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“Tendes de auxiliar os que são fracos”A Sentinela — 1979 | 15 de outubro
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“Tendes de auxiliar os que são fracos”
“A SOBREVIVÊNCIA do mais apto” — os fortes vivem às custas dos fracos. Frio e cruel? “Não; na realidade, é bom e benéfico”, dizem os proponentes da teoria da evolução, porque afirmam que isto traz melhoras. No entanto, mesmo muitos de tais ficaram profundamente chocados quando souberam das tentativas do Terceiro Reich nazista de implementar esta “lei” para com os semelhantes que consideravam como fracos ou indesejáveis.
Há necessidade de tal demonstração horrenda para convencer alguém de que os fracos devem ser considerados com bondade e não oprimidos ou destruídos? Não entre os que estimam sinceramente a Bíblia, porque a Palavra de Deus é muito mais do que apenas passiva ou tolerante para com os fracos. É sensível a eles. Manda que sejam auxiliados, ajudados e sustentados. (Atos 20:35; 1 Tes. 5:14) Mas, não advogam também outras autoridades e administrações que se tenha compaixão com os fracos? Sim, mas a Bíblia é única, porque pode produzir atenção continua às necessidades dos fracos.
A capacidade da Bíblia, de motivar alguém para ajudar os fracos, relaciona-se intimamente com o seu poder de produzir verdadeiro amor, humildade e fé. A ajuda contínua prestada aos fracos requer essas qualidades, porque os fracos, dessemelhantes dos fortes, muitas vezes não podem recompensar ou retribuir a alguém a sua ajuda. (Luc. 14:12-14) Além disso, a Bíblia convence seus leitores de que auxiliar os fracos não somente agrada a Deus e a Cristo, mas também é necessário para se obter o favor deles. Sendo imperfeitos, todos nós temos fraquezas para as quais precisamos da ajuda de Deus e Cristo. (Heb. 4:15, 16) Poderíamos ter certeza da sua ajuda nas nossas fraquezas, se não ajudássemos outros nas deles? — Veja Mateus 6:14, 15.
CONCEITOS ERRÔNEOS SOBRE OS FRACOS IMPEDEM QUE SE LHES AUXILIE
Um grande impedimento para prestar auxílio aos fracos ocorre quando alguém forte fica mais cônscio da fraqueza do outro do que da sua própria. Além disso, a fraqueza de outra pessoa pode dominar tanto a mente, que ela é encarada de maneira negativa. Em resultado disso, não se auxilia o fraco, e o forte talvez se sinta justificado a não oferecer ajuda. As Escrituras, porém, levam a pessoa a reconhecer que um considerável número de circunstâncias indesejáveis na vida dos homens podem ser atribuídas à fraqueza, que requer mais ajuda do que desaprovação.
Um exemplo é a atenção que as Escrituras dão aos pobres. Poder-se-ia adotar um conceito bastante objetivo, achando que, em geral, as pessoas são pobres porque não usam de bom senso e por isso colhem resultados inevitáveis. Quem for compassivo, porém, encarará o pobre como merecedor de ajuda, apesar da falta de bom senso ou de outra fraqueza que possa haver. A lei de Deus para Israel era específica neste respeito: “E caso teu irmão fique pobre e assim esteja financeiramente fraco ao teu lado, então tens de ampará-lo. . . . Eu sou Jeová, vosso Deus, que vos fiz sair da terra do Egito para dar-vos a terra de Canaã, para mostrar-me vosso Deus.” “Não deves endurecer teu coração, nem fechar a mão para com o teu irmão pobre.” — Lev. 25:35-38; Deu. 15:7.
Israel nunca poderia ter escapado por conta própria do Egito e tomado posse de Canaã. Era fraco demais, precisando da ajuda de Jeová. Quão impróprio teria sido, então, se um israelita que tivesse obtido alguns meios materiais não ajudasse seu irmão financeiramente mais fraco, deixando assim de imitar o seu Deus! Ele temeria sabiamente a Deus, sabendo da reação de Jeová ao proceder que adotasse para com o fraco: Caso se visse que ele tinha mão fechada, seria pecado da sua parte. Mas, se fosse generoso, então Jeová Deus abençoaria todos os seus atos e empreendimentos. — Deu. 15:8-11.
Na primitiva congregação cristã, os que precisavam do auxílio dos outros incluíam muitos mais, além dos apenas materialmente pobres. Quando Paulo escreveu à congregação tessalonicense, ele lançou sobre todos os irmãos, não só sobre os anciãos, a responsabilidade de atender ativamente diversas necessidades: “Exortamo-vos, irmãos: admoestai os desordeiros, falai consoladoramente às almas deprimidas, amparai os fracos, sede longânimes para com todos.” (1 Tes. 5:14) Em outras cartas, Paulo considerou extensamente a condição dos que tinham consciência fraca. Estes também precisam receber consideração. (Romanos, capítulo 14; 1 Coríntios, capítulo 8) Sim, entre os primitivos cristãos havia pessoas com uma ampla variedade de fraquezas — mas todas deviam ser compreendidas e auxiliadas.
Para alguém forte é difícil de agüentar ser menosprezado ou talvez evitado. Quanto mais difícil é para o fraco sofrer estas coisas! Embora Davi, em geral, não seja considerado como tendo sido fraco, ele passou por tal período difícil na sua vida: “Mostra-me favor, ó Jeová, porque estou em sério aperto. Com o vexame se enfraqueceu meu olho, minha alma e meu ventre. . . . Tropeçou meu poder por causa do meu erro, e meus próprios ossos ficaram fracos. Do ponto de vista de todos os que me são hostis tornei-me um vitupério, e isso muito para os meus vizinhos, e um pavor para os meus conhecidos. Ao me verem portas afora, fugiram de mim. Igual a alguém morto e não no coração, fui esquecido; . . . Eu, porém — em ti tenho posto a minha confiança, ó Jeová. Eu disse: ‘Tu és o meu Deus.’ Meus tempos estão na tua mão.” (Sal. 31:9-15) Em vez de ele ver seus irmãos lhe virem ajudar, viu que o evitavam. Davi sentiu-se auxiliado apenas por Deus.
O que faz com que alguém fraco seja tratado assim? Um motivo seria o de deixarmos que o conceito negativo de outro sobre alguém influencie nossa avaliação dele. Outro motivo poderia ser confundirmos a fraqueza com a iniqüidade. Os fariseus pareciam ter errado em ambos estes casos. Em resposta às murmurações deles contra Jesus, por gastar tempo com os que eles não achavam ser apenas fracos, mas sim pecadores, ele disse: “As pessoas com saúde [os fortes] não precisam de médico, mas sim os enfermos. Ide, pois, e aprendei o que significa: ‘Misericórdia quero, e não sacrifícios.’ Pois eu não vim chamar os que são justos, mas pecadores.” — Mat. 9:12, 13; Mar. 2:17.
Mesmo quando se precisa pensar numa desassociação, a questão a ser respondida é: É esta pessoa realmente iníqua ou simplesmente fraca? Se for uma questão de fraqueza, a pessoa talvez aceite o genuíno auxílio amoroso que se lhe preste pacientemente. Até que ponto se deu ajuda ao errante? Poder-se-ia despender mais esforço e tempo para tocar o coração da pessoa, para incentivá-la a mudar de proceder?
Embora os interesses da pessoa sejam importantes, o efeito de suas ações sobre a congregação e sua posição justa perante Deus também são importantes. Se os anciãos deixarem de agir para eliminar a iniqüidade da congregação, resultará dano. (1 Cor. 5:6-13) No entanto, é possível que se aja com precipitação, falta de amor ou falta de discernimento. Se a pessoa que pecou por ser fraca, não iníqua, sofrer dano em conseqüência disso, isso também seria prejudicial para a congregação e afetaria adversamente a sua posição justa perante Deus.
Requer perspicácia para adotar o proceder certo para com os que dão um passo em falso. Mas, ao passo que o cristão se empenha neste sentido, suas faculdades perceptivas aumentam, não somente para identificar a verdadeira fraqueza, mas também quanto à ajuda, ao conselho ou à ação mais necessária na ocasião. (Heb. 5:14) Se ele errar nos seus esforços de lidar com o problema, que não seja por falta de bondade e misericórdia. — Sal. 25:6, 7; 51:1; Tia. 2:13; Jud. 22, 23.
Assim, quando jovens ou outros não usam de bom senso (o que acontece em muitos pontos), qual é a nossa reação? Quão bom é quando nos refreamos de condená-los imediatamente, refletindo antes no que poderíamos fazer para auxiliá-los! Quando alguém comete um sério engano na congregação, fazemos empenho duplo para ajudá-lo? Isto é muito mais útil do que tornar o erro dele assunto de conversa entre outros irmãos. E quando a conversa pode virar-se para a fraqueza de outra pessoa, mostra muito mais consideração fazer empenho para mudar de assunto, talvez para como se pode ajudar ou auxiliar neste respeito. “Quem encobre uma transgressão está procurando amor, e aquele que continua falando sobre um assunto separa os que estão familiarizados uns com os outros”, diz o provérbio inspirado. — Pro. 17:9; 11:13.
COMO PODEMOS AUXILIAR OS FRACOS?
Ter o espírito de prestimosidade e não encarar alguém fraco de modo depreciativo são requisitos primários para auxiliá-los. A seguir, queremos descobrir o problema subjacente: Será solidão, falta de entendimento ou pouquíssimo amor no lar? Será tensão econômica ou desapontamento pessoal, falta de saúde ou a sensação de inutilidade por causa da idade? Estes são apenas alguns dos possíveis problemas que podem causar a dissipação da força dos fracos. Em cada caso, há também necessidade de profunda compreensão das Escrituras e do amor de Deus. A cuidadosa reflexão sobre a situação da pessoa na vida, junto com uma visita cordial e de coração, poderia ajudar a saber qual a dificuldade subjacente.
Os que realmente estão interessados em auxiliar os fracos têm por guia o exemplo do apóstolo Paulo. Ele disse: “Quem é fraco, e não sou eu fraco?” (2 Cor. 11:29) Paulo compadecia-se de todos. Sentia o que os outros sentiam e ficava afetado pela aflição deles. Até que ponto? A julgar pelo seu conselho em Atos 20:35, sua compaixão certamente ia além de palavras bondosas: “Por labutardes assim, tendes de auxiliar os que são fracos.” Ele reagia à fraqueza no espírito da exortação posterior do apóstolo João: “Amemos, não em palavra nem com a língua, mas em ação e em verdade.” — 1 João 3:18.
Embora as Escrituras incentivem vigorosamente que se auxilie os fracos, elas não descrevem em pormenores o que se pode fazer a favor deles. Por que não? Sem dúvida é porque, não importa quão extensiva fosse tal instrução, nunca poderia abranger todas as circunstâncias. Mas a Bíblia dá firme orientação para que desenvolvamos genuína compaixão solidária pelos fracos. Temos de fazer algo em vista das necessidades deles. Este conselho, embora simples e geral, produz resultados específicos entre os cristãos de coração reto.
CADA PESSOA ASSOCIADA COM A CONGREGAÇÃO É PRECIOSA
Todos na congregação serão ajudados no cumprimento de sua responsabilidade de auxiliar os fracos, se chegarem a reconhecer o valor de cada membro da congregação. Mas, quando um membro é fraco e precisa ser auxiliado, de que valor positivo é ele? Não é antes um peso para a congregação? Paulo não encarou isso assim: “Antes, o caso é que os membros do corpo, que parecem ser mais fracos, são necessários, . . . Deus formou o corpo, dando honra mais abundante à parte que tem falta, para que não houvesse divisão no corpo, mas para que os seus membros tivessem o mesmo cuidado uns para com os outros.” (1 Cor. 12:22-25) A congregação que dá valor a cada pessoa e preza sua participação nas atividades cristãs, dentro de suas limitações, é uma congregação cordial e feliz, cheia de vida e vigor.
Quem sabe em que resultará o esforço feito para ajudar o fraco? “Semeia de manhã a tua semente, e não descanse a tua mão até a noitinha; pois não sabes onde esta terá bom êxito, quer aqui quer ali, ou se ambas serão igualmente boas.” (Ecl. 11:6) Podemos ter certeza especial da ajuda de Deus quando auxiliamos outros de modo espiritual. Quantos daqueles que hoje são servos excelentes de Jeová receberam auxílio espiritual duradouro numa ocasião em que eram fracos!
O fraco não pode tornar-se rapidamente forte. Assim como o restabelecimento depois duma fraqueza física pode ser lento, assim pode levar algum tempo até que se torne espiritualmente forte. Mas, temos paciência com os fracos? Amamo-los tanto como se fossem fortes? Quando se mostra tal amor, quanta bênção todos derivam disso! O irmão mais fraco tem a bênção de ser cuidado e apoiado nas suas dificuldades. O mais forte obtém as bênçãos maiores que só o dar pode trazer. A congregação como um todo sente crescente afetuosidade, ao passo que cada membro depende dos outros e toma interesse neles. Deus e Cristo recebem a honra, ao passo que sua própria ajuda sem igual dada aos fracos é refletida nos seus servos terrestres.
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O “paroleiro”A Sentinela — 1979 | 15 de outubro
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O “paroleiro”
CERTOS filósofos atenienses chamaram o apóstolo Paulo de “paroleiro”. (Atos 17:18) A palavra grega usada por eles pode referir-se a ‘um corvo que apanha sementes’. Em sentido figurativo, este termo era aplicado a alguém que apanhava migalhas por mendigar ou furtar. Usando esta expressão com referência a Paulo, os filósofos classificaram-no como alguém que repetia migalhas de conhecimento, e, por isso, como palrador.
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