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Como podemos proteger os nossos filhos?Despertai! — 1993 | 8 de outubro
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Como podemos proteger os nossos filhos?
“Não conte para ninguém. Este será o nosso segredo.” “Ninguém acreditaria em você.” “Se você contar, seus pais o odiarão. Eles saberão que a culpa foi sua.” “Você não quer ser mais meu amigo especial?” “Você não quer que eu vá para a cadeia, não é mesmo?” “Eu matarei seus pais se você contar.”
DEPOIS de usarem crianças para satisfazer paixões pervertidas, depois de lhes roubar a segurança e o senso de inocência, os molestadores de crianças ainda querem algo mais de suas vítimas — O SILÊNCIO. Para garantir esse silêncio, usam a vergonha, o segredo, e até mesmo o franco terror. Rouba-se assim das crianças a sua melhor arma contra o abuso — a vontade de contar, de falar e pedir a proteção de um adulto.
Tragicamente, a sociedade adulta, não raro sem querer, colabora com os que abusam de crianças. Como assim? Por se recusar a reconhecer esse perigo, por promover uma atitude de silêncio sobre isso, por crer em mitos muitas vezes repetidos. Ignorância, desinformação e silêncio protegem os abusadores, não as suas vítimas.
Por exemplo, a Conferência Canadense de Bispos Católicos concluiu recentemente que foi uma “conspiração geral de silêncio” que permitiu que o crasso abuso de crianças persistisse entre o clero católico por décadas. A revista Time, falando sobre a generalizada praga do incesto, também mencionou uma “conspiração do silêncio” como fator que “apenas ajuda a perpetuar a tragédia” nas famílias.
Contudo, Time observou que essa conspiração finalmente está desmoronando. Por quê? Em uma palavra: educação. É como disse a revista Asiaweek: “Todos os especialistas concordam que a melhor defesa contra o abuso de crianças é a conscientização pública.” Para proteger seus filhos, os pais têm de saber das realidades da ameaça. Não fique na ignorância causada por conceitos errôneos que protegem os que abusam de crianças e não as crianças. — Veja o quadro abaixo.
Eduque seu filho!
O sábio Rei Salomão disse a seu filho que o conhecimento, a sabedoria e o raciocínio poderiam protegê-lo do “mau caminho, do homem que fala perversidades”. (Provérbios 2:10-12) Não é exatamente isso que as crianças necessitam? O panfleto do FBI Child Molesters: A Behavioral Analysis (Molestadores de Crianças: Uma Análise Comportamental) diz sob o tópico “A vítima ideal”: “Para a maioria das crianças o sexo é um assunto tabu sobre o qual recebem poucas informações exatas, especialmente não de seus pais.” Não permita que seus filhos sejam as “vítimas ideais”. Eduque-os a respeito de sexo.a Por exemplo, nenhuma criança deveria atingir a puberdade sem saber das mudanças pelas quais o corpo passará durante esse período. A ignorância as deixará confusas, envergonhadas — e vulneráveis.
Uma mulher que chamaremos de Janete sofreu abusos sexuais quando criança, e anos mais tarde suas duas filhas também sofreram abusos sexuais. Ela recorda: “Segundo a maneira que fomos criados, nunca falávamos a respeito de sexo. Assim eu cresci sentindo-me embaraçada quanto a isso. Sexo era algo vergonhoso. E, quando tive filhos, deu-se o mesmo. Eu conseguia falar sobre isso com os filhos de outras pessoas, mas não com os meus próprios. Acho isso prejudicial pois as crianças ficam vulneráveis se não lhes falamos sobre essas coisas.”
A prevenção contra o abuso pode ser ensinada desde bem cedo. Ao ensinar seus filhos o nome de partes do corpo como vagina, seios, ânus, pênis, diga-lhes que nada há de errado com essas partes, são especiais — mas privativas. “Outras pessoas não têm permissão de mexer nelas — nem mesmo a mamãe ou o papai — e nem mesmo um médico, a menos que a mamãe ou o papai estejam presentes ou dêem permissão.”b O ideal é que tais declarações venham de ambos os pais ou de cada um dos guardiães adultos.
Em The Safe Child Book (O Livro da Criança Segura), Sherryll Kraizer observa que ao passo que as crianças devem sentir-se livres para ignorar, gritar, ou fugir de um abusador, muitas crianças que sofreram abusos explicam mais tarde que não desejavam parecer rudes. Assim, as crianças precisam saber que alguns adultos deveras fazem coisas ruins e que nem mesmo uma criança precisa obedecer a qualquer pessoa que lhe diga que deve fazer algo errado. Nessas ocasiões a criança tem o pleno direito de dizer não, assim como Daniel e seus companheiros disseram não para os babilônios adultos que queriam que eles comessem alimentos impuros. — Daniel 1:4, 8; 3:16-18.
Um amplamente recomendado instrumento de ensino é o jogo do “Que dizer se . . . ?”. Você poderá, por exemplo, perguntar: “Que dizer se seu professor lhe mandar bater em outra criança? O que você faria?” Ou: “Que dizer se (mamãe, papai, um clérigo, um policial) lhe dissesse que devia atirar-se do alto de um edifício?” A resposta da criança poderá ser inadequada ou simplesmente errada, mas não se apresse a corrigir. O jogo não precisa incluir táticas de choque ou de amedrontamento; de fato, especialistas recomendam que seja jogado de maneira gentil, amorosa, até mesmo divertida.
A seguir, ensine às crianças a repelir demonstrações de afeto impróprias ou que as deixem constrangidas. Pergunte, por exemplo: “Que dizer se um amigo do papai ou da mamãe quiser beijá-lo(a) de uma maneira que faria você se sentir esquisito(a)?”c Muitas vezes é melhor incentivar a criança a encenar o que ela faria, fazendo disso um jogo de “faz de conta”.
Da mesma maneira, as crianças podem aprender a resistir a outras táticas de abusadores. Por exemplo, poderá perguntar: “Que dizer se alguém disser: ‘Você é meu (minha) preferido(a). Não quer ser meu (minha) amigo(a)?’” Quando a criança aprende a resistir a tais expedientes, considere outros. Poderá perguntar: “Se alguém disser: ‘Você não deseja ferir meus sentimentos, não é mesmo?’, o que você dirá?” Mostre à criança como dizer não através de palavras e de clara e firme linguagem corporal. Lembre-se, os abusadores não raro testam como as crianças reagem a avanços sutis. De modo que a criança precisa ser ensinada a resistir firmemente e a dizer: “Eu vou contar isso para alguém.”
Faça um treinamento cabal
Não limite esse treinamento a uma única conversa. As crianças precisam de muita repetição. Use seu próprio critério para determinar quão explícito deve ser o treinamento. Mas seja cabal.
Certifique-se, por exemplo, de prevenir qualquer tentativa de um abusador criar um pacto secreto. As crianças devem saber que nunca é correto que um adulto lhe peça que guarde um segredo de seu pai ou sua mãe. Reafirme a elas que sempre é apropriado que contem o que aconteceu — mesmo que tenham prometido não contar. (Compare com Números 30:12, 16.) Alguns abusadores chantageiam a criança se souberem que ela transgrediu uma norma da família. “Eu não vou contar o que você fez, se você não contar o que eu fiz”, é a mensagem. Portanto, as crianças devem saber que jamais se meterão em apuros por contar — mesmo nessas circunstâncias. O seguro é contar.
Seu treinamento deve incluir também como resistir a ameaças. Há abusadores que mataram pequenos animais na frente da criança e ameaçaram fazer o mesmo com os pais dela. Outros avisaram a vítima de que iriam abusar de seus irmãos ou irmãs mais novos. Portanto, ensine as crianças que elas devem sempre denunciar o abusador, não importa quão assustadoras sejam as ameaças.
Neste respeito a Bíblia pode ser um útil instrumento de ensino. Visto que ela destaca tão vividamente o poder onipotente de Jeová, ela pode minar as ameaças dos abusadores. As crianças têm de saber que não importa que ameaças sejam feitas, Jeová é capaz de ajudar seu povo. (Daniel 3:8-30) Mesmo quando pessoas más ferem aqueles a quem Jeová ama, ele sempre pode desfazer o dano e melhorar de novo as coisas. (Jó, capítulos 1, 2; Jó 42:10-17; Isaías 65:17) Assegure-lhes de que Jeová vê tudo, incluindo as pessoas que fazem coisas más e as pessoas boas que fazem todo o possível para lhes resistir. — Compare com Hebreus 4:13.
Cautelosos como serpentes
É raro o pedófilo que usa a força física para molestar sexualmente uma criança. Em geral preferem primeiro granjear a amizade da criança. Assim, o conselho de Jesus de ser “cautelosos como as serpentes” é apropriado. (Mateus 10:16) Estreita supervisão por pais amorosos é uma das melhores salvaguardas contra o abuso. Alguns molestadores procuram uma criança sozinha num lugar público e puxam conversa para suscitar a curiosidade dela. (“Você gosta de motocicletas?” “Venha ver os cachorrinhos lá na minha camionete.”) É verdade que você não pode estar com seus filhos o tempo todo. E os especialistas em cuidados infantis reconhecem que as crianças precisam às vezes fazer algumas coisas sozinhas. Mas pais sensatos cuidam de não dar a crianças liberdade demais prematuramente.
Certifique-se de conhecer bem quaisquer adultos ou jovens de mais idade que sejam próximos de seus filhos, usando de cuidado extra ao decidir quem deveria cuidar de seus filhos na sua ausência. Acautele-se contra baby-sitters que fazem seus filhos se sentirem esquisitos ou constrangidos. Similarmente, acautele-se contra adolescentes que parecem ter excessivo interesse em criancinhas e que não têm amigos de sua própria idade. Examine cuidadosamente as creches e escolas. Percorra todas as dependências e converse com a equipe, observando como eles agem com as crianças. Pergunte se eles objetam a que você passe para ver seus filhos em ocasiões inesperadas; se isso não for permitido, procure outro lugar. — Veja Despertai! de 8 de dezembro de 1987, páginas 3-11.
A triste verdade, porém, é que nem mesmo os melhores pais podem controlar tudo o que acontece com os seus filhos. — Eclesiastes 9:11.
Se os pais trabalharem juntos, há algo que podem controlar: o ambiente no lar. E, visto que é no lar que ocorre a maior parte do abuso de crianças, isso será o enfoque do próximo artigo.
[Nota(s) de rodapé]
a Veja Despertai! de 22 de fevereiro de 1992, páginas 3-11, e 8 de julho de 1992, página 30.
b Naturalmente, os pais têm de dar banho e trocar as fraldas de crianças bem pequenas e, nessas ocasiões, eles lavam as suas partes íntimas. Mas ensine seus filhos a se banharem desde bem cedo; alguns especialistas em cuidados infantis recomendam que as crianças aprendam a lavar as suas próprias partes íntimas à idade de 3 anos, se possível.
c Alguns especialistas alertam que, se você obriga seu filho a beijar ou a abraçar toda pessoa que solicite essas demonstrações de afeto, pode estar minando esse treinamento. Assim, alguns pais ensinam os filhos a se desculparem polidamente ou a fazerem gestos substitutivos quando se lhes forem feitas exigências não desejadas.
[Quadro na página 7]
Ele gritou por ajuda
“APELO a Jeová evita ataque de molestador contra um jovem”, dizia um cabeçalho do jornal americano The Arizona Republic, de 5 de maio de 1993. O referido molestador sexual raptou o jovem de 13 anos à mira de revólver, levando-o ao apartamento do perpetrador. Quando o jovem gritou: “Jeová, ajuda-me!”, o molestador ficou abalado e deixou o rapaz ir embora. Mais tarde a polícia prendeu o homem.
Ao passo que invocar o nome de Jeová certamente é apropriado nessas circunstâncias, isso não significa que os servos de Deus estejam livres de ataque nestes críticos “últimos dias”. (2 Timóteo 3:1-5, 13) Portanto, os pais cristãos precisam treinar seus filhos a serem cautelosos com todos os estranhos, independentemente de que autoridade pareçam ter.
[Foto na página 8]
Ensine as crianças a usar palavras e uma clara e firme linguagem corporal para resistir aos avanços impróprios
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Prevenção no larDespertai! — 1993 | 8 de outubro
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Prevenção no lar
Mônica tinha nove anos quando ele começou a abusar dela. Ele começou a espiá-la, quando ela trocava de roupa; daí passou a ir ao quarto dela à noite e a tocar nas suas partes íntimas. Quando ela lhe resistiu, ele ficou furioso. Certa vez chegou a atacá-la com um martelo e a atirá-la escada abaixo. “Ninguém acreditaria em mim”, lembra-se Mônica — nem mesmo a mãe dela. O abusador era o padrasto de Mônica.
A MAIOR ameaça às crianças não é um tipo de personagem misterioso, um solitário à espreita num matagal. É um membro da família. A ampla maioria dos abusos sexuais ocorre dentro do lar. Portanto, como pode o lar tornar-se mais seguro contra o abuso?
Em seu livro Slaughter of the Innocents (Matança dos Inocentes), o historiador Dr. Sander J. Breiner examina as evidências de abuso de crianças em cinco sociedades antigas — Egito, China, Grécia, Roma e Israel. Ele concluiu que, embora existissem casos de abuso em Israel, estes eram relativamente raros em comparação com as outras quatro civilizações. Por quê? Diferente de seus vizinhos, ao povo de Israel se ensinava respeitar as mulheres e as crianças — um conceito esclarecido que deviam às Escrituras Sagradas. Quando os israelitas aplicavam a lei divina à vida familiar, evitavam o abuso de crianças. As famílias de hoje mais do que nunca precisam desses padrões limpos e práticos.
Leis morais
Exerce a lei bíblica alguma influência na sua família? Por exemplo, Levítico 18:6 diz: “Não vos deveis chegar, nenhum de vós, a qualquer parente carnal que lhe seja chegado, para descobrir a nudez. Eu sou Jeová.” Similarmente, a congregação cristã hoje aplica leis fortes contra todas as formas de abuso sexual. Quem abusa sexualmente de uma criança corre o risco de ser desassociado, ser expulso da congregação.a — 1 Coríntios 6:9, 10.
Todas as famílias deviam conhecer e recapitular junto essas leis. Deuteronômio 6:6, 7 insta: “E estas palavras que hoje te ordeno têm de estar sobre o teu coração; e tens de inculcá-las a teu filho, e tens de falar delas sentado na tua casa e andando pela estrada, e ao deitar-te e ao levantar-te.” Inculcar essas leis significa mais do que ocasionalmente passar um sermão nos filhos. Envolve uma troca regular de informações. Periodicamente, tanto o pai como a mãe devem reafirmar seu apoio às leis de Deus sobre incesto e os motivos amorosos que as justificam.
Poderá também usar histórias, tais como as de Tamar e Amnom, filhos de Davi, para mostrar às crianças que em assuntos sexuais existem limites que ninguém — nem mesmo parentes íntimos — jamais deve ultrapassar. — Gênesis 9:20-29; 2 Samuel 13:10-16.
Pode-se mostrar respeito por esses princípios até mesmo pela maneira de morar junto. Num certo país oriental, pesquisas mostram que muitos casos de incesto ocorrem em famílias em que as crianças dormem junto com os pais, mesmo quando não há necessidade econômica para isso. Similarmente, em geral não é sensato que irmãos do sexo oposto compartilhem a mesma cama ou o mesmo quarto, ao ficarem mais velhos, se isso for evitável. Mesmo se morar num lugar apertado for uma realidade da vida, os pais devem usar de bom senso ao decidir onde cada membro da família vai dormir.
A lei bíblica proíbe a bebedeira, sugerindo que esta pode levar à perversão. (Provérbios 23:29-33) Segundo certo estudo, de 60 a 70 por cento das vítimas de incesto informaram que o perpetrante do abuso (genitor) havia bebido quando o abuso começou.
Chefe de família amoroso
Os pesquisadores constatam que o abuso é mais freqüente em famílias com marido dominador. O conceito generalizado de que as mulheres existem apenas para satisfazer necessidades masculinas é biblicamente errado. Alguns homens usam essa opinião não cristã para justificar recorrerem a uma filha em busca de algo que não podem obter da esposa. Este tipo de opressão pode levar mulheres nessas circunstâncias a perder seu equilíbrio emocional. Muitas perdem até mesmo o impulso natural de proteger seus próprios filhos. (Compare com Eclesiastes 7:7.) Certo estudo, por outro lado, descobriu que quando maridos viciados no trabalho ficam grande parte do tempo fora de casa, às vezes se desenvolve o abuso sexual mãe-filho.
Que dizer de sua família? Você, como marido, leva a sério o papel de cabeça da família, ou abdica dele em favor de sua esposa? (1 Coríntios 11:3) Trata sua esposa com amor, honra e respeito? (Efésios 5:25; 1 Pedro 3:7) Leva em conta os conceitos dela? (Gênesis 21:12; Provérbios 31:26, 28) E que dizer de seus filhos? Considera-os preciosos? (Salmo 127:3) Ou encara-os como meras cargas, facilmente exploráveis? (Compare com 2 Coríntios 12:14.) Elimine de sua casa conceitos distorcidos e não bíblicos sobre que papel compete a cada membro da família e você a tornará mais segura contra o abuso.
Lugar emocionalmente seguro
Certa jovem mulher que chamaremos de Sandi diz: “Tudo na minha família era propício ao abuso. Ela se isolava, e cada membro se isolava um do outro.” O isolamento, a rigidez e a obsessão em manter as coisas em segredo — tais atitudes não sadias e não bíblicas são marcas registradas da família em que ocorrem abusos. (Compare com 2 Samuel 12:12; Provérbios 18:1; Filipenses 4:5.) Crie um ambiente doméstico emocionalmente seguro para os filhos. O lar deve ser um lugar onde eles se sintam edificados, à vontade para abrir seus corações e falar francamente.
Além disso, as crianças precisam muito de expressões físicas de amor — abraços, afagos, segurar na mão, brincadeiras animadas. Não exagere nos perigos de abuso sexual por refrear-se dessas demonstrações de amor. Ensine aos filhos por meio de franco e caloroso afeto e elogio que eles são valiosos. Sandi recorda: “Minha mãe achava ser errado elogiar alguém por qualquer coisa que fosse. Fazer isso deixaria a pessoa cheia de si.” Sandi sofreu pelo menos dez anos de abuso sexual em silêncio. Crianças sem certeza de que são amadas, de que são indivíduos dignos, talvez sejam mais suscetíveis aos elogios de um abusador, ao seu “afeto”, ou às ameaças de privá-las disso.
Um pedófilo que abusou sexualmente de centenas de meninos num período de 40 anos admitiu que os meninos que tinham necessidade emocional de um amigo como ele eram as “melhores” vítimas. Não crie tal necessidade em seus filhos.
Corte o ciclo do abuso
Sob provação severa, Jó disse: “Minha alma certamente se enfada da minha vida. Vou externar a minha preocupação comigo mesmo. Vou falar na amargura da minha alma!” (Jó 10:1) Similarmente, muitos pais descobriram que podem ajudar seus filhos ajudando a si mesmos. A publicação The Harvard Mental Health Letter disse recentemente: “Fortes sanções sociais contra os homens expressarem dor aparentemente perpetua o ciclo do abuso.” Parece que os homens que jamais expressam a sua dor de terem sofrido abusos sexuais são os que com maior probabilidade se tornam abusadores. O The Safe Child Book informa que a maioria dos molestadores de crianças foram eles mesmos molestados sexualmente quando crianças, mas sem jamais terem recebido ajuda para se recuperar. Eles expressam a sua dor e a sua ira abusando de outras crianças.b — Veja também Jó 7:11; 32:20.
O risco para as crianças pode ser também maior quando as mães não conseguem conviver com o fato de terem sofrido abusos no passado. Por exemplo, pesquisadores informam que mulheres que sofreram abusos sexuais quando meninas não raro se casam com homens que abusam de crianças. Ademais, se uma mulher não consegue conviver com abusos do passado, compreensivelmente poderá achar difícil falar sobre abuso com seus filhos. Se o abuso ocorrer, talvez tenha menos condições de discerni-lo e tomar ação positiva. Os filhos então pagam um preço terrível pela inércia da mãe.
Assim, o abuso pode passar duma geração para a seguinte. Naturalmente, muitos indivíduos que preferem não falar sobre seu doloroso passado parecem aptos para se darem bem na vida, e isso é elogiável. Mas em muitos a dor é mais profunda, e deveras precisam fazer um esforço orquestrado — incluindo, se necessário, buscar ajuda profissional competente — para sarar tais sérias feridas da infância. Seu alvo não é entregar-se à autocomiseração. Eles desejam quebrar esse doentio e danoso ciclo de abuso de crianças que afeta sua família. — Veja Despertai! de 8 de outubro de 1991, páginas 3 a 11.
O fim do abuso
Se bem aplicadas, as informações acima podem fazer muito para reduzir as possibilidades de abuso de crianças no seu lar. Lembre-se, porém, que os abusadores trabalham em segredo, exploram a confiança e usam táticas de adultos com crianças inocentes. Inevitavelmente, então, alguns deles parecem realmente se safar de seus crimes repugnantes.
Contudo, tenha certeza de que Deus vê o que eles fazem. (Jó 34:22) A menos que se arrependam e mudem, ele não se esquecerá de seus atos vis. Ele os desmascarará no seu devido tempo. (Compare com Mateus 10:26.) E ele fará justiça. Jeová Deus promete um tempo em que tais traiçoeiros serão ‘arrancados da terra’, e apenas os mansos e brandos que amam a Deus e ao próximo terão permissão de permanecer. (Provérbios 2:22; Salmo 37:10, 11, 29; 2 Pedro 2:9-12) Temos essa esperança maravilhosa de um novo mundo graças ao sacrifício resgatador de Jesus Cristo. (1 Timóteo 2:6) Daí, e somente então, o abuso acabará para sempre.
No ínterim, temos de fazer tudo ao nosso alcance para proteger os nossos filhos. Eles são muito preciosos! A maioria dos pais arriscará prontamente a sua própria segurança para proteger seus filhinhos. (Compare com João 15:13.) Se não protegermos os nossos filhos, as conseqüências podem ser horríveis. Se o fizermos, damo-lhes uma dádiva maravilhosa — uma infância inocente e livre de calamidade. Podem sentir-se como o salmista, que escreveu: “Vou dizer a Jeová: ‘Tu és meu refúgio e minha fortaleza, meu Deus, em quem vou confiar.’” — Salmo 91:2.
[Nota(s) de rodapé]
a Abuso sexual de crianças ocorre quando alguém usa uma criança para gratificar seu desejo sexual. Não raro envolve o que a Bíblia chama de fornicação, ou por·ne·í·a, que poderia incluir acariciar a genitália, relação sexual e sexo oral ou anal. Alguns atos abusivos, como acariciar os seios, propostas explicitamente imorais, mostrar pornografia a uma criança, voyeurismo e exposição indecente, podem enquadrar-se no que a Bíblia condena como “conduta desenfreada”. — Gálatas 5:19-21; veja A Sentinela de 15 de setembro de 1983, nota de rodapé na página 30.
b Ao passo que a maioria dos molestadores de crianças sofreu abusos quando criança, isto não significa que o abuso faz com que as crianças se tornem abusadores. Menos de um terço de crianças que sofreram abusos se tornam molestadores de crianças.
[Quadro na página 11]
Certa ex-vítima de anos de incesto disse: “O abuso mata as crianças, mata a sua confiança, o seu direito de sentir-se inocente. É por isso que as crianças têm de ser protegidas. Porque agora eu preciso reconstruir toda a minha vida. Por que fazer com que mais crianças tenham de fazer isso?”
Realmente, por quê?
[Quadro na página 11]
Escute as crianças!
NA COLÚMBIA BRITÂNICA, Canadá, um estudo recente examinou a carreira de 30 molestadores sexuais de crianças. Os resultados foram de arrepiar. Os 30 indivíduos haviam, ao todo, abusado de 2.099 crianças. Metade deles exercia cargos de confiança — professores, clérigos, administradores, e funcionários de creches. Certo molestador, um dentista de 50 anos, havia abusado de umas 500 crianças num período de 26 anos.
Contudo, o jornal The Globe and Mail, de Toronto, observa: “Em 80 por cento dos casos, um ou mais segmentos da comunidade (incluindo amigos ou colegas do perpetrante, famílias das vítimas, outras crianças, algumas vítimas) negaram ou minimizaram o abuso.” Obviamente, “o relatório sugere que a negação e a descrença permitem que o abuso continue”.
Algumas das vítimas haviam delatado os abusadores. Contudo, “os pais das jovens vítimas se recusavam a crer no que seus filhos lhes diziam”, diz o relatório citado no The Globe and Mail. Similarmente, certa funcionária do governo alemão recentemente fez menção a um relatório de que as vítimas infantis de abuso sexual têm de contar seu caso aos adultos nada menos de sete vezes antes de receberem crédito.
[Quadro na página 12]
“Busque ajuda agora”
“Se você é homem e está envolvido sexualmente com crianças, talvez esteja dizendo para si mesmo: ‘Ela gosta disso’, ou ‘ele pediu isso’, ou ‘estou ensinando a ela a respeito de sexo’. Você está mentindo para si mesmo. Verdadeiros homens não se envolvem sexualmente com crianças. Se houver em você um resquício de interesse no bem-estar dessa criança, pare com isso. Busque ajuda agora.” — Um sugerido anúncio de serviço público, citado no livro By Silence Betrayed (Traídos Pelo Silêncio).
[Foto na página 13]
As crianças precisam de muita atenção calorosa e amorosa
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