Destaques do ano passado
“VINDE a mim, . . . e eu vos reanimarei.” Essas palavras de Jesus Cristo, em Mateus 11:28, foram usadas como texto do ano para 2002. Durante o ano de serviço passado, muitos realmente ‘vieram’ — 265.469 pessoas aceitaram o convite divino, foram batizadas e se reanimaram junto com os mais de seis milhões que já servem sob o jugo bondoso do discipulado cristão.
Nas páginas seguintes, você lerá sobre como Jeová continua a abençoar grandemente seu povo em toda a Terra. Vejamos agora alguns acontecimentos teocráticos significativos do ano de serviço de 2002.
Congressos de distrito promovem zelo
Como é de costume, as Testemunhas de Jeová se reuniram em centenas de locais em todo o mundo para assistirem aos seus congressos de distrito anuais. O tema dos congressos de 2002/03 foi: “Proclamadores Zelosos do Reino”. O discurso básico destacou que o povo de Deus hoje imita o zelo e a coragem de Jesus Cristo na realização de seu ministério. Outros discursos explicaram que o zelo é cultivado por meio do estudo da Palavra de Deus e é demonstrado por se fazer o bem e, em especial, pela proclamação entusiástica do Reino de Deus.
Um drama em trajes de época intitulado “Permaneça Firme em Tempos Difíceis” centralizou-se na vida do profeta Jeremias. Ele, assim como Jesus, demonstrou zelo e perseverança notáveis, apesar de dificuldades. Jeremias confiou em Jeová e proclamou destemidamente a mensagem de Deus. Que belo exemplo para os cristãos hoje!
Dois livros foram lançados nesse congresso. Na sexta-feira, os presentes receberam Adore o Único Deus Verdadeiro. Esse livro de 192 páginas será usado como segundo compêndio de estudo bíblico para solidificar a verdade da Palavra de Deus no coração dos estudantes da Bíblia. Confiamos que essa publicação ajudará os novos a crescer espiritualmente e a andar no caminho estreito que conduz à vida no novo mundo justo de Deus.
O livro Achegue-se a Jeová foi lançado no sábado. É dividido em seções que abordam as quatro qualidades principais de Jeová: poder, justiça, sabedoria e amor. Seu objetivo é explicado no prólogo: “Que este livro o ajude a achegar-se ainda mais a Jeová Deus, a criar um vínculo com ele que jamais será rompido, de modo que você possa viver para louvá-lo eternamente.” O programa apresentado nos congressos e essas novas publicações ajudarão os sinceros em toda a parte a aumentar seu amor pelo nosso Criador.
“Tempos críticos”
O apóstolo Paulo escreveu a Timóteo que os “últimos dias” seriam marcados por “tempos críticos, difíceis de manejar”. (2 Tim. 3:1) Tragédias, tanto naturais como outras, provocam desafios e dificuldades. Mas criam também oportunidades para os cristãos mostrarem o amor que têm entre si. Houve muitas tragédias no ano de serviço que passou. Focalizaremos duas delas.
A tragédia do World Trade Center: A formatura da 111.ª turma da Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia foi realizada no sábado, 8 de setembro de 2001. Três dias depois, em 11 de setembro, os formados e seus familiares estavam cumprindo um roteiro de visitas na Cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Era um belo dia de temperatura amena e límpido céu azul. Daí, às 8h46, um jato comercial chocou-se contra a torre norte do World Trade Center, no baixo Manhattan. Minutos depois, outro jato chocou-se contra a torre sul.
Às 9h59 a torre sul desabou, espalhando uma densa nuvem de pó e de detritos por todo o baixo Manhattan. Depois disso, a torre norte também desabou. Cerca de três mil pessoas morreram. Cada uma das torres, que ficaram prontas em 1973, tinha 110 andares. Uma densa nuvem de pó, causada pelo colapso dos dois edifícios, foi carregada pelo vento e chegou até o Betel de Brooklyn, distante menos de três quilômetros.
Os irmãos da congênere dos Estados Unidos imediatamente começaram a investigar se havia Testemunhas de Jeová entre as vítimas dessa terrível tragédia, e que ajuda seria necessária. Na terça-feira à noite, 11 de setembro, verificou-se que todos os membros dos três conjuntos de Betel — Brooklyn, Patterson e Wallkill — estavam a salvo. Na quinta-feira de tarde, todos os formados de Gileade já haviam avisado ao Escritório de Gileade que eles e seus familiares também estavam a salvo. No ínterim, 37 superintendentes de circuito da região de Nova York foram contatados por telefone. Estes ligaram para os anciãos congregacionais que, por sua vez, verificaram a situação de cada publicador. Na sexta-feira de manhã, 14 de setembro, a congênere havia apurado que 14 irmãos estavam mortos ou desaparecidos. Esse número não mudou nos dias seguintes.
Os sobreviventes contaram o que passaram. Cynthia Tucker, pioneira regular, trabalhava no World Financial Center, do outro lado da rua do World Trade Center. Ela estava no 37.º andar quando viu o primeiro avião chocar-se contra a torre. Achando tratar-se de um acidente terrível, ela saiu do prédio e levantou os olhos para o prédio atingido pelo avião. Havia escombros por toda a parte. Daí passou outro avião, voando bem baixo. A irmã Cynthia disse: “O avião era enorme. Vi que ele ia bater no prédio. Eu queria correr, mas simplesmente fiquei imóvel — não sabia o que fazer. Parecia que o avião varava o prédio. O barulho era tão alto que era como estar debaixo da água; eu sentia o som. O ar estava pesado e arenoso. Era difícil respirar. As pessoas corriam em todas as direções. Corri para dentro de um prédio e vi a primeira torre desmoronar. As pessoas tiravam a camisa para cobrir o rosto por causa da poeira. Adultos com crianças e animais de estimação saíam dos prédios. Todos estavam aterrorizados. Até mesmo os animais não agiam com normalidade. Não consigo descrever o medo.” A irmã Cynthia agradece a ajuda dos anciãos, que a procuraram e falaram-lhe palavras bíblicas de consolo.
Nos meses seguintes, os irmãos na região de Nova York levaram às pessoas na comunidade a mensagem de consolo e esperança da Bíblia. Vários irmãos receberam permissão de fazer isso no Ponto Zero, o local em que as Torres Gêmeas ruíram. Um desses irmãos foi Roy Klingsporn, pioneiro. Ele disse: “Com apreço, um sargento da força aérea que trabalhava no resgate disse: ‘Todos nos trazem comida, café e roupas secas, mas você é o primeiro que lê um texto bíblico. A gente precisa de Deus numa hora dessas.’ ”
Erupção vulcânica na África Oriental: Muitos irmãos no leste do Congo (Kinshasa) têm sofrido guerra civil, doenças, pobreza e desemprego. Alguns já foram ou ainda são refugiados. Agravando esses problemas, houve a súbita erupção do monte Nyiragongo, um vulcão não muito distante da cidade de Goma. Na manhã de 17 de janeiro de 2002, o monte começou a expelir fumaça e fogo. À noitinha, a lava que saía do vulcão avançava na direção de Goma. Milhares de pessoas apavoradas fugiam para a cidade vizinha de Gisenyi, em Ruanda. As ruas estavam congestionadas de gente carregando qualquer pertence que pudessem carregar. Gisenyi também corria risco, mas os irmãos locais providenciaram o uso de um Salão do Reino como centro de refugiados para os irmãos do Congo. Alguns irmãos de Gisenyi imediatamente ofereceram suas casas para acolher os fugitivos do vulcão.
Um ancião local disse: “Quando vimos o que estava acontecendo, eu e alguns irmãos fomos imediatamente à estrada principal que liga Goma a Gisenyi. Erguíamos os braços com as revistas A Sentinela e Despertai! na mão. Era escuro, mas íamos a lugares em que era possível vê-las. Vendo as revistas, os irmãos sabiam que éramos Testemunhas de Jeová, e nós os encaminhávamos ao nosso Salão do Reino, que servia como centro de refugiados. Ficamos ao longo da estrada até o amanhecer. Desse modo nós imitamos o que os irmãos em Goma haviam feito por nós alguns anos atrás. Depois da guerra em Ruanda, centenas de milhares de pessoas fugiram para Goma. Naquele tempo, Testemunhas de Goma ficaram dia e noite ao longo das estradas erguendo revistas para nos ajudar a identificar os irmãos. Elas nos encaminhavam aos centros de refugiados organizados pelas Testemunhas.”
A maioria dos que fugiam do vulcão teve de passar a noite ao ar livre. Entre esses havia irmãos que não tinham visto os que seguravam as revistas, por causa do caos e da escuridão. Um ancião comentou: “Cedo na manhã seguinte, irmãos e irmãs saíram de novo com revistas na mão. Circulavam por toda Gisenyi, para que todos pudessem vê-los. Desse modo eles encontraram todos os irmãos de Goma que não haviam visto as Testemunhas na noite anterior. Logo o nosso Salão do Reino ficou ameaçado pela lava, que ainda avançava. Providenciamos imediatamente que outros cinco Salões do Reino servissem como centros de refugiados.” Alguns irmãos das 24 congregações em Goma fugiram para o interior do Congo, mas a maioria — uns 2.000 — fugiu para Ruanda.
A congênere em Kigali, Ruanda, prontamente comprou alimentos, remédios, cobertores e recipientes de plástico para água. Sem demora, esses materiais foram enviados aos centros de refugiados. Quanta alegria os irmãos de Goma sentiram quando apenas um dia após a tragédia chegou um caminhão trazendo essa ajuda! Ouviram-se muitos elogios de pessoas de fora. Certo irmão ouviu as pessoas dizerem: “Essa religião é boa. Eles realmente têm amor entre si.”
Cerca de um terço de Goma foi destruído. Muitos irmãos perderam tudo. No entanto, as Testemunhas cujas casas não sofreram danos ofereceram-se para acomodar as famílias de irmãos que perderam suas casas. (Rom. 12:12, 13) Mais tarde, os irmãos ruandeses providenciaram o retorno seguro de todos os refugiados a Goma. As Testemunhas da Europa também ajudaram, enviando dois carregamentos aéreos de suprimentos da Bélgica.
A erupção do monte Nyiragongo foi uma tragédia. Custou a vida de muitas pessoas e destruiu muitas propriedades, mas os cristãos verdadeiros se identificaram pelo amor que demonstraram entre si. — João 13:35.
A Escola do Ministério do Reino enfatiza a espiritualidade
A Escola do Ministério do Reino começou em 1959 como curso de um mês de duração. Funcionava em South Lansing, no Estado de Nova York, EUA. Em outros países o curso era realizado em locais providenciados pelas congêneres. De início, os matriculados eram anciãos de congregação (então chamados de servos de congregação) e pioneiros especiais. Em 1966, o curso foi revisado; passou a durar apenas duas semanas e apenas anciãos o cursavam. Em 1977, providenciou-se que todos os anciãos fizessem um curso de 15 horas. Desde então, têm sido organizadas sessões de duração variada a intervalos de alguns anos. Desde 1984, os servos ministeriais também recebem treinamento na Escola do Ministério do Reino.
Neste ano, foram realizados três cursos da Escola. O primeiro, de terça-feira a quinta-feira, para superintendentes viajantes; o segundo, sexta-feira e sábado, para anciãos congregacionais; e o terceiro, no domingo, para servos ministeriais. A ênfase desses cursos foi manter a espiritualidade. Muito tempo atrás, Moisés orou a Jeová: “Por favor, faze-me saber os teus caminhos, para que eu te conheça, a fim de que eu ache favor aos teus olhos.” (Êxo. 33:13) Essa oração foi feita depois de Moisés ter presenciado as Dez Pragas, visto a abertura do mar Vermelho, ter estado com Jeová por 40 dias no monte Sinai e recebido os Dez Mandamentos. Aos 80 anos de idade, e depois de ter sido usado de modo notável por Jeová, Moisés reconheceu a sua necessidade espiritual. À base desse exemplo, os anciãos e os servos ministeriais foram incentivados a continuar a progredir como homens espirituais, independentemente de há quanto tempo já servem a Jeová.
A matéria do curso foi traduzida e usada pelas congêneres ao redor do globo. Foram recebidas cartas de apreço de muitos países. Um ancião da Guiné escreveu: “Não me arrependo dos sacrifícios e da viagem de 1.000 quilômetros que fiz para fazer o curso.” Outro escreveu: “Não encontro palavras para expressar meu apreço por esse treinamento. Muitíssimo obrigado!”
Da Coréia, um irmão escreveu: “O curso me fez pensar seriamente sobre se sou realmente uma pessoa espiritual.”
A congênere de El Salvador escreveu: “Houve interesse especial nos novos procedimentos relacionados com o Estudo de Livro de Congregação. Achamos que isso nos ajudará a dar a cada membro do grupo uma atenção mais personalizada e melhor.”
Da Alemanha, um corpo de anciãos escreveu: “As sugestões e as instruções são realísticas e podem ser aplicadas em benefício dos que nos foram confiados.”
A congênere da Suíça teve o seguinte a dizer: “O curso ajudou a oferecer o necessário encorajamento para lutar contra a apatia espiritual.”
Casos jurídicos
ARMÊNIA: O processo jurídico envolvendo Lyova Margaryan recebeu atenção internacional. O irmão Margaryan foi acusado criminalmente por suas atividades como Testemunha de Jeová. As alegações incluíam “pregar uma religião não-registrada”. Em 18 de setembro de 2001, o tribunal inocentou o irmão Margaryan de todas as acusações. Houve recurso, e o tribunal de recursos sustentou o veredicto de não-culpado, declarando que seu ensino religioso como Testemunha de Jeová não é criminoso e é protegido pela Constituição da Armênia. Daí os promotores levaram o caso à mais alta corte de apelação do país, a Corte de Cassação. Em 19 de abril de 2002, os seis membros da Corte confirmaram os dois veredictos de não-culpado. Embora nos alegremos com essa vitória, jovens irmãos continuam a ser presos na Armênia por se recusarem, por motivos religiosos, a prestar serviço militar.
GEÓRGIA: Continua nesse país um ciclo brutal de violência impune contra as Testemunhas de Jeová. Desde outubro de 1999 foram documentados mais de 80 ataques violentos, com mais de 1.000 vítimas — homens, mulheres, crianças, idosos e deficientes físicos. Algumas casas de Testemunhas foram invadidas, saqueadas e reduzidas a cinzas. Mais de 700 queixas-crime foram apresentadas, mas nenhum dos perpetradores foi condenado pelos ataques. Por fim, em setembro de 2001, foram apresentadas queixas contra Petre Ivanidze e o destituído sacerdote ortodoxo Vasili Mkalavishvili pelo envolvimento deles nos ataques. No entanto, muitas tentativas de começar o julgamento têm falhado, devido às condições prevalecentes na sala do tribunal. Tem-se permitido a entrada no tribunal de seguidores dos acusados brandindo grandes cruzes, que antes eram usadas como armas, e faixas com palavras de ódio contra as Testemunhas de Jeová. Até 30 de maio de 2002 houve sete adiamentos do julgamento. As Testemunhas de Jeová encaminharam duas representações à Corte Européia dos Direitos Humanos (ECHR, na sigla em inglês), uma protestando contra a inação do governo diante da violência descontrolada e a outra contestando a decisão da Suprema Corte da Geórgia que anulou o registro de duas sociedades jurídicas usadas pelas Testemunhas de Jeová. Em outubro de 2001, a ECHR juntou as duas representações visando dar-lhes um atendimento prioritário.
Em 23 de julho de 2002, as Testemunhas de Jeová encaminharam outra representação à ECHR. Essa representação detalha 30 casos em que Testemunhas de Jeová na Geórgia foram atacadas por religiosos extremistas, clérigos ortodoxos e policiais. Há um documento significativo pertinente a um dos casos. O documento esboça um plano, executado por cerca de 100 policiais, de acabar com um congresso pacífico das Testemunhas de Jeová, em setembro de 2000. Esse documento foi aprovado e assinado por altas autoridades do Ministério do Interior da cidade ocidental de Zugdidi.
RÚSSIA: O julgamento do processo de proscrição das Testemunhas de Jeová em Moscou foi reaberto em 12 de fevereiro de 2002. É a sétima vez que as Testemunhas de Jeová precisam se defender contra as mesmas acusações infundadas. Em 4 de abril de 2002, depois de reexaminar por dois meses a representação da promotoria, a Corte decidiu submeter a uma perícia a literatura religiosa e a correspondência interna das Testemunhas de Jeová. A Corte tomou essa decisão mesmo sem que o promotor tivesse apresentado alguma evidência específica para provar que as Testemunhas de Jeová incitam a discórdia religiosa, rompem famílias ou infringem direitos e liberdades dos cidadãos. O julgamento foi adiado, aguardando os resultados da perícia.
CORÉIA DO SUL: Em fins de dezembro de 2001, o número de Testemunhas de Jeová que cumprem sentenças de prisão na Coréia do Sul, por causa de sua objeção de consciência ao serviço militar, havia chegado a 1.640. O número aumenta a cada ano. A Lei do Serviço Militar estipula que aqueles que se recusam a pegar em armas podem ser sentenciados a três anos de prisão. A Coréia do Sul não concede isenção do serviço militar para ministros religiosos ou para objetores de consciência. Desde os anos 50, mais de 7.000 Testemunhas de Jeová na Coréia do Sul foram presas por se recusarem a pegar em armas. Em 29 de janeiro de 2002, num caso sem precedentes, o juiz sênior Si-hwan Park, do Tribunal Distrital de Seul, enviou o caso de Kyung-soo Lee para a Corte Constitucional. O Juiz Park pediu um parecer a respeito das afirmações do irmão Lee de que o não-reconhecimento do direito do objetor de consciência viola seu direito de liberdade de religião e de consciência. Depois de enviar o pedido à corte, o Juiz Park suspendeu o julgamento e libertou o irmão Lee sob fiança. O julgamento prosseguirá só depois da decisão da Corte Constitucional a respeito da constitucionalidade da cláusula em questão.
ESTADOS UNIDOS: Em 17 de junho de 2002, a Suprema Corte dos Estados Unidos tomou uma decisão histórica no caso Watchtower Bible and Tract Society of New York, Inc. v. Village of Stratton. Esse caso surgiu devido à insistência do pequeno município de Stratton de que as Testemunhas de Jeová deviam obter permissão prévia do prefeito para realizar seu ministério de casa em casa. A Corte declarou: “[As Testemunhas de Jeová] explicaram em julgamento que não solicitaram uma licença porque afirmam que sua autorização para pregar procede das Escrituras. [As Testemunhas disseram:] ‘Achamos que buscar de uma municipalidade permissão para pregar seria quase que um insulto a Deus.’” Ao derrubar o regulamento municipal, a Corte sustentou que a exigência de permissão “ofende — não apenas os valores protegidos pela Primeira Emenda, mas a própria noção de uma sociedade livre — que no contexto de uma conversa pública do dia-a-dia um cidadão tenha de primeiro informar ao governo seu desejo de falar ao próximo e então obter uma licença para isso”. A Corte declarou também: “Mesmo que a emissão de licenças pela prefeitura fosse uma tarefa burocrática realizada prontamente e sem custo para o requerente, uma lei que exigisse autorização para isso seria totalmente contrária à nossa herança nacional e tradição constitucional.”
A Corte fez também comentários favoráveis sobre o tremendo efeito que as Testemunhas de Jeová tiveram em estabelecer a lei constitucional dos EUA. A Corte disse: “Por mais de 50 anos a Corte tem anulado restrições a atividades de venda e de distribuição de panfletos de casa em casa. Não é por mero acaso que a maioria dos processos envolvesse infrações à Primeira Emenda trazidas à atenção pelas Testemunhas de Jeová, pois a atividade de casa em casa é um requisito de sua religião.” Como observou a Corte, “esses casos demonstram que a resistência das Testemunhas de Jeová à regulamentação da liberdade de expressão não tem servido apenas aos interesses delas”.
Além disso, em 1.º de julho de 2002, a Suprema Corte da Carolina do Sul confirmou o direito de uma Testemunha de Jeová de recusar receber transfusões de sangue. (Atos 15:28, 29) Charles Harvey processou seu médico para ressarcir-se dos danos decorrentes da deliberada falta de acatamento de sua recusa de tomar sangue. Antes da cirurgia, o irmão Harvey havia informado claramente ao médico sua posição baseada na Bíblia. No entanto, para administrar sangue ao surgirem complicações pós-operatórias, quando o irmão Harvey estava inconsciente, o médico obteve consentimento da mãe do irmão Harvey, que não é Testemunha de Jeová. Ao rejeitar o consentimento da mãe, a Suprema Corte da Carolina do Sul disse que “os desejos do paciente contrários a algum tipo de tratamento ou intervenção médica, quando expressos ao médico antes da cirurgia, têm de ser atendidos pelo médico que o assiste”. Assim, o tribunal decidiu que o irmão Harvey tinha direito a um júri que decidisse se o médico havia violado seu acordo de tratar o irmão Harvey sem sangue, e se o médico havia incorrido em negligência médica por transfundir o irmão Harvey sem seu consentimento.
Em memória de sua firmeza
Por mais de 30 anos, o Memorial de Buchenwald, no anterior campo de concentração nazista, não fazia menção nenhuma das Testemunhas de Jeová. As Testemunhas simplesmente não se enquadravam no conceito que as autoridades alemães orientais tinham a respeito de vítimas e opositores do regime nazista. Mesmo hoje, muitas pessoas na Alemanha acham difícil reconhecer o registro ímpar de firmeza das Testemunhas de Jeová. Assim, 9 de maio de 2002 foi um dia especialmente significativo. Uma placa em memória das Testemunhas de Jeová que sofreram em Buchenwald foi descerrada pelo Sr. R. Lüttgenau, subdiretor da Fundação dos Memoriais de Buchenwald e Mittelbau-Dora.
Era um dia bonito e de temperatura amena. O antigo campo de concentração, situado numa colina coberta de árvores numa pitoresca região rural, estava adornado pelo refrescante verde da primavera. No entanto, esse lugar costumava ser chamado de inferno verde de Buchenwald. A maioria dos visitantes hoje acha quase impossível imaginar o desespero dos prisioneiros que, nas filas de chamada, olhavam além de suas barracas para esse mesmo belo cenário, mas sem esperança de desfrutá-lo de novo em liberdade.
As Testemunhas de Jeová, porém, tinham uma esperança baseada na Bíblia e confiança plena em Jeová. Isso as habilitou a manter a integridade e a imitar corajosamente o exemplo dos apóstolos, que disseram: “Temos de obedecer a Deus como governante antes que aos homens.” (Atos 5:29) Por causa de suas convicções, pelo menos 38 Testemunhas morreram no campo ou fora dele, numa das turmas de trabalho do campo. O texto bíblico de Atos é citado na placa recordativa, seguido pela inscrição: “Em Memória das Testemunhas de Jeová Que Sofreram e Morreram Aqui, Perseguidas por Causa de Suas Crenças Religiosas.”
Cerca de 800 presos, identificados como Bibelforscher (Estudantes da Bíblia) por um triângulo roxo costurado na sua roupa, faziam parte dos mais de 250.000 presos no campo ao longo dos anos pelos nazistas. Algumas Testemunhas de Jeová já estavam lá em 1937 e foram forçadas a ajudar na construção do campo. Em 1945, quando os prisioneiros sobreviventes foram libertados, as Testemunhas que foram resgatadas louvaram a Jeová pela sua libertação. Durante a maior parte de sua existência como campo nazista, sempre havia de 300 a 450 Testemunhas de Jeová em Buchenwald.
A placa dá aos prisioneiros do triângulo roxo seu merecido lugar entre as vítimas do regime nazista. Também faz lembrar aos visitantes a firmeza das Testemunhas de Jeová. “A placa”, disse o Sr. Lüttgenau, “mostra que, na sociedade de hoje, a sorte das Testemunhas de Jeová está sendo vista e reconhecida”.
Na quinta-feira, 7 de março de 2002, autoridades da cidade de Körmend, no oeste da Hungria, descerraram uma placa em memória de três Testemunhas de Jeová que morreram como mártires. Eram Bertalan Szabó, Antal Hőnisch e Ján Žondor. Todos os três se recusaram a prestar serviço militar durante a Segunda Guerra Mundial e foram executados publicamente. A placa reza: ‘Em memória de cristãos que foram executados como objetores de consciência em março de 1945.’ A congênere relata que, para participar nesse ato de recordação e descerramento da placa, mais de 500 pessoas cruzaram a cidade a pé até o prédio em que os irmãos foram executados.
Estabelecida uma Comissão de Filial nos Estados Unidos
Na sexta-feira, 9 de fevereiro de 2001, o Corpo Governante anunciou à família de Betel nos Estados Unidos que, a partir de 1.º de abril de 2001, começaria a funcionar nos Estados Unidos uma Comissão de Filial. Durante o ano de serviço de 2002, a Comissão de Filial continuou a assumir progressivamente seus deveres. A congênere dos Estados Unidos supervisiona a pregação do Reino nos Estados Unidos, bem como nas ilhas Bermudas e nas ilhas Turcos e Caicos. Há mais de um milhão de publicadores nos Estados Unidos, dos quais 215.000 se associam com congregações de língua espanhola. Das mais de 11.700 congregações, cerca de 2.600 são de língua espanhola. No ano de serviço passado, foram formadas 210 congregações. Destas, 123 são de língua espanhola, 63 de língua inglesa e 24 de outros idiomas.
Nos Estados Unidos existem agora congregações ou grupos em 37 idiomas, além de inglês e espanhol. Em muitas congregações de língua espanhola ou de outras, a assistência às Reuniões Públicas não raro passa de 200 por cento. Algumas congregações relatam mais estudos bíblicos do que publicadores. Irmãos e irmãs de língua inglesa estão aprendendo outros idiomas a fim de ajudar nesse campo de rápido crescimento.
A congênere dos Estados Unidos é ímpar no sentido de que as instalações de Betel se situam em três locais — Brooklyn, Patterson e Wallkill. Para produzir frutas para a família de Betel, há fazendas perto de South Lansing, Nova York, e em Immokalee, na Flórida. Ao todo, a família de Betel nos Estados Unidos tem 5.465 membros.
Existem atualmente 109 filiais ou congêneres no mundo. O sistema de Comissões de Filial para cuidar das necessidades espirituais dos irmãos nos vários países existe desde 1976. Essas comissões seguem as orientações bíblicas e a liderança do Corpo Governante. A responsabilidade das Comissões de Filial é supervisionar a pregação das boas novas no território designado à congênere ou filial. Elas realizam a necessária supervisão sobre as congregações cristãs, os missionários e os pioneiros. Também organizam as congregações em circuitos e em distritos e fazem recomendações ao Corpo Governante para a designação de superintendentes de circuito e de distrito, membros da família de Betel e estudantes para a Escola de Gileade. Além da supervisão geral do serviço no campo, a Comissão de Filial organiza o trabalho em Betel. Não há dúvida de que Jeová tem abençoado ricamente esse arranjo.
Tradução para atender a muitas necessidades
Em anos recentes, uma enxurrada de publicações tornou-se disponível num número sempre crescente de idiomas. Nos bastidores, centenas de tradutores diligentes se esforçam em produzir publicações exatas, compreensíveis e agradáveis de ler.
Uma necessidade básica do povo de Deus é uma tradução fiel da Bíblia. Para esse fim, a Tradução do Novo Mundo já foi lançada em 44 idiomas. Destes, 29 são edições completas. No ano de serviço passado, terminou a tradução das Escrituras Gregas Cristãs para três línguas africanas — cibemba, ibo e lingala — e a Bíblia completa foi lançada em africâner.
Edições da Bíblia recentemente lançadas são recebidas com muito apreço. Um informe da Europa declarou: “Em especial os irmãos que trabalham no campo chinês expressaram apreço pela Bíblia em sua língua, dizendo que é considerada uma ‘supertradução’.” Alguns estudantes da Bíblia chineses no Canadá exclamaram: “Esta Bíblia só pode ter sido traduzida por chineses! É tão fácil entendê-la!” Na África do Sul, uma moradora que fala o idioma xosa perguntou: “Onde vocês conseguiram essa Bíblia que é tão clara?” Na Albânia, um irmão disse simplesmente: “O modo como a Tradução do Novo Mundo se expressa faz com que os pensamentos de Jeová toquem o coração.” Um publicador na Croácia escreveu: “Consigo visualizar muito melhor as coisas, e parece até que aquelas palavras são minhas. A nova tradução soa tão simples, tão natural, mas ainda assim tão sábia. Agora entendo melhor a beleza da mensagem e das instruções de Jeová para nós.”
Ainda são necessárias publicações básicas para divulgar as boas novas do Reino a ‘todas as nações, tribos, povos e línguas’. (Rev. 7:9) Em anos recentes, brochuras na língua lahu, falada por pessoas das tribos das montanhas no norte da Tailândia e de terras vizinhas, estão tendo um bom efeito. Um missionário escreveu: “A brochura Deus Requer é definitivamente o instrumento número um em lahu. Tem sido distribuída em toda a parte.” O resultado? “De muitas aldeias recebemos convites para uma visita, mas, devido às distâncias e condições das estradas, ainda não conseguimos visitar todas elas. Mateus 9:37 é muito real no nosso caso. Por exemplo, soubemos que numa aldeia remota, cerca de 160 quilômetros distante de Chiang Mai, uma mulher interessada ensina a brochura Deus Requer por conta própria a um grupo de órfãos.”
Nos Estados Unidos, muitos americanos nativos estão recebendo testemunho na sua própria língua. Há várias publicações disponíveis no idioma navajo, incluindo fitas cassete da brochura O Que Deus Requer de Nós?. Certa publicadora escreveu: “No monte Navajo, bem no extremo do nosso território, vive um ex-pastor de ovelhas de mais de 80 anos e que já não enxerga bem. Sua neta perguntou-lhe se ele gostaria de ouvir uma fita a respeito da Bíblia, na língua navajo. Ele disse que sim. Levantou-se da cama, mesmo doente, e sentou-se no sofá para ouvir. Quem dera que vocês vissem a expressão de seu rosto ao ouvir trechos da Bíblia na sua própria língua! Conto isso com lágrimas nos olhos. Daí, ele disse: ‘Nizhoni’, que significa ‘bonito’.”
Em Moçambique são produzidas publicações em cinco das línguas principais desse país. Para ajudar prospectivos leitores foi produzida a cartilha Aplique-se à Leitura e à Escrita nessas línguas e está em andamento uma extensa campanha de alfabetização. O presidente Chissano, de Moçambique, ficou tão impressionado com isso que expressou seu pleno apoio ao nosso trabalho de educação bíblica e de alfabetização.
As revistas A Sentinela e Despertai! estão disponíveis em 146 e 87 idiomas, respectivamente — uma circulação realmente internacional. São muito apreciadas no mundo inteiro por causa de seu valor espiritual e educativo. Por exemplo, os cerca de 80.000 habitantes de Kiribati, um grupo de ilhas no oceano Pacífico, falam gilbertês. As Testemunhas locais, que são menos de 100, têm distribuído diligentemente em média quase 20 revistas por mês cada uma, nos anos recentes. Os 1.200 publicadores na Bulgária distribuíram mais de 100.000 revistas em abril de 2002.
Não há dúvida de que Jeová equipa seu povo para realizar a obra que lhes designou a fazer. Por toda a Terra, essa obra está sendo realizada num grande número de línguas. — Fil. 4:20.
Dedicação de congêneres
No ano de serviço de 2002 houve a dedicação de uma congênere na bela ilha caribenha de Trinidad. O prédio da congênere local foi dedicado a Jeová em 1985, mas desde então o número de publicadores em Trinidad aumentou 94 por cento. Assim, o prédio da congênere teve de ser extensivamente reformado e construiu-se um anexo que duplicou o espaço útil. A congênere agora tem moradias, escritórios, biblioteca, recepção, refeitório e cozinha novos. O Salão do Reino anexo também foi reformado e aumentado. Todo esse trabalho foi realizado por voluntários locais.
Em 29 de setembro de 2001, cerca de 220 representantes de 14 países e 695 irmãos locais se reuniram para a dedicação. Eles ouviram relatórios animadores sobre a história teocrática da obra, incluindo os papéis desempenhados por Evander J. Coward e William R. Brown. Vários missionários estrangeiros, incluindo uma irmã de 88 anos que ainda é pioneira regular, contaram experiências comoventes sobre suas designações a Trinidad, mais de 50 anos atrás.
Stephen Lett, do Corpo Governante, fez o discurso de dedicação. Falando sob o tema “Apreço pelas casas de adoração de Jeová do passado e do presente”, ele frisou que pessoas, não prédios, adoram a Jeová. Assim, o irmão Lett amorosamente incentivou os irmãos a serem adoradores apreciativos por meio de sua obediência e conduta.
No dia seguinte houve uma reunião especial na cidade de Port of Spain, para os que não puderam ser acomodados para o programa de dedicação propriamente dito. Mais de 13.000 compareceram. Na vizinha ilha de Tobago, mais de 300 irmãos ouviram o programa por meio de ligação telefônica. O irmão Lett proferiu o discurso “Salvaguarde sua relação com Jeová cultivando a humildade”. Os presentes ficaram ‘de todo alegres’ com a dedicação dessa ampliação da congênere. — Deut. 16:15.
Recentemente, houve também expansão na congênere da República Tcheca. Samuel F. Herd, do Corpo Governante, viajou até lá para dedicar um prédio de Betel, um anexo e dois Salões de Assembléias. O programa de dedicação foi no sábado, 4 de maio de 2002, e 2.125 pessoas ouviram o discurso do irmão Herd. No dia seguinte realizou-se uma reunião especial e 5.286 ouviram o edificante discurso do irmão Herd, sob o tema “Recuperar forças — não se cansar”. Essa programação foi de grande incentivo para os irmãos na República Tcheca.
Mundialmente, 19.823 ministros ordenados trabalham em filiais ou congêneres como essas. Todos são membros da mundial Ordem de Servos Especiais de Tempo Integral das Testemunhas de Jeová.
[Fotos na página 11]
◼ No alto: em caso de tragédias como essas, nossos irmãos demonstram amor cristão
◼ Embaixo: este Salão do Reino em Ruanda serviu como campo de refugiados
[Foto na página 22]
◼ A recém-estabelecida Comissão de Filial dos Estados Unidos, da esquerda para a direita: (sentados) John Kikot, Max Larson, George Couch, Maxwell Lloyd; (em pé) Baltasar Perla, Harold Corkern, Leon Weaver, William Van De Wall, John Larson e Ralph Walls
[Foto na página 26]
◼ A “Tradução do Novo Mundo” em africâner
[Foto na página 27]
◼ “O Que Deus Requer de Nós?” no idioma navajo
[Fotos nas páginas 28, 29]
◼ Representantes de 14 países se juntaram aos irmãos locais para a dedicação da congênere de Trinidad
[Fotos na página 29]
◼ Os irmãos na República Tcheca se alegraram com a dedicação de um novo prédio de Betel, um anexo e dois Salões de Assembléias
[Diagrama⁄Fotos nas páginas 12, 13]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
Alguns eventos do ano de serviço de 2002
1.º de setembro de 2001
11 de setembro: Destruição do World Trade Center.
29 de setembro: Dedicação da congênere de Trinidad.
20 de novembro: Começa a Escola do Ministério do Reino.
1.º de janeiro de 2002
17 de janeiro: Erupção de vulcão no Congo.
4 de abril: Adiado o julgamento de Moscou para banir as Testemunhas de Jeová.
1.º de maio de 2002
4 de maio: Dedicação da congênere da República Tcheca.
9 de maio: Descerrada placa em memória das Testemunhas de Jeová que sofreram em antigo campo de concentração nazista.
17 de junho: A Suprema Corte dos EUA confirma o direito de pregar de casa em casa sem autorização prévia.
31 de agosto de 2002
31 de agosto: 6.304.645 publicadores em 234 países e territórios.