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Professores: por que são necessários?Despertai! — 2002 | 8 de março
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Professores: por que são necessários?
“Mais vale um dia com um bom mestre do que mil estudando sozinho.” — Provérbio japonês.
TEVE algum professor de quem se lembra até hoje com carinho? Ou, se você ainda estuda, tem um professor de quem gosta mais? Se tem, o que o torna tão especial?
O bom professor passa confiança para os alunos e faz com que aprender seja um desafio fascinante. Um senhor de 70 anos, da Inglaterra, lembra-se com carinho de seu professor de inglês quando estudava numa escola em Birmingham. “O Sr. Clewley fez com que eu descobrisse talentos que nem sabia que tinha. Eu era tímido e retraído, mas mesmo assim ele me preparou e incentivou a participar de um concurso de teatro na escola. No último ano letivo, ganhei o prêmio. Jamais teria conseguido isso sem o incentivo dele. Infelizmente, nunca mais o vi depois de adulto para agradecê-lo por se dedicar tanto aos alunos.”
Margit, uma mulher simpática com seus 50 e poucos anos, de Munique, Alemanha, diz: “Eu tinha uma professora de quem gostava muito. Ela sabia explicar as coisas mais complicadas de uma forma bem simples. Ela nos incentivava a fazer perguntas quando não entendíamos alguma coisa. Não era aquela pessoa distante; ao contrário, era bem amiga. Isso tornava as suas aulas muito agradáveis.”
Peter, da Austrália, lembra de um professor de Matemática que, conforme ele diz, “dava exemplos práticos para nos ajudar a enxergar a importância do que estávamos aprendendo. Quando estávamos estudando trigonometria, ele nos mostrou como calcular a altura de um prédio sem nem mesmo precisar tocar nele, apenas usando os princípios da trigonometria. Lembro que pensei comigo: ‘Que coisa fantástica!’”
Pauline, do norte da Inglaterra, confidenciou ao professor: “Sou ruim em matemática.” Ele perguntou: “Quer melhorar? Posso ajudá-la.” Ela conta: “Nos meses seguintes, ele me deu mais atenção e até me deu aulas de reforço. Eu sabia que ele queria que eu aprendesse — que ele se importava. Aquilo foi um incentivo para me esforçar mais, e consegui melhorar.”
Angie, da Escócia, hoje com seus 30 e poucos anos, lembra-se do Sr. Graham, seu professor de História. “Ele tornava a matéria tão interessante! Ele contava histórias para narrar os fatos e era muito entusiástico. Fazia a gente se sentir como se estivesse vendo os acontecimentos.” Ela também tem boas lembranças de sua professora da primeira série, a Sra. Hewitt, que já era idosa. “Ela era bondosa e se interessava muito pelos alunos. Certo dia na aula, quando fui até ela para lhe fazer uma pergunta, ela me pegou no colo. Aquilo me fez sentir que ela realmente se importava comigo.”
Timothy, do sul da Grécia, expressou sua gratidão. “Até hoje me lembro do meu professor de Ciências. Ele mudou para sempre a maneira de eu encarar o mundo ao meu redor e a vida. Nas aulas dele, todos ficávamos fascinados com as coisas que aprendíamos. Ele despertou em nós o desejo de sempre querer aprender mais e de entender as coisas.”
Ramona, da Califórnia, EUA, é outro exemplo. Ela escreve: “Minha professora do ensino médio era apaixonada por inglês. Seu entusiasmo era contagiante! Ela conseguia explicar até mesmo os pontos mais complicados de uma maneira fácil de entender.”
Jane, do Canadá, se empolga ao falar sobre um professor de Educação Física que “era muito criativo para promover atividades recreativas e para ensinar”. Ele nos levava a passeios ao ar livre para que tivéssemos contato com a natureza e nos ensinou o esqui cross-country e a pesca no gelo. Uma vez até aprendemos a assar um pão indiano chamado bannock numa fogueira que nós mesmos acendemos quando fomos acampar. Aquilo tudo era muito emocionante para mim, uma menina caseira que vivia com a cara enfiada nos livros.”
Helen é uma mulher tímida, nascida em Xangai e que estudou em Hong Kong. Ela conta: “No quinto ano eu tinha um professor chamado Sr. Chan. Ele dava aulas de educação física e de pintura. Eu tinha uma constituição física muito frágil e era ruim em vôlei e basquete. Mas ele não me deixava constrangida. Permitia que eu jogasse badminton e outros jogos para os quais eu tinha mais jeito. Ele era atencioso e bom.
“Ele fazia a mesma coisa com a pintura — eu tinha dificuldade para pintar objetos ou pessoas. Assim, ele deixava que eu pintasse padrões e desenhos geométricos, pois eu me saía melhor nisso. Como era mais nova do que os demais da minha classe, ele me convenceu a repetir a quinta série. Aquilo fez toda a diferença para mim. Adquiri confiança e me saí bem nos estudos. Sempre serei grata a ele.”
Qual é o perfil do professor que faz a diferença? William Ayers responde a essa pergunta no seu livro To Teach—The Journey of a Teacher (Educar — A Jornada do Professor): “O bom professor é acima de tudo aquele que se interessa pelos alunos, que dá de si. . . . Ensinar bem não é algo que se consegue com técnica, estilo, plano ou método específicos. . . . Ensinar é sobretudo um ato de amor.” Assim sendo, qual é o perfil do professor que faz a diferença? Ele diz: “O professor que tocou seu coração, que entendeu você ou que se interessou por você como pessoa, aquele cuja paixão por algo — música, matemática, latim, pipas — era contagiante e motivadora.”
Sem dúvida, muitos professores recebem palavras de reconhecimento de alunos e até mesmo de pais de alunos, o que os incentiva a continuar na carreira apesar das dificuldades. A maioria dessas expressões salienta principalmente o interesse genuíno e a bondade demonstrados para com o aluno.
É claro que nem todos os professores têm essas qualidades. E convém lembrar também que os professores sofrem muitas pressões que limitam o que podem fazer pelos alunos. Assim, surge a pergunta: O que leva muitos a escolher uma profissão tão difícil?
[Foto na página 4]
“Ensinar é sobretudo um ato de amor”
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Por que ser professor?Despertai! — 2002 | 8 de março
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Por que ser professor?
“A maioria dos professores escolhe essa carreira porque quer ajudar outros. [Ser professor] é aceitar o desafio de fazer a diferença na vida das crianças.” — Teachers, Schools, and Society (Professores, Escolas e a Sociedade).
EMBORA alguns professores pareçam se dar muito bem na profissão, lecionar tem os seus muitos desafios — classes numerosas, lidar com muita papelada, burocracia rígida, alunos apáticos e salário inadequado. Pedro, professor em Madri, Espanha, diz: “Ser professor não é nada fácil. Exige muita abnegação. Mas, apesar das dificuldades, ainda acho que o magistério é mais gratificante do que um emprego no mundo dos negócios.”
O desafio pode ser gigantesco em escolas das grandes cidades, na maioria dos países. Drogas, crime, promiscuidade e, às vezes, indiferença parental, afetam bastante o ambiente e a disciplina na escola. A rebeldia é comum. Assim sendo, o que leva muitos profissionais qualificados a escolher essa profissão?
Leemarys e Diana são professoras em Nova York. Elas trabalham com crianças na faixa etária que vai desde a pré-escola até os dez anos. Ambas são bilíngües (inglês/espanhol) e lidam principalmente com crianças hispânicas. Perguntamos . . .
O que motiva o professor?
Leemarys: “O que me motiva? O amor pelas crianças. Eu sei que, para algumas crianças, sou a única pessoa que as incentiva.”
Diana: “Eu dei aulas de reforço para meu sobrinho de oito anos, que estava tendo dificuldades na escola, principalmente com leitura. Fiquei muito feliz quando ele e mais alguns outros conseguiram aprender. Foi assim que decidi lecionar e larguei meu emprego no banco.”
Despertai! fez a mesma pergunta a professores em diversos países, e apresentamos a seguir algumas das respostas obtidas.
Giuliano, da Itália, 40 e poucos anos: “Decidi ser professor porque essa era uma profissão que me fascinava desde quando estava na escola (à direita). Para mim, era uma carreira criativa e estimulante. Meu entusiasmo inicial me ajudou a superar as dificuldades que tive no início da carreira.”
Nick, de Nova Gales do Sul, Austrália: “O mercado de trabalho na minha área de química era bem restrito, mas havia muitas oportunidades na área da educação. Depois descobri que gosto de ensinar, e os alunos também parecem gostar das minhas aulas.”
Muitos decidiram seguir essa carreira inspirados no exemplo dos pais. William, do Quênia, diz: “Quem me influenciou muito na escolha de minha carreira foi meu pai, que era professor em 1952. O que me ajuda a não desistir da profissão é saber que estou moldando a mente dos jovens.”
Rosemary, também do Quênia: “Eu sempre quis ajudar pessoas carentes. Então pensei em ser enfermeira ou professora. A proposta para lecionar veio primeiro. O fato de eu ser mãe aumentou meu amor pela profissão.”
Berthold, de Düren, Alemanha, tinha uma motivação diferente: “Minha esposa me convenceu de que eu daria um bom professor.” E ela estava certa. Ele acrescentou: “Ensinar é muito gratificante. O professor tem de estar convencido do valor da educação e também se interessar pelos jovens. Caso contrário, ele jamais será um professor competente, bem-sucedido, motivado e satisfeito com a profissão.”
Masahiro, da cidade de Nakatsu, Japão: “O que me motivou a escolher essa profissão foi ter tido um excelente professor no ensino médio. Ele gostava muito de ensinar. E o principal motivo de ter continuado na minha profissão é que gosto muito de crianças.”
Yoshiya, 54 anos, também do Japão, tinha um emprego com bom salário numa fábrica, mas se sentia escravizado pelo trabalho e achava massacrante ter de pegar condução diariamente. “Um dia pensei: ‘Até quando vou continuar nesta vida?’ Decidi procurar um emprego em que pudesse lidar mais com gente do que com coisas. Não há nada que se compare ao magistério. Você trabalha com jovens. É muito humano.”
Valentina, de São Petersburgo, Rússia, também gosta desse aspecto do seu trabalho. Ela disse: “Eu escolhi essa carreira. Sou professora do ensino fundamental já por 37 anos. Gosto de lidar com crianças, especialmente crianças pequenas. Eu amo meu trabalho e é por isso que ainda não me aposentei.”
William Ayers, ele mesmo educador, escreveu: “As pessoas são atraídas ao magistério porque amam as crianças e os jovens, ou porque gostam de estar com eles, de vê-los desabrochar e se desenvolver, tornando-se mais capazes, mais competentes e mais atuantes no mundo. . . . O professor . . . dá de si mesmo para beneficiar outros. Eu ensino na esperança de tornar o mundo um lugar melhor.”
Como vemos, apesar das dificuldades e dos obstáculos enfrentados pelos professores, milhares de homens e mulheres se sentem atraídos a essa profissão. Quais são alguns dos principais desafios enfrentados por eles? O artigo que se segue responderá a essa pergunta.
[Quadro na página 6]
Como comunicar-se com os pais de alunos
✔ Conheça os pais. Isso não é desperdício de tempo. Trata-se de um investimento de tempo que beneficiará a ambas as partes. É sua oportunidade de estabelecer boas relações com aqueles que poderão vir a ser seus melhores colaboradores.
✔ Fale no mesmo nível dos pais — não tenha um ar de superioridade. Evite usar a linguagem do professorado.
✔ Ao falar sobre os jovens, saliente os pontos positivos. Elogios funcionam mais do que críticas. Explique o que os pais podem fazer para ajudar o filho a se sair bem nos estudos.
✔ Permita que os pais se expressem e ouça com atenção o que eles têm a dizer.
✔ Procure compreender o ambiente doméstico da criança. Se possível, visite a casa.
✔ Combine um dia para a próxima conversa. O acompanhamento é importante. Mostra que seu interesse é genuíno. — Baseado em Teaching in America (O Ensino nos Estados Unidos).
[Foto na página 6]
‘Meu pai também era professor.’ — WILLIAM, QUÊNIA
[Foto na página 7]
“Gosto de lidar com crianças.” — VALENTINA, RÚSSIA
[Foto na página 7]
“Não há nada que se compare ao magistério. Você trabalha com jovens.” — YOSHIYA, JAPÃO
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Educar: os sacrifícios e os riscosDespertai! — 2002 | 8 de março
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Educar: os sacrifícios e os riscos
“As cobranças são muitas, mas os educadores em nossas escolas não recebem o devido reconhecimento por seus esforços.” — Ken Eltis, Universidade de Sydney, Austrália.
É PRECISO admitir que a chamada “profissão mais importante “está repleta de desafios. Estes vão de salários inadequados a salas de aula precárias; de um calhamaço de papéis (provas, apostilas, trabalhos, etc.) a classes muito numerosas, de desrespeito e violência à indiferença dos pais. Como alguns professores lidam com essas dificuldades?
Falta de respeito
Perguntamos a quatro professores de Nova York sobre o que consideram ser os problemas mais graves. A resposta foi unânime: “Falta de respeito.”
De acordo com William, do Quênia, nesse sentido as coisas mudaram também na África. Ele disse: “Os jovens estão ficando mais indisciplinados. Quando eu era jovem, [hoje ele tem mais de 40 anos] os professores eram muito respeitados na sociedade africana. O professor sempre era visto como exemplo, tanto pelos jovens como pelos mais velhos. Hoje esse respeito está diminuindo. A cultura ocidental está aos poucos influenciando os jovens, mesmo nas zonas rurais. Filmes, vídeos e livros retratam a falta de respeito pela autoridade como sinônimo de heroísmo.”
Giuliano, professor na Itália, lamenta: “As crianças são influenciadas pelo espírito de rebelião, insubordinação e desobediência que permeia a sociedade como um todo.”
Drogas e violência
Infelizmente, as drogas se tornaram um problema tão grande nas escolas que a educadora e escritora americana LouAnne Johnson escreveu: “A prevenção do uso de drogas faz parte do currículo de quase todas as escolas, começando no jardim-de-infância. [O grifo é nosso.] As crianças sabem muito mais sobre drogas . . . do que a maioria dos adultos.” E acrescenta: “Os alunos que se sentem desamparados, indesejados, solitários, entediados ou inseguros são os mais fortes candidatos a provar drogas.” — Two Parts Textbook, One Part Love.
Ken, professor da Austrália, perguntou: “Como o professor vai lidar com uma criança de nove anos que aprendeu a usar drogas com os pais e agora está viciada?” Michael, de 30 e poucos anos, dá aulas para o ensino médio na Alemanha. Ele escreve: “Sabemos muito bem que existe a venda e o consumo de drogas na escola, mas isso raramente é descoberto.” Ele também comenta a indisciplina e diz que ela “se manifesta numa mania de destruição generalizada”, acrescentado: “As mesas e as paredes estão sujas e os móveis estão danificados. Alguns dos meus alunos têm passagem na polícia por furto em lojas. Não admira que o furto na escola seja tão comum! ”
Amira leciona no Estado de Guanajuato, México. Ela admite: “A violência e o uso de drogas na família afetam diretamente as crianças. Elas vivem num ambiente onde aprendem palavrões e outros vícios. Outro grande problema é a pobreza. Embora o ensino aqui seja gratuito, os pais têm de comprar cadernos, canetas e outras coisas. Mas a alimentação sempre está em primeiro lugar.”
Armas na escola?
Nos Estados Unidos, recentes casos de alunos que atiraram em colegas ou em professores na escola salientaram que a violência relacionada com armas de fogo é um problema preocupante naquele país. Certo relatório diz: “Calcula-se que todo dia 135.000 armas sejam levadas às 87.125 escolas públicas do país. Para reduzir o número de armas nas escolas, as autoridades estão usando detectores de metal, câmeras de vídeo e cães com treinamento especial para farejar armas. Instituíram-se também a inspeção de armários de estudantes, o uso de cartões de identificação e a proibição de levar mochilas para a escola.” (Teaching in America) Tais medidas de segurança levantam a pergunta: Estamos falando de escolas ou de prisões? O relatório acrescenta que mais de 6.000 alunos foram expulsos por terem levado armas à escola!
Iris, professora de Nova York, disse à Despertai!: “Os alunos trazem armas escondidas. Os detectores de metal não impedem a entrada delas. O vandalismo é outro grande problema.”
É em meio a esse ambiente anárquico que muitos professores conscienciosos se esforçam para educar e transmitir valores. Não é de admirar que muitos sofram de depressão e estafa. Rolf Busch, presidente da Associação de Professores na Turíngia, Alemanha, disse: “Quase um terço do um milhão de professores na Alemanha adoecem em decorrência do estresse. Eles ficam estafados.”
Mães adolescentes
Outro grande problema é a atividade sexual dos adolescentes. George S. Morrison, autor de Teaching in America, fala sobre a situação nos Estados Unidos: “Cerca de 1 milhão de adolescentes (11% das meninas de 15 a 19 anos ficam grávidas todo ano.” Entre todas as nações desenvolvidas, os Estados Unidos é o país com o maior índice de gravidez de adolescentes.
Essa situação é confirmada por Iris: “Os adolescentes só falam de sexo e festinhas. É uma obsessão. E agora, com a Internet nos computadores das escolas, os alunos têm acesso às salas de bate-papo e à pornografia.” Angel, de Madri, Espanha, disse: “A promiscuidade sexual é comum entre os estudantes. Tivemos casos de meninas bem novas engravidarem.”
“Relegados ao papel de babás”
Outra queixa de alguns professores é que muitos pais se esquivam da responsabilidade de educar seus filhos em casa. Para os professores, os pais devem ser os primeiros educadores das crianças. As boas maneiras devem começar em casa. Não é de admirar que Sandra Feldman, presidente da Federação Americana de Professores, tenha dito que “os professores . . . precisam ser tratados como os demais profissionais, não ser relegados ao papel de babás”.
Os pais muitas vezes não cooperam com a disciplina dada na escola. Leemarys, citada no artigo precedente, disse à Despertai!: “Se você manda uma criança malcomportada à diretoria, corre o risco de ser agredido pelos pais!” Busch, já citado, comentou o seguinte sobre alunos problemáticos: “A formação familiar é algo que está desaparecendo. Você não pode mais esperar que a maioria dos jovens tenha recebido educação em casa.” Estela, de Mendoza, Argentina, lamentou: “Nós, professores, temos medo dos alunos. Se lhes damos notas baixas, eles jogam pedras em nós ou nos agridem. Se temos carro, eles o danificam.”
É de admirar que em muitos países faltem professores? Vartan Gregorian, presidente da Corporação Carnegie de Nova York, avisou: “As escolas [nos Estados Unidos] precisarão de mais 2,5 milhões de professores na próxima década.” Grandes cidades estão “procurando professores da Índia, das Índias Ocidentais, da África do Sul e da Europa e de qualquer outro lugar onde haja bons professores”. Isso, naturalmente, significa que poderão faltar professores em tais lugares.
Por que faltam professores?
Para Yoshinori, com 32 anos de magistério no Japão, “lecionar é um trabalho nobre com bom incentivo, sendo muito respeitado na sociedade japonesa”. Infelizmente, isso não acontece em todas as culturas. Gregorian, já mencionado, disse que os professores “não têm o respeito, o reconhecimento nem a remuneração que merecem como profissionais. . . . Na maioria dos Estados [americanos] o professor tem um salário mais baixo do que qualquer outra categoria profissional que exija o grau de bacharelado ou de mestrado”.
Ken Eltis, citado no início, escreveu: “O que acontece quando os professores descobrem que muitos empregos que requerem bem menos qualificações profissionais pagam muito mais? Ou quando jovens que foram seus alunos há apenas um ano estão ganhando mais do que eles ganham ou até do que poderão ganhar daqui a cinco anos? Essa constatação forçosamente põe em xeque a auto-estima do professor.”
William Ayers escreveu: “Os professores são mal remunerados. . . . Ganhamos em média um quarto do salário dos advogados, metade do que ganham os contadores e menos do que motoristas de caminhão e estivadores. . . . Não existe outra profissão que exija tanto da pessoa e em que a compensação financeira seja tão pequena.” (To Teach—The Journey of a Teacher) Falando sobre o mesmo assunto, Janet Reno, ex-procuradora-geral dos Estados Unidos, disse em novembro de 2000: “Podemos mandar homens à Lua. . . . Pagamos uma enorme quantia aos nossos atletas. Por que não podemos pagar os professores?”
“Os professores em geral são mal remunerados”, disse Leemarys. “Com todos os anos de estudo, ainda recebo um pequeno salário anual aqui em Nova York. Isso sem falar no estresse e na agitação que a vida na cidade grande acarreta.” Valentina, professora em São Petersburgo, Rússia, disse: “O trabalho do professor não é reconhecido, se for avaliar pela renda. A remuneração sempre foi abaixo do piso salarial.” Marlene, de Chubut, Argentina, concorda: “Por causa dos salários baixos, somos obrigados a trabalhar em dois ou três estabelecimentos, correndo de um lugar para outro. Isso sem dúvida prejudica a qualidade de nosso trabalho.” Arthur, professor em Nairóbi, Quênia, disse à Despertai!: “Com a piora da situação econômica, não é fácil ser professor. Muitos dos meus colegas admitem que os salários baixos não incentivam as pessoas a ingressar na profissão.”
Diana, professora em Nova York, queixou-se da enorme quantia de papéis que toma muitas horas dos professores. Outro professor escreveu: “Passamos a maior parte do tempo no mesmo ritual de repetição e rotina.” Uma queixa comum era: “O dia inteiro temos formulários e mais formulários malucos para preencher.”
Poucos professores para muitos alunos
Berthold, de Düren, Alemanha, expressou outra queixa comum: “As classes são muito numerosas! Algumas têm até 34 alunos. Isso significa que não temos condições de prestar atenção aos alunos com problemas. Eles passam despercebidos. As necessidades individuais são negligenciadas.”
Leemarys, já citada, explicou: “No ano passado, meu maior problema era, além de pais indiferentes, ter 35 crianças na classe. Imagine ensinar 35 crianças de seis anos!”
Iris disse: “Aqui em Nova York há escassez de professores, principalmente de Matemática e de Ciências. Eles conseguem um emprego melhor em outro lugar. Assim, a cidade contratou muitos professores estrangeiros.”
É óbvio que o magistério é uma profissão que exige muito. O que faz com que muitos professores continuem motivados? Por que continuam na profissão e não desanimam? O último artigo desta série responderá a essas perguntas.
[Destaque na página 9]
Calcula-se que todo dia 135.000 armas sejam levadas às escolas americanas
[Quadro/Foto na página 10]
O que faz com que um professor seja bem-sucedido?
Como definiria um bom professor? É aquele que consegue desenvolver a memória da criança para que consiga repetir fatos e passar nas provas? Ou é alguém que ensina o aluno a questionar, a pensar e a raciocinar? Qual deles ensina a criança a se tornar um bom cidadão?
“Quando nós, como professores, reconhecemos que somos parceiros com nossos alunos na longa e complexa jornada da vida, quando começamos a tratá-los com a dignidade e o respeito que merecem como seres humanos, estamos no caminho certo para nos tornarmos bons professores. É tão simples assim, mas igualmente desafiador.” — To Teach—The Journey of a Teacher.
Um bom professor reconhece o potencial de cada aluno e sabe explorar isso. William Ayers comenta: “Precisamos encontrar um método melhor, capaz de explorar pontos fortes, vivência e habilidades . . . Lembro-me do pedido de uma americana nativa cujo filho de cinco anos fora rotulado de ‘lento na aprendizagem’: ‘O Lobo do Vento sabe o nome e o padrão de migração de mais de 40 aves. Ele sabe que uma águia tem de ter 13 penas na cauda para poder se equilibrar. O que ele precisa é de um professor que entenda e valorize o seu potencial.’”
Para melhor aproveitar o potencial de cada criança, o educador precisa descobrir o que a interessa ou motiva e o que faz com que ela se comporte ou pense de determinada maneira. E o professor dedicado precisa amar as crianças.
[Crédito]
Nações Unidas/Foto de Saw Lwin
[Quadro na página 11]
Aprender tem de ser sempre divertido?
O professor William Ayers alistou dez mitos sobre o ensino. Um deles é: “Os bons professores ensinam divertindo.” Ele continua: “A diversão distrai e é agradável. Os palhaços são divertidos. Brincadeiras podem ser engraçadas. Já aprender pode ser envolvente, absorvente, surpreendente, intrigante, cativante e muitas vezes bem agradável. Se for divertido, muito bem. Mas não precisa sê-lo todo o tempo.” Ele acrescenta: “Ensinar requer amplo conhecimento, habilidade, talento, bom critério e compreensão — e acima de tudo, uma pessoa atenciosa, que se interesse pelos alunos.” — To Teach—The Journey of a Teacher.
Sumio, de Nagoya, Japão, encontra o seguinte problema entre os alunos: “Muitos alunos do ensino médio não têm interesse em nada a não ser em se divertir e fazer coisas que não exijam nenhum esforço.”
Rosa, conselheira estudantil de Brooklyn, Nova York, disse: “A atitude geral dos alunos é de que aprender é chato; que o professor é chato. Eles acham que tudo devia ser divertido. Não entendem que aprender depende do esforço de cada um.”
Pensar só em se divertir torna mais difícil para os jovens se esforçarem e fazerem sacrifícios. Sumio, acima citado, disse: “O problema é que eles não conseguem enxergar as coisas em longo prazo. São pouquíssimos os alunos do ensino médio que enxergam que o esforço de hoje será compensado no futuro.”
[Foto na página 7]
DIANA, EUA
[Foto na página 8]
‘O tráfico de drogas é comum, mas raramente é descoberto.’ — MICHAEL, ALEMANHA
[Foto nas página 8, 9]
“A violência e o uso de drogas na família afetam diretamente as crianças.” — AMIRA, MÉXICO
[Foto na página 9]
“Os professores . . . precisam ser tratados como os demais profissionais, não ser relegados ao papel de babás.” — SANDRA FELDMAN, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO AMERICANA DE PROFESSORES
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Educar: a satisfação e as alegriasDespertai! — 2002 | 8 de março
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Educar: a satisfação e as alegrias
“O que me ajuda a não desistir? Embora o papel do educador possa ser difícil e exaustivo, ver a empolgação das crianças em aprender e acompanhar o seu progresso são coisas que me motivam a prosseguir.” — Leemarys, professora em Nova York.
APESAR dos desafios, dos percalços e dos desapontamentos, milhões de professores no mundo todo continuam na carreira que escolheram. E o que motiva milhares a estudarem para ser professores mesmo cientes de que possivelmente não receberão o devido reconhecimento? O que os ajuda a não desistir?
Inna, professora russa do ensino fundamental, explicou: “É muito gratificante quando adultos que foram seus alunos no passado lhe dizem que o que você lhes ensinou foi muito importante para eles. É reanimador quando eles dizem que se lembram com carinho dos anos em que eram seus alunos.”
Giuliano, professor citado nos artigos precedentes, disse: “Uma das maiores satisfações é ver que você conseguiu despertar o interesse dos alunos num determinado assunto. Por exemplo, depois de eu ter explicado um ponto de História, alguns disseram: ‘Não pare. Conte-nos mais!’ Essas expressões espontâneas podem abrilhantar o seu dia porque você percebe que conseguiu estimular neles o desejo de aprender. É muito bom ver seus olhos brilhar por terem entendido uma matéria.”
Elena, professora na Itália, disse: “Acho que encontramos mais satisfação nas pequenas coisas do dia-a-dia, nos pequenos sucessos dos alunos, do que em desempenhos extraordinários, que são muito raros.”
Connie, australiana de 30 e poucos anos, disse: “É muito gratificante quando um aluno a quem você ajudou toma tempo para escrever uma carta agradecendo os seus esforços.”
Oscar, de Mendoza, Argentina, concorda: “Sinto que todo o esforço vale a pena quando meus alunos me encontram na rua ou em outro lugar e agradecem pelo que lhes ensinei.” Angel, de Madri, Espanha, disse: “A minha maior satisfação por ter dedicado parte da minha vida a essa carreira difícil, mas ao mesmo tempo maravilhosa é, sem dúvida, ver os jovens a quem ensinei se transformarem em adultos responsáveis, devido, em parte, aos meus esforços.”
Leemarys, citada no início, disse: “Acho que os professores são uma classe especial. É verdade que exige uma certa dose de loucura assumir uma responsabilidade tão grande. Mas quando você consegue contribuir para a boa formação de dez crianças — ou mesmo que seja de uma só — a sensação de realização é muito grande e nada se compara a isso. Você faz o seu trabalho com alegria.”
Você agradeceu aos seus professores?
Já agradeceu a um professor pelo tempo, esforço e interesse que ele demonstrou por você ou por seu filho? Ou mesmo mandou um cartão ou carta de agradecimento? Arthur, de Nairóbi, Quênia, disse com razão: “Os professores também precisam de elogios. Os governos, os pais e os alunos deviam valorizar muito o trabalho dos educadores.”
A escritora e educadora LouAnne Johnson escreveu: “Para cada carta de crítica que recebo sobre um professor, recebo outras cem com elogios, o que confirma a minha convicção de que o número de bons educadores é muito maior do que o daqueles que deixam a desejar.” Curiosamente, muitas pessoas chegam até a contratar um detetive para “ajudar a encontrar um ex-professor. As pessoas querem encontrar seus professores para agradecê-los”.
Os professores lançam a base para a formação acadêmica da pessoa. Até mesmo os melhores professores das universidades mais prestigiadas precisaram da ajuda de educadores que dedicaram tempo e esforço para estimular e cultivar seu desejo de adquirir instrução, conhecimento e entendimento. Arthur, de Nairóbi, diz: “Todas as grandes autoridades, nos setores público ou privado, também já foram alunos.”
Devemos ser muito gratos a esses homens e mulheres que estimularam a nossa curiosidade, intelecto e motivação, que nos ensinaram a satisfazer a sede de saber e de entendimento!
Quanto mais gratidão devemos sentir por nosso Grandioso Educador, Jeová Deus, que inspirou as palavras de Provérbios 2:1-6: “Filho meu, se aceitares as minhas declarações e entesourares contigo os meus próprios mandamentos, de modo a prestares atenção à sabedoria, com o teu ouvido, para inclinares teu coração ao discernimento; se, além disso, clamares pela própria compreensão e emitires a tua voz pelo próprio discernimento, se persistires em procurar isso como a prata e continuares a buscar isso como a tesouros escondidos, neste caso entenderás o temor a Jeová e acharás o próprio conhecimento de Deus. Pois o próprio Jeová dá sabedoria; da sua boca procedem conhecimento e discernimento”!
Observe que a palavra “se” ocorre três vezes nessa passagem que nos faz refletir. Imagine só, se estivermos dispostos a aceitar esse desafio, poderemos ‘achar o próprio conhecimento de Deus’! Essa certamente é a melhor educação que há.
[Quadro na página 13]
Uma mãe agradecida
Um professor de Nova York recebeu a seguinte carta:
“Aceite os meus mais profundos e sinceros agradecimentos por tudo o que fez por meus filhos. Graças ao seu interesse, bondade e competência, eles conseguiram desenvolver plenamente o seu potencial, o que teria sido impossível sem sua ajuda. O senhor me fez sentir muito orgulho dos meus filhos — serei eternamente grata por isso. Cordialmente, S. B.”
Conhece algum professor a quem poderia encorajar?
[Foto na página 12]
‘É uma sensação muito boa ver os olhos dos alunos brilhar por terem entendido uma matéria.’ — GIULIANO, ITÁLIA
[Fotos na página 13]
‘É muito gratificante saber que um aluno tomou tempo para escrever uma carta de agradecimento.’ — CONNIE, AUSTRÁLIA
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