GRÉCIA, GREGOS
Estes nomes provêm de Graikoi, nome duma tribo do NO da Grécia. Os italianos aplicavam o nome (Latim, Graeci) aos habitantes da Grécia como um todo. Por fim, até mesmo Aristóteles, em seus escritos, usava esse termo de modo similar.
Outro nome antigo, “jônios”, aparece a partir do século VIII A.E.C., em registros assírios em cuneiforme, bem como em relatos persas e egípcios. Tal nome provém do de Javã (Heb., Yawán), filho de Jafé e neto de Noé. Javã era o ancestral jafético dos povos primitivos da Grécia e das ilhas circunvizinhas, bem como, evidentemente, dos primeiros habitantes de Chipre, de partes do S da Itália, da Sicília, e da Espanha. — Gên. 10:1, 2, 4, 5; 1 Crô. 1:4, 5, 7.
Ao passo que “Jônio” se aplica agora, em sentido geográfico, ao mar entre o S da Grécia e o S da Itália e a cadeia de ilhas ao longo da costa O da Grécia, tal nome certa vez tinha um significado mais amplo, que se harmonizava mais com o emprego de “Javã” nas Escrituras Hebraicas. O profeta Isaías, no século VIII A.E.C., falou da época em que os exilados de Judá, que voltavam, seriam enviados a terras distantes, incluindo “Tubal, e Javã, as ilhas distantes”. — Isa. 66:19.
Nas Escrituras Gregas Cristãs, a terra é chamada de Héllas (“Grécia”, Atos 20:2), e o povo de Héllenes. Os próprios gregos haviam empregado estes nomes, já desde muitos séculos antes da Era Comum, e continuam a fazê-lo. “Hellas” talvez tenha alguma ligação com “Elisá”, um dos filhos de Javã. (Gên. 10:4) O nome “Acaia” era também aplicado à parte central e sul da Grécia, depois da conquista romana em 146 A.E.C.
A Grécia ocupava a parte S da montanhosa península dos Bálcãs, e as ilhas do mar Jônio, a O, e do mar Egeu, a E. Ao S situava-se o Mediterrâneo. A fronteira N é indeterminada, tendo especialmente em vista que, nos períodos primitivos, os javanitas da Grécia não se consolidaram como determinada nação. No entanto, em tempos posteriores, entende-se que a “Grécia” atingia as regiões da Ilíria (que corresponde mais ou menos à parte O da Iugoslávia e Albânia) e da Macedônia. Na realidade, os macedônios talvez tenham sido da mesma raça básica que os que mais tarde foram chamados gregos.
ESTRUTURA GOVERNAMENTAL E EXPERIÊNCIAS DEMOCRÁTICAS
Ao passo que o conhecimento sobre os métodos de governo da maioria das cidades-estados gregas é obscuro, apenas os de Atenas e de Esparta sendo razoavelmente conhecidos, evidentemente vieram a diferir muitíssimo dos de Canaã, da Mesopotâmia e do Egito. Pelo menos durante o que pode ser secularmente denominado de período histórico, eles possuíam magistrados em lugar de reis, e também conselhos e uma assembléia (ekklesía) de cidadãos. Atenas experimentou o governo democrático direto (a palavra “democracia” provindo do grego dêmos, que significa “povo”, e krátos, que quer dizer “governo”). Neste arranjo, o conjunto inteiro de cidadãos formava o legislativo, falando e votando na assembléia. Os “cidadãos”, contudo, constituíam uma minoria, visto que as mulheres, os residentes estrangeiros, e os escravos, não tinham os direitos de cidadania. Imagina-se que os escravos chegavam a constituir até um terço da população de muitas cidades-estados, e, sem dúvida, seu trabalho escravo tornava possível o tempo livre necessário para que os “cidadãos” participassem da assembléia política. Pode-se observar que a mais antiga referência à Grécia nas Escrituras Hebraicas, por volta do século IX A.E.C., fala de judeus serem vendidos como escravos por Tiro, Sídon e Filístia aos “filhos dos gregos [literalmente, “javanitas” ou “jônios”]. — Joel 3:4-6.
MANUFATURAS E COMÉRCIO
Além da agricultura, como atividade principal, os gregos produziam e exportavam muitos produtos manufaturados. Os vasos gregos tornaram-se famosos em toda a área do Mediterrâneo; também eram importantes os artigos de prata e de ouro, e os tecidos de lã. Havia numerosas oficinas pequenas e independentes, possuídas pelos artífices, que tinham alguns empregados, seja escravos seja homens livres. Na cidade grega de Corinto, o apóstolo Paulo juntou-se a Áquila e Priscila no comércio de fabricação de tendas, provavelmente utilizando tecido feito de pêlo de cabra, do qual havia boa oferta na Grécia. — Atos 18:1-4.
A RELIGIÃO GREGA
O conhecimento mais antigo sobre a religião grega provém da poesia épica de Homero. Na herdade, não é certo se Homero realmente existiu. Relatos posteriores sobre a vida dele parecem fictícios. Mas os dois poemas épicos que lhe são atribuídos, a Ilíada e a Odisséia, eram recitados a cada quatro anos em Atenas, durante o período clássico. Os trechos mais antigos em papiro destes poemas, segundo se crê, datam de algum tempo antes de 150 A.E.C. Como George G. A. Murray, professor de grego, afirma sobre estes textos primitivos, eles “diferem ‘muitíssimo’ de nossa vulgata”, isto é, do texto que tem sido aceito popularmente durante os últimos séculos. Assim, diferente da Bíblia, não houve conservação da integridade dos textos homéricos, mas eles existiam “num estado extremamente fluido”, como demonstra o professor Murray.
Os poemas homéricos falavam de heróis e deuses guerreiros que eram bem parecidos com os homens. Alguns peritos sugerem uma ligação entre a Odisséia e a Epopéia de Gilgamés, de Babilônia. De qualquer modo, existe realmente evidência da influência babilônica sobre a religião grega. Certa antiga fábula grega é quase que uma tradução literal dum original acadiano.
A outro poeta, Hesíodo, provavelmente do século VIII A.E.C., atribui-se a sistematização da ampla gama de mitos e lendas gregos. Junto com os poemas homéricos, a Teogonia de Hesíodo constituía os principais escritos sagrados ou a teologia dos gregos.
Ao considerar os mitos gregos, é interessante ver como a Bíblia elucida sua possível, ou até mesmo provável, origem. Como mostra Gênesis 6:1-13, antes do Dilúvio, os filhos angélicos de Deus vieram à terra, evidentemente se materializando em forma humana, e coabitaram com atrativas mulheres humanas. Produziram uma descendência que foi chamada de “nefilins” ou “derrubadores”, isto é, ‘os que fazem com que outros caiam’. O resultado desta união desnatural de criaturas espirituais com humanas, e a raça híbrida que produziu, foi que a terra ficou cheia de imoralidade e violência. (Compare com Judas 6; 1 Pedro 3:19, 20; 2 Pedro 2:4, 5; veja NEFILINS.) Javã, assim como outros dos tempos pós-diluvianos, sendo o progenitor das raças gregas, sem dúvida ouviu o relato dos tempos e das circunstâncias pré-diluvianos, provavelmente de seu pai, Jafé, um dos sobreviventes do Dilúvio. Observe, agora, o que revelam os escritos atribuídos a Homero e a Hesíodo.
Os numerosos deuses e deusas que eles descreveram possuíam forma humana e grande beleza, embora amiúde fossem gigantescos e sobre-humanos. Comiam, bebiam, dormiam, tinham relações sexuais entre si ou até mesmo com humanos, viviam como famílias, brigavam e lutavam, seduziam e estupravam. Embora fossem supostamente santos e imortais, eram capazes de cometer qualquer tipo de engano e de crime. Conseguiam movimentar-se entre a humanidade, quer visível quer invisivelmente. Escritores e filósofos gregos posteriores tentaram expurgar os relatos de Homero e de Hesíodo de alguns dos atos mais vis atribuídos aos deuses.
Tais relatos podem refletir, embora de forma grandemente ampliada, floreada e distorcida, o relato autêntico das condições pré-diluvianas que encontramos em Gênesis. Outra correspondência notável é que, além dos deuses principais, as lendas gregas descrevem semideuses ou heróis que tinham ascendência tanto divina como humana. Estes semideuses eram dotados de força sobre-humana, mas eram mortais (Hércules sendo o único deles a quem foi concedido o privilégio de alcançar a imortalidade). Os semideuses estampam, assim, marcante similaridade com os nefilins do relato de Gênesis.
Os principais deuses gregos, dizia-se, residiam nas alturas do monte Olimpo (2.911 m de altitude), situado ao S da cidade de Beréia. (Paulo estava bem perto das encostas do Olimpo quando ministrava aos bereanos, em sua segunda viagem missionária; Atos 17:10.) Entre estes deuses olímpicos estavam: Zeus (chamado Júpiter pelos romanos; Atos 28:11), o deus do céu; Hera (a romana Juno), esposa de Zeus; Ge ou Géia, a deusa da terra, também chamada de Grande Mãe; Apolo, um deus solar, um deus da morte súbita, atirando suas flechas mortíferas de longe; Ártemis (a romana Diana), a deusa da caça, cuja adoração como deusa da fertilidade era tão destacada em Éfeso (Atos 19:23-28, 34, 35); Areu (o romano Marte), o deus da guerra; Hermes (o romano Mercúrio), o deus dos viajantes, do comércio e da eloquência, o mensageiro dos deuses (em Listra, na Ásia Menor, o povo chamou a Barnabé de “Zeus, mas a Paulo de Hermes, visto que ele tomava a dianteira no falar” [Atos 14:12]); Afrodite (a romana Vênus), a deusa da fertilidade e do amor, considerada como sendo a ‘irmã da Istar assírio-babilônica, e da Astartéia siro-fenícia [Greek Mythology (Mitologia Grega), Paul Hamlyn, p. 63]; e numerosos outros deuses e deusas. Em realidade, cada cidade-estado parece ter possuído seus próprios deuses menores, adorados segundo o costume local.
Os oráculos, médiuns por meio dos quais os deuses supostamente revelavam o conhecimento oculto, tinham muitos devotos. Os mais famosos oráculos ocupavam templos em Delos, Delfos e Dodona. Aqui, por certo preço, as pessoas obtinham respostas a perguntas submetidas ao oráculo. As respostas geralmente eram ambíguas, precisando ser interpretadas pelos sacerdotes.
O ensino filosófico da imortalidade
Visto que os filósofos gregos se interessavam pelas derradeiras questões da vida, seus conceitos também serviam para moldar os conceitos religiosos do povo. Sócrates, do século V A.E.C., ensinou a imortalidade da alma humana. Em Fédon, de Platão, cita-se Sócrates como dizendo: “A alma, a parte imaterial, sendo de natureza tão superior ao corpo, será que pode, assim que se separa do corpo, ser dispersa no nada e perecer? Oh, longe disso! Antes, este será o resultado. Se parte num estado de pureza, . . . bem, então, assim preparada, a alma parte para aquela região invisível que é por sua própria natureza, a região do divino, do imortal, do sábio, e então seu quinhão é ser feliz num estado em que está livre dos temores e dos desejos loucos, e dos outros males da humanidade, e passa o resto de sua existência com os deuses.” Contraste isso com Ezequiel 18:4 e Eclesiastes 9:5, 10.
Templos e ídolos
Construíram-se magníficos templos em honra aos deuses, e estátuas lindamente esculpidas, de mármore e de bronze, foram feitas para representá-los. As ruínas de alguns dos mais famosos desses templos podem ser encontradas na Acrópole de Atenas, e incluem o Partenon, o Propileu e o Erecteion. Foi nesta mesma cidade que Paulo falou a uma audiência, comentou o notável temor das deidades, manifesto em Atenas, e disse claramente a seus ouvintes que o Criador do céu e da terra “não mora em templos feitos por mãos” humanas e que, como progênie de Deus, eles não deviam imaginar que o Criador fosse “semelhante a ouro, ou prata, ou pedra, semelhante a algo esculpido pela arte e inventividade do homem”. — Atos 17:22-29.
PERÍODO DAS GUERRAS PERSAS
A ascensão do Império Medo-Persa sob Ciro (que conquistou Babilônia em 539 A.E.C.) representava uma ameaça à Grécia. Ciro já havia conquistado a Ásia Menor, inclusive as colônias gregas ali. No terceiro ano de Ciro, o mensageiro angélico de Jeová informou a Daniel que o quarto rei da Pérsia ‘incitaria tudo contra o reino da Grécia’. (Dan. 10:1; 11:1, 2) O terceiro rei persa (Dario Histaspes) sufocou uma revolta das colônias gregas em 499 A.E.C. e preparou-se para invadir a Grécia. A armada persa invasora sofreu naufrágio numa tempestade em 492. Daí, em 490, grande força persa invadiu de enxurrada a Grécia, mas foi derrotada pelo pequeno exército de atenienses nas planícies de Maratona, a NE de Atenas. Xerxes, filho de Dario, ao ascender ao trono persa, determinou vingar-se desta derrota. Como o predito ‘quarto rei’, incitou todo o império para formar uma força militar maciça, e, em 480 A.E.C., cruzou o Helesponto.
Embora certas cidades-estados principais da Grécia mostrassem então rara união em sua luta para frear a invasão, as tropas persas marcharam através do N e do centro da Grécia, atingiram Atenas, e queimaram sua elevada fortaleza, a Acrópole. No mar, contudo, os atenienses e os gregos apoiadores sobrepujaram e puseram a pique a frota persa (com seus aliados fenícios e outros) em Sulamina. Deram seqüencia a essa vitória com outra derrota imposta aos persas na terra firme de Platéia, ainda outra em Micale, na costa O da Ásia Menor, depois do que as forças persas abandonaram a Grécia.
DA SUPREMACIA ATENIENSE ATÉ O CONTROLE MACEDÔNIO
Atenas então obteve a liderança da Grécia, em virtude de sua força armada. O período subseqüente, até por volta de 431 A.E.C., foi a “Época Áurea” de Atenas, quando foram produzidas as mais renomadas obras de arte e de arquitetura. Atenas encabeçava a Liga Délia, de diversas cidades e ilhas gregas. Devido ao ressentimento para com a proeminência de Atenas por parte da Liga do Peloponeso, encabeçada por Esparta, irrompeu a Guerra do Peloponeso. Durou de 431 a 404 A.E.C., os atenienses por fim sofrendo completa derrota às mãos dos espartanos. O governo rígido de Esparta durou até por volta de 371 A.E.C., e então Tebas obteve a superioridade. Os assuntos helenos entraram num período de decadência política, embora Atenas continuasse a ser o centro cultural e filosófico do Mediterrâneo. Por fim, a potência emergente da Macedônia, sob Filipe II, conquistou a Grécia em 338 A.E.C., e a Grécia foi unificada sob controle macedônio.
GRÉCIA SOB ALEXANDRE
Lá no século VI A.E.C., Daniel tinha obtido uma visão profética que predizia a derrubada do Império Medo-Persa pela Grécia. Alexandre, filho de Filipe, tinha sido educado por Aristóteles e, depois do assassinato de Filipe, tornou-se o paladino dos povos de língua grega. Em 334 A.E.C., Alexandre passou a vingar-se dos ataques persas sobre as cidades gregas na costa O da Ásia Menor. Sua conquista célere, não só de toda a Ásia Menor, mas também da Síria, da Palestina, do Egito e do inteiro Império Medo-Persa até a índia, cumpria o quadro profético de Daniel 8:5-7, 20, 21. (Compare com Daniel 7:6.) Por assumir o controle da Judéia em 332 A.E.C., a Grécia tornou-se então a quinta potência mundial sucessiva no que dizia respeito a nação de Israel, tendo o Egito, a Assíria, a Babilônia e a Medo-Pérsia sido as anteriores quatro. Já em 328 A.E.C. a conquista de Alexandre ficou completa e então a parte remanescente da visão de Daniel teve cumprimento. Alexandre morreu em Babilônia, em 323 A.E.C., comparativamente jovem, e, conforme predito, seu império foi subseqüentemente dividido em quatro domínios, nenhum dos quais se igualando em força ao império original. — Dan. 8:8, 21, 22; 11:3, 4.
Contudo, antes de sua morte, Alexandre havia introduzido a cultura grega e a língua grega em todo o seu vasto domínio. Estabeleceram-se colônias gregas em muitas terras conquistadas. A cidade de Alexandria foi construída no Egito, e veio a rivalizar-se com Atenas qual centro de erudição. Assim, iniciou-se a helenização (ou grecização) de grande parte das regiões do Mediterrâneo e do Oriente Médio. O grego koiné (ou comum) tornou-se a língua franca, falada pelos povos de muitas nacionalidades. Era a língua utilizada para traduzir as Escrituras Hebraicas da Bíblia na Versão Septuaginta, produzida por peritos judeus em Alexandria. Mais tarde, as Escrituras Gregas Cristãs foram registradas no grego koiné, e a popularidade internacional desta língua contribuiu para a rápida disseminação das boas novas cristãs por toda a área do Mediterrâneo. — Veja GREGO.
REGÊNCIA ROMANA SOBRE OS ESTADOS GREGOS
A Macedônia e a Grécia (uma das quatro partes em que foi dividido o império de Alexandre) caíram diante dos romanos em 197 A.E.C. No ano seguinte, o general romano proclamou a “libertação” de todas as cidades gregas. Isto significava que não se cobraria nenhum tributo, mas que Roma esperava plena cooperação com seus ditames. Desenvolveu-se continuamente um sentimento anti-romano. A Macedônia guerreou contra os romanos, mas foi novamente derrotada em 167 A.E.C., e, cerca de vinte anos depois, tornou-se uma província romana. A Liga Acaiana, liderada por Corinto, rebelou-se em 146 A.E.C., e os exércitos romanos marcharam sobre o S da Grécia e destruíram Corinto. Formou-se a província da “Acaia”, e, já em 27 A.E.C., ela veio a incluir toda a parte sul e central da Grécia. — Atos 19:21; Rom. 15:26; veja ACAIA.
O período da regência romana foi um período de declínio político e econômico para a Grécia. Apenas a cultura grega continuou imperando e foi amplamente adotada pelos conquistadores romanos. Eles importavam estátuas gregas e a literatura grega, de forma entusiástica. Até mesmo templos inteiros foram desmontados e transportados de navio para a Itália. Muitos dos jovens de Roma foram educados em Atenas e em outros centros da erudição grega. A Grécia, por outro lado, voltou para si mesma seus pensamentos e passou a viver do passado, desenvolvendo a atitude de interesse pelas coisas antigas.
OS HELENOS E OS HELENISTAS NO PRIMEIRO SÉCULO E.C.
Na época do ministério de Jesus Cristo e na de seus apóstolos, os naturais da Grécia ou os da raça grega ainda eram conhecidos como Héllenes (singular, Héllen). Os gregos referiam-se às pessoas de outras raças como “bárbaros”, significando simplesmente estrangeiros ou aqueles que falavam uma língua estrangeira. O apóstolo Paulo contrasta igualmente “gregos” e “bárbaros” em Romanos 1:14. — Veja BÁRBARO.
Em alguns casos, contudo, Paulo também usa o vocábulo Héllenes num sentido mais amplo. Especialmente ao contrastá-los com os judeus, ele se refere aos Héllenes ou gregos como representativos de todos os povos não-judeus. (Rom. 1:16; 2:6, 9, 10; 3:9; 10:12; 1 Cor. 10:32; 12:13) Assim, em 1 Coríntios, capítulo 1, Paulo evidentemente compara os “gregos” (V. 22) com as “nações” (V. 23). Isto, sem dúvida, devia-se à proeminência e preeminência da língua e da cultura gregas por todo o Império Romano. Em certo sentido, ‘encabeçavam a lista’ de povos não-judaicos. Isto não significa que Paulo ou outros escritores das Escrituras Gregas Cristãs usaram Héllenes num sentido muito livre, de modo que, por Héllen, não queriam dizer nada mais do que um “gentio”, como dão a entender alguns comentaristas. Mostrando que Héllenes foi usado para identificar um povo distinto, Paulo, em Colossenses 3:11, refere-se ao “grego” como distinguindo-se do “estrangeiro [bárbaros]” e do “cita”.
A mulher “grega” de nacionalidade siro-fenícia, cuja filha Jesus curou (Mar. 7:26-30) era, provavelmente, de descendência grega, de modo a ser distinguida dessa forma. Os “gregos entre os que subiram para adorar” na Páscoa, e que solicitaram uma entrevista com Jesus, eram evidentemente prosélitos gregos da religião judaica. (João 12:20; observe a declaração profética de Jesus no versículo 32, como ‘atraindo a ele mesmo toda sorte de homens’.) O pai de Timóteo, e Tito, são ambos chamados de Héllen. (Atos 16:1, 3; Gál. 2:3) Isto pode significar que, quanto à raça, eram gregos. No entanto, em vista da afirmada tendência de alguns escritores gregos de empregar Héllenes para referir-se a pessoas não- gregas que falavam grego e eram de cultura grega, e em vista do emprego desse termo por Paulo no sentido representativo já considerado antes, temos de dar margem à possibilidade de que todas essas pessoas fossem gregas neste último sentido. Todavia, o fato de que a mulher grega se achava na Siro-Fenícia, ou de que o pai de Timóteo residia em Listra, na Ásia Menor, ou de que Tito parece ter residido em Antioquia da Síria, não prova que eles, quanto à raça, não fossem gregos ou descendentes de tais — pois os colonos e os imigrantes gregos podiam ser encontrados em todas essas regiões.
Quando Jesus disse a um grupo que ele ‘iria para aquele que o enviara’ e que “onde eu [irei], vós não podeis ir”, os judeus disseram entre si: “Para onde pretende ir este homem, de modo que não o havemos de achar? Será que pretende ir para os judeus dispersos entre os gregos e ensinar os gregos?” (João 7:32-36) Pela expressão “os judeus dispersos entre os gregos”, eles, evidentemente, queriam dizer exatamente isso — não os judeus que se fixaram em Babilônia, mas os espalhados pelas distantes cidades e terras gregas a O. Os relatos das viagens missionárias de Paulo revelam o notável número de imigrantes judeus que se achavam em tais regiões gregas.
Os de raça grega são certamente os que se tem presente em Atos 17:12 e 18:4, onde se discutem eventos nas cidades gregas de Beréia e de Corinto. Isto pode também ter ocorrido com os “gregos” na Tessalônica da Macedônia (Atos 17:4), em Éfeso, na costa O da Ásia Menor, há muito colonizada pelos gregos e, outrora, a capital da Jônia (Atos 19:10, 17; 20:21), e até mesmo em Icônio, na parte central da Ásia Menor. (Atos 14:1) Ao passo que a combinação “judeus e gregos” que aparece em alguns destes textos poderia indicar que, semelhante a Paulo, Lucas usou ali “gregos” para representar os povos não-judaicos em geral, na realidade apenas Icônio se situava geograficamente fora da esfera grega primária.
Os Helenistas
No livro de Atos, surge outro termo: Hellenistaí (singular, Héllenistés). Este termo não é encontrado na literatura judaica quer grega quer helenística; assim, o significado dele não é inteiramente seguro. No entanto, a maioria dos lexicógrafos crê que designa os “judeus que falavam grego”, em Atos 6:1 e 9:29. No primeiro desses dois textos, contrasta-se estes Hellenistaí com os “judeus que falavam hebraico” (Ebraíoi, Texto Grego de Westcott e Hort).
A forma de Hellenistaí que aparece em Atos 11:20, contudo, com referência a certos residentes em Antioquia da Síria, pode referir-se ao “povo que falava grego”, em geral, ao invés de aos judeus de fala grega. Isto parece ser mostrado pela indicação de que, até a chegada de cristãos de Cirene e de Chipre, a pregação da palavra em Antioquia se tinha restringido ‘só a judeus’. (Atos 11:19) Assim, os Hellenistaí ali mencionados podem significar pessoas de várias nacionalidades que tinham sido helenizadas, empregando a língua grega (e talvez vivendo segundo os costumes gregos).
O apóstolo Paulo visitou a Macedônia e a Grécia tanto em sua segunda como em sua terceira viagem missionária. (Atos 16:11 a 18:11; 20:1-6) Ele gastou tempo ministrando nas importantes cidades macedônias de Filipos, Tessalônica e Beréia, e nas principais cidades acaianas de Atenas e Corinto. (Atos 16:11, 12; 17:1-4, 10-12, 15; 18:1, 8) Devotou um ano e meio ao ministério em Corinto, em sua segunda viagem missionária (Atos 18:11), ocasião em que escreveu as duas cartas aos tessalonicenses e, possivelmente, a dirigida aos gálatas. Em sua terceira viagem missionária, ele escreveu, de Corinto, a sua carta aos romanos. Após seu primeiro encarceramento em Roma, Paulo evidentemente visitou de novo a Macedônia, entre 61 e 64 E.C., escrevendo provavelmente dali sua primeira carta a Timóteo e, possivelmente, sua carta a Tito.
[Mapa na página 690]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
GRÉCIA
GRÉCIA
MAR MEDITERRÂNEO
CRETA
MAR JÔNIO
Esparta
Peloponeso
Argos
Golfo Sarônico
EGINA
SALAMINA
Cencréia
Corinto
Canal de Corinto
Golfo de Corinto
ELIS
ETÓLIA
EPIRO
Dodona
TESSÁLIA
MACEDÔNIA
Monte Olimpo
Beréia
Tessalônica
Filipos
EUBÉIA
BEÓCIA
ÁTICA
Atenas
Maratona
Platéia
Tebas
Delfos
Termópilas
DELOS
MAR EGEU
CÓS
SAMOS
QUIOS
LESBOS
Mitilene
Assos
Adramítio
Trôade
Tróia
Helesponto (Dardanelos)
SAMOTRÁCIA
TRÁCIA
[Imagem na página 691]
Zeus, adorado pelos antigos gregos. Diz-se que esta representação em bronze data do século V A.E.C.
[Imagem na página 693]
Os picos no monte Olimpo, considerado sagrado pelos antigos gregos.
[Imagem na página 694]
Ruínas do templo de Apolo em Delfos, onde um oráculo afirmava revelar o conhecimento oculto.