Plena aceitação do desafio do serviço de Jeová
“‘Escondi de ti a minha face apenas por um instante, mas vou ter misericórdia de ti com benevolência por tempo indefinido’, disse teu Resgatador, Jeová.” — Isa. 54:8.
1, 2. Que acontecimentos na antiga Belém levaram a um desafio de efeito de longo alcance?
MADRUGAVA em Belém. Já se podia distinguir vagamente movimento nas mas, ao passo que a luz fraca do novo dia revelava umas figuras escuras atarefando-se com os afazeres da madrugada. Aproxima-se da cidade a figura graciosa duma jovem, que atravessa depressa a praça à entrada do portão. Seu rosto tem aspecto alegre e seu passo é leve, apesar do fardo que leva embrulhado na sua manta. Ela se vira e entra numa casa modesta, onde é cumprimentada por uma mulher muito mais velha, sentando-se então ambas em expectativa, a mulher jovem com uma esperança prospectiva quanto ao futuro e a mulher mais velha com a esperança de ver cumprido um desejo da vida.
2 A mente de ambas as mulheres volta-se para o portão da cidade e os acontecimentos que começam a desenrolar-se ali, ao passo que os primeiros raios do sol nascente iluminam a pequena cidade situada num morro. Já há mais pessoas andando nas ruas. O sol sobe mais. Embora ainda nem seja bem verão, a estiagem de seis meses já está bem avançada, e mesmo nesta hora da manhã o sol já começa a fazer sentir seu calor. Agora já há pessoas em toda a parte e a praça junto ao portão da cidade é o cenário de muita atividade. Mas ali, à entrada do portão, há um homem de certa idade sentado sozinho, cujo porte e roupa indicam que é homem de bens e de algum destaque na comunidade Seu aspecto é sério, esta manhã, ao passo que seus olhos esquadrinham cada rosto novo que aparece na praça. É evidente que procura alguém. De repente, ele clama: “Desvia-te para cá, senta-te aqui, Fulano.” Outro homem maduro pára, volta-se e senta-se ao lado do primeiro. Com este cumprimento e a resposta, começam a desenrolar-se acontecimentos que vão transformar não apenas a vida das duas mulheres que esperam pacientemente na pequena casa em Belém, mas também a vida de muitos em gerações futuras. Far-se-á um desafio a “Fulano”, que teria efeito de longo alcance, até mesmo em nossos dias
3. Quem foram os personagens principais no drama de Noemi e de Rute, e que perguntas precisam ser respondidas quanto à relação delas?
3 O nome da jovem que entrou na cidade neste dia significativo era Rute, e a mulher mais velha que a cumprimentou ao entrar na casa era sua sogra, Noemi, viúva de Elimeleque. Rute não era judia nativa, embora Noemi a fosse. Rute era moabita. Mas, como veio a ser nora de Noemi, morando em Belém, tão longe de sua própria terra e de seu próprio povo! Qual era sua relação com Boaz, o homem de certa idade que estava tão decidido a tratar dum assunto com Fulano? E qual era este assunto de tanta importância, que seu desafio afetaria a nossa vida hoje em dia, mais de trinta séculos depois?
4. A quem ou a que representam os principais personagens?
4 O drama que começava a desenrolar-se no antigo Israel, conforme registrado no livro de Rute, era profético de eventos nos tempos modernos, que são tão desafiadores e de longo alcance no seu efeito como os daquele tempo. (1 Cor. 10:11; Rom. 15:4) E cada um dos personagens envolvidos no drama antigo é também representativo. O nome de Elimeleque significa “Deus é rei”. ‘Ele representa assim o Senhor Jesus Cristo. O mesmo se dá com Boaz, parente chegado de Noemi, cujo nome significa possivelmente “em força”. Seria de esperar-se, então, que Noemi, cujo nome significa minha agradabilidade”, representasse os desposados com Jesus, os que são sua noiva, especialmente os que estão na terra neste “tempo do fim”, quando o drama tem o seu notável cumprimento. Rute, cujo nome talvez signifique “amizade”, tornou-se nora de Noemi e por isso estava em condições de produzir um descendente para Noemi. Representa assim também os da noiva de Cristo, dum ponto de vista ligeiramente diferente e sob circunstâncias diferentes. A quem representa, então, o chamado “Fulano”, que também era parente chegado de Noemi? Vamos deixar que o desenrolar dos acontecimentos nos dias modernos esclareçam esta identificação.
UMA MULHER ABANDONADA
5. (a) O que aconteceu em Belém nos dias de Noemi, e o que fez o seu marido Elimeleque em resultado disso? (b) O que representa isto no cumprimento moderno?
5 Voltamos agora ao tempo em que a família feliz de Elimeleque ainda estava inteira, quando ele com sua esposa Noemi e seus dois filhos, Malom e Quiliom, moravam no território de Judá, em Belém ou Efrata. Belém significa “casa do pão”, ao passo que Efrata significa “fertilidade” ou “fecundidade”. Ambos os nomes têm que ver com abundância, ausência de fome, mas naquele décimo terceiro século antes de nossa era comum sobreveio a Belém e a todo o território da tribo de Judá uma fome e falta de pão, representando a escassez em sentido espiritual que sobreveio à organização de Jeová durante a Primeira Guerra Mundial. Quer outros habitantes de Belém tenham deixado a cidade, quer não, Elimeleque mudou-se com sua família. Cruzou o rio Jordão e estabeleceu-se na terra ou no campo de Moabe, para morar ali temporariamente como residente forasteiro, assim como os servos de Jeová hoje são residentes temporários no sistema de coisas de Satanás. (João 17:16; 1 João 5:19) Ao fazer isso, Elimeleque deixou para trás, no país, uma propriedade hereditária. — Rute 1:1, 2.
6. Que eventos ocorreram em Moabe com os da família de Noemi?
6 Com o tempo, o idoso Elimeleque faleceu e deixou Noemi viúva. Noemi achou então bom casar seus dois filhos lá na terra de Moabe, e Malom, evidentemente o mais velho, casou-se com a moabita Rute, ao passo que Quiliom se casou com Orpa, também moabita. Por fim, porém, Malom e Quiliom também morreram e deixaram sua mãe viúva Noemi, e suas esposas viúvas, Rute e Orpa. (Rute 1:3-5) São viúvas sem filhos, não tendo dado descendência a Noemi. Sendo a própria Noemi idosa demais para ter filhos, ela tinha de suportar o impacto do vitupério. A morte de Malom (significando “doentio, inválido”) e de Quiliom (significando ‘fragilidade”) representa a morte espiritual de alguns dos associados com a organização de Deus durante este período provador. Era um tempo de grande tristeza para o povo de Jeová.
7. Como encarava Noemi a sua situação, e que condição profetizou Isaías séculos depois?
7 Noemi via-se como mulher abandonada, sem descendente, nem faculdade de procriação para ter descendente. Ela era como “uma esposa completamente abandonada e de espírito magoado, e como esposa do tempo da mocidade, que então foi rejeitada”. Nos dias em que o fruto do ventre podia ser considerado como bênção de Jeová e esterilidade como maldição, Noemi sentiu-se justificada a dizer: “Foi Jeová quem me humilhou.” (Rute 1:21) Séculos depois, o profeta Isaías foi inspirado a escrever sobre uma humilhação similar, neste caso em resultado direto do desagrado de Jeová. Para apreciarmos plenamente o desafio com que Noemi se viu confrontada, temos de entender a profecia de Isaías e a sua aplicação aos acontecimentos que ocorreram em cumprimento nos tempos modernos. “‘Porque Jeová te chamou como se fosses uma esposa completamente abandonada e de espírito magoado, e como esposa do tempo da mocidade, que então foi rejeitada’, disse o teu Deus. ‘Por um pequeno instante te abandonei completamente, mas com grandes misericórdias te reunirei. Numa onda de indignação escondi de ti a minha face apenas por um instante, mas vou ter misericórdia de ti com benevolência por tempo indefinido’, disse teu Resgatador, Jeová.” — Isa. 54:6-8.
JEOVÁ, DONO MARITAL
8, 9. (a) A quem se dirigem as palavras de Isaías 54:6-8, e como é isto demonstrado no texto da profecia? (b) Que grupo é incluído, e também é representado por Noemi?
8 Esta profecia sugere que Jeová o Deus de toda a criação, tem esposa. É isto possível! Sim, falado simbolicamente. A ela se diz em Isaías 54:5: “Pois o Grandioso que te fez é teu dono marital, cujo nome é Jeová dos exércitos; e o Santo de Israel é teu Resgatador.” Estas palavras não foram dirigidas a Noemi, que falecera já cinco séculos antes dos dias de Isaías, nem a qualquer outra mulher literal, mas sim a uma organização, à Sião celestial, a organização universal de Deus, de filhos espirituais, no céu. Estes filhos espirituais da organização universal de Deus, nos últimos dezenove séculos, não ficaram restritos aos anjos espirituais invisíveis do céu, que ainda são santos e leais a Jeová Deus. Esta organização universal de Jeová incluiu filhos gerados pelo espírito de Deus, na terra, que finalmente somam 144.000. (Rev. 14:1) Todos estes são seguidores das pisadas do principal na organização universal de Deus, a saber, o Senhor Jesus Cristo.
9 Estes 144.000 seguidores das pisadas de Jesus Cristo são prometidos em casamento a ele no céu e por conseguinte são a noiva prospectiva de Cristo, conforme os chama Revelação 21:9, “a noiva, a esposa do Cordeiro”. Os membros desta classe da noiva têm sido selecionados durante os últimos dezenove séculos. Por este motivo, pode haver no máximo apenas um restante deles hoje na terra. Os que sobreviveram à Primeira Guerra Mundial, dedicados a Deus e batizados antes do ano de 1919 de nosso século vinte, são representados no drama por Noemi. Como aconteceu que vieram a estar na situação de Noemi, na terra de Moabe, sem filhos e abandonada
10. Que relação existe entre os do restante e a organização universal de Deus, e durante que período “morreu” o Elimeleque Maior para com os da classe de Noemi?
10 Para compreendermos esta particularidade do drama de Noemi e Rute é necessário compreendermos outro aspecto da relação dos do restante na terra com os outros membros da organização universal de Deus, no céu. Sendo que os do restante são membros da organização universal de Deus, aquilo que afeta o restante da noiva ainda em carne, embora sejam filhos espirituais de Deus, afeta também a mulher de Deus, a Sião celestial ou organização universal. Isto se torna bastante claro quando consideramos a profecia de Isaías 54:6-8 à luz dos acontecimentos em volta da atividade da classe de Noemi durante a Primeira Guerra Mundial. Porque foi neste período, de 1918 a 1919, que o Elimeleque Maior “morreu” para com a classe de Noemi, que se tornou abandonada, como se não tivesse dono marital. Foi uma humilhação quando Jeová, marido desta organização universal, rejeitou a sua mulher, conforme representada pelos membros gerados pelo espírito aqui na terra, em cumprimento de Isaías 54:6-8.
JEOVÁ SE DESAGRADOU DE SUA ESPOSA
11. Quando e por que motivo se desagradou Jeová do restante, e como se manifestou isto, afetando toda a organização universal?
11 Note de que modo Jeová descreve a sua esposa na profecia de Isaías como abandonada, de espírito magoado, ocultando dela o seu rosto. Isto indica um período de desagrado para com ela. É por isso que ele se dirige a ela, no versículo onze: “Ó mulher atribulada, sacudida pela tormenta, não consolada.” O restante como Noemi veio a estar numa condição assim, especialmente no ano de 1918, quando em certo sentido ficou exilado do favor de Jeová Deus. Naquele ano, Jeová Deus veio de repente ao seu templo, acompanhado pelo mensageiro do pacto, o Senhor Jesus Cristo. Ele examinou os do restante aqui na terra; desagradou-se deles. (Mal. 3:1, 2) Por um tempo, eles não aceitavam plenamente o desafio do serviço do Reino de Jeová que se lhes apresentara. Refrearam-se, por temerem os homens, e não se mantiveram corretamente ‘incontaminados do mundo’. (Tia. 1:27, Almeida, atual.) Por isso, Jeová permitiu que caíssem na escravidão de Babilônia, a Grande, e os associados políticos dela. Durante este tempo, lançaram-se muita perseguição e muitos ultrajes sobre eles, culminando com a prisão e o encarceramento dos representantes da sede da Sociedade, em 1918, sob a acusação falsa de espionagem.a Isto significava que todos os da organização universal de Deus, a mulher de Deus, ficariam afetados pelo seu desagrado, e a profecia predisse que a organização inteira seria como “uma esposa completamente abandonada”.
12. Como se enquadra esconder Jeová sua face de sua esposa na morte de Elimeleque, se Elimeleque representa o Senhor Jesus Cristo?
12 Mas como se enquadra a morte de Elimeleque em Jeová esconder a sua face de sua mulher, se Elimeleque representa o Senhor Jesus Cristo? De que modo é que o celestial Jesus Cristo morreu para com os da classe de Noemi na terra? Durante o seu ministério terrestre, Jesus demonstrava claramente a regra de ação: ‘Eu faço o que vejo meu Pai fazer.’ Então, se Jeová abandonou a sua esposa durante o período do desfavor divino com o restante, escondendo dela a sua face, também o Filho precisava fazer a mesma coisa, especialmente para com esta parte da organização universal de Deus, os do restante espiritual aqui na terra, que são membros de sua noiva. Deste modo é que Jesus Cristo “morreu” para com os que Jeová abandonou.
SUSCITA-SE UM DESAFIO SÉRIO
13. O que estava Noemi decidida a fazer então, e como representava isto um desafio para Rute e Orpa?
13 Neste ponto, no drama antigo, já haviam passado dez anos e Noemi soube que a situação em Belém mudara. Jeová voltara novamente sua atenção para seu povo, dando-lhe pão. Noemi decidiu voltar. Mas, há um motivo ainda mais premente. Lá em Belém de Judá, Noemi tinha uma propriedade hereditária e ela precisava voltar ali para tomar conta dela. Isto suscitava um sério desafio para Rute e Orpa, suas duas “filhas”. O que iriam fazer? Evidentemente, sem qualquer questão, empreenderam com Noemi o caminho de volta a Belém. (Rute 1:6, 7) Daí, ao longo do caminho, Noemi tentou dissuadi-las. “Ide, voltai, cada uma à casa de sua mãe. . . . Que Jeová vos dê uma dádiva, e achai deveras um lugar de descanso, cada uma na casa de seu esposo.’ Então as beijou, e elas começaram a levantar as suas vozes e a chorar. E diziam-lhe: ‘Não, mas voltaremos contigo ao teu povo.’ Noemi disse, porém: ‘Voltai, minhas filhas. Porque devíeis ir comigo? Acaso tenho ainda filhos nas minhas entranhas e teriam de tornar-se eles os vossos maridos? Voltai, minhas filhas, ide, pois fiquei velha demais para vir a pertencer a um esposo. . . . Não, minhas filhas, pois é muito amargo para mim, por vossa causa, que a mão de Jeová tenha saído contra mim.’” — Rute 1:8-13.
14. Que decisão tomou Orpa, e que rumo similar é seguido hoje pelos a quem ela representa?
14 “A isso levantaram as suas vozes e choraram de novo, após o que Orpa beijou a sua sogra. Quanto a Rute, apegou-se a ela. Por isso ela disse: ‘Eis que a tua cunhada enviuvada voltou ao seu povo e aos seus deuses. Volta com a tua cunhada enviuvada.’” (Rute 1:14, 15) Orpa representa a alguns dos que entram em contato com a classe fiel de Noemi e que manifestam algum interesse e zelo, por algum tempo, mas que retrocedem enquanto ainda estão na sua juventude cristã. Interesses próprios e desejos pessoais se interpõem no caminho de aceitarem o desafio de Jeová, de o ‘experimentarem’, para ver “se eu não vos abrir as comportas dos céus e realmente despejar sobre vós uma bênção até que não haja mais necessidade”. — Mal. 3:10; Heb. 10:38, 39; 2 Ped. 2:22.
15, 16. Como aceitou Rute o desafio?
15 Os da classe de Rute, por outro lado, sacrificam todas as suas vantagens pessoais para participarem com os da classe de Noemi no cumprimento do propósito de Jeová para com eles. “E Rute passou a dizer: ‘Não instes comigo para te abandonar, para recuar de te acompanhar; pois, aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pernoitares, pernoitarei eu. Teu povo será o meu povo, e teu Deus, o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei enterrada. Assim me faça Jeová e assim lhe acrescente mais, se outra coisa senão a morte fizer separação entre mim e ti.’” — Rute 1:16, 17.
16 Com estas palavras: “Assim me faça Jeová e assim lhe acrescente mais”, Rute fazia um juramento, jurando a Jeová que ela faria tais coisas. Aceitava plenamente este desafio de servir o Deus de Noemi, acompanhando Noemi no serviço Dele até a morte. Ter Orpa deixado de aceitá-lo não enfraqueceu a determinação de Rute nem diminuiu o seu zelo. A influência de Noemi havia produzido a conversão de Rute, e agora iria realizar-se o desejo profundo do coração de Noemi, de modo que haveria uma aceitação fiel por parte de Rute quanto ao desafio adicional que ambas as mulheres iriam enfrentar lá em Belém.
APRESENTADO UM DESAFIO ADICIONAL
17. Como respondeu Noemi à saudação de suas vizinhas, ao voltar a Belém?
17 A amargura e a desilusão que Noemi havia expresso a Rute e Orpa quanto às perspectivas delas em Belém não foram aliviadas pelo retorno de Noemi ao lar. Lá na sua casa, seu senso de perda foi apenas aumentado, e o reconhecimento vivo de sua incapacidade apenas aumentou a sua amargura e seu pesar. Toda a cidade ficou emocionada com a volta delas, especialmente as mulheres, e estas nem podiam crer no que viam. Ora, onde estava Elimeleque? Onde estavam Malom e Quiliom? E quem era esta jovem moabita? “E as mulheres diziam: ‘É esta Noemi?’ E ela dizia às mulheres: ‘Não me chameis Noemi [significando “minha agradabilidade”]. Chamai-me Mara [significando “amarga”], pois o Todo-poderoso o fez muito amargo para mim. Eu estava cheia quando fui, e é de mãos vazias que Jeová me fez voltar. Por que me devíeis chamar Noemi, quando foi Jeová quem me humilhou e o Todo-poderoso quem me causou a calamidade?’” — Rute 1:18-22.
18. Por que precisava ser resgatada a mulher de Deus conforme representada pelo restante de Noemi na terra?
18 Deveras, os da classe de Noemi podiam dizer durante este tempo de aflição: “Chamai-me Mara, a amarga.” Isaías 12:1 também se refere a esta disciplina severa ao dizer, falando o profeta a Jeová Deus: “Embora te irasses comigo, tua ira recuou gradualmente.” Daí, Isaías 52:3 diz: “Pois assim disse Jeová: ‘Foi por nada que fostes vendidos e será sem dinheiro que sereis resgatados.’” Em outras palavras, os que levaram cativos os servos dedicados de Deus aqui na terra não pagaram por eles, obtiveram-nos de graça. Os versículos Isa. 52:5 e 6 acrescentam: “‘E agora, que interesse tenho aqui?’ é a pronunciação de Jeová. ‘Pois o meu povo foi tomado por nada. . . . Por esta razão, meu povo saberá o meu nome, sim, por esta razão, naquele dia, porque sou Eu quem está falando.’” De modo que Deus deixou ir seu povo de graça; deixou o inimigo tomar posse deles sem comprá-los. Portanto, a mulher de Deus, conforme representada pelo restante de Noemi aqui na terra, precisava ser remida e resgatada de Babilônia, a Grande.
19. De que promessa de Jacó a Judá se apercebia Noemi especialmente, na sua condição abandonada?
19 Este era o desafio que confrontava Noemi de Belém, da tribo de Judá, sem filhos e viúva como que abandonada, como que disciplinada por Jeová. Contudo, bem no íntimo de seu coração ardia o desejo de participar no propósito de Jeová para com as mulheres de Israel, especialmente para com umas poucas favorecidas da tribo de Judá, pois as desta tribo eram candidatas à promessa de Jacó, pai de Judá. Pouco antes de ele morrer no Egito, no ano 1711 A. E. C., Jacó abençoou Judá com estas palavras: “O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão de comandante de entre os seus pés, até que venha Siló, e a ele pertencerá a obediência dos povos.” (Gên. 49:10) Este Siló, cujo nome significa “Aquele de quem é” ou “Aquele a quem pertence”, tinha de ser o Comandante que brandisse o bastão. Tinha de ser Aquele que segurasse o cetro real. Tinha de ser o Messias, o verdadeiro Descendente de Abraão, por meio de quem todas as famílias da terra abençoariam a si mesmas. (Gên. 22:17, 18) Filho de quem seria ele na linhagem de Judá, bisneto de Abraão! Quem seria a mãe em Judá, altamente honrada de carregá-lo ao colo? Não Noemi, podia ela pensar no próprio coração, pois não tinha filhos e estava além da idade de ter filhos. Não era de se admirar que Noemi, na sua condição desolada, exclamasse: “Chamai-me Mara.”
JEOVÁ ABRE UM CAMINHO
20. Que promessa de Jeová foi feita séculos depois mediante Isaías?
20 Mas Jeová não iria abandonar esta mulher fiel, cujo clamor chegara aos seus ouvidos. Bem poderia o profeta ter-lhe dito assim como fez, falando por Jeová, séculos depois, à mulher que ela representava: “‘Escondi de ti a minha face apenas por um instante, mas vou ter misericórdia de ti com benevolência por tempo indefinido’, disse teu Resgatador, Jeová.” (Isa. 54:8) Como se daria isso com Noemi? Se ela morresse sem descendente natural, não teria herdeiro a quem deixar a propriedade de seu falecido marido. Além disso, se o propósito de Jeová, de produzir Siló da tribo de Judá, se havia de cumprir por meio dela, então precisava ter um herdeiro masculino. O que devia fazer?
21. Que provisão fazia a lei de Israel para uma viúva na situação de Noemi, e de que modo representava isto um desafio para Rute?
21 Novamente, a lei de Israel fazia provisões para alguém na situação de Noemi. Era a própria promessa de Jeová que nenhuma mulher fiel do antigo Israel ficasse estéril. Ele disse: “Por escutares a voz de Jeová, teu Deus: . . . Bendito será o fruto do teu ventre.” (Deu. 28:2-4) Tampouco ficaria um homem sem alguém para levar seu nome. A lei de Israel declarava: “Caso irmãos morem juntos e um deles morra sem ter filho, a esposa do morto não deve vir a pertencer a um homem estranho, alheio. Seu cunhado deve chegar-se a ela e tem de tomá-la por sua esposa, e tem de realizar com ela o casamento de cunhado. E tem de dar-se que o primogênito que ela der à luz deve suceder ao nome de seu falecido irmão, para que seu nome não seja extinto em Israel.” (Deu. 25:5, 6) Esta lei, junto com a lei do resgate, eram a única esperança de Noemi. Caso pudesse achar um irmão ou um parente próximo, Noemi poderia confiar nesta provisão da lei para achar uma saída. Mas a própria Noemi não poderia ter um filho, mesmo que se encontrasse tal parente. Sua única oportunidade dependia então de Rute, sua nora, que podia tomar o lugar dela neste arranjo e prover um descendente a Elimeleque. Como encararia Rute esta oportunidade? Estaria disposta a deixar de lado qualquer esperança própria de encontrar um jovem que lhe poderia dar algo para si mesma? Ou reconheceria neste desafio uma oportunidade de descobrir o propósito de Jeová e de adotá-lo como seu modo de vida?
22. Quem mais, no drama profético, ficaria afetado por este desafio, e como nos deve afetar hoje seu resultado?
22 E que dizer de Boaz e do Fulano? Como encarariam eles este desafio de prover a Noemi um herdeiro para o nome de seu falecido marido Elimeleque? Reconheceriam isso como oportunidade de participar mais plenamente no serviço de Jeová? E como nos afeta hoje este desafio e seu resultado? A maneira em que se reanimaria o espírito de Noemi, o modo em que o sonho de sua vida se cumpriria e os papéis que Rute, Boaz e Fulano desempenhariam em enfrentar este desafio são todas parte deste drama inspirador, que nos induz até mesmo hoje a adotar o propósito de Jeová como nosso modo de vida. O artigo que segue revelará o resultado.
[Nota(s) de rodapé]
a Veja o livro As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, págs. 79-83 da edição inglesa.
[Foto na página 461]
“Fica sentada, minha filha, até que saibas como o assunto se resolverá, pois o homem não terá sossego a menos que leve o assunto ainda hoje a término.”
[Foto na página 465]
Rute aceitou o desafio de servir a Jeová, dizendo a Noemi: “Teu povo será o meu povo, e teu Deus, o meu Deus.”