‘Seja Feita a Tua Vontade na Terra’ — Parte 25 da série
No terceiro ano de Ciro, rei do vasto Império Persa dos séculos seis, cinco e quatro de antes de Cristo, Daniel, o profeta de Jeová, recebeu a sua última visão, por meio dum anjo, a qual Daniel descreve para nós nos capítulos onze e doze do seu, livro profético. Primeiro, a visão profética predisse o desaparecimento do Império Persa, a quarta potência mundial da história bíblica. Fracassaria em vencer a Grécia. De fato, cairia por fim diante da Grécia, porque, segundo disse o anjo, “levantar-se-á um rei poderoso, que reinará com grande domínio e fará o que lhe aprouver”. (Dan. 11:3) Este rei grego foi o famoso Alexandre, o Grande. Ele estabeleceu o Império Grego, a quinta potência mundial da história bíblica.
12. Por quanto tempo usufruiu Alexandre o domínio do mundo, e quando foi quebrantado o seu reino?
12 “O domínio do mundo por parte de Alexandre foi de curta duração. O anjo de Jeová predisse isso: “Quando se levantar, o seu reino será quebrado, e se repartirá para os quatro ventos do céu, porém não para a sua posteridade, nem segundo o seu domínio com que reinou; porque o seu reino será arrancado, até para outros fora destes.” (Dan. 11:4) No auge da sua carreira, com apenas trinta e três anos, Alexandre, que bebia demais, foi abatido pela malária, em Babilônia, em 323 A. C., e assim fracassaram os seus planos de fazer desta cidade biblicamente condenada a sua capital mundial. Seu vasto império, na Europa, na Ásia Menor, na Ásia, no Oriente Médio e no Egito foi espalhado para os quatro ventos do céu. Seu corpo foi transportado para o Egito e enterrado em Alexandria pelo seu General Ptolomeu, sátrapa do Egito.
13. Como se mostrou verdadeira a profecia de que o reino não seria repartido entre a sua posteridade?
13 O império não passou para a posteridade de Alexandre. Ele deixara em Macedônia um irmão incompetente, Filipe Arideu. Este governou por menos de sete anos, e depois foi assassinado pela sua própria mãe, em 317 A. C. O filho legítimo que Alexandre teve de Roxane, Alexandre Allou, sucedeu-lhe e governou por cerca de seis anos. Em 311 A. C., ele também teve morte violenta das mãos de um dos generais de seu pai, Cassandro, que usurpou então o trono da Macedônia e da Grécia. O filho ilegítimo de Alexandre, Héracles, assumiu o governo em nome de seu ai, mas foi assassinado em 309 A. C. Com ele extinguiu-se em sangue a linhagem de Alexandre, o grande derramador de sangue. O domínio apartara-se de sua casa. A profecia angélica provou ser verdadeira.
14. De que modo estava o reino de Alexandre por um tempo dividido “para os quatro ventos do céu”, e como foi isto mais tarde reduzido a três?
14 O Império Alexandrino foi arrancado para que governassem homens que não eram da posteridade de Alexandre. Seus generais brigaram entre si e se apoderaram de territórios; e o reino quebrantado estava por um tempo dividido em quatro partes, “para os quatro ventos do céu”. O caolho General Antígono tentou estabelecer-se como senhor de toda a Ásia e assumiu por fim o título de rei, afirmando ser o herdeiro de Alexandre, o Grande. Ele teve de enfrentar a confederação dos outros três generais oponentes, Cassandro, Seleuco e Lisímaco. ble caiu na batalha contra eles, em Ipso, na Frígia, na Ásia Menor, em 301 A. C. Os quatro impérios helênicos resultantes foram (1) o do General Cassandro, em Macedônia e na Grécia; (2) o do General Lisímaco, na Ásia Menor e na Trácia européia, incluindo Bizâncio; (3) o do General Seleuco Nicator (o Vencedor), que dominou a Babilônia, a Média, a Síria, a Pérsia e as províncias ao leste, até o rio Indo, e (4) o do General Ptolomeu Lago, que se garantiu o Egito, a Líbia, a Arábia e a Palestina, e Celessíria. Em poucos anos extinguiu-se a descendência masculina do General Cassandro, e, em 285 A. C., o General Lisímaco tomou posse da parte européia do Império Macedônio. No entanto, em 277 A. C., Antígono Gônatas, neto do caolho General Antígono, apoderou-se do trono da Macedônia. Isto reduziu os impérios helênicos a três, até que a Macedônia se tornou dependente de Roma, em 168 A. C., e acabou sendo província romana, em 146 A. C.
15. Como se tornou o General Seleuco o Vencedor, senhor dos territórios asiáticos, e que cidades de interesse apostólico fundou ele?
15 Em 281 A. C., o General Lisímaco caiu na batalha diante do General Seleuco Nicator e assim deixou Seleuco no domínio quase absoluto dos territórios asiáticos. Seleuco tornou-se o fundador dos selêucidas ou casa dos reis selêucidas da Síria. Pouco depois da batalha decisiva de Ipso, ele fundou a cidade de Antioquia na Síria, chamando-a segundo o seu pai, Antíoco. Como porto marítimo para ela fundou a cidade costeira de Seleucia. Séculos depois, Paulo, o apóstolo cristão, usou o porto marítimo de Seleucia e ensinou a verdade cristã em Antioquia da Síria, onde os seguidores de Jesus foram pela primeira vez chamados de cristãos. — Atos 11:25-27; 13:1-4.
16. Para onde transferiu Seleuco a sua capital, e que grande guerra se iniciou com ele, conforme descrita nesta visão final?
16 Seleuco transferiu a sede de seu governo de Babilônia para a sua nova capital síria, Antioquia. Êle foi assassinado em 280 A. C. A dinastia selêucida de reis que lhe seguiu continuou em poder até 64 A. C., quando o general romano Pompeu transformou a Síria em província romana. Muito antes de morrer, Seleuco deu ao seu filho Antíoco I a soberania sobre todas as terras além do rio Eufrates, e o título de rei. Foi com o Rei Seleuco Nicator que se iniciou a longa guerra entre o “rei do norte” e o “rei do sul” mencionados na Bíblia. Previdentemente, o anjo de Jeová deixou de mencionar os nomes do “rei do norte” e do “rei do sul”, porque a nacionalidade e a identidade política destes “dois reis” mudam no decorrer dos séculos e até se tornam de vital importância para nós hoje, neste século vinte da Era Cristã.
A RIVALIDADE ENTRE OS DOIS REIS
17. Com relação a quem se achavam estes dois reis ao norte e ao sul?
17 O anjo de Jeová começou então a narrar muitos pormenores sobre a guerra de longa duração: “E o rei do sul tornar-se-á forte, sim, aquele que é um dos seus príncipes; mas outro se tornará forte contra ele, e governará; domínio grande será o seu domínio.” (Dan. 11:5, Leeser, em inglês) Este “rei do sul” está ao sul de quê, e o “rei do norte” está ao norte de quê? Estão ao norte e ao sul do povo de Daniel, o qual, no tempo desta visão dada a Daniel, já tinha sido liberto de Babilônia e restaurado à terra de Judá.
18. Quem foi em pessoa este “rei do sul” de Daniel 11:5, e que linhagem de governantes estabeleceu ele?
18 Quem foi, em pessoa, este “rei do sul” de Daniel 11:5? Ele é um dos “príncipes” ou chefes militares de Alexandre, o Grande, a saber, Ptolomeu I, filho de Lagos. Ele foi, de fato, um dos oito guarda-costas de Alexandre. Foi feito sátrapa do Egito, mas assumiu em 306 A. C. o título de rei, imitando o caolho General Antígono. Êle foi o primeiro de treze ou quatroze reis ou faraós macedônios do Egito. Segundo o seu nome, ele estabeleceu a linhagem ptolomaica de governantes do Egito. Por volta de 312 A. C., ele capturou Jerusalém num dia de sábado. Persuadiu os judeus a virem para o sul, ao Egito, como colonos, e uma colônia deles foi estabelecida em Alexandria. Junto com seu filho e sucessor ele participou na fundação da famosa biblioteca e museu de Alexandria. A província judaica da Judéia ficou sob o controle do Egito ptolomaico ou do “rei do sul”, até 198 A. C., quando o “rei do norte” assumiu o controle. Ptolomeu I invadiu diversas vezes o território sírio do Rei Seleuco.
19. Quem foi em pessoa o príncipe que ‘se tornou forte contra ele’? Que papel desempenhou ele, bem como seus sucessores?
19 Quem é, então, o outro príncipe ou chefe militar de Alexandre, de quem o anjo disse que “se tornará forte contra ele” e cujo domínio seria um “domínio grande”? É o General Seleuco Nicator; que assume assim o papel de “rei do, norte”. Na sua morte foi sucedido pelo seu filho Antíoco I (Soter ou Salvador). Este rei não é mencionado na profecia do anjo, pois ele morreu lutando, não contra o “rei do sul”, mas contra os gálatas da Ásia Menor. Foi sucedido por seu filho Antioco II, que veio a ser chamado de Theós ou “Deus”. Ele se casou com uma mulher chamada Laódice, e a seu filho mais velho, que teve por ela, deu o nome de seu avô, Seleuco.
20. Quem era a filha deste “rei do sul”, e que tradução mandou iniciar seu pai?
20 Mas, que importância tem isso anjo disse: “Ao cabo de anos eles se aliarão um com o outro; e a filha do rei do sul virá ao rei do norte para ajustar um acordo. Ela, porém, não reterá a força do seu braço; nem subsistirá ele, nem o seu braço. Mas será ela entregue, e bem assim os que a trouxeram, e o que a gerou, e o que a fortaleceu [a tomou por sua, Al, nova revisão] nesses tempos.” (Dan. 11:6) Quem é esta “filha do rei do sul”? É Berenice, filha de Ptolomeu II (Filadelfo) do Egito. Segundo a tradição, este rei egípcio mostrou bondade para com seus súditos judeus e providenciou o início da tradução das inspiradas Escrituras Hebraicas para o grego. Isto resultou por fim na famosa Versão dos Setenta grega, usada pelos cristãos de língua grega no primeiro século da Era Cristã.
21. Segundo o acordo, o que foi feito com esta filha do rei do sul, e que resultou disso?
21 O Rei Ptolomeu II travou duas guerras com o “rei do norte”, sírio, Antíoco II (Theos). No ano 250 A. C., os dois reis entraram num acordo de paz. Em retribuição desta aliança ou “acordo”, o rei sírio do norte, Antíoco II, tinha de se casar com Berenice, filha do Rei Ptolomeu II. Mas Antíoco II já estava casado com Laódice. Assim se viu obrigado a divorciar-se desta a fim de se casar com a egípcia Berenice. Berenice deu a Antíoco II da Síria um filho, que se tornou o herdeiro do trono do “rei do norte”, com a exclusão dos filhos de sua primeira esposa, Laódice.
22. De que modo não subsistiu o “braço” de Berenice, e como foram ‘entregues’ tanto ela, como os que a trouxeram e aquele que a tomou por sua?
22 O “braço” ou poder sustentador de Berenice foi o seu pai, o Rei Ptolomeu II. Portanto, quando ele morreu, em 246-7 A. C., Berenice ‘não reteve a força do seu braço’ junto de seu esposo, o Rei Antíoco II da Síria. Ele a repudiou e tomou de volta a sua primeira esposa, Laódice, nomeando seu filho mais velho Seleuco Calínico, sucessor do trono sírio. A calamidade sobreveio então a todas as relações de Berenice, conforme predito pela profecia. Não somente seu pai, “seu braço”, não perdurou, mas tampouco a ‘descendência dele’, ela mesma. Ela, junto com seu filho, foram entregues para serem mortos, às instâncias de Laódice. Os que a trouxeram, evidentemente os seus serviçais que a trouxeram do Egito para a Síria, sofreram também. Isto não apaziguou Laódice. Sem dúvida foi ela, segundo se diz, quem envenenou Antíoco II (Theos), que a tomara de volta. Que fim para um “deus”! Isto era evidentemente para impedir que fosse novamente divorciada. De modo que o pai de Berenice, que a gerou, e seu marido sírio, que a tomou por sua, por algum tempo, estavam ambos mortos. Isto deixou o filho mais velho de Laódice, Seleuco II, como sucessor legítimo de seu pai ao trono sírio. Isto, certamente, não serviu para fortalecer a causa da paz.
23. Quem foram as “raízes” de Berenice?
23 Haveria uma reação a isso, predisse o anjo, dizendo: “Mas dum rebento das raízes dela um se levantará no seu lugar, e virá ao exercito, e entrará na fortaleza do rei do norte, e procederá contra eles, e prevalecerá.” (Dan. 11:7) As ‘raízes’ de Berenice foram naturalmente seus pais, Ptolomeu II (Filadelfo) e sua irmã esposa, Arsinoé.
24. Como se levantou ‘um rebento das raízes dela’, entrando na fortaleza do rei do norte e prevalecendo nos tratos com os dali?
24 O específico ‘rebento das raízes dela’, que se levantou em lugar de seu pai, foi seu irmão, que então se tornou “rei do sul” como Ptolomeu III alcunhado de Evérgeta (“Benfeitor”). Ele começou a ‘levantar-se’ ao morrer seu pai, por assumir a autoridade como rei. Empreendeu imediatamente vingar o assassínio de sua irmã Berenice na capital riria de Antioquia. Ele avançou com um exército contra o rei sírio, Seleuco II Calínico, a quem sua mãe Laódice usara para assassinar Berenice e o filho pequeno dela. Ptolomeu III entrou na fortaleza do rei do norte e causou a morte da rainha-mãe Laódice. Além disso, ele invadiu a Síria, capturou a parte fortificada dá cidade capital, Antioquia, e também o seu porto de mar, Seleucia. Avançou então para o leste, através do “domínio grande” do rei do norte e saqueou Babilônia e Susa, continuou a sua marcha para o leste até o litoral da Índia. Assim foi tirado do trono sírio o sanguinário Seleuco II.
25. Como exterminou ele uma afronta religiosa, e por causa disso, que nome ganhou para si?
25 Que o rei do sul exterminaria também uma afronta religiosa, foi predito pelo anjo de Jeová: “lambem os deuses deles, juntamente com as suas imagens fundidas e com os seus vasos preciosos de prata e de ouro, ele os levará cativos para o Egypto; por alguns annos deixará em paz ao rei do norte.” (Dan. 11:8) Mais de duzentos anos antes, durante os dias do Faraó Psamético III, o rei persa Cambises, da quarta potência mundial, conquistara o Egito e levara para casa, em triunfo, os deuses vencidos do Egito, “suas imagens fundidas”. Agora, ao saquear Susa, ex-capital real da Pérsia, e Babilônia, o vitorioso rei do sul, Ptolomeu III, recuperou os deuses deportados do antigo Egito e os arrebatou dos ladrões dos templos. Levou-os de volta à sua pátria. Isto lhe mereceu o nome de Evérgeta ou Benfeitor da parte dos egípcios gratos.
26. Por que foi que ‘por alguns anos deixou em paz ao rei do norte’, e o que levou ele consigo de volta para casa?
26 Foram dificuldades internas no sul, no Egito, que chamaram o vencedor Ptolomeu III de volta à terra do Nilo. Vendo-se obrigado a sufocar uma revolta na pátria, foi impedido de se aproveitar dos seus êxitos sobre o rei do norte. Por isso desistiu de infligir prejuízos adicionais ao rei setentrional. Além dos deuses roubados do Egito, Ptolomeu III trouxe de volta como despojo de guerra nada menos de 2.500 “vasos preciosos de prata e de ouro”. Como ele morreu em 221 A. C., se de modo natural ou por ser assassinado, não é conhecido. A história diverge nesta questão. Mas ele sobreviveu ao rei sírio Seleuco II, de quem se tinha vingado.
27. Por que voltou o rei do norte depois de entrar no reino do rei do sul?
27 Aproveitando-se desta situação, o que fez o rei do norte? O anjo o predisse: “Este entrará no reino do rei do sul, mas voltará para a sua terra.” (Dan. 11:9) O humilhado Seleuco II contra-atacou em vingança. Ele veio para o sul, invadindo o domínio do rei do sul, mas sofreu derrota. Em fuga vergonhosa, apenas com um pequeno resto do seu exército, ele se retirou para a sua capital síria, Antioquia, em 242 A. C. Seu apelido Calínico, “o Gloriosamente Triunfante”, mostrou ser mal aplicado. Ele morreu antes de seu humilhador, Ptolomeu IIl do Egito, e foi sucedido pelo seu filho Seleuco III, apelidado de Ceraunos (“Raio”). O homicídio acabou repentinamente com o reinado deste filho, que durou menos de três anos. Seu irmão sucedeu-lhe no trono sírio como Antíoco III e veio a ser chamado de “Grande”.
28, 29. (a) Que aconteceu ao filho mais velho deste rei do norte? (b) Como foi que o filho mais jovem veio, inundou, passou e voltou, travando a guerra?
28 O anjo profetizou sobre estes dois filhos do rei sírio Seleuco II Calínico: “Seus filhos intervirão, e reunirão grande número de exércitos: e um deles virá apressadamente, e inundará, e passará; e, voltando, levará a guerra até à sua fortaleza.” — Dan. 11:10, Al.
29 Um dos filhos, Seleuco III (Ceraunos), morreu sob a arma dum assassino enquanto se achava numa campanha na parte ocidental da Ásia Menor. Seu irmão, o outro filho, Antíoco III, o Grande, reuniu grandes forças para um assalto ao reino do rei do sul, que então era Ptolomeu IV, apelidado de Filopator. O novo rei do norte Antíoco III, entrou finalmente em conflito com a ascendente potência de Roma. Mas, primeiro guiou as suas forças militares para recuperar os ganhos egípcios, e ele recuperou o porto marítimo de Seleucia, também a província de Celessíria (Síria Cava), e as cidades litorâneas de Tiro e Ptolemaida, bem como as cidades vizinhas. Ele derrotou o primeiro exército egípcio que Ptolomeu IV mandou contra ele. Tomou também muitas cidades da província da Judéia na Palestina. Durante o inverno, o vitorioso Antíoco III aquartelou-se com seus 60.000 guerreiros em Ptolemaida, cerca de quarenta quilômetros ao sul de Tiro. Na primavera seguinte (217 A. C.) ‘voltou até a sua fortaleza’.
(Continua)