Capítulo Catorze
Jeová exaltou seu Servo messiânico
1, 2. (a) Ilustre a situação de muitos judeus no início do primeiro século EC. (b) Que provisão Jeová fizera para ajudar os judeus fiéis a reconhecer o Messias?
IMAGINE que você tenha um encontro marcado com um importante dignitário. A hora e o local estão determinados. Mas há um problema: você não sabe qual é a aparência dele e sua chegada será discreta, sem alarde. Como o reconheceria? Seria útil ter uma descrição detalhada dele.
2 No início do primeiro século EC, muitos judeus se viram numa situação similar. Esperavam o Messias — o homem mais importante de todos os tempos. (Daniel 9:24-27; Lucas 3:15) Mas como os judeus fiéis o reconheceriam? Por meio dos profetas hebreus, Jeová havia fornecido uma detalhada descrição escrita dos eventos relativos ao Messias, para que os discernidores o identificassem sem engano.
3. Que descrição do Messias faz Isaías 52:13–53:12?
3 Entre as profecias hebraicas sobre o Messias, talvez nenhuma outra forneça um quadro mais claro do que a de Isaías 52:13–53:12. Com mais de 700 anos de antecedência, Isaías descreveu, não a aparência física do Messias, mas detalhes mais significativos — o objetivo e as formas de seu sofrimento e pormenores sobre sua morte, sepultamento e enaltecimento. Um exame dessa profecia e seu cumprimento nos animará e fortalecerá a nossa fé.
“Meu servo” — quem é ele?
4. Que opiniões quanto à identidade do “servo” apresentaram alguns eruditos judeus, mas por que não se ajustam à profecia de Isaías?
4 Isaías acabara de falar da libertação dos judeus do exílio em Babilônia. Daí, vislumbrando um evento bem mais importante, ele registra as palavras de Jeová: “Eis que meu servo agirá com perspicácia. Ele estará num alto posto, e certamente será elevado e muitíssimo exaltado.” (Isaías 52:13) Quem é esse “servo”? Ao longo dos séculos, eruditos judeus apresentaram várias opiniões. Alguns diziam que ele representava a inteira nação de Israel durante seu exílio babilônico. Mas essa explicação não se ajusta à profecia. O Servo de Deus sofreria voluntariamente. Mesmo inocente, sofreria pelos erros de outros. Isso não poderia aplicar-se à nação judaica, que foi exilada por causa de seus próprios pecados. (2 Reis 21:11-15; Jeremias 25:8-11) Outros diziam que o Servo representava a devota elite de Israel, e que ela sofreu em favor dos israelitas pecadores. No entanto, em tempos de aflição em Israel, nenhum grupo específico sofreu por outro.
5. (a) Que aplicações da profecia de Isaías fizeram alguns eruditos judeus? (Veja nota de rodapé.) (b) Que clara identificação do Servo se faz no livro bíblico de Atos?
5 Antes do advento do cristianismo, e até certo ponto durante os primeiros séculos da Era Comum, uns poucos eruditos judeus aplicaram essa profecia ao Messias. Que essa é a aplicação correta vê-se nas Escrituras Gregas Cristãs. Segundo o livro de Atos, quando o eunuco etíope disse que não sabia quem era o Servo da profecia de Isaías, Filipe “declarou-lhe as boas novas a respeito de Jesus”. (Atos 8:26-40; Isaías 53:7, 8) Outros livros bíblicos também identificam Jesus Cristo como o Servo messiânico da profecia de Isaías.a Ao considerarmos essa profecia, veremos os inegáveis paralelos entre aquele a quem Jeová chama de “meu servo” e Jesus de Nazaré.
6. Como indica a profecia de Isaías que o Messias executaria com sucesso a vontade divina?
6 A profecia começa descrevendo o sucesso final do Messias na execução da vontade divina. A palavra “servo” indica que ele se submeteria à vontade de Deus, assim como um servo se submete à de seu senhor. Assim, ‘agiria com perspicácia’. Perspicácia é a capacidade de discernir uma situação. Agir com perspicácia é agir com discrição. Sobre o verbo hebraico usado aqui, certa obra de referência diz: “No âmago, a ideia é procedimento prudente e sábio. Quem proceder sabiamente terá sucesso.” Que o Messias realmente teria sucesso deduz-se de que a profecia diz que ele ‘seria elevado e muitíssimo exaltado’.
7. De que modo Jesus Cristo ‘agiu com perspicácia’, e como foi “elevado e muitíssimo exaltado”?
7 Jesus realmente ‘agiu com perspicácia’, mostrando que entendia as profecias bíblicas que se aplicavam a ele e se guiando por elas para fazer a vontade de seu Pai. (João 17:4; 19:30) Com que resultado? Depois de sua ressurreição e ascensão ao céu, “Deus o enalteceu a uma posição superior e lhe deu bondosamente o nome que está acima de todo outro nome”. (Filipenses 2:9; Atos 2:34-36) Daí, em 1914, o glorificado Jesus foi enaltecido ainda mais. Jeová o exaltou ao trono do Reino messiânico. (Revelação [Apocalipse] 12:1-5) Sim, ele foi “elevado e muitíssimo exaltado”.
“Olharam para ele assombrados”
8, 9. Quando o enaltecido Jesus vier para executar o julgamento, como reagirão os governantes terrestres, e por quê?
8 Como as nações e seus governantes reagiriam ao enaltecido Messias? Deixando de lado por um pouco o comentário parentético na segunda parte do versículo 14, a profecia diz: “Ao ponto que muitos olharam para ele assombrados . . . a tal ponto surpreenderá muitas nações. Por causa dele, reis fecharão a sua boca, pois verão realmente aquilo que não se lhes narrou e terão de dar sua consideração àquilo que não ouviram.” (Isaías 52:14a, 15) Com essas palavras, Isaías não descreve o surgimento inicial do Messias, mas sim seu confronto final com os governantes terrestres.
9 Quando o enaltecido Jesus vier para executar o julgamento contra este ímpio sistema mundial, os governantes terrestres ‘olharão para ele assombrados’. Os governantes humanos não verão literalmente o glorificado Jesus, é verdade. Mas verão as evidências visíveis de seu poder como Combatente celestial de Jeová. (Mateus 24:30) Serão obrigados a dar sua consideração àquilo que não ouviram de seus líderes religiosos — que Jesus é o Executor dos julgamentos de Deus! O enaltecido Servo com quem eles se defrontarão agirá de um modo que não esperam.
10, 11. Em que sentido se pode dizer que Jesus foi desfigurado no primeiro século, e como isso é feito hoje?
10 Segundo o comentário parentético no versículo 14, Isaías diz: “Tanta foi a desfiguração quanto à sua aparência, mais do que a de qualquer outro homem, e quanto à sua figura imponente, mais do que a dos filhos da humanidade.” (Isaías 52:14b) Ficou Jesus de algum modo desfigurado fisicamente? Não. Embora a Bíblia não forneça detalhes sobre a aparência de Jesus, o Filho perfeito de Deus sem dúvida tinha uma fisionomia agradável. Evidentemente, as palavras de Isaías referem-se à humilhação que Jesus sofreu. Ele expôs corajosamente os líderes religiosos de seus dias como hipócritas, mentirosos e assassinos; e eles reagiram insultando-o. (1 Pedro 2:22, 23) Acusaram-no de violador da lei, blasfemador, impostor e sedicioso contra Roma. Assim, esses acusadores falsos pintaram um quadro totalmente desfigurado de Jesus.
11 Hoje, a representação falsa de Jesus continua. A maioria das pessoas imagina Jesus como bebê numa manjedoura, ou como personagem trágico pregado numa cruz, com o rosto desfigurado e agonizante sob uma coroa de espinhos. O clero da cristandade tem incentivado tais imagens. Não apresentam Jesus como poderoso Rei celestial a quem as nações terão de prestar contas. No futuro próximo, ao se confrontarem com o enaltecido Jesus, os governantes humanos terão de lidar com um Messias que tem “toda a autoridade no céu e na terra”! — Mateus 28:18.
Quem terá fé nessas boas novas?
12. Que perguntas instigantes suscitavam as palavras de Isaías 53:1?
12 Depois de descrever a espantosa transformação do Messias — de ‘desfigurado’ para “muitíssimo exaltado” —, Isaías pergunta: “Quem depositou fé na coisa ouvida por nós? E quanto ao braço de Jeová, a quem foi revelado?” (Isaías 53:1) Essas palavras de Isaías suscitavam perguntas instigantes: Cumprir-se-ia essa profecia? Será que o “braço de Jeová”, que representa sua capacidade de exercer poder, se revelaria e tornaria realidade essas palavras?
13. Como mostrou Paulo que a profecia de Isaías se cumpriu em Jesus, e que reação houve?
13 A resposta é inquestionavelmente sim! Em sua carta aos romanos, Paulo cita as palavras de Isaías para mostrar que a profecia ouvida e registrada por Isaías se cumpriu em Jesus. A glorificação de Jesus depois de seus sofrimentos na Terra eram boas novas. “Não obstante”, diz Paulo referindo-se aos judeus descrentes, “nem todos obedeceram às boas novas. Pois Isaías diz: ‘Jeová, quem depositou fé na coisa ouvida de nós?’ De modo que a fé segue à coisa ouvida. Por sua vez, a coisa ouvida vem por intermédio da palavra acerca de Cristo”. (Romanos 10:16, 17) Infelizmente, porém, poucos nos dias de Paulo depositaram fé nas boas novas a respeito do Servo de Deus. Por quê?
14, 15. Sob que circunstâncias o Messias entraria no cenário terrestre?
14 A seguir, a profecia explica aos israelitas os motivos das perguntas registradas no versículo 1 e, com isso, lança luz sobre por que muitos não aceitariam o Messias: “Ele subirá qual rebento perante [um observador] e como raiz dentre uma terra árida. Não tem nenhuma figura imponente, nem qualquer esplendor; e vendo-o nós, não há aparência, de modo que o desejássemos.” (Isaías 53:2) Vemos aqui as circunstâncias da entrada do Messias no cenário terrestre. Ele teria um começo humilde e, para os observadores, pareceria improvável que viesse a alcançar notoriedade. Além disso, seria como mero rebento, um raminho, que cresce no tronco ou no galho de uma árvore. Seria também como uma raiz dependente de água num solo seco e pouco promissor. E não viria com pompa e esplendor régios — nem com trajes de realeza ou diademas cintilantes. Ao contrário, seu início seria humilde e despretensioso.
15 Que boa descrição do começo humilde de Jesus como ser humano! A virgem judia Maria deu à luz a ele num estábulo, numa cidadezinha chamada Belém.b (Lucas 2:7; João 7:42) Maria e seu esposo, José, eram pobres. Uns 40 dias depois do nascimento de Jesus eles trouxeram a oferta pelo pecado facultada aos pobres, “um par de rolas ou dois pombos novos”. (Lucas 2:24; Levítico 12:6-8) Com o tempo, Maria e José estabeleceram-se em Nazaré, onde Jesus se criou numa família grande, provavelmente modesta. — Mateus 13:55, 56.
16. Em que sentido Jesus não tinha “figura imponente” ou “esplendor”?
16 Parecia que, como humano, as raízes de Jesus não estavam fincadas no solo certo. (João 1:46; 7:41, 52) Embora fosse um homem perfeito e descendente do Rei Davi, suas circunstâncias humildes não lhe conferiam uma “figura imponente” ou “esplendor” — pelo menos não aos olhos dos que esperavam que o Messias viesse de uma origem mais nobre. Instigados pelos líderes religiosos judeus, muitos não o levaram em conta e até mesmo o desprezaram. Por fim, as multidões não viram nada de desejável no Filho perfeito de Deus. — Mateus 27:11-26.
“Desprezado e evitado pelos homens”
17. (a) O que Isaías passa a descrever, e por que escreve no tempo passado? (b) Quem ‘desprezou’ e ‘evitou’ Jesus, e como o fizeram?
17 A seguir, Isaías passa a detalhar como o Messias seria encarado e tratado: “Ele foi desprezado e evitado pelos homens, homem para ter dores e para conhecer doença. E era como se se ocultasse de nós a face. Foi desprezado e não o tivemos em conta.” (Isaías 53:3) Certo de que suas palavras se cumpririam, Isaías escreve como se isso já tivesse acontecido. Foi Jesus Cristo realmente desprezado e evitado pelos homens? Certamente que sim! Para os líderes religiosos, que se consideravam justos, e seus seguidores ele era o mais vil dos homens. Chamaram-no de amigo de cobradores de impostos e de meretrizes. (Lucas 7:34, 37-39) Cuspiram-lhe no rosto. Deram-lhe socos e o vituperaram. Escarneceram dele. (Mateus 26:67) Influenciados por esses inimigos da verdade, o próprio povo de Jesus ‘não o acolheu’. — João 1:10, 11.
18. Visto que jamais adoeceu, em que sentido Jesus era um “homem para ter dores e para conhecer doença”?
18 Como homem perfeito, Jesus jamais adoeceu. No entanto, ele era “homem para ter dores e para conhecer doença”. Tais dores e doenças não eram suas. Jesus veio do céu para um mundo doente. Ele viveu em meio a sofrimentos e dor, mas não evitou os enfermos, quer física, quer espiritualmente. Assim como um médico dedicado, ele chegou a conhecer bem o sofrimento dos que o cercavam. Além do mais, ele podia fazer o que nenhum médico humano comum pode fazer. — Lucas 5:27-32.
19. A face de quem estava ‘oculta’, e como os inimigos de Jesus ‘não o tiveram em conta’?
19 Não obstante, os inimigos de Jesus viam a ele como o doente e se recusavam a encará-lo com favor. A face de Jesus estava ‘oculta’, mas não porque ele a escondesse de outros. Na tradução de Isaías 53:3, a Bíblia Vozes usa a frase “era como pessoa de quem se desvia o rosto”. Os opositores de Jesus achavam-no tão revoltante que, na realidade, desviavam-se dele como se fosse repugnante demais para contemplar. Achavam que ele não valia mais do que o preço de um escravo. (Êxodo 21:32; Mateus 26:14-16) Gostavam menos dele do que do assassino Barrabás. (Lucas 23:18-25) Que mais poderiam ter feito para demonstrar seu desprezo por Jesus?
20. De que consolo são as palavras de Isaías para o povo de Jeová hoje?
20 Os atuais servos de Jeová podem derivar muito consolo das palavras de Isaías. Ocasionalmente, os opositores talvez zombem dos fiéis adoradores de Jeová, ou não façam caso deles. Mas, como se deu com Jesus, o que importa mesmo é como Jeová Deus nos avalia. Afinal, mesmo que os homens ‘não tenham tido Jesus em conta’, isso certamente não mudou seu grande valor aos olhos de Deus!
“Traspassado pela nossa transgressão”
21, 22. (a) O que o Messias carregou e levou sobre si em favor de outros? (b) Como muitos encararam o Messias, e em que culminou seu sofrimento?
21 Por que o Messias teria de sofrer e morrer? Isaías explica: “Verdadeiramente, foram as nossas doenças que ele mesmo carregou; e quanto às nossas dores, ele as levou. Mas nós mesmos o considerávamos afligido, golpeado por Deus e atribulado. Mas ele estava sendo traspassado pela nossa transgressão; estava sendo esmigalhado pelos nossos erros. O castigo intencionado para a nossa paz estava sobre ele, e por causa das suas feridas tem havido cura para nós. Todos nós temos andado errantes quais ovelhas; viramo-nos cada um para o seu próprio caminho; e o próprio Jeová fez que o erro de todos nós atingisse aquele.” — Isaías 53:4-6.
22 O Messias carregou as doenças de outros e levou sobre si as suas dores. Ele tirou os fardos de cima deles, por assim dizer, e os carregou nos seus próprios ombros. E, visto que as doenças e as dores são frutos da pecaminosidade da humanidade, o Messias carregou os pecados de outros. Muitos não entenderam a razão dos sofrimentos dele e achavam que Deus o estivesse punindo, afligindo-o com uma doença repulsiva.c Os sofrimentos do Messias culminaram em ser ele traspassado, esmigalhado e ferido — palavras fortes que denotam uma morte violenta e dolorosa. Mas a sua morte tem poder expiatório; fornece a base para recuperar os que perambulam no erro e no pecado, ajudando-os a encontrar a paz com Deus.
23. Em que sentido Jesus levou sobre si os sofrimentos de outros?
23 De que modo Jesus levou sobre si os sofrimentos de outros? O Evangelho de Mateus, citando Isaías 53:4, diz: “Trouxeram-lhe muitas pessoas possessas de demônios; e ele expulsou os espíritos com uma palavra e curou a todos os que passavam mal; para que se cumprisse o que fora falado por intermédio de Isaías, o profeta, dizendo: ‘Ele mesmo tomou as nossas doenças e levou as nossas moléstias.’” (Mateus 8:16, 17) Por curar os que vinham a ele com várias doenças, Jesus, com efeito, tomou sobre si os sofrimentos deles. E tais curas consumiam parte de Sua vitalidade. (Lucas 8:43-48) A sua capacidade de curar todo tipo de males — físicos e espirituais — provava que ele tinha o poder de purificar as pessoas do pecado. — Mateus 9:2-8.
24. (a) Por que parecia a muitos que Jesus havia sido “afligido” por Deus? (b) Por que Jesus sofreu e morreu?
24 Para muitos, porém, parecia que Jesus fora “afligido” por Deus. Afinal, ele sofreu às instigações de respeitados líderes religiosos. Lembre-se, no entanto, que ele não sofreu devido a algum pecado da parte dele. “Cristo sofreu por vós”, diz Pedro, “deixando-vos um modelo para seguirdes de perto os seus passos. Ele não cometeu pecado, nem se achou engano na sua boca. Ele mesmo levou os nossos pecados no seu próprio corpo, no madeiro, a fim de que acabássemos com os pecados e vivêssemos para a justiça. E ‘pelos seus vergões fostes sarados’”. (1 Pedro 2:21, 22, 24) Todos nós estávamos outrora perdidos no pecado, como ‘ovelhas se perdendo’. (1 Pedro 2:25) Mas, por meio de Jesus, Jeová providenciou a redenção de nosso estado pecaminoso. Fez com que o nosso erro “atingisse” Jesus, que caísse sobre ele. O imaculado Jesus voluntariamente sofreu a penalidade pelos nossos pecados. Por sofrer imerecidamente uma morte vergonhosa numa estaca, tornou possível nos reconciliarmos com Deus.
“Deixou-se atribular”
25. Como sabemos que o Messias sofreu e morreu voluntariamente?
25 Estaria o Messias disposto a sofrer e a morrer? Diz Isaías: “Viu-se apertado e deixou-se atribular; contudo, não abria a sua boca. Foi trazido qual ovídeo ao abate; e como a ovelha fica muda diante dos seus tosquiadores, tampouco ele abria a sua boca.” (Isaías 53:7) Na última noite de sua vida, Jesus poderia ter convocado “mais de doze legiões de anjos” para socorrê-lo. No entanto, ele disse: “Neste caso, como se cumpririam as Escrituras, de que tem de realizar-se deste modo?” (Mateus 26:53, 54) Assim, o “Cordeiro de Deus” não ofereceu resistência. (João 1:29) Quando os sacerdotes principais e os anciãos falsamente o acusaram perante Pilatos, Jesus “não deu nenhuma resposta”. (Mateus 27:11-14) Ele não queria dizer nada que comprometesse a realização da vontade de Deus para com ele. Jesus se dispunha a morrer como Cordeiro sacrificial, sabendo perfeitamente que sua morte livraria a humanidade obediente do pecado, das doenças e da morte.
26. Em que sentido os opositores de Jesus impuseram “restrição”?
26 A seguir, Isaías dá outros detalhes sobre os sofrimentos e a humilhação do Messias. Escreve o profeta: “Por causa da restrição e do julgamento, ele foi levado embora; e quem é que se ocupará com os pormenores de sua geração? Pois foi cortado da terra dos viventes. Por causa da transgressão do meu povo, sofreu o golpe.” (Isaías 53:8) Quando Jesus por fim foi tomado pelos seus inimigos, esses opositores religiosos usaram de “restrição” nos seus tratos com ele. Não que se refreassem de expressar seu ódio, mas restringiram, ou negaram, a justiça. Na tradução de Isaías 53:8, a Septuaginta grega diz “humilhação” em vez de “restrição”. Os inimigos de Jesus humilharam-no por lhe negarem o tratamento justo que até mesmo um criminoso comum merecia. O julgamento de Jesus foi uma farsa. Como assim?
27. Que regras os líderes religiosos judeus ignoraram no julgamento de Jesus, e de que maneiras violaram a Lei de Deus?
27 No seu afã de se livrarem de Jesus, os líderes religiosos judeus violaram suas próprias regras. Segundo a tradição, os casos sujeitos à pena capital só podiam ser julgados pelo Sinédrio no átrio de pedras talhadas, nos recintos do templo, não na casa do sumo sacerdote. Tais julgamentos tinham de ser feitos de dia, não depois do pôr do sol. E, em caso de pena capital, o veredicto de culpado tinha de ser anunciado no dia seguinte à conclusão das audiências. Assim, nenhum julgamento podia ser realizado na véspera de um sábado ou de uma festividade. Todas essas regras foram ignoradas no julgamento de Jesus. (Mateus 26:57-68) Pior ainda, os líderes religiosos violaram flagrantemente a Lei de Deus ao cuidarem do caso. Por exemplo, usaram de suborno para enlaçar Jesus. (Deuteronômio 16:19; Lucas 22:2-6) Deram ouvidos a testemunhas falsas. (Êxodo 20:16; Marcos 14:55, 56) E conspiraram para libertar um assassino, trazendo assim culpa de sangue sobre si mesmos e seu país. (Números 35:31-34; Deuteronômio 19:11-13; Lucas 23:16-25) Assim, não houve sentença correta e imparcial resultante de um “julgamento” justo.
28. O que os inimigos de Jesus não levaram em conta?
28 Será que os inimigos de Jesus procuraram saber quem realmente era o homem que julgavam? Isaías fizera uma pergunta similar: “Quem é que se ocupará com os pormenores de sua geração?” A palavra “geração” pode referir-se à origem, ou à formação, de uma pessoa. Ao julgá-lo no Sinédrio, seus membros não levaram em conta a formação de Jesus — que ele preenchia os requisitos para ser o Messias prometido. Em vez disso, acusaram-no de blasfêmia e condenaram-no à morte. (Marcos 14:64) Depois, o governador romano Pôncio Pilatos cedeu à pressão e sentenciou Jesus a ser pregado numa estaca. (Lucas 23:13-25) Assim, aos 33 anos e meio de idade, na flor da vida, Jesus “foi cortado”, ou eliminado.
29. Em que sentido Jesus foi sepultado “com os iníquos” e “com a classe rica”?
29 A respeito da morte e sepultamento do Messias, Isaías escreve a seguir: “Ele fará a sua sepultura mesmo com os iníquos e com a classe rica, na sua morte, apesar do fato de que não praticara nenhuma violência e não havia engano na sua boca.” (Isaías 53:9) Na sua morte e sepultamento, em que sentido Jesus esteve com os iníquos e com os ricos? Em 14 de nisã de 33 EC, ele morreu na estaca de execução, fora dos muros de Jerusalém. Visto que foi pregado entre dois malfeitores, de certa maneira sua sepultura foi entre os iníquos. (Lucas 23:33) Mas, depois da morte de Jesus, José, um homem rico de Arimateia, reuniu coragem para pedir a Pilatos permissão para retirar o corpo de Jesus e sepultá-lo. Junto com Nicodemos, José preparou o corpo para o sepultamento e colocou-o num túmulo recém-escavado que lhe pertencia. (Mateus 27:57-60; João 19:38-42) De modo que a sepultura de Jesus ficou também entre a classe rica.
“Jeová se agradou em esmigalhá-lo”
30. Em que sentido Jeová se agradou em esmigalhar Jesus?
30 A seguir, Isaías diz algo espantoso: “O próprio Jeová se agradou em esmigalhá-lo; fez que adoecesse. Se puseres a sua alma como oferta pela culpa, ele verá a sua descendência, prolongará os seus dias, e na sua mão o agrado de Jeová será bem-sucedido. Por causa da desgraça da sua alma, ele verá, ficará satisfeito. Por meio do seu conhecimento, o justo, meu servo, trará uma posição justa a muita gente; e ele mesmo levará os erros deles.” (Isaías 53:10, 11) Como poderia Jeová ter agrado no esmigalhamento de seu servo fiel? Obviamente, Jeová não causou pessoalmente sofrimentos a seu Filho querido. Os inimigos de Jesus foram plenamente responsáveis pelo que lhe fizeram. Mas Jeová permitiu que agissem cruelmente. (João 19:11) Por que razão? Certamente, o Deus de empatia e de terna compaixão sentia-se penalizado em ver seu Filho inocente sofrer. (Isaías 63:9; Lucas 1:77, 78) Jeová por certo não estava de modo algum descontente com Jesus. Mesmo assim, Jeová se agradou da disposição de seu Filho de sofrer por causa de todas as bênçãos que resultariam disso.
31. (a) De que modo Jeová colocou a alma de Jesus como “oferta pela culpa”? (b) Depois de toda tribulação que Jesus sofreu como humano, o que, em especial, deve dar-lhe satisfação?
31 Por um lado, Jeová colocou a alma de Jesus como “oferta pela culpa”. Assim, quando ascendeu de volta para o céu, Jesus entrou na presença de Jeová levando o mérito de sua vida humana sacrificada como oferta pela culpa, e Jeová se agradou em aceitá-la em favor de toda a humanidade. (Hebreus 9:24; 10:5-14) Por meio de sua oferta pela culpa, Jesus adquiriu “descendência”. Como “Pai Eterno”, é capaz de dar vida — vida eterna — aos que exercem fé no seu sangue derramado. (Isaías 9:6) Depois de toda tribulação que Jesus sofreu como alma humana, quão gratificante lhe deve ser a perspectiva de libertar a humanidade do pecado e da morte! Naturalmente, deve ser ainda mais gratificante para ele saber que sua integridade deu a seu Pai celestial uma resposta aos escárnios de Seu Adversário, Satanás, o Diabo. — Provérbios 27:11.
32. Por meio de que “conhecimento” Jesus concede ‘uma posição justa a muitos’, e quem adquire essa posição?
32 Outra bênção que resultou da morte de Jesus é que ele ‘traz uma posição justa a muitos’, já agora. Ele faz isso, diz Isaías, “por meio do seu conhecimento”. Evidentemente, trata-se de um conhecimento que Jesus adquiriu por ter se tornado homem e sofrido injustamente por causa de sua obediência a Deus. (Hebreus 4:15) Tendo seu sofrimento levado à morte, Jesus pôde suprir o sacrifício necessário para ajudar outros a adquirir uma posição justa. A quem se concede essa posição justa? Primeiro, a seus seguidores ungidos. Por sua fé no sacrifício de Jesus, Jeová os declara justos visando adotá-los como filhos e fazer deles co-herdeiros de Jesus. (Romanos 5:19; 8:16, 17) Daí, uma “grande multidão” de “outras ovelhas” exercem fé no sangue derramado de Jesus e usufruem uma posição justa visando tornar-se amigos de Deus e sobreviventes do Armagedom. — Revelação 7:9; 16:14, 16; João 10:16; Tiago 2:23, 25.
33, 34. (a) O que aprendemos a respeito de Jeová que acalenta o nosso coração? (b) Quem são “os muitos” entre os quais o Servo messiânico receberia “um quinhão”?
33 Por fim, Isaías fala dos triunfos do Messias: “Por isso lhe repartirei um quinhão entre os muitos e será com os potentes que ele repartirá o despojo, devido ao fato de que esvaziou a sua alma até a própria morte e foi contado com os transgressores; e ele mesmo carregou o próprio pecado de muita gente e passou a interceder pelos transgressores.” — Isaías 53:12.
34 As palavras finais dessa parte da profecia de Isaías ensinam algo tocante sobre Jeová: ele valoriza os que lhe permanecem leais. Isso é indicado pela promessa de que ‘repartiria’, ou concederia, ao Servo messiânico “um quinhão entre os muitos”. Essas palavras pelo visto se derivam do costume de dividir os despojos de guerra. Jeová preza a lealdade dos “muitos” fiéis da antiguidade, como Noé, Abraão e Jó, e ele tem em reserva “um quinhão” para eles no seu vindouro novo mundo. (Hebreus 11:13-16) Similarmente, ele daria um quinhão a seu Servo messiânico. Com certeza, Jeová não deixaria sem recompensa a sua integridade. Nós também podemos estar certos de que Jeová ‘não se esquecerá de nossa obra e do amor que mostramos ao seu nome’. — Hebreus 6:10.
35. Quem são “os potentes” com os quais Jesus divide os despojos, e o que são esses despojos?
35 O Servo de Deus ganharia também despojos de guerra pela vitória sobre seus inimigos. Partilharia esses despojos com “os potentes”. No cumprimento, quem são “os potentes”? São os primeiros discípulos de Jesus a vencer o mundo assim como ele venceu — os 144 mil cidadãos do “Israel de Deus”. (Gálatas 6:16; João 16:33; Revelação 3:21; 14:1) E o que são os despojos? Evidentemente, esses incluem as “dádivas em homens”, que Jesus arrancou do controle de Satanás, por assim dizer, e entregou à congregação cristã. (Efésios 4:8-12) Os 144 mil “potentes” recebem também uma parte de outro despojo. Por causa de sua vitória sobre o mundo, eles arrebatam de Satanás qualquer base para escarnecer de Deus. A sua inquebrantável devoção a Jeová exalta-o, alegrando seu coração.
36. Sabia Jesus que estava cumprindo a profecia a respeito do Servo de Deus? Explique.
36 Jesus sabia que estava cumprindo a profecia a respeito do Servo de Deus. Na noite de sua prisão, ele citou as palavras de Isaías 53:12 e aplicou-as a si mesmo: “Eu vos digo que se tem de efetuar em mim o que foi escrito, a saber: ‘E ele foi contado com os que são contra a lei.’ Porque aquilo que se refere a mim está sendo efetuado.” (Lucas 22:36, 37) Infelizmente, Jesus foi mesmo tratado como um fora da lei. Foi executado como infrator, pregado numa estaca entre dois assaltantes. (Marcos 15:27) Mas ele aceitou voluntariamente esse vitupério, sabendo muito bem que estava intercedendo por nós. Na realidade, ele se colocou entre os pecadores e o golpe da pena de morte, que recaiu sobre ele.
37. (a) O registro histórico da vida e da morte de Jesus nos permite fazer que identificação? (b) Por que devemos ser gratos a Jeová Deus e a seu enaltecido Servo, Jesus Cristo?
37 O registro histórico da vida e da morte de Jesus nos permite fazer uma identificação infalível: Jesus Cristo é o Servo messiânico da profecia de Isaías. Quão gratos devemos ser de que Jeová permitiu que seu Filho amado cumprisse o papel profético do Servo, sofrendo e morrendo de modo que pudéssemos ser redimidos do pecado e da morte! Jeová demonstrou assim grande amor por nós. Romanos 5:8 diz: “Deus recomenda a nós o seu próprio amor, por Cristo ter morrido por nós enquanto éramos ainda pecadores.” Quão gratos também devemos ser a Jesus Cristo, o enaltecido Servo, que voluntariamente esvaziou a sua alma até a própria morte!
[Nota(s) de rodapé]
a Na sua versão de Isaías 52:13, o Targum de Jonathan ben Uzziel (primeiro século EC), traduzido por J. F. Stenning, diz: “Observai, meu servo, o Ungido (ou, o Messias), prosperará.” Similarmente, o Talmude Babilônico (c. terceiro século EC), reza: “O Messias — qual é seu nome? . . . [; os] da casa de Rabi [dizem, O doente], como se disse: ‘Certamente ele carregou sobre si as nossas doenças.’” — Sinédrio 98b; Isaías 53:4.
b O profeta Miqueias referiu-se a Belém como “pequena demais para chegar a estar entre os milhares de Judá”. (Miqueias 5:2) No entanto, Belém teve a honra ímpar de ser a cidade em que nasceu o Messias.
c A palavra hebraica traduzida por “afligido” é também usada com relação à lepra. (2 Reis 15:5) Segundo certos eruditos, alguns judeus derivaram de Isaías 53:4 a ideia de que o Messias seria leproso. O Talmude Babilônico aplica esse versículo ao Messias, chamando-o de “erudito leproso”. A versão católica Douay Version (em inglês), refletindo a Vulgata latina, traduz assim esse trecho: “Nós o imaginamos um leproso.”
[Tabela na página 212]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
O SERVO DE JEOVÁ
Como Jesus cumpriu o papel
PROFECIA EVENTO CUMPRIMENTO
Isa. 52:13 Seria elevado Atos 2:34-36; Fil. 2:8-11;
e enaltecido 1 Ped. 3:22
Isa. 52:14 Seria difamado Mat. 11:19; 27:39-44, 63, 64;
e desacreditado João 8:48; 10:20
Isa. 52:15 Surpreenderia Mat. 24:30;
muitas nações 2 Tes. 1:6-10; Rev. 1:7
Isa. 53:1 Não creriam nele João 12:37, 38;
Isa. 53:3 Seria desprezado Mat. 26:67; Luc. 23:18-25;
e rejeitado João 1:10, 11
Isa. 53:4 Carregaria nossas Mat. 8:16, 17; Luc. 8:43-48
doenças
Isa. 53:5 Seria traspassado João 19:34
Isa. 53:6 Sofreria pelos 1 Ped. 2:21-25
erros de outros
Isa. 53:7 Ficaria quieto, Mat. 27:11-14;
sem se queixar, Mar. 14:60, 61; Atos 8:32, 35
diante de acusadores
Isa. 53:8 Seria julgado e Mat. 26:57-68; 27:1, 2, 11-26;
condenado João 18:12-14, 19-24, 28-40
injustamente
Isa. 53:9 Seria enterrado Mat. 27:57-60; João 19:38-42
com os ricos
Isa. 53:11 Abriria caminho Rom. 5:18, 19; 1 Ped. 2:24;
para muitos Rev. 7:14
adquirirem uma
posição justa
Isa. 53:12 Seria contado Mat. 26:55, 56; 27:38;
com pecadores Luc. 22:36, 37
[Foto na página 203]
‘Ele foi desprezado pelos homens’
[Foto na página 206]
“Não abria a sua boca”
[Crédito]
Detalhe de “Ecce Homo”, de Antonio Ciseri
[Foto na página 211]
“Esvaziou a sua alma até a própria morte”