É seu conselho difícil de aceitar?
“Irmão Francisco Pereira, sabe o que há de errado com o irmão? Está falando demais. Nunca está escutando. É também obstinado. Aconselho-lhe mudar de atitude. Eu já lhe disse antes e vou repeti-lo de novo, mude de atitude! Comece a mostrar um pouco de respeito! Parece pensar que sabe tudo, fala constantemente e vai meter-se em encrencas! E quando estiver metido nelas, não me venha pedir ajuda!”
1. Por que é o exemplo citado na ilustração o modo errado de dar conselho?
ESTE é um modo de se aconselhar alguém a falar menos e a escutar mais. Entretanto, é o modo errado. Vem na forma dum ataque e produzirá reações de defesa. O conselho, em si mesmo, pode ser bom, mas não produzirá bom resultado.
2, 3. (a) Como mostram firmas comerciais sua preocupação com que se dê corretamente conselho? (b) Que advertência quanto a dar conselho deu Paulo a Timóteo, visando que objetivo?
2 Há firmas que gastam dezenas de milhares de cruzeiros mandando seus executivos a seminários, para serem instruídos sobre a maneira de dar conselho a outros e lidar com confrontações. Mas, as técnicas básicas realmente valiosas já foram há muito delineadas na Bíblia, e não custam nada.
3 “Por dares tais conselhos aos irmãos”, disse o apóstolo Paulo a Timóteo, “serás ministro excelente de Cristo Jesus”. Ele não só lhe deu instruções sobre o que aconselhar, mas também sobre como fazer isso: “Não critiques severamente um [ancião]. Ao contrário, suplica-lhe como a um pai, os homens mais jovens, como a irmãos, as mulheres mais [idosas], como a mães, as mulheres mais jovens, como a irmãs, com toda a castidade.” Ele falou de suplicar, não de intimidar. O objetivo é restabelecer, não afastar. — 1 Tim. 4:6; 5:1, 2; Tia. 5:19, 20.
4. Por que é preciso que aquele que dá conselho tenha sensibilidade?
4 Dar conselho, quando este foi pedido, é um assunto delicado; dá-lo sem convite exige sensibilidade ainda maior. O conselho não solicitado tem a tendência de se apresentar como crítica, e ninguém gosta de ser criticado. Dar conselho sem ofender exige paciência e a capacidade de ensinar, não apenas passar um sermão em alguém. Por isso, Paulo escreveu a Timóteo: “Repreende, adverte, exorta, com toda a longanimidade e arte de ensino.” — 2 Tim. 4:2.
A ATITUDE DO CONSELHEIRO
5. Imitando Jesus em dar conselho, como nos portaremos e qual será a nossa atitude?
5 Cristo Jesus, o Maravilhoso Conselheiro, exemplificou o conselho gentil, quando os apóstolos discutiram sobre quem era o maior. Por ilustração e contraste, ele mostrou que os reis das nações dominavam sobre os outros, “vós, porém, não deveis ser assim”. Jesus era homem perfeito, que tinha conselho inspirado a dar; contudo, era “de temperamento brando e humilde de coração”. Faremos bem em copiá-lo. “Mantende em vós esta atitude mental que houve também em Cristo Jesus.” — Luc. 22:24-27; Mat. 11:29; Fil. 2:5.
6. Que exemplos mostram o valor de se usar ilustrações em dar conselho?
6 É difícil de raciocinar com alguém que está zangado, e os apóstolos haviam discutido acaloradamente. Jesus usou a ilustração de como reis arrogantes dominavam sobre os outros, e quando os apóstolos se viram nesta luz, acalmaram-se. O profeta Natã também usou de tato quando aconselhou o Rei Davi por este ter tomado a esposa de Urias, Bate-Seba. O rico, que tinha muitas ovelhas e gado, tirou a única ovelha dum pobre, para alimentar um visitante. Davi ficou furioso e fez o julgamento: “O homem que fez isso merece morrer!” Daí, soube que ele era tal homem. (2 Sam. 12:1-9) Hoje, podem-se usar ilustrações para superar as emoções e ajudar a encarar o assunto de modo objetivo.
7. Por que são importantes os sentimentos de quem dá conselho?
7 Os sentimentos são importantes. Quem dá conselho deve aperceber-se dos seus próprios sentimentos, bem como daqueles da pessoa com quem fala. Se ele for motivado pelo desejo de sentir-se superior, e justo aos seus próprios olhos, poderá ficar desnecessariamente precipitado em passar um sermão em alguém por causa de faltas menores. (Ecl. 3:7) Tais sentimentos serão sentidos e ressentidos por aquele a quem se fala, e, se ele tiver má atitude, esta talvez seja mais a culpa do conselheiro do que do próprio conselho. Provérbios 15:1 diz: “Uma resposta, quando branda, faz recuar o furor, mas a palavra que causa dor faz subir a ira.”
O APÓSTOLO PAULO DÁ O EXEMPLO
8. Quais eram os sentimentos de Paulo ao corrigir os coríntios por terem cometido um sério erro, e qual foi o resultado desta correção?
8 O amor fraternal e a compaixão também são sentidos quando exercidos. Paulo teve de corrigir um sério erro cometido pela congregação de Corinto, e ele ficou muito triste de ter de ser bastante severo no que lhe escreveu, porque, mais tarde, ele disse: “Eu vos escrevi em muita tribulação e angústia de coração, com muitas lágrimas, não para vos entristecer, mas para que soubésseis que amor tenho, mais especificamente por vós.” A profunda preocupação de Paulo revela-se também alguns capítulos mais adiante, quando ele diz: “Mesmo que eu vos tenha entristecido com a minha carta, não o deploro. . . . Porque a tristeza de modo piedoso produz arrependimento para a salvação que não se há de deplorar.” — 2 Cor. 2:4; 7:8-10.
9. (a) Que exemplos bíblicos mostram que é correto elogiar antes de dar conselho? (b) Por que é valioso o elogio dado aos que tiram proveito do conselho?
9 Portanto, reduza a dor da correção por demonstrar empatia e compreensão. Deixe que os outros retenham sua dignidade e seu amor-próprio veja o que há de bom nos outros e mostre seu apreço dele. Antes de dar conselho, elogie sempre que possível. (Rev. 2:1-4, 12-14, 18-20) Paulo elogiou os coríntios pela presteza com que queriam ver a execução da justiça e por se eximirem, por endireitar o que havia de errado. (2 Cor. 7:11) Ele menciona então a jactância que havia feito a respeito deles perante Tito: “Eu falei muito bem de vocês a ele, e vocês não me desapontaram. Temos sempre falado a verdade a vocês. Assim, também, o elogio que fizemos a Tito a respeito de vocês é verdade.” (2 Cor. 7:14, A Bíblia na Linguagem de Hoje) Todos nós cometemos erros e precisamos de correção, de modo que, quando fazemos algo certo, ajuda um elogio pelo serviço bem feito. Reanima-nos! — Mat. 25:21, 23.
EXAMINEMOS A NÓS MESMOS
10-12. Por que devemos dar conselho com bondade e num espírito de brandura?
10 “Persisti em examinar se estais na fé”, é uma admoestação que também podemos aplicar ao dar conselho. (2 Cor. 13:5) Será que passamos no exame feito pelos seguintes textos?
11 Efésios 4:32: “Tornai-vos benignos uns para com os outros, ternamente compassivos.” Somos nós assim, ao dar conselho?
12 Gálatas 6:1: “Irmãos, mesmo que um homem dê um passo em falso antes de se aperceber disso, vós, os que tendes qualificações espirituais, tentai [reajustar (ed. ingl. 1971)] tal homem num espírito de brandura, ao passo que cada um olha para si mesmo para que tu não sejas também tentado.” Damos conselho com brandura, apercebidos de nossas próprias fraquezas?
13, 14. Sobre que devemos estar bem informados antes de dar conselho?
13 Colossenses 4:6 (Nova Bíblia Inglesa): “Estude qual é a melhor maneira de conversar com cada pessoa a quem encontrar.” Será que tomamos tempo para chegar a conhecer a pessoa e a ajustar nossa conversa às necessidades dela?
14 Provérbios 18:13: “Quando alguém replica a um assunto antes de ouvi-lo, é tolice da sua parte e uma humilhação.” Familiarizamo-nos com todos os lados dum assunto antes de dar conselho?
15, 16. De que nos devemos lembrar sobre nós mesmos ao darmos conselho a outros?
15 Filipenses 2:3: “Não fazendo nada por briga ou por egotismo, mas, com humildade mental, considerando os outros superiores a vós.” Quando aconselhamos os outros, será que nos apercebemos de que, em outros sentidos, eles talvez sejam superiores a nós?
16 Romanos 2:21: “Tu, pois, que ensinas outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas: ‘Não furtes’, furtas?” Parecemos hipócritas, pregando o que não praticamos?
17, 18. Que restrição e consideração devemos aplicar para com aquele a quem damos conselho?
17 João 16:12: “[Eu, Jesus,] ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas não sois atualmente capazes de suportá-las.” Será que vamos além das necessidades do momento e começamos a citar todas as falhas da pessoa, em que possamos pensar, incitando-a assim à ira e esmagando-lhe o espírito?
18 Mateus 18:15: “Se o teu irmão cometer um pecado, vai expor a falta dele entre ti e ele só.” Será que primeiro damos o conselho em particular, reconhecendo os sentimentos de nosso irmão?
19. Que orientação simples há quanto a se dar conselho, e quais são as suas vantagens?
19 Uma orientação simples sobre dar conselho, mas que às vezes tendemos a esquecer, é a seguinte: “Sempre tratem os outros como gostariam que eles os tratassem.” (Mat. 7:12, NBI) Gostamos de ser compreendidos, por isso devemos ser compreensíveis. Gostamos de expressar-nos, por isso devemos deixar os outros expressar-se. Se não gostamos de que se nos passe um sermão, refreamo-nos de passá-lo em outros? Dar conselho envolve escutar, e com isso não só mostramos razoabilidade, mas também obtemos perspicácia quanto ao problema da pessoa e passamos a aperceber-nos de seus sentimentos. O conselho dado assim é transmitido como parte duma palestra e não como sermão dado.
QUÃO BOM É SEU CONSELHO?
20, 21. Quando passa nosso conselho a ter valor duvidoso e como podemos torná-lo inteiramente fidedigno?
20 O profeta Jeremias disse: “Não é do homem que anda o dirigir o seu passo.” Se ele não consegue nem dirigir o seu próprio passo, quão competente é em dirigir o de outra pessoa? Jeremias orou então: “Corrige-me, ó Jeová.” Apercebemo-nos tanto das faltas de todos nós, que é difícil de aceitar correção por parte de alguém de nós — a menos que a correção que recebemos provenha de Deus! Quão bom nosso conselho é depende de quão de perto ele se apega à Palavra de Deus. — Jer. 10:23, 24.
21 “Não vades além das coisas que estão escritas” é um bom conselho. (1 Cor. 4:6) Saímos de sistemas em que prevalece o governo dos homens, com resultados trágicos. Não mais queremos estar sujeitos a regras humanas, fora do que é exigido pela Palavra de Deus, porque obedecemos, “não com atos apenas ostensivos, como para agradar a homens, mas com sinceridade de coração, com temor de Jeová”, e seguimos o conselho de Paulo: “O que for que fizerdes, trabalhai nisso de toda a alma como para Jeová, e não como para homens.” (Col. 3:22, 23) As regras dos fariseus sobrecarregavam o povo e invalidavam a Palavra de Deus. — Mat. 23:4; 15:3.
22, 23. Que atitude arrogante adotaram os fariseus, mas como mostrou Paulo ter a atitude contrária a isso?
22 Os fariseus usaram da tirania da autoridade, quando os oficiais enviados para prender Jesus voltaram sem ele, por terem ficado impressionados com o ensino de Jesus. “Será que também vós fostes desencaminhados?” perguntaram os fariseus. “Será que um só dos governantes ou dos fariseus depositou fé nele? Mas esta multidão, que não sabe a Lei, são pessoas amaldiçoadas.” Os fariseus não usavam de raciocínio, mas declaravam que os sábios rejeitavam a Jesus, e que apenas os estúpidos o escutavam. — João 7:45-49.
23 Quando damos conselhos a outros, devemos usar de raciocínio e textos, não exigindo que nos acatem talvez por causa da posição que ocupamos. (Fil. 4:5) Devemos ser iguais a Paulo, que não usou sua posição como apóstolo para pressionar as pessoas. Em vez disso, ele as elogiava por verificarem se o seu ensino se baseava na Bíblia. “Recebiam a palavra com o maior anelo mental, examinando cuidadosamente as Escrituras, cada dia, quanto a se estas coisas eram assim. Portanto, muitos deles tornaram-se crentes.” — Atos 17:11, 12.
24, 25. (a) Que contraste havia entre o uso das Escrituras por Satanás e o feito por Jesus? (b) Que exemplo mostra como a aplicação de textos precisa ser limitada pelo contexto?
24 O Diabo usou as Escrituras quando tentou Jesus no ermo, e Jesus usou textos para refutá-lo. Ambos usaram textos, mas com a seguinte diferença: Satanás aplicou-os mal, mas Jesus os usou corretamente. (Mat. 4:1-10) Nunca devemos torcer os textos para servir ao nosso próprio fim, assim como Satanás fez. Certifiquemo-nos de que Deus esteja dizendo aquilo que nós falamos que ele está dizendo!
25 Por exemplo, em Romanos, capítulo 14, somos acautelados contra fazermos os fracos tropeçar, no que se refere ao alimento, à bebida ou a outra coisa. Significa isso que, caso se sirva café numa grande família e um membro dela afirme que isso o faz tropeçar, não se devia servir nenhum café? Ou que se deva usar sapatos pretos, porque se faz outro “tropeçar” pelo uso de sapatos marrons? Não há algum fator restritivo que governe a aplicação deste conselho? O contexto refere-se a questões de fé, a dias que alguns consideravam como santos e a carnes que alguns consideravam como poluídas. O conselho refere-se a assuntos de consciência, e é neste ponto que devemos fazer concessões úteis aos outros. Mas, não se trata duma instrução geral para satisfazer quaisquer caprichos pessoais, que não se relacionam com a fé.
QUANDO PRECISA DELE, AGÜENTA-O?
26. Quando achamos a disciplina difícil de aceitar, que lembrete nos dá Hebreus 12:11?
26 Se o conselho for dado amorosa e biblicamente, somos capazes de aceitá-lo com mansidão? Isto não é fácil, mas é benéfico. “Nenhuma disciplina parece no momento ser motivo de alegria, mas sim de pesar; no entanto, depois dá fruto pacífico, a saber, a justiça, aos que têm sido treinados por ela.” (Heb. 12:11) Há pouco, pediu-se-nos que examinássemos a nós mesmos quanto à nossa atitude em dar conselho. Agora, examinemo-nos quanto à nossa disposição de recebê-lo.
27-31. Que textos e que perguntas salientam a necessidade de se escutar quietamente quando se recebe conselho?
27 Provérbios 17:27: “Quem refreia as suas declarações é possuído de conhecimento e o homem de discernimento é de espírito frio.” Escutamos e permanecemos calmos?
28 Provérbios 12:15: “O caminho do tolo é direito aos seus próprios olhos, mas quem escuta conselho é sábio.” Achamos que sabemos tudo, ou escutamos?
29 Provérbios 29:20: “Observaste o homem que é precipitado com as suas palavras? Há mais esperança para o estúpido do que para ele.” Será que imediatamente procuramos refutar o conselho dado?
30 Eclesiastes 7:9: “Não te precipites no teu espírito em ficar ofendido, pois ficar ofendido é o que descansa no seio dos estúpidos.” Somos excessivamente sensíveis ofendendo-nos com facilidade?
31 Tiago 1:19, 20: “Todo homem tem de ser rápido no ouvir, vagaroso no falar, vagaroso no furor; pois o furor do homem não produz a justiça de Deus.” Podemos escutar a correção sem ficar irados?
32. Como mostram alguns, que procuram conselho, que realmente querem justificar a si mesmos?
32 Às vezes, alguém decidiu seguir certo proceder, e então vai de um conselheiro para outro, até achar alguém que concorde com ele. No antigo Israel, o Rei Roboão recorreu aos anciãos em busca de conselho, mas este não lhe agradou. Dirigiu-se então a homens mais jovens, que lhe disseram o que queria ouvir. O resultado foi desastroso: Dez tribos revoltaram-se contra ele e constituíram seu próprio reino! (1 Reis 12:1-20) O apóstolo Paulo falou sobre um tempo em que as pessoas procurariam até encontrar conselheiros que lhes dissessem exatamente o que queriam ouvir: “Acumularão para si instrutores para lhes fazerem cócegas nos ouvidos.” — 2 Tim. 4:3.
33. Que exemplos mostram o devido acatamento de conselho?
33 Nós, porém, devemos aceitar o conselho que é apoiado pela Palavra de Deus. Quando Davi foi censurado pelo profeta Natã, ele respondeu: “Pequei contra Jeová.” (2 Sam. 12:13) A congregação de Corinto acatou o conselho de Paulo e livrou-se de toda a culpa. Jesus ilustrou o proceder correto quando descreveu um pai que tinha dois filhos, aos quais pediu que fossem trabalhar no seu vinhedo. Um deles concordou, mas não foi. O outro se negou, mas depois foi, e obteve a aprovação, embora fosse no começo vagaroso em acatar o pedido. (Mat. 21:28-31) Os que dão conselho devem ter paciência, concedendo ao repreendido tempo para avaliá-lo.
34. Que pergunta esquadrinhadora suscita o Salmo 16:7 para os que dão conselho?
34 “Bendirei a Jeová que me aconselhou.” (Sal. 16:7) Será que aqueles a quem damos conselho poderão abençoar-nos por ele?
35. Como se contrasta o conselho apresentado aqui com o dado na primeira ilustração deste artigo?
35 “Obrigado, Chico, por ter vindo falar comigo. Está fazendo agora bom progresso na congregação. Eu gostaria de mencionar novamente seu problema de falar às vezes com imprudência. Naturalmente, todos somos culpados disso; conforme Tiago, se não usássemos mal a língua, seríamos perfeitos. Paulo aconselhou os anciãos em Éfeso dia e noite, por três anos! Por isso, espero que não pense que estou implicando com você, por mencionar isso novamente. Você está progredindo, e por isso, continue assim. Gostaria de sugerir que lesse novamente o capítulo 3 de Tiago. Se eu puder ajudar-lhe, não deixe de falar comigo.”