O reverso da moeda
TODA moeda tem duas faces, o verso e o reverso. Apropriadamente, são também chamadas de “cara” ou “cabeça” e de “coroa” ou “cauda”, pois se completam. Na verdade, a “cabeça” amiúde subentende a existência da “cauda”, como no caso em que a Bíblia diz: “O ancião e o varão de respeito é a cabeça, e o profeta que ensina a falsidade é a cauda.” (Isa. 9:15) Assim também, “verso” subentende a existência do “reverso”; “interior” de um “exterior”; “oriente” do “ocidente”, e assim por diante.
Pode-se dizer que um princípio similar se aplica às finanças. Todos os ativos subentendem passivos, dependendo de como os considera. Por exemplo, em seu extrato anual, o banco tem que ter um ativo que iguale seu passivo. Entre seu ativo talvez se achem alistados depósitos que atingem muitos milhares de cruzeiros; mas, ao mesmo tempo, estes representam um passivo, visto que os depositantes do banco podem retirar seus depósitos, e o dinheiro efetivamente lhes pertence, pagando o banco juros pelo privilégio de usá-lo.
Este princípio de haver o reverso da moeda, pode-se dizer, aplica-se também a muitíssimos mandamentos que encontramos na Palavra de Deus — e em todas as outras partes, também, a bem dizer — e isto se dá especialmente com respeito àqueles que colocam certas obrigações sobre as pessoas em suas relações com outras. Toda ordem imposta a certo grupo de pessoas que traga proveito a outro grupo, pode-se dizer, representa um ativo para os assim beneficiados. Mas, inerente a tais benefícios existe quase que invariavelmente uma obrigação subentendida ou passivo da parte dos assim beneficiados. Isto se dá primariamente por causa da regra de que devemos fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem. — Luc. 6:31.
Por exemplo, segundo a Palavra de Deus, o marido é o cabeça da família, e a esposa é assemelhada ao corpo dele. Segundo isso, diz-se às esposas que se sujeitem em tudo aos maridos. (Efé. 5:23, 24) Mas, que nenhum marido se glorie disso. Por que não? Porque, implícita se acha uma obrigação, um passivo, por assim dizer. Obriga-o a tratar a esposa como a seu próprio corpo, a amá-la como a si mesmo, a cuidar dela, a prezá-la, a alimentá-la e vesti-la, a prover-lhe um teto sobre a cabeça e a protegê-la de dano. Portanto, o ativo que advém ao marido em razão de sua direção e da sujeição da esposa subentende uma obrigação nada pequena, um passivo que equilibra, o reverso da moeda. Isto deve servir para torná-lo modesto e humilde cabeça!
O mesmo, por certo, se aplica no tocante ao mandamento de os maridos amarem as esposas como a seus próprios corpos, assim como Jesus “Cristo amou a congregação e se entregou por ela”. (Efé. 5:25) Será que a esposa se queixa de que o marido não a ama como ele ama seu próprio corpo? Então, pode perguntar a si mesma: Será que presto a meu marido a cooperação que devia? Sujeito-me a ele como o próprio corpo dele? Por certo, o próprio corpo dele não se queixa continuamente nem o apoquenta sobre coisas. Diz a Bíblia: “Melhor é habitar num canto do telhado do que conviver com uma mulher impertinente.” (Pro. 21:9, CBC) Assim, com o ativo ou vantagem que advém à esposa em razão da ordem bíblica de o marido dela a amar como ao próprio corpo dele, subentende-se a obrigação da esposa de cooperar tão plenamente quanto possível com o seu cabeça. Isto, por certo, tornará muito mais fácil ao marido dela amá-la como ama a si mesmo!
Entretanto, que ninguém pense que a negligência por parte de um justifica a negligência da parte do outro. Não justifica, não! As obrigações permanecem, apesar do que o outro talvez faça ou não, mas a justiça e o amor ao próximo indicam que cada um deve fazer a sua parte.
O princípio do reverso da moeda também se aplica aos mandamentos que a Bíblia dá quanto à conduta correta entre os sexos. A Palavra de Deus dá conselho excepcionalmente sábio e sólido em tais questões, pois foi inspirada por Aquele que entende a natureza humana melhor que ninguém no universo. Por exemplo, ordena aos homens na congregação cristã que tratem ‘as mulheres mais jovens como a irmãs, com toda a castidade’. Também avisa que continuar um homem a fixar os olhos numa mulher, de modo a sentir paixão por ela, significa cometer adultério no coração. — 1 Tim. 5:2; Mat. 5:28.
Pode-se dizer que mandamentos como estes representam um ativo ou vantagem para as mulheres mais jovens, para todas as mulheres, com efeito, visto que lhes dá o senso de segurança e de liberdade, especialmente na congregação cristã. Mas, junto com esta vantagem vem também uma obrigação, um passivo para elas. Qual é? Que se comportem e se vistam como irmãs dos homens, não como sereias. Conforme o apóstolo Paulo aconselhou às mulheres cristãs: “Desejo que as mulheres se adornem em vestido bem arrumado, com modéstia e bom juízo.” — 1 Tim. 2:9.
O princípio do reverso da moeda, pode-se dizer, aplica-se em especial a todas as relações que envolvem autoridade e sujeição. Assim, junto com a obrigação direta de os estudantes prestarem atenção vem a obrigação implícita da parte do professor de ensinar com perícia e entusiasmo, de modo a captar a atenção dos estudantes. Mas, não importa o que qualquer um deles faça, conforme já tem sido mencionado, cada um tem sua obrigação: o professor, de dar o que tem de melhor, não importa se os estudantes prestem ou não a máxima atenção; os estudantes, de prestar a máxima atenção, muito embora o professor tenha falta de perícia e de entusiasmo.
Assim, também, se dá na congregação cristã. Ordena-se a seus membros que ‘sejam obedientes aos que tomam a dianteira entre eles e sejam submissos’. Mas, junto com esta ordem vai a obrigação implícita de assumir a liderança de tal forma a não tornar indevidamente onerosa a obediência, pois aqueles que lideram têm de prestar contas dos que estão sob seus cuidados. — Heb. 13:17.
Avaliar que há o reverso da moeda, que há uma obrigação implícita para nós em muitíssimos mandamentos que parecem estar em nosso favor, individualmente, nos ajudará a mostrar empatia. Contribuirá para o melhor entendimento, a melhor cooperação, mais harmonia e eficiência. É modo pelo qual podemos ajudar a outra pessoa a cumprir suas obrigações; assim, estaremos obedecendo à regra de fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizesse.