Perguntas dos Leitores
• É Lúcifer um nome que a Bíblia usa para Satanás?
O nome Lúcifer ocorre uma vez nas Escrituras e apenas em algumas versões da Bíblia. Por exemplo, a tradução de Antônio Pereira de Figueiredo verte Isaías 14:12: “Como caíste do céu, ó Lúcifer, tu que ao ponto do dia parecias tão brilhante?”
A palavra hebraica traduzida “Lúcifer” significa “brilhante”. A Septuaginta usa a palavra grega que significa “aquele que traz a alva”. Por isso, algumas traduções vertem o hebraico original por “estrela da manhã” ou “estrela d’alva”. Mas a Vulgata latina de Jerônimo usa “Lúcifer” (portador de luz), e isso explica a ocorrência desse termo em diversas versões da Bíblia.
Quem é esse Lúcifer? O termo “brilhante”, ou “Lúcifer”, é encontrado na “expressão proverbial contra o rei de Babilônia” que Isaías mandou profeticamente que os israelitas proferissem. De modo que faz parte duma expressão dirigida à dinastia babilônica. Que o termo “brilhante” é usado para descrever um homem e não uma criatura espiritual é notado adicionalmente na declaração: “No Seol serás precipitado.” Seol é a sepultura comum da humanidade — não um lugar ocupado por Satanás, o Diabo. Além disso, os que vêem Lúcifer levado a essa condição perguntam: “É este o homem que agitava a terra?” É evidente que “Lúcifer” se refere a um humano, não a uma criatura espiritual. — Isaías 14:4, 15, 16.
Por que se dá tal ilustre descrição à dinastia babilônica? Temos de dar-nos conta de que o rei de Babilônia seria chamado de brilhante apenas depois da sua queda e de forma escarnecedora. (Isaías 14:3) O orgulho egoísta induziu os reis de Babilônia a se elevarem acima dos em sua volta. A arrogância da dinastia era tão grande, que ela é retratada fazendo a seguinte declaração jactanciosa: “Subirei aos céus. Enaltecerei o meu trono acima das estrelas de Deus e assentar-me-ei no monte de reunião, nas partes mais remotas do norte. . . . Assemelhar-me-ei ao Altíssimo.” — Isaías 14:13, 14.
As “estrelas de Deus” são os reis da linhagem real de Davi. (Números 24:17) A partir de Davi, essas “estrelas” governavam desde o monte Sião. Depois de Salomão construir o templo em Jerusalém, o nome Sião passou a ser aplicado a toda a cidade. Sob o pacto da Lei, todos os varões israelitas tinham a obrigação de viajar três vezes por ano a Sião. De modo que se tornou o “monte de reunião”. Por decidir subjugar os reis judeus e depois removê-los daquele monte, Nabucodonosor declara sua intenção de se colocar acima dessas “estrelas”. Em vez de atribuir a Jeová o mérito dessa vitória sobre eles, coloca-se arrogantemente no lugar de Jeová. Portanto, é depois da sua queda que a dinastia babilônica é chamada zombeteiramente de “brilhante”.
A arrogância dos governantes babilônicos realmente refletia a atitude do “deus deste sistema de coisas” — Satanás, o Diabo. (2 Coríntios 4:4) Ele também anseia ter poder e deseja colocar-se acima de Jeová Deus. Mas a Bíblia não atribui o nome Lúcifer a Satanás.
• Por que 1 Crônicas 2:13-15 chama Davi de sétimo filho de Jessé, ao passo que 1 Samuel 16:10, 11, indica que ele era o oitavo?
Depois de o Rei Saul, do antigo Israel, ter-se desviado da adoração verdadeira, Jeová Deus enviou o profeta Samuel para ungir um dos filhos de Jessé como rei. O registro divino desse acontecimento histórico, escrito pelo próprio Samuel no século 11 AEC, apresenta Davi como oitavo filho de Jessé. (1 Samuel 16:10-13) No entanto, o relato escrito por Esdras, o sacerdote, uns 600 anos mais tarde, diz: “Jessé, por sua vez, tornou-se pai do seu primogênito, Eliabe, e de Abinadabe, o segundo, e de Siméia, o terceiro, de Netanel, o quarto, de Radai, o quinto, de Ozem, o sexto, de Davi, o sétimo.” (1 Crônicas 2:13-15) O que aconteceu com um dos irmãos de Davi, e por que Esdras omite o nome dele?
As Escrituras dizem que Jessé “tinha oito filhos”. (1 Samuel 17:12) Pelo visto, um dos seus filhos não viveu o bastante para se casar e ter filhos. Não tendo descendentes, não podia reivindicar uma herança tribal nem seria relevante aos registros genealógicos da linhagem de Jessé.
Consideremos então os dias de Esdras. Vejamos as circunstâncias em que compilou Crônicas. O exílio em Babilônia terminou cerca de 77 anos antes, e os judeus se encontravam restabelecidos na sua terra. O rei da Pérsia havia autorizado Esdras a nomear juízes e instrutores da Lei de Deus e a embelezar a casa de Jeová. Havia necessidade de listas genealógicas precisas para confirmar as heranças tribais e garantir que apenas os autorizados servissem no sacerdócio. De modo que Esdras preparou um relato abrangente da história da nação, incluindo um registro claro e confiável da linhagem de Judá e de Davi. O nome do filho de Jessé que faleceu sem ter filhos não era relevante. Por isso, Esdras omitiu o nome.