Livro bíblico número 58 — Hebreus
Escritor: Paulo
Lugar da Escrita: Roma
Escrita Completada: c. 61 EC
1. Em harmonia com que comissão escreveu Paulo a carta aos hebreus?
PAULO é mais conhecido como o apóstolo ‘para as nações’. Mas, será que seu ministério se limitava aos não-judeus? De modo algum! Pouco antes de Paulo ser batizado e comissionado para o seu trabalho, o Senhor Jesus disse a Ananias: “Este homem [Paulo] é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome às nações, bem como a reis e aos filhos de Israel.” (Atos 9:15; Gál. 2:8, 9) A escrita do livro de Hebreus deveras se harmonizava com a comissão de Paulo de levar o nome de Jesus aos filhos de Israel.
2. Como se pode refutar os argumentos contra ser Paulo o escritor de Hebreus?
2 Contudo, alguns críticos duvidam que Paulo tenha escrito Hebreus. Uma das objeções é que o nome de Paulo não aparece na carta. Mas isto realmente não é obstáculo, pois muitos outros livros canônicos deixam de mencionar o escritor, que não raro é identificado pela evidência interna. Ademais, alguns acham que Paulo talvez tenha omitido deliberadamente seu nome ao escrever aos cristãos hebreus na Judéia, visto que os judeus ali haviam transformado o nome dele em objeto de ódio. (Atos 21:28) Tampouco é a mudança de estilo com relação a outras epístolas suas uma objeção genuína contra a autoria de Paulo. Quer dirigindo-se a pagãos, a judeus, quer a cristãos, Paulo sempre mostrou sua habilidade de ‘tornar-se todas as coisas para pessoas de toda sorte’. Aqui a sua argumentação é apresentada aos judeus como vinda de um judeu, argumentos que eles podiam entender e avaliar plenamente. — 1 Cor. 9:22.
3. Que evidência interna tanto apóia ser Paulo o escritor de Hebreus como indica que ele escreveu primariamente aos judeus?
3 A evidência interna do livro é toda em apoio da autoria de Paulo. O escritor estava na Itália e era companheiro de Timóteo. Estes fatos ajustam-se a Paulo. (Heb. 13:23, 24) Outrossim, a doutrina é típica de Paulo, embora os argumentos sejam apresentados do ponto de vista judaico, destinando-se a atrair a congregação estritamente hebraica, à qual a carta foi dirigida. Sobre este ponto, o Commentary (Comentário) de Clarke, Volume 6, página 681, diz a respeito de Hebreus: “Que foi escrita para os judeus naturais, a estrutura inteira da epístola o prova. Se tivesse sido escrita para os gentios, nem sequer um dentre dez mil deles poderia compreender a argumentação, por não estarem familiarizados com o sistema judaico; o conhecimento do qual o escritor desta epístola em toda a parte supõe.” Isto ajuda a explicar a diferença de estilo, em comparação com as outras cartas de Paulo.
4. Que evidência adicional há quanto a ser Paulo o escritor de Hebreus?
4 O descobrimento do Papiro Chester Beatty N.º 2 (P46), por volta de 1930, forneceu evidência adicional da autoria de Paulo. Comentando sobre este códice em papiro, escrito apenas um século e meio depois da morte de Paulo, o eminente crítico de textos britânico, Sir Frederic Kenyon, disse: “Nota-se que Hebreus foi colocado logo depois de Romanos (uma colocação quase sem precedente), o que mostra que na data primitiva, quando este manuscrito foi escrito, não havia dúvida quanto à sua autoria paulina.”a Sobre esta mesma questão, a Cyclopedia de McClintock e Strong diz explicitamente: “Não há evidência substancial, externa ou interna, em favor de qualquer pretendente à autoria desta epístola exceto Paulo.”b
5. De que modo o conteúdo de Hebreus prova ser ele inspirado?
5 À parte do fato de os cristãos primitivos aceitarem o livro, o conteúdo de Hebreus prova que ele é ‘inspirado por Deus’. Continuamente dirige o leitor às profecias das Escrituras Hebraicas, fazendo numerosas referências aos escritos primitivos, mostrando como estes se cumpriram todos em Cristo Jesus. Só no primeiro capítulo, nada menos de sete citações das Escrituras Hebraicas são feitas ao se apresentar o ponto que o Filho é agora superior aos anjos. O livro magnifica constantemente a Palavra e o nome de Jeová, apontando para Jesus como Agente Principal da vida e ao Reino de Deus por meio de Cristo como a única esperança da humanidade.
6. O que indica a evidência quanto ao lugar e o tempo da escrita de Hebreus?
6 Quanto ao tempo da escrita, já se demonstrou que Paulo escreveu a carta enquanto se achava na Itália. Ao concluir a carta, ele diz: “Tomai nota de que o nosso irmão Timóteo foi livrado, sendo que vos verei junto com ele, se vier em breve.” (13:23) Isto parece indicar que Paulo aguardava pronto livramento da prisão e esperava acompanhar Timóteo, que também fora detido, mas já estava solto. Assim, o último ano do primeiro encarceramento de Paulo em Roma é a data sugerida da escrita, a saber, 61 EC.
7. Com que tipo de oposição se confrontavam os cristãos judeus em Jerusalém, e de que necessitavam?
7 Durante o tempo do fim do sistema de coisas judaico, abateu-se sobre os cristãos hebreus na Judéia, e em especial sobre os em Jerusalém, um período de prova crucial. Com o aumento e a difusão das boas novas, os judeus tornavam-se implacáveis e fanáticos ao extremo na sua oposição aos cristãos. Apenas poucos anos antes, o mero aparecimento de Paulo em Jerusalém causara um motim, os judeus religiosos gritando com plena voz: “Tira tal homem da terra, pois não é apto para viver!” Mais de 40 judeus uniram-se num juramento com maldição que não comeriam e nem beberiam até que o tivessem exterminado, e foi preciso grande escolta de tropas fortemente armadas para levá-lo de noite a Cesaréia. (Atos 22:22; 23:12-15, 23, 24) Neste clima de fanatismo religioso e ódio aos cristãos, a congregação tinha de viver, pregar e manter-se firme na fé. Tinham de ter conhecimento e entendimento sólidos sobre como Cristo cumprira a Lei, a fim de não retornarem ao judaísmo e à sua observância da Lei mosaica, com a oferta de sacrifícios de animais, tudo isso então não sendo nada mais do que um ritual vão.
8. Por que era Paulo admiravelmente bem habilitado para escrever esta carta aos hebreus, e que série de argumentos apresenta ele?
8 Ninguém melhor do que o apóstolo Paulo podia entender a pressão e a perseguição às quais os cristãos judeus estavam sendo submetidos. Ninguém estava mais bem habilitado para fornecer-lhes fortes argumentos e refutações da tradição judaica do que Paulo, um ex-fariseu. Recorrendo ao seu vasto conhecimento da Lei mosaica, que adquirira aos pés de Gamaliel, Paulo apresentou provas incontestáveis de que Cristo é o cumprimento da Lei, de suas ordenanças e de seus sacrifícios. Ele mostrou que estes agora haviam sido substituídos por realidades muito mais gloriosas, trazendo benefícios inestimavelmente maiores, sob um novo e melhor pacto. Sua mente vívida alinhou uma prova atrás de outra, numa série clara e convincente. O fim do pacto da Lei e a chegada do novo pacto, a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio arônico, o valor real do sacrifício de Cristo, em comparação com as ofertas de novilhos e bodes, a entrada de Cristo na própria presença de Jeová nos céus em vez de numa mera tenda terrestre — todos estes impressionantes ensinamentos novos, odiosos ao extremo para os judeus descrentes, foram aqui apresentados aos cristãos hebreus com tão abundante evidência das Escrituras Hebraicas que nenhum judeu razoável podia deixar de ficar convencido.
9. Que poderosa arma se tornou a carta aos hebreus, e em que sentido era ela uma demonstração do amor de Paulo?
9 Armados desta carta, os cristãos hebreus tinham uma nova e poderosa arma para calar os judeus perseguidores, bem como um persuasivo argumento com que convencer e converter os judeus honestos que buscavam a verdade de Deus. A carta mostra o profundo amor de Paulo pelos cristãos hebreus e seu ardente desejo de ajudá-los de modo prático, quando mais precisavam de ajuda.
CONTEÚDO DE HEBREUS
10. Que dizem as palavras iniciais de Hebreus com respeito à posição de Cristo?
10 A enaltecida posição de Cristo (1:1–3:6). As palavras iniciais focalizam a atenção em Cristo: “Deus, que há muito, em muitas ocasiões e de muitos modos, falou aos nossos antepassados por intermédio dos profetas, no fim destes dias nos falou por intermédio dum Filho.” Este Filho é o Herdeiro designado de todas as coisas e o reflexo da glória de seu Pai. Tendo feito a purificação de nossos pecados, ele agora “assentou-se à direita da Majestade nas alturas”. (1:1-3) Paulo cita seguidos textos bíblicos para provar a superioridade de Jesus sobre os anjos.
11. (a) Por que aconselha Paulo a prestar mais do que a costumeira atenção às coisas ouvidas? (b) Devido a suas experiências e sua posição enaltecida, que coisas é Jesus capaz de realizar?
11 Paulo escreve que “é necessário prestarmos mais do que a costumeira atenção”. Por quê? Porque, argumenta ele, se houve severa retribuição pela desobediência à “palavra falada por intermédio de anjos, . . . como escaparemos nós, se tivermos negligenciado uma salvação de tal magnitude, sendo que começou a ser anunciada por intermédio do nosso Senhor?” Deus fez “o filho do homem” um pouco menor do que os anjos, mas agora observamos este Jesus “coroado de glória e de honra por ter sofrido a morte, para que, pela benignidade imerecida de Deus, provasse a morte por todo homem”. (2:1-3, 6, 9) Ao trazer muitos filhos a glória, Deus primeiro ‘aperfeiçoou por sofrimentos’ a este Agente Principal da salvação deles. É ele quem reduz a nada o Diabo e emancipa “todos os que pelo temor da morte estavam toda a sua vida sujeitos à escravidão”. Jesus torna-se assim “sumo sacerdote misericordioso e fiel”. E, de modo maravilhoso, visto que ele próprio sofreu sob prova, “pode vir em auxílio daqueles que estão sendo postos à prova”. (2:10, 15, 17, 18) Assim, Jesus é considerado digno de maior glória do que Moisés.
12. Que proceder devem os cristãos evitar, se hão de entrar no descanso de Deus?
12 Entrando no descanso de Deus mediante fé e obediência (3:7–4:13). Os cristãos, mais do que quaisquer outros, devem dar-se por avisados pelo exemplo de infidelidade dos israelitas, receando desenvolver “um coração iníquo, falto de fé, por se separar do Deus vivente”. (Heb. 3:12; Sal. 95:7-11) Devido à desobediência e falta de fé, os israelitas que saíram do Egito não entraram no descanso, ou sábado, de Deus, durante o qual ele tem cessado suas obras criativas com respeito à terra. Contudo, Paulo explica: “Resta um descanso sabático para o povo de Deus. Porque o homem que entrou no descanso de Deus descansou também das suas próprias obras, assim como Deus das suas.” O padrão de desobediência demonstrado por Israel deve ser evitado. “Porque a palavra de Deus é viva e exerce poder, e é mais afiada do que qualquer espada de dois gumes . . . e é capaz de discernir os pensamentos e as intenções do coração.” — Heb. 4:9, 10, 12.
13. (a) Como é que Cristo se tornou “sacerdote para sempre”, responsável pela salvação eterna? (b) Por que Paulo insta os hebreus a avançar à madureza?
13 Conceito maduro sobre a superioridade do sacerdócio de Cristo (4:14–7:28). Paulo insta os hebreus a se apegarem à confissão de Jesus, o grande Sumo Sacerdote que passou pelos céus, para que achem misericórdia. O Cristo não glorificou a si mesmo, mas foi o Pai quem disse: “Tu és sacerdote para sempre à maneira de Melquisedeque.” (Heb. 5:6; Sal. 110:4) Primeiro, Cristo foi aperfeiçoado para o cargo de sumo sacerdote por aprender obediência através do sofrimento, a fim de tornar-se responsável pela salvação eterna de todos os que o obedecem. Paulo tem “muito a dizer e difícil de explicar”, mas os hebreus ainda são criancinhas necessitando de leite, quando, efetivamente, deviam ser instrutores. “O alimento sólido . . . é para as pessoas maduras, para aqueles que pelo uso têm as suas faculdades perceptivas treinadas para distinguir tanto o certo como o errado.” O apóstolo insta-os a ‘avançar à madureza’. — Heb. 5:11, 14; 6:1.
14. Como podem os crentes herdar a promessa, e como foi estabelecida a esperança deles?
14 É impossível que os que chegaram a conhecer a palavra de Deus e se desviaram sejam revivificados para o arrependimento, “porque eles de novo pregam para si mesmos o Filho de Deus numa estaca e o expõem ao opróbrio público”. Apenas pela fé e paciência podem os crentes herdar a promessa feita a Abraão — promessa tornada segura e firme por duas coisas imutáveis: a palavra e o juramento de Deus. A esperança deles, que é “âncora para a alma, tanto segura como firme”, foi estabelecida por Jesus entrar até o “interior da cortina” como Precursor e Sumo Sacerdote à maneira de Melquisedeque. — 6:6, 19.
15. O que indica que o sacerdócio de Jesus, sendo à maneira de Melquisedeque, seria superior ao de Levi?
15 Este Melquisedeque era tanto “rei de Salém” como “sacerdote do Deus Altíssimo”. Até mesmo o chefe de família Abraão pagou-lhe dízimos e, por seu intermédio, também Levi, que ainda estava nos lombos de Abraão. A bênção de Melquisedeque sobre Abraão estendeu-se pois a Levi ainda por nascer, e isto indicou que o sacerdócio levítico era inferior ao de Melquisedeque. Ademais, se a perfeição viesse por meio do sacerdócio levítico de Arão, haveria necessidade de outro sacerdote “à maneira de Melquisedeque”? Outrossim, visto que há mudança de sacerdócio, “necessariamente há também mudança da lei”. — 7:1, 11, 12.
16. Por que o sacerdócio de Jesus é superior ao sacerdócio sob a Lei?
16 A Lei, de fato, não aperfeiçoou nada, mas mostrou ser fraca e ineficaz. Visto que continuavam a morrer, houve muitos sacerdotes, mas Jesus “por continuar vivo para sempre, tem o seu sacerdócio sem quaisquer sucessores. Por conseguinte, ele é também capaz de salvar completamente os que se aproximam de Deus por intermédio dele, porque está sempre vivo para interceder por eles”. Este Sumo Sacerdote, Jesus, é “leal, cândido, imaculado, separado dos pecadores”, ao passo que os sumos sacerdotes designados pela Lei são fracos, precisando primeiro oferecer sacrifícios pelos seus próprios pecados antes de poderem interceder pelos outros. Portanto, a palavra do próprio juramento de Deus “designa um Filho, que é aperfeiçoado para sempre”. — 7:24-26, 28.
17. Em que é superior o novo pacto?
17 A superioridade do novo pacto (8:1–10:31). Jesus é revelado como “mediador dum pacto correspondentemente melhor, que foi estabelecido legalmente em promessas melhores”. (8:6) Paulo cita por extenso Jeremias 31:31-34, mostrando que aqueles que estão no novo pacto têm as leis de Deus escritas em suas mentes e corações, que todos conhecerão a Jeová e que Jeová ‘de modo algum se lembrará mais dos seus pecados’. Este “novo pacto” tornou obsoleto o anterior (o pacto da Lei), que “está prestes a desaparecer”. — Heb. 8:12, 13.
18. Que comparação faz Paulo com relação à questão de sacrifícios em conexão com os dois pactos?
18 Paulo descreve os sacrifícios anuais na tenda do pacto anterior como sendo “exigências legais . . . impostas até o tempo designado para se endireitar as coisas”. Contudo, quando Cristo veio como Sumo Sacerdote, foi com o seu próprio sangue precioso, não com o de bodes e de novilhos. Ter Moisés aspergido o sangue de animais validara o pacto anterior e purificara a tenda típica, mas eram necessários sacrifícios melhores para as realidades celestiais relacionadas com o novo pacto. “Porque Cristo entrou, não num lugar santo feito por mãos, que é uma cópia da realidade, mas no próprio céu, para aparecer agora por nós perante a pessoa de Deus.” Cristo não precisa fazer sacrifícios anuais, como fazia o sumo sacerdote de Israel, pois “agora ele se manifestou uma vez para sempre, na terminação dos sistemas de coisas, para remover o pecado por intermédio do sacrifício de si mesmo”. — 9:10, 24, 26.
19. (a) O que não pôde fazer a Lei, e por quê? (b) Qual é a vontade de Deus quanto à santificação?
19 Em suma, Paulo diz que “visto que a Lei tem uma sombra das boas coisas vindouras”, os seus sacrifícios repetidos não puderam remover a “consciência de pecados”. Contudo, Jesus veio ao mundo para fazer a vontade de Deus. “Pela dita ‘vontade’”, diz Paulo, “temos sido santificados por intermédio da oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez para sempre”. Portanto, que os hebreus se apeguem à declaração pública de sua fé sem vacilar, e ‘considerem-se uns aos outros para se estimularem ao amor e a obras excelentes’, não deixando de se ajuntar. Se continuarem a pecar deliberadamente depois de receberem o conhecimento exato da verdade, “não há mais nenhum sacrifício pelos pecados”. — 10:1, 2, 10, 24, 26.
20. (a) O que é fé? (b) Que vívidos quadros verbais da fé pinta Paulo?
20 Explica-se e ilustra-se a fé (10:32–12:3). A seguir, Paulo diz aos hebreus: “Persisti em lembrar-vos dos dias anteriores, em que, depois de terdes sido esclarecidos, perseverastes em uma grande competição, debaixo de sofrimentos.” Que não lancem fora a sua franqueza no falar, que tem uma grande recompensa, mas que perseverem a fim de receberem o cumprimento da promessa e que ‘tenham fé para preservar viva a alma’! Fé! Sim, isto é o que é necessário. Primeiro, Paulo a define: “A fé é a expectativa certa de coisas esperadas, a demonstração evidente de realidades, embora não observadas.” Daí, num único inspirador capítulo, em rápida sucessão ele pinta vívidos quadros verbais de homens da antiguidade que viveram, trabalharam, lutaram, perseveraram e tornaram-se herdeiros da justiça por meio da fé. “Pela fé” Abraão, morando em tendas com Isaque e Jacó, aguardava “a cidade que tem verdadeiros alicerces”, cujo Construtor é Deus. “Pela fé” Moisés permaneceu constante “como que vendo Aquele que é invisível”. “Que mais hei de dizer?”, pergunta Paulo. “Pois o tempo me faltaria se prosseguisse relatando sobre Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, bem como Samuel e os outros profetas, os quais, pela fé, derrotaram reinos, puseram em execução a justiça, obtiveram promessas.” Outros, também, foram provados mediante escárnios, açoites, grilhões e torturas, mas recusaram o livramento “a fim de que pudessem alcançar uma ressurreição melhor”. Realmente, “o mundo não era digno deles”. Todos estes receberam testemunho por intermédio de sua fé, mas ainda têm de receber o cumprimento da promessa. “Assim, pois”, continua Paulo, “visto que temos a rodear-nos uma tão grande nuvem de testemunhas, ponhamos também de lado todo peso e o pecado que facilmente nos enlaça, e corramos com perseverança a carreira que se nos apresenta, olhando atentamente para o Agente Principal e Aperfeiçoador da nossa fé, Jesus.” — 10:32, 39; 11:1, 8, 10, 27, 32, 33, 35, 38; 12:1, 2.
21. (a) Como podem os cristãos perseverar na competição da fé? (b) Que motivo mais forte para se acatar o aviso divino apresenta Paulo?
21 Perseverança na competição da fé (12:4-29). Paulo exorta os cristãos hebreus a perseverarem na competição da fé, pois Jeová os disciplina como a filhos. Agora é tempo de fortalecer as mãos e os joelhos enfraquecidos e de endireitar as veredas para seus pés. Devem guardar-se estritamente contra a penetração de qualquer raiz venenosa ou profanação que poderia causar a sua rejeição, como no caso de Esaú, que não tinha apreço pelas coisas sagradas. No monte literal, Moisés disse: “Estou atemorizado e tremendo”, por causa do atemorizante espetáculo do fogo chamejante, da nuvem e da voz. Mas eles haviam-se aproximado de algo muito mais assombroso — o Monte Sião e a Jerusalém celestial, miríades de anjos, a congregação dos Primogênitos, Deus, o Juiz de todos, e Jesus, o Mediador dum novo e melhor pacto. Há agora ainda mais motivo de se ouvir o aviso divino! Nos dias de Moisés, a voz de Deus fez tremer a terra, mas agora Ele prometeu pôr em comoção tanto o céu como a terra. Paulo chega ao ponto: “Em vista disso, sendo que havemos de receber um reino que não pode ser abalado, continuemos . . . a prestar a Deus um serviço sagrado aceitável, com temor piedoso e espanto reverente. Porque o nosso Deus é também um fogo consumidor.” — 12:21, 28, 29.
22. Com que conselhos edificantes conclui Paulo a sua carta aos hebreus?
22 Diversas exortações em questões de adoração (13:1-25). Paulo conclui em tom de conselhos edificantes: que continue o amor fraternal, não vos esqueçais da hospitalidade, o matrimônio seja honroso entre todos, estai livres do amor ao dinheiro, sede obedientes aos que tomam a dianteira entre vós e não vos deixeis levar por ensinos estranhos. Por fim, “por intermédio dele [Jesus], ofereçamos sempre a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto de lábios que fazem declaração pública do seu nome”. — 13:15.
POR QUE É PROVEITOSO
23. O que argumenta Paulo quanto à Lei, e como apóia ele seu argumento?
23 Como argumento legal em apoio de Cristo, a carta aos hebreus é uma obra-prima incontestável, de elaboração perfeita e largamente documentada com provas das Escrituras Hebraicas. Considera os vários aspectos da Lei mosaica — o pacto, o sangue, o mediador, a tenda de adoração, o sacerdócio, as ofertas — e mostra que nada mais eram do que um padrão feito por Deus apontando para coisas muito maiores por vir, todos eles culminando em Cristo Jesus e seu sacrifício, o cumprimento da Lei. A Lei ‘que se torna obsoleta e fica velha está prestes a desaparecer’, disse Paulo. Mas “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre”. (8:13; 13:8; 10:1) Quão alegres devem ter-se sentido aqueles hebreus ao lerem a carta a eles endereçada!
24. Que arranjo, de imensurável proveito para nós hoje, é explicado em Hebreus?
24 Mas, de que valor é isto para nós hoje, em nossas circunstâncias diferentes? Visto que não estamos debaixo da Lei, podemos encontrar algo de proveitoso nos argumentos de Paulo? Certamente que sim. Esboça-se-nos aqui o grande arranjo do novo pacto baseado na promessa feita a Abraão de que por meio de seu Descendente todas as famílias da terra se abençoariam. Esta é a nossa esperança de vida, a nossa única esperança, o cumprimento da antiga promessa de Jeová de bênção por meio do Descendente de Abraão, Jesus Cristo. Embora não estejamos sob a Lei, nascemos no pecado como prole de Adão, e necessitamos de um sumo sacerdote misericordioso, que tenha uma oferta válida pelo pecado, que possa entrar na própria presença de Jeová, no céu, e ali interceder por nós. Eis que o encontramos, o Sumo Sacerdote que pode conduzir-nos à vida no novo mundo de Jeová, que pode compadecer-se das nossas fraquezas, tendo sido “provado em todos os sentidos como nós mesmos”, e que nos convida a ‘nos aproximarmos, com franqueza no falar, do trono de benignidade imerecida, para obtermos misericórdia e acharmos benignidade imerecida para ajuda no tempo certo’. — 4:15, 16.
25. Que esclarecedoras aplicações das Escrituras Hebraicas faz Paulo?
25 Além do mais, na carta de Paulo aos hebreus, encontramos evidência animadora de que as profecias registradas há muito nas Escrituras Hebraicas foram, mais tarde, cumpridas de modo maravilhoso. Tudo isso é para a nossa instrução e consolo hoje em dia. Por exemplo, em Hebreus, Paulo cinco vezes aplica as palavras da profecia do Reino, no Salmo 110:1, a Jesus Cristo como o Descendente do Reino, que “se tem assentado à direita do trono de Deus”, esperando “até que os seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés”. (Heb. 12:2; 10:12, 13; 1:3, 13; 8:1) Outrossim, Paulo cita o Salmo 110:4 ao explicar o importante cargo ocupado pelo Filho de Deus como “sacerdote para sempre à maneira de Melquisedeque”. Como Melquisedeque da antiguidade, que no registro bíblico é “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo nem princípio de dias nem fim de vida”, Jesus é tanto Rei como “sacerdote perpetuamente”, para administrar os benefícios eternos de seu sacrifício de resgate a todos os que obedientemente se colocam sob o seu domínio. (Heb. 5:6, 10; 6:20; 7:1-21) É a este mesmo Rei-Sacerdote que Paulo se refere ao citar o Salmo 45:6, 7: “Deus é o teu trono para todo o sempre, e o cetro do teu reino é o cetro da retidão. Amaste a justiça e odiaste o que é contra a lei. É por isso que Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de exultação mais do que a teus associados.” (Heb. 1:8, 9) Ao citar Paulo as Escrituras Hebraicas e mostrar o seu cumprimento em Cristo Jesus, vemos as partes do padrão divino encaixarem-se no seu devido lugar, para nosso esclarecimento.
26. Que encorajamento dá Hebreus para correr a carreira com fé e perseverança?
26 Como mostra claramente a carta aos hebreus, Abraão aguardava o Reino, “a cidade que tem verdadeiros alicerces, cujo construtor e fazedor é Deus” — a cidade “pertencente ao céu”. “Pela fé” ele procurou alcançar o Reino, e fez grandes sacrifícios, para que recebesse as bênçãos deste mediante “uma ressurreição melhor”. Que notável exemplo encontramos em Abraão e em todos os outros homens e mulheres de fé — a “tão grande nuvem de testemunhas”, que Paulo descreve no capítulo 11 de Hebreus! Ao lermos este registro, o nosso coração exulta e pula de alegria, em apreço do privilégio e da esperança que temos junto com tais fiéis pessoas de integridade. Somos, pois, encorajados a ‘correr com perseverança a carreira que se nos apresenta’. — 11:8, 10, 16, 35; 12:1.
27. Que gloriosas perspectivas do Reino são destacadas em Hebreus?
27 Citando da profecia de Ageu, Paulo traz à atenção a promessa de Deus: “Ainda mais uma vez porei em comoção não só a terra, mas também o céu.” (Heb. 12:26; Ageu 2:6) Contudo, o Reino de Deus por Cristo Jesus, o Descendente, permanecerá para sempre. “Em vista disso, sendo que havemos de receber um reino que não pode ser abalado, continuemos a ter benignidade imerecida, por intermédio da qual podemos prestar a Deus serviço sagrado aceitável, com temor piedoso e com espanto reverente.” Este registro animador nos assegura de que Cristo aparece uma segunda vez “à parte do pecado e para os que seriamente o procuram para a sua salvação”. Por meio dele, pois, “ofereçamos sempre a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto de lábios que fazem declaração pública do seu nome”. Que o grande nome de Jeová Deus seja para sempre santificado por meio do Rei-Sacerdote, Jesus Cristo! — Heb. 12:28; 9:28; 13:15.
[Nota(s) de rodapé]
a The Story of the Bible, 1964, página 91.
b Reimpressão de 1981, Vol. IV, página 147.