Livro bíblico número 42 — Lucas
Escritor: Lucas
Lugar da Escrita: Cesaréia
Escrita Completada: c. 56-58 EC
Tempo Abrangido: 3 AEC-33 EC
1. Que espécie de Evangelho escreveu Lucas?
O EVANGELHO de Lucas foi escrito por um homem que tinha mente alerta e coração bondoso, e esta excelente combinação de qualidades, junto com a orientação do espírito de Deus, resultou numa narrativa que é tanto exata como cheia de ardor e sentimento. Nos versículos iniciais, diz: “Também eu, tendo pesquisado todas as coisas com exatidão, desde o início, resolvi escrevê-los para ti em ordem lógica.” A sua apresentação pormenorizada e meticulosa confirma plenamente esta afirmação. — Luc. 1:3.
2, 3. Que evidências, externa e interna, indicam que o médico Lucas foi o escritor deste Evangelho?
2 Embora Lucas não seja mencionado em parte alguma da narrativa, as autoridades antigas concordam que ele foi o escritor. O Evangelho é atribuído a Lucas no Fragmento Muratoriano (c. 170 EC), e foi aceito por escritores do segundo século tais como Irineu e Clemente de Alexandria. A evidência interna também indica fortemente Lucas. Paulo refere-se a ele em Colossenses 4:14 como “Lucas, o médico amado”, e sua obra tem o cunho erudito que se espera de uma pessoa bem instruída, como um médico. A sua boa linguagem e seu vocabulário extenso, mais amplo do que o dos escritores dos outros três Evangelhos somados, tornam possível uma consideração meticulosa e completa de seu assunto vital. A sua narrativa sobre o filho pródigo é considerada por alguns como sendo o melhor conto já escrito.
3 Lucas usa mais de 300 termos médicos ou palavras às quais atribui sentido médico, que não são empregados do mesmo modo (se é que são usados) pelos outros escritores das Escrituras Gregas Cristãs.a Por exemplo, ao se referir à lepra, Lucas nem sempre emprega o mesmo termo que os outros. Para eles, lepra é lepra, mas para um médico há diferentes estágios de lepra, como no caso em que Lucas fala de “um homem cheio de lepra”. De Lázaro ele diz que estava “cheio de úlceras”. Nenhum outro escritor dos Evangelhos diz que a sogra de Pedro tinha “febre alta”. (5:12; 16:20; 4:38) Embora os três outros nos falem de Pedro decepar a orelha do escravo do sumo sacerdote, apenas Lucas menciona que Jesus o curou. (22:51) Soa como se um médico falasse, dizer que uma mulher tinha “um espírito de fraqueza, já por dezoito anos, e ela estava encurvada e não podia absolutamente endireitar-se”. E quem senão “Lucas, o médico amado”, teria registrado em pormenores os primeiros socorros prestados a certo homem pelo samaritano que “lhe atou as feridas, derramando nelas azeite e vinho”? — 13:11; 10:34.
4. Quando, provavelmente, foi escrito Lucas, e que circunstâncias apóiam este parecer?
4 Quando escreveu Lucas o seu Evangelho? Atos 1:1 indica que o escritor de Atos (que também foi Lucas) havia composto anteriormente “o primeiro relato”, o Evangelho. Atos foi mais provavelmente completado por volta de 61 EC, enquanto Lucas estava em Roma com Paulo, que esperava o seu recurso interposto a César. De modo que o relato do Evangelho feito por Lucas foi provavelmente escrito em Cesaréia, por volta de 56-58 EC, depois de ele retornar com Paulo de Filipos, no fim da terceira viagem missionária de Paulo, e enquanto este esperava por dois anos na prisão em Cesaréia, antes de ser levado a Roma para o seu recurso. Durante este tempo, visto que Lucas estava na Palestina, estava em boa posição para ‘pesquisar todas as coisas com exatidão, desde o início’, com respeito à vida e ao ministério de Jesus. Deste modo, parece que a narrativa de Lucas precedeu o Evangelho de Marcos.
5. Em que fontes pode ter Lucas ‘pesquisado com exatidão’ os eventos da vida de Jesus?
5 Lucas não foi, como é óbvio, testemunha ocular de todos os eventos que registra no seu Evangelho, visto que não era um dos 12 e provavelmente só tornou-se crente depois da morte de Jesus. Todavia, estava mui intimamente associado a Paulo no campo missionário. (2 Tim. 4:11; Filêm. 24) Portanto, como seria de esperar, a sua escrita evidencia influência de Paulo, conforme pode ser visto mediante a comparação dos relatos dos dois sobre a Refeição Noturna do Senhor, em Lucas 22:19, 20 e; 1 Coríntios 11:23-25. Qual fonte adicional de consulta, Lucas podia recorrer ao Evangelho de Mateus. Ao ‘pesquisar todas as coisas com exatidão’, ele podia entrevistar pessoalmente muitas testemunhas oculares dos eventos da vida de Jesus, tais como os discípulos que ainda viviam e possivelmente a mãe de Jesus, Maria. Podemos ter certeza de que ele esgotaria todos os meios para reunir pormenores fidedignos.
6. Quanto do Evangelho de Lucas é ímpar, e para quem escreveu ele? Por que responde assim?
6 Torna-se claro pelo exame dos quatro Evangelhos que os escritores não repetem simplesmente a narrativa um do outro, tampouco escrevem só para fornecer diversas testemunhas deste vitalíssimo registro bíblico. O relato de Lucas tem uma maneira muito peculiar de tratar o assunto. Ao todo, 59 por cento do seu evangelho é ímpar. Ele registra pelo menos seis milagres específicos e mais do que o dobro desse número de ilustrações que não são mencionados nos outros Evangelhos, devotando um terço de seu Evangelho à narrativa e dois terços à palavra oral; seu Evangelho é o mais longo dos quatro. Mateus escreveu primariamente para os judeus, e Marcos para os leitores não-judeus, em especial os romanos. O Evangelho de Lucas foi dirigido ao “excelentíssimo Teófilo” e, por intermédio dele, a outras pessoas, tanto judeus como não-judeus. (Luc. 1:3, 4) Ao dar a seu relato um atrativo universal, remonta a genealogia de Jesus até “Adão, filho de Deus”, e não só até Abraão, como faz Mateus ao escrever especialmente para os judeus. Ele menciona, particularmente, as palavras proféticas de Simeão que Jesus seria o meio de “remover das nações o véu”, e diz que “toda a carne verá o meio salvador de Deus”. — 3:38; 2:29-32; 3:6.
7. O que testifica fortemente a autenticidade do Evangelho de Lucas?
7 Em todo o seu livro, Lucas se revela notável narrador, sendo os seus relatos bem organizados e exatos. Estas qualidades de exatidão e fidelidade nos escritos de Lucas são forte prova de sua autenticidade. Certo escritor de assuntos legais fez a seguinte observação: “Ao passo que os romances, as lendas e o testemunho falso tomam o cuidado de colocar os eventos narrados em algum lugar distante e em algum tempo indefinido, violando assim as primeiras regras que nós, advogados, aprendemos sobre o bom patrocínio duma causa em juízo, de que ‘a declaração precisa especificar o tempo e o lugar’, as narrativas da Bíblia dão-nos a data e o lugar das coisas narradas com a máxima precisão.”b Em prova disto ele citou Lucas 3:1, 2: “No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia e Herodes era governante distrital da Galiléia, mas Filipe, seu irmão, era governante distrital do país da Ituréia e de Traconítis, e Lisânias era governante distrital de Abilene, nos dias do principal sacerdote Anás e de Caifás, veio a declaração de Deus a João, filho de Zacarias, no ermo.” Não há indefinição alguma aqui quanto ao tempo e lugar, mas Lucas menciona aqui nada menos do que sete autoridades públicas, de modo que podemos estabelecer o tempo do início do ministério de João e do de Jesus.
8. Como indica Lucas, “com exatidão”, a época do nascimento de Jesus?
8 Lucas nos dá também dois indícios para determinarmos a época do nascimento de Jesus, ao dizer, em Lucas 2:1, 2: “Ora, naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que toda a terra habitada se registrasse; (este primeiro registro ocorreu quando Quirino era governador da Síria).” Isso ocorreu quando José e Maria foram a Belém para se registrar, e Jesus nasceu enquanto se achavam ali.c Não podemos deixar de concordar com o comentarista que diz: “É um dos testes mais escrutinadores do senso histórico de Lucas, que ele sempre consegue perfeita precisão.”d Precisamos reconhecer que é válida a afirmação de Lucas de ter “pesquisado todas as coisas com exatidão, desde o início”.
9. Que profecia de Jesus, registrada por Lucas, teve um notável cumprimento em 70 EC?
9 Lucas mostra também que as profecias das Escrituras Hebraicas foram cumpridas com precisão em Jesus Cristo. Cita o testemunho inspirado de Jesus sobre isso. (24:27, 44) Além disso, registra com exatidão as próprias profecias de Jesus com respeito a eventos futuros, e muitas destas já tiveram notável cumprimento em todos os seus pormenores. Por exemplo, Jerusalém foi cercada com uma fortificação de estacas pontiagudas e sucumbiu num terrível holocausto em 70 EC, assim como Jesus predissera. (Luc. 19:43, 44; 21:20-24; Mat. 24:2) O historiador secular Flávio Josefo, que foi testemunha ocular junto ao exército romano, testifica que os arrabaldes ficaram desnudados de árvores a uma distância de uns dezesseis quilômetros para fornecer estacas, que o muro do cerco tinha sete mil e duzentos metros de comprimento, que muitas mulheres e crianças morreram de fome, e que mais de 1.000.000 de judeus perderam a vida e 97.000 foram levados cativos. Até o dia de hoje, o Arco de Tito em Roma representa a procissão da vitória romana com despojos de guerra do templo de Jerusalém.e Podemos ter certeza de que outras profecias inspiradas registradas por Lucas serão cumpridas com a mesma precisão.
CONTEÚDO DE LUCAS
10. O que Lucas se propôs fazer?
10 A introdução de Lucas (1:1-4). Lucas registra que pesquisou todas as coisas com exatidão, desde o início, e que resolveu escrevê-las em ordem lógica para que o ‘excelentíssimo Teófilo saiba plenamente a certeza’ dessas coisas. — 1:3, 4.
11. Que eventos alegres são relatados no primeiro capítulo de Lucas?
11 Anos iniciais da vida de Jesus (1:5-2:52). Aparece um anjo ao idoso sacerdote Zacarias com a alegre notícia de que terá um filho a quem deverá dar o nome de João. Mas até que o menino nasça Zacarias não poderá falar. Segundo prometido, sua esposa Elisabete fica grávida, embora também seja ‘bem avançada em anos’. Cerca de seis meses mais tarde, o anjo Gabriel aparece a Maria e lhe diz que ela conceberá pelo “poder do Altíssimo” e dará à luz um filho que será chamado Jesus. Maria visita Elisabete, e, depois de um cumprimento alegre, declara exultantemente: “Minha alma magnifica a Jeová e meu espírito não pode deixar de estar cheio de alegria por Deus, meu Salvador.” Ela fala do santo nome de Jeová e de sua grande misericórdia para com os que o temem. Por ocasião do nascimento de João, a língua de Zacarias é solta para que também declare a misericórdia de Deus e que João será o profeta que preparará o caminho de Jeová. — 1:7, 35, 46, 47.
12. O que se declara sobre o nascimento e a infância de Jesus?
12 No tempo devido, Jesus nasce em Belém, e um anjo anuncia estas “boas novas duma grande alegria” aos pastores que vigiam os seus rebanhos de noite. Faz-se a circuncisão de acordo com a Lei, e então quando os pais de Jesus ‘o apresentam a Jeová’ no templo, o idoso Simeão e a profetisa Ana falam a respeito do menino. De volta a Nazaré, ele ‘continua a crescer e a ficar forte, estando cheio de sabedoria, e o favor de Deus continua com ele’. (2:10, 22, 40) À idade de 12 anos, numa visita a Jerusalém, vindo de Nazaré, Jesus surpreende os instrutores com o seu entendimento e suas respostas.
13. O que prega João, e o que acontece por ocasião do batismo de Jesus e imediatamente depois?
13 Preparação para o ministério (3:1-4:13). No 15.º ano do reinado de Tibério César, vem a declaração de Deus a João, filho de Zacarias, e ele sai “pregando o batismo em símbolo de arrependimento para o perdão de pecados”, para que toda carne ‘veja o meio salvador de Deus’. (3:3, 6) Quando todo o povo é batizado no Jordão, Jesus também é batizado, e, enquanto ora, desce sobre ele o espírito santo e seu Pai expressa do céu a sua aprovação. Jesus Cristo tem então cerca de 30 anos de idade. (Lucas fornece a sua genealogia.) Após o batismo, o espírito conduz Jesus pelo ermo por 40 dias. Ali o Diabo o tenta sem êxito e então se retira “até outra ocasião conveniente”. — 4:13.
14. Onde é que Jesus esclarece a sua comissão, qual é ela, e como reagem os seus ouvintes?
14 O ministério inicial de Jesus, mormente na Galiléia (4:14-9:62). Na sinagoga de Nazaré, sua cidade, Jesus esclarece a sua comissão, lendo e aplicando a si mesmo a profecia de Isaías 61:1, 2: “O espírito de Jeová está sobre mim, porque me ungiu para declarar boas novas aos pobres, enviou-me para pregar livramento aos cativos e recuperação da vista aos cegos, para mandar embora os esmagados, com livramento, para pregar o ano aceitável de Jeová.” (4:18, 19) O prazer inicial do povo com as suas palavras se transforma em ira ao passo que ele prossegue seu discurso, e procuram dar cabo dele. De modo que se transfere para Cafarnaum, onde cura muitas pessoas. Multidões seguem-no e procuram detê-lo, mas ele lhes diz: “Tenho de declarar as boas novas do reino de Deus também a outras cidades, porque fui enviado para isso.” (4:43) Ele passa a pregar nas sinagogas da Judéia.
15. Descreva o convite feito a Pedro, Tiago e João, e a Mateus.
15 Na Galiléia, Jesus provê Simão (também chamado Pedro), Tiago e João duma pescaria miraculosa. Ele diz a Simão: “Doravante apanharás vivos a homens.” De modo que abandonam tudo e o seguem. Jesus continua a orar e a ensinar, e ‘o poder de Jeová está presente para ele fazer curas’. (5:10, 17) Ele convida Levi (Mateus), um desprezado cobrador de impostos, que honra a Jesus com uma grande festa, assistida também por “uma grande multidão de cobradores de impostos.” (5:29) Isto resulta no primeiro de diversos confrontos com os fariseus que os deixam furiosos e eles tramam causar-lhe dano.
16. (a) Após o quê, escolhe Jesus os 12 apóstolos? (b) Que pontos são destacados por Lucas ao dar uma versão correspondente do Sermão do Monte?
16 Depois de passar a noite inteira orando a Deus, Jesus escolhe os 12 apóstolos de entre seus discípulos. Seguem-se mais obras de cura. Daí, ele profere o sermão registrado em Lucas 6:20-49, que corresponde, em forma abreviada, ao Sermão do Monte, em Mateus capítulos 5 a 7. Jesus traça o contraste: “Felizes sois vós, pobres, porque vosso é o reino de Deus. Mas, ai de vós ricos, porque já tendes plenamente a vossa consolação.” (6:20, 24) Ele admoesta seus ouvintes a amar seus inimigos, a serem misericordiosos, a praticar o dar, e a trazer para fora o que é bom do bom tesouro do coração.
17. (a) Que milagres realiza Jesus a seguir? (b) Como responde Jesus aos mensageiros de João, o Batizador, quanto a se ele é o Messias?
17 Ao retornar a Cafarnaum, Jesus recebe um pedido de certo oficial do exército para curar um escravo doente. Ele se sente indigno de ter Jesus sob o seu teto, e pede a Jesus que ‘diga a palavra’ de onde ele está. Conseqüentemente, o escravo é curado, e Jesus se sente impelido a comentar: “Eu vos digo: Nem mesmo em Israel tenho encontrado tamanha fé.” (7:7, 9) Pela primeira vez, Jesus ressuscita um morto, o filho único de uma viúva em Naim, de quem “teve pena”. (7:13) Ao passo que a notícia a respeito de Jesus se espalha pela Judéia, João, o Batizador, da prisão, manda perguntar-lhe: “És tu Aquele Que Vem?” Em resposta Jesus diz aos mensageiros: “Ide e relatai a João o que vistes e ouvistes: os cegos estão recebendo visão, os coxos estão andando, os leprosos estão sendo purificados e os surdos estão ouvindo, os mortos estão sendo levantados, os pobres são informados das boas novas. E feliz é aquele que não tropeçou por causa de mim.” — 7:19, 22, 23.
18. Com que ilustrações, obras e palavras de conselho prossegue a pregação do Reino?
18 Acompanhado dos 12, Jesus vai “de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e declarando as boas novas do reino de Deus”. Ele profere a ilustração do semeador, e conclui a palestra dizendo: “Portanto, prestai atenção a como escutais; pois a quem tiver, mais será dado, mas quem não tiver, até mesmo o que imagina ter lhe será tirado.” (8:1, 18) Jesus continua a realizar obras maravilhosas e milagres. Dá também aos 12 autoridade sobre os demônios e o poder de curar doenças e os envia “a pregar o reino de Deus e a curar”. Cinco mil pessoas são miraculosamente alimentadas. Jesus é transfigurado no monte e, no dia seguinte, sara um menino possesso de demônio a quem os discípulos não conseguiram curar. Ele acautela os que o querem seguir: “As raposas têm covis e as aves do céu têm poleiros, mas o Filho do homem não tem onde deitar a cabeça.” Para a pessoa ser apta para o Reino de Deus, ela deve colocar as mãos no arado e não olhar para trás. — 9:2, 58.
19. Como ilustra Jesus o verdadeiro amor ao próximo?
19 O ministério posterior de Jesus na Judéia (10:1-13:21). Jesus envia mais 70 à “colheita”, e eles ficam cheios de alegria com o êxito de seu ministério. Enquanto Jesus prega, um homem, querendo mostrar-se justo, pergunta-lhe: “Quem é realmente o meu próximo?” Em resposta, Jesus profere a ilustração do samaritano prestativo. Certo homem, que jazia semimorto à beira da estrada por ter sido espancado por salteadores, é ignorado por um sacerdote e por um levita que passam por ali. Um desprezado samaritano é quem pára, trata ternamente de seus ferimentos, carrega-o no seu próprio animal, leva-o a uma hospedaria e paga para que se tome conta dele. Sim, é “aquele que agiu misericordiosamente para com ele” que se fez o próximo. — 10:2, 29, 37.
20. (a) Que ponto acentua Jesus à Marta e à Maria? (b) Que ênfase dá ele à oração?
20 Na casa de Marta, Jesus a repreende brandamente por estar ansiosa demais pelas tarefas domésticas, e elogia Maria por escolher a melhor parte, sentando-se e ouvindo a sua palavra. Ensina a seus discípulos a oração-modelo e também a necessidade de persistência em oração, dizendo: “Persisti em pedir, e dar-se-vos-á; persisti em buscar, e achareis.” Mais tarde expulsa demônios e declara felizes “os que ouvem a palavra de Deus e a guardam”. Durante uma refeição, ele entra em conflito com os fariseus por causa da Lei, e profere ais sobre eles por terem tirado “a chave do conhecimento”. — 11:9, 28, 52.
21. Que aviso dá Jesus contra a cobiça, e o que insta a seus discípulos?
21 Estando novamente com as multidões, alguém insta com Jesus: “Dize a meu irmão que divida comigo a herança.” Jesus vai ao âmago do problema, replicando: “Mantende os olhos abertos e guardai-vos de toda sorte de cobiça, porque mesmo quando alguém tem abundância, sua vida não vem das coisas que possui.” Daí, ele profere a ilustração do homem rico que derrubou seus celeiros para construir maiores, só para morrer naquela mesma noite e deixar a sua riqueza para outros. Jesus destaca concisamente o ponto: “Assim é com o homem que acumula para si tesouro, mas não é rico para com Deus.” Após instar seus discípulos a buscar primeiro o Reino de Deus, Jesus lhes diz: “Não temas, pequeno rebanho, porque aprouve a vosso Pai dar-vos o reino.” Curar ele no sábado uma mulher que estivera doente por 18 anos, resulta em mais conflitos com seus opositores, que são envergonhados. — 12:13, 15, 21, 32.
22. Mediante que ilustrações apropriadas instrui Jesus a respeito do Reino?
22 O ministério posterior de Jesus, mormente na Peréia (13:22-19:27). Jesus emprega ilustrações vívidas ao chamar a atenção de seus ouvintes ao Reino de Deus. Mostra que os que buscam preeminência e honra serão rebaixados. Que aquele que oferece uma refeição convide os pobres, que não têm como retribuir; será feliz e se lhe “pagará de volta na ressurreição dos justos”. A seguir, há a ilustração do homem que oferece uma lauta refeição noturna. Um após o outro, os convidados apresentam desculpas: um comprou um campo, outro comprou algumas cabeças de gado e ainda outro acaba de tomar uma esposa. Irado, o dono da casa manda trazer “os pobres, e os aleijados, e os cegos, e os coxos”, e declara que nenhum dos primeiramente convidados nem sequer “provará” a sua refeição. (14:14, 21, 24) Ele profere a ilustração da ovelha perdida que é encontrada, dizendo: “Eu vos digo que assim haverá mais alegria no céu por causa de um pecador que se arrepende, do que por causa de noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.” (15:7) A ilustração da mulher que varre a casa para recuperar uma moeda de dracma destaca um ponto similar.f
23. O que se ilustrou no relato sobre o filho pródigo?
23 Jesus fala então sobre o filho pródigo que pediu ao pai a sua parte dos bens e daí esbanjou-a “por levar um vida devassa”. Vindo a estar em grande necessidade, o filho caiu em si e voltou à casa para apelar para a misericórdia de seu pai. Seu pai, penalizado, “correu e lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou ternamente”. Providenciou-se roupa boa, preparou-se uma lauta refeição, e “principiaram a regalar-se”. Mas o irmão mais velho objetou. Com benignidade, seu pai o corrigiu: “Filho, tu sempre estiveste comigo e todas as minhas coisas são tuas; mas nós simplesmente tivemos de nos regalar e alegrar, porque este teu irmão estava morto, e voltou a viver, e estava perdido, mas foi achado.” — 15:13, 20, 24, 31, 32.
24. Que verdades enfatiza Jesus na ilustração do rico e Lázaro, bem como na do fariseu e o cobrador de impostos?
24 Ao ouvir a ilustração do mordomo injusto, os fariseus, amantes do dinheiro, escarnecem do ensino de Jesus, mas ele lhes diz: “Vós sois os que vos declarais justos perante os homens, mas Deus conhece os vossos corações; porque aquilo que é altivo entre os homens é uma coisa repugnante à vista de Deus.” (16:15) Mediante a ilustração do rico e Lázaro, mostra quão grande é o precipício estabelecido entre os favorecidos e os desaprovados por Deus. Jesus adverte os discípulos de que haverá causas para tropeço, mas “ai daquele por meio de quem vêm!” Fala das dificuldades que sobrevirão ‘quando o Filho do homem for revelado’. “Lembrai-vos da mulher de Ló”, diz-lhes ele. (17:1, 30, 32) Por meio de uma ilustração, assegura que Deus certamente agirá em favor dos que “clamam a ele dia e noite”. (18:7) Daí, mediante outra ilustração, ele censura os autojustos: um fariseu, orando no templo, agradece a Deus que ele não é como os outros homens. Um cobrador de impostos, de pé à distância, nem sequer disposto a levantar os olhos para o céu, ora: “Ó Deus, sê clemente para comigo pecador.” Como Jesus avalia isso? Ele declara o cobrador de impostos mais justo do que o fariseu, “porque todo o que se enaltecer será humilhado, mas quem se humilhar será enaltecido”. (18:13, 14) Jesus é recebido como hóspede, em Jericó, pelo cobrador de impostos Zaqueu, e profere a ilustração das dez minas, contrastando o resultado de a pessoa fielmente usar os interesses que lhe são confiados com o de a pessoa escondê-los.
25. Como empreende Jesus o estágio final de seu ministério, e que avisos proféticos faz?
25 Ministério público final em Jerusalém e nas imediações (19:28-23:25). Quando Jesus entra em Jerusalém montado num jumentinho e é aclamado pela multidão de discípulos como sendo “Aquele que vem como Rei em nome de Jeová”, os fariseus pedem-lhe que os repreenda. Jesus replica: “Se estes permanecessem calados, as pedras clamariam.” (19:38, 40) Profere a sua memorável profecia sobre a destruição de Jerusalém, dizendo que ela será cercada com estacas pontiagudas, afligida, e, junto com seus filhos, despedaçada contra o chão, e que não se deixará pedra sobre pedra. Jesus ensina o povo no templo, declarando as boas novas e respondendo às perguntas sutis dos principais sacerdotes, dos escribas e dos saduceus, por meio de ilustrações e argumentos hábeis. Jesus fornece uma descrição vigorosa do grande sinal do fim, mencionando novamente o cerco de Jerusalém por exércitos acampados. Os homens ficarão desalentados de temor das coisas que sobrevirão, mas quando essas coisas ocorrerem, seus seguidores deverão ‘erguer-se e levantar a cabeça, porque o seu livramento estar-se-á aproximando’. Devem manter-se despertos para serem bem sucedidos em escapar do que está destinado a ocorrer. — 21:28.
26. (a) Que pactos anuncia Jesus, e com que os relaciona? (b) Como é Jesus fortalecido quando em tribulação, e que censura profere na ocasião em que o prendem?
26 Chegamos a 14 de nisã de 33 EC. Jesus celebra a Páscoa e daí anuncia “o novo pacto” a seus apóstolos fiéis, relacionando isto com a refeição simbólica que lhes ordena observar em memória dele. Ele lhes diz também: “Eu faço convosco um pacto, assim como meu Pai fez comigo um pacto, para um reino.” (22:20, 29) Naquela mesma noite, enquanto Jesus ora no monte das Oliveiras, ‘aparece-lhe um anjo do céu e o fortalece. Mas, ficando em agonia, continua a orar mais seriamente; e seu suor torna-se como gotas de sangue caindo ao chão’. A situação fica mais tensa à medida que Judas, o traidor, conduz a turba para prender Jesus. Os discípulos clamam: “Senhor, devemos golpeá-los com a espada?” Um deles decepa a orelha do escravo do sumo sacerdote, mas Jesus os censura e cura o homem ferido. — 22:43, 44, 49.
27. (a) Em que falha Pedro? (b) Que acusações são lançadas contra Jesus, e sob que circunstâncias é julgado e sentenciado?
27 Jesus é levado às pressas à casa do sumo sacerdote para interrogatório, e no frio da noite Pedro se mistura com a multidão ao redor do fogo. Em três ocasiões ele é acusado de ser seguidor de Jesus, e três vezes ele o nega. Daí, o galo canta. O Senhor volta-se e olha para Pedro, e Pedro, lembrando-se de como Jesus havia predito precisamente isso, sai e chora amargamente. Após ser arrastado ao Sinédrio, Jesus é então conduzido perante Pilatos e acusado de subverter a nação, proibir o pagamento de impostos, e ‘dizer que ele mesmo é Cristo, um rei’. Pilatos, ao saber que Jesus é galileu, envia-o a Herodes, que por acaso está em Jerusalém na ocasião. Herodes e seus guardas se divertem às custas de Jesus e o mandam de volta para um julgamento diante de uma turba exaltada. Pilatos ‘entrega Jesus à vontade deles’. — 23:2, 25.
28. (a) O que promete Jesus ao ladrão que demonstra fé nele? (b) O que registra Lucas a respeito da morte, do sepultamento e da ressurreição de Jesus?
28 Morte, ressurreição e ascensão de Jesus (23:26-24:53). Jesus é pregado na estaca entre dois malfeitores. Um deles escarnece de Jesus, mas o outro demonstra fé e pede para ser lembrado no Reino dele. Jesus promete: “Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso.” (23:43) Daí, se abate uma escuridão incomum, a cortina do santuário rasga-se pelo meio, e Jesus clama: “Pai, às tuas mãos confio o meu espírito.” Com isto, expira, e seu corpo é retirado e deitado num túmulo escavado na rocha. No primeiro dia da semana, as mulheres que vieram com ele da Galiléia vão ao túmulo, mas não encontram o corpo de Jesus. Assim como ele próprio predissera, ressuscitou ao terceiro dia! — 23:46.
29. Com que relato alegre conclui o Evangelho de Lucas?
29 Aparecendo sem se identificar a dois de seus discípulos na estrada para Emaús, Jesus fala sobre os seus sofrimentos e interpreta-lhes as Escrituras. Subitamente eles o reconhecem, mas ele desaparece. Comentam então: “Não se nos abrasavam os corações quando nos falava na estrada, ao nos abrir plenamente as Escrituras?” Voltam depressa a Jerusalém para contar isto aos outros discípulos. Enquanto ainda estão falando sobre essas coisas, Jesus aparece no seu meio. Eles não conseguem acreditar de tanta alegria e admiração. Então, ‘abre-lhes plenamente a mente para que compreendam’ pelas Escrituras o significado de tudo que acontecera. Lucas conclui o seu Evangelho com a descrição da ascensão de Jesus ao céu. — 24:32, 45.
POR QUE É PROVEITOSO
30, 31. (a) Como edifica Lucas confiança nas Escrituras Hebraicas como sendo inspiradas por Deus? (b) Que palavras de Jesus cita Lucas em apoio disso?
30 As boas novas “segundo Lucas” edificam confiança na Palavra de Deus e fortalecem a fé para suportar as fustigações de um mundo que nos é estranho. Lucas fornece muitos exemplos de cumprimentos exatos das Escrituras Hebraicas. Jesus é apresentado como tirando sua comissão em termos específicos do livro de Isaías, e Lucas parece usar isso como tema em todo o livro. (Luc. 4:17-19; Isa. 61:1, 2) Essa foi uma das ocasiões em que Jesus citou dos Profetas. Ele também citava da Lei, como na ocasião em que rejeitou as três tentações do Diabo, e dos Salmos, como ao perguntar a seus adversários: “Como é que dizem que o Cristo é filho de Davi?” O relato de Lucas contém muitas outras citações das Escrituras Hebraicas. — Luc. 4:4, 8, 12; 20:41-44; Deut. 8:3; 6:13, 16; Sal. 110:1.
31 Quando Jesus entrou em Jerusalém montado num jumentinho, segundo predito em Zacarias 9:9, as multidões o aclamaram alegremente, aplicando-lhe o texto de Salmo 118:26. (Luc. 19:35-38) Num lugar, dois versículos de Lucas são suficientes para abranger seis pontos que as Escrituras Hebraicas profetizaram a respeito da morte ignominiosa de Jesus e de sua ressurreição. (Luc. 18:32, 33; Sal. 22:7; Isa. 50:6; 53:5-7; Jon. 1:17) Finalmente, após sua ressurreição, Jesus inculcou poderosamente nos discípulos a importância das inteiras Escrituras Hebraicas. “Disse-lhes então: ‘Estas são as minhas palavras que vos falei enquanto ainda estava convosco, que todas as coisas escritas na lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos, a respeito de mim, têm de se cumprir.’ Abriu-lhes então plenamente as mentes para que compreendessem o significado das Escrituras.” (Luc. 24:44, 45) Semelhantes àqueles primeiros discípulos de Jesus Cristo, nós também podemos ser esclarecidos e obter forte fé, prestando atenção aos cumprimentos das Escrituras Hebraicas, tão precisamente explicados por Lucas e pelos demais escritores das Escrituras Gregas Cristãs.
32. Como o relato de Lucas frisa o Reino, e qual deve ser a nossa atitude para com o Reino?
32 Em toda a sua narrativa, Lucas indica de modo contínuo o Reino de Deus ao seu leitor. Do início do livro, em que o anjo promete a Maria que o filho a quem ela dará à luz “reinará sobre a casa de Jacó para sempre, e não haverá fim do seu reino”, aos capítulos finais, em que Jesus fala sobre introduzir os apóstolos no pacto para o Reino, Lucas frisa a esperança do Reino. (1:33; 22:28, 29) Apresenta Jesus tomando a dianteira na pregação do Reino e enviando os 12 apóstolos, e mais tarde os 70, para fazerem essa mesma obra. (4:43; 9:1, 2; 10:1, 8, 9) A unicidade de devoção necessária para poder entrar no Reino é acentuada pelas oportunas palavras de Jesus: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos, mas tu, vai e divulga o reino de Deus”, e: “Ninguém que tiver posto a mão num arado e olhar para as coisas atrás é bem apto para o reino de Deus.” — 9:60, 62.
33. Dê exemplos da ênfase de Lucas à oração. Que lição podemos tirar disso?
33 Lucas enfatiza a questão da oração. Seu Evangelho é notável neste respeito. Fala da multidão que orava enquanto Zacarias se achava no templo; de João, o Batizador, ter nascido em resposta a orações por um filho e de Ana, a profetisa, orar noite e dia. Descreve Jesus orando por ocasião de seu batismo, passar ele a noite inteira em oração antes de escolher os 12 e a sua oração durante a transfiguração. Jesus admoesta os seus discípulos a “sempre orarem e . . . nunca desistirem”, ilustrando esse ponto por meio de uma viúva persistente que continuamente recorria a certo juiz até que ele lhe fez justiça. Somente Lucas fala do pedido dos discípulos para que Jesus lhes ensinasse a orar e do anjo que fortaleceu a Jesus, enquanto ele orava no monte das Oliveiras; e só ele registra as palavras da oração final de Jesus: “Pai, às tuas mãos confio o meu espírito.” (1:10, 13; 2:37; 3:21; 6:12; 9:28, 29; 18:1-8; 11:1; 22:39-46; 23:46) Como na época em que Lucas registrou seu Evangelho, assim também hoje a oração é uma provisão vital para fortalecer todos os que estão fazendo a vontade divina.
34. Que qualidades de Jesus acentua Lucas como excelente precedente para os cristãos?
34 Tendo mente profundamente observadora e estilo fluente e descritivo, Lucas confere ardor e vivacidade ao ensino de Jesus. O amor, a benignidade, a misericórdia e a compaixão de Jesus para com os fracos, os oprimidos e os desprezados se revelam em nítido contraste com a religião fria, formal, restritiva e hipócrita dos escribas e dos fariseus. (4:18; 18:9) Jesus dá constante encorajamento e ajuda aos pobres, aos cativos, aos cegos, e aos esmagados, fornecendo assim esplêndido precedente para os que procuram ‘seguir de perto os seus passos’. — 1 Ped. 2:21.
35. Por que podemos ser realmente gratos a Jeová por Sua provisão do Evangelho de Lucas?
35 Assim como Jesus, o perfeito Filho de Deus que fazia maravilhas, manifestou preocupação amorosa por seus discípulos e todas as pessoas sinceras, nós também devemos esforçar-nos a realizar nosso ministério com amor, sim, “por causa da terna compaixão de nosso Deus”. (Luc. 1:78) Para este fim as boas novas “segundo Lucas” são deveras de muito proveito e ajuda. Podemos realmente ser gratos a Jeová por ter inspirado Lucas, “o médico amado”, a escrever este relato exato, edificante e encorajador, apresentando a salvação por intermédio do Reino às mãos de Jesus Cristo, “o meio salvador de Deus”. — Col. 4:14; Luc. 3:6.
[Nota(s) de rodapé]
a The Medical Language of Luke, 1954, W. K. Hobart, páginas xi-xxviii.
b A Lawyer Examines the Bible, 1943, I. H. Linton, página 38.
d Modern Discovery and the Bible, 1955, A. Rendle Short, página 211.
e The Jewish War, V, 491-515, 523 (xii, 1-4); VI, 420 (ix, 3); veja também Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3, páginas 239-40.
f A dracma era uma moeda grega de prata que pesava cerca de 3,4 g.