O amor que conduz à vida
‘O fruto do espírito é amor.’ — Gál. 5:22.
1. Que perguntas ilustram ser razoável terem os gregos usado quatro palavras para expressar o amor? E por que devemos estar interessados nas respostas?
DIZ o ditado que “os gregos tinham uma palavra para isso”. E tal coisa parece ser verdade quando se trata do assunto do amor, pois os gregos tinham, não uma só, mas quatro palavras para expressar a idéia do amor conforme considerada de ângulos diferentes: éros, storgé, philía, e agápe. Isto é razoável, pois o amor é uma qualidade muito complexa, e o leitor só precisa pausar um pouco e tentar defini-lo para si mesmo a fim de ficar convencido de que isto se dá. O que, realmente, é o amor? Será apenas um sentimento, um impulso? Tem de ser acompanhado de afeição, e pode ser demonstrado apenas para com aqueles por quem sentimos admiração, atração, ou, pelo menos, algum afeto, por causa das qualidades que possuem? Poderia amar alguém muito embora não gostasse dele? Qual é a fonte da qual procede o amor? Será o coração ou a mente, ou serão ambos? E, por fim, que meio existe, se houver algum, pelo qual o amor pode ser medido para se verificar a sua genuinidade e valor? Precisamos saber disso, porque, assim como “nem tudo que reluz é ouro”, assim também nem tudo que parece ser amor é sempre amor. Poderia ser tão falso como o último beijo de Judas, terno mas traiçoeiro. — Mar. 14:44, 45.
2. O que mostra que se pode ensinar a amar?
2 “O amor é a lição mais difícil do Cristianismo; mas, por essa razão, nossa maior preocupação deveria ser aprendê-la.” Assim escreveu William Penn, o fundador do estado de Pensilvânia. Ao passo que talvez pareça estranho pensar em se ensinar a amar, todavia, a Bíblia mostra claramente que isso é possível. (1 Tes. 4:9, 10). A palavra “discípulo” literalmente significa um aprendiz ou aluno, e o Filho de Deus, na noite anterior à sua morte, disse àqueles a quem treinara e ensinara: “Por meio disso saberão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor entre vós.” — João 13:35.
3. (a) Por que é o amor genuíno o sinal identificador dos verdadeiros cristãos? (b) Que perigo existe hoje para a congregação cristã?
3 O amor dessa espécie deve ser raro, tão raro que faria com que os verdadeiros alunos ou discípulos de Jesus se destacassem dentre todas as demais pessoas na terra e seria o seu sinal identificador. Foi nos dias de Jesus; será que é hoje em dia? Olhe os jornais, escute os noticiários radiofônicos, ou simplesmente examine o cenário em seu redor, onde quer que aconteça estar. Não vê aquilo que o apóstolo Paulo disse que veria, quando escreveu? “Sabe, porém, isto, que nos últimos dias haverá tempos críticos, difíceis de manejar. Pois os homens serão amantes de si mesmos, amantes do dinheiro, . . . desobedientes aos pais, ingratos, desleais, sem afeição natural, . . . sem amor à bondade, . . . enfunados de orgulho, mais amantes de prazeres do que amantes de Deus, tendo uma forma de devoção piedosa, mostrando-se, porém, falsos para com o seu poder; e destes afasta-te”? (2 Tim. 3:1-5) Ora, Jesus predisse que seria tão grande a falta do verdadeiro amor que até mesmo a sua própria congregação cristã seria sèriamente afetada. Lembre-se, não foi do mundo em geral, mas de seus próprios seguidores professos, no tempo do fim, que ele disse: “E, por causa do aumento do que é contra a lei, o amor da maioria se esfriará.” Isso prenuncia o perigo. — Mat. 24:12.
4. O que é o sentimento, e a experiência de quem ilustra que não é a mesma coisa que o genuíno amor?
4 Que espécie de amor tem o leitor? Será que o diferencia das pessoas em geral e o identifica qual seguidor, discípulo ou aluno de Cristo Jesus? Ou é o seu amor principalmente uma questão de sentimento? O sentimento é definido no dicionário como “uma atitude, idéia ou um juízo permeado ou movido pela emoção”. Muitas pessoas agem pela emoção ou sensibilidade impulsiva e dizem ou fazem certas coisas que acham ser expressões do amor. O apóstolo Pedro, nos seus primeiros dias como discípulo, inclinava-se para tais ações, e isto lhe trouxe dificuldade em mais de uma ocasião. Assim, quando Jesus falou a seus discípulos a respeito de seus sofrimentos e de sua morte futura, Pedro impulsivamente levou Jesus para o lado e suscitou fortes objeções, dizendo: “Sê benigno contigo mesmo, Senhor; não terás absolutamente tal destino.” Será que Jesus aceitou este apelo emocional como expressão de genuíno amor? O relato diz: “Mas ele, voltando-lhe as costas, disse a Pedro: ‘Para trás de mim, Satanás [opositor]! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não tens os pensamentos de Deus, mas os de homens.’” — Mat. 16:21-23.
5. O que controla a pessoa sentimental, e como é superior o amor verdadeiro?
5 O sentimento deixa que a emoção, antes que a verdade, domine a mente; e, visto que o sentimento depende da emoção para achar seu caminho, é como uma pessoa cega. A pessoa sentimental, com efeito, fecha os olhos à necessidade de pensamentos lógicos e de pesar os assuntos a fim de determinar o que será realmente nos melhores interesses da outra pessoa ou o que trará os melhores resultados para todos os envolvidos. O amor genuíno, pelo contrário, tem amplo conceito dos assuntos e não permite que a emoção tome as rédeas e siga sem domínio por veredas incertas. Assegura-se de que qualquer emoção ou impulso que surja seja usado para dar força na direção correta, que a mente já escolheu. — Rom. 8:5-8.
6. (a) Se pensarmos de modo sensato sobre o assunto do amor, o que isso nos fará compreender? (b) Por que a honestidade nos obriga a admitir a nossa necessidade de orientação divina em expressar amor?
6 Mas, acima de tudo, o amor pensa os “pensamentos de Deus”. Reconhece a verdade de sua declaração de que “assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”. (Isa. 55:9, Al) Nossa própria capacidade de raciocínio talvez nos diga que a família humana foi obviamente feita para ser interdependente, que todos nós temos necessidades, físicas, mentais e espirituais; e que, ao passo que podemos satisfazer por nós mesmos algumas destas necessidades, precisamos depender daqueles que nos amam para o preenchimento das outras, e que apenas quando tais necessidades são preenchidas pode haver felicidade. A lógica talvez nos diga que a pessoa amorosa seria aquela que discernisse tais necessidades e se esforçasse de preenchê-las ao máximo de sua habilidade, e que, visto que tal habilidade é limitada, seu amor a moveria a determinar as necessidades mais importantes e a concentrar-se nelas. Nossa inteligência talvez nos diga que muitos fatores e circunstâncias precisariam ser considerados, e que o amor verdadeiro seria determinado, não pelo que nós próprios preferíssemos fazer por outrem, nem pelo que os outros achassem que devia ser feito, nem mesmo pelo que a própria pessoa desejasse no momento, mas, antes, pelo que os fatos mostrem ser para o seu bem-estar futuro. O modo de pensar sensato talvez nos diga que, em adição a tudo isto, o amor exigiria um sincero desejo de fazer isto para a outra pessoa. Todavia, se formos honestos, admitiremos que precisamos dos “pensamentos de Deus” para nos dizer como podemos preencher melhor as necessidades dos outros, quais são realmente as suas maiores necessidades, e o que resultará nos seus melhores interesses agora e no futuro, bem como em nos edificar o desejo de fazer estas coisas. Jamais procederemos errado se nos voltarmos para ele, porque “toda boa dádiva e todo presente perfeito vem de cima, pois desce do Pai das luzes celestiais, com quem não há variação da virada da sombra”. — Tia. 1:17.
O AMOR NA LÍNGUA GREGA
7. Qual é o significado básico de cada uma das quatro palavras gregas para “amor”?
7 É aqui que os gregos e suas quatro palavras para amor retornam ao assunto. Nos tempos bíblicos, os gregos usavam a palavra éros para descrever o que atualmente chamaríamos de amor romântico, ou amor entre os sexos. O amor entre os da mesma família, tal como o amor dos pais para com um filho, era expresso pela palavra storgé. A palavra philía transmitia a idéia de afeição sentida pelos amigos, um amor caracterizado pelo afeto ou ligação devida à mútua atração de personalidades, Por fim, usavam a palavra agápe para expressar o amor que se baseia em princípios e que resulta do exercício deliberado do julgamento e da vontade da pessoa, o amor livre de interesses egoístas.
8. (a) A quem devemos o claro entendimento destas palavras? (b) Como é que o uso que fizeram da palavra agápe mostra que é o amor que conduz à vida?
8 Os gregos nos deram as palavras, mas, de forma estranha, foram os hebreus, escrevendo em grego, que nos deram o entendimento mais claro de seu significado. Estes foram os escritores das Escrituras Gregas Cristãs da Bíblia, e o entendimento claro que nos deram se deve primàriamente a seu uso ímpar da palavra agápe, referindo-se ao amor baseado em princípios (ao invés de na atração física, na relação familiar, ou na compatibilidade de personalidades). Em realidade, Douglas’ Bible Dictionary (Dicionário Bíblico de Douglas) nos diz que agápe é “uma das palavras menos comuns nos escritos gregos clássicos”. Assim, ao passo que Platão, Sócrates e Aristóteles raramente usaram a palavra, Pedro, Paulo, João e os outros escritores dos livros de Mateus a Revelação a usaram como jamais tinha sido usada antes. Em seus escritos, a palavra éros não aparece, storgé ocorre apenas três vezes, e o verbo philéo aparece menos de cem vezes, mas a palavra agápe se acha cerca de 250 vezes nas Escrituras Gregas. O apóstolo João a usou quando escreveu: “Deus é amor [agápe].” (1 João 4:8) Ele citou Jesus como usando-a quando disse que seus discípulos seriam conhecidos se ‘tivessem amor [agápe] entre eles mesmos’. (João 13:35) Paulo a usou quando disse que ‘o fruto do espírito é amor [agápe]’. (Gál. 5:22) E, visto que é “aquele que semeia visando o espírito, [que] ceifará . . . vida eterna”, torna-se questão de vida ou morte aprendermos esta espécie de amor baseado em princípios, produzido pelo espírito de Deus. (Gál. 6:8) É isso o que afirma o apóstolo João, quando diz: “Nós sabemos que temos passado da morte para a vida porque amamos [agapáo, forma verbal de agápe] os irmãos. Quem não ama, permanece na morte.” — 1 João 3:14.
9. (a) Que questão foi suscitada em virtude da falta de amor, no começo da história humana? (b) Como foi que reagiu Jeová Deus a tal expressão de egoísmo?
9 Quais são os princípios com que funciona este amor altruísta? Em sua Palavra escrita, Deus nos revela a grande questão da soberania universal que surgiu quando um dos filhos espirituais de Deus se voltou contra seu Criador e mentiu maliciosamente contra ele para o primeiro casal humano no Éden, a fim de levá-los para o seu lado, até mesmo à custa de suas próprias vidas. O primeiro homem, Adão, mostrou apenas amor erótico, desejo carnal pela esposa, Eva, e voltou as costas ao seu Pai celeste a fim de juntar-se a ela em sua desobediência. Por repelir a sua posição justa perante Jeová Deus e abandonar sua perfeição humana, ele reduziu dràsticamente sua habilidade de mostrar verdadeiro amor a sua esposa. Seus filhos nasceriam inevitavelmente imperfeitos, com pecado inato, e no estado moribundo como o dele próprio. Mas, em face de toda esta ingratidão egoísta, o próprio amor de Jeová não ficou amargurado. Até mesmo quando proferia a sentença justa sobre os três rebeldes, ele simultaneamente anunciou seu propósito de produzir eventualmente um Descendente que acabaria com todo o mal que o adversário de Deus iniciara. Este tema percorre toda a Bíblia, ao traçar o desenvolvimento dos assuntos por parte de Deus durante quatro mil anos, até o tempo quando ele enviou seu mui querido Filho à terra, primeiro de tudo para apoiar o lado de seu Pai na questão e para demonstrar inquebrantável integridade a ele como sendo o Soberano Legítimo, e, então, para suprir a maior das necessidades do gênero humano: a provisão dum resgate para livrá-lo da condenação do pecado e da morte e assim reconciliá-lo com o Pai celestial dele. — Gên. 3:14-24; João 3:16, 36.
10. (a) Que perspectivas apresentam as profecias bíblicas para aqueles que mostram atualmente o genuíno amor? (b) Em que atividades o amor as move a empenhar-se?
10 A Bíblia também mostra que estes benefícios serão estendidos aos homens e às mulheres obedientes e amorosos por meio dum governo do Reino, dominado por Cristo Jesus, e que isto resultará numa ordem inteiramente nova para esta terra; a velha ordem fundada no egoísmo, na violência e na desobediência a Deus sendo varrida na guerra universal do Armagedom. As profecias bíblicas se combinam com os eventos e as condições hodiernas para testificar que vivemos agora no “tempo do fim” dessa velha ordem, desde 1914, e que a nossa geração verá em breve a terra purificada do ódio, da ganância, da contenda, do assassinato, do roubo, da opressão, do adultério, da calúnia e de todos os outros frutos dum mundo sem amor, desprovido do espírito de Deus. (Mat. 24:7-14, 33-35; Gál. 5:21) Mostra, também, que ao passo que o amor de muitos dos que pretendem ser discípulos de Jesus ‘esfriaria’, outros perseverariam e fariam uma obra muitíssimo amorosa. Qual seria ela? Jesus disse: “Estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações; e então virá o fim.” — Mat. 24:14.
11. Quem realmente nos ensina o verdadeiro significado do amor?
11 Podemos ver, então, por que 1 João 4:19 diz: “Quanto a nós, amamos porque ele nos amou primeiro.” O conhecimento dos atos e dos propósitos amorosos de Deus nos fornece o real entendimento do amor e deve estimular-nos, como nenhuma outra coisa, a imitá-lo. Visto que o homem foi feito originalmente à imagem de Deus, é nossa obrigação expressar amor semelhante ao dele. — Gên. 1:26, 27.
AMOR ROMÂNTICO
12, 13. (a) Será que a Bíblia ignora ou rejeita o amor entre os sexos, e como sabemos disso? (b) Do que precisa tal amor romântico a fim de ser fator contribuinte para a felicidade, e como isto é visto no caso dos antigos gregos e romanos?
12 Considere primeiro de tudo o amor entre os sexos, que os gregos chamavam de éros. Talvez fique pensando em que relação pode haver entre tal amor e o amor baseado em princípios (agápe), a respeito do qual escrevemos. Na verdade, os escritores cristãos não usaram a palavra éros, mas, ainda assim a Bíblia realmente considera tal amor e o faz em linguagem clara e franca, como tem de admitir quem ler o relato de Gênesis sobre Adão e Eva, de Isaque e Rebeca, de Jacó e Raquel, ou o livro do Cântico de Salomão, ou o conselho de Provérbios 5:15-19. Mas, não deifica tal amor. Ao passo que lemos que Rebeca era “de aparência muito atraente” e que Raquel era “bela de formas e bela de semblante”, todavia, a Bíblia mostra que a sua verdadeira beleza residia em sua devoção ao verdadeiro Deus, Jeová, e em sua devoção de esposa ao seu marido. (Gên. 24:16; 29:17) Nas Escrituras Cristãs, o apóstolo Paulo dá conselho bastante direto sobre o amor marital em sua primeira carta aos coríntios, capítulo sete, e não há certamente nada de “pudico” na sua maneira de tratar o assunto.
13 Mas, em tudo o que a Bíblia tem a dizer, isto se torna claro: Tal amor romântico pode contribuir para a felicidade apenas quando é controlado, não adorado; e, a fim de controlá-lo, precisamos do amor baseado em princípios. Atualmente, o mundo todo parece cometer o mesmo erro dos antigos gregos. Adoravam Eros qual deus, curvavam-se em seu altar e ofereciam sacrifícios a ele. Os romanos faziam o mesmo com Cupido, o correspondente romano de Eros. Mas, a história mostra que tal adoração do amor sexual somente trouxe a degradação, a devassidão e a dissolução. Talvez seja por isso que os escritores bíblicos não fizeram uso da palavra.
14. Como é que o amor baseado em princípios poderia resolver os problemas maritais principais, bem como os mais íntimos?
14 Os problemas de incompatibilidade, atualmente, estão fazendo com que subam vertiginosamente os índices de divórcio em muitos países, e em alguns estados dos Estados Unidos a proporção agora é de um divórcio para cada dois casamentos. Quão grande é a necessidade do amor baseado em princípios! Os homens e mulheres poderiam achar a solução de alguns dos problemas mais íntimos do casamento por lembrar-se de que “o amor [agápe] . . . não se comporta indecentemente, não procura os seus próprios interesses, não fica encolerizado”. (1 Cor. 13:4, 5) As raízes da contenda e das disputas maritais podiam ser eliminadas pelo conselho equilibrado que Paulo dá: “Não obstante, também cada um de vós, individualmente, ame [agapáo] a sua esposa como a si próprio; por outro lado, a esposa deve ter profundo respeito pelo seu marido.” (Efé. 5:33) Quando o marido e a esposa têm tal amor, seu alvo será, não possuir, mas partilhar. Ao invés de pensar em termos de “eu”, “mim”, “meu”, pensarão em termos de “nós”, “nos”, “nosso”. Cada um procurará saber as necessidades e os anseios do outro e então amorosamente usará este conhecimento para a felicidade do outro.
O AMOR NO CÍRCULO FAMILIAR
15. Como é que se acha agora em época de crise o amor expresso pela palavra storgé, e o que é necessário para protegê-lo?
15 Que coisa deleitosa é uma família unida e amorosa! É uma beleza toda ímpar, um encanto que torna verdadeiro prazer o tempo passado nos seus limites. Esta afeição natural (storgé em grego) dos membros da família uns pelos outros foi usada por Paulo para destacar as íntimas relações familiares que devem existir entre os cristãos. (Rom. 12:10) Mas, ele também predisse que em nossos tempos os homens em geral não teriam esta “afeição natural”. (2 Tim. 3:3) O círculo familiar de outrora está certamente rompendo-se hoje debaixo das pressões da vida moderna. Em mais e mais casos, as famílias não mais tomam juntas suas refeições, nem se reúnem em sua sala de estar para gozar da companhia uns dos outros. A delinqüência, tanto adulta como juvenil, continua a dividir um lar após outro. Isto se dá porque apenas a afeição natural não basta para suportar as tensões dos dias atuais. Mas, o amor baseado em princípios pode manter unida a família, porque “o amor [agápe] . . . é o perfeito vínculo de união”. — Col. 3:14.
16. Que conselho bíblico é dado aos pais que têm no coração os interesses vitalícios de seus filhos?
16 Pais, será que desejam que seus filhos os amem e sejam como aqueles de quem a Bíblia fala, dizendo: “Filhos, sede obedientes aos vossos pais em união com o Senhor, pois isto é justo: ‘Honra ao teu pai e a tua mãe’; que é o primeiro mandado com promessa: ‘Para que te vá bem e perdures por longo tempo na terra’”? Será que gostariam de vê-los ganhar a vida eterna na terra paradísica, sob o reino de Deus? Então, o que estão fazendo para realmente cumprir a sua parte, conforme expressa nas seguintes palavras: “E vós, pais, não estejais irritando os vossos filhos, mas prossegui em criá-los na disciplina e no conselho de autoridade de Jeová”? Fazer isso nestes dias exige mais que a simples afeição; exige o amor da espécie baseada em princípios. — Efé. 6:1-4.
17. (a) Por que mimar o filho não mostra verdadeiro amor? (b) Como pode a retenção da disciplina resultar em calamidade tanto para o pai como para o filho?
17 O pai que retém do filho a disciplina correta e cede a cada desejo do filho está realmente mostrando amor apenas a si mesmo. Tal pai dirá com freqüência: “Eu sei que isso não é realmente bom para o meu filho, mas ele pôs tanto o seu coração nisso que eu não posso suportar magoá-lo.” Mostra assim preocupação, não pelo bem-estar futuro do filho, mas, de forma egoísta, da parte do pai, para que a afeição do filho não seja retirada temporàriamente por causa do devido uso da disciplina. Que pai daria ao filho uma bomba de ação retardada como presente? Todavia alguns dão, disfarçada na forma dum carro dado quando o rapaz é ainda muito jovem para apreciar a responsabilidade que acompanha isso, ou por permitir que a filha moça tenha área mais ampla de liberdade que os seus anos sensatamente deveriam permitir. O sacrifício dos princípios no altar da afeição é apenas adoração falsa, e, com demasiada freqüência, nos anos posteriores, o genitor que ama extremosamente terá ânsia do amor que não está mais à venda. Quão sábio é ó provérbio que diz: “Quem refreia a sua vara, odeia seu filho, mas ama-o aquele que o procura com disciplina”! (Pro. 13:24) A disciplina significa ensino e treinamento; e, assim como nosso Pai celeste nos disciplina e ensina, assim temos de fazer com nossos filhos, se nosso amor há de ser genuíno. — Heb. 12:5-11.
AMOR ENTRE AMIGOS
18, 19. (a) Em que se baseia o amor expresso pela palavra philía, e o que mostra que é correto? (b) Do que precisa tal amor-amizade a fim de ser de valor duradouro, e por quê?
18 Recompensador, também, é o amor-amizade, chamado philía pelos gregos. Quão vazia seria a vida sem amigos! A amizade usualmente resulta de a pessoa ver em outra as qualidades que ela gosta, aprecia e goza naturalmente; ou, talvez haja a participação comum de experiências durante um período de tempo, que fornece a base para o afeto, a afeição e a lealdade. A confiança e a dependência mútuas fluem entre os amigos. O próprio Cristo Jesus mostrou amizade especial para com três de seus discípulos, Pedro, Tiago e João, e, dos três, João é mencionado como sendo especialmente amado por Jesus. — João 19:26; 20:2.
19 Todavia, para que nossa amizade tenha qualquer valor duradouro, tem de ser primeiro combinada com o amor baseado em princípios, e, assim, a exortação do apóstolo Pedro é que devemos ‘suprir à nossa afeição fraternal [philadelphía] o amor [agápe]’. (2 Ped.1:7) De outra forma, nossa afeição fraternal poderia facilmente degenerar-se em lisonja e mimo; poderia permitir que nos tornássemos partícipes de outros em coisas que não são certas e não obram para o bem nem de um nem do outro, em coisas que desonram a Deus e são prejudiciais ao nosso próximo, Mas, “o amor [agápe] não obra o mal para com o próximo”. — Rom. 13:10.
20. Como é que a expressão de amizade de Deus nos orienta para a expressarmos?
20 O amor baseado em princípios, em realidade, deve guiar-nos até na seleção inicial e na conservação de nossos amigos. Quão emocionados os discípulos de Jesus devem ter ficado de ouvi-lo dizer: “O próprio Pai tem afeição [philéo] por vós!” Mas, por que foram assim honrados por Deus? As seguintes palavras de Jesus respondem: “Porque tiveste afeição por mim e acreditastes que saí como representante do Pai.” (João 16:27) Sim, Deus tem afeição, ou dá sua amizade, apenas aos que são merecedores. (Tia. 2:23) Com boa razão, então, somos avisados de que “aquele que quiser ser amigo [phílos] do mundo constitui-se inimigo de Deus”. Nossos amigos devem ser, primeiro de tudo, aqueles que são amigos de Deus e os que O amam. — Tia. 4:4.
21. Por que este entendimento não restringe nossa expressão de amor a poucas pessoas?
21 Será que isso nos restringe, coloca uma cerca ao redor de nossa expressão do amor? Não, porque o amor baseado em princípios [agápe] pode e deve chegar até onde a afeição [philía] talvez não se aventure ou nem mesmo se sinta atraída. A recompensa de vida interminável não é para os que simplesmente expressam amor e,devoção ao cônjuge, à família ou ao círculo íntimo de amigos. Disse Jesus: “Pois se amardes aos que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também a mesma coisa os cobradores de impostos? E, se cumprimentardes somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem também a mesma coisa as pessoas das nações? Concordemente, tendes de ser perfeitos, assim como o vosso Pai celestial é perfeito.” (Mat. 5:46-48) Muito definidamente, então, podemos amar as pessoas muito embora não gostemos delas. Nossa vida depende de fazermos justamente isso.
22. Que perguntas são dignas de séria consideração da parte de cada um de nós?
22 Pare e pergunte a si mesmo agora: Como está o meu amor se enquadrando nisso? Será baseado em princípios, ou apenas em sentimento? Será que eu amo apenas aqueles a quem é natural que eu ame: cônjuge, pais, filhos ou amigos, cuja personalidade me cativa? Será que o amor que eu lhes tenho é realmente visando de coração o seu bem-estar eterno, ou será apenas uma expressão de afeto, por causa da satisfação que me traz a minha relação com eles? Quão genuíno é o meu amor? O valor e o preço de sua vida toda podem ser avaliados pelas suas respostas. — 1 Cor. 13:1-3.