A norma de julgamento
“Esta é uma prova do julgamento justo de Deus, resultando em serdes contados dignos do reino de Deus, pelo qual, deveras, estais sofrendo.” — 2 Tes. 1:5.
1. Que contrastes marcaram o ministério de João Batista?
JOÃO BATISTA iniciou seu ministério por pregar: “Arrependei-vos, pois o reino dos céus se tem aproximado.” Não perdeu tempo em reunir discípulos junto de si que partilhassem as bênçãos do seu ministério, preparando-os para serem “contados dignos do reino de Deus”. Ao mesmo tempo, disse aos indignos líderes religiosos que era impendente um tempo de juízo, que “o machado já está posto à raiz das árvores” e que aquele que viria ‘ajuntaria seu trigo no celeiro, mas a palha queimaria em fogo inextinguível’. — Mat. 3:1, 2, 7-12; 2 Tes. 1:5.
2. O que significa uma norma, e como foi que Jesus começou uma em seu ministério?
2 Aquele que viria, Jesus, logo que ouviu dizer que João fora preso, começou a pregar a mesma mensagem: “Arrependei-vos, pois o reino dos céus se tem aproximado.” (Mat. 4:12, 17) Ali começou a formular a norma de julgamento, elaborando um projeto harmonioso, governado por um propósito fixo, pois é isso que é uma norma. O primeiro elemento, o todo-importante elemento tempo, foi assinalado pela pregação da mensagem do Reino. Como Jesus disse ao conduzir a palestra para a ilustração do homem rico e Lázaro: “A Lei e os Profetas existiram até João. Dali em diante, o reino de Deus está sendo declarado como boas novas.” — Luc. 16:16.
3. Segundo registrado em Lucas 16:17, 18, que dois elementos então utilizou Jesus?
3 Jesus então passou a usar dois outros elementos, dizendo primeiro: “Mais fácil é passarem céu e terra do que passar sem cumprimento uma só partícula duma letra da Lei.” Então acrescentou: “Todo aquele que se divorciar de sua esposa e se casar com outra, comete adultério, e quem se casar com uma mulher divorciada do marido, comete adultério.” (Luc. 16:17, 18) É improvável que seus ouvintes observassem qualquer ligação entre estas duas declarações. Com efeito, não foi senão depois de a congregação cristã ter os escritos inspirados do apóstolo Paulo que a situação ficou clara. A luz desses escritos, podemos atualmente examinar aqueles dois elementos e avaliar seu ideado propósito.
4. De que modo cumpriu Jesus a Lei, levando a que realidades e a que resultado final?
4 Jesus não só guardou a Lei pela obediência perfeita aos requisitos dela; mas também a cumpriu. Como disse certa vez: “Não vim destruir, mas cumprir”, também afirmando que até à última ‘partícula duma letra . . . tudo tear de se cumprir’. (Mat. 5:17, 18) Paulo escreveu que a Lei era “sombra [ou, “representação típica”] das coisas vindouras, mas a realidade pertence ao Cristo”. (Col. 2:17; Heb. 8:5; 10:1) Em sua vida e em sua morte sacrificial, Jesus fez que ocorressem as grandes realidades. Uma das provisões essenciais da Lei era a do sacrifício pelos pecados, especialmente os no dia de expiação. Não obstante, tais sacrifícios animais “nunca podem tirar completamente os pecados. Mas, este homem [Jesus] ofereceu um só sacrifício pelos pecados, perpetuamente”, por dar a sua vida perfeita na morte. (Heb. 10:11, 12) Sua morte lançou o alicerce para tremendas mudanças, com grandes benefícios para os que exercerem fé nisso, começando com os membros judaicos da classe de “Lázaro”. Tendo cumprido suas provisões, então, diz Paulo, aquele anterior pacto da Lei foi removido e pregado na estaca de tortura em que Jesus foi pendurado. (Col. 2:14) Mas, que ligação tinha isso com o seguinte elemento, com a observação de Jesus a respeito do divórcio e do adultério?
5. Com que ilustração mostra Paulo que alguns foram “exonerados” da Lei?
5 Tendo aceitàvelmente ‘se oferecido a Deus sem mácula’, Jesus se tornou “mediador dum novo pacto”. (Heb. 9:14, 15) Paulo explica que antes disso os judeus estavam obrigados ao seu pacto da Lei como “a mulher casada está amarrada por lei ao seu marido enquanto ele viver . . . Mas, se o seu marido morrer, ela está livre da lei dele, de modo que não é adúltera caso se tornar de outro homem. Assim, meus irmãos, vós também fostes mortos para com a Lei, por intermédio do corpo de Cristo, para que vos tornásseis de outro, daquele que foi levantado dentre os mortos, a fim de que déssemos fruto para Deus”. Paulo estava falando a seus irmãos da classe de “Lázaro”, e foram somente estes que foram “exonerados da Lei”. — Rom. 7:1-6.
6. Que norma estabeleceu Jesus a respeito do divórcio, e como isto afetaria os fariseus?
6 Em contraste, as palavras de Jesus sobre o divórcio e o adultério foram dirigidas primariamente aos fariseus, membros da classe do “homem rico”. Não estavam livres da Lei. Na verdade, a Lei realmente incorporava uma provisão de divórcio mediante a qual o homem poderia ter mais de uma esposa viva, mas Jesus voltou à norma original de Deus para todos que haviam de obter o favor de Deus no novo pacto, ou sob ele. Não havia nenhuma provisão de divórcio para Adão e Eva. Assim, divorciar-se o cristão de seu cônjuge, exceto à base da infidelidade sexual, e então casar-se de novo enquanto o cônjuge divorciado ainda vive, significa que tal pessoa comete adultério. Por isso, as observações feitas por Jesus aos fariseus, que confiavam na tradição e no ensino do então não-escrito Talmude sobre este assunto, apenas os irritavam. Era parte do seu tormento. — Deu. 24:1-4; Mat. 19:3-9.
7. Como foi que Jesus antecipou os benefícios de sua morte?
7 Assim vemos a norma de julgamento tomar forma. Tenha presente, contudo, que as mudanças garantidas pela morte de Jesus começaram a ocorrer efetivamente antes de sua morte realmente se dar. A mensagem e a obra tanto de João Batista como de Jesus se basearam em forte fé na certeza de Jesus cumprir tudo que estava predito e prefigurado na Lei e nos Profetas. Em prova disto, quando Jesus instituiu a comemoração de sua morte na noite antes de ser pendurado na estaca, passou o cálice a seus discípulos, dizendo: “este copo significa o novo pacto em virtude do meu sangue, que há de ser derramado em vosso benefício . . . e eu faço convosco um pacto, assim como meu Pai fez comigo um pacto, para um reino.” — Luc. 22:20, 29.
8. O que resultou da declaração feita por Jesus da mensagem do Reino?
8 Não, tais mudanças não demoraram. A declaração das boas novas do reino começou a trazer uma completa inversão das condições a ambas as classes que consideramos. Desde então, ambas as classes morreram para com sua anterior condição e experiência, conforme indicado na ilustração de Jesus pela morte de Lázaro e do homem rico. Por ocasião da morte de Jesus, em cumprimento da Lei Mosaica, a classe de “Lázaro” morreu para com tal Lei; e no seguinte Pentecostes o derramado espírito santo comprovou que estavam no seio do Abraão Maior. O que aconteceu a seguir, conforme descrito por Jesus, e o que isto significava, nós acompanharemos com interesse.
ABRAÃO, A FIGURA IMPORTANTE
9, 10. (a) Que importante personagem introduziu Jesus em sua ilustração? (b) Como foi que os fariseus consideravam sua relação com Abraão? (c) De que modo estavam corretos, e de que modo estavam errados, em suas conclusões?
9 Imagine a cena. No tormento, no Hades, o homem rico ergue os olhos, e o que vê? Ora, longe dali se acha o anterior mendigo agora usufruindo a posição do seio de Abraão, isto é, o lugar favorecido, como no caso em que a pessoa se reclina na frente de outra no mesmo divã, numa refeição! (Luc. 16:23; veja-se também João 13:23.) Era mui significativa a inclusão de Abraão no quadro, adicionando-se o elemento mais importante da inteira norma de julgamento. A quem representa? Lembre-se, Jesus falava diretamente aos fariseus. Reconheciam que, como governantes religiosos, eram os únicos com direito à posição do seio de Abraão. Aos seus olhos, o povo comum de jeito nenhum entraria no quadro. Tais governantes disseram a Jesus num anterior encontro com ele: “Somos descendência de Abraão” e, de novo “Nosso pai é Abraão”, e, ainda mais “Temos um só Pai, Deus.” — João 8:33, 39, 41.
10 Disto é evidente que os fariseus consideravam que Abraão representava a Deus. Nisto estavam certos. Estavam errados era em pretender ser filhos de Abraão ou de Deus. Aos olhos de Deus, esta relação é determinada, não pela descendência carnal, mas pela disposição e pelas obras da pessoa. Conforme Jesus lhes disse naquela mesma ocasião: “Se sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão”, e Jesus também disse: “Vós sois de vosso pai, o Diabo, e quereis fazer os desejos de vosso pai. Esse foi homicida quando começou.” — João 8:39, 44.
11. Por que era essencial a fé a fim de aceitar Jesus como o Messias?
11 Ao passo que isso explica a razão pela qual Jesus retratou o anterior homem rico como estando bem distante de Abraão, talvez fiquemos imaginando por que Lázaro, depois de sua morte, foi representado como sendo levado diretamente para a posição do seio de Abraão. (Luc. 16:22) A ênfase é dada à fé. Jesus veio, não como Rei, como era esperado, mas na “semelhança da carne pecaminosa”, sendo “levado exatamente como uma ovelha para o abate”. (Rom. 8:3; Isa. 63:7) Era preciso verdadeira fé para aceitá-lo como o Messias. Alguns, não os orgulhosos, mas os humildes, realmente exerciam tal fé. Estavam impregnados de fé, assim como Abraão quando “saiu [de seu próprio país], embora não soubesse para onde ia”. (Heb. 11:8) Tornaram-se discípulos de Jesus e, mais tarde, em Pentecostes, quando receberam o espírito santo, tornaram-se cristãos. A respeito destes, Paulo escreveu: “Porque todos os que são conduzidos pelo espírito de Deus, estes são filhos de Deus. . . . O próprio espírito dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus.” — Rom. 8:14-16.
12. Como foram ainda mais abençoados aqueles que aderiram à fé?
12 Paulo também disse a respeito destes:“Os que aderem à fé é que são filhos de Abraão . . . [e] são abençoados junto com Abraão, que teve fé.” Como assim? A Abraão foi feita a grandiosa promessa de que, por meio de sua descendência, “todas as nações da terra certamente se abençoarão”. Tal descendência é primariamente Cristo Jesus. Mas, nas riquezas da bondade imerecida de Deus, outros são privilegiados a compartilhar ‘unto com Cristo em ser parte de tal descendência. Como Paulo disse de novo: “Todos vós sois, de fato, filhos de Deus, por intermédio da vossa fé em Cristo Jesus. . . . Além disso, se pertenceis a Cristo, sois realmente [o] descendente de Abraão, herdeiros com referência a uma promessa.” — Gál. 3:7-9, 16, 26-29; Gên. 22:18.
13. (a) A quem abrangia a classe de “Lázaro” no primeiro caso? (b) Como foi que Jogo e Jesus agiram como anjos para com tais pessoas?
13 Em resumo, então, vemos que os membros da congregação cristã, guiados pelo espírito de Deus, são filhos de Deus. São também mencionados como filhos de Abraão por causa de sua fé semelhante à dele e porque, junto com Cristo Jesus, constituem a descendência de Abraão, o instrumento de Deus para cumprir seu propósito centralizado em Seu reino. Constituem a classe de “Lázaro”, iniciando com aqueles judeus que estavam cônscios de sua necessidade espiritual e que exerceram fé quando ouviram os mensageiros de Deus, João Batista e Jesus. Com efeito, João e Jesus agiram como anjos, ou mensageiros, para pôr aqueles judeus em linha para receber aquelas grandiosas promessas ligadas à promessa de Deus dada sob juramento a Abraão e à descendência dele. Não é de admirar, então, que Jesus representasse a Lázaro como sendo imediatamente “carregado pelos anjos para a posição junto ao seio de Abraão”. — Luc. 16:22.
14. Que indicação foi fornecida de que muitos não-judeus viriam a obter o favor divino?
14 Embora a classe de “Lázaro”, de início, se limitasse aos judeus fiéis, não permaneceu assim. A certo oficial do exército gentio que mostrou fé incomum, disse Jesus: “Eu vos digo que muitos virão das regiões orientais e das regiões ocidentais, e se recostarão à mesa junto com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus; ao passo que os filhos do reino serão lançados na escuridão lá fora. Ali é que haverá o seu choro e o ranger de seus dentes.” (Mat. 8:5-12) Isto indicava que muitos não-judeus, até então alienados de Deus e numa condição empobrecida, viriam de todas as partes e seriam levados ao seio do favor divino. Conforme disse Paulo: “Ora, a Escritura, vendo de antemão que Deus declararia justas as pessoas das nações devido à fé, declarou de antemão as boas novas a Abraão, a saber: ‘Por meio de ti serão abençoadas todas as nações.’ (Gál. 3:8) Mas, quanto aos que pensavam que, como os filhos naturais de Abraão, eram os herdeiros indisputáveis de todas as posições mestras do reino de Deus, ver-se-iam rejeitados e em tormento.
15. Que ótimo quadro da Teocracia apresentou Jesus em Mateus 8:11?
15 A inclusão de Isaque e Jacó junto com Abraão, neste caso, constitui ótimo quadro do Reino, a Teocracia, em seu completo estabelecimento. Abraão, o pai dos que aderem à fé, representa o Pai celeste, Jeová, a verdadeira fonte de todas as bênçãos para as nações. Isaque, o filho de Abraão, representa o Filho de Deus, Jesus Cristo. Assim, quando Abraão ofereceu seu filho Isaque em sacrifício no Monte Moriá, ou chegou ao ponto de fazer isso, prefigurou como Jeová ofereceu seu Filho unigênito em verdadeiro sacrifício. Por sua vez, o filho de Isaque, Jacó, representa a congregação cristã. Assim como Jacó obteve vida de Abraão por meio de Isaque, assim a congregação cristã obtém vida espiritual de Jeová por meio de Jesus Cristo. Esta congregação teve início com um restante de judeus fiéis, mas, cerca de três anos e meio depois de Pentecostes, as boas novas do Reino começaram a ser pregadas aos gentios, começando-se com Cornélio. Desde então, as pessoas das nações têm vindo de todas as partes, compondo o número completo. Todas elas constituem a classe de “Lázaro”.
A “DECISÃO JUDICIAL” DE DEUS É “GRANDE PRECIPÍCIO”
16. Como é que os pedidos feitos pelo homem rico mostram a sua verdadeira intenção com respeito a Lázaro, e que disposição revelam?
16 Voltando nossa atenção agora para a parte final da ilustração de Jesus, iniciada com o argumento entre o homem rico e Abraão, encontramos outras expressões do julgamento de Deus. Note os dois apelos feitos pelo homem rico. Primeiro, pede que Lázaro seja enviado para refrescar-lhe a língua com uma gota de água por causa do fogo. Falhando isto, pede então que Lázaro seja enviado para avisar seus cinco irmãos a respeito deste lugar de tormento. (Luc. 16:24-28) Tudo isto para fazer que Lázaro se afaste do seio de Abraão e mantê-lo longe dele! Por que não pediu que os anjos fossem enviados nessas pequenas missões de misericórdia, vendo-se quão prontamente agiram ao levar Lázaro para Abraão? Mas, não, tem de ser Lázaro que deve correr para cá e para lá e agir qual mensageiro. Pela representação feita por Jesus do homem rico, podemos apenas imaginar que, se Lázaro o tivesse visitado em realidade e colocado o dedo na boca dele para refrescar-lhe a língua com uma gota de água, o homem rico teria mordido o dedo de Lázaro e o retido lá! Sabemos com certeza que, como disse Jesus, os escribas e fariseus não mediam esforços para “fazer um prosélito”, e, tendo-o feito, faziam-no ‘objeto para a Geena duas vezes mais do que eles mesmos’. — Mat. 23:15.
17. Como e por que os governantes religiosos procuraram obter alivio da classe de “Lázaro”?
17 Quão ridículo é pensar que isto ocorreu literalmente, mas quão apropriado era perante os fatos, visto que conhecemos as classes que Jesus tinha em mente! Assim, perguntamos: Como é que os governantes religiosos procuraram alívio, mesmo que fosse por uma única gota de água, da classe de “Lázaro”? Tais homens não teriam ficado tão atormentados se os desprezados seguidores de Jesus simplesmente o tivessem seguido e ficassem quietos. Ao invés, foram treinados e enviados, primeiro os doze e então os setenta. Eles, e não os governantes, agiam então como a descendência de Abraão, transmitindo bênçãos enviadas do céu, curando os doentes e pregando o reino de Deus. (Luc. 9:1, 2; 10:1, 9) Veio Pentecostes, e cerca de 120 receberam poder do espírito santo para falar em línguas, e, antes de terminar o dia, outras 3.000 pessoas foram acrescentadas às suas fileiras. E que intrepidez a deles! Tanto publicamente como diante do Sinédrio, o apóstolo Pedro e outros, tais como Estêvão, jamais hesitaram de declarar a responsabilidade e a culpa de sangue desses governantes. (Atos 2:23; 3:14, 17; 4:10; 5:30; 7:52) Como os descendentes naturais de Abraão, a classe do “homem rico” figurativamente clamou: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim” e faz com que esta classe de “Lázaro” fale ao invés em nosso favor, nem que seja uma só palavra! Como foi que Abraão respondeu?
18. Como é que a resposta de Abraão representa apropriadamente ambos os lados da norma de julgamento?
18 As primeiras palavras de Abraão simplesmente declaram os fatos: “Filho, lembra-te de que recebeste plenamente as tuas boas coisas no curso da tua vida, mas Lázaro, correspondentemente, as coisas prejudiciais. Agora, porém, ele está tendo consolo aqui, mas tu estás em angústia.” (Luc. 16:25) Não foram desperdiçadas palavras com o homem rico. Por que não? Porque Jesus sabia que agia como servo de Deus num tempo de inspeção. Era, na verdade, a descendência de Abraão, e quem quer que invocasse o mal sobre tal descendência seria amaldiçoado por Deus. (Gên. 12:3) Como classe, o “homem rico” tivera seus dias de glória, seu ‘período de vida’, quando ‘recebeu plenamente as boas coisas’ que poderia ter tão facilmente dispensado aos em necessidade. Mas, tal classe mostrou que jamais tivera qualquer intenção de fazê-lo, e, agora, o adverso juízo de Deus foi manifesto sobre ela. O julgamento favorável de Deus foi igualmente manifestado sobre a classe de “Lázaro”. Isto era a norma de julgamento, como um traçado em desenho em que um lado equilibra e contrabalança o outro. Uma forte linha reta é traçada no meio por questão de ênfase, e aí surge o “grande precipício”. Note as seguintes palavras de Abraão ao homem rico.
19. Qual foi o efeito e o significado do “grande precipício”?
19 “E, além de todas estas coisas, estabeleceu-se um grande precipício entre nós e vós, de modo que os que querem passar daqui para vós não o podem, nem podem pessoas passar de lá para nós.” (Luc. 16:26) Não há confraternização! A classe de “Lázaro” não poderia transigir e falar de paz à classe do “homem rico”. Jesus avaliava que este era um elemento vital na norma de julgamento, e que a “decisão judicial” de Deus “é um vasto abismo aquoso”. (Sal. 36:6) Note bem, era somente como classes que o julgamento era final. Nenhuma das classes, nem qualquer das classes apoiadoras, poderia chegar até à outra, mas as pessoas de per si podiam e realmente o fizeram durante seu período de vida. O apóstolo Paulo foi um exemplo notável de alguém que, quando ‘anteriormente no judaísmo’, perseguiu amargamente a classe de “Lázaro”. (Gál. 1:13-17) João Batista chamou os fariseus e saduceus de “descendência de víboras” e então disse: “Produzi . . . fruto próprio do arrependimento.” Alguns deles fizeram isso mais tarde. — Mat. 3:7, 8; Atos 6:7.
20. Como foi que o homem rico fez adicional apelo, e como foi que isto teve aplicação nos dias de Jesus?
20 Conhecendo a atitude mental da classe do “homem rico”, Jesus acrescentou à sua ilustração ainda outro argumento motivado pelo homem rico. Tentando ignorar ou rodear aquele abismo, suplicou: “Neste caso, peço-te, pai, que o envies [a Lázaro] à casa de meu pai, pois eu tenho cinco irmãos, a fim de que lhes dê um testemunho cabal, para que não cheguem a entrar neste lugar de tormento.” (Luc. 16:27, 28) Observe que, ao passo que se dirigia a Abraão como pai, fala de um pai de parentesco mais próximo, em cuja casa há cinco irmãos dele. Jesus conhecia a casa religiosa do judaísmo, construída sobre a tradição humana, a que pertenciam os governantes religiosos. Foi essa casa que estimulou o espírito de perseguição amarga, até mesmo de assassinato. Seu pai era o Diabo, que ‘era homicida’. (João 8:44) Os cinco irmãos (perfazendo seis com o homem rico, símbolo da organização do Diabo) representavam todos os admiradores e apoiadores dos governantes religiosos, manifestando o mesmo espírito. Os governantes procuravam alio de ficarem expostos, não só aos seus próprios olhos, mas também aos olhos de seus apoiadores. Caso estes, seus irmãos, morressem figurativamente e fossem parar no mesmo lugar, isso apenas aumentaria seu tormento. Assim, com efeito, tais governantes desejavam que a classe de “Lázaro” deixasse a posição do favor divino e desse “testemunho cabal”, não da mensagem de julgamento, mas de uma mensagem que desse a impressão de as coisas serem restauradas ao que eram antes do período de inspeção, quando nem os governantes nem seus apoiadores estavam expostos ao tormento.
21. Qual era o sentido da resposta de Abraão?
21 Poderia isso ser feito? Qual foi a resposta de Abraão? “Mas Abraão disse: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que escutem a estes.” (Luc. 16:29) Nada mais e nada menos do que a palavra da verdade de Deus! Foi baseado nesta autoridade apenas que Jesus falava às pessoas e a seus governantes, incluindo a mensagem de julgamento então apropriada. A classe de “Lázaro” falou da mesma forma. Por exemplo, a mensagem forte e estimulante de Pedro no dia de Pentecostes se baseava inteiramente nas citações das Escrituras Hebraicas, de Moisés (a Lei) a os Profetas e os Salmos. O fato que três mil pessoas responderam imediatamente a ela e foram batizadas provou que as Escrituras Hebraicas em si mesmas eram um aviso e guia suficientes para os dispostos a ouvir, muitos dos quais eram anteriormente aderentes do judaísmo. — Atos 2:41.
22. (a) Qual foi o apelo final do homem rico? (b) O que motivou isto, e como foi que Jesus respondeu à exigência de um sinal?
22 Mas, o homem rico não terminara. Mostrando então de que lado realmente estava e discordando abertamente de Abraão, disse: “Não assim, pai Abraão, mas, se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão.” (Luc. 16:30) Em outras palavras, exigiu um sinal culminante, alguém se levantar dentre os mortos, como sendo a coisa necessária. Isto evitaria a necessidade de se pregar usando as Escrituras ou a exposição das tradições do judaísmo. Mais de uma vez, os fariseus e outros pediram a Jesus que “lhes mostrasse um sinal do céu”. Respondeu: “Uma geração iníqua e adúltera persiste em buscar um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas.” Jonas era sinal suficiente para os ninivitas que, disse Jesus, “se arrependeram com o que Jonas pregou, mas, eis que algo maior do que Jonas está aqui”. (Mat. 16:1-4; 12:38-41) Jesus pregou com muito mais autoridade e evidência apoiadoras do que Jonas jamais veio a ter. Mas, o resultado foi como Jesus disse: “A menos que vós vejais sinais e prodígios, de modo algum acreditareis.” — João 4:48.
23. Como era a palavra final de Abraão apropriada e fiel aos fatos?
23 Em consonância com isto, Abraão respondeu ao homem rico: “Se não escutam Moisés e os Profetas, tampouco serão persuadidos se alguém se levantar dentre os mortos.” (Luc. 16:31) Esta foi a palavra final de julgamento contra a classe representada pelo homem rico e seus irmãos. Se faziam ouvido de mercador para com a mensagem de Deus contida nas Escrituras, fechariam os olhos ao mensageiro de Deus, quer fosse Jesus quer a classe de “Lázaro”. Conforme Jesus lhes disse: “Pesquisais as Escrituras . . . que dão testemunho de mim”, e acrescentou que, “se acreditásseis em Moisés, teríeis acreditado em mim, porque este escreveu a meu respeito. Mas, se não acreditais nos escritos desse, como acreditareis nas minhas declarações?” — João 5:39, 46, 47.
24. Que aviso e encorajamento pode ser derivado da palavra final proferida nesta ilustração?
24 A ilustração de Jesus terminou com uma nota de forte julgamento, tão nítida como aquele “grande precipício”. Mostrava a justa “decisão judicial” de Deus tanto a favor como contra. Era contra a inteira casa dos que apenas ‘ouviam com aborrecimento’, e que “têm fechado os olhos; para que nunca vissem com os olhos . . . [e] entendessem com os corações, e se voltassem”. (Mat. 13:15) Mas, graças a Deus, aquela palavra final foi inteiramente em favor da classe de “Lázaro”. Jamais haveria qualquer necessidade ou justificativa para que deixassem ou abandonassem o lugar do favor divino junto com todas as suas provisões confortadoras e a oportunidade de se banquetear à mesa de banquete de Jeová.
25. Que perguntas suscita isto a respeito de nossos próprios dias?
25 Será que podemos traçar linhas paralelas e estender a norma de julgamento em todas as suas características destacadas aos nossos próprios dias? Será que a ilustração de Jesus tem para nós alguma mensagem oportuna? Podemos delinear duas classes em contraste e ver como ocorreu diante dos nossos próprios olhos uma grande mudança, uma inversão de condições? E será que nós, como pessoas, podemos ser destarte ajudados a entender o que temos de fazer a fim de encontrar as verdadeiras riquezas sob o julgamento favorável de Deus?