Não guarde ressentimento
TODOS pareciam divertir-se numa festa quando chegou o dono da casa.
Ele foi cumprimentado entusiasticamente por todos — com exceção de um. Por quê? Porque meses antes, numa festa de despedida, o dono da casa não havia feito caso da mão estendida deste homem. Este certamente guardou ressentimento, e quanto se sentia infeliz cada vez que via o motivo de seu ressentimento!
Nutre às vezes rancor por guardar ressentimento, e sente-se por isso infeliz, ao passo que todos os outros em sua volta parecem divertir-se?
Quão insensato! De fato, há muitos motivos pelos quais devemos acatar o conselho bíblico a respeito de não guardarmos ressentimentos: “Não deves tomar vingança nem ter ressentimento contra os filhos do teu povo; e tens de amar o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou Jeová.” — Lev. 19:18.
Em primeiro lugar, não se pode ter ressentimento contra alguém sem se desgostar dele, e desgosto pode transformar-se em ódio. O que diz a Bíblia sobre isso? “Todo aquele que odeia seu irmão é homicida.” (1 João 3:15) De fato, pode transformar-se mesmo em homicídio, como no caso de dois sobreviventes dum desastre de ônibus em Belém do Pará. Brigaram por isso com facas, resultando na morte de um e em o outro ser preso por homicídio.
A Bíblia cita muitos exemplos do que o ressentimento pode causar. Para se mencionar um, houve o caso de Esaú. Ele guardou ressentimento assassino contra seu irmão Jacó, porque Jacó recebera a bênção de primogênito, que Esaú lhe havia vendido. Por causa disso, Jacó fugiu para seu tio Labão, conforme o expressou sua mãe Rebeca, “até que se acalme o furor de teu irmão”. E, sem dúvida, se Jacó não tivesse feito isso, Esaú o teria matado, contrariado por não ter recebido a bênção de primogênito de seu pai Isaque. Aconteceu, porém, que se encontraram só vinte anos depois, quando Esaú já havia mudado de atitude, pois lemos que ‘Esaú foi correndo ao encontro dele, lançando-se ao seu pescoço e beijando-o, e eles romperam em prantos’. — Gên. 27:41-45; 33:4.
Talvez achemos que alguém nos fez mal. Talvez fizesse mesmo, ou talvez estejamos enganados. Mas, se não ‘tomarmos vingança’ daquele que aparentemente nos fez mal, é possível que a ferida sare com o tempo e possamos ‘esquecer o que passou’.
Quanto melhor, porém, é ser semelhante a José, filho favorito de Jacó! Alguns de seus irmãos lhe guardaram ressentimento por ele ser o favorito de seu pai (e por causa dos sonhos que tivera, indicando que eles se curvariam diante dele), e estavam prontos para matá-lo. Mas, devido à intervenção de Judá, foi em vez disso vendido como escravo e acabou sendo lançado na prisão, sob uma acusação falsa levantada contra ele. Mas, guardou ele ressentimento contra seus irmãos por causa de todo este mal que lhe sobreveio? De modo algum. Quando a situação se inverteu e eles estavam à mercê dele, em vez de se vingar, José perdoou-lhes liberalmente. — Gên. 45:1-8; 50:15-21.
Com quem quer parecer-se? Com os que guardam ressentimento ao ponto de querer matar ou com José, que perdoou e foi misericordioso?
Há vários motivos pelos quais alguém pode guardar ressentimento. Alguém talvez se sinta ofendido, por outro ter feito uma observação imprópria e difamante. Ou talvez tenha sido menosprezado ou desdenhado quando quis ser amistoso. Ou alguém talvez se sinta magoado por ter sido repreendido aparentemente de modo injusto ou severo demais.
Suponhamos que tenha ouvido outro falar mal de sua pessoa. Será que há alguma verdade na sua observação e que é por isso que se ressente tanto? Se a observação foi inteiramente imprópria, por que não ser caridoso e perdoar, pensando na possibilidade dum engano? Depois de ele ter dito isso, talvez se tenha dado conta de que teria sido melhor ficar calado, mas ainda hesita em admitir-lhe isso. Lembre-se do conselho de Jesus, de que, a menos que perdoemos aos outros as suas transgressões contra nós, Deus não nos perdoará as nossas transgressões contra ele. — Mat. 6:12-15; 18:23-35.
Ou foi menosprezado, desdenhado ou repelido por alguém? Certa vez, uma mulher cristã, de idade avançada, dirigiu-se a um ancião numa congregação cristã e perguntou-lhe por que ele a menosprezava, se tinha alguma coisa contra ela, e, neste caso, de que se tratava. Ele ficou abismado, visto que esta mulher cristã gozava da sua maior estima e consideração. Não estava cônscio de a ter menosprezado, pois, de fato, sempre tinha prazer em vê-la. Mas este incidente, por sua vez, o fez pensar. Por muito tempo havia guardado ressentimento contra outro, quando ele mesmo fora desdenhado — aparentemente. Pois dava-se então conta que se podia ter enganado tanto quanto ela.
Há também o caso da repreensão que talvez achemos imerecida ou severa demais. Isto nos faz lembrar o que disse certa vez um humorista. Seu pai batia nele às vezes por algo que não havia feito. Quando se queixou disso, o pai lhe respondeu: ‘Isto foi por aquela vez em que você devia ter apanhado pelo que fez e não apanhou.’ Todos nós temos de admitir que transgredimos vez após vez sem sermos repreendidos. Por outro lado, também, pode ter havido circunstâncias atenuantes, explicando por que o encarregado foi severo demais; ou pode ser que seu senso de justiça seja mais forte do que o nosso. Coloque-se no lugar dele, e poderá perdoar e esquecer.
Portanto, acautele-se para não guardar ressentimento. Não se ofenda facilmente, “pois ficar ofendido é o que descansa no seio dos estúpidos”. (Ecl. 7:9) Não pode guardar ressentimento sem ferir tanto a si mesmo como a outros. E é provável que não se prejudique apenas fisicamente, mas que prejudique também seu bem-estar espiritual. Não poderá ter boas relações com Deus, a menos que tenha também boas relações com seu irmão cristão. De fato, nosso amor a Deus é provado pelo nosso amor aos nossos irmãos. Conforme o expressou o amoroso apóstolo João de modo bem enfático: “Quem não ama a seu irmão, a quem tem visto, não pode estar amando a Deus, a quem não tem visto.” (1 João 4:20, 21) Portanto, seja sábio, seja justo, seja amoroso, e assim não guardará ressentimento.
[Capa na página 385]
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