“Sujeitai-vos” — A Quem?
“Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra.” — Tito 3:1, ALA.
1, 2. (a) A quem estão sujeitos até mesmo os povos chamados livres? (b) Como se tem tornado difícil a aceitação da sujeição e onde é mais acentuada esta dificuldade?
AS PESSOAS livres, a despeito de sua liberdade, estão sujeitas aos governos políticos estabelecidos sobre elas. A despeito de quão livre queira estar, nunca escapará da questão da sujeição. O acatamento da sujeição tem sido difícil em face das muitas revoluções políticas que têm surgido nos últimos séculos.
2 Desde a Revolução Americana de 1775 a 1783 e a Revolução Francesa de 1789, tem havido outras revoluções, algumas causando remodelação do mundo. Se os domínios da cristandade fossem realmente cristãos, não haveria revoluções na cristandade; mas a cristandade tem sido agitada por revoluções violentas mais do que o paganismo. O nosso próprio século vinte tem visto as mais estupendas revoltas, sublevações e queda de governos em toda a história humana, as da China pagã em 1911 e 1949 e da Rússia “cristã” em 1917, resultando nos dois gigantes comunistas atuais. Em vista de todas estas mudanças revolucionárias e violentas de governo, o povo subordinado se atormenta com a questão da sujeição — a que governo ter vontade de se estar sujeito.
3. Que perguntas surgem referentes à sujeição e quem as tem de responder?
3 Quer as mudanças na regência humana e nos tipos de governo tenham sido pacíficas, desenvolvendo-se progressivamente., quer tenham sido mediante revoluções violentas, o povo afetado por elas precisa responder às seguintes perguntas: Por que se sujeitar à mudança de governo? Por que não resistir? Quais são os benefícios da sujeição? Até mesmo as pessoas que pensam justamente, que oram para que o reino de Deus venha para abençoar toda a humanidade, precisam confrontar-se com estas perguntas e responder a elas corretamente, a fim de agradarem a Deus.
4, 5. (a) Que revolta ocorreu na Galiléia durante a Infância de Jesus Cristo e como sabemos se procedia da parte de Deus? (b) Em que resultou a revoltados judeus no ano 66 e que grupo religioso não estava envolvido na revolta?
4 Há dezenove século atrás, o Império Romano controlou as terras em volta do Mar Mediterrâneo e grande parte da Europa. Tinha em sujeição a muitos povos, inclusive os judeus da Palestina, de modo que o governo romano tinha que lidar com muitos problemas. Muitos eram os judeus que, por causa de sua religião, queriam liberdade do imperialismo romano. No ano 7 da nossa Era, enquanto Jesus Cristo ainda era um rapazinho na aldeia de Nazaré, na Província de Galiléia, deu-se uma revolta. Foi encabeçada por um judeu chamado Judas, o galileu, que a instigou por causa do registro ou censo de Quirinoa, o governador romano.
5 Era de Deus — esta revolta contra a sujeição judaica a Roma? Não; pois, segundo disse mais tarde um instrutor judeu da Lei, Gamaliel: aquele homem “foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram”. (Atos 5:34-37, ALA) Os judeus não deram ouvidos a este exemplo em sua própria história, visto que a nação se revoltou no ano 66, trazendo terrível destruição e ruína sobre si. Jerusalém, a santa cidade capital, foi destruída junto com o magnífico templo de Jeová Deus; a terra da Judéia foi desolada pelos exércitos romanos e 97.000 sobreviventes judeus foram levados cativos numa escravidão pior do que a mera sujeição ao Império Romano. (Luc. 21:5-7, 20-24; 19:41-44) Nenhum dos cristãos, nem mesmo os judeus que se tinham convertido ao cristianismo, estavam envolvidos na revolta contra a sujeição ao imperialismo romano. Por que não?
6. (a) Quando e onde foi fundada a congregação cristã? (b) Como se expandiu ela rapidamente tanto dentro como fora do Império Romano?
6 A congregação cristã foi fundada no dia festivo de Pentecostes de 33 E. C., na cidade de Jerusalém. Os membros desta congregação original foram escolhidos pelo próprio Deus, pois derramou-lhes o espírito santo e deu-lhes poderes miraculosos. (Atos 2:1-40) Portanto, naquele ano decisivo, fundou-se a congregação cristã no melo do mundo judaico, onde foi atiçado o fogo da revolta contra Roma, apesar do grito anticristão: “Não temos rei, senão César!” (João 19:15, 16, ALA) Mas a recém-formada congregação cristã foi orientada à segurança pela regra de ação estabelecida pelo seu Líder, Jesus Cristo: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” (Mar. 12:17, ALA) Milhares presenciaram a fundação da congregação cristã em Jerusalém, no ano de 33. Muitos eram judeus devotos da Partia, Média, Elão, Mesopotâmia, Capadócia, Ponto, Província da Ásia, Frígia, Panfília, Egito, Líbia, Judéia, Arábia, Creta, Roma, isto é, de lugares dentro e fora do Império Romano. Três mil destes judeus de países longínquos se converteram ao cristianismo e foram batizados naquele dia de Pentecostes. (Atos 2:5-11, 37-42) Quando voltaram para suas terras, estabeleceram congregações cristãs ali, inclusive na ilha de Creta, no Mar Mediterrâneo, que era governada por Roma.
7. Por que foi que Paulo deixou Tito em Creta e que conselho escreveu ele para Tito dar concernente aos tratos com toda espécie de homens?
7 Por volta do ano 61, o apóstolo cristão, Paulo, junto com seu jovem companheiro missionário, Tito, visitou Creta. Quando Paulo deixou a ilha, fez que Tito ficasse ali para cuidar das necessidades da congregação cristã. Paulo disse a Tito por carta: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros conforme te prescrevi. . . . Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos, e enganadores, especialmente os [judeus] da circuncisão [judaica].” (Tito 1:5-10, ALA) Para que qualquer, coisa fosse posta em ordem na mente dos cristãos cretenses, e para que fossem ajudados a andar direito com relação às pessoas de toda a espécie, Paulo escreveu a Tito que, quando falasse à congregação desse o seguinte conselho apropriado: “Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores; mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens. Pois nós também, outrora, éramos [como eles] néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros.” — Tito 3:1-3, ALA.
8, 9. (a) Que perguntas surgem aqui concernentes aos ‘governos e autoridades’ mencionados? (b) A quem se referia Paulo e por que foi ele obrigado a dizer aos cristãos que se sujeitassem a eles?
8 Eis aqui o único lugar na sua carta a Tito em que Paulo menciona ‘governos e autoridades’. Visto que os cristãos deviam sujeitar-se a eles, a quem se referiu Paulo na expressão “aos governos, às autoridades”? Estão eles dentro da congregação cristã? Ou se tratava dos então governadores e autoridades políticas fora da congregação cristã sob o domínio da Roma imperial? De quem falaria Tito quando lembrasse as congregações cretenses que se sujeitassem?
9 Ele se referiu evidentemente aos governos e autoridades políticas deste mundo. Mas Paulo não dera instruções para Tito consultar os governos e autoridades e obter a aprovação deles para nomear homens mais maduros nas posições de serviço das congregações de Creta. Estas autoridades eram governadores, não dos assuntos internos da congregação cristã, mas das coisas fora dela, coisas do mundo exterior. Jesus expôs realisticamente a questão, que seus seguidores, embora estejam no mundo, não são parte dele e são odiados por ele. (João 17:14-16; 15:19) Se os cristãos quisessem evitar todas as relações com qualquer governo e autoridade deste mundo, teriam que sair da terra. Mas eles não podem dar sinal para o motorista parar o mundo, a fim de que desembarquem. (1 Cor. 5:9, 10) Deus não tirou os cristãos para fora do mundo. Eles têm de coexistir com os governos e autoridades que ainda existem. Portanto, Paulo disse que se sujeitassem.
10. Que pergunta surge quanto à conveniência desta sujeição e sobre o que depende?
10 Mas não correm perigo o ensino, a moral, a adoração e as atividades da congregação, quando os verdadeiros cristãos estão em sujeição aos governos e autoridades políticos do mundo do qual Satanás, o Diabo, é o “príncipe” e “deus” invisível? (João 12:31; 14:30; 16:11; 2 Cor. 4:4, ALA) Isto, naturalmente, depende de até onde vai a sujeição. Disse Paulo que os cristãos estivessem em completa sujeição, de modo que a pessoa simplesmente receba ordens superiores e se torne um mero boneco mecânico, sem permitir que a consciência cristã dite o que é correto e o que é errado segundo a Palavra escrita de Deus? Significa isto uma sujeição completa da vontade da pessoa, de modo que o cristão renda obediência irrestrita em todos os casos ordenados pelos governos e autoridades mundanos?
11. Que outra espécie de sujeição pode haver e quem nos indica que espécie deve ser?
11 Ou significa isto uma sujeição relativa? Por “relativa” queremos dizer uma sujeição comparativa, uma sujeição relacionada com outras coisas. Isto é, ela tem que levar em consideração outras coisas que nos afetam. Não é absoluta, isto é, não é independente de outras coisas. Tem de ser equilibrada com outras coisas que não podem ser desconsideradas. Na breve carta a Tito Paulo indica, até que ponto deve ir a sujeição e se ela deve ser absoluta ou relativa.
12. Como é que Paulo indica isto e que caso relacionado e determinativo menciona ele primeiro?
12 Como é que Paulo indica isto? Por dizer a Tito que há também outras coisas às quais o cristão verdadeiramente dedicado e batizado precisa estar sujeito. Os governos e as autoridades políticas deste mundo não são os únicos a quem se deve certa medida de sujeição. Há outras sujeições para os cristãos considerarem. Quais? Ora, uma delas é a sujeição marital. Em Tito 2:3-5 (ALA) Paulo escreveu o seguinte conselho sobre a responsabilidade das mulheres mais idosas na congregação: “A fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem a seus maridos e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas a seus próprios maridos, para que a palavra de Deus não seja difamada.” Devem as mulheres estarem “sujeitas a seus próprios maridos” em sentido absoluto? Vejamos.
ESPOSAS
13. (a) Em que se baseia a sujeição da esposa a despeito da religião do marido? (b) Que espécie de sujeição deve ser esta e o que protege ela contra difamação?
13 Devemos notar que Paulo não diz que vem ao caso o marido ser verdadeiro cristão, judeu ou pagão. Mesmo assim as mulheres devem estar sujeitas aos maridos segundo o princípio bíblico que Paulo declarou. Escrevendo à congregação de Corinto ele disse o seguinte: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem o cabeça da mulher, e Deus o cabeça de Cristo. . . . o homem não foi criado por causada mulher; e, sim, a mulher, por causa do homem. Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade.” (1 Cor. 11:3, 9, 10, ALA) Mesmo assim, segundo o apóstolo Paulo, a sujeição da esposa cristã ao marido não podia ser total, sem consideração a uma maior sujeição. De outro modo, como podia Paulo dizer que as jovens esposas, que obedeciam o ensino e seguiam o exemplo das mulheres mais idosas, se sujeitassem à chefia dos seus próprios maridos ‘para que a palavra de Deus não fosse difamada’ pelos de fora?
14. A despeito da chefia do marido, que coisas deve a verdadeira esposa cristã levar em conta com relação à sua sujeição?
14 Conseqüentemente, no caso da sujeição da esposa cristã na união marital, a “palavra de Deus” tem de ser tomada em consideração primeiro. Ela se dedicou completamente a Jeová Deus e foi batizada em símbolo desta dedicação, assim como Jesus foi. O seu marido, quer seja cristão, quer judeu, quer pagão, é imperfeito e pecador de nascimento. Por isso, se ele pedir ou ordenar que faça algo contrário à Palavra de Deus, ela não pode fazê-lo conscienciosamente, e, ao mesmo tempo, cumprir a sua dedicação a Deus, assim como Cristo cumpriu a dele. Sabemos que o marido é o seu cabeça visível no círculo familiar; mas Cristo é superior a qualquer homem, a qualquer marido, e Cristo é o cabeça do marido cristão, e, além deste fato, Deus é o cabeça de Cristo. A esposa cristã dedicada, portanto, não pode considerar a chefia de terceira classe, do seu marido, como única e absoluta. Ela precisa considerar a chefia suprema de Deus, a quem ela se dedicou mediante o seu cabeça superior, seu Salvador Jesus Cristo.
15. Que espécie tem de ser necessariamente a sujeição dela ao marido e o que ninguém pode dizer da Palavra de Deus neste sentido?
15 Se, numa sujeição servil ao seu marido, ela violar a Palavra de Deus, não estará tratando corretamente a Palavra de Deus, embora o povo de fora da congregação cristã aprove ás ações dela. Isto seria pecado. Torna-se assim claro que a sujeição da esposa cristã ao seu marido é uma sujeição relativa. Tem de ser feita em harmonia com a Palavra de Deus. A Palavra de Deus concorda que ela seja sujeita ao marido e a ensina como fazer isto. Ninguém de fora da congregação cristã pode dizer verdadeiramente que a Palavra de Deus não ensina a esposa a estar em sujeição ao marido, a amá-lo e a mostrar este amor mediante a sujeição.
16. Como poderia ela fazer com que a Palavra de Deus fosse difamada e por que seria?
16 O que dizer se a esposa cristã, embora pregue a Palavra de Deus a outros, não presta sujeição relativa ao marido, mas o desafia, disputando sobre coisas domésticas que não envolvem a consciência cristã? Neste caso ela faria os de fora pensar que a Palavra de Deus, que ela prega, a ensina a ser rebelde, insubordinada e cobiçante da chefia. Por este motivo, ela faria que a Palavra de Deus ‘fosse difamada’ pelos de fora, e êles não quereriam dar ouvidos à Palavra quer fosse pregada por ela quer por outros membros da congregação à qual ela pertencesse. Por isso, estar ela sujeita ao marido nas coisas corretas, nas coisas que não contrariarem a Palavra de Deus, é realmente uma proteção para a Palavra de Deus, contra a difamação de ignorantões que julgarem a Palavra de Deus pelas ações de uma esposa cristã.
17. Como, então, recomendaria ela a palavra de Deus a outros?
17 A esposa cristã, pelo modo que ela se sujeita ao seu marido, deve recomendar a Palavra de Deus aos de fora e torná-los inclinados a ouvi-la. A Palavra de Deus é a coisa principal na sua vida de casada; e, assim; Paulo argumenta que a sujeição dela ao marido é apenas relativa, não total.
ESCRAVOS
18, 19. (a) De que outra espécie de sujeição fala então Paulo e que perguntas surgem quanto à dedicação dos assim sujeitos? (b) Por que se tornou necessário que os apóstolos escrevessem referente a como deviam agir como cristãos os que se achavam sob esta espécie de sujeição?
18 Na sua carta a Tito, o apóstolo Paulo fala de outra espécie de sujeição que não podia ser desconsiderada nos seus dias. Havia muitos escravos no Império Romano, não só escravos negros, mas também escravos brancos. Eram pessoas que tinham sido prisioneiras na guerra ou que tinham contraído dívidas e não podiam pagá-las. Eram tão numerosos os escravos que um cidadão romano podia possuir tantos quantos quatro mil escravos na sua propriedade. Muitos deles ouviram a pregação das boas novas do reino de Deus da liberdade e aceitaram o cristianismo. Apesar de serem escravos de algum rico ou poderoso senhor ou senhora, eles acreditavam no sacrifício de resgate de Jesus Cristo e se dedicaram a Jeová Deus. Será que Deus recusou aceitar a dedicação deles, dizendo que não podiam fazê-la porque não eram livres? Será que Deus lhes disse que estavam sujeitos e eram propriedade de um amo, não podendo ser completamente de Deus, dedicando-se a Ele?
19 Não! Deus não recusou aceitar a dedicação que fizeram mediante Cristo. Se Deus a tivesse recusado, a congregação cristã não teria aceito escravos. Deus realmente aceitou a dedicação deles e os permitiu entrar para a congregação do seu povo santo. Foi por isso que os apóstolos de Jesus Cristo reconheceram estes escravos dedicados quais membros da congregação e escreveram sobre como deviam agir como cristãos.
20, 21. (a) Como Influía a dedicação de um escravo com relação ao seu amo? (b) O que foi que Paulo, escrevendo sobre a questão da escravidão, indicou quanto à sujeição ao governo romano?
20 Bem, será que quando Deus aceitou a dedicação destes escravos e os constituiu membros de Sua congregação, eles ficaram livres de seus senhores terrestres? Absolutamente. Eles continuaram como escravos terrestres, embora tivessem adquirido uma liberdade espiritual que os demais escravos não-dedicados, não-cristãos não possuíam. “Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto no Senhor”, disse Paulo, querendo dizer num sentido espiritual e não incentivando a fuga do escravo.
21 Foi por isso que Paulo disse: “Cada um permaneça na vocação em que foi chamado [para ser um santo de Deus]. Foste chamado sendo escravo? não te preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade. . . . semelhantemente o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo. Por preço [do sacrifício de Cristo] fostes comprados; não vos torneis escravos de homens. Irmãos, cada um permaneça diante de Deus naquilo em que foi chamado.” (1 Cor. 7:20-24, ALA) Paulo não era reformador do Império Romano, nem era autorizado por Deus para ser tal. Por que deveria ser, quando Deus e ele sabiam que o ímpio Império Romano seria destruído no tempo determinado por Deus? A mui difundida escravidão no Império Romano era instituída pelo governo imperial. Paulo sujeitava-se ao então existente governo romano na questão de escravidão. Ele não mandou aos escravos fugirem. Não advogava a revolta dos escravos semelhante à de Espártaco em 73 E. C.
22, 23. (a) Que efeito produz a dedicação sobre uma pessoa escrava? (b) Em beneficio de que escreveu Paulo as instruções concernentes a escravos e o que mandou que Tito instruísse os escravos a fazer?
22 Qual era então a relação entre escravos e senhores depois de o escravo tornar-se cristão dedicado e batizado? Segundo a carne ele ainda era escravo sob o seu senhor ou amo humano. Em vez de se tornar um escravo fugitivo como a Eliza da história da Cabana do Tio Tomé de 1851-1852, ele devia tornar-se melhor escravo, porque era cristão. O apóstolo Paulo instruiu o jovem superintendente, Tito, sobre o que ele devia dizer aos escravos de Creta, que então se tinham tornado cristãos. Ao escrever a Tito, Paulo instou fortemente que fizessem as coisas de modo que protegessem a organização cristã e a Palavra de Deus contra abusos, vitupérios e blasfêmias imerecidos do mundo. Primeiro Paulo disse às esposas cristãs como procederem em casa e disse aos jovens cristãos como se conduzirem, usando ‘linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário fosse envergonhado não tendo indignidade alguma que dizer a nosso respeito’. A seguir Paulo falou sobre os escravos e escreveu:
23 “Quanto aos servos, que, sejam, em tudo, obedientes aos seus próprios senhores, dando-lhes motivo de satisfação; não sejam respondões, não furtem; pelo contrário, dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as cousas, a doutrina de Deus, nosso Salvador. Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens [inclusive escravos], educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente.” — Tito 2:6-12, ALA.
24, 25. (a) O que não especifica Paulo concernente aos senhores de escravos? (b) Eram permitidos senhores de escravos na congregação e o que demonstra o caso de Filemom?
24 Como é isto possível atualmente para escravos literais na Ásia, na África e em outras partes? Como é que podem os escravos, depois de se tornarem cristãos dedicados e batizados, ser “obedientes aos seus próprios senhores, dando-lhes motivo de satisfação”, e, ao mesmo tempo, permanecer como cristãos? Note-se outra vez que Paulo não especifica os senhores como pagãos, romanos, judeus ou cristãos, ou que o escravo cristão devesse estar em sujeição somente ao amo cristão e agradar somente a este.
25 Sim, naquele tempo havia até amos cristãos na congregação. Paulo não tentou ser um protótipo do Czar Alexandre II, da Rússia, que, em 1861, emancipou 23.000.000 de escravos russos; nem protótipo do presidente americano, Abraham Lincoln, que, em 1863, emitiu uma Proclamação de Emancipação, abolindo a escravatura nas partes sulinas dos Estados Unidos, que não estivessem ocupadas pelo exército da União Federal. Não, Paulo não decretou que todos os escravos cristãos fossem libertos e que todos os amos cristãos ficassem sem escravos, privados involuntàriamente dos seus escravos. Ele não declarou que os amos que não libertassem seus escravos crentes ou descrentes devessem ser desassociados da congregação cristã. Não; Paulo até mesmo escreveu uma carta dirigida a um amo cristão, Filemom, que foi preservada na Bíblia. Em vez de ele ser desassociado da congregação, a congregação cristã local se reunia na casa de Fllernom. — Filem. 1, 2.
26. Em harmonia com as suas instruções aos escravos, o que fez Paulo a Onésimo e o que fez este?
26 O governo romano permitia a Filemom ser um amo de escravos e Paulo, que se sujeitava àquele sistema pagão de governo, não aboliu a escravatura da casa de Filemom. Em harmonia com as instruções dele a Tito, para que os escravos se sujeitassem aos seus senhores em todas as coisas. Paulo enviou de volta um escravo fugitivo de Filemom, junto com a carta de Paulo a Filemom. Paulo não deu liberdade a este escravo fugitivo, Onésimo, porque ele tinha ouvido a sua pregação e se tornado cristão. Paulo mandou Onésimo de volta à escravidão. Assim, Onésimo, justamente porque se tinha tornado cristão, voltou à escravidão, para estar sujeito ao seu concristão, Filemom, em todas as coisas, ‘demonstrando boa e plena fidelidade’. Ao voltar, Onésimo não mudou de idéia, destruindo a carta, desaparecendo no mundo e continuando como escravo fugitivo. Embora tivesse que enfrentar novamente a escravidão, ele entregou a carta a Filemom. Foi assim que chegamos a tê-la na Bíblia. — Filem. 10-17.
27. (a) Quais são, portanto, “todas as coisas” em que os escravos cristãos têm de estar sujeitos aos seus senhores? (b) Por conseguinte, que espécie de escravos se tornavam sob o cristianismo?
27 Como podem os escravos, que se tornaram cristãos dedicados, estar em sujeição aos seus senhores em todas as coisas, especialmente se os senhores não forem cristãos ou seguirem uma religião diferente? Será que a expressão “em todas as coisas” (usada na Tradução do Novo Mundo) significa sujeição total e absoluta, sem consideração da vontade e da Palavra de Deus? Dificilmente! As “todas as coisas” estão limitadas à área ou esfera em que um amo humano tinha direito legal de mandar no escravo. Me não tinha direito de mudar a religião do escravo, pois isto dependia da própria consciência do escravo e era um assunto pessoal entre ele e Deus. Paulo indicou o que “todas as coisas” incluíam, acrescentando: “Dando-lhes motivo de satisfação; não sejam respondões, não furtem; pelo contrário, dêem prova de toda a fidelidade.” O cristianismo não os tornava piores escravos, mas, sim, melhores escravos, escravos que agradavam aos seus senhores, cumprindo bem as tarefas designadas, escravos que não eram respondões, escravos que não roubavam aos seus senhores, escravos leais, que não traíam os interesses materiais dos seus senhores.
28, 29. (a) Estar sujeito a um senhor, o que não obriga o escravo a fazer? (b) Assim, que espécie de sujeição é a dele, devendo seu serviço ser leito como a quem, e com que motivo?
28 A sujeição não obriga o escravo cristão a roubar de outros senhores se for mandado pelo seu próprio senhor não-cristão. E se não rouba para o seu senhor, terrestre, não violará também os outros mandamentos de Deus. “Aquele que furtava, não furte mais”, disse o apóstolo Paulo, “antes trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado”. (Efé. 4:28, ALA) A sujeição cristã de um escravo humano ao senhor humano prova-se assim ser relativa, comparativa, limitada, dependendo da consciência do cristão. O agradar ao amo não inclui violar os mandamentos de Deus. Em Colossenses 3:22-24 Paulo disse:
29 “Servos, obedecei em tudo aos vossos senhores segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão só agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens [seus senhores humanos], cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo.” — ALA.
30. Segundo as instruções de Paulo, por que a obediência a um senhor de escravos em “todas as coisas” não podia incluir a violação da lei de Deus?
30 Ser obediente ao amo “em todas as coisas” não pode ir ao ponto de ser desobediente a Jeová Deus, violando os seus mandamentos. Pois o apóstolo disse que esta obediência em tudo deve ser feita, “temendo ao Senhor”. Isto quer dizer, com temor de desagradar a Jeová. Qualquer coisa que o escravo fosse mandado fazer, ele devia fazê-la, não se queixando como se fosse para o homem, seu senhor, mas de “todo o coração, como para o Senhor”, sabendo que era Jeová queira o recompensaria, mesmo que o seu amo não o recompensasse e sim o explorasse como a escravos.
31. Como, então, o temor, e o desejo de agradar a Deus controlariam as ações dos escravos?
31 O temor de Jeová não permitia que os escravos tomassem armas ou espadas e matassem outros sob o comando do seu senhor. Se o senhor deles ordenasse que roubassem, ou que mentissem e dessem falso testemunho perante um juiz, ou que raptassem a mulher de outro homem, eles não poderiam fazer estas coisas de todo o coração como se estivessem fazendo-as para Deus, pois Jeová proíbe que a testemunha cristã cometa tais crimes. Se os escravos cristãos estivessem tentando agradar a homens, eles se sujeitariam e obedeceriam aos seus senhores quando fossem ordenados a fazer qualquer coisa errada, antibíblica e anticristã. Mas havia algumas coisas, muitas coisas, em que não podiam obedecer a mestres humanos imperfeitos e pecadores, porque os escravos cristãos tinham de agradar a Deus e temiam acima de tudo a Jeová. Eram realmente escravos do Mestre, Cristo, que os comprou pelo seu sacrifício.
32. Que instruções similares deu Paulo aos escravos em Efésios 6:5-9 e que incentivo a bom serviço dão elas?
32 Em Efésios 6:5-9 (ALA) o apóstolo Paulo transmite semelhantes instruções aos escravos cristãos, membros da congregação. Em vez de serem escravos de mau humor, de mentalidade maligna, eles foram ordenados a servir “de boa vontade, como ao Senhor, e não como a homens, certos de que cada um, se fizer alguma cousa boa, receberá isso outra vez do Senhor, quer seja servo, quer livre”. Os escravos mantêm em mente que têm um Mestre superior aos seus mestres terrestres, um Mestre nos céus. Tal Mestre não é parcial a favor “dos mestres terrestres e contra os escravos, contanto que os escravos obedeçam ao seu Mestre celestial, quando se exige fidelidade ao cristianismo antes que obediência como escravo ao homem.
33, 34. (a) Por que os escravos cristãos não fariam mais coisas que antes faziam para os seus senhores, mas prejudicaria isto os interesses dos seus senhores? (b) Por que desejam ser escravos com melhores maneiras e como influi isto na sujeição deles?
33 Em todos os casos o apóstolo Paulo faz com que a sujeição dos escravos cristãos aos seus mestres humanos seja uma sujeição relativa. As coisas que os escravos faziam previamente em obediência total aos seus senhores terrestres, eles não fariam mais por causa da consciência crista. Apesar disto, eles seriam Melhores escravos e mais aproveitáveis aos seus senhores, em sentido de lealdade. Por se apegarem ao procedimento cristão correto, a despeito dos desejos dos seus senhores, eles não mais causariam dano aos seus senhores nem aos interesses deles; mas induziriam seus senhores ater respeito pela sua consciência cristã treinada e educada. Sendo melhores escravos por terem adotado o cristianismo, não seriam vergonha ou difamação do que Deus ensina às suas testemunhas dedicadas.
34 Sendo escravos com melhores maneiras, desejam ‘ornar, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador’. Se o desejo e o esforço deles são para adornar a doutrina de Deus, o que deve ser feito em todas as coisas, então não podem sujeitar-se aos seus senhores terrestres ao ponto de obedecerem a ordens que sejam erradas. Fazendo o que é errado não seriam um adorno vivo à doutrina de Deus; ao contrário, a representariam mal e difamariam os seus ensinos.
SUJEIÇÃO A GOVERNOS E AUTORIDADES
35. (a) Como argumenta o caso das esposas e dos escravos referente ã espécie de sujeição que os cristãos têm de prestar a governos e autoridades? (b) A despeito de sua imperfeição, que responsabilidade têm os governadores?
35 Foi depois de ter escrito sobre a sujeição das esposas cristãs aos seus maridos e sobre a dos escravos aos seus senhores terrestres, que o apóstolo Paulo disse às pessoas na congregação que ‘se sujeitassem aos que governam, às autoridades’. (Tito 3:1, ALA) O que Paulo disse concernente aos casos precedentes de sujeição a maridos e a senhores de escravos, serve como padrão pelo qual podemos ver até onde vai a sujeição e a obediência aos governos e autoridades políticas no que diz respeito aos cristãos dedicados e batizados como são as testemunhas de Jeová. A sujeição não se destinava a ser total, mas apenas relativa, quer a maridos quer a senhores de escravos, que são meros humanos imperfeitos. Semelhantemente, a sujeição deve ser relativa no que se refere aos governos e autoridades, que também são humanos nascidos em pecado e condenados à morte. Os ‘governos e autoridades’ humanas, porém, têm responsabilidades com relação a todos os seus povos. Uma de suas principais responsabilidades é manter a boa ordem e oferecer certa proteção ao povo. Os governos já têm bastante dificuldade com o povo não-cristão em geral, sem que os cristãos dedicados e batizados aumentem estas dificuldades, juntando-se ao povo mundano na violação da lei.
36. Quanto ao louvor, por que é bem apropriado que cristãos sejam obedientes a governos e autoridades?
36 Entretanto, para os cristãos que são realmente os “santos” de Deus, é bem apropriada a obediência ‘aos governos e autoridades’. Em vez de merecerem a má vontade dos homens nos cargos políticos, os cristãos devem ganhar ou, pelo menos, merecer o louvor por serem ordeiros, aceitando respeitosamente as leis que mantêm a boa ordem e o bem-estar público da comunidade. Os cristãos, por causa de sua devoção de todo coração a Deus, e por causa de sua imitação fiel de Jesus Cristo, já são bastante mal compreendidos e criticados, sendo acusados falsamente só por isso, sem necessidade de que se tornem causa de verdadeiro criticismo e de acusação por mal procedimento. Os cristãos devem demonstrar que o temor de Deus faz uma diferença na vida, para melhora. O conselho de Paulo, portanto, é que “estejam prontos para toda boa obra”.
37. Como está isto em harmonia com o fato de que Cristo morreu e remiu-nos para um certo propósito, mas como atinge isto a nossa sujeição?
37 Isto está inteiramente em harmonia com o que Paulo menciona pouco antes, que o nosso Salvador Jesus Cristo “a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”. (Tito 2:13, 14, ALA) Como é que a prática disto pode constituir-nos um forte perigo para qualquer governo e autoridade deste mundo, mesmo que a nossa sujeição a estes seja apenas relativa? Ao mesmo tempo, sermos um povo liberto por Cristo de toda a insubordinação, sendo “zeloso de boas obras”, impede-nos, como cristãos, de render mais do que obediência relativa aos governos e autoridades humanas. Por quê? Porque os governos humanos podem às vezes fazer ordens e emitir leis contrárias às leis supremas de Deus.
38. O que é que a nossa obediência à lei de Deus nunca nos deixará fazer com referência a governos e autoridades e em fazer o que isto não nos permitirá unir a governos e autoridades?
38 A nossa obediência consciente às leis de Deus pode embaraçar os governos e autoridades humanas. Pode mostrar que estão erradas e não em conformidade com a lei de Deus. Mas isto jamais, sim, jamais nos conduzirá a movimentos ou conspirações subversivas nem a revoltas violentas contra os governos e autoridades existentes. Quando damos a Deus o que pertence a Deus, neste sistema de coisas, não significa que não danos também a César o que pertence a César. (Mat. 22:21) Isto não significa que estamos violando o conselho apostólico de ‘estarmos em sujeição e obedecermos aos governos e autoridades’. Significa simplesmente que, como cristãos conscienciosos, nós não uniremos aos imperfeitos governos e autoridades humanas, quando estiverem lutando contra Deus. Precisamos tomar a posição dos apóstolos de Cristo, quando disseram ao tribunal religioso, apolítico de Jerusalém: “Antes importa obedecer a Deus dó que aos homens.” — Atos 5:29, ALA.
39. Concordemente, que instrução apostólica seguiremos e com o que em mente?
39 Em todos os casos seguimos as instruções do apóstolo Paulo sobre a sujeição a maridos, a senhores de escravos, a governos e autoridades políticas do mundo e quanto aos demais assuntos desta vida. Isto faremos “para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas cousas são excelentes e proveitosas aos homens.” — Tito 3:8, ALA.
[Nota(s) de rodapé]
a Veja-se Antiquites of the Jews, de Josefo, Volume 18, capítulo 1, 2; e Wars of the Jews, Volume 2, capítulo 8, parágrafo 1; capítulo 18, parágrafo 8; Volume 7, capítulo 8, parágrafo 1.