Um mundo sem controles
A busca impaciente da satisfação imediata, por parte do homem, tem resultado em sua perda de controle. Considere apenas alguns exemplos:
Ecológico: O homem está destroçando o meio ambiente. A longo prazo, as conseqüências prometem o desastre; a curto prazo, porém, a devastação da Terra, para a obtenção de seus recursos, e fazer muito pouco para limitar a poluição, significa dinheiro, tanto para a indústria como para os Governos. Assim o saque continua, apesar do protesto dos ambientalistas.
Econômico: As nações ao redor do mundo tomam cada vez mais dinheiro emprestado, acumulando montões de dívidas, para satisfazer as necessidades econômicas do momento. Elas despreocupadamente desconsideram os avisos assustadores dos economistas — de que os juros de tais empréstimos podem tornar-se, mais tarde, uma carga insuportável, ou que uma economia mundial baseada num alicerce de dívidas mundiais é ominosamente frágil e pode desabar, caso os países pobres deixem de pagar suas dívidas.
Moral: Os que abusam de drogas e do álcool, os que tomam parte em jogos de azar, os criminosos de toda sorte, os adúlteros e os fornicadores — quem negaria que suas fileiras estão inchando, atualmente, em todo o mundo? Trata-se de um grupo heterogêneo, mas que possui, um denominador comum: Eles querem isso AGORA! Quer “isso” seja o sexo, o dinheiro, o poder, ou apenas “ficar alto”, muitos se dispõem a livrar-se do casamento, da família, da consciência, da segurança financeira, da saúde, da reputação, até mesmo da vida, em troca de tais prazeres passageiros.
Dificilmente seria exagero dizer que o mundo atual não tem controles, sendo governado por uma ganância quase infantil. Alguns lutam sinceramente contra a miopia que tanto prevalece no mundo. Mas, muito mais poderosas e muito mais penetrantes, são as forças que minam a previdência e a restrição pessoal em todos nós.
Influências Solapantes
O homem moderno, especialmente nas nações mais industrializadas, vê-se perpetuamenle mergulhado num dilúvio de propaganda, através da mídia. Quer seja pela televisão, pelo rádio, pelos filmes, pelas revistas, quer seja pelos jornais, a satisfação imediata é promovida com grande habilidade.
Os anúncios da mídia clamam para que o leitor compre, compre, compre — e adquira cartões de crédito, de modo que possa comprar agora, agora mesmo! Para adquirir incontáveis produtos, basta um telefonema. ‘Preocupe-se mais tarde com o pagamento!’, os anúncios parecem sugerir de forma tranqüilizadora. São feitos com uma perícia quase que sobrenatural para engodar os sentidos. Vire uma página de revista, e uma onda de perfume o engolfa. Ligue o rádio, e um jingle fica insistentemente em sua mente, por dias a fio. Ligue a TV, e suas imagens brilhantes o deixam quase que hipnotizado. No estilo de vídeos musicais, as imagens se movem rápido o bastante para captar até mesmo o mínimo de atenção.
A televisão faz mais do que anunciar a satisfação imediata. Ela a proporciona. Ao simples toque duma tecla, satisfaz a necessidade de diversão. Não raro, ela diverte por mostrar pessoas satisfazendo seus próprios impulsos. O homem de ação recorre à violência quando seus antagonistas ‘a merecem’. A criança precoce humilha os pais com insolentes comentários espertos. Pessoas românticas, sensuais, cedem prontamente ao adultério ou ao sexo pré-marital. A TV raramente vilipendia tais personagens por sua falta de domínio de si; ela os glamoriza, revestindo-os de uma auréola de glória dramática ou de um coro aprovador de riso simulado.
Similarmente, um recente artigo da revista The Atlantic Monthly disse que o atual filme de Hollywood é “um espetáculo que foi meticulosamente projetado para trazer satisfação a cada momento”, com “um filme após outro repetidas vezes berrando: ‘Você pode ter tudo isso!’” Nada, pelo visto, satisfaz mais ao público de hoje do que a violência. O artigo faz a acusação ‘de que os filmes, no passado, “suprimiam o impulso de quem os via de participar nos chutes”, ao passo que, “em contraste, a violência nas telas, hoje em dia, é usada primariamente para convidar quem a vê a gozar a sensação de matar, espancar e mutilar”. Com efeito, a ação e a violência sufocaram de tal modo o enredo e os diálogos nos filmes que os roteiros atuais são 25 por cento mais curtos do que na década de 40, embora a exibição dos próprios filmes dure o mesmo tempo.
As religiões do mundo acham-se em posição ideal de ajudar a soerguer a humanidade desta desorientada ‘mania imediatista’. Todavia, são demasiados os líderes religiosos que parecem atolados em sua própria busca da satisfação imediata. Quão freqüentemente lemos a respeito de eles procurarem poder e influência na arena política, ou popularizarem-se junto a seus rebanhos transviados por minarem os padrões morais ou até mesmo usarem a Bíblia para aparentar ser justos, enquanto hipocritamente fazem o que querem? Em vez de desmascarar a satisfação imediata pelo que ela não raro é — parte do engodo do pecado — eles se juntaram a outros ‘líderes morais’ em amainar o conceito de pecado, redefinindo-o por meio de eufemismos brandos, tais como ‘problemas hereditários’ e ‘estilos de vida alternativos’. — Veja quadro na página 8.
Instrumento Para Contrabalançar a Tendência
Com esse tipo de clima mundial, como podemos reagir? Como podemos fazer decisões sem ser indevidamente enredados pelo engodo da satisfação imediata? A resposta talvez o surpreenda: A Bíblia pode ser de ajuda. Contrário ao que muitos talvez presumam, a Bíblia não é contrária ao prazer. Ela não promove o ascetismo ou uma rígida abnegação. Antes, a Bíblia nos ensina a levar uma vida feliz, colocando o prazer em seu devido lugar.
A Bíblia descreve o Criador como o “Deus feliz”, que ‘se alegra com os seus trabalhos’. (1 Timóteo 1:11; Salmo 104:31) Quanto aos humanos, Eclesiastes 3:1 diz: “Para tudo há um tempo determinado, sim, há um tempo para todo assunto debaixo dos céus.” Isso inclui, segundo os versículos subseqüentes, um tempo, para rir, um tempo para saltitar, um tempo para abraçar e um tempo para amar. Provérbios 5:18, 19 até mesmo exalta a beleza do prazer sexual entre o homem e sua esposa, quando diz aos maridos: “Alegra-te com a esposa da tua mocidade.” É claro, então, que nem toda satisfação é errada, nem devem ser postas de lado, arbitrariamente, todas as formas de satisfação. O domínio próprio, contudo, não raro é o ingrediente que falta. — Gálatas 5:22, 23.
Temos de colocar nossos próprios prazeres na perspectiva correta. Precisamos das prioridades certas. Agradar a Deus tem de vir bem antes de nossos próprios prazeres; tem de vir em primeiro lugar em nossa vida. Em seguida vem o amor ao próximo, baseado em princípios. (Mateus 6:33; 22:36-40) Se verdadeiramente amarmos a Deus e ao próximo, então alinharemos de bom grado nossa própria satisfação atrás destas duas prioridades.
As prioridades baseadas na Bíblia também nos ajudarão a dizer um redondo “Não” à satisfação, quando precisarmos fazer isso. Eliminaremos a embriaguez, o adultério, a fornicação, a jogatina, a ganância, o abuso de drogas e a violência. Cada um desses pecados oferece a satisfação imediata do seu próprio modo, mas eles ofendem a Deus e prejudicam nosso próximo. As leis de Deus contra tais pecados são um sinal seguro de Seu amor por nós, pois, a longo prazo, o pecado custa bem caro ao pecador. O custo pode ser uma doença, um lar rompido, ou a pobreza. Poderá ser tão definitivo quanto a morte, ou tão trágico como uma vida vazia e sem plena realização.
Seguir Bons Exemplos
Deus deseja que levemos uma vida feliz e produtiva; sua Palavra está repleta de exemplos de homens e mulheres que fizeram isso. Em muitos casos, sua fé e seu amor a Deus os moveram a adiar sua própria satisfação pessoal. (Veja Hebreus, capítulo 11.) Moisés é um famoso caso em pauta. Criado como filho da filha de Faraó, no antigo Egito, ele tinha diante de si uma vida de satisfação pessoal. Ele poderia adquirir poder, influência, riqueza, e, sem dúvida, abundantes oportunidades de gratificação sexual, caso permanecesse na casa de Faraó. Em vez disso, lançou sua sorte com a nação desprezada e escravizada de Israel. Por quê?
Hebreus 11:25 responde que ele preferiu “ser maltratado com o povo de Deus do que ter o usufruto temporário do pecado”. Moisés discerniu a satisfação imediata pelo que ela realmente era. Imediata. Temporária. Logo passaria. Assim, em vez de focalizar o que lhe traria prazer naquele instante, concentrou-se num futuro feliz. Como diz Hebreus 11:26: “Olhava atentamente para o pagamento da recompensa.” Para ele, essa recompensa era real, assim como o Recompensador. O versículo 27 de Hebreus 11 reza: “Permanecia constante como que vendo Aquele que é invisível.”
Alguns talvez zombem da escolha de Moisés. Alguns talvez digam que teriam preferido a riqueza, o poder e a fama. Mas, considere só: Se Moisés tivesse escolhido a satisfação imediata, será que ouviríamos sequer falar dele hoje em dia? Será que seu nome egípcio sobreviveria como um hieróglifo inscrito em alguma pedra corroída, abandonada, em algum museu, uma obscura trivialidade somente conhecida por um punhado de arqueólogos? Ou, o que é mais provável, estaria sepultado e esquecido, sob pó e areia de 34 séculos? E que dizer de sua recompensa? Poderia Moisés estar seguro de ter um lugar na memória de Jeová, se tivesse escolhido o proceder fácil de agradar a si mesmo?
O nome de Moisés figura como inspiração para milhões de pessoas, hoje em dia. O futuro dele está garantido. Seu futuro pode estar igualmente garantido. O leitor ou a leitora também poderá ser uma fonte de encorajamento para outros. Ao fazer suas decisões na vida, desde as grandes até as pequenas, não se deixe enganar pela propaganda do mundo, de que tem de ter AGORA aquilo que deseja! Pergunte a si mesmo: ‘Será que aquilo que eu desejo se harmoniza com o que meu Criador deseja para mim? Será que buscar o que eu desejo agora significa relegar meus empreendimentos espirituais? Estou eu, de algum modo, pondo em perigo a minha recompensa? Que tipo de exemplo dou para meus amigos e minha família?’
Não escolha a falta de visão deste mundo, em lugar da sabedoria perspicaz de Deus. Não troque a felicidade a longo prazo pelo prazer a curto prazo, o eterno pelo efêmero. Nosso Criador, afinal de contas, oferece-nos a satisfação nos termos mais amplos que se possa imaginar. Como diz o Salmo 145:16 a respeito dele: “Abres a tua mão e satisfazes o desejo de toda coisa vivente.” Parte desta satisfação é imediata; parte requer tempo e paciência. Uma vida no serviço de Jeová é repleta de prazeres — as belezas da criação, o calor da amizade, a alegria de um trabalho desafiador e recompensador, o deleite de saber as respostas das questões mais intrigantes da vida. Além disso, o Criador nos oferece uma vida que será gratificante, para sempre. — João 17:3.