Capítulo Três
“Resolvamos as questões”
1, 2. A quem Jeová comparou os governantes e o povo de Jerusalém e de Judá, e por que isso era válido?
OS MORADORES de Jerusalém talvez se sentissem inclinados a se justificar, depois de terem ouvido a denúncia registrada em Isaías 1:1-9. Eles sem dúvida apontariam orgulhosamente para os muitos sacrifícios que ofereciam a Jeová. Contudo, os versículos 10 ao 15 de Is 1 fornecem a fulminante resposta de Jeová a tais atitudes. Começa assim: “Ouvi a palavra de Jeová, ditadores de Sodoma. Dai ouvidos à lei de nosso Deus, povo de Gomorra.” — Isaías 1:10.
2 Sodoma e Gomorra foram destruídas não só por causa de suas práticas sexuais pervertidas, mas também devido à sua atitude empedernida e altiva. (Gênesis 18:20, 21; 19:4, 5, 23-25; Ezequiel 16:49, 50) Os ouvintes de Isaías certamente ficaram chocados ao ouvir que estavam sendo comparados ao povo dessas cidades amaldiçoadas.a Mas Jeová via seu povo exatamente como era, e Isaías não abrandou a mensagem de Deus para lhes fazer “cócegas nos ouvidos”. — 2 Timóteo 4:3.
3. O que Jeová quis dizer com a expressão “estou farto” dos sacrifícios do povo, e por que ele se sentia assim?
3 Observe o que Jeová achava da adoração formalista de seu povo. “‘De que me serve a multidão de vossos sacrifícios?’, diz Jeová. ‘Já estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais bem cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, e de cordeiros, e de cabritos.’” (Isaías 1:11) O povo se esquecera de que Jeová não depende desses sacrifícios. (Salmo 50:8-13) Ele não necessita de nada que os humanos lhe possam oferecer. Assim, o povo estaria enganado se pensasse que por meio de suas ofertas feitas por mera formalidade estaria prestando um favor a Jeová. Jeová usou uma forte figura de linguagem. A expressão “já estou farto” pode também ser traduzida por “estou saciado”, ou “estou empanturrado”. Você conhece a sensação de comer tanto a ponto de sentir repulsa só de ver mais comida? É isso o que Jeová sentia a respeito daquelas ofertas — repulsa total!
4. Como Isaías 1:12 expôs a futilidade do comparecimento do povo ao templo em Jerusalém?
4 Jeová continua: “Quando estais entrando para ver a minha face, quem é que requereu isso da vossa mão, pisar meus pátios?” (Isaías 1:12) Não era a própria lei de Jeová que exigia que o povo ‘entrasse para ver a Sua face’, isto é, que comparecesse ao Seu templo em Jerusalém? (Êxodo 34:23, 24) Sim, mas eles compareciam por mero formalismo, apenas simulando praticar a adoração pura, sem motivações sinceras. Para Jeová, as numerosas visitas deles aos Seus pátios eram um mero “pisar”, que só servia para desgastar o piso.
5. Quais eram alguns dos atos de adoração praticados pelos judeus, e por que haviam se tornado “um fardo” para Jeová?
5 Não é de admirar que Jeová adotasse a seguir uma linguagem ainda mais forte! “Parai de trazer mais ofertas de cereais sem valor algum. Incenso — é algo detestável para mim. Lua nova e sábado, a convocação de um congresso — não posso tolerar o uso de poder mágico junto com a assembleia solene. Minha alma tem odiado as vossas luas novas e as vossas épocas festivas. Tornaram-se para mim um fardo; fiquei cansado de suportá-las.” (Isaías 1:13, 14) Ofertas de cereais, incensos, sábados e assembleias solenes faziam parte da Lei que Deus dera a Israel. Quanto a “luas novas”, a Lei simplesmente mandava celebrá-las, mas, gradativamente, foram estabelecidas tradições salutares em torno dessas celebrações. (Números 10:10; 28:11) A lua nova era considerada um sábado mensal, em que o povo não trabalhava e podia até mesmo reunir-se para receber instruções dos profetas e dos sacerdotes. (2 Reis 4:23; Ezequiel 46:3; Amós 8:5) Tais celebrações não eram erradas. O problema era realizá-las por mero exibicionismo. Ademais, os judeus recorriam ao “poder mágico”, ou práticas espíritas, junto com a sua obediência formalista à Lei de Deus.b Assim, seus atos de adoração a Jeová eram “um fardo” para ele.
6. Em que sentido Jeová ficou “cansado”?
6 Mas como Jeová poderia sentir-se “cansado”? Afinal, ele tem “abundância de energia dinâmica . . . Ele não se cansa nem se fatiga”. (Isaías 40:26, 28) Jeová usou uma vívida figura de linguagem para que pudéssemos entender seus sentimentos. Você alguma vez já carregou um peso por tanto tempo que, totalmente esgotado, desejava simplesmente livrar-se dele? Era assim que Jeová se sentia a respeito da adoração hipócrita de seu povo.
7. Por que Jeová deixou de ouvir as orações de seu povo?
7 A seguir, Jeová aborda o mais íntimo e pessoal dos atos de adoração. “Quando estendeis as palmas das vossas mãos, oculto de vós os meus olhos. Embora façais muitas orações, não escuto; as vossas próprias mãos se encheram de derramamento de sangue.” (Isaías 1:15) Estender os braços com as palmas das mãos viradas para cima é um gesto de súplica. Para Jeová esse gesto nada mais significava, pois as mãos daquele povo estavam cheias de derramamento de sangue. A violência grassava no país. A opressão contra os fracos era comum. Era repulsivo que esse povo injurioso e egoísta orasse a Jeová e pedisse bênçãos. Não é para menos que Jeová dissesse “não escuto”!
8. Que erro a cristandade comete hoje, e como alguns cristãos caem numa armadilha similar?
8 Hoje, a cristandade também tem falhado em ganhar o favor de Deus com as suas incessantes repetições de orações vãs e suas outras “obras” religiosas. (Mateus 7:21-23) É de importância vital não cairmos na mesma armadilha. Um cristão talvez passe a praticar um pecado grave. Daí, ele arrazoa que por simplesmente ocultar seus atos e aumentar suas atividades na congregação cristã suas obras de algum modo contrabalançarão o seu pecado. Tais obras formalistas não agradam a Jeová. Existe uma só cura para a doença espiritual, como mostram os versículos seguintes de Isaías.
Cura para a doença espiritual
9, 10. Que importância tem a limpeza na nossa adoração a Jeová?
9 Jeová, o Deus compassivo, muda agora para um tom mais caloroso, mais cativante. “Lavai-vos; limpai-vos; removei a ruindade das vossas ações de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; buscai a justiça; endireitai o opressor; fazei julgamento para o menino órfão de pai; pleiteai a causa da viúva.” (Isaías 1:16, 17) Temos aqui uma série de nove imperativos, ou ordens. Os primeiros quatro são negativos, no sentido de que envolvem a remoção de pecados; os últimos cinco são ações positivas, que resultam em bênçãos de Jeová.
10 Lavar e limpar sempre foram uma parte importante da adoração pura. (Êxodo 19:10, 11; 30:20; 2 Coríntios 7:1) Mas Jeová deseja que a limpeza seja mais profunda, que atinja o próprio coração de seus adoradores. O mais importante é a limpeza moral e espiritual, e é a isso que Jeová se refere. As duas primeiras ordens no versículo 16 de Is 1 não são mera repetição. Um gramático hebraico sugere que a primeira, “lavai-vos”, refere-se a um ato inicial do processo de limpeza, ao passo que a segunda, “limpai-vos”, refere-se a esforços constantes para manter tal limpeza.
11. Para combater o pecado, o que devemos fazer, e o que jamais devemos fazer?
11 Não podemos esconder nada de Jeová. (Jó 34:22; Provérbios 15:3; Hebreus 4:13) Assim, a sua ordem “removei a ruindade das vossas ações de diante dos meus olhos” só pode significar uma coisa — cessar de fazer o mal. Isso significa não tentar ocultar pecados graves, pois fazer isso é um pecado em si mesmo. Provérbios 28:13 alerta: “Quem encobre as suas transgressões não será bem-sucedido, mas, ter-se-á misericórdia com aquele que as confessa e abandona.”
12. (a) Por que é importante ‘aprender a fazer o bem’? (b) Como podem em especial os anciãos aplicar as diretrizes de ‘buscar a justiça’ e ‘endireitar o opressor’?
12 Há muito o que aprender das ações positivas que Jeová ordena no versículo 17 de Isaías, capítulo 1. Note que ele não diz meramente “fazei o bem”, mas sim “aprendei a fazer o bem”. É preciso estudo pessoal da Palavra de Deus para entender o que é bom aos olhos de Deus e querer fazer isso. Ademais, Jeová não diz meramente “fazei justiça”, mas sim “buscai a justiça”. Até mesmo anciãos experientes precisam pesquisar cabalmente a Palavra de Deus para descobrir qual é o proceder correto em certos assuntos complexos. É deles também o dever de ‘endireitar o opressor’, como Jeová ordenou a seguir. Essas diretrizes são importantes para os pastores cristãos atuais, pois eles desejam proteger o rebanho contra os “lobos opressivos”. — Atos 20:28-30.
13. Como podemos hoje aplicar as ordens a respeito dos órfãos e das viúvas?
13 As últimas duas ordens envolvem um segmento mais vulnerável do povo de Deus — os órfãos e as viúvas. O mundo não hesita em tirar proveito dessas pessoas, mas não deve ser assim entre o povo de Deus. Anciãos amorosos providenciam “julgamento” para os pequenos órfãos na congregação, cuidando de que recebam tratamento justo e proteção num mundo que deseja explorá-los e corrompê-los. Os anciãos ‘pleiteiam a causa’ da viúva ou, segundo outro sentido da palavra hebraica, “lutam” em favor dela. Realmente, todos os cristãos desejam ser uma fonte de refúgio, de consolo e de justiça para os necessitados no nosso meio, pois são preciosos para Jeová. — Miqueias 6:8; Tiago 1:27.
14. Que mensagem positiva é transmitida em Isaías 1:16, 17?
14 Que mensagem firme e positiva Jeová transmite por meio dessas nove ordens! Há casos em que os envolvidos em pecado convencem a si mesmos de que está simplesmente fora de seu alcance fazer o que é direito. É desanimador pensar assim. Além do mais, eles estão errados. Jeová sabe — e deseja que saibamos — que com a Sua ajuda, qualquer pecador pode abandonar o pecado, dar meia-volta e passar a agir direito.
Apelo compassivo e justo
15. Que mal-entendido ocorre às vezes com a frase “resolvamos as questões entre nós”, e o que ela realmente significa?
15 A seguir, Jeová usa um tom ainda mais caloroso e compassivo. “‘Vinde, pois, e resolvamos as questões entre nós’, diz Jeová. ‘Embora os vossos pecados se mostrem como escarlate, serão tornados brancos como a neve; embora sejam vermelhos como pano carmesim, tornar-se-ão como a lã.’” (Isaías 1:18) O convite que abre esse belo versículo muitas vezes é mal entendido. Por exemplo, a Bíblia Vozes diz: “Vinde, debatamos”, — como se as duas partes talvez tivessem de fazer concessões para chegarem a um acordo. Não é assim! Jeová não tinha culpa nenhuma, muito menos nos seus tratos com aquele povo rebelde e hipócrita. (Deuteronômio 32:4, 5) O versículo não fala de uma troca de concessões entre iguais, mas sim de um fórum para fazer justiça. É como se Jeová desafiasse Israel a um julgamento num tribunal.
16, 17. Como sabemos que Jeová se dispõe a perdoar até mesmo pecados graves?
16 Essa pode parecer uma ideia assustadora, mas Jeová é o mais misericordioso e compassivo Juiz que existe. A sua capacidade de perdoar não tem igual. (Salmo 86:5) Somente ele pode purgar os pecados “como escarlate” de Israel e deixá-los “brancos como a neve”. Nenhum esforço humano, nenhuma combinação de obras, de sacrifícios ou de orações podem remover a mancha do pecado. Apenas o perdão de Jeová pode lavar o pecado. Deus concede tal perdão sob termos que ele estabelece, que inclui arrependimento genuíno, de coração.
17 Essa verdade é tão importante que Jeová a repete numa variação poética — pecados de cor “carmesim” se tornarão como lã branca, nova, não tingida. Jeová quer que saibamos que ele é realmente o Perdoador de pecados, até mesmo de pecados gravíssimos, contanto que nos considere genuinamente arrependidos. Quem acha difícil crer que isso seja assim no seu caso, fará bem em considerar exemplos como o de Manassés. Ele pecou terrivelmente — por anos. No entanto, arrependeu-se e foi perdoado. (2 Crônicas 33:9-16) Jeová deseja que todos nós, incluindo quem cometeu pecados graves, saibamos que ainda não é tarde demais para ‘resolver as questões’ com ele.
18. Que escolha Jeová apresentou a seu povo rebelde?
18 Jeová lembra aos do seu povo que eles têm uma escolha a fazer. “Se quiserdes e deveras escutardes, comereis o bom da terra. Mas, se vos negardes e realmente fordes rebeldes, sereis consumidos pela espada; pois a própria boca de Jeová falou isto.” (Isaías 1:19, 20) Aqui Jeová destaca atitudes, e usa mais uma vívida figura de linguagem para realçar o ponto. Judá podia escolher: consumir ou ser consumido. Se tivessem boa vontade para ouvir e obedecer a Jeová, comeriam o produto bom da terra. Mas, se persistissem em sua rebeldia, seriam consumidos — pela espada de seus inimigos! É quase inimaginável que um povo preferisse a espada de seus inimigos à misericórdia e à fartura oferecidas por um Deus perdoador. Mas foi assim com Jerusalém, como mostram os versículos seguintes de Isaías.
Endecha sobre a cidade amada
19, 20. (a) Como Jeová expressou seu sentimento de ser traído? (b) Em que sentido ‘a justiça pousava em Jerusalém’?
19 Em Isaías 1:21-23 vemos a real dimensão da perversidade de Jerusalém naquela época. Isaías passa a apresentar um poema inspirado em estilo de endecha, ou lamento: “Como a vila fiel se tornou prostituta! Ela estava cheia de juízo [retidão]; a própria justiça costumava pousar nela, mas agora, assassinos.” — Isaías 1:21.
20 Como a cidade, Jerusalém, havia decaído! Outrora uma ‘esposa’ fiel, tornara-se prostituta. Que maneira mais veemente haveria para expressar o sentimento de ser traído e de desapontamento de Jeová? “A própria justiça costumava pousar” nessa cidade. Quando? Bem, mesmo antes de Israel existir, lá nos dias de Abraão, essa cidade se chamava Salém. Era governada por um homem que era tanto rei como sacerdote. Seu nome, Melquisedeque, significa “Rei da Justiça”, o que evidentemente lhe caía bem. (Hebreus 7:2; Gênesis 14:18-20) Uns mil anos depois de Melquisedeque Jerusalém atingiu o apogeu, nos reinados de Davi e de Salomão. “A própria justiça costumava pousar nela”, especialmente quando os reis davam exemplo para o povo, por andarem nos caminhos de Jeová. Nos dias de Isaías, porém, esses tempos já eram uma recordação distante.
21, 22. Que significam a escória e a cerveja diluída, e por que os líderes de Judá mereciam tal comparação?
21 Parece que grande parte do problema eram os líderes do povo. Isaías prossegue com seu lamento: “A própria prata tua tornou-se escória. Tua cerveja de trigo está diluída com água. Teus príncipes são obstinados e parceiros de ladrões. Cada um deles ama o suborno e corre atrás de presentes. Não fazem julgamento para o menino órfão de pai; e nem mesmo a causa da viúva chega perante eles.” (Isaías 1:22, 23) Duas vívidas figuras de linguagem em rápida sucessão definem o tom do que tem de vir a seguir. Na forja, o artífice escuma a escória da prata derretida e a joga fora. Os príncipes e os juízes de Israel eram como a escória, não como a prata. Tinham de ser descartados. Não valiam mais do que cerveja diluída com água, que perdeu o sabor. Tal bebida só serve para ser jogada no ralo!
22 O versículo 23 de Is 1 mostra por que os líderes mereciam essa comparação. A Lei mosaica havia enobrecido o povo de Deus, colocando-o à parte de outras nações. Fez isso, por exemplo, exigindo proteção para os órfãos e as viúvas. (Êxodo 22:22-24) Mas, nos dias de Isaías, o órfão de pai tinha pouca esperança de receber um julgamento favorável. Quanto à viúva, ela não conseguia nem mesmo que alguém ouvisse a sua causa, muito menos que a pleiteasse. Sim, aqueles juízes e líderes estavam ocupados demais na busca de seus próprios interesses — recebendo subornos, correndo atrás de presentes e servindo como parceiros de ladrões, evidentemente protegendo os criminosos e deixando suas vítimas sofrer. Pior ainda, eles eram “obstinados”, ou endurecidos, nas suas transgressões. Que situação lamentável!
Jeová refinaria seu povo
23. Que sentimentos para com seus adversários expressou Jeová?
23 Jeová não toleraria para sempre esse abuso de poder. Isaías continua: “Portanto, a pronunciação do verdadeiro Senhor, Jeová dos exércitos, o Potentado de Israel, é: ‘Ah! Aliviar-me-ei dos meus adversários e vou vingar-me dos meus inimigos.’” (Isaías 1:24) São dadas aqui três qualificações a Jeová, que acentuam a sua legítima autoridade e seu vasto poder. A exclamação “Ah!” provavelmente significa que a piedade de Jeová estava agora mesclada com a determinação de manifestar a sua ira. Certamente, havia razões para isso.
24. A que processo de refinamento Jeová decidiu submeter seu povo?
24 Os do próprio povo de Jeová haviam se transformado em inimigos de Jeová. Mereciam plenamente a vingança divina. Jeová ‘se aliviaria’, ou se livraria, deles. Significaria isso a completa e permanente extinção do povo que levava Seu nome? Não, pois Jeová prossegue: “E vou fazer minha mão retornar sobre ti e depurar-te-ei da tua escória como que com barrela, e vou remover todo o teu refugo.” (Isaías 1:25) Aqui Jeová usa como ilustração o processo de refinamento. Nos tempos antigos, o refinador adicionava barrela para ajudar a separar a escória do metal precioso. De modo similar, Jeová, que não considerava seu povo totalmente perverso, ‘o castigaria no devido grau’. Removeria dele apenas o “refugo” — os obstinados, os indesejáveis, que se recusavam a aprender e a obedecer.c (Jeremias 46:28) Com essas palavras, Isaías teve o privilégio de escrever história com antecedência.
25. (a) Como Jeová refinou seu povo em 607 AEC? (b) Quando Jeová refinou seu povo nos tempos modernos?
25 Jeová realmente refinou seu povo, removendo a escória — os líderes corruptos e outros rebeldes. Em 607 AEC, muito tempo depois dos dias de Isaías, Jerusalém foi destruída e seus moradores foram levados ao exílio de 70 anos, em Babilônia. Em certos sentidos, isso traça um paralelo com uma ação posterior de Deus. A profecia de Malaquias 3:1-5, escrita bem depois do exílio em Babilônia, mostrou que Deus faria de novo um refinamento. Apontou para o tempo em que Jeová Deus viria ao seu templo espiritual junto com seu “mensageiro do pacto”, Jesus Cristo. Isso, evidentemente, ocorreu no fim da Primeira Guerra Mundial. Jeová inspecionou todos os que diziam ser cristãos, separando os genuínos dos falsos. Com que resultado?
26-28. (a) Que cumprimento inicial teve Isaías 1:26? (b) Como essa profecia se cumpriu em nossos tempos? (c) Como pode essa profecia beneficiar os anciãos hoje?
26 Jeová responde: “Vou novamente trazer de volta juízes para ti, como no princípio, e conselheiros para ti, como no início. Depois serás chamada Cidade de Justiça, [Vila] Fiel. A própria Sião será remida com juízo [retidão], e os seus que retornam, com justiça.” (Isaías 1:26, 27) Na Jerusalém antiga houve um cumprimento inicial dessa profecia. Com a volta dos exilados para a sua cidade amada, em 537 AEC, havia de novo juízes e conselheiros fiéis, como no passado. Os profetas Ageu e Zacarias, o sacerdote Josué, o escriba Esdras e o governador Zorobabel, por exemplo, guiaram e orientaram nos caminhos de Deus o fiel restante que retornara do exílio. Contudo, um cumprimento ainda mais importante ocorreu no século 20.
27 Em 1919, o povo de Jeová dos tempos modernos emergiu do período de testes. Foi libertado da servidão espiritual à Babilônia, a Grande, o império mundial da religião falsa. A distinção entre aquele fiel restante ungido e o clero apóstata da cristandade ficou clara. Deus abençoou de novo o seu povo, ‘trazendo-lhes de volta juízes e conselheiros’ — homens fiéis que aconselham o povo de Deus à base de Sua Palavra e não à base de tradições humanas. Hoje, entre o decrescente “pequeno rebanho” e o crescente número de milhões de companheiros das “outras ovelhas”, existem milhares de homens assim. — Lucas 12:32; João 10:16; Isaías 32:1, 2; 60:17; 61:3, 4.
28 Os anciãos têm em mente que, às vezes, agem como “juízes” na congregação, para mantê-la moral e espiritualmente limpa e corrigir transgressores. Eles se preocupam profundamente em fazer as coisas à maneira de Deus, imitando seu misericordioso e equilibrado senso de justiça. Na maioria dos casos, porém, eles servem como “conselheiros”. Isso, naturalmente, é bem diferente de serem príncipes ou tiranos, e eles se esforçam ao máximo para jamais nem mesmo dar a impressão de ‘dominar sobre os que são a herança de Deus’. — 1 Pedro 5:3.
29, 30. (a) Qual era o recado de Jeová para quem não quisesse se beneficiar do refinamento? (b) Em que sentido as pessoas ‘se envergonhariam’ de suas árvores e de seus jardins?
29 Que dizer da “escória” mencionada na profecia de Isaías? O que aconteceria com quem não quisesse se beneficiar do processo de refinamento de Deus? Isaías continua: “E a derrocada dos revoltosos e a dos pecaminosos se dará ao mesmo tempo, e os que abandonam a Jeová chegarão ao seu fim. Pois, envergonhar-se-ão das árvores possantes que desejastes, e vós ficareis encabulados por causa dos jardins que escolhestes.” (Isaías 1:28, 29) Os que se revoltassem e pecassem contra Jeová, desprezando as mensagens alertadoras de Seus profetas até ser tarde demais, sem dúvida seriam ‘derrocados’ e ‘chegariam ao seu fim’. Isso aconteceu em 607 AEC. Mas o que significa essa alusão a árvores e a jardins?
30 Os judeus tinham um contumaz problema com a idolatria. Árvores, jardins e arvoredos muitas vezes figuravam nas suas práticas degradantes. Por exemplo, os adoradores de Baal e de sua consorte, Astorete, acreditavam que, na estação seca, essas duas divindades morriam e eram enterradas. Para induzi-las a despertar e a coabitar, trazendo fertilidade à terra, os idólatras se reuniam para praticar atos sexuais pervertidos debaixo de árvores “sagradas”, em arvoredos ou em jardins. Com a chegada das chuvas e da fertilidade, o crédito ia para os deuses falsos; para os idólatras, isso confirmava as suas superstições. Mas, quando Jeová causasse a derrocada desses idólatras rebeldes, nenhum deus-ídolo os protegeria. Os rebeldes ‘se envergonhariam’ dessas impotentes árvores e jardins.
31. O que, pior do que a vergonha, enfrentariam os idólatras?
31 Os idólatras judeus enfrentariam algo pior do que a vergonha, porém. Mudando a ilustração, Jeová a seguir compara o próprio idólatra a uma árvore. “[Vós] vos tornareis iguais a uma árvore grande cuja folhagem está murchando e iguais a um jardim sem água.” (Isaías 1:30) Essa ilustração se ajusta bem ao clima quente e seco do Oriente Médio. Nenhuma árvore ou jardim dura muito tempo sem um suprimento constante de água. Ressequida, essa vegetação é especialmente vulnerável ao fogo. Assim, a ilustração no versículo 31 de Is 1 é uma sequência natural.
32. (a) Quem é “o homem vigoroso” mencionado no versículo 31 de Is 1? (b) Em que sentido ele viraria “estopa”, que “faísca” o inflamaria, e com que resultado?
32 “O homem vigoroso há de tornar-se estopa, e o produto da sua atividade, uma faísca; e ambos hão de acender-se ao mesmo tempo, sem haver quem os apague.” (Isaías 1:31) Quem é esse “homem vigoroso”? No hebraico, essa expressão transmite a ideia de força e de riqueza. Provavelmente se refere ao próspero e autoconfiante adorador de deuses falsos. Nos dias de Isaías, como nos nossos, não faltam homens que rejeitam a Jeová e a sua adoração pura. Alguns até mesmo parecem ser bem-sucedidos. No entanto, Jeová alerta que tais homens serão como “estopa”, ou toscas fibras de linho, tão frágeis e secas que se desmancham, por assim dizer, ao simples cheiro de fogo. (Juízes 16:8, 9) O produto da atividade do idólatra — seus deuses-ídolos, sua riqueza, ou o que quer que ele adore em vez de a Jeová — será como a “faísca” de ignição. Tanto a faísca como a estopa serão consumidas, extintas, num fogo que ninguém poderá apagar. Nenhum poder no Universo pode anular os perfeitos julgamentos de Jeová.
33. (a) De que maneira os avisos de Deus sobre a vindoura execução também revelam a sua misericórdia? (b) Que oportunidade Jeová dá agora à humanidade, e como isso afeta a cada um de nós?
33 É essa mensagem final compatível com a mensagem de misericórdia e de perdão no versículo 18 de Is 1? Certamente que sim! Jeová fez com que tais avisos fossem escritos e transmitidos por seus servos justamente porque ele é misericordioso. Afinal, ele “não deseja que [ninguém] seja destruído, mas deseja que todos alcancem o arrependimento”. (2 Pedro 3:9) Todo cristão verdadeiro hoje tem o privilégio de proclamar as advertências de Deus à humanidade, para que os arrependidos possam se beneficiar de Seu generoso perdão e viver para sempre. Quão bondoso é da parte de Jeová dar à humanidade uma chance de ‘resolver as questões’ com ele, antes que seja tarde demais!
[Nota(s) de rodapé]
a Segundo a antiga tradição judaica, Isaías foi executado (serrado em pedaços) por ordem do perverso Rei Manassés. (Note Hebreus 11:37.) Segundo certa fonte, para justificar essa sentença de morte, um falso profeta fez esta acusação contra Isaías: “Ele chamou Jerusalém de Sodoma, e os príncipes de Judá e de Jerusalém ele declarou (ser) o povo de Gomorra.”
b A palavra hebraica para “poder mágico” é também traduzida por “aquilo que é prejudicial”, “aquilo que é misterioso” e “errôneo”. Segundo o Theological Dictionary of the Old Testament (Dicionário Teológico do Velho Testamento), os profetas hebreus usavam essa palavra para denunciar “o mal causado pelo mau uso do poder”.
c A expressão “vou fazer minha mão retornar sobre ti” significa que Jeová deixaria de apoiar o seu povo e passaria a puni-lo.