Vingança do sangue dos inocentes
“Pois, eis que Jeová está saindo do seu lugar para ajustar contas pelo erro do habitante da terra contra ele, e a terra certamente exporá seu derramamento de sangue e não mais encobrirá os seus que foram mortos.” — Isa. 26:21.
1. Qual é a atitude de Jeová para com a vida, conforme mostra o profeta Isaías?
DESDE o começo dos tratos de Jeová com a humanidade, ele demonstrou o alto conceito que tem da vida. Ao mesmo tempo, tornou claro ao homem que este também precisa respeitar a vida, senão terá de responder a Jeová pela sua falta de respeito. Deixar de tomar em consideração a lei de Jeová trouxe sobre as nações o julgamento justo de Jeová, e o sangue inocente que foi derramado no decorrer dos séculos não mais pode ser encoberto ou deixado sem vingança. Isto é tornado bastante certo pelas palavras do profeta Isaías: “Pois, eis que Jeová está saindo do seu lagar para ajustar contas pelo erro do habitante da terra contra ele, e a terra certamente exporá seu derramamento de sangue e não mais encobrirá os seus que foram mortos.” — Isa. 26:21.
2. (a) Em que questão a respeito da vida ficaram envolvidos Caim e Abel e o que motivou a atitude de Caim? (b) Qual foi o julgamento de Jeová na questão?
2 Os primeiros dois homens de que se sabe que nasceram na raça humana ficaram envolvidos nesta questão de se derramar sangue inocente, quando a oferta que Abel fez a Jeová foi aceita, ao passo que a de Caim não foi considerada com favor, “e acendeu-se muito a ira de Caim, e seu semblante começou a descair”. Reconhecendo a ameaça para a vida de Abel criada pela ira de Caim, Jeová advertiu Caim de que ele poderia ter enaltecimento simplesmente por se voltar para fazer o bem. Entretanto, o motivo da falta de favor para com Caim, ao fazer a oferta a Jeová, ‘Aquele que lê o coração’, tornou-se mais evidente na expressão adicional da atitude errada de Caim. (1 Sam. 16:7) Em vez de se humilhar em reconhecimento da lei de Jeová, seguindo o exemplo de seu irmão, decidiu desconsiderar o conselho de Deus, de dominar o pecado que estava “agachado à entrada” e seguiu o caminho que o levou ao assassinato violento de seu irmão. (1 João 3:12; Jud. 11) Uma evidência adicional de sua atitude foi a sua resposta endurecida e mentirosa à pergunta de Jeová a respeito do paradeiro de Abel: “Não sei. Sou eu guardião de meu irmão?” Esta não foi nenhuma expressão de arrependimento ou remorso! Nem ficou Caim eximido de responsabilidade por pretender ser inocente. Jeová expressou imediatamente a sentença. “Escuta! O sangue de teu irmão está clamando a mim desde o solo. E agora, maldito és, banido do solo, o qual abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue de teu irmão.” — Gên. 4:4-11.
3. (a) Por que não foi Caim absolvido da culpa e como encarou ele a sentença da parte de Jeová? (b) Nos dias de Noé, o que fez Jeová para limpar a terra, que havia ficado cheia de violência?
3 Note que Jeová trouxe especialmente à atenção que o sangue de Abel foi derramado ao solo. Por quê? Porque a vida está no sangue e o sangue de Abel foi derramado sem causa justificável. Caim tirou a vida de Abel, vida que pertencia a Deus, e o sangue que manchava o solo no cenário do assassinato dava testemunho mudo, mas eloqüente, de que se derramara a vida, clamando a Jeová por vingança. Caim deve ter-se dado conta de que tirar ele a vida de Abel punha em perigo a sua própria vida, porque se queixou a Jeová: “Tenho de tornar-me errante e fugitivo na terra, e é certo que quem me achar me matará.” (Gên. 4:14) No entanto, Jeová disse-lhe: “‘Por esta causa, quem matar a Caim terá de sofrer vingança sete vezes.’ E Jeová estabeleceu assim um sinal para Caim, a fim de que não fosse golpeado por aquele que o achasse.” (Gên. 4:15) O sinal que Jeová deu a Caim foi de significação inconfundível, conforme foi atestado posteriormente por Lameque, descendente de Caim, quando este compôs as palavras: “Matei um homem por contundir-me, sim, um jovem, por dar-me uma pancada. Se Caim há de ser vingado sete vezes, então Lameque setenta vezes e sete.” (Gên. 4:23, 24) A violência aumentou na terra até que, nos dias de Noé, Jeová exterminou tudo em que o “fôlego da força da vida” estava ativo, desde o homem e até o animal. Só Noé e os que estavam com ele na arca foram poupados quando as águas do Dilúvio cobriram a terra. — Gên. 7:22, 23.
MANTIDA EM VIGOR A SANTIDADE DO SANGUE
4. (a) Quando e como introduziu Jeová a força de vida na sua criação material? (b) Como demonstrou Jeová a ordem superior de vida duma “alma” em comparação com a vida que anima a vegetação?
4 Este “fôlego da força da vida” foi a criação de Deus e foi implantado primeiro em animais marinhos, em criaturas voadoras, aladas, e em animais terrestres. Isto aconteceu milhares de anos antes de o homem receber este dom de Deus. No entanto, nem mesmo isso foi o começo da operação da força de vida na terra. Este se deu no terceiro dia criativo, quando Deus sobrepôs aos átomos inanimados de matéria a força da vida, dizendo: “Faça a terra brotar relva, vegetação que dê semente, árvores frutíferas que dêem fruto segundo as suas espécies, cuja semente esteja nele, sobre a terra.” (Gên. 1:11) Na vegetação, especialmente em plantas lenhosas, havia de circular um sumo ou fluido vital chamado seiva, transportando nutrimento essencial aos menores ramos, folhas e flores. Pode-se dizer assim que a vida da árvore está na seiva, que transporta as propriedades vitalizadoras da planta através de todo o seu sistema. No entanto, cerca de quatorze mil anos depois, no quinto dia criativo, quando começaram a ser criadas as criaturas marinhas e as criaturas voadoras, e mais sete mil anos depois, no sexto dia criativo, quando começaram a ser criados os animais terrestres, Jeová preparou neles uma espécie diferente de sistema circulatório. E ele encheu os intricados sistemas circulatórios destas criaturas com um veículo novo, com sangue, em vez de seiva, transportando oxigênio e nutrição a todo tecido de cada órgão e cada parte do corpo. Mas a vida no sangue é duma ordem superior à que anima as plantas e a vegetação. É a vida duma “alma”. Além disso, não se impôs ao homem nenhuma restrição quanto a cortar plantas, tirando-lhes assim a vida. Ao contrário, “toda a vegetação que dá semente . . . e toda árvore” foram dadas como alimento tanto ao homem como aos animais. (Gên. 1:29, 30) Mas, no Éden, e depois de o homem ter pecado e ter sido expulso do Éden, ele não recebeu autorização para tirar a vida de animais com a mesma liberdade irrestrita que tinha para com as plantas. A vida da alma era tida como sagrada por Deus.
5. (a) Que nova lei recebeu Noé após o dilúvio e isso relacionado com que autorização? (b) Como salientou este mandamento adicionalmente a santidade do sangue e da vida que este contém?
5 Quando Noé saiu da arca, Jeová deu-lhe uma nova lei. Nesta, Jeová falou da “alma” como sendo o “sangue”. Isto se dá porque a “alma” ou “vida” está no sangue. Não que a alma seja algo imaterial, invisível e intangível dentro do homem. Os animais, os peixes e as aves são chamados “almas” (Gên. 1:20-24), e, ao criar o homem, Jeová soprou o fôlego da vida no corpo feito de pó e “o homem veio a ser uma alma vivente”, quer dizer, o homem era uma alma; não possuía uma alma. (Gên. 2:7) Mas, após o Dilúvio, Jeová fez uma mudança nos seus tratos com a humanidade com respeito ao derramamento do sangue. Jeová deu ao homem a responsabilidade sagrada de agir imediatamente como executor de Jeová dos assassinos deliberados. Este mandamento foi declarado com relação à autorização de comer a carne de animais, mas Jeová advertiu Noé especificamente a respeito da santidade do sangue e da vida contida no sangue. “Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento. Como no caso da vegetação verde, deveras vos dou tudo. Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer. E, além disso, exigirei de volta vosso sangue das vossas almas. Da mão de cada criatura vivente o exigirei de volta; e da mão do homem, da mão de cada um que é seu irmão exigirei de volta a alma do homem. Quem derramar o sangue do homem, pelo homem será derramado o seu próprio sangue, pois à imagem de Deus fez ele o homem.” (Gên. 9:3-6) Impôs-se assim a pena de morte à humanidade como requisito divino, e com o passar do tempo tornou-se bastante claro que a falta do cumprimento deste requisito traria novamente séria culpa de sangue.
NENHUM RESGATE PELA CULPA DE SANGUE
6. Segundo a lei de Moisés, como somente podia a terra ser mantida sem poluição pela culpa de sangue, e de que alcance era esta provisão?
6 Séculos depois, Jeová Deus enfatizou novamente seu alto conceito da vida da “alma” ao prescrever a punição pela violação da lei de Israel mediada por Moisés. Jeová disse: “E teu olho não deve ter dó: será alma por alma, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.” (Deu. 19:21) Jeová advertiu mais o seu povo quando este estava pronto para entrar na Terra da Promessa: “E não deveis poluir a terra em que estais; porque é o sangue que polui a terra, e não pode haver nenhuma expiação para a terra quanto ao sangue que se derramou sobre ela, exceto pelo sangue daquele que o derramou.” (Núm. 35:33) Tão grande era o alcance da provisão de Jeová, de manter a terra livre de poluição por cansa da culpa de sangue dos seus habitantes, que até mesmo providenciou para os casos em que o assassino não fosse conhecido. Não se podia permitir que a perda duma vida inocente fizesse com que o solo continuasse poluído. — Deu. 21:1-9.
7. (a) Quem foi autorizado em Israel a vingar alguém que foi morto, e como se desincumbia ele de sua responsabilidade? (b) Em que diferia a lei de Israel de práticas posteriores, especialmente em tempos medievais?
7 O autorizado, sob a lei de Israel, a vingar o sangue do morto era chamado de “vingador do sangue” ou go’el΄ e era o parente masculino mais próximo do que foi morto. (Núm. 35:19) Visto que o parente mais próximo estaria pessoalmente envolvido com o que foi morto, é compreensível que ele teria vivo interesse em cumprir esta responsabilidade, levantando-se até mesmo num acesso de ira para vingar a vida de seu parente. Se o assassino era conhecido, então a expiação pelo sangue do morto tinha de ser rápida e certa. “Caso haja um homem que odeia seu próximo, e ele se tenha posto de emboscada contra este e se tenha levantado contra ele e golpeado fatalmente a sua alma, e ele tenha morrido, e o homem tenha fugido para uma destas cidades [de refúgio], então os homens mais maduros da sua cidade têm de mandar tirá-lo de lá, e têm de entregá-lo na mão do vingador do sangue, e ele tem de morrer. Teu olho não deve ter dó dele, e tens de eliminar de Israel a culpa pelo sangue inocente, para que te vá bem.” (Deu. 19:11-13) Não se concedia santuário ou asilo ao assassino deliberado, nem se podia pagar resgate pela sua alma. (Núm. 35:31) Nos tempos antigos e nos medievais, em muitos países concedia-se asilo a qualquer pessoa, mesmo que fosse culpada de assassinato. As igrejas da cristandade tornaram-se assim santuários para os que deliberadamente violavam a lei de Deus. Isto não era tolerado sob a lei do antigo Israel. Um exemplo de que nem mesmo o altar sagrado das ofertas queimadas provia asilo é o caso de Joabe. Quando não quis soltar os chifres do altar e sair, Salomão mandou que fosse executado ali mesmo no pátio da tenda de Jeová, por sua participação na rebelião de Adonias e por matar Abner e Amasa. — 1 Reis 2:28-34.
MISERICÓRDIA PARA COM O HOMICIDA DESINTENCIONAL
8. (a) Por que não havia nenhuma culpa de sangue por parte do vingador do sangue, por ele tirar a vida do homicida? (b) Havia culpa de sangue da parte do vingador do sangue se ele tirou a vida dum homicida desintencional? Como ficava a terra poluída em tal caso?
8 Quando o vingador do sangue alcançava tal matador, então não havia culpa de sangue em resultado da execução do assassino porque de fato estava fazendo expiação pelo sangue inocente que de outro modo faria com que a terra ficasse poluída. (Núm. 35:33) Mas, o que se dava quando a matança era acidental e não havia malevolência ou premeditação? Em tal caso, a perda da vida era desintencional, sem se procurar o mal do morto. Se o vingador do sangue alcançasse o homicida desintencional e o matasse num acesso de ira, então, visto que o homicida era inocente quanto a um assassinato premeditado, seu próprio parente próximo poderia levantar-se indignado contra o executor de seu parente e se tiraria outra vida inocente, visto que o primeiro vingador do sangue tinha o direito legal de se lançar sobre o homicida desintencional. Isto poderia facilmente criar uma inimizade sangrenta na qual se poderia perder uma vida inocente após outra, e o país teria sido banhado em sangue.
9. Que provisão de asilo se fez para o homicida desintencional?
9 Para impedir tal poluição da terra, e como ato de misericórdia, Jeová exigiu que se estabelecessem em Israel cidades como asilos, nas quais o homicida involuntário poderia refugiar-se contra o vingador do sangue. “E as cidades têm de servir-vos de refúgio contra o vingador do sangue, para que o homicida não morra até comparecer perante a assembléia para julgamento. E as cidades que dareis, as seis cidades de refúgio, estarão à vossa disposição. Dareis três cidades deste lado do Jordão e dareis três cidades na terra de Canaã. Servirão de cidades de refúgio. Estas seis cidades servirão de refúgio para os filhos de Israel e para o residente forasteiro, e para o colono no meio deles, a fim de fugir para lá aquele que sem querer tenha golpeado fatalmente uma alma.” (Núm. 35:10-15; Deu. 19:1-3, 8-10) Estas cidades tinham de estar perto e facilmente acessíveis, conforme se declara em Deuteronômio 19:6: “Do contrário, o vingador do sangue, por arder-lhe o coração, poderá ir no encalço do homicida e realmente alcançá-lo, visto que o caminho é longo; e deveras poderá golpear fatalmente a sua alma, visto que não há sentença de morte contra ele, pois não o odiou anteriormente.” Além disso, embora não seja declarado especificamente na Bíblia, a tradição judaica nos informa que as estradas que levavam às cidades de refúgio eram feitas muito largas e planas, para que não houvesse impedimentos no caminho, e eram mantidas constantemente em bom estado.
SEGURANÇA APENAS NA CIDADE DE REFÚGIO
10. Como se decidia se um homem tinha direito ao asilo na cidade de refúgio?
10 Embora qualquer que tirasse uma vida pudesse fugir para tal cidade, só se concedia asilo até que o homicida pudesse ser julgado perante os anciãos da sua cidade, em cuja jurisdição ocorreu o homicídio. (Jos. 20:4-6) E “então a assembléia [tinha] de julgar entre o golpeador e o vingador do sangue segundo estes julgamentos”. (Núm. 35:24) Caso fosse achado culpado de assassinato, o homicida tinha de ser entregue sem demora ao vingador do sangue para ser executado. (Núm. 35:30) Por outro lado, se o homicida fosse achado inocente de malevolência, não tendo odiado anteriormente o morto, então “a assembléia [tinha] de livrar o homicida da mão do vingador do sangue e a assembléia [tinha] de devolvê-lo à sua cidade de refúgio à qual fugiu, e ele [tinha] de morar nela até a morte do sumo sacerdote que foi ungido com o óleo sagrado”. — Núm. 35:25.
11. Como somente podia a cidade continuar a ser lugar de refúgio para o homicida, e o que incutiria isso nele?
11 A fim de se assegurar o contínuo refúgio, o homicida tinha de permanecer dentro dos limites da cidade, seus subúrbios e seus pastos, que se estendiam por mil côvados para fora da cidade. “Mas, se o homicida sair terminantemente dos termos de sua cidade de refúgio à qual tenha fugido e o vingador do sangue deveras o encontrar fora do termo de sua cidade de refúgio, e o vingador do sangue deveras matar o homicida, ele não terá culpa de sangue. Pois, devia morar na sua cidade de refúgio até a morte do sumo sacerdote, e depois da morte do sumo sacerdote o homicida pode voltar à terra de sua propriedade.” (Núm. 35:26-28) Isto significava que, uma vez que o homicida entrou na cidade como habitante aceito da cidade, tendo provado sua inocência quanto a matar intencionalmente por passar pelo devido julgamento, então ele não podia sair da cidade, nem mesmo temporariamente por motivo algum, sem arriscar a vida. Isto incutia no homicida a seriedade do que tinha feito, embora inocentemente, e incutia nele continuamente a misericórdia de Jeová em conceder-lhe este asilo. Declarou-se mais: “E não deveis aceitar resgate por alguém que fugiu para a sua cidade de refúgio, para ele voltar a morar no país antes da morte do sumo sacerdote.” (Núm. 35:32) Se não, teria zombado da provisão de Jeová e teria sugerido que a vida podia ser comprada de Jeová.
12. Era o homicida mantido prisioneiro na cidade? O que o retinha ali e o que tinha de fazer durante a sua estada nela?
12 Admitir-se a tal na cidade de refúgio não devia tornar-se um fardo para os habitantes da cidade. Era razoável que, enquanto se encontrasse ali contribuísse para o bem-estar da cidade e trabalhasse para seu sustento. Talvez fizesse isso por trabalhar no seu próprio ofício, caso se ajustasse à vida da cidade. Senão, poderia até mesmo ter de aprender um novo ofício. Nada na lei de Jeová permitia a mendicância ou viver-se da caridade dos outros, sem se contribuir algo em troca, se se fosse fisicamente capaz. Até mesmo a viúva e o órfão que talvez não tivessem nem terra nem meios de sustento, embora se fizessem provisões abundantes para eles, ainda assim tinham de trabalhar pelo que recebiam. (Deu. 24:17-22) É interessante notar que, embora os homicidas não fossem mantidos presos na cidade e tivessem a liberdade de se locomover como quisessem, ainda assim o induzimento de Jeová para satisfazer a sua provisão de segurança era de natureza tal, que apenas os mais temerários tentariam violá-la.
13. Que particularidades adicionais da lei de Israel tornavam claro que tirar uma vida, mesmo que desintencionalmente, não devia ser encarado levianamente?
13 Além disso, não se devia abusar da misericórdia de Jeová em prover refúgio para o homicida desintencional, nem permitia a lei negligência imperdoável como motivo de misericórdia. Por exemplo, quando um homem construía uma casa nova, exigia-se dele que fizesse um parapeito para o seu terraço; senão, cair alguém do terraço lançaria culpa de sangue sobre a casa. (Deu. 22:8) Se um homem que era proprietário dum touro que costumava escornar, tendo sido avisado, deixou de manter seu touro sob guarda e o touro matou alguém, o proprietário do touro tinha culpa de sangue e podia ser morto. (Êxo. 21:28-32) Quando um ladrão era apanhado arrombando a noite e era morto na luta para prendê-lo, não havia culpa de sangue. Mas, se isto acontecia de dia, quando podia ser visto bem, quem o golpeasse futilmente teria culpa de sangue. (Êxo. 22:2, 3) Deveras, a lei de Jeová estava em perfeito equilíbrio, exigindo do iníquo retribuição justa, mas concedendo misericórdia aos que caíam no pecado ou numa violação desintencional da lei.
RETRIBUIÇÃO SEGURA E BREVE
14. Como aceitou Israel, como nação, os requisitos da Lei quanto à santidade do sangue, e que denúncia estavam os profetas de Deus autorizados a fazer?
14 Como esta provisão eqüitativa de Jeová veio a indiciar o antigo Israel! Embora toda a lei de Israel desse ênfase à santidade da vida e à santidade do sangue, desde o começo dos seus tratos com Israel, apenas um pequeno restante acatou os rogos repetidos que Jeová achou necessário fazer ao seu povo, ‘levantando-se cedo e enviando seus profetas’, para adverti-los da certeza da retribuição justa. Eles não só se negaram a acatar a advertência de Jeová, mas voltaram-se em violência contra os Seus profetas e os mataram cruelmente, acrescentando assim o sangue destes inocentes à sua culpa perante Jeová. (Jer. 26:2-8) Por isso, Jeová enviou-lhes esta denúncia por meio de Jeremias: “Também, nas tuas saias foram achadas as manchas de sangue das almas dos pobres inocentes. Não as encontrei no ato de arrombamento, mas estão em todas estas.” (Jer. 2:34) E por meio de Isaías: “A própria terra foi poluída sob os seus habitantes, pois deixaram de lado as leis, mudaram o regulamento, violaram o pacto de duração indefinida. Por isso é que a própria maldição consumiu a terra e os que habitam nela são considerados culpados. Por isso é que os habitantes da terra diminuíram em número e restaram poucos homens mortais.” — Isa. 24:5, 6.
15. Que retribuição trouxe Jeová sobre seu povo de Israel nos dias de Jeremias, e que responsabilidade adicional neste respeito tinham os descendentes deles nos dias de Jesus?
15 Jerusalém foi destruída em 607 A. E. C. por causa de seus muitos crimes contra Jeová, inclusive sua culpa de sangue, e apenas um restante ficou sem condenação. Mas, apesar deste apavorante ato retributivo de Jeová, os líderes da religião falsa, dos dias de Jesus, não podiam negar a sua própria culpa de sangue, assim como tampouco puderam os líderes religiosos do tempo de Jeremias, pois, em ambos os casos, suas saias estavam vermelhas do sangue dos fiéis de Jeová, inclusive o do seu próprio Filho amado. — Mat. 23:33-36; 27:24, 25; Luc. 11:49-51.
16. Que atitude adotam as nações hoje na questão da santidade do sangue e qual deve ser o nosso conceito?
16 Agora, hoje, a culpa de sangue de todas as nações da terra atingiu sua plenitude. Tão grande é a culpa de sangue da “meretriz” Babilônia, a Grande, o império mundial da religião falsa, que se diz que ela está embriagada com o sangue do povo de Jeová. (Rev. 17:5, 6; 18:24) O Vingador do sangue, da parte de Jeová, está para vir a qualquer momento para golpear, e ai daquele que for apanhado na companhia dela! (Rev. 18:4) Tais culpados de sangue “não viverão metade dos seus dias”, segundo disse Davi. (Sal. 55:23) Devemos seriamente orar junto com o salmista: “Livra-me da culpa de sangue, ó Deus, o Deus da minha salvação”, e “salva-me dos homens culpados de sangue”. (Sal. 51:14; 59:2) Então, no futuro muito próximo, quando se elevar no céu o poderoso coro de louvor a Jeová, por terem sido destruídos os últimos elementos de Babilônia, a Grande, e por ter sido vingado o sangue de todos os inocentes, nossa voz se juntará na terra a todos os que escaparam da espada retributiva do Vingador de Jeová. — Rev. 19:1, 2, 15, 21.
[Foto na página 688]
O homicida desintencional tinha de fugir para a cidade de refúgio mais próxima para não ser apanhado pelo vingador do sangue e morto por ele num acesso de ira
[Mapa na página 687]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
Cidades de Refúgio
Quedes
Golã
Ramote
Rio Jordão
Siquém
Bezer
Hébron