A Bíblia — escrita por homens, contudo, mensagem de Deus
1. Do ponto de vista humano, que espécie de homens eram os escritores da Bíblia?
A Bíblia foi escrita por cerca de quarenta homens, durante um período de uns dezesseis séculos. Estes homens eram imperfeitos, sujeitos a fraquezas e erros. Como homens, não diferiam em nada das outras pessoas. Um deles, Paulo, disse a homens que encaravam erroneamente a ele e seu companheiro missionário Barnabé como deuses: “Nós também somos humanos, tendo os mesmos padecimentos que vós.” (Atos 14:15) Do ponto de vista humano, muitos dos escritores bíblicos não eram homens de grande erudição e capacidade. Entre eles havia homens muito comuns, homens com ocupações tais como pastores e pescadores.
2. Como foi possível que homens imperfeitos produzissem um registro que na realidade é a “palavra” de Deus?
2 Então, como foi possível que tais homens imperfeitos produzissem um registro que na realidade é mensagem de Deus? Não escreveram de seu próprio impulso, mas foram inspirados por Deus. “Toda a Escritura é inspirada por Deus”, disse o apóstolo Paulo a respeito da parte das Escrituras Sagradas disponível no seu tempo. — 2 Tim. 3:16.
3, 4. Por que são potencialmente perigosas as dúvidas sobre a inspiração da Bíblia?
3 Talvez aceite a Bíblia como sendo a Palavra inspirada de Deus. Mas, quão forte é sua aceitação? Suportaria uma prova? O profeta Jeremias disse: “A palavra de Jeová tornou-se para mim uma causa para vitupério e para troça, o dia inteiro.” (Jer. 20:8) Estaria disposto a sofrer ultrajes verbais, maus tratos físicos e até mesmo a morte por causa dela? Sob a pressão do sofrimento e da oposição, até mesmo as dúvidas mais ligeiras a respeito da inspiração da Palavra de Deus podem dar margem para dúvidas maiores, minando a fé e enfraquecendo a resistência da pessoa à tentação. (Tia. 1:6) No entanto, se estiver realmente convencido de que a Bíblia é a Palavra de Deus e que viver segundo ela é a única coisa certa a fazer, estará em situação muito melhor para suportar a pressão e resistir a adotar um proceder de conveniência.
4 Quem raciocinar que a Bíblia — pelo menos em parte — talvez seja simplesmente produto do raciocínio humano, poderá tentar justificar sua desconsideração do que ela diz na tentativa de escapar de dificuldades. Contudo, ao fazer isso, na realidade poderá sacrificar a perspectiva de vida eterna. Jesus Cristo disse: “Todo aquele que buscar manter a sua alma a salvo para si mesmo, perdê-la-á, mas todo aquele que a perder, preservá-la-á viva.” (Luc. 17:33) Portanto, é muito mais do que de interesse passageiro considerar agora como a Bíblia, livro escrito por homens, é realmente a Palavra de Deus. Nossa própria vida está envolvida nisso.
COMO OS ESCRITORES BÍBLICOS RECEBERAM SUA INFORMAÇÃO
5. Que papel desempenhava o ditado direto na produção do registro bíblico?
5 Entre os “muitos modos” usados para transmitir a mensagem de Deus aos homens na terra estava o ditado direto. (Heb. 1:1, 2) As partes ditadas da Bíblia incluem os Dez Mandamentos (também supridos em forma escrita em duas tábuas de pedra) e todas as outras leis e regulamentos no pacto de Deus com os israelitas. Jeová Deus transmitiu este pacto da Lei mediante anjos. (Atos 7:53) Depois, mandou-se a Moisés: “Escreve para ti estas palavras.” (Êxo. 34:27) Outros profetas, além de Moisés, também receberam mensagens específicas, e estas foram depois assentadas por escrito. (Por exemplo, veja 2 Samuel 7:5-16; Isaías 7:3-9 e Jeremias 7:1-34.) Estas mensagens específicas usualmente foram proferidas pelo anjo representativo de Deus. — Gên. 31:11-13.
6. Descreva a natureza dos sonhos, das visões e dos transes, e seu papel na transmissão da mensagem de Deus aos homens.
6 Às vezes, Jeová Deus fazia uso de sonhos, visões e transes, para comunicar sua mensagem aos humanos. (Núm. 12:6; 1 Sam. 3:4-14; 2 Sam. 7:17; Dan. 9:20-27) Em caso de sonhos ou “visões noturnas”, sobrepunha-se à mente da pessoa adormecida um quadro animado que transmitia a mensagem ou o propósito de Deus. Outros que tinham visões estavam plenamente acordados e a informação gravava-se na mente consciente deles em forma pictórica. (Mat. 17:2-9; Luc. 9:32) Algumas visões eram dadas à pessoa depois de ela cair em transe. Embora consciente, a pessoa ficava tão absorta na visão, que não se apercebia de nada em volta dela. (Atos 10:10-16; 11:5-10) Depois, os escritores bíblicos que recebiam informações por meios tais como sonhos, visões ou transes, tinham de escolher palavras e expressões para descrever em termos significativos o que haviam visto. — Hab. 2:2; Rev. 1:1, 11.
7. Como obtiveram os escritores bíblicos a informação para as partes históricas?
7 Uma parte considerável da Bíblia narra história — o que se passou com pessoas, famílias, tribos e nações. Como obtiveram os escritores bíblicos esta informação? Às vezes presenciaram os próprios acontecimentos que registraram. Muitas vezes, porém, tiveram de recorrer a outras fontes, consultando relatos históricos e genealogias já existentes, ou mesmo pessoas em condições de fornecer informação fidedigna, de primeira mão ou de outro modo. Isto exigia pesquisa extensa e cuidadosa da parte do escritor. Esdras, sacerdote e copista perito, usou cerca de vinte fontes documentárias para compilar os dois livros de Crônicas. O médico Lucas, escrevendo a respeito de seu Evangelho, observou: “Tendo pesquisado todas as coisas com exatidão, desde o início, resolvi escrevê-los . . . em ordem lógica.” (Luc. 1:3) A matéria histórica (contida em Gênesis e no livro de Jó) a respeito da origem do homem e dos primitivos acontecimentos, palestras nos céus invisíveis, e coisas assim, foi revelada por Deus quer aos escritores, quer inicialmente a outros. Quando dada a conhecer a pessoas que não eram os escritores, deve ter sido transmitida verbalmente ou em forma escrita até a ocasião em que se tornou parte do registro bíblico.
8. Qual era a fonte de muitas declarações sábias e de grande parte do conselho encontrado na Bíblia?
8 A Bíblia contém, além de história, uma abundância de declarações e conselhos sábios. Os escritores recorriam às suas próprias experiências e às de outros, segundo o fundo de estudo e de aplicação das Escrituras que tinham disponíveis. Lemos na Bíblia vez após vez declarações que ilustram isso. O salmista Davi declarou a respeito do que tinha visto quanto ao cuidado de Deus para com seus servos: “Fui moço, e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.” (Sal. 37:25, Almeida, atualizada) O escritor sábio de Eclesiastes, Salomão, filho de Davi, concluiu à base do que havia observado: “Para o homem não há nada melhor do que comer, e deveras beber, e fazer sua alma ver o que é bom por causa do seu trabalho árduo. Isto também tenho visto, sim eu, que isto procede da mão do verdadeiro Deus.” (Ecl. 2:24) O arranjo da matéria baseada na experiência humana exigia do escritor esforço diligente. Isto se evidencia em Eclesiastes 12:9, 10, onde lemos: “O congregante se tornara sábio, ele ensinou também ao povo continuamente o conhecimento, e ponderou e fez uma investigação cabal, a fim de pôr em ordem muitos provérbios. O congregante procurou achar palavras deleitosas e a escrita de palavras corretas de verdade.”
O PAPEL DO ESPÍRITO DE DEUS
9. Significa o envolvimento de muito esforço humano na escrita da Bíblia que as Escrituras Sagradas são a mensagem de Deus apenas de modo limitado?
9 Visto que a escrita da Bíblia envolvia tanto esforço humano, significa isso que a Bíblia é a Palavra de Deus apenas de modo limitado? São apenas as partes divinamente ditadas que constituem a mensagem de Deus? Não, porque toda a Bíblia, não apenas partes dela, é inspirada por Deus. Isto se dá porque Jeová Deus, por meio de sua força ativa ou espírito, orientou os escritores da Bíblia. Reconhecendo isso, o salmista Davi declarou: “Foi o espírito de Jeová que falou por meu intermédio, e a sua palavra estava na minha língua.” — 2 Sam. 23:2.
10. Ilustre o que se quer dizer com a expressão ‘Palavra de Deus’, conforme se relaciona com matéria bíblica.
10 A “palavra” de Deus na língua de Davi não era uma única “palavra”, mas sim uma mensagem composta. Isto se torna claro do modo em que a Bíblia usa o termo “palavra”. Por exemplo, um dos ajudantes do profeta Eliseu disse ao chefe do exército israelita, Jeú: “Tenho uma palavra para ti, ó chefe.” (2 Reis 9:5) Esta palavra mostrou ser a mensagem de Deus. Nomeava Jeú como a escolha de Deus para o reinado do reino das dez tribos de Israel e o comissionava para executar o julgamento contra a casa real de Acabe. (2 Reis 9:6-10) De modo similar, com evidente referência a uma mensagem e não a uma única “palavra”, lemos em Jeremias 23:29: “‘Não é a minha palavra correspondentemente como um fogo’, é a pronunciação de Jeová, ‘e como o malho que despedaça o rochedo?’” Nenhuma única “palavra” pode ter tal efeito devastador, mas sim uma mensagem vigorosa, quando posta em vigor. Como usou Deus seu espírito para pôr mensagens tão poderosas na mente dos escritores da Bíblia e para garantir que continuassem a ser Sua “palavra”?
11. Como se dá que a profecia bíblica não “procede de qualquer interpretação particular”?
11 A Bíblia nos informa a respeito do papel que o espírito de Deus desempenhava com relação à profecia: “Nenhuma profecia da Escritura procede de qualquer interpretação particular. Porque a profecia nunca foi produzida pela vontade do homem, mas os homens falaram da parte de Deus conforme eram movidos por espírito santo.” (2 Ped. 1:20, 21) Isto significa que a profecia bíblica não era o resultado da própria análise e interpretação do escritor quanto aos eventos humanos e tendências atuais e do que pensava em que iam resultar. Antes, a mente do escritor foi estimulada pelo espírito de Deus e induzida a expressar a mensagem inspirada, em geral, nas suas próprias palavras. De modo que as palavras eram as do escritor, mas a mensagem era a de Jeová Deus.
12. Que papel desempenhava o espírito de Deus em orientar o registro de acontecimentos passados?
12 Mas, não se escreveu a matéria que se tornou parte da Bíblia muitas vezes anos depois de ocorrerem os acontecimentos descritos? Sim, isto é verdade, por exemplo, a respeito dos relatos sobre o ministério terrestre de Jesus. Não obstante, o espírito de Deus era responsável pela produção dum registro exato. Isto se evidencia nas palavras de Jesus aos seus discípulos: “O ajudador, o espírito santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar todas as coisas que eu vos disse.” (João 14:26) Portanto, o espírito de Deus era responsável pela recordação exata da informação incluída no registro bíblico.
13. Que evidência há de que o espírito de Deus orientou a seleção de matéria que foi incluída na Bíblia?
13 Jeová Deus, por meio de seu espírito, cuidou também que aquilo que era registrado fosse segundo o seu propósito, provendo instrução essencial aos desejosos de ser e permanecer seus servos aprovados. Orientou a seleção da matéria a ser incluída. É por isso que o apóstolo Paulo pôde dizer: “Todas as coisas escritas outrora foram escritas para a nossa instrução, para que, por intermédio da nossa perseverança e por intermédio do consolo das Escrituras tivéssemos esperança.” (Rom. 15:4) E com referência específica ao que aconteceu com os israelitas no tempo de Moisés ele observou: “Estas coisas lhes aconteciam como exemplos [“em figura”, Mateus Hoepers] e foram escritas como aviso para nós, para quem já chegaram os fins dos sistemas [judaicos] de coisas.” — 1 Cor. 10:11.
14. “Montou” Jeová Deus a encenação de acontecimentos que envolviam a transgressão dos israelitas, para que tais coisas fossem registradas como aviso para os cristãos? Explique isso.
14 Não devemos concluir disso que, em cada caso, Deus agiu como grande “Dramaturgo”, encenando deliberadamente acontecimentos que proveriam exemplos dos quais seus servos em tempos posteriores pudessem tirar lições de aviso e encorajamento. Não, mas assim como nos acontecimentos mencionados pelo apóstolo, os israelitas reagiam às situações segundo sua própria escolha e desejo, quando caíam vítimas de murmurações, idolatria e fornicação. (1 Cor. 10:1-10) Visto que os israelitas eram o povo pactuado de Deus, cederem à tentação reforça a advertência dada a seguir pelo apóstolo: “Quem pensa estar de pé, acautele-se para que não caia.” — 1 Cor. 10:12.
15. Como mostra a carta de Judas que o espírito de Deus orientou a seleção da matéria?
15 Portanto, em vez de causar muitos destes acontecimentos, Jeová Deus simplesmente deixou que muitas situações se desenvolvessem no seu rumo natural e depois fez com que os escritores registrassem aquilo de que Deus sabia que seria de valor no futuro. Que a seleção de matéria para o registro bíblico de fato foi orientada pelo espírito de Deus é bem ilustrado no caso da carta do discípulo Judas. Judas tencionava originalmente escrever sobre a salvação que os cristãos ungidos pelo espírito têm em comum. No entanto, sob a influência do espírito de Deus, discerniu que os concrentes precisavam de outra coisa para lidar com a situação com que se confrontavam. Explicando o motivo de ele se desviar de sua intenção original, escreveu: “Amados, embora eu tivesse feito todo esforço para vos escrever a respeito da salvação que temos em comum, achei necessário escrever-vos para vos exortar a travardes uma luta árdua pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos. A minha razão é que se introduziram sorrateiramente certos homens que há muito têm sido designados pelas Escrituras para este julgamento, homens ímpios, que transformam a benignidade imerecida de nosso Deus numa desculpa para conduta desenfreada e que se mostram falsos para com o nosso único Dono e Senhor, Jesus Cristo.” (Judas 3, 4) O que Judas apresentou a seguir, sob a direção do espírito de Deus, foi exatamente o que os concrentes necessitavam para resistir às influências corrompedoras.
16. Tomavam os escritores bíblicos às vezes a iniciativa em apresentar matéria? Explique isso.
16 Significa a orientação do espírito de Deus para a escolha de matéria para a narrativa bíblica que os envolvidos na escrita não tomavam nenhuma iniciativa pessoal quanto ao assunto de sua escrita? Não; muitas vezes tinham certos fins em mira e escreveram concordemente. Responderam a certas perguntas ou tentaram esclarecer pontos que haviam dado margem a mal-entendidos. Um exemplo disso é a segunda carta do apóstolo Paulo à congregação em Tessalônica. Alguns naquela congregação haviam concluído erroneamente que a presença de Jesus Cristo, no poder régio, era iminente. Também, havia uns que não tinham tomado a peito seu conselho anterior de ‘trabalharem arduamente e andarem decentemente para com os de fora da congregação’. A segunda carta de Paulo tocou nisso e revelou o conceito cristão correto sobre estes pontos. (1 Tes. 4:10-12; 2 Tes. 2:1-3; 3:10-15) Visto que os escritores bíblicos, tais como Paulo, eram dóceis para com a orientação do espírito de Deus, o que escreveram estava em plena harmonia com o propósito de Deus e por isso fidedigno.
OPINIÕES HUMANAS — COM OU SEM APOIO DIVINO?
17, 18. Como devemos entender as declarações do apóstolo Paulo sobre ‘dar a sua própria opinião’?
17 Mas, que dizer das ocasiões em que os escritores bíblicos pareciam expressar a sua própria opinião? Por exemplo, tome as seguintes declarações do apóstolo Paulo: “Aos outros digo eu, sim, eu, não o Senhor . . .” “Agora, concernente às virgens, não tenho mandado da parte do Senhor, mas dou a minha opinião.” “Ela [a viúva] será mais feliz, porém, se permanecer assim como está [quer dizer, sem se casar], segundo a minha opinião. Acho certamente ter também o espírito de Deus.” (1 Cor. 7:12, 25, 40) O que queria Paulo dizer com tais declarações?
18 O apóstolo não podia citar um ensino direto do Senhor Jesus Cristo sobre os pontos em consideração e por isso expressava sua “opinião”. No entanto, escrevia sob a direção do espírito de Deus, e, por isso, sua opinião tinha orientação divina e expressava o conceito do próprio Deus. Isto é confirmado por ter o apóstolo Pedro classificado as cartas de Paulo junto com as demais Escrituras, dizendo: “Considerai a paciência de nosso Senhor como salvação, assim como vos escreveu também o nosso amado irmão Paulo, segundo a sabedoria que lhe foi dada, falando destas coisas, como faz também em todas as suas cartas. Nelas, porém, há algumas coisas difíceis de entender, as quais os não ensinados e instáveis estão deturpando, assim como fazem também com o resto das Escrituras, para a sua própria destruição.” — 2 Ped. 3:15, 16.
19. Em que sentido é a Bíblia a mensagem de Deus?
19 Assim se pode ver que a Bíblia, como um todo, é a “palavra” ou mensagem de Deus, visto que tudo foi registrado sob a direção de seu espírito para servir seu propósito e apresentar os assuntos fatualmente. Sempre que a Bíblia cita as declarações de homens ou narra o que fizeram sob certas circunstâncias, os textos bíblicos circundantes esclarecem se o proceder deles deve ser imitado ou evitado, se o raciocínio deles deve ser aceito ou rejeitado.
20. Explique como alguém poderia usar a Bíblia de tal modo, que atribuísse a Deus os conceitos de homens imperfeitos.
20 Tome como exemplo o livro de Jó. Grandes partes daquele livro tratam dos conceitos errôneos expressos pelos três companheiros de Jó e às vezes pelo próprio Jó. Tais conclusões erradas e aplicações errôneas dos fatos claramente não foram inspiradas por Deus. Como ilustração disso, Elifaz, companheiro de Jó, acusou Deus erroneamente: “Não confia nem nos seus santos, e os próprios céus não são realmente puros aos seus olhos.” (Jó 15:15) Jeová Deus repreendeu mais tarde a Elifaz e seus companheiros pelas deturpações deles. Disse a Elifaz: “Minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois companheiros, pois não falastes a verdade a meu respeito assim como fez meu servo Jó.” (Jó 42:7) Ao passo que Elifaz e seus companheiros obviamente não foram inspirados por Deus, o escritor do livro de Jó foi orientado pelo espírito de Deus para fazer um registro exato de suas declarações. Este registro serve para identificar e expor raciocínios errados sobre por que Deus permite a iniqüidade. Portanto, como um todo, é a palavra ou mensagem inspirada de Deus. Não obstante, isso mostra que temos de ter cuidado ao citarmos certas partes da Bíblia. Se tiradas de seu contexto correto em que se enquadram, algo que na realidade é o conceito de homens imperfeitos pode ser erroneamente atribuído a Deus.
A SABEDORIA DE DEUS REVELADA NO USO DE HOMENS PARA REGISTRAR SUA PALAVRA
21. Se Jeová Deus tivesse usado anjos para escrever a Bíblia inteira, teria ela sido realmente mais valiosa para nós, homens imperfeitos?
21 Usar Deus homens para registrar a sua “palavra” é evidência de sua grande sabedoria em fornecer exatamente o que nós, homens imperfeitos, precisamos. Ele poderia ter usado anjos. Mas, teria sua “palavra” tido o mesmo atrativo? É verdade que os anjos poderiam ter relatado por escrito as maravilhosas qualidades de Deus e seus grandiosos tratos. Poderiam ter transmitido a profundeza de sua própria devoção a ele e seu apreço das ilimitadas dádivas dele. Mas, não teria sido difícil para nós, homens imperfeitos, associar-nos com um registro que apresentasse as expressões de criaturas espirituais perfeitas, cuja experiência e conhecimento são muito superiores aos nossos? A vida no domínio deles não poderia ter sido retratada pelo que nós conhecemos como vida — as alegrias dela junto com seus temores, desapontamentos e tristezas. Portanto, por ele usar homens, Jeová Deus cuidou de que sua “palavra” tivesse cordialidade, variedade e atrativo que só o toque humano podia dar.
22. Se faltasse completamente o elemento humano na Bíblia, que problemas de entendimento teríamos talvez?
22 Se faltasse completamente o elemento humano na Bíblia, talvez também tivéssemos grande dificuldade em entender sua mensagem. Talvez fosse também difícil de compreender como nós, homens imperfeitos, pudéssemos obter uma condição aprovada perante o Criador. Por exemplo, se o registro apenas nos dissesse que ‘Deus é misericordioso’, não bastaria para nos fazer compreender exatamente o que isto significa. Nós, humanos, necessitamos de que tais assuntos nos sejam expressos em termos que possamos compreender. Por ter sido escrita por homens, a Bíblia fornece ilustrações concretas da vida real, apresentando-as do ponto de vista humano. Ela nos fala sobre homens que, embora conhecendo a lei de Deus, sucumbiram a fraquezas e tornaram-se culpados de sérias transgressões, sendo que os relatos às vezes nos fornecem as próprias palavras das pessoas, quanto a como se sentiam e como reagiam. Ao mesmo tempo, aprendemos até que ponto se lhes mostrou misericórdia.
23, 24. Conte o que aconteceu com Davi com relação a Bate-Seba, e mostre o que aprendemos disso sobre Jeová Deus.
23 Tome o caso do Rei Davi. Ele se mostrara homem de notável fé. Mas, então, certas circunstâncias resultaram em ele se tornar vítima dum desejo errado. Davi passou a sentir-se atraído à esposa de Urias, o hitita, homem que lealmente apoiava a realeza de Davi. Deixou que seu desejo crescesse, e ele trouxe realmente a esposa de Urias, Bate-Seba, ao seu palácio. Embora talvez nem pensasse em ter relações sexuais com ela, suas paixões foram estimuladas ao ponto em que cometeu adultério. Sabendo que Bate-Seba se tornara grávida em resultado disso, apressou-se em ocultar isso por tentar fazer Urias voltar para casa e ter relações com sua esposa. Quando isso fracassou, Davi ficou desesperado. Só parecia haver um modo de impedir que Bate-Seba ficasse exposta como tendo adulterado com ele, e este era tirar o marido do caminho e depois tomá-la como sua própria esposa. Davi providenciou, assim, que Urias ficasse exposto numa posição em que morreria quase com certeza na batalha. Urias foi morto, e Davi tomou então a enviuvada Bate-Seba por esposa. — 2 Sam. 11:2-27.
24 Quando o profeta Natã lhe expôs o seu grave erro, Davi sentiu-se compungido no coração e expressou a mais profunda tristeza pelo seu pecado. Exclamou: “Pequei contra Jeová.” (2 Sam. 12:13) Vendo o arrependimento de coração de Davi, Jeová o aceitou, e, embora o punisse, não o rejeitou como seu servo. Portanto, não foi exagero quando Davi disse num de seus salmos: “Tu, porém, ó Jeová, és um Deus misericordioso e clemente, vagaroso em irar-se e abundante em benevolência e veracidade.” — Sal. 86:15.
25. O que aprendemos sobre a misericórdia de Jeová em vista de seus tratos com os israelitas no tempo de Jeremias?
25 Por outro lado, a Bíblia nos fala sobre os habitantes infiéis de Jerusalém, nos dias de Jeremias. O povo, como um todo, havia feito ouvidos de mercador às repetidas exortações ao arrependimento. Persistiram em desafio na prática do que era contra a lei. Por isso, Jeová Deus cortou sua misericórdia, retirando deles sua proteção e permitindo que sofressem uma terrível calamidade às mãos dos babilônios. Recusou-se até mesmo a escutar seus clamores desesperados por ajuda. Por quê? Porque permaneceram impenitentes. Sobre isso, o profeta Jeremias escreveu: “Com ira impediste a aproximação e continuas a perseguir-nos. Mataste; não tiveste compaixão. Com uma massa de nuvem impediste a aproximação a ti, para que não passasse nenhuma oração.” — Lam. 3:43, 44.
26. Como nos ajudam os exemplos da vida real a conhecer a Jeová?
26 Contra o fundo de tais ilustrações da vida real, não podemos deixar de obter um quadro equilibrado da espécie de Deus que Jeová é e como lidará conosco. Não importa quão séria seja a transgressão cometida por homens imperfeitos, eles podem obter o perdão de Deus se realmente se arrependerem. Mas, se continuarem impenitentemente a violar as ordens justas dele, não escaparão do Seu julgamento adverso. Visto que a Bíblia revela o amplo alcance da personalidade de Deus em termos com que se pode apelar para nós humanos imperfeitos, podemos realmente chegar a conhecê-lo como pessoa.
27. Como pode o modo em que a Bíblia foi escrita servir para testar corações?
27 O modo em que a Bíblia foi escrita tem servido para revelar o que há no coração das pessoas. (Heb. 4:12) Os que querem achar o que parecem ser falhas e contradições na Bíblia, poderão encontrá-las. Um motivo disso é que a Bíblia não especifica todos os pormenores. Muitas vezes, ela relata raciocínios, palavras e ações de pessoas sem expressar qualquer aprovação ou desaprovação direta. Este é o motivo pelo qual alguns, ao lerem certo trecho, questionam se Deus foi realmente justo e eqüitativo no que fez. Depois usam isso como desculpa para não fazer mudanças no seu modo de vida, recomendadas pela Bíblia. Isto está em harmonia com o propósito de Deus, de ter por servos aprovados apenas os que realmente o amam e apreciam pelo que ele é. — Deu. 30:11-20; 1 João 4:8-10; 5:2, 3.
28. Que conceito sobre aparentes contradições formarão os que apreciam o valor da Bíblia? Ilustre isso.
28 No entanto, quem tiver dado séria consideração à Bíblia e tiver mesmo sentido quão maravilhosa ela é para orientar o modo de vida, não toma o que parecem ser contradições no empenho de desacreditá-la como mensagem de Deus para o homem. Não se cega para com aparentes problemas. De modo algum. Dá-se conta de que a Bíblia é uma unidade harmoniosa, e por isso tem cuidado para não desconsiderar o contexto em que a Bíblia, como um todo, apresenta determinado acontecimento ou situação. Como ilustração, digamos que tenha um bom amigo sobre quem sabe que é bom pai, homem que realmente cuida do bem-estar de seus filhos. Se soubesse que ele puniu severamente seu filho, concluiria disso imediatamente que nisso não tinha absolutamente nenhuma justificativa ou razão? Naturalmente que não; por causa de seu conhecimento dele, raciocinaria que ele deve ter tido motivos válidos para lidar com a situação do modo como fez. De modo similar, a Bíblia fornece bastante informação sobre a personalidade, os modos e tratos de Jeová, para habilitar-nos a saber que espécie de Deus ele é. Portanto, mesmo quando os pormenores não são especificados em dada situação, por que se deveria ficar perturbado, pensando que Deus não é amoroso, misericordioso ou justo? Fazer isso seria repudiar a evidência abundante na Bíblia como um todo, de que ele é Deus amoroso, misericordioso e justo. — Êxo. 34:6, 7; Isa. 63:7-9.
29. Por que não devemos ficar surpresos de encontrar algumas aparentes contradições na Bíblia?
29 Há ainda outro motivo pelo qual devemos esperar que a Bíblia contenha diferenças menores, aparentes contradições, ao tratar de matéria similar. Tome as narrativas sobre o ministério terrestre de Jesus. Foram escritas por quatro homens. Dos três, cuja profissão conhecemos, um era médico instruído, outro era cobrador de impostos e o terceiro era pescador. Visto que Jeová Deus não simplesmente ditou o que estes homens deviam escrever, mas só os orientou por meio de seu espírito, para garantir a exatidão do que registravam, naturalmente haveria variações. Cada escritor poderia ter incluído muito mais informação do que fez. Um deles, o apóstolo João, disse até mesmo: “De certo, Jesus efetuou muitos outros sinais, também diante dos discípulos, os quais não estão escritos neste rolo.” (João 20:30) De modo que as narrativas evangélicas são muito condensadas, encontrando-se numa delas pormenores que faltam em outra. Em vez de se contradizerem, as narrativas complementam-se mutuamente, ajudando-nos a obter um quadro mais completo. Ao mesmo tempo, as variações fornecem prova adicional de que a Bíblia é fidedigna. De que modo? Em que demonstram que não houve conluio entre os escritores, nem trama entre eles para apresentarem uma história fictícia.
30. Em conexão com a Bíblia, por que não há motivo para tergiversar sobre diferenças menores?
30 Portanto, realmente não há motivo para alguém envolver-se em tergiversação sobre assuntos menores. Não importa quão erudito ou bem instruído seja, realmente não está em condições para julgar assuntos que não presenciou pessoalmente. E mesmo que tivesse estado ali na cena, também apresentaria um relato enfatizando aspectos um pouco diferentes do que viu e ouviu. Na realidade, uma avaliação honesta das narrativas evangélicas torna claro que estes quatro testemunhos separados harmonizam-se em confirmar uma verdade vital: Jesus Cristo é o Filho de Deus. — João 20:31.
FOI A MENSAGEM DE DEUS TRANSMITIDA DE MODO FIDEDIGNO?
31. Que pergunta surge em vista da inexistência de manuscritos bíblicos originais?
31 A mensagem de Deus, conforme contida nos quatro Evangelhos e no restante da Bíblia, não foi preservada na forma de manuscritos originais. Os manuscritos originais pereceram há muito, quer pelo uso, quer pelos efeitos deteriorantes do tempo. Então, como podemos ter certeza de que a mensagem de Deus não foi deturpada depois de muitos séculos de copiar e recopiar?
32. O que diz a própria Bíblia sobre a qualidade duradoura da mensagem de Deus, e o que exigiu isso para a sua preservação?
32 A própria Bíblia traz à atenção a qualidade duradoura da “palavra” de Deus. Lemos em Isaías 40:8: “Secou-se a erva verde, murchou a flor; mas, quanto à palavra de nosso Deus, ela durará por tempo indefinido.” Para estas palavras serem verazes em gerações futuras, seria necessário que a “palavra” de Deus ficasse livre de deturpações. Se ela se tornasse indigna de confiança por causa duma abundância de erros humanos em copiá-la, deixaria de ser a mensagem de Deus. Mas, há qualquer evidência de que a “palavra” de Deus perdurou em forma fidedigna? Certamente que sim!
33. Como procediam os copistas da Bíblia, em geral, com o seu trabalho?
33 Os que copiavam as Escrituras Sagradas usavam de muito cuidado. No seu trabalho, muitos dos escribas das Escrituras Hebraicas não só contavam as palavras que copiavam, mas também as letras. Sempre que se achava o mínimo erro — a escrita errada duma única letra — toda aquela parte era cortada fora e substituída por outra nova, sem defeito. Tornou-se costume dos escribas ler cada palavra em voz alta antes de escrevê-la. Escrever mesmo uma só palavra de memória era considerado por muitos um grave pecado. Os copistas das Escrituras Cristãs, embora nem sempre profissionais, fizeram um trabalho igualmente cuidadoso. Em resultado, é notável quão poucos erros ocorreram, e mesmo os feitos não afetavam substancialmente a mensagem.
34. O que indicam os estudos comparativos dos antigos manuscritos sobre a fidedignidade do texto bíblico como o temos hoje?
34 Os estudos comparativos de milhares de manuscritos bíblicos antigos, inclusive de alguns de uns 2.000 anos de idade, revelam que o texto deve ter sido transmitido com exatidão. A respeito do texto das Escrituras Hebraicas, o erudito W. U. Green observou: “Pode-se dizer com segurança que nenhuma outra obra da antiguidade foi transmitida com tanta exatidão.” O bem conhecido erudito Sir Frederic Kenyon, na introdução de seus sete volumes sobre os “Papiros Bíblicos de Chester Beatty”, declarou:
“A primeira e mais importante conclusão a que se chega à base do exame deles [os papiros] é a satisfatória de que confirmam a exatidão essencial dos textos existentes. Não aparece nenhuma variação substancial ou fundamental quer no Velho quer no Novo Testamento. Não há nenhumas omissões ou adições importantes de trechos nem variações que afetem fatos ou doutrinas vitais. As variações do texto afetam questões menores, tais como a ordem das palavras ou as palavras precisas usadas . . . Mas a sua importância essencial é sua confirmação da integridade de nossos textos existentes pela evidência duma data anterior à disponível até agora.”
De modo similar, no seu livro A Bíblia e a Arqueologia (em inglês) ele observou:
“O intervalo, então, entre as datas da composição original e a mais antiga evidência existente se torna tão pequeno que é com efeito insignificante, e a última base para qualquer dúvida de que as Escrituras chegaram até nós substancialmente como foram escritas foi agora removida. Tanto a autenticidade como a integridade geral dos livros do Novo Testamento podem ser consideradas como finalmente estabelecidas.”
35. Que efeito pode a Bíblia ter hoje sobre nós?
35 Deveras, a mensagem de Deus, conforme escrita por homens sob a orientação do espírito dele, permaneceu em forma fidedigna até o dia de hoje. A preservação fidedigna não foi sem objetivo. A própria mensagem pode ter um profundo efeito para o bem sobre os que a aceitam como vinda de Deus. Até mesmo hoje, as palavras dirigidas aos cristãos em Tessalônica podem ser aplicadas a centenas de milhares de pessoas em toda a terra: “Quando recebestes a palavra [ou mensagem] de Deus, que ouvistes de nós, vós a aceitastes, não como a palavra de homens, mas, pelo que verazmente é, como a palavra de Deus, que também está operando em vós, crentes.” (1 Tes. 2:13) Iguais aos tessalonicenses, muitos estão hoje dispostos a sofrer pela sua aderência fiel às Sagradas Escrituras, convencidos de que estas são realmente a “palavra” inspirada de Deus. (1 Tes. 2:14-16) Está igualmente convencido? Opera esta “palavra” ou mensagem em você, leitor? Tira proveito dela na sua vida diária?
[Fotos nas páginas 526-527]
Deus deu os Dez Mandamentos em forma escrita
Anjos falaram aos homens a palavra de Deus
O espírito de Deus orientou a seleção de fatos de registros anteriores
Enquanto bem despertos, profetas receberam visões de Deus
Mensagens divinas foram transmitidas por meio de sonhos