Perguntas dos Leitores
• Por que, depois de perdoar a Adonias, o Rei Salomão mandou matá-lo quando pediu a Abisague como esposa? — R. F., EUA.
A fim de compreender as ações de Salomão, considere primeiro o fundo. Quando Davi estava velho e, aparentemente, muito enfraquecido pela sua vida longa e vigorosa, seus servos escolheram a linda virgem, Abisague, para servir como sua enfermeira e companheira. (1 Reis 1:1-4) Muito embora Davi ‘não tivesse tido relações com ela’, ela era evidentemente considerada como sendo sua esposa ou concubina. Como tal, segundo o costume oriental antigo, ela se tornaria propriedade de seu herdeiro quando Davi morresse.
O relato a respeito de Abisague antecede diretamente os pormenores sobre a tentativa frustrada de Adonias, o filho mais velho sobrevivente de Davi, de obter a coroa. Parece estar assim colocado de forma a elucidar as ações de Adonias durante a primeira parte do reinado de Salomão. Depois de ascender ao trono, Salomão estendeu perdão condicional a Adonias, que seria Rei. Mais tarde, Adonias astuciosamente persuadiu a mãe de Salomão, Bate-Seba, a pedir a seu filho que lhe desse Abisague como esposa. Salomão concluiu que o pedido de Adonias indicava sutil esforço da parte deste usurpador de fortalecer sua pretensão falsa ao trono de Israel, e não simplesmente o desejo de ter uma bela esposa. O rei reagiu por revogar o perdão dado a Adonias e por ordenar a morte deste. — 1 Reis 2:13-25.
Destarte, Salomão não agiu por ciúmes louco e irresponsável, mas de forma a proteger sua posição de direito como sendo o rei ungido no “trono de Jeová”. — 1 Crô. 29:23.
• Por que os judeus usaram o nome do deus pagão Tamuz como nome para um de seus meses? — R. M., Honduras.
Tamuz era o nome de uma deidade babilônica. (Eze. 8:14) E, embora a Bíblia não aplique o nome desta forma, obras posteriores ao exílio, tais como o Talmude judaico, usam o nome para o quarto mês lunar judaico do celendário sagrado, o décimo do celendário secular. (Eze. 1:1) Assim, corresponderia à última parte de junho e a primeira parte de julho.
O uso do nome pagão Tamuz como se aplicando ao quarto mês do celendário sagrado talvez tenha sido apenas uma questão de conveniência para os judeus. Devemos lembrar-nos de que eram então um povo subjugado, obrigado a lidar com as potências estrangeiras que os dominavam e a prestar contas a elas. Assim, é compreensível que utilizassem os nomes dos meses empregados por estas potências estrangeiras. Similarmente, o celendário gregoriano usado hoje em dia tem meses com nomes dos deuses Jano, Marte e Juno, bem como de Júlio e Augusto César. Todavia, continua a ser usado pelos cristãos que estão sujeitos às “autoridades superiores”. — Rom. 13:1.
• Por que estava disposta Raquel a ceder a oportunidade de conceber em troca de algumas mandrágoras, conforme relatado em Gênesis 30:14, 15? — R. A., EUA.
A mandrágora da Bíblia é uma planta curta, com raiz similar ao nabo. Amadurece em Israel durante os fins da primavera e tem um frutinho amarelo um tanto parecido a uma pequena maçã. Nos tempos antigos, o fruto era usado na medicina como narcótico e antiespasmódico. Também, era, e ainda é em algumas partes do Oriente, considerada um afrodisíaco e capaz de aumentar a fertilidade humana ou ajudar a concepção. — Cântico de Salomão 7:13.
Aprendemos em Gênesis, capítulo 29 e 30, que o patriarca Jacó gerara oito filhos com sua esposa Lia e por meio de duas servas legais; estes filhos mais tarde se tornaram cabeças das tribos de Israel. Todavia, depois de muitos anos de casamento, a esposa favorita de Jacó, Raquel, não havia concebido. Quando, certo dia, Rúben trouxe algumas mandrágoras para sua mãe, Lia, Raquel concordou em trocar as plantas por uma oportunidade de receber de Jacó os deveres maritais. (Gên. 30:14, 15) Possivelmente achava que as mandrágoras a ajudariam a conceber e findar seu vitupério como estéril. Não obstante, passaram-se alguns anos antes de Jeová ‘abrir-lhe a madre’ e ela ficar grávida de seu primeiro filho, José. — Gên. 30:22-24.
Assim, ao passo que a Bíblia não considera o motivo de Raquel, ela talvez estivesse disposta a fazer a troca na esperança de que assim fosse ajudada a ficar grávida.
• Pode 2 Coríntios 5:16 ser usado para se afirmar que Jesus não retornaria na carne? — C. N., Inglaterra.
O texto em questão reza: “Por conseguinte, doravante não conhecemos mais a nenhum homem segundo a carne. Embora tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, certamente agora não o conhecemos mais assim.” O significado primário destas palavras pode ser melhor entendido se determinarmos primeiro o que o apóstolo Paulo provava no contexto.
Em 2 Coríntios 5:14 o apóstolo indicou que Cristo morrera como sacrifício resgatador por todos. Seu sacrifício não abrangeu apenas os judeus nem beneficiou apenas os gentios. Não, mas todos que o aceitassem e exercessem fé podiam viver por causa dele. (Gal. 3:8, 11) Visto que Jesus morreu por todos, seria impróprio os cristãos considerarem as pessoas numa base humana ou carnal, desprezando a alguns por causa de serem gentios ou terem baixa posição na vida, ou de ter outros em alta conta por serem judeus ou terem alguma posição proeminente. Esta atitude baseada em aparências externas, carnais, era uma coisa do passado para aqueles que se tornaram cristãos.
Daí, Paulo concluiu no versículo 16 que os cristãos ungidos não conheceriam então nenhum homem segundo a carne. A importante relação espiritual que poderiam ter com seus irmãos era a coisa importante. Jesus mostrou o mesmo conceito em Mateus 12:47-50. Destacou a relação espiritual que tivera com aqueles que o aceitaram como o Messias.
Por fim, Paulo falou a respeito dos que conheciam a Jesus segundo a carne. Não quis dizer necessariamente apenas pessoas que tinham visto pessoalmente a Jesus com olhos físicos, visto que alguns, muitos ou todos os membros da congregação de Corinto, jamais viram Jesus como humano. Antes, queria dizer que até mesmo se as pessoas, tais como os judeus que esperavam que o Messias restaurasse um reino terrestre, certa vez tinham considerado a Cristo apenas à base de sua carne, os cristãos não mais fariam isso. Tudo isto mudara pelo fato de que Cristo não simplesmente “morreu por eles” mas também foi “levantado”. — 2 Cor. 5:14, 15.
Ao passo que este é o ponto primário que o escritor estabelecia em 2 Coríntios 5:16, é também prova de que Jesus não retornaria de novo na carne, porque não podemos separar a mudança de se conhecer a Cristo e seus seguidores da ressurreição de Cristo, de ser ele “levantado” dentre os mortos. Se tivesse ressuscitado com carne e sangue, incapaz de ir para o céu e sentar-se à mão direita de Deus, não teria sido o Cristo ou Messias. (1 Cor. 15:50; Sal. 110:1; Atos 2:32-36) Nesse caso, ainda teria de ser conhecido segundo a carne.
Bem, como foi levantado dentre os mortos? O apóstolo sabia, pois em sua primeira carta à mesma congregação coríntia ele lhes disse que Jesus fora ressuscitado como espírito vitalizador. 1 Cor. 15:45) E nesta segunda carta disse que os cristãos ungidos teriam de deixar seus corpos carnais a fim de obter a imortalidade. (2 Cor. 5:1-4) Também, avaliava que Jesus entregara seu corpo carnal como resgate e não poderia recebê-lo de volta na ressurreição sem anular o resgate. (Heb. 9:28; 10:10) Sim, sem dúvida, o apostolo Paulo compreendia que nenhum humano veria de novo a Jesus na carne. Assim, num sentido duplo, Paulo podia declarar que os humanos não mais conheceriam a Jesus segundo a carne. E, por esta razão, tal texto pode ser usado para se afirmar que a volta de Cristo não seria visível nem carnal.