Capítulo 8
Ajuda para suportar o sofrimento
1, 2. Por que os discípulos de Jesus Cristo não podem escapar do sofrimento?
ALGUMA vez na nossa vida talvez precisemos de ajuda para resolver nossos problemas, até mesmo desesperadamente. Se nos sobreviesse uma série de tragédias em rápida sucessão, poderíamos facilmente cair no desespero total. O fardo poderá parecer superior ao que achamos poder levar. Quão bom é ter ajuda numa ocasião assim!
2 Sermos discípulos do Filho de Jeová Deus não nos exime da necessidade de ajuda. Não somos imunes às aflições. A sorte comum da humanidade continua a incluir doenças, acidentes, inundações, terremotos, tempestades, crimes, injustiças e opressões. Não devemos esperar que o Soberano Supremo use seu poder para manipular fatores hereditários e ambientais para que nós, como seus servos, possamos ficar exclusivamente livres de qualquer sofrimento por tais causas. O tempo de Deus para desfazer todos os efeitos prejudiciais do pecado humano ainda está no futuro. Se ele fizesse agora que os do seu povo levassem uma ‘vida encantada’, sem dúvida, veríamos enormes números de pessoas afluindo para servir a ele — por motivos puramente egoístas, não por amor e fé. — Veja João 6:10-15, 26, 27.
3, 4. Que sofrimentos talvez tenham os verdadeiros Cristãos, que os outros não têm, e que perguntas suscita isso?
3 Não somente sentiremos inevitavelmente aflição decorrente de condições desagradáveis, mas, por sermos servos de Deus, podemos também sofrer perseguição — talvez de parentes, de vizinhos ou conhecidos, ou das autoridades governamentais. Jesus Cristo foi ao ponto de dizer: “Então vos entregarão a tribulação e vos matarão, e sereis pessoas odiadas por todas as nações, por causa do meu nome.” (Mateus 24:9) Os fatos mostram que isso tem acontecido, até mesmo no século 20.
4 Por que permite o Deus Todo-poderoso que seus servos sofram diversas provações? Visto que o modo de vida deles não lhes garante ficarem eximidos das aflições comuns e visto que seguirem tal modo até pode torná-los “pessoas odiadas”, é de se perguntar de que maneira tal modo de vida realmente pode ser o melhor? Será que há benefícios que compensam e até superam as aflições? Pode realmente haver mais felicidade em suportar alguma provação do que em evitá-la? O que nos ajudará a sermos bem sucedidos em suportar pressões severas? As respostas a estas perguntas podem ajudar-nos e fortalecer-nos grandemente.
A QUEM CABE REALMENTE A RESPONSABILIDADE?
5. O que precisamos reconhecer sobre a causa do sofrimento?
5 É vital que não nos esqueçamos de que nosso Pai celestial não é a causa do sofrimento. Ele não introduziu o pecado no mundo. Um filho espiritual de Deus escolheu rebelar-se contra seu Criador, tornando-se assim Satanás, opositor do Altíssimo. Por causa de sua influência, o primeiro casal humano, Adão e Eva, violou deliberadamente a lei divina, trazendo sobre si a sentença de morte. (Gênesis 3:1-19; João 8:44) Visto que Adão arruinou sua perfeição, todos os seus descendentes nasceram em pecado, sujeitos à doença, debilidade, velhice e morte. (Romanos 5:12) Nós todos, como pecadores natos, deixamos em muito de ser a espécie de pessoa que gostaríamos de ser e deveríamos ser. Sem querer, por palavras e atos, podemos ferir outros, aumentando as aflições deles. Por isso, precisamos lembrar-nos de que Deus não é culpado das dificuldades produzidas pelas nossas próprias imperfeições ou pelas de nossos semelhantes. Se tivesse havido obediência à Sua lei, nunca teria vindo à existência a doença, a debilidade, a velhice e muitas outras causas de sofrimento.
6. O que acha Jeová sobre a desumanidade do homem para com o homem?
6 Por outro lado, também, nosso Pai celestial não aprova a desumanidade do homem para com o homem. A Bíblia diz: “Calcar aos pés todos os cativos da terra, violar os direitos de outrem na presença do Altíssimo, prejudicar um homem no seu litígio, o Senhor não aprova isto.” (Lamentações 3:34-36, Pontifício Instituto Bíblico) Os que maltratam os seus semelhantes, em violação da lei de Deus, terão de prestar contas a ele. “A vingança é minha; eu pagarei de volta, diz Jeová.” (Romanos 12:19) Por conseguinte, precisamos ter cuidado de que não fiquemos amargurados com nosso Pai celestial por causa do sofrimento que resulta quando os homens deliberada e rebeldemente desconsideram a lei divina.
7. Visto que Jeová Deus permite situações que nos causam sofrimentos, o que temos de concluir sobre os seus motivos para isso?
7 Naturalmente, Jeová Deus tem a capacidade de impedir que Satanás, os demônios, homens iníquos e a pecaminosidade humana causem toda espécie de situações provadoras. Mas, visto que permite que circunstâncias aflitivas assediem até mesmo seus servos, deve haver um bom motivo para isso.
EM BENEFÍCIO DOS “VASOS DE MISERICÓRDIA”
8. Que motivos são apresentados em Romanos 9:14-24 sobre por que Jeová Deus não age imediatamente contra os que fazem outros sofrer?
8 As Escrituras explicam que o propósito de Deus em não agir imediatamente contra os responsáveis pelo grande sofrimento dos outros visa o derradeiro benefício dos de disposição justa. O apóstolo cristão Paulo escreveu na sua carta aos romanos:
“Há injustiça da parte de Deus? Que isso nunca se torne tal! Porque ele diz a Moisés: ‘Terei misericórdia de quem quer que eu tiver misericórdia, e mostrarei compaixão para com quem quer que eu mostrar compaixão.’ De modo que depende, então, não daquele que deseja, nem daquele que corre, mas de Deus, que tem misericórdia. Pois a Escritura diz a Faraó: ‘Por esta mesma razão deixei-te permanecer, para que, em conexão contigo, eu mostre o meu poder, e para que o meu nome seja declarado em toda a terra.’ Assim, pois, ele tem misericórdia de quem quiser, mas deixa ficar obstinado a quem quiser.
“Tu me dirás, portanto: ‘Por que acha ainda falta? Pois, quem é que tem resistido à sua expressa vontade?’ Quem realmente és tu, então, ó homem para redargüires a Deus? Dirá a coisa moldada àquele que a moldou: ‘Por que me fizeste deste modo?’ O quê? Não tem o oleiro autoridade sobre o barro, para fazer da mesma massa um vaso para uso honroso, outro para uso desonroso? Se Deus, pois, embora tendo vontade de demonstrar o seu furor e de dar a conhecer o seu poder, tolerou com muita longanimidade os vasos do furor, feitos próprios para a destruição, a fim de dar a conhecer as riquezas de sua glória nos vasos de misericórdia, que ele preparou de antemão para glória, a saber, nós, a quem ele chamou não somente dentre os judeus, mas também dentre as nações, o que tem isso?” — Romanos 9:14-24.
9. Como mostrou Faraó que era ‘vaso de furor’?
9 Aquilo que Jeová Deus talvez faça ou permita que se desenvolva na vida das pessoas pode revelar exatamente que espécie de “vasos” elas são. Faraó, a quem Jeová avisou por meio de Moisés e Arão para que libertasse os israelitas escravizados, continuou a endurecer-se contra o Altíssimo. Quando uma praga após outra sobreveio aos egípcios, este Faraó ficou cada vez mais obstinado na sua recusa de deixar os israelitas partir do Egito como povo livre. Revelou-se assim como ‘vaso de furor’, merecendo ser destruído pela rebeldia contra a autoridade do Soberano Supremo, Jeová Deus. Ao mesmo tempo, o tratamento cruel e injusto dispensado aos israelitas demonstrou amplamente que mereciam misericórdia, pena e compaixão.
10. Como fez Jeová um grande nome para si por permitir que Faraó mantivesse sua atitude desafiadora por algum tempo?
10 Note, também, que o apóstolo Paulo chamou atenção para o fato de que o nome de Deus estava envolvido em Jeová permitir que Faraó continuasse no seu desafio obstinado. Se este altivo governante tivesse sido destruído imediatamente, não teria havido a oportunidade de se dar a conhecer o poder de Jeová Deus em escala tão extensiva e diversificada, humilhando as muitas divindades dos egípcios e os sacerdotes-magos. As dez pragas, culminadas pela destruição de Faraó e de suas forças militares no Mar Vermelho, foram uma demonstração tão impressionante do poder divino, que as nações circunvizinhas, durante anos, ainda falavam sobre isso. O nome de Jeová foi assim proclamado em toda a terra, recebendo glória e honra, e induzindo os sinceros a reconhecerem a sua posição suprema. — Josué 2:10, 11; 1 Samuel 4:8.
11. Que benefícios tiraram os israelitas de sua experiência com Faraó?
11 Os israelitas, como “vasos de misericórdia”, certamente se beneficiaram com o que o Altíssimo fizera. Permitir ele a opressão e depois acabar com ela numa demonstração magnífica de poder ajudou-os a conhecê-lo melhor, dando-lhes um vislumbre de sua grandeza, que não teriam obtido de outro modo. Embora a experiência de Israel no Egito tivesse sido dolorosa, ela certamente deve tê-los ajudado a ver a importância de terem fé no Seu poder salvador, e a ter também um temor sadio de Deus. Isto era essencial, se haviam de continuar a seguir um modo de vida que lhes desse felicidade, segurança, paz e boa saúde. — Deuteronômio 6:1-24; 28:1-68.
12. Conforme ilustra o caso de Jó, o que nos habilita a fazer a permissão do sofrimento por Jeová?
12 Assim como se tornou evidente, naquele tempo, a inclinação do coração das pessoas, assim as provas e provações que nos possam sobrevir, pela permissão de Deus, podem revelar se nosso serviço prestado a ele tem a motivação correta. O adversário de Deus, Satanás, alega que os que fazem a vontade divina são basicamente egoístas. O adversário declarou a respeito de Jó: “Tudo o que o homem tem dará pela sua alma. Ao invés disso, estende agora tua mão, por favor, e toca-lhe até o osso e a carne, e vê se não te amaldiçoará na tua própria face.” (Jó 2:4, 5) Se perseverarmos fielmente em sofrimento, participaremos em provar que a alegação de Satanás é mentira e teremos parte em vindicar o bom nome de nosso Pai celestial, que confia nos seus servos leais. O que aconteceria se Jeová permitisse que Satanás, por meio de seus agentes, sujeitasse os verdadeiros cristãos a um tratamento muito cruel, que levaria à morte ou ao aleijamento? O que aconteceria se fossem até mesmo sexualmente atacados ou ultrajados de outro modo? Tais coisas são chocantes. Contudo, nada está além do poder de nosso Pai celestial para ser retificado plenamente no seu tempo devido. Portanto, em alguns casos, ele talvez ache conveniente deixar a provação ser levada a tal ponto extremo. Os servos de Deus, por meio da fidelidade até à morte, recebem assim a oportunidade de mostrar além de qualquer refutação a genuinidade de sua devoção.
13. O que revelam as palavras de 1 Pedro 1:5-7 sobre o sofrimento a que os cristãos talvez fiquem sujeitos?
13 Embora isso possa surpreender alguns, as provações a que talvez sejamos sujeitos, quer por causas naturais, quer pela perseguição, podem não obstante melhorar-nos de maneira pessoal. Isto foi trazido à atenção pelo apóstolo Pedro. Depois de salientar que os cristãos estão sendo “resguardados pelo poder de Deus”, a fim de que a sua derradeira salvação fique assegurada, o apóstolo declarou:
“Vós vos alegrais grandemente com este fato embora atualmente, por um pouco, se preciso, sejais contristados por várias provações, a fim de que a qualidade provada da vossa fé, de muito mais valor do que o ouro perecível, apesar de ter sido provado por fogo, seja achada causa para louvor, e glória, e honra, na revelação de Jesus Cristo.” — 1 Pedro 1:5-7.
14. Por que podem os cristãos alegrar-se quando são “contristados” por provações?
14 Conforme Pedro admite, o sofrimento que talvez tenhamos de modo algum é agradável. Podemos realmente ficar “contristados” ou magoados pelas provações. No entanto, ao mesmo tempo podemos alegrar-nos. Por quê? Em parte, a alegria provém do reconhecimento de que se obtém um beneficio espiritual de se suportar com bom êxito a aflição. Qual é este benefício espiritual?
A MANEIRA EM QUE O SOFRIMENTO PODE REFINAR A FÉ
15. Que efeito podem as provações ter sobre a fé?
15 O apóstolo Pedro comparou os efeitos das provações sobre a fé do cristão à refinação do ouro por fogo. O processo de refinação elimina a escória, deixando o ouro puro. O grandemente aumentado valor do ouro certamente faz com que o processo de refinação valha a pena. Contudo, conforme disse Pedro, até mesmo o ouro provado por fogo é perecível. Pode desgastar-se ou ser destruído por outros meios. Mas isso não se dá com a fé provada ou testada. A genuína fé não pode ser destruída.
16. Por que é muito proveitoso que tenhamos fé genuína?
16 Se havemos de obter a aprovação divina, é absolutamente essencial que tenhamos tal fé. A Bíblia nos diz: “Sem fé é impossível agradar-lhe [a Deus] bem.” (Hebreus 11:6) De fato, a fé que se mostra genuína quando submetida a um teste excede em muito o valor do ouro refinado. Nosso futuro eterno depende de tal fé.
17. Que pergunta se poderia fazer quanto ao efeito das provações sobre a fé?
17 Mas como podem as provações refinar a fé, para que ela “seja achada causa para louvor, e glória, e honra, na revelação de Jesus Cristo”? Isto pode acontecer de diversas maneiras.
18. Como talvez se revele a fé sob provação, e como pode isso fortalecer-nos?
18 Se a nossa fé for forte, ela nos consolará e sustentará em tempos de dificuldades. Daí, quando passamos por uma provação com bom êxito, ficamos fortalecidos para enfrentar outras provas. A experiência terá demonstrado o que nossa fé pode fazer por nós.
19. O que poderá mostrar determinada provação quanto a fraquezas na fé, e como nos pode ajudar isso?
19 Por outro lado, determinada provação pode revelar falhas na personalidade, talvez orgulho, obstinação, impaciência, mundanismo ou amor ao ócio e aos prazeres. Tais tendências surgem realmente da fraqueza na fé. De que modo? Em que revelam que a pessoa não se sujeita plenamente à orientação e à vontade de Deus para ela. Não está convencida de que seu Pai realmente sabe melhor o que leva à felicidade, e que o acatamento da orientação divina sempre resulta em bênção. (Hebreus 3:12, 13) Quando as provações expõem fraquezas, o cristão pode estar atento à necessidade de fortalecer sua fé, para continuar como servo aprovado do Altíssimo.
20. Quando as provações revelam fraquezas na nossa fé, o que devemos fazer?
20 Portanto, quando determinada situação revela uma falha na nossa fé, podemos examinar a nós mesmos e decidir quais as medidas corretivas que devemos adotar. Convém perguntar-se: ‘Por que é fraca a minha fé? Negligencio o estudo da Palavra de Deus e a meditação nela? Aproveito plenamente as oportunidades de me reunir com concrentes, para ser fortalecido pelas suas expressões de fé? Tenho a tendência de estribar-me mais em mim mesmo do que devia, em vez de confiar todos os meus cuidados e ansiedades a Jeová Deus? Será que as orações, as orações de coração, são realmente parte diária da minha vida?’ Depois de determinados os pontos em que precisa haver melhora, temos de fazer empenho diligente para mudar nossa rotina na vida, com o objetivo de fortalecer nossa fé.
21. O que significa nossa fé ser “achada causa para louvor, e glória, e honra, na revelação de Jesus Cristo”?
21 Por recorrermos a Deus em busca de orientação e por confiarmos pacientemente nele, para nos mostrar o meio de obter alívio de nossas provações, poderemos fazer com que essas experiências provadoras nos ajudem a nos tornarmos servos melhores dele. Assim, a nossa fé será realmente “achada causa para louvor, e glória, e honra, na revelação de Jesus Cristo”. O Filho de Deus ‘louvará’, elogiará e aplaudirá nossa fé. Por causa de nossa fé, ele nos recompensará ricamente, dando-nos assim “glória”. Ele nos ‘honrará’ como seus discípulos perante Jeová Deus e os anjos. (Veja Mateus 10:32; Lucas 12:8; 18:8.) Isto significará termos diante de nós um futuro infindável de vida feliz. Mas, o que podemos fazer enquanto sofremos severamente, para que a nossa fé não enfraqueça?
COMO REAGIR SOB FORTE PRESSÃO
22. O reconhecimento de que fato sobre a duração das provações pode ajudar-nos a perseverar?
22 Uma coisa que pode ajudar-nos a suportar provações difíceis com bom êxito é reconhecer sua natureza temporária. A refinação do ouro tem começo e tem fim. Assim, também, qualquer aflição que sofremos não prosseguirá indefinidamente. Se mantivermos achegado ao coração a promessa de Deus, de vida eterna sem doença, clamor ou dor, então até mesmo o pior sofrimento neste sistema de coisas pode ser encarado como sendo apenas ‘momentâneo e leve’. (2 Coríntios 4:17) Aguarde o tempo em que, com toda a certeza, “não haverá recordação das coisas anteriores, nem subirão ao coração”. (Isaías 65:17) Quão maravilhoso é saber que estas experiências duras nem mesmo serão uma dolorosa lembrança!
23. Por que não seria usualmente a conduta excelente que nos causaria sofrimento?
23 Por outro lado, também, o grande sofrimento às mãos dos homens raras vezes é para nós uma experiência diária. Nossa conduta excelente realmente dá poucos motivos para alguém nos prejudicar. Visto que cabe às autoridades governamentais manter a lei e a ordem, elas talvez até mesmo louvem os servos de Jeová por acatarem as leis. Nos tempos modernos, até mesmo os opositores se viram obrigados a reconhecer algo similar ao que os inimigos do fiel profeta de Deus, Daniel, tiveram de admitir: “Não acharemos neste Daniel nenhum pretexto a não ser que o encontremos contra ele na lei de seu Deus.” Sim, Daniel era “digno de confiança, e não se achava nele nenhuma coisa negligente ou corruta”. (Daniel 6:4, 5) Talvez fosse pelo motivo de que a conduta excelente, em si mesma, não costuma dar motivo a que o cristão seja alvo de hostilidade, que o apóstolo Pedro levantou a seguinte pergunta: “Deveras, quem é o homem que vos fará dano se vos tornardes zelosos do que é bom?” — 1 Pedro 3:13.
24. Por que não podem os homens causar-nos dano permanente?
24 Com a sua pergunta, porém, o apóstolo talvez quisesse antes saber: ‘Quem é que realmente pode causar dano ao cristão reto?’ Ninguém nos pode causar dano duradouro. Jesus Cristo disse aos seus discípulos: “Não fiqueis temerosos dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma; antes, temei aquele que pode destruir na Geena tanto a alma como o corpo.” (Mateus 10:28) Sim, os homens podem chegar ao ponto de matar-nos, mas não podem tirar-nos o direito a ser almas viventes. O Deus Altíssimo, por meio de seu Filho, pode devolver e devolverá a vida aos seus servos fiéis. Somente Jeová pode destruir nosso direito à vida, como seres viventes, por toda a eternidade, entregando-nos à morte infindável, sem esperança de ressurreição.
25, 26. (a) Por que podemos ser felizes quando sofremos pela causa da justiça? (b) Por que não devemos temer o que nossos perseguidores temem?
25 Por causa destas verdades, o apóstolo Pedro podia dizer aos seus irmãos cristãos: “Mesmo que sofrerdes pela causa da justiça, sois felizes. No entanto, não temais o que eles temem, nem fiqueis agitados.” — 1 Pedro 3:14.
26 Se sofremos “pela causa da justiça”, podemos ser felizes, porque temos uma consciência limpa perante Deus e os homens. Sofremos pelo motivo certo. Fazer o que sabemos ser agradável ao Altíssimo produz uma profunda satisfação íntima e paz. Mas, conforme notou o apóstolo, fazermos isso com bom êxito depende de não desistirmos por medo. O apóstolo talvez se referisse aqui ao temor que os perseguidores podem causar por trazerem aflições ao povo de Deus. Ou pode ser o medo que os próprios perseguidores têm. Por exemplo, os que se opõem aos verdadeiros cristãos, por não terem fé em que Jeová Deus, por meio de Cristo, ressuscite os mortos, têm pavor duma morte prematura. (Hebreus 2:14, 15) Nós, servos de Deus, porém, não precisamos temer o que os incrédulos temem, visto que fomos libertos do medo de tal morte e sabemos que nosso Pai celestial nunca nos abandonará. Portanto, não devemos ficar “agitados”, como que levantando-nos irados contra nossos perseguidores.
27, 28. Como nos pode ajudar o conselho de 1 Pedro 3:15 quando somos levados perante autoridades governamentais e somos interrogados de maneira dura, com menosprezo?
27 O que aconteceria se fossemos levados perante autoridades governamentais e interrogados de maneira dura, com menosprezo? Nunca vamos querer revidar. A confiança que temos em que Deus nos apóia pode fazer-nos destemidos, mas isso não é desculpa para sermos beligerantes ou arrogantes. (Veja Atos 4:5-20.) O apóstolo aconselha: “Santificai o Cristo como Senhor nos vossos corações, sempre prontos para fazer uma defesa perante todo aquele que reclamar de vós uma razão para a esperança que há em vós, fazendo-o, porém, com temperamento brando e profundo respeito.” (1 Pedro 3:15) Se deixarmos de acatar este conselho e nos permitirmos expressar desprezo e desrespeito, deixaremos de sofrer pela causa da justiça. A autoridade governamental sentir-se-á justificada em agir contra nós por motivo de insubordinação desrespeitosa. Os mundanos têm explosões de irritação, ira e amargo ressentimento quando acham que seus direitos estão sendo violados. O cristão precisa ser diferente.
28 Conforme o apóstolo aconselha, em tais circunstâncias precisamos lembrar-nos de nosso Senhor ou Amo, recordando o exemplo dele. Precisamos ter cuidado de ter o maior respeito por Jesus Cristo, dando-lhe um lugar sagrado no nosso coração. Somos seus discípulos e queremos falar com qualquer autoridade que nos interrogue como se estivéssemos na presença do próprio Senhor. O motivo de nossa atitude cristã deve ser apresentado com respeito, de maneira calma e tranqüila.
O BOM EFEITO SOBRE OS OPOSITORES
29. Que efeito pode ter sobre os opositores a fiel perseverança de alguém debaixo de sofrimento?
29 A fiel perseverança debaixo de sofrimento pode também servir para calar os opositores. O apóstolo Pedro apresenta isso como incentivo para se preservar uma consciência limpa, dizendo: “Tende uma boa consciência, para que, naquilo que se fala contra vós, fiquem envergonhados aqueles que fazem pouco de vossa boa conduta em conexão com Cristo.” (1 Pedro 3:16) Os opositores que observam a maneira paciente, sem queixas, em que os servos de Deus agem talvez fiquem envergonhados de os terem caluniado. Isto se dá especialmente quando tratamos os opositores com bondade. — Romanos 12:19-21.
30. (a) Por que não há nenhum proveito em se sofrer por fazer o mal? (b) Relacionado com o sofrimento pela causa da justiça, por que disse Pedro: “Se for a vontade de Deus”?
30 O fato de que tais benefícios podem advir de se suportar aflição com fidelidade pela causa da justiça dá força às palavras seguintes de Pedro: “Porque é melhor sofrerdes por fazer o bem, se for a vontade de Deus, do que por fazer o mal.” (1 Pedro 3:17) Que mérito haveria em alguém sofrer como ladrão, extorsor, sonegador de impostos ou como quem desafia a autoridade por um falso senso de piedade ou por zelo mal aplicado? Sua punição por isso só lançaria vitupério sobre ele mesmo e sobre seus concrentes. Mas, suportar o cristão pacientemente tais maus tratos injustos pode impressionar os outros com o poder sustentador que apóia os verdadeiros adoradores e pode açaimar as difamações da verdade de Deus e dos que a defendem. Visto que o sofrimento que talvez sobrevenha ao cristão é por permissão divina, Pedro não estava errando na apresentação do assunto, mas disse corretamente, “se for a vontade de Deus”.
PROCEDER RECOMPENSADOR, COMO NO CASO DE JESUS
31. Que resultado benéfico teve a fiel perseverança de Jesus Cristo debaixo de sofrimento?
31 Que a fiel perseverança debaixo de sofrimento pode levar a grandes bênçãos para o cristão é bem ilustrado no caso de Jesus Cristo. Não tendo pecados, não fez nada que merecesse maus tratos. Contudo, suportar ele aflições, tendo por fim uma morte vergonhosa numa estaca, resultou em maravilhosos benefícios para nós e em ele ser ricamente recompensado. O apóstolo Pedro escreveu:
“Ora, até mesmo Cristo morreu uma vez para sempre quanto aos pecados, um justo pelos injustos, a fim de conduzir-vos a Deus, sendo morto na carne, mas vivificado no espírito. Neste estado, também, ele foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais outrora tinham sido desobedientes, quando a paciência de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, isto é, oito almas, foram levadas a salvo através da água.” — 1 Pedro 3:18-20.
32. Que proveito tiramos de Cristo suportar o sofrimento até à morte?
32 Foi porque Jesus Cristo manteve integridade imaculada sob sofrimento que ele pôde renunciar à sua vida como perfeito sacrifício humano. Sua morte preparou assim o caminho para os homens serem ‘conduzidos a Deus’, sendo reconciliados com o Altíssimo e tendo diante de si a perspectiva de vida eterna. Visto que fomos beneficiados tanto por Cristo morrer a nosso favor, não devíamos estar dispostos a seguir o seu exemplo e sofrer pela causa da justiça?
33. De que nos devia dar certeza a ressurreição de Jesus Cristo quando nos confrontamos com a ameaça da morte por sermos seus discípulos?
33 Além disso, assim como no seu caso, podemos ter a certeza de que nossa fiel perseverança será abençoada. Ter sido Jesus Cristo “vivificado no espírito” ou ressuscitado para a vida espiritual representa a garantia imutável de que seus discípulos voltarão à vida. — 1 Coríntios 15:12-22.
34. Por causa da fidelidade dele, o que pode fazer Jesus Cristo com relação aos espíritos iníquos?
34 Visto que ele se saiu vencedor pela fiel perseverança, o Filho de Deus, como pessoa espiritual, pôde proclamar a mensagem de julgamento contra os “espíritos em prisão”. Sendo que a desobediência destes espíritos está vinculada com o tempo de Noé, eles devem ser os filhos angélicos de Deus, que abandonaram sua moradia original nos céus e passaram a conviver com mulheres quais maridos. (Gênesis 6:1-4) São chamados de “espíritos em prisão”, porque sua punição incluiu uma forma de restrição, por serem para sempre excluídos de seu lugar original entre os anjos fiéis. As palavras de Judas confirmam que só se podia dirigir uma mensagem de julgamento condenatório a esses anjos decaídos: “Os anjos que não conservaram a sua posição original, mas abandonaram a sua própria moradia correta, [Deus] reservou com laços sempiternos, em profunda escuridão, para o julgamento do grande dia.” (Judas 6) Foi a perseverança fiel de Jesus até a morte que lhe deu o direito a ser trazido de volta à vida e assim o colocou na condição de pregar ou proclamar este julgamento condenatório aos anjos decaídos.
35. Por que podemos ficar animados a perseverar fielmente pelo fato de que Jesus pregou a destruição aos “espíritos em prisão”?
35 Tal pregação da destruição dos espíritos iníquos devia animar-nos a perseverar fielmente quando sofremos aflição. Por quê? Porque essas forças espirituais iníquas são na maior parte responsáveis por incitar a humanidade alheada de Deus contra os discípulos de Jesus Cristo. A Bíblia nos diz: “O deus deste sistema de coisas tem cegado as mentes dos incrédulos, para que não penetre o brilho da iluminação das gloriosas boas novas a respeito do Cristo, que é a imagem de Deus.” (2 Coríntios 4:4) “[Nós, cristãos,] temos uma pugna, não contra sangue e carne, mas contra os governos, contra as autoridades, contra os governantes mundiais desta escuridão, contra as forças espirituais iníquas nos lugares celestiais.” (Efésios 6:12; veja também Revelação 16:13, 14.) Portanto, o fato de que o ressuscitado Jesus Cristo pôde pregar uma mensagem de julgamento contra os espíritos iníquos oferece a garantia de que, finalmente, a odiosa influência deles será totalmente abolida. (Veja Marcos 1:23, 24.) Que maravilhoso alívio isso dará!
36. (a) Como foi Jesus Cristo recompensado pela sua fidelidade? (b) Em vista da posição de Jesus, como devíamos encarar o sofrimento por causa de seu nome?
36 Além de Jesus Cristo ser ressuscitado dentre os mortos como servo aprovado de Deus e assim ser habilitado a dirigir uma mensagem de julgamento contra os anjos desobedientes, ele foi grandemente enaltecido. O apóstolo Pedro nos diz: “Ele está à direita de Deus, pois foi para o céu; e foram-lhe sujeitos anjos, e autoridades, e poderes.” (1 Pedro 3:22) Esta declaração concorda com as próprias palavras de Jesus após a sua ressurreição dentre os mortos: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.” (Mateus 28:18) Muitos estiveram dispostos a sofrer e a depor sua vida no serviço de governantes humanos que tinham muito menos autoridade. Consideravam como grande honra servir a um rei ou a uma rainha de tal maneira. Quanto mais devíamos nós sentir-nos honrados de poder sofrer pela lealdade ao nosso Rei celestial, Jesus Cristo!
IMITE A JESUS CRISTO
37. O exemplo de quem devemos procurar imitar quando sofremos aflição?
37 Então, quando sofre aflição, olhe sempre para o Filho de Deus como modelo. O apóstolo escreveu: “Visto que Cristo sofreu na carne, armai-vos também da mesma disposição mental; porque aquele que tem sofrido na carne tem desistido dos pecados, com o fim de viver o resto do seu tempo na carne, não mais para os desejos dos homens, mas para a vontade de Deus.” — 1 Pedro 4:1, 2.
38. Qual foi a disposição mental de Jesus Cristo?
38 Qual foi a disposição mental de Jesus? Ele se sujeitou humildemente aos ultrajes físicos e verbais cumulados sobre ele, tendo por fim uma morte dolorosa numa estaca. Por nunca revidar, o Filho de Deus cumpriu as palavras proféticas: “Como ovelha ele foi levado à matança e como cordeiro que está sem voz diante do seu tosquiador, assim não abre a sua boca.” — Atos 8:32; Isaías 53:7.
39. O que prova que desistimos dos pecados?
39 Nós, servos do Altíssimo, queremos suportar similarmente o sofrimento, não nos entregando a um espírito de rebelião ou revide. Se ameaçássemos nossos perseguidores, procurando oportunidades para prejudicá-los, revelaríamos que ainda estamos sujeitos às paixões da carne pecaminosa. Qualquer sofrimento que recebamos das mãos dos homens devia ser exclusivamente por não seguirmos o proceder egoísta e os modos deste mundo. (João 15:19, 25) Assim podemos demonstrar em atitude, palavra e ação, que vivemos “não mais para os desejos dos homens, mas para a vontade de Deus”.
MOTIVO DE FELICIDADE
40. Por que talvez parecesse estranho a muitos crentes do primeiro século ter de sofrer pela causa de Cristo?
40 Lá no primeiro século E. C., a população idólatra não sofria por motivos religiosos. Qualquer que se tornava cristão, porém, passava a ser alvo de ódio. Sofrer perseguição deve ter sido uma experiência estranha, intrigante. Era tão diferente das bênçãos da aceitação das “boas novas” que lhe foram oferecidas. Aqueles cristãos precisavam muito duma perspectiva correta da aflição. As palavras seguintes do apóstolo Pedro certamente os devem ter animado:
“Amados, não fiqueis intrigados com o ardor entre vós, que vos está acontecendo como provação, como se vos sobreviesse coisa estranha. Ao contrário, prossegui em alegrar-vos por serdes partícipes dos sofrimentos do Cristo, para que vos alegreis e estejais também cheios de alegria durante a revelação de sua glória. Se fordes vituperados pelo nome de Cristo, felizes sois, porque o espírito de glória, sim, o espírito de Deus, está repousando sobre vós.” — 1 Pedro 4:12-14.
41, 42. (a) Em harmonia com 1 Pedro 4:12-14, como podemos encarar o sofrimento pela causa da justiça? (b) O que confirma tal sofrimento?
41 Em vez de encararmos com espanto ou surpresa a aflição que possa sobrevir-nos, podemos considerá-la como sendo preparatória para nossa participação nas bênçãos a serem recebidas na revelação de nosso Amo. Pedro referiu-se ao sofrimento como “ardor”, visto que os metais são refinados por fogo. De maneira similar, Deus permite que seus servos sejam refinados ou purificados por meio das tribulações que têm. Naturalmente, não foi Jeová Deus quem nos fez pecaminosos. Mas, visto que o somos, pode permitir que passemos por certo sofrimento como maneira de nos purificar. A aflição que talvez sintamos pode ajudar-nos a nos tornar mais bondosos, mais humildes, compassivos e compreensivos nos tratos com o nosso semelhante. Também, quando nós mesmos suportamos severas provações, nossas palavras de consolo e de encorajamento aos outros têm muito mais peso. Aqueles que consolamos sabem que entendemos as coisas por que passam.
42 Visto que o Filho de Deus sofreu, as aflições que temos são uma confirmação de que somos realmente seus discípulos, tendo união com ele. Jesus disse aos seus apóstolos: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: O escravo não é maior do que o seu amo. Se me perseguiram a mim, perseguirão também a vós.” (João 15:20) Ao sermos perseguidos pelos mesmos motivos que nosso Amo e ao sofrermos aflições por causa da justiça, assim como ele, somos “partícipes dos sofrimentos do Cristo”. E assim como a sua fidelidade resultou em ele ser recompensado pelo seu Pai celestial, nossa contínua fidelidade em suportar aflições assegura-nos sermos achados aprovados na revelação do Filho de Deus. Nossa alegria certamente será transbordante porque então seremos favorecidos com a vida infindável numa nova ordem, em que não haverá mais nenhuma das causas das atuais tristezas.
43. A perseverança fiel sob sofrimento prova que temos que espírito, e por quê?
43 Conforme Pedro também declarou, levarmos o vitupério pelo nome de Cristo, quer dizer, por sermos seus discípulos, deve ser motivo de felicidade. Prova que os assim vituperados ou difamados têm o espírito de Deus ou o honroso “espírito de glória” que emana de Deus. Este espírito, sendo santo, só pode repousar sobre os que são limpos ou puros do ponto de vista de Deus.
44. Que espécie de sofrimento devemos evitar?
44 Por isso é tão vital que nos certifiquemos de que qualquer sofrimento que nos sobrevenha não possa ser atribuído a uma ação errônea da nossa parte. O apóstolo Pedro exortou: “No entanto, nenhum de vós sofra como assassino, ou como ladrão, ou como malfeitor, ou como intrometido nos assuntos dos outros.” — 1 Pedro 4:15.
45. O que resulta quando um professo cristão sofre por ter cometido um crime?
45 Quem professa ser cristão e se torna culpado dum crime contra o seu próximo não pode esperar ficar eximido da punição (Veja Atos 25:11.) Esta punição lançará vitupério sobre ele, sobre a congregação com que se associa e sobre o nome de Cristo. Ele não obtém alegria, mas vergonha.
46. (a) O que significa ser intrometido? (b) Como poderá o cristão sofrer por ser intrometido?
46 Intrometer-se nos negócios dos outros pode fazer da pessoa alvo de ódio. Como alguém se pode tornar abelhudo é sugerido pelo termo grego para “intrometido”, usado por Pedro. Significa literalmente “supervisor do que é de outrem”. Pode ser que o cristão, por ter obtido conhecimento bíblico, ache que agora está qualificado para dizer às pessoas do mundo como devem cuidar de seus próprios assuntos. Talvez promova suas próprias opiniões sobre normas de vestimenta, disciplina dos filhos, cuidar de problemas maritais e sexuais, diversões, regime alimentar, e coisas assim. Quando ele se intromete, sem ser convidado, nos problemas pessoais dos outros, dizendo-lhes o que fazer ou o que não fazer, está tentando ser “supervisor” dos assuntos deles. Isto usualmente produz ressentimentos. O intrometido pode ser informado em linguagem franca que cuide de seus próprios negócios. Talvez até mesmo sofra tratamento rude daqueles que reagem de maneira irada à intromissão na sua vida particular. O intrometido que bisbilhota os assuntos que não lhe dizem respeito causa dificuldades a si mesmo e deturpa o cristianismo e sua mensagem perante os de fora. Naturalmente, mesmo dentro da congregação não há lugar para bisbilhoteiros. — Veja 1 Timóteo 5:13.
47. Quando o cristão suporta o sofrimento, como pode isso dar glória a Deus?
47 Em contraste com a vergonha de ser exposto publicamente como violador da lei e intrometido, sofrer como cristão dá honra. Pedro escreveu: “Se ele sofrer como cristão, não se envergonhe, mas persista em glorificar a Deus neste nome.” (1 Pedro 4:16) Quando sofremos aflição por causa de nosso modo cristão de vida, suportarmos isso pacientemente e sem queixas dá glória ao Altíssimo. Prova que aquilo que nós temos, como cristãos — uma relação preciosa com Deus e Cristo, uma consciência limpa, bem-estar espiritual e uma sólida esperança quanto ao futuro — é um tesouro de grande valor. Mostramos que estamos dispostos a sofrer, e, se necessário, a morrer por isso, e isto glorifica o Deus a quem servimos sinceramente. Cedermos à pressão e renunciarmos à nossa fé, ao contrário, difamaria seu nome. Os observadores teriam séria dúvida sobre o inestimável valor de se ser discípulo de Jesus Cristo. — Veja Efésios 3:13; 2 Coríntios 6:3-10.
UMA FORMA DE DISCIPLINA OU TREINAMENTO
48. Como mostra 1 Pedro 4:17-19 que não estamos sem ajuda quando sofremos pela causa da justiça?
48 Já vimos que o sofrimento injusto dos cristãos poderia ser impedido por Jeová Deus, com a sua onipotência, mas que ele o permite por bons motivos. Entrementes, o Altíssimo nunca deixa seus servos sem ajuda. Ampliando este ponto, o apóstolo Pedro escreveu:
“Pois é o tempo designado para o julgamento principiar com a casa de Deus. Ora, se primeiro começa conosco, qual será o fim daqueles que não são obedientes às boas novas de Deus? ‘E, se o justo está sendo salvo com dificuldade, onde aparecerá o ímpio e o pecador?’ Assim, também, os que estão sofrendo em harmonia com a vontade de Deus persistam em recomendar as suas almas a um Criador fiel, enquanto estão fazendo o bem.” — 1 Pedro 4:17-19.
49. (a) Desde quando está sendo julgada a “casa de Deus”? (b) O que decide qual o veredicto final a ser dado?
49 A congregação cristã, como “casa de Deus”, teve seu começo em 33 E.C. A partir daquele tempo, seus membros estão sob julgamento divino. Sua reação à vontade dele, e sua atitude, suas palavras e ações para com o que Jeová Deus permite que lhes sobrevenha, têm muito que ver com qual será o Seu veredicto final. Às vezes, o que Jeová Deus acha conveniente permitir que lhes sobrevenha pode ser muito severo. Mas a perseguição produz uma forma de disciplina que Deus pode fazer resultar em benefício de seu povo. — Hebreus 12:4-11; veja também Hebreus 4:15, 16, onde se mostra que o sofrimento de Jesus Cristo o preparou para ser sumo sacerdote compassivo e solidário.
50, 51. Como ilustra o que aconteceu com José e Paulo que Jeová pode transformar em bênção a mesmíssima coisa que os homens talvez usem no empenho de nos prejudicar?
50 Os homens sob o controle de Satanás, por meio de maus tratos, podem tentar destruir a nossa fé. Mas Jeová pode frustrar seu objetivo iníquo. Sim, embora ele mesmo odeie o mal, nosso Pai celestial pode fazer que aquilo que se destina a prejudicar-nos resulte em algo bom. Tome o caso do filho jovem de Jacó, José. Seus meios-irmãos o odiaram e venderam em escravidão. Durante anos, José sofreu muito, inclusive encarceramento injusto. Mas, depois, Jeová Deus usou esta situação para preservar viva a família de Jacó. Sobre isso, José disse aos seus meios-irmãos:
“Agora, não vos sintais magoados e não estejais irados com vós mesmos, por me terdes vendido para cá; porque foi para a preservação de vida que Deus me enviou na vossa frente. Pois este é o segundo ano de fome no meio da terra, e ainda haverá cinco anos em que não haverá nem lavoura nem colheita. Por conseguinte, Deus enviou-me na frente de vós, a fim de por para vós um restante na terra e para vos preservar vivos por meio dum grande escape. Agora, pois, não fostes vós quem me enviastes para cá, mas foi o verdadeiro Deus, a fim de me designar pai para Faraó e senhor para toda a sua casa, e como aquele que domina sobre toda a terra do Egito.” — Gênesis 45:5-8.
51 De maneira similar, quando o apóstolo Paulo se viu preso em Roma, esta situação desfavorável serviu para promover a causa da verdadeira adoração. Ele escreveu na sua carta aos filipenses:
“Meus irmãos, eu quero que vocês saibam que as coisas que me aconteceram ajudaram de fato no progresso das Boas-Notícias. Pois foi assim que toda a guarda do palácio e todos os outros souberam que estou na prisão porque sou servo de Cristo. E a maioria dos irmãos, vendo que estou na prisão, tem mais confiança no Senhor. Assim, ficam cada vez mais animados para anunciarem, sem medo, a mensagem de Deus.” — Filipenses 1:12-14, A Bíblia na Linguagem de Hoje.
52. Por que não se pode esperar que “o ímpio e o pecador” apareçam?
52 Visto que Jeová Deus permite que seus servos leais sofram tratamento severo para refiná-los e para que demonstrem sua devoção, como poderíamos imaginar que o “ímpio e o pecador”, dentro da congregação cristã ou “casa de Deus”, poderiam até mesmo ‘aparecer’ perante Ele, ao lado do “justo”, dentro da mesma congregação? O salmista declarou: “Os iníquos não se levantarão no julgamento, nem os pecadores na assembléia dos justos.” (Salmo 1:5) Não, os iníquos não estarão em pé como aprovados, mas serão condenados. Talvez sejam encontrados na assembléia dos justos, mas nunca ‘aparecerão’ em condição favorável perante Deus. Em vista de tudo o que todos os crentes têm de encarar neste mundo, serem finalmente salvos para a vida eterna requer verdadeiro esforço, amor e fé no caminho da justiça. Por isso, sua salvação é “com dificuldade”. Por conseguinte, cabe a todos os membros da congregação cristã (“a casa de Deus”) evitar serem ‘ímpios’ e ‘pecadores’ neste “tempo designado” de julgamento. — 1 Pedro 4:17, 18; Provérbios 11:31.
53. (a) Quando sofremos, que consolo podemos tirar do fato de que Jeová é “um Criador fiel”? (b) Como devemos reagir diante dos que nos perseguem?
53 Talvez nos sobrevenham provações que simplesmente não poderíamos suportar na nossa própria força. Mas, não importa quão lastimável se torne nossa situação, Jeová Deus pode sustentar-nos e desfazer totalmente o dano que talvez soframos. Quando nos entregamos completamente a ele, poderá fortalecer-nos por meio de seu espírito para suportarmos o sofrimento. Visto que ele é “um Criador fiel”, como diz Pedro, um Deus em quem podemos confiar, ele não será infiel à sua promessa de auxiliar seus servos. (1 Pedro 4:19) Este conhecimento pode ajudar-nos a evitar reagirmos dum modo que desonre a Deus para com os que nos perseguem. Em vez de combatê-los, pagando-lhes na mesma moeda, desejaremos continuar a fazer o bem. — Luc. 6:27, 28.
54. Como nos humilhamos sob a mão de Deus, e de que proveito é isso para nós?
54 Se suportarmos humildemente o que nos possa sobrevir, mantendo uma disposição igual à de Cristo, poderemos confiar em que Jeová nos enaltecerá. Nenhuma prova continuará indefinidamente. Terá o seu fim. Enquanto nos comportarmos em harmonia com a vontade divina, ao passo que sofremos maus tratos, permaneceremos na mão de Jeová. E esta mão pode enaltecer-nos e exaltar-nos como seus servos provados e experimentados. Isto é o que o apóstolo Pedro recomenda: “Humilhai-vos, portanto, sob a mão poderosa de Deus, para que ele vos enalteça no tempo devido, ao passo que lançais sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” — 1 Pedro 5:6, 7.
55. Embora não possamos fugir das provações, de que podemos aliviar-nos, e como?
55 Quão animador é saber que Jeová cuida genuinamente de nós! Seu amor acalenta-nos o coração; seu espírito nos fortalece e sustenta. Daí, quando determinada prova tiver acabado e nós olharmos para trás, para o cuidado amoroso de Jeová, sentir-nos-emos atraídos a ele. A situação é comparável à duma criança apreciativa que sentiu o amor e o cuidado de pais preocupados, numa época em que esteve seriamente doente. Sua confiança e seu amor são muito fortalecidos. De fato, quando a situação é muito provadora, não podemos simplesmente fugir dela. Mas podemos lançar nossa ansiedade ou preocupação sobre Jeová Deus. Não precisamos preocupar-nos com quanto tempo poderemos suportar um espancamento impiedoso por uma turba enfurecida, os ataques sexuais de agressores ou outras atrocidades. Com a ajuda de nosso amoroso Pai celestial, podemos agüentar e obter uma vitória moral sobre os nossos perseguidores por permanecermos fiéis ao nosso Deus. Esta garantia elimina de nós a ansiedade que nos privaria da paz mental e de coração, tão essenciais para permanecermos firmes em face de provações.
56. Quando lançamos nossas ansiedades sobre Jeová, por que não significa isso que podemos ficar despreocupados com a nossa reação em provações?
56 No entanto, isto não quer dizer que, por lançarmos nossas ansiedades sobre Jeová, podemos ficar complacentes ou indiferentes. Temos um inimigo. “Mantende os vossos sentidos, sede vigilantes”, escreveu Pedro. “Vosso adversário, o Diabo, anda em volta como leão que ruge, procurando a quem devorar.” — 1 Pedro 5:8.
57. O que está Satanás interessado em fazer?
57 Em harmonia com o conselho do apóstolo, não podemos dar-nos ao luxo de ser descuidados em face de aflições. O adversário só está à espera para uma chance de nos fazer cair. Se Satanás puder conseguir fazer-nos duvidar da fidelidade de nossos irmãos ou de algum outro modo enfraquecer-nos espiritualmente, ele o fará. Nossa retirada da associação com a congregação cristã, ou pararmos de expressar nossa fé a outros, significaria sermos tragados por Satanás, o “leão que ruge”, que sempre está atento à caça desapercebida.
58. Que conhecimento sobre nossos irmãos pode ajudar-nos a permanecermos fiéis?
58 Para nos mantermos atentos, nos ajudará lembrar sempre que não estamos sozinhos ao suportar sofrimentos. Nossos irmãos cristãos, em todo o mundo, suportam diversos tipos de aflição. E, com a ajuda do espírito de Deus, são bem sucedidos em perseverar fielmente em provações. Este reconhecimento pode ajudar-nos a evitar que sejamos vítimas dos laços de Satanás, porque nos dá confiança em que também podemos agüentar na força de Jeová. Portanto, “tomai vossa posição contra ele, sólidos na fé, sabendo que as mesmas coisas, em matéria de sofrimentos, estão sendo efetuadas na associação inteira dos vossos irmãos no mundo”. — 1 Pedro 5:9.
59, 60. De que modo obtemos o maior benefício de nossas provações?
59 Visto que Jeová Deus quer que sejamos bem sucedidos e obtenhamos a salvação, podemos esperar com confiança que ele nos ajude. Ao mesmo tempo, podemos aceitar o que nos sobrevém, pela permissão de Deus, como disciplina valiosa para nos tornar cristãos completos, plenamente desenvolvidos, fortes na fé. O apóstolo Pedro expressou isso belamente, dizendo:
“Depois de terdes sofrido por um pouco, o próprio Deus de toda a benignidade imerecida, que vos chamou à sua eterna glória em união com Cristo, completará o vosso treinamento; ele vos fará firmes, ele vos fará fortes. Dele seja o poderio para sempre. Amém.” — 1 Pedro 5:10, 11.
60 Assim como Jesus Cristo sofreu por um pouco de tempo, enquanto esteve na terra, e foi depois grandemente enaltecido, assim os discípulos do Filho de Deus podem aguardar uma gloriosa recompensa. Se o sofrimento que nos possa sobrevir pela permissão divina nos fizer mais fortes na nossa aderência às normas da Bíblia, e discípulos mais humildes, compassivos e compreensivos do Filho de Deus, então esta forma de instrução e amoldagem terá servido ao seu fim. Para que seja assim, precisamos confiar plenamente no nosso Pai celestial, certos de que aquilo que ele permitir garantirá finalmente nosso eterno bem-estar e felicidade, se nos sujeitarmos humildemente. (Romanos 8:28) No espírito do apóstolo Pedro, podemos elevar a voz, dizendo: ‘Graças a Deus, por nos deixar ser instruídos por meio de provações e por nos ajudar a ser firmes e fortes, como seus servos aprovados, visando a vida eterna!’