3,14159265, embora se possa usar até um algarismo por excesso 3,1415926535.
O comentarista bíblico Christopher Wordsworth cita certo Rennie, que fez a seguinte observação interessante sobre as medidas do mar de bronze: “Até o tempo de Arquimedes [terceiro século A. E. C.], a circunferência de um circulo era sempre medida em linhas retas pelo raio; e Hirão poderia descrever naturalmente o mar como sendo de trinta cúbitos, medindo-o, como era então invariàvelmente costumeiro, pelo seu raio, ou semidiâmetro, de cinco cúbitos, que, sendo aplicado seis vezes em volta do perímetro, ou ‘borda’, daria os trinta cúbitos declarados. Não havia evidentemente nenhuma intenção no trecho senão a de dar as dimensões do Mar, na linguagem costumeira que todos entendessem, medindo a circunferência do modo que todos os trabalhadores peritos, como Hirão, costumavam medir os círculos naquele tempo. Ele, naturalmente, devia saber perfeitamente bem, contudo, que visto que o hexágono poligonal assim circunscrito pelo seu raio tinha trinta cúbitos, a verdadeira circunferência curva teria um tanto mais.”
Segundo 1 Reis 7:23 e 2 Crônicas 4:2, o mar de bronze tinha dez cúbitos, ou quase quatro metros e sessenta, de diâmetro, e era preciso uma linha de trinta cúbitos ou cerca de treze metros e sessenta para circunscrevê-lo. Esta é uma proporção de um para três, que, para fins práticos, era bem adequada para o objetivo do registro. Jeremias e Esdras, portanto, deram algarismos aproximados, os quais, por certo, satisfazem os considerados estudantes bíblicos.
● Jeová Deus é contra todas as formas de demonismo. Todavia, Ezequiel 21:21, 22 e seu contexto parecem indicar que Ele dirigiu a adivinhação, de modo que Nabucodonosor movimentasse suas forças militares contra Jerusalém. Por que fez Deus tal coisa? — K. M., EUA.
Segundo Ezequiel 21:21, 22 (Al), Jeová disse a seu profeta Ezequiel: “Porque o rei de Babilônia parará na encruzilhada, no cimo dos dois caminhos, para fazer adivinhações: aguçará as suas flechas, consultará os terafins, atentando nas entranhas. A sua direita estará a adivinhação sobre Jerusalém, para ordenar os aríetes, para abrir a boca à matança, para levantar a voz com júbilo, para pôr os aríetes contra as portas, para levantar tranqueiras, para edificar baluartes.” Nabucodonosor determinara empreender um curso de conquista. Mas, viu-se confrontado com uma escolha. Podia marchar contra Rabá de Amom, ou desviar a fúria de suas forças para Jerusalém em Judá. O monarca babilônio pagão recorreu à adivinhação e, como resultado dela, Jerusalém se tornou objeto de ataque.
Ao considerar o relato de Ezequiel 21:18-23, é apropriado compreender que o erro dos habitantes de Judá e Jerusalém se tornara considerável. Por tal motivo, Jeová Deus determinara trazer a destruição sobre Jerusalém. Assim, fazendo que os babilônios cercassem tal cidade estava em harmonia com a vontade de Jeová. Apropriadamente, ele se certificou de que Nabucodonosor escolhesse a estrada de Jerusalém.
Mas, será que Jeová Deus usaria os demônios para realizar seus propósitos? Definitivamente que não. Ele não os moveria nem os inspiraria a agir como seus instrumentos em guiar os assuntos mediante formas de adivinhação. Todavia, os demônios são impotentes para resistir ou bloquear a vontade de Deus. Jeová poderia certamente fazer o que bem quisesse quando Nabucodonosor tentasse fazer uma decisão militar; Ele não permitiria que o processo de adivinhação atuasse contra a Sua vontade. O Altíssimo poderia interferir com a adivinhação, se necessário. Isso não seria usar o demonismo, mas seria frustrá-lo. Por exemplo, Jeová poderia fazer que o fígado usado para adivinhação naquela oportunidade tivesse certa aparência, se necessário. Deus podia assim interferir na adivinhação.
Depois de Jerusalém a Judá terem pago por sua delinqüência, haveria a restauração. Sobre isto e sua própria supremacia, Jeová declarou: “Baralho os sinais dos falsos profetas, faço delirar os adivinhos [por fazer que suas previsões se mostrem falsas], faço bater em retirada os sábios, e viro sua sabedoria em loucura. Mantenho a palavra de meus servos, cumpro o que predizem meus enviados; digo que Jerusalém deve ser reabitada. Que as cidades de Judá devem ser reedificadas. Delas reerguerei as ruínas.” (Isa. 44:25, 26, CBC) A história atesta que Jerusalém foi reconstruída e que as diversas cidades de Judá foram mais uma vez habitadas.
Não sabemos exatamente como Jeová interveio quando Nabucodonosor recorreu à adivinhação, e foi determinado, pela forma de os adivinhos lerem e interpretarem as coisas, que as tropas babilônicas deveriam marchar contra Jerusalém, ao invés de contra Rabá. Parece suficiente compreender que Jeová sempre cumpre seus propósitos. — Isa. 55:8-11.