CÉU, I
[Heb., shamáyim; gr., ouranós]. O termo hebraico shamáyim (sempre no plural) parece ter o sentido básico do que é “alto” ou “elevado”. (Sal. 103:11; Pro. 25:3; Isa. 55:9) É incerta a etimologia da palavra grega.
CÉUS FÍSICOS
O pleno escopo dos céus físicos é abrangido pelo termo da língua original. O contexto geralmente provê informações suficientes para se determinar qual a área dos céus físicos tencionada.
Céus da atmosfera terrestre
O(s) “céu(s)” pode(m) aplicar-se ao pleno âmbito da atmosfera terrestre, em que se formam o orvalho e a geada (Gên. 27:28; Jó 38:29), em que as aves voam (Deut. 4:17; Pro. 30:19; Mat. 6:26), em que os ventos sopram (Sal. 78:26), em que o relâmpago brilha (Luc. 17:24), e em que as nuvens flutuam e caem como chuva, neve ou saraivada. (Jos. 10:11; 1 Reis 18:45; Isa. 55:10; Atos 14:17) Às vezes nos referimos ao “céu”, isto é, à abóbada ou cúpula aparente ou visual que se ergue sobre a terra. — Mat. 16:1-3; Atos 1:10, 11.
Esta região atmosférica corresponde em geral à “expansão [Heb., raqía‘]” formada durante o segundo período criativo, descrito em Gênesis 1:6-8. Ê evidentemente a este ‘céu’ que se referem Gênesis 2:4; Êxodo 20:11; 31:17 ao falar da criação “dos céus e da terra”. — Veja EXPANSÃO.
Ao se formar a expansão da atmosfera, as águas da superfície da terra foram separadas de outras águas acima da expansão. Isto explica a expressão usada com respeito ao dilúvio global dos dias de Noé, de que “romperam-se todos os mananciais da vasta água de profundeza e abriram-se as comportas dos céus”. (Gên. 7:11; compare com Provérbios 8:27, 28.) No Dilúvio, a ‘vasta profundeza aquosa’ das águas suspensas acima da expansão aparentemente desceu como se fosse por canais, bem como em forma de chuva. Quando este vasto reservatório se esvaziou, tais “comportas dos céus”, efetivamente, “fecharam-se”. — Gên. 8:2.
Espaço sideral
Os “céus” físicos se estendem pela atmosfera terrestre e mais além, até as regiões do espaço sideral, com seus corpos estelares, “todo o exército dos céus” — o sol, a lua, as estrela e as constelações. (Deut. 4:19; Isa. 13:10; 1 Cor. 15:40, 41; Heb. 11:12) O primeiro versículo da Bíblia descreve a criação de tais céus estrelados antes da preparação da terra para a habitação humana. (Gên. 1:1) Tais céus exibem a glória de Deus, assim como o faz a expansão da atmosfera, sendo obra dos “dedos” de Deus. (Sal. 8:3; 19:1-6) Os “estatutos dos céus” divinamente designados, controlam todos esse corpos celestes. Os astrônomos, apesar de seu equipamento moderno e de seu conhecimento matemático avançado, ainda não conseguiram compreender plenamente estes estatutos. (Jó 38:33; Jer. 33:25) Suas descobertas, contudo, confirmam a impossibilidade de o homem medir tais céus, ou contar os corpos estelares. (Jer. 31:37; 33:22; veja ESTRELA) Todavia, Deus os enumera e lhes dá nomes. — Sal. 147:4; Isa. 40:26.
O “meio do céu” e as “extremidades dos céus”
A expressão “meio do céu” se aplica à região dentro da expansão da atmosfera da terra em que voam as aves, tais como a águia. (Rev. 8:13; 14:6; 19:17; Deut. 4:11 [Heb., “coração dos céus”]) Um tanto similar é a expressão “entre a terra e os céus”. (1 Crô. 21:16; 2 Sam. 18:9) O avanço dos que atacam Babilônia desde “a extremidade dos céus” significa, evidentemente, que eles chegam até ela vindo do horizonte distante (onde o céu e a terra parecem encontrar-se, e o sol parece subir e pôr-se). (Isa. 13:5; compare com o Salmo 19:4-6.) Similarmente, “das quatro extremidades dos céus” refere-se, pelo que parece, aos quatro pontos cardeais, indicando assim uma cobertura dos quatro cantos da terra. (Jer. 49:36; compare com Daniel 8:8; 11:4; Mateus 24:31; Marcos 13:27.) Assim como os céus cercam a terra de todos os lados, assim a visão de tudo, por parte de Jeová, “debaixo dos céus inteiros”, abrange todo o globo. — Jó 28:24.
Os céus nublados
Outro termo, o hebraico sháhhaq, é também usado para referir-se aos “céus” ou às suas nuvens. (Deut. 33:26; Pro. 3:20; Isa. 45:8) Esta palavra tem o significado básico de algo batido bem fino ou pulverizado, como a “camada fina de pó” (sháhhaq) em Isaías 40:15. Há algo definidamente apropriado neste significado, uma vez que as nuvens se formam quando o ar tépido, subindo da terra, resfria-se no que é conhecido como “ponto de orvalho”, e o vapor d’água que há nele se condensa em diminutas partículas, às vezes chamadas de “gotículas d’água”. (Compare com Jó 36:27, 28.) Aumentando sua adequabilidade, o efeito visual da abóbada azul do céu é causado pela difusão dos raios solares pelas moléculas de gás e outras partículas (inclusive o pó) que compõem a atmosfera. Por ter Deus formado a atmosfera, ele, efetivamente, ‘achatou os céus nublados, duros como um espelho fundido’, dando um limite definido ou clara demarcação à abóbada atmosférica azul acima do homem. — Jó 37:18.
“Céus dos céus”
A expressão “céus dos céus” é considerada como se referindo aos céus mais elevados, os quais, visto que os céus se estendem da terra em todas as direções, abrangeriam a completa extensão dos céus físicos, não importa quão vastos. — Deut. 10:14; Nee. 9:6.
Salomão, o construtor do templo em Jerusalém, declarou que os “céus, sim, o céu dos céus” não podem conter a Deus. (1 Reis 8:27) Como o Criador dos céus, a posição de Jeová é muito superior a todos eles, e “só o seu nome é inalcançavelmente elevado. Sua dignidade está acima da terra e do céu”. (Sal. 148:13) Jeová mede os céus físicos tão facilmente como um homem mediria um objeto por esticar os dedos, de modo que o objeto fique entre a ponta do dedo polegar e do mindinho. (Isa. 40:12) A declaração de Salomão não significa que Deus não tenha um lugar específico de residência. Nem significa que Ele seja onipresente, no sentido de estar literalmente em toda a parte e em tudo. Pode-se depreender isto do fato de que Salomão também falou de Jeová como ouvindo “desde os céus, teu lugar estabelecido de morada”, isto é, os céus do domínio espiritual. — 1 Reis 8:30, 39.
Assim, no sentido físico, o termo “céus” abrange ampla área. Ao passo que pode referir-se às mais distantes partes do espaço universal, pode também referir-se a algo que é simplesmente alto ou elevado a um grau acima do comum. Assim, os que estão a bordo de navios assolados por tempestades são mencionados como ‘subindo aos céus, descendo às profundezas’. (Sal. 107:26) Assim, também, os construtores da Torre de Babel tencionavam erguer uma estrutura com seu “topo nos céus”, um “arranha-céus”, por assim dizer. (Gên. 11:4; compare com Jeremias 51:53.) E a profecia em Amós 9:2 fala de homens ‘subirem aos céus’ no vão esforço de escapar dos julgamentos de Jeová, significando, evidentemente, que tentariam achar refúgio nas elevadas regiões montanhosas.
CÉUS ESPIRITUAIS
As mesmas palavras das línguas originais usadas para os céus físicos também são aplicadas aos céus espirituais. Como vimos, Jeová Deus não reside nos céus físicos, sendo um Espírito. No entanto, visto que é o “Enaltecido e Elevado”, que reside no “alto” (Isa. 57:15), o sentido básico daquilo que é “enaltecido” ou “elevado”, expresso na palavra da língua hebraica, a torna apropriada para descrever a “morada excelsa de santidade e beleza” de Deus. (Isa. 63:15; Sal. 33:13, 14; 115:3) Como Criador dos céus físicos (Gên. 14:19; Sal. 33:6), Jeová é também seu Dono. (Sal. 115:15, 16) Seja o que for que lhe praza fazer neles, ele o faz, inclusive atos miraculosos. — Sal. 135:6.
Em muitos textos, portanto, os “céus” representam o próprio Deus e sua posição soberana. Seu trono se acha nos céus, isto é, no domínio espiritual sobre o qual ele também governa. (Sal. 103:19-21; 2 Crô. 20:6; Mat. 23:22; Atos 7:49) De sua posição suprema ou máxima, Jeová, com efeito, ‘olha para baixo’ para os céus e terra físicos (Sal. 14:2; 102:19; 113:6), e desta posição elevada Ele também fala, responde petições e faz julgamentos. (1 Reis 8:49; Sal. 2:4-6; 76:8; Mat. 3:17) Assim, lemos que Ezequias e Isaías, em face de grave ameaça, “oravam . . . e clamavam aos céus por socorro”. (2 Crô. 32:20; compare com 2 Crônicas 30:27.) Jesus, também, usou os céus como representando a Deus, quando perguntou aos líderes religiosos se a fonte do batismo de João era “do céu ou dos homens”. (Mat. 21:25; compare com João 3:27.) O filho pródigo confessou ter pecado “contra o céu”, bem como contra seu próprio pai. (Luc. 15:18, 21) O “reino dos céus”, então, significa não apenas que se baseia nos céus espirituais e que governa de lá, mas também que é “o reino de Deus”. — Dan. 2:44; Mat. 4:17; 21:43; 2 Tim. 4:18.
Também, graças a esta posição celeste, tanto os homens como os anjos ergueram as mãos ou os rostos para os céus ao suplicar a Deus que agisse (Êxo. 9:22, 23; 10:21, 22), ao fazer um juramento (Dan. 12:7), e em oração. (1 Reis 8:22, 23; Lam. 3:41; Mat. 14:19; João 17:1) Em Deuteronômio 32:40, Jeová fala de si mesmo como ‘levantando sua mão para o céu em juramento’. Em harmonia com Hebreus 6:13, isto evidentemente significa que Jeová jura por si mesmo. — Compare com Isaías 45:23.
Morada angélica
Os céus espirituais são também a “moradia correta” dos filhos espirituais de Deus. (Judas 6; Gên. 28:12, 13; Mat. 18:10; 24:36) A expressão “exército dos céus”, muitas vezes aplicada à criação estelar, às vezes descreve estes filhos angélicos de Deus. (1 Reis 22:19; compare com Salmo 103:20, 21; Daniel 7:10; Lucas 2:13; Revelação 19:14.) Assim, também, os “céus” são personificados como representando esta organização angélica, a “congregação dos santos”. — Sal. 89:5-7; compare com Lucas 15:7, 10; Revelação 12:12.
REPRESENTA A REGÊNCIA
Vimos que os céus podem referir-se a Jeová Deus em sua posição soberana. Assim, quando Daniel disse a Nabucodonosor que a experiência pela qual passaria o imperador babilônio faria com que ele ‘soubesse que eram os céus que governavam’, isso significava a mesma coisa que saber “que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade”. — Dan. 4:25, 26.
No entanto, além de sua referência ao Soberano Supremo, o termo “céus” pode também referir-se a outras potências governantes que são exaltadas ou soerguidas acima de seus povos subjugados. A própria dinastia dos reis babilônios, que Nabucodonosor representava, é descrita em Isaías 14:12 como sendo semelhante a uma estrela, um “brilhante, filho da alva”. Pela conquista de Jerusalém, em 607 A.E.C., essa dinastia babilônica elevou seu trono “acima das estrelas de Deus”, estas “estrelas” evidentemente referindo-se à linhagem davídica de reis judeus (assim como o Herdeiro do trono davídico, Cristo Jesus, é chamado de “resplandecente estrela da manhã” em Revelação 22:16; compare com Números 24:17). Por ter derrubado o divinamente autorizado trono davídico, a dinastia babilônica, com efeito, exaltou-se tão alto quanto os céus. (Isa. 14:13, 14) Esta majestosa grandeza e este domínio de amplo alcance também foram representados, no sonho de Nabucodonosor, por uma árvore simbólica, cuja altura ‘atingia os céus’. — Dan. 4:20-22.
Novos céus e uma nova terra
A conexão de “céus” com o poder governante nos ajuda a entender o significado da expressão “novos céus e uma nova terra”, encontrada em Isaías 65:17; 66:22, e citada pelo apóstolo Pedro em 2 Pedro 3:13. Observando tal relação, a Cyclopcedia (Ciclopédia; Vol. IV, pp. 122-127) de M’Clintock e Strong, comenta: “Em Isa. LXV, 17, um novo céu e uma nova terra significam um novo governo, novo reino, novo povo. . . .”
Assim como “terra” pode referir-se a uma sociedade de pessoas (Sal. 96:1; veja TERRA), assim, também, “céus” pode simbolizar o poder governante ou governo superior sobre tal “terra”. A profecia que apresentava a promessa de “novos céus e uma nova terra”, dada mediante Isaías, era uma que tratava, inicialmente da restauração de Israel do exílio babilônico. Com a volta dos israelitas à sua terra natal, eles entraram numa nova ordem de coisas. Havia sobre eles a governança de Zorobabel (descendente de Davi), ajudado pelo sumo sacerdote Josué, na cidade de Jerusalém. Por meio destas pessoas, os “céus”, ou o celeste Soberano, Jeová Deus, orientava e supervisionava o povo em sujeição. (Ageu 1:1, 14) Destarte, como predizia o versículo 18 do capítulo 65 de Isaías, Jerusalém tornou-se uma “causa para júbilo e seu povo como causa para exultação”. Conforme predito numa similar profecia de restauração, Jeová, deste modo, ‘plantou os céus e lançou o alicerce da terra’. — Isa. 51:11, 16.
A citação de Pedro, todavia, mostra que se podia aguardar um futuro cumprimento, à base da promessa de Deus. (2 Ped. 3:13) Visto que a promessa de Deus, neste caso, relaciona-se a presença de Cristo Jesus, conforme mostrado pelo versículo 4, os “novos céus e uma nova terra” devem relacionar-se ao reino messiânico de Deus e à sua regência sobre súditos obedientes. Por sua ressurreição e ascensão à mão direita de Deus, Cristo Jesus se tornou “mais alto do que os céus” (Heb. 7:26), no sentido de que, deste modo, foi colocado “muito acima de todo governo, e autoridade, e poder, e senhorio . . . não só neste sistema de coisas, mas também no que há de vir”. — Efé. 1:19-21; Mat. 28:18.
Os seguidores cristãos de Jesus, como “participantes da chamada celestial” (Heb. 3:1) são designados por Deus quais “herdeiros” em união com Cristo. (Efé. 1:11) Para eles, há uma herança “reservada nos céus”. (1 Ped. 1:3, 4; Col. 1:5; compare com João 14:2, 3.) Estão “alistados” e têm sua “cidadania” nos céus. (Heb. 12:20-23; Fil. 3:20) Formam a “Nova Jerusalém”, vista na visão de João como “descendo do céu, da parte de Deus”. (Rev. 21:2, 9, 10; compare com Efésios 5:24-27.) Visto que esta visão, conforme se declarou inicialmente, era de “um novo céu e uma nova terra” (Rev. 21:1), segue-se que ambos são representados no que é descrito depois disso. Assim, o “novo céu” tem de corresponder a Cristo, junto com sua “noiva”, a “Nova Jerusalém”, e a “nova terra” é vista nos ‘povos da humanidade’ que são seus súditos e que recebem as bênçãos de seu governo, conforme representado nos versículos 3 e 4.
O passar do céu anterior e da terra anterior
A visão de João se refere ao passar do ‘céu anterior e da terra anterior’. (Rev. 21:1; compare com 20:11.) Nas Escrituras Gregas Cristãs, mostra-se que os governos terrestres seus povos estão sujeitos à regência satânica. (Mat. 4:8, 9; João 12:31; 2 Cor. 4:3, 4; Rev. 12:9; 16:13, 14) O apóstolo Paulo referiu-se à “forças espirituais iníquas nos lugares celestiais”, com seus governos, suas autoridades e seus governantes mundiais. (Efé. 6:12) Assim, a passagem do “céu anterior” indica o fim dos governos políticos, junto com Satanás e seus demônios. Esta identificação do “céu anterior” harmoniza-se com o fato de que, pouco antes da declaração sobre ‘ter passado o céu anterior’, João tivera uma visão da completa derrota das forças de Satanás e do lançamento de Satanás no “abismo”. (Rev. 19:19 a 20:3) Os súditos terrestres da regência de Satanás são destruídos antes de ser ele lançado no abismo, como mostra Revelação 19:17, 18. (Compare com 1 João 2:15-17.) A descrição da destruição ardente do céu e da terra, em 2 Pedro 3:7-12, corresponde às visões de Revelação.
REBAIXAMENTO DO QUE É EXALTADO
Visto que os céus representam aquilo que é elevado, o rebaixamento das coisas que são exaltadas é, por vezes, representado pela derrubada ou pelo ‘sacudir’ ou ‘agitar’ dos céus. Jeová, segundo se diz, “lançou a beleza de Israel do céu para a terra” por ocasião da desolação dele. Tal beleza incluía o reino e os regentes principescos de Israel, e o poder deles, e tal beleza foi devorada como que por fogo. (Lam. 2:1-3) Mas Babilônia, conquistadora de Israel, mais tarde passou por uma agitação do próprio “céu” dela, e uma sacudida de sua “terra”, quando os medos e os persas derrubaram Babilônia, e os deuses celestes dela provaram-se falsos e não puderam salvá-la da perda do seu domínio sobre a terra. — Isa. 13:1, 10-13.
Similarmente, profetizou-se que a posição de Edom, tão alta quanto os céus, não a pouparia da destruição, e que a espada de julgamento de Jeová ficaria encharcada em suas alturas ou “céus”, sem que nenhuma fonte celeste ou exaltada a ajudasse. (Isa. 34:4-7; compare com Obadias 1-4, 8.) Os que muito se jactam, falando de forma iníqua num estilo elevado, como se ‘pusessem a boca nos próprios céus’, certamente cairão na ruína. (Sal. 73:8, 9, 18; compare com Revelação 13:5, 6.) A cidade de Cafarnaum tinha motivos de se sentir altamente favorecida, graças à atenção que Jesus e seu ministério lhe deram. No entanto, visto que deixou de corresponder às suas poderosas obras, perguntou Jesus: “Serás por acaso enaltecida ao céu?”, e predisse, ao invés: “Até o Hades descerás.” — Mat. 11:23.
ESCURECIMENTO DOS CÉUS
O escurecimento dos céus ou dos corpos estelares é muitas vezes usado para representar a remoção de condições prósperas, favoráveis, a sua substituição por perspectivas e condições ominosas e sombrias, como um dia escuro em que as nuvens bloqueiam toda luz. — Compare com Isaías 50:2, 3, 10.
Em cumprimento do julgamento de Jeová, mediante seu profeta Joel, tal dia de escuridão sobreveio a Judá, e atingiu seu clímax na desolação de Judá por parte de Babilônia. (Joel 2:1, 2, 10, 30, 31; compare com Jeremias 4:23, 28.) Parecia esvair-se toda esperança de ajuda por parte duma fonte celeste, e, como predito em Deuteronômio 28:65-67, vieram a ‘ficar apavorados noite e dia’, sem nenhum alívio ou esperança na manhã ensolarada ou na noite enluarada. Todavia, pelo mesmo profeta, Joel, Jeová avisou os inimigos de Judá de que eles passariam pela mesma situação quando Ele executasse seu julgamento sobre eles. (Joel 3:12-16) Ezequiel e Isaías usaram esta mesma figura de retórica para predizer o julgamento de Deus sobre o Egito e Babilônia, respectivamente. — Eze. 32:7, 8, 12; Isa. 13:1, 10, 11.
O apóstolo Pedro citou a profecia de Joel, no dia de Pentecostes, ao instar com a multidão de ouvintes a ‘serem salvos desta geração pervertida’. (Atos 2:1, 16-21, 40) Os que não o acataram, dentre aquela geração, passaram por um tempo de intensa escuridão, quando os romanos cercaram e, por fim, devastaram Jerusalém, menos de 40 anos depois. Antes de Pedro, porém, Jesus fizera uma profecia similar, e mostrara que ela teria um cumprimento na época de sua presença. — Mat. 24:29-31; Luc. 21:25-27; compare com Revelação 6:12-17.
PERMANECÊNCIA DOS CÉUS FÍSICOS
Que os céus físicos são permanentes é mostrado pelo fato de que são usados em comparações relacionadas com coisas que são eternas, tais como os resultados pacíficos e justos do reino davídico, herdado pelo Filho de Deus. — Sal. 72:5-7; Luc. 1:32, 33.
Em Lucas 21:33, Jesus diz que “céu e terra passarão, mas as minhas palavras de modo algum passarão”. O sentido desta expressão parece ser semelhante ao de Mateus 5:18: “Deveras, eu vos digo que antes passariam o céu e a terra [ou, “mais fácil é passarem céu e terra”, Lucas 16:17], do que passaria uma só letra menor ou uma só partícula duma letra da Lei sem que tudo se cumprisse.”
O Salmo 102:25-27 sublinha a eternidade e a qualidade imperecível de Deus, ao passo que sua criação física de céus e terra é perecível, isto é, poderia ser destruída — se esse fosse o propósito de Deus. Diferente da existência eterna de Deus, a permanência de qualquer parte de sua criação física não é independente. Como visto na terra, a criação física tem de passar por contínuo processo de renovação se há de perdurar ou de reter sua forma existente. Que os céus físicos dependem da vontade e do poder sustentador de Deus é indicado no Salmo 148, onde, depois de referir-se ao sol, à lua e às estrelas, junto com outras partes da criação de Deus, o V. 6 declara que Deus “os mantém estabelecidos para sempre, por tempo indefinido. Deu um regulamento, e este não passará”.
As palavras do Salmo 102:25, 26 aplicam-se a Jeová Deus, mas o apóstolo Paulo as utiliza para aplicá-las a Jesus Cristo. Isto se dá porque o Filho unigênito de Deus era o Agente pessoal de Deus utilizado na criação do universo físico. Paulo contrasta a permanência do Filho com a da criação física, que Deus, se assim determinasse, poderia ‘enrolar assim como uma capa’, e colocá-la de lado. — Heb. 1:1, 2, 8, 12.
VÁRIAS EXPRESSÕES POÉTICAS E FIGURADAS
Visto que os céus físicos desempenham uma parte vital em manter e fazer prosperar a vida na terra — por meio do sol, da chuva, do orvalho, dos ventos refrescantes, e por outros benefícios atmosféricos — são mencionados poeticamente como o “bom depósito” de Jeová. (Deut. 28:11, 12; 33:13, 14) Jeová abre suas “portas” para abençoar seus servos, como ao fazer que o maná, “o cereal do céu”, descesse sobre o solo. (Sal. 78:23, 24; João 6:31) As nuvens são como “talhas de água” nas câmaras superiores daquele depósito, e a chuva é derramada como que por “condutos”, certos fatores, tais como as montanhas, ou mesmo a intervenção miraculosa de Deus, fazendo com que haja a condensação da água e a subseqüente chuva em regiões específicas. (Jó 38:37; Jer. 10:12, 13; 1 Reis 18:41-45) Por outro lado, a remoção da bênção de Deus por vezes resultou em os céus sobre a terra de Canaã se ‘cerrarem’, tornando-se de aparência tão dura e tão não-porosos como o ferro, e tendo um brilho metálico cúpreo e uma atmosfera empoeirada, sem chuva. — Lev. 26:19; Deut. 11:16, 17; 28:23, 24; 1 Reis 8:35, 36.
Isto nos ajuda a entender o quadro apresentado em Oséias 2:21-23. Tendo predito os resultados devastadores da infidelidade de Israel, Jeová então fala do tempo de sua restauração e das bênçãos resultantes. Naquele dia, diz ele, “responderei aos céus, e eles, da sua parte, responderão à terra; e a terra, da sua parte, responderá ao cereal, e ao vinho doce, e ao azeite; e eles, da sua parte, responderão a Jezreel”. Evidentemente isto representa a petição de Israel para que a bênção de Jeová fosse dirigida através da cadeia de coisas da criação de Jeová que foram aqui citadas. Por esse motivo, tais coisas são tidas como personalizadas; portanto, como se fossem capazes de fazer um pedido ou uma petição. Israel pede cereal, vinho e azeite; tais produtos, por sua vez, procuram sua alimentação vegetal e água na terra; a terra, a fim de suprir tal necessidade, requer (ou, figuradamente, exige) sol, chuva e orvalho dos céus; e os céus (até então “cerrados”, devido à remoção da bênção de Deus) só poderão responder se Deus aceitar a petição e restaurar seu favor àquela nação, desta forma movimentando o ciclo produtivo. A profecia garante que Ele fará isso.
Em 2 Samuel 22:8-15 Davi usa, aparentemente, a figura duma tremenda tempestade para representar o efeito da intervenção de Deus em favor de Davi, livrando-o de seus inimigos. A ferocidade desta tempestade simbólica agita o alicerce dos céus e eles ‘se curvam’ com negras nuvens baixas. Compare isso com as condições duma tempestade literal, descritas em Êxodo 19:16-18; também com as expressões poéticas em Isaías 64:1, 2.
Estender os céus
Jeová, o “Pai das luzes celestiais” (Tia. 1:17) é freqüentemente mencionado como tendo ‘estendido os céus’, assim como se faria com uma lona de tenda. (Sal. 104:1, 2; Isa. 45:12) Os céus, tanto a expansão atmosférica durante o dia como os céus estrelados à noite, têm a aparência de imensa abóbada, do ponto de vista dos humanos na terra. Em Isaías 40:22, a comparação é a de se estender “gaze fina”, ao invés de a mais grosseira lona de tenda. Isto expressa a beleza delicada de tal abóbada celeste. Numa noite límpida, os milhares de estrelas formam deveras uma teia rendada sobre o fundo de veludo negro do espaço. Pode-se também notar que até mesmo a enorme galáxia conhecida como Via-Láctea, em que se situa nosso sistema solar, possui uma aparência de película semelhante à gaze, do ponto de vista terrestre.
Pode-se depreender, do precedente, que o contexto precisa sempre ser considerado ao se determinar o sentido destas expressões figuradas. Assim, quando Moisés concitou os “céus e a terra” para servir quais testemunhas das coisas que declarou a Israel, é óbvio que não queria dizer a criação inanimada, mas, antes os residentes inteligentes que habitavam os céus e a terra. (Deut. 4:25, 26; 30:19; compare com Efésios 1:9, 10; Filipenses 2:9, 10; Revelação 13:6.) Isto também se aplica ao regozijo da parte dos céus e da terra por causa da queda de Babilônia, em Jeremias 51:48. (Compare com Revelação 18:5; 19:1-3.) Semelhantemente, têm de ser os céus espirituais que ‘escoam a justiça’, conforme descrito em Isaías 45:8. Em outros casos, tem-se presente os céus literais, mas eles são descritos de modo figurado como se regozijando ou bradando em voz alta. Na vinda de Jeová para julgar a terra conforme descrito no Salmo 96:11-13, os céus junto com a terra, o mar, e o campo, assumem um aspecto jubilante. (Compare com Isaías 44:23.) Os céus físicos também louvam o seu Criador, da mesma forma que um produto lindamente projetado traz louvor ao artífice que o produz. Efetivamente, declaram o poder a sabedoria e a majestade de Jeová. — Sal 19:1-4; 69:34.
ASCENSÃO AO CÉU
Em 2 Reis 2:11, 12, descreve-se o profeta Elias como “subindo aos céus no vendaval”. Os céus aqui mencionados são os céus atmosféricos em que ocorrem os vendavais, e não os céus espirituais da presença de Deus. (Compare com João 3:13; veja ELIAS.) Em Pentecostes, Pedro disse, a respeito de Davi, que este “não ascendeu aos céus”. (Atos 2:34) Em realidade não existe nada nas Escrituras que mostre que se apresentou uma esperança celeste aos servos de Deus antes da vinda de Cristo Jesus. Tal esperança aparece, pela primeira vez, nas expressões de Jesus a seus discípulos (Mat. 19:21, 23-28; Luc. 12:32; João 14:2, 3) e foi plenamente compreendida por eles somente depois de Pentecostes de 33 E.C. — Atos 1:6-8; 2:1-4, 29-36; Rom. 8:16, 17.
As Escrituras mostram que Cristo Jesus foi o primeiro a ascender da terra para os céus da presença de Deus. (1 Cor. 15:20; Heb. 9:24) Por meio de tal ascensão, e por apresentar seu sacrifício de resgate ali, ele ‘abriu o caminho’ para aqueles que o seguiriam — os membros, gerados pelo espírito, de sua congregação. (João 14:2, 3; Heb. 6:19, 20; 10:19, 20) Em sua ressurreição, estes têm de apresentar “a imagem do celestial”, Cristo Jesus, a fim de ascender aos céus do plano espiritual, pois “carne e sangue” não podem herdar esse reino celeste. — 1 Cor. 15:42-50.
O apóstolo Paulo mostra que não é senão por ocasião da presença de Cristo Jesus que os membros de sua congregação são ressuscitados e ascendem ao céu, enquanto ‘os viventes, que sobreviverem, serão juntamente com eles arrebatados em nuvens, para encontrar o Senhor no ar’. — 1 Tes. 4:15-17.
É também verdade que mesmo quando é usada a expressão “lugares celestiais”, ela pode ter um significado diferente do literal. O contexto fornece a chave do entendimento. Assim, o apóstolo Paulo, em sua carta aos efésios, fala dos cristãos então vivos na terra como se já estivessem usufruindo tal posição celeste, sendo ressuscitados e ‘assentando junto nos lugares celestiais, em união com Cristo Jesus’. (Efé. 1:3; 2:6) O contexto mostra que os cristãos ungidos são assim encarados por Deus porque Ele os ‘designou herdeiros’, junto com seu Filho, da herança celeste. Enquanto ainda estão na terra, são exaltados ou ‘levantados’ por tal designação. (Efé. 1:11, 18-20; 2:4-7, 22) Estes pontos também elucidam a visão simbólica de Revelação 11:12. Semelhantemente, fornecem uma chave para o entendimento do quadro profético contido em Daniel 8:9-12, onde aquilo que anteriormente se mostrara representar uma potência política é mencionado como ‘tornando-se cada vez maior até atingir o exército dos céus’, e até mesmo fazendo com que alguns desse exército e das estrelas caiam até a terra. Em Daniel 12:3, os servos de Deus na terra, no predito tempo do fim, são mencionados como brilhando “como as estrelas por tempo indefinido”. Note, também, o uso simbólico de estrelas no livro de Revelação, capítulos um a três, onde o contexto mostra que tais “estrelas” se referem a pessoas que estão obviamente vivendo na terra e passando por experiências e tentações terrestres, tais “estrelas” sendo responsáveis por congregações sob seus cuidados.
O caminho para a vida celeste
O caminho para a vida celeste envolve mais do que apenas a fé no sacrifício de resgate de Cristo, e obras de fé, em obediência às instruções de Deus. Os escritos inspirados dos apóstolos e dos discípulos mostram que precisa haver também uma chamada e escolha de tal pessoa por parte de Deus, mediante seu Filho. (2 Tim. 1:9, 10; Mat. 22:14; 1 Ped. 2:9) Tal convite envolve vários passos ou medidas tomadas para habilitar tal pessoa para a herança celeste, muitos de tais passos sendo dados por Deus, outros pela pessoa chamada. Entre tais passos ou medidas acham-se o declarar justo o cristão chamado (Rom. 3:23, 24, 28; 8:33, 34); dá-lo à luz (“gerá-lo”) como filho espiritual (João 1:12, 13; 3:3-6; Tia. 1:18); ser batizado na morte de Cristo (Rom. 6:3, 4; Fil. 3:8-11); ungi-lo (2 Cor. 1:21; 1 João 2:20, 27); santificá-lo (João 17:17); o chamado precisa manter integridade até a morte (2 Tim. 2:11-13; Rev. 2:10); e, uma vez que o cristão se prove fiel à sua chamada e escolha (Rev. 17:14), ele é finalmente ressuscitado para a vida espiritual. — João 6:39, 40; Rom. 6:5; 1 Cor. 15:42-49.
TERCEIRO CÉU
Em 2 Coríntios 12:2-4 o apóstolo Paulo descreve alguém que foi “arrebatado . . . até o terceiro céu” e “para o paraíso”. Visto não haver menção alguma, nas Escrituras, de qualquer outra pessoa que tivesse tal experiência, parece provável que tenha sido uma experiência do próprio apóstolo. Ao passo que alguns se empenham em relacionar a referência de Paulo ao terceiro céu com o antigo conceito rabínico de que havia estágios no céu, até mesmo um total de “sete céus”, tal conceito não encontra respaldo nas Escrituras. Como vimos, não se menciona especificamente os céus como se estivessem divididos em plataformas ou estágios, mas, ao invés, é preciso depender do contexto para se determinar se a referência é feita aos céus situados nos limites da expansão atmosférica terrestre, aos céus do espaço sideral, ou aos céus espirituais. Por conseguinte, parece que a referência ao “terceiro céu” indica o grau superlativo de arrebatamento em que se teve esta visão. Observe o modo como as palavras e expressões são repetidas três vezes em Isaías 6:3; Ezequiel 21:27; João 21:15-17; Revelação 4:8, evidentemente com o intuito de expressar uma intensificação da qualidade ou da idéia.