CAPÍTULO NOVE
Quem governará o mundo?
1-3. Descreva o sonho e as visões que Daniel teve no primeiro ano do reinado de Belsazar.
A EMOCIONANTE profecia de Daniel nos leva agora de volta ao primeiro ano do rei babilônio Belsazar. Daniel já por muito tempo é um exilado em Babilônia, mas nunca vacilou na sua integridade para com Jeová. Agora, com mais de 70 anos, o fiel profeta tem “um sonho e visões da sua cabeça, sobre a sua cama”. E como essas visões o amedrontam! — Daniel 7:1, 15.
2 Daniel exclama: “Eis que os quatro ventos dos céus agitavam o vasto mar. E quatro animais gigantescos subiam do mar, cada um diferente dos outros.” Que animais notáveis! O primeiro é um leão alado, e o segundo é semelhante a um urso. Depois vem um leopardo com quatro asas e quatro cabeças. O quarto animal, extraordinariamente forte, tem grandes dentes de ferro e dez chifres. Dentre os dez chifres sobe um chifre “pequeno” que tem “olhos semelhantes aos olhos de homem” e “uma boca falando coisas grandiosas”. — Daniel 7:2-8.
3 As visões de Daniel se voltam então para o céu. O Antigo de Dias está entronizado gloriosamente como Juiz na Corte celestial. ‘Há mil vezes mil que lhe ministram e dez mil vezes dez mil que ficam de pé logo diante dele.’ Julgando adversamente os animais, ele lhes tira o domínio e destrói o quarto animal. O domínio duradouro sobre “os povos, grupos nacionais e línguas” é entregue a “alguém semelhante a um filho de homem”. — Daniel 7:9-14.
4. (a) A quem recorreu Daniel para obter informações fidedignas? (b) Por que é importante para nós aquilo que Daniel viu e ouviu naquela noite?
4 “Quanto a mim”, diz Daniel, “meu espírito estava aflito dentro de mim por causa disso, e as próprias visões da minha cabeça começaram a amedrontar-me”. De modo que procura obter dum anjo “informação fidedigna sobre tudo isso”. O anjo, deveras, lhe dá a conhecer “a própria interpretação dos assuntos”. (Daniel 7:15-28) O que Daniel viu e ouviu naquela noite é de grande interesse para nós, porque delineava futuros acontecimentos mundiais que atingem os nossos tempos, em que “alguém semelhante a um filho de homem” recebe o domínio sobre todos “os povos, grupos nacionais e línguas”. Com a ajuda da Palavra e do espírito de Deus nós também podemos entender o significado dessas visões proféticas.a
QUATRO ANIMAIS SOBEM DO MAR
5. O que simboliza o mar agitado pelo vento?
5 “Quatro animais gigantescos subiam do mar”, disse Daniel. (Daniel 7:3) O que simbolizava o mar agitado pelo vento? Anos depois, o apóstolo João viu sair do “mar” uma fera de sete cabeças. Esse mar representava “povos, e multidões, e nações, e línguas” — o enorme conjunto da humanidade alheada de Deus. Portanto, o mar é um símbolo apropriado das massas da humanidade alienada de Deus. — Revelação (Apocalipse) 13:1, 2; 17:15; Isaías 57:20.
6. O que representam os quatro animais?
6 “Quanto a estes animais gigantescos”, disse o anjo de Deus, “por serem quatro, são quatro reis que se erguerão da terra”. (Daniel 7:17) Evidentemente, o anjo identificou os quatro animais vistos por Daniel como “quatro reis”. Assim, esses animais significam potências mundiais. Mas quais delas?
7. (a) O que dizem certos comentadores bíblicos referente à visão do sonho de Daniel a respeito dos quatro animais e do sonho de Nabucodonosor, de uma enorme estátua? (b) O que representa cada uma das partes metálicas da estátua?
7 Comentadores bíblicos costumam relacionar a visão do sonho de Daniel de quatro animais com o sonho de Nabucodonosor a respeito duma enorme estátua. Por exemplo, The Expositor’s Bible Commentary (Comentário Bíblico do Expositor) declara: “O capítulo 7 [de Daniel] é paralelo ao Dan capítulo 2.” The Wycliffe Bible Commentary (Comentário Bíblico de Wycliffe) diz: “Em geral se concorda que a sucessão de quatro domínios gentios . . . é aqui [em Daniel, capítulo 7] a mesma que a vista no capítulo 2 [de Daniel].” As quatro potências mundiais representadas pelos quatro metais do sonho de Nabucodonosor foram o Império Babilônico (cabeça de ouro), a Medo-Pérsia (peito e braços de prata), a Grécia (ventre e coxas de cobre) e o Império Romano (pernas de ferro).b (Daniel 2:32, 33) Vejamos como esses reinos correspondem aos quatro animais gigantescos vistos por Daniel.
FEROZ COMO LEÃO, VELOZ COMO ÁGUIA
8. (a) Como descreveu Daniel o primeiro animal? (b) Que império foi representado pelo primeiro animal, e de que forma agiu como leão?
8 Que animais impressionantes Daniel viu! Descrevendo um desses, ele disse: “O primeiro era como leão e tinha asas de águia. Eu estava observando até que se lhe arrancaram as asas, e ele foi levantado da terra e posto nos dois pés como um homem, e deu-se-lhe um coração de homem.” (Daniel 7:4) Esse animal retratava o mesmo domínio representado pela cabeça de ouro da enorme estátua, a Potência Mundial Babilônica (607-539 AEC). Igual a um “leão” predatório, Babilônia devorava ferozmente nações, incluindo o povo de Deus. (Jeremias 4:5-7; 50:17) Esse “leão”, como que com asas de águia, avançava numa conquista agressiva. — Lamentações 4:19; Habacuque 1:6-8.
9. Que mudanças sofreu o animal leonino e como o afetaram?
9 Com o tempo, ‘arrancaram-se as asas’ desse extraordinário leão alado. Perto do fim do governo do Rei Belsazar, Babilônia perdeu a velocidade de conquista e a supremacia leonina sobre as nações. Não era mais veloz do que um homem, que tem duas pernas. Recebendo “um coração de homem”, ficou fraca. Faltando-lhe “o coração do leão”, Babilônia não mais podia comportar-se como rei “entre os animais da floresta”. (Note 2 Samuel 17:10; Miqueias 5:8.) Outro animal gigantesco acabou com ela.
VORAZ COMO URSO
10. Que linhagem de governantes o “urso” simbolizava?
10 “Eis aqui outro animal”, disse Daniel, “um segundo, semelhante a um urso. E estava levantado dum lado, e havia três costelas na sua boca entre os seus dentes; e dizia-se-lhe o seguinte: ‘Levanta-te, come muita carne.’” (Daniel 7:5) O rei simbolizado pelo “urso” era o mesmíssimo representado pelo peito e pelos braços de prata da enorme estátua — a linhagem de governantes medo-persas (539-331 AEC), começando com Dario, o Medo, e Ciro, o Grande, e terminando com Dario III.
11. O que significava estar o urso simbólico levantado dum lado e ter três costelas na boca?
11 O urso simbólico estava “levantado dum lado”, talvez pronto para atacar e subjugar nações, mantendo assim o poder mundial. Ou é possível que essa posição visasse mostrar que a linhagem de governantes persas obteria ascendência sobre o único rei medo, Dario. As três costelas entre os dentes do urso podem indicar as três direções em que fez as suas conquistas. O “urso” medo-persa foi para o norte para se apoderar de Babilônia em 539 AEC. Foi para o oeste através da Ásia Menor e para a Trácia. Por fim, o “urso” foi para o sul, para conquistar o Egito. Visto que o número três às vezes simboliza intensidade, as três costelas podem também enfatizar a avidez de conquista do urso simbólico.
12. O que resultou de o urso simbólico obedecer à ordem: “Levanta-te, come muita carne”?
12 O “urso” atacou nações em resposta às palavras: “Levanta-te, come muita carne.” Devorando Babilônia segundo a vontade divina, a Medo-Pérsia estava em condições de realizar um valioso serviço para com o povo de Jeová. E fez isso! (Veja “Um monarca tolerante”, na página 149.) Por meio de Ciro, o Grande, Dario I (Dario, o Grande) e Artaxerxes I, a Medo-Pérsia libertou os judeus cativos em Babilônia, e ajudou-os a reconstruir o templo de Jeová e a consertar as muralhas de Jerusalém. Com o tempo, a Medo-Pérsia passou a governar 127 distritos jurisdicionais, e o marido da Rainha Ester, Assuero (Xerxes I), “reinava desde a Índia até a Etiópia”. (Ester 1:1) No entanto, estava para surgir outro animal.
VELOZ COMO UM LEOPARDO ALADO!
13. (a) O que simbolizava o terceiro animal? (b) O que se pode dizer sobre a velocidade do terceiro animal e do domínio que ocupava?
13 O terceiro animal era “semelhante a um leopardo, mas tinha quatro asas de criatura voadora nas suas costas. E o animal tinha quatro cabeças e deveras foi-lhe dado domínio”. (Daniel 7:6) Como seu equivalente, o ventre e as coxas de cobre da estátua do sonho de Nabucodonosor, esse leopardo de quatro asas e quatro cabeças simbolizava a linhagem macedônia, ou grega, de governantes, começando com Alexandre, o Grande. Alexandre, com a agilidade e a velocidade dum leopardo, atravessou a Ásia Menor, foi para o sul ao Egito, e seguiu até a fronteira ocidental da Índia. (Note Habacuque 1:8.) Seu domínio foi maior do que o do “urso”, porque incluía a Macedônia, a Grécia e o Império Persa. — Veja “Um jovem rei conquista o mundo”, na página 153.
14. Como passou o “leopardo” a ter quatro cabeças?
14 O “leopardo” ficou com quatro cabeças depois da morte de Alexandre em 323 AEC. Quatro dos seus generais tornaram-se por fim seus sucessores em partes diferentes do domínio dele. Seleuco obteve a Mesopotâmia e a Síria. Ptolomeu controlou o Egito e a Palestina. Lisímaco governou a Ásia Menor e a Trácia, e Cassandro ficou com a Macedônia e a Grécia. (Veja “Um vasto reino é dividido”, na página 162.) Daí surgiu uma nova ameaça.
UM ATEMORIZANTE ANIMAL REVELA-SE DIFERENTE
15. (a) Descreva o quarto animal. (b) O que simbolizava o quarto animal, e como devorava e esmiuçava tudo no seu caminho?
15 Daniel descreveu o quarto animal como “atemorizante e terrível, e extraordinariamente forte”. Ele prosseguiu: “E tinha dentes de ferro, grandes. Devorava e esmiuçava, e o resto calcava com os seus pés. E era diferente de todos os outros animais que lhe precederam, e tinha dez chifres.” (Daniel 7:7) Esse atemorizante animal começou como a potência política e militar de Roma. Aos poucos, apoderou-se das quatro divisões helenísticas do Império Grego, e no ano 30 AEC, Roma já havia emergido como a próxima potência mundial da profecia bíblica. O Império Romano, subjugando tudo no seu caminho pela força militar, aumentou por fim até cobrir uma área que se estendia desde as Ilhas Britânicas para baixo, através de boa parte da Europa, em torno do Mediterrâneo e além de Babilônia até o golfo Pérsico.
16. Que informação deu o anjo a respeito do quarto animal?
16 Desejoso de certificar-se a respeito desse animal “extraordinariamente atemorizante”, Daniel escutou com atenção a explicação do anjo: “Quanto aos [seus] dez chifres, daquele reino levantar-se-ão dez reis; e depois deles levantar-se-á ainda outro, e ele mesmo será diferente dos primeiros, e três reis serão humilhados.” (Daniel 7:19, 20, 24) O que eram esses “dez chifres”, ou “dez reis”?
17. O que simbolizam os “dez chifres” do quarto animal?
17 Ao passo que Roma se tornou mais afluente e cada vez mais decadente, por causa do modo de vida licencioso da sua classe governante, ela diminuiu como potência militar. Com o tempo, o declínio da força militar de Roma tornou-se bem evidente. O poderoso império, por fim, desfez-se em muitos reinos. Visto que a Bíblia muitas vezes usa o número dez para indicar inteireza, os “dez chifres” do quarto animal representam todos os reinos resultantes da dissolução de Roma. — Note Deuteronômio 4:13; Lucas 15:8; 19:13, 16, 17.
18. De que forma continuou Roma a exercer domínio sobre a Europa por séculos depois da remoção do seu último imperador?
18 A Potência Mundial Romana, porém, não acabou com a remoção do seu último imperador em Roma, em 476 EC. Por muitos séculos, a Roma papal continuou a exercer domínio político, e especialmente religioso, sobre a Europa. Fez isso por meio do sistema feudal, em que a maioria dos habitantes da Europa estavam sujeitos a um senhor, e consequentemente a um rei. E todos os reis reconheciam a autoridade do papa. De modo que o Santo Império Romano, tendo a Roma papal como ponto focal, dominou os assuntos do mundo durante aquele longo período da história chamado Era do Obscurantismo.
19. Segundo certo historiador, como se comparava Roma com os impérios precedentes?
19 Quem pode negar que o quarto animal era “diferente de todos os outros reinos”? (Daniel 7:7, 19, 23) Nesse respeito, o historiador H. G. Wells escreveu: “Esta nova potência romana . . . era em vários sentidos diferente de qualquer dos grandes impérios que até então haviam prevalecido no mundo civilizado. . . . Incorporou quase todo o povo grego do mundo, e a sua população era menos predominantemente camítica e semítica do que a de qualquer império precedente . . . Tratava-se até então dum novo padrão na história . . . O Império Romano foi um desenvolvimento, um desenvolvimento insólito, não planejado; o povo romano, quase sem se aperceber disso, viu-se envolvido numa vasta experiência administrativa.” Deveras, o quarto animal ia crescer mais.
UM CHIFRE PEQUENO OBTÉM SUPERIORIDADE
20. O que disse o anjo a respeito da subida dum chifre pequeno na cabeça do quarto animal?
20 “Eu estava contemplando os chifres”, disse Daniel, “e eis que subiu entre eles outro chifre, um pequeno, e três dos primeiros chifres foram arrancados diante dele”. (Daniel 7:8) Sobre esse chifre pequeno, o anjo disse a Daniel: “Depois deles [dos dez reis] levantar-se-á ainda outro, e ele mesmo será diferente dos primeiros, e três reis serão humilhados.” (Daniel 7:24) Quem é esse rei, quando se levantou e que três reis ele humilhou?
21. Como passou a Bretanha a ser o simbólico chifre pequeno do quarto animal?
21 Considere os seguintes acontecimentos. Em 55 AEC, o general romano Júlio César invadiu a Bretanha, mas deixou de estabelecer ali um povoamento permanente. Em 43 EC, o Imperador Cláudio iniciou uma conquista mais permanente do sul da Bretanha. Daí, em 122 EC, o Imperador Adriano começou a construir uma muralha desde o rio Tyne até o golfo de Solway, demarcando o limite setentrional do Império Romano. No começo do quinto século, as legiões romanas deixaram a ilha. “No século 16”, explicou um historiador, “a Inglaterra tinha sido uma potência de segunda classe. A sua riqueza era pouca em comparação com a dos Países Baixos. A sua população era bem menor do que a da França. Suas forças armadas (incluindo a marinha) eram inferiores às da Espanha.” Evidentemente, a Bretanha era então um reino insignificante, sendo o simbólico chifre pequeno do quarto animal. Mas isso ia mudar.
22. (a) Que outros três chifres do quarto animal foram vencidos pelo chifre “pequeno”? (b) A Grã-Bretanha emergiu então como o quê?
22 Em 1588, Filipe II, da Espanha, lançou a Armada Espanhola contra a Bretanha. Essa frota de 130 navios, com mais de 24 mil homens, navegou pelo canal da Mancha, apenas para ser derrotada pela marinha britânica, e ser vítima de ventos contrários e de ferozes tempestades atlânticas. Esse acontecimento “marcou a decisiva passagem da supremacia naval da Espanha para a Inglaterra”, disse certo historiador. No século 17, os holandeses desenvolveram a maior marinha mercante do mundo. A Bretanha, porém, com o aumento das suas colônias de além-mar, prevaleceu sobre esse reino. Durante o século 18, os britânicos e os franceses guerreavam entre si na América do Norte e na Índia, o que levou ao Tratado de Paris, em 1763. Esse tratado, disse o autor William B. Willcox, “reconheceu a nova posição da Grã-Bretanha como potência europeia dominante no mundo fora da Europa”. A supremacia da Grã-Bretanha foi confirmada pela esmagadora vitória sobre Napoleão, da França, em 1815 EC. Os “três reis” que a Grã-Bretanha assim ‘humilhou’ foram a Espanha, os Países Baixos e a França. (Daniel 7:24) Em resultado disso, a Grã-Bretanha emergiu como a maior potência colonial e comercial do mundo. Deveras, o chifre “pequeno” tornara-se uma potência mundial!
23. De que forma é que o pequeno chifre simbólico ‘devorou toda a terra’?
23 O anjo disse a Daniel que o quarto animal, ou quarto reino, ‘devoraria toda a terra’. (Daniel 7:23) Mostrou ser assim com a província romana antigamente conhecida como Bretanha. Por fim, tornou-se o Império Britânico e ‘devorou toda a terra’. Em certo período, esse império abrangia um quarto da superfície terrestre do globo e um quarto da sua população.
24. O que disse um historiador sobre o Império Britânico ser diferente?
24 Assim como o Império Romano era diferente das anteriores potências mundiais, assim o rei retratado pelo chifre “pequeno” também seria “diferente dos primeiros”. (Daniel 7:24) Referente ao Império Britânico, o historiador H. G. Wells observou: “Nada no gênero existiu jamais antes. . . . Primeiro, e como centro de todo o sistema, encontrava-se a ‘república coroada’ dos Reinos Unidos Britânicos . . . Nenhuma única secretaria e nenhum único cérebro chegou jamais a compreender o Império Britânico como um todo. . . . Era, na verdade, uma mistura de coisas em crescimento e de acumulações inteiramente diferente de tudo quanto até então foi jamais chamado império.”
25. (a) O que constitui o pequeno chifre simbólico no seu mais recente desenvolvimento? (b) Em que sentido tem o chifre “pequeno” “olhos semelhantes aos olhos de homem” e “uma boca falando coisas grandiosas”?
25 Havia mais envolvido no chifre “pequeno” do que o Império Britânico. Em 1783, a Grã-Bretanha reconheceu a independência das suas 13 colônias americanas. Os Estados Unidos da América tornaram-se subsequentemente aliados da Grã-Bretanha, emergindo da Segunda Guerra Mundial como nação dominante da Terra. Eles ainda têm fortes vínculos com a Grã-Bretanha. A resultante potência mundial dupla anglo-americana constitui o “chifre que tinha olhos”. Deveras, essa potência mundial é observadora, astuta! ‘Fala coisas grandiosas’, dita a política para grande parte do mundo e atua como seu porta-voz, ou “falso profeta”. — Daniel 7:8, 11, 20; Revelação 16:13; 19:20.
O CHIFRE PEQUENO OPÕE-SE A DEUS E AOS SANTOS DELE
26. O que predisse o anjo a respeito da fala e da ação do chifre simbólico para com Jeová e os servos dele?
26 Daniel continuou a descrever sua visão, dizendo: “Eu estava observando quando este mesmo chifre fez guerra aos santos, e prevalecia contra eles.” (Daniel 7:21) Referente a esse “chifre”, ou rei, o anjo de Deus predisse: “Falará até mesmo palavras contra o Altíssimo e hostilizará continuamente os próprios santos do Supremo. E tentará mudar tempos e lei, e serão entregues à sua mão por um tempo, e tempos e metade de um tempo.” (Daniel 7:25) Como e quando se cumpriu essa parte da profecia?
27. (a) Quem são ‘os santos’ perseguidos pelo chifre “pequeno”? (b) Como pretendia o chifre simbólico “mudar tempos e lei”?
27 ‘Os santos’ perseguidos pelo chifre “pequeno” — que é a Potência Mundial Anglo-Americana — são os seguidores de Jesus na Terra, ungidos pelo espírito. (Romanos 1:7; 1 Pedro 2:9) Durante anos, antes da Primeira Guerra Mundial, os do restante desses ungidos advertiram publicamente que 1914 marcaria a terminação dos “tempos designados das nações”. (Lucas 21:24) Quando irrompeu a guerra naquele ano, era evidente que o chifre “pequeno” havia desconsiderado essa advertência, porque persistiu em hostilizar os “santos” ungidos. A Potência Mundial Anglo-Americana até mesmo se opôs aos esforços deles de cumprir com o requisito (ou “lei”) de Jeová, de que as boas novas do Reino fossem pregadas mundialmente pelas Suas testemunhas. (Mateus 24:14) O chifre “pequeno” tentou assim “mudar tempos e lei”.
28. Qual é a duração de “um tempo, e tempos e metade de um tempo”?
28 O anjo de Jeová referiu-se a um período profético de “um tempo, e tempos e metade de um tempo”. Que duração tem ele? Comentadores bíblicos em geral concordam que essa expressão indica três tempos e meio — a soma de um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Visto que os “sete tempos” de loucura de Nabucodonosor eram sete anos, os três tempos e meio são três anos e meio.c (Daniel 4:16, 25) A versão An American Translation reza: “Serão entregues a ele por um ano, dois anos e meio ano.” A Bíblia na Linguagem de Hoje diz: “Durante três anos e meio.” O mesmo período é mencionado em Revelação 11:2-7, que diz que as testemunhas de Deus pregariam trajadas de serapilheira por 42 meses, ou 1.260 dias, e que então seriam mortas. Quando começou e quando terminou esse período?
29. Quando e como começaram os proféticos três anos e meio?
29 Para os cristãos ungidos, a Primeira Guerra Mundial significou um tempo de prova. Ao fim de 1914, esperavam perseguição. Na realidade, o próprio texto do ano escolhido para 1915 foi a pergunta que Jesus fez aos seus discípulos: “Podeis vós beber do meu cálice?” Baseava-se em Mateus 20:22, da King James Version. Portanto, a partir de dezembro de 1914, esse pequeno grupo de testemunhas pregava ‘trajado de saco’.
30. Como foram os cristãos ungidos hostilizados pela Potência Mundial Anglo-Americana durante a Primeira Guerra Mundial?
30 Ao passo que aumentava a febre de guerra, os cristãos ungidos encontravam crescente oposição. Alguns deles foram encarcerados. Certos deles, tais como Frank Platt, na Inglaterra, e Robert Clegg, no Canadá, foram torturados por autoridades sadísticas. Em 12 de fevereiro de 1918, o Domínio do Canadá, britânico, proscreveu o recém-publicado sétimo volume dos Estudos das Escrituras, intitulado O Mistério Consumado, bem como os tratados intitulados Mensário dos Estudantes da Bíblia. No mês seguinte, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos decretou que a distribuição do sétimo volume era ilegal. Com que resultado? Ora, casas foram vasculhadas, publicações foram confiscadas e adoradores de Jeová foram presos!
31. Quando e como terminaram “um tempo, e tempos e metade de um tempo”?
31 A hostilização movida aos ungidos de Deus atingiu o clímax em 21 de junho de 1918, quando o presidente, J. F. Rutherford, e membros de destaque da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, dos Estados Unidos, sob acusações falsas, foram sentenciados a longos termos de prisão. Ao pretender “mudar tempos e lei”, o chifre “pequeno”, para todos os efeitos, havia acabado com a pregação organizada. (Revelação 11:7) De modo que o predito período de “um tempo, e tempos e metade de um tempo” terminou em junho de 1918.
32. Por que diria que ‘os santos’ não foram eliminados pelo chifre “pequeno”?
32 Mas ‘os santos’ não foram eliminados pela hostilização do chifre “pequeno”. Conforme profetizado no livro de Revelação, depois de um curto período de inatividade, os cristãos ungidos ficaram novamente vivos e ativos. (Revelação 11:11-13) Em 26 de março de 1919, o presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, dos Estados Unidos, e seus associados foram soltos da prisão e mais tarde inocentados das acusações falsas lançadas contra eles. Logo depois, o restante ungido começou a se reorganizar para atividade futura. No entanto, o que estava reservado para o chifre “pequeno”?
O ANTIGO DE DIAS PRESIDE AO JULGAMENTO
33. (a) Quem é o Antigo de Dias? (b) O que eram os ‘livros que foram abertos’ na Corte celestial?
33 Depois de apresentar os quatro animais, os olhos de Daniel se desviam do quarto animal para uma cena no céu. Ele vê o Antigo de Dias assentar-se como Juiz no seu resplendente trono. O Antigo de Dias é o próprio Jeová Deus. (Salmo 90:2) Ao passo que a Corte celestial se assenta, Daniel vê que ‘se abrem livros’. (Daniel 7:9, 10) Visto que a existência de Jeová se estende ao passado infinito, ele conhece toda a história humana como se estivesse escrita num livro. Observou todos os quatro animais simbólicos e pode fazer o julgamento deles segundo informações de primeira mão.
34, 35. O que acontecerá ao chifre “pequeno” e às outras potências animalescas?
34 Daniel prossegue: “Continuei observando naquele tempo por causa do som das palavras grandiosas faladas pelo chifre; eu estava observando até que o animal foi morto e seu corpo foi destruído, e foi entregue ao fogo ardente. Mas, quanto aos demais animais, tirou-se-lhes o seu domínio e foi-lhes dado prolongamento de vida por um tempo e uma época.” (Daniel 7:11, 12) O anjo diz a Daniel: “O próprio Tribunal passou a assentar-se, e tiraram-lhe finalmente seu próprio domínio, a fim de o aniquilar e destruir totalmente.” — Daniel 7:26.
35 Por decreto do Grande Juiz, Jeová Deus, o chifre que blasfemou a Deus e que hostilizou os “santos” dele terá de sofrer o mesmo que o Império Romano, que perseguiu os primeiros cristãos. Seu domínio não continuará. Tampouco continuará o dos “reis” inferiores, semelhantes a chifres, que saíram do Império Romano. No entanto, que dizer dos domínios derivados das anteriores potências animalescas? Conforme predito, sua vida foi estendida “por um tempo e uma época”. Seus territórios têm continuado a ter habitantes até os nossos dias. Por exemplo, o Iraque ocupa o território da antiga Babilônia. A Pérsia (Irã) e a Grécia ainda existem. O que resta dessas potências mundiais faz parte das Nações Unidas. Esses reinos também perecerão quando a última potência mundial for aniquilada. Todos os governos humanos serão obliterados na “guerra do grande dia de Deus, o Todo-Poderoso”. (Revelação 16:14, 16) Mas quem governará então o mundo?
UM DOMÍNIO DURADOURO É IMINENTE!
36, 37. (a) Quem é o “alguém semelhante a um filho de homem”, e quando e para que fim apareceu ele na Corte celestial? (b) O que se estabeleceu em 1914 EC?
36 “Continuei observando nas visões da noite”, falou Daniel. “Eis que aconteceu que chegou com as nuvens dos céus alguém semelhante a um filho de homem; e ele obteve acesso ao Antigo de Dias, e fizeram-no chegar perto perante Este”. (Daniel 7:13) Quando Jesus Cristo esteve na Terra, ele chamou a si mesmo de “o Filho do homem”, indicando seu parentesco com a humanidade. (Mateus 16:13; 25:31) Jesus disse ao Sinédrio, ou suprema corte judaica: “Vereis o Filho do homem sentado à destra de poder e vindo nas nuvens do céu.” (Mateus 26:64) De modo que aquele que chegou na visão de Daniel, invisível aos olhos humanos, e que obteve acesso a Jeová Deus era o ressuscitado e glorificado Jesus Cristo. Quando aconteceu isso?
37 Deus fez com Jesus Cristo um pacto para um Reino, assim como fizera um com o Rei Davi. (2 Samuel 7:11-16; Lucas 22:28-30) Quando “os tempos designados das nações” acabaram em 1914 EC, Jesus Cristo, como herdeiro régio de Davi, podia legitimamente receber o governo do Reino. O registro profético de Daniel reza: “Foi-lhe dado domínio, e dignidade, e um reino, para que todos os povos, grupos nacionais e línguas o servissem. Seu domínio é um domínio de duração indefinida, que não passará, e seu reino é um que não será arruinado.” (Daniel 7:14) De modo que o Reino messiânico foi estabelecido no céu em 1914. No entanto, o domínio também é dado a outros.
38, 39. Quem receberá o domínio eterno sobre o mundo?
38 “Os santos do Supremo receberão o reino”, disse o anjo. (Daniel 7:18, 22, 27) Jesus Cristo é o principal santo. (Atos 3:14; 4:27, 30) Os outros “santos” que têm uma participação no domínio são os 144 mil cristãos fiéis, ungidos com espírito, que são herdeiros do Reino junto com Cristo. (Romanos 1:7; 8:17; 2 Tessalonicenses 1:5; 1 Pedro 2:9) São ressuscitados da morte como espíritos imortais, para reinarem com Cristo no monte Sião celestial. (Revelação 2:10; 14:1; 20:6) Por isso, Cristo Jesus e os ressuscitados cristãos ungidos governarão o mundo da humanidade.
39 Referente ao domínio do Filho do homem e dos outros “santos” ressuscitados, o anjo de Deus disse: “O reino, e o domínio, e a grandiosidade dos reinos debaixo de todos os céus foram entregues ao povo que são os santos do Supremo. Seu reino é um reino de duração indefinida e a eles é que servirão e obedecerão todos os domínios.” (Daniel 7:27) Que bênçãos a humanidade obediente terá sob esse Reino!
40. Como podemos ser beneficiados por prestar atenção ao sonho e às visões de Daniel?
40 Daniel não estava apercebido de todos os maravilhosos cumprimentos das visões que Deus lhe deu. Ele disse: “Aqui termina o assunto. Quanto a mim, Daniel, amedrontavam-me muito os meus próprios pensamentos, de modo que até mesmo mudei de cor; mas o assunto mesmo eu guardei no meu próprio coração.” (Daniel 7:28) No entanto, nós vivemos no tempo em que podemos entender o cumprimento do que Daniel viu. Prestarmos atenção a essa profecia fortalecerá a nossa fé e reforçará nossa convicção de que o Rei messiânico de Jeová governará o mundo.
[Nota(s) de rodapé]
a Para fins de clareza e para evitar repetição, consolidaremos os versículos explanatórios encontrados em Daniel 7:15-28 com uma consideração de versículo por versículo das visões registradas em Daniel 7:1-14.
b Veja o Capítulo 4 deste livro.
c Veja o Capítulo 6 deste livro.
O QUE DISCERNIU?
• O que simboliza cada um dos ‘quatro animais gigantescos que sobe do mar’?
• O que constitui o chifre “pequeno”?
• Como foram “os santos” hostilizados pelo simbólico chifre pequeno durante a Primeira Guerra Mundial?
• O que acontecerá ao pequeno chifre simbólico e às outras potências animalescas?
• Que benefício obteve você de prestar atenção ao sonho e às visões de Daniel a respeito dos “quatro animais gigantescos”?
[Quadro/Fotos nas páginas 149-152]
Um Monarca Tolerante
UM ESCRITOR grego do quinto século AEC lembrou-o como monarca tolerante e ideal. Na Bíblia, ele é chamado de “ungido” de Deus e de “ave de rapina” vinda “desde o nascente”. (Isaías 45:1; 46:11) O monarca mencionado assim é Ciro, o Grande, da Pérsia.
Ciro começou a se tornar famoso por volta de 560/559 AEC, quando sucedeu ao pai, Cambises I, no trono de Anxã, cidade ou distrito da antiga Pérsia. Anxã estava então sob a suserania do rei medo Astíages. Ciro, revoltando-se contra o domínio medo, ganhou uma rápida vitória porque o exército de Astíages desertou. Ciro granjeou então a lealdade dos medos. Depois, os medos e os persas lutaram unidos sob a liderança dele. Assim passou a existir o governo medo-persa, que com o tempo estendeu seu domínio desde o mar Egeu até o rio Indo. — Veja o mapa.
Com as forças conjuntas dos medos e dos persas, Ciro primeiro agiu para controlar um foco de dificuldades — o setor ocidental da Média, onde o rei lídio, Creso, expandira seu domínio invadindo o território medo. Avançando até a fronteira oriental do Império Lídio na Ásia Menor, Ciro derrotou Creso e capturou sua capital, Sardes. Ciro subjugou então as cidades jônicas e incluiu toda a Ásia Menor no domínio do Império Medo-Persa. Ele se tornou assim o maior rival de Babilônia e de seu rei, Nabonido.
Ciro preparou-se então para um confronto com a poderosa Babilônia. E, daquele ponto em diante, ele passou a figurar no cumprimento de profecias bíblicas. Jeová, por meio do profeta Isaías, quase dois séculos antes, mencionara Ciro como o governante que derrubaria Babilônia e libertaria os judeus da servidão. É em virtude dessa designação antecipada que as Escrituras se referem a Ciro como “ungido” de Jeová. — Isaías 44:26-28.
Quando Ciro avançou contra Babilônia, em 539 AEC, ele se confrontou com uma tarefa enorme. A cidade parecia inexpugnável, cercada por enormes muralhas e um fosso fundo e largo, formado pelo rio Eufrates. Onde o Eufrates atravessava Babilônia, uma muralha gigantesca com enormes portões de cobre se estendia ao longo das margens do rio. Como poderia Ciro tomar Babilônia?
Mais de um século antes, Jeová predissera “uma devastação sobre as suas águas” e dissera que ‘elas teriam de secar-se’. (Jeremias 50:38) Fiel à profecia, Ciro desviou as águas do rio Eufrates alguns quilômetros ao norte de Babilônia. Daí, seu exército vadeou pelo leito do rio, subiu as ribanceiras até a muralha e entrou facilmente na cidade, porque os portões de cobre tinham sido deixados abertos. Como “ave de rapina” que se lança rapidamente sobre a sua vítima, esse governante, vindo “desde o nascente” — do leste — capturou Babilônia numa só noite!
Para os judeus em Babilônia, a vitória de Ciro significava a chegada há muito esperada da libertação do cativeiro e o fim dos 70 anos de desolação da sua pátria. Como devem ter ficado emocionados quando Ciro emitiu uma proclamação, autorizando-os a retornar a Jerusalém e reconstruir o templo! Ciro devolveu-lhes também os preciosos utensílios do templo, que Nabucodonosor havia levado a Babilônia, deu-lhes a permissão real de importar madeira do Líbano e autorizou o uso de fundos da casa do rei para cobrir as despesas da construção. — Esdras 1:1-11; 6:3-5.
Ciro seguia em geral uma política humanitária e tolerante em tratar os povos conquistados por ele. Um motivo desse comportamento pode ter sido a sua religião. É provável que Ciro aderisse aos ensinos do profeta persa Zoroastro e adorasse Aúra-mazda — deus considerado ser o criador de tudo o que é bom. Farhang Mehr escreveu no seu livro The Zoroastrian Tradition (A Tradição Zoroastriana): “Zoroastro apresentava a Deus como perfeição moral. Disse às pessoas que Aúra-mazda não é vingativo, mas justo e, portanto, não devia ser temido, mas amado.” A crença num deus de boa moral e justo pode ter influído na ética de Ciro e estimulado sua magnanimidade e equidade.
No entanto, o rei tolerava menos o clima de Babilônia. Os verões tórridos ali eram mais do que ele estava disposto a aguentar. Portanto, embora Babilônia permanecesse uma cidade régia do império, bem como um centro religioso e cultural, em geral ela servia apenas como sua capital de inverno. Na realidade, depois de conquistar Babilônia, Ciro voltou logo à sua capital de verão, Ecbátana, situada a uns 1.900 metros acima do nível do mar, ao sopé do monte Alvand. Ali, os invernos frios contrabalançados por verões agradáveis eram mais do seu agrado. Ciro construiu também um elegante palácio na sua capital anterior, Pasárgada (perto de Persépolis), 650 quilômetros ao sudeste de Ecbátana. A residência ali serviu-lhe de retiro.
Ciro deixou assim seu marco como conquistador valente e monarca tolerante. Seu governo de 30 anos terminou quando morreu em 530 AEC, enquanto estava numa campanha militar. Seu filho Cambises II sucedeu-lhe no trono persa.
O QUE DISCERNIU?
• Como mostrou Ciro, o Persa, ser o “ungido” de Jeová?
• Que serviço valioso prestou Ciro ao povo de Jeová?
• Como tratava Ciro os povos conquistados?
[Mapa]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
IMPÉRIO MEDO-PERSA
MACEDÔNIA
Mênfis
EGITO
ETIÓPIA
Jerusalém
Babilônia
Ecbátana
Susa
Persépolis
ÍNDIA
[Foto]
Túmulo de Ciro em Pasárgada
[Foto]
Baixo-relevo junto ao palácio de Ciro em Pasárgada
[Quadro/Fotos nas páginas 153-161]
Um Jovem Rei Conquista o Mundo
HÁ UNS 2.300 anos, um general militar, loiro, de 20 e poucos anos, estava parado à beira do mar Mediterrâneo. Seus olhos se fixavam numa cidade-ilha a quase um quilômetro de distância. Tendo-se-lhe negado a entrada, o general furioso estava decidido a conquistar a cidade. Qual era seu plano de ataque? Fazer um aterro até a ilha e mobilizar suas forças contra a cidade. A construção do aterro já tinha começado.
Mas uma mensagem do grande rei do Império Persa interrompeu o jovem general. Ansioso de fazer a paz, o governante persa fez uma oferta extraordinária: 10 mil talentos de ouro (mais de 2 bilhões de dólares pelo valor atual), a mão de uma das filhas do rei em casamento e o domínio sobre toda a parte ocidental do Império Persa. Tudo isso foi oferecido em troca da família do rei, que o general havia capturado.
O comandante que se viu confrontado com a decisão de aceitar ou rejeitar a oferta era Alexandre III, da Macedônia. Devia aceitar a oferta? “Era um momento decisivo para o mundo antigo”, diz o historiador Ulrich Wilcken. “O efeito posterior da sua decisão, deveras, estendeu-se pela Idade Média até os nossos dias, no Oriente e no Ocidente.” Antes de considerarmos a resposta de Alexandre, vejamos que acontecimentos levaram a esse momento decisivo.
A FORMAÇÃO DUM CONQUISTADOR
Alexandre nasceu em Pela, na Macedônia, em 356 AEC. Seu pai era o Rei Filipe II, e sua mãe, Olímpia. Ela ensinou a Alexandre que os reis macedônios descendiam de Hércules, filho de Zeus, deus grego. Segundo Olímpia, o antepassado de Alexandre era Aquiles, herói da Ilíada, o poema de Homero. Condicionado assim pelos pais para a conquista e para a glória régia, o jovem Alexandre tinha pouco interesse em outros empreendimentos. Perguntado se iria participar numa corrida nos Jogos Olímpicos, Alexandre indicou que o faria se fosse correr com reis. Ele tinha a ambição de realizar atos maiores do que os do pai e de obter glória por meio de consecuções.
À idade de 13 anos, Alexandre teve como tutor o filósofo grego Aristóteles, que o ajudou a se interessar na filosofia, na medicina e na ciência. É questão de debate até que ponto os ensinos filosóficos de Aristóteles moldaram o modo de pensar de Alexandre. “Parece certo dizer que não havia muito em que os dois concordassem”, observou Bertrand Russell, filósofo do século 20. “Os conceitos políticos de Aristóteles baseavam-se na cidade-estado grega, que estava prestes a acabar.” O conceito dum pequeno governo de cidade-estado não teria agradado a um príncipe ambicioso que queria criar um grande império centralizado. Alexandre deve ter sido também muito céptico a respeito do preceito aristotélico de tratar como escravos aqueles que não eram gregos, pois visionava um império de parceria florescente entre vitoriosos e vencidos.
No entanto, há pouca dúvida de que Aristóteles tenha cultivado o interesse de Alexandre na leitura e na aprendizagem. Alexandre continuou a ser um leitor ávido durante toda a sua vida, tendo paixão especial pelos escritos de Homero. Afirma-se que aprendeu de cor a Ilíada — todas as 15.693 linhas do poema.
A educação que recebeu de Aristóteles terminou abruptamente em 340 AEC, quando o príncipe de 16 anos voltou a Pela para governar a Macedônia na ausência do pai. E o príncipe herdeiro não perdeu tempo, distinguindo-se em façanhas militares. Para o deleite de Filipe, ele subjugou rapidamente a rebelde tribo trácia dos maedi, tomou a cidade principal deles de assalto e deu ao lugar o nome de Alexandrópolis, segundo o seu nome.
PROSSEGUE COM AS CONQUISTAS
O assassinato de Filipe em 336 AEC fez com que Alexandre, aos 20 anos, herdasse o trono da Macedônia. Entrando na Ásia pelo Helesponto (agora conhecido como Dardanelos) na primavera de 334 AEC, Alexandre empreendeu uma campanha de conquista com um exército pequeno mas eficiente de 30 mil soldados de infantaria e 5 mil cavalarianos. Seu exército veio acompanhado de engenheiros, topógrafos, arquitetos, cientistas e historiadores.
Junto ao rio Granico, na extremidade noroeste da Ásia Menor (agora Turquia), Alexandre venceu a sua primeira batalha contra os persas. Naquele inverno, ele conquistou a Ásia Menor ocidental. No outono seguinte, ocorreu a segunda batalha decisiva com os persas em Isso, na extremidade sudeste da Ásia Menor. O grande rei persa Dario III, com um exército de cerca de meio milhão de homens, veio ao encontro de Alexandre. O superconfiante Dario levou também sua mãe, a esposa e outros membros da família, para que presenciassem o que devia ser uma vitória espetacular. Mas os persas não estavam preparados para a repentinidade e a veemência do ataque macedônio. As forças de Alexandre derrotaram totalmente o exército persa, e Dario fugiu, abandonando sua família às mãos de Alexandre.
Em vez de perseguir os persas em fuga, Alexandre marchou para o sul, ao longo da costa mediterrânea, conquistando as bases da poderosa frota persa. Mas a cidade-ilha de Tiro resistiu à invasão. Decidido a conquistá-la, Alexandre iniciou um sítio que durou sete meses. Durante o sítio, recebeu a oferta de paz de Dario, já mencionada. As concessões eram tão atraentes que Parmênio, conselheiro de confiança de Alexandre, supostamente disse: ‘Se eu fosse Alexandre, aceitaria.’ Mas o jovem general retrucou: ‘Eu também, se fosse Parmênio.’ Negando-se a negociar, Alexandre prosseguiu com o sítio e demoliu a orgulhosa senhora do mar em julho de 332 AEC.
Poupando Jerusalém, que se rendera a ele, Alexandre avançou para o sul, conquistando Gaza. Cansado do domínio persa, o Egito acolheu-o como libertador. Em Mênfis, ele fez sacrifícios ao touro Ápis, agradando assim aos sacerdotes egípcios. Fundou também a cidade de Alexandria, que mais tarde rivalizou com Atenas como centro de erudição e ainda leva o nome dele.
A seguir, Alexandre foi para o nordeste, avançando através da Palestina para o rio Tigre. No ano 331 AEC, travou-se a terceira grande batalha com os persas, em Gaugamela, não muito longe das ruínas de Nínive que se desmoronavam. Ali, os 47 mil homens de Alexandre venceram o reorganizado exército persa de pelo menos 250 mil homens! Dario fugiu e foi mais tarde assassinado pelo seu próprio povo.
Empolgado pela vitória, Alexandre voltou-se para o sul e tomou a capital de inverno dos persas, Babilônia. Ele ocupou também as capitais Susa e Persépolis, apoderando-se do imenso tesouro persa e incendiando o grande palácio de Xerxes. Por fim, a capital Ecbátana caiu diante dele. Esse veloz conquistador subjugou então o restante do domínio persa, avançando para o leste até o rio Indo, situado no atual Paquistão.
Ao cruzar o Indo, na região que beirava a província persa de Taxila, Alexandre se confrontou com um terrível rival, o monarca indiano Poros. Alexandre travou contra ele sua quarta e última grande batalha, em junho de 326 AEC. O exército de Poros incluía 35 mil homens e 200 elefantes, que aterrorizavam os cavalos dos macedônios. A batalha foi feroz e sangrenta, mas as forças de Alexandre prevaleceram. Poros rendeu-se e tornou-se aliado.
Haviam-se passado mais de oito anos desde que o exército macedônio fora para a Ásia, e os soldados estavam cansados e com saudades de casa. Abalados pela feroz batalha com Poros, queriam voltar para casa. Embora no começo relutasse, Alexandre atendeu o desejo deles. A Grécia se tornara mesmo a potência mundial. Com o estabelecimento de colônias gregas nas terras conquistadas, a língua e a cultura gregas se espalharam pelo domínio.
O HOMEM POR TRÁS DO ESCUDO
O que manteve o exército macedônio unido durante os anos de conquista foi a personalidade de Alexandre. Depois das batalhas, Alexandre costumava visitar os feridos, examinar seus ferimentos, louvar os soldados pela sua valentia e honrá-los com uma doação, em harmonia com as suas realizações. Para os caídos em batalha, Alexandre providenciava um esplêndido enterro. Os pais e os filhos dos homens caídos ficavam isentos de todos os impostos e formas de serviço. Como diversão após as batalhas, Alexandre realizava jogos e competições. Em certa ocasião, ele até mesmo providenciou uma licença para os recém-casados, possibilitando-lhes passar o inverno com a esposa na Macedônia. Essas ações granjearam-lhe o afeto e a admiração dos seus homens.
Referente ao casamento de Alexandre com a princesa bactriana Roxana, o biógrafo grego Plutarco escreve: “Tratou-se deveras dum caso de amor, todavia, parecia ao mesmo tempo levar ao objetivo que ele tinha em vista. Pois satisfez ao povo conquistado vê-lo escolher uma esposa dentre eles mesmos, e isso fez com que sentissem a mais vívida afeição por ele, descobrir que, na única paixão pela qual ele, o mais moderado dos homens, foi vencido, ele se dominou até poder obtê-la de modo legítimo e honroso.”
Alexandre respeitava também o casamento de outros. Embora a esposa do Rei Dario fosse sua cativa, ele cuidou de que ela fosse tratada de forma honrosa. De forma similar, ao saber que dois soldados macedônios haviam abusado das esposas de alguns forasteiros, mandou que fossem executados se achados culpados.
Igual à sua mãe, Olímpia, Alexandre era muito religioso. Oferecia sacrifícios antes e depois das batalhas, e consultava seus adivinhos a respeito do significado de certos augúrios. Ele consultava também o oráculo de Amom, na Líbia. E em Babilônia, ele seguiu as instruções dos caldeus a respeito de sacrifícios, especialmente os oferecidos ao deus babilônio Bel (Marduque).
Embora Alexandre fosse moderado nos seus hábitos de comer, por fim entregou-se a excessos no beber. Falava muito ao tomar cada copo de vinho e gabava-se das suas realizações. Um dos atos mais tenebrosos de Alexandre foi o assassinato de seu amigo Clito, num acesso de fúria enquanto embriagado. Mas Alexandre se sentiu tão culpado, que passou três dias de cama, não comendo nem bebendo. Por fim, seus amigos conseguiram persuadi-lo a comer.
Com o passar do tempo, a ânsia de glória que Alexandre tinha revelou outras tendências indesejáveis. Ele começou a acreditar prontamente em acusações falsas e passou a administrar punições com a maior severidade. Por exemplo, tendo sido levado a acreditar que Filotas estava envolvido num atentado contra a sua vida, Alexandre mandou que ele e seu pai, Parmênio, conselheiro em quem havia antes confiado, fossem executados.
A DERROTA DE ALEXANDRE
Pouco depois de voltar para Babilônia, Alexandre caiu vítima da malária, da qual nunca se recuperou. Em 13 de junho de 323 AEC, depois de ter vivido apenas 32 anos e 8 meses, Alexandre rendeu-se ao inimigo mais severo, a morte.
Foi assim como certos sábios indianos haviam observado: “Ó Rei Alexandre, cada homem só possui tanto da terra quanto este pedaço em que nos erguemos; e, sendo vós um homem igual aos outros homens, exceto que estais cheios de atividade e de desassossego, estais perambulando por toda esta terra, longe do vosso lar, afligindo a vós mesmos e afligindo a outros. Mas, não demorará muito até que ireis morrer, e possuireis só o bastante da terra que dê para vosso túmulo.”
O QUE DISCERNIU?
• Qual era a formação de Alexandre, o Grande?
• Logo depois de herdar o trono da Macedônia, que campanha empreendeu Alexandre?
• Descreva algumas das conquistas de Alexandre.
• O que se pode dizer sobre a personalidade de Alexandre?
[Mapa]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
CONQUISTAS DE ALEXANDRE
MACEDÔNIA
EGITO
Babilônia
Rio Indo
[Foto]
Alexandre
[Foto]
Aristóteles e seu aluno Alexandre
[Foto de página inteira na página 156]
[Foto]
Medalha que supostamente retrata Alexandre, o Grande
[Quadro/Fotos nas páginas 162, 163]
Um Vasto Reino É Dividido
REFERENTE ao reino de Alexandre, o Grande, a Bíblia predisse a sua desintegração e divisão, “mas não para a sua posteridade”. (Daniel 11:3, 4) Concordemente, nos 14 anos que se seguiram à morte repentina de Alexandre em 323 AEC, seu filho legítimo, Alexandre IV, e seu filho ilegítimo, Héracles, foram assassinados.
No ano 301 AEC, quatro dos generais de Alexandre já tinham assumido o poder sobre o vasto império construído por seu comandante. O General Cassandro assumiu o controle sobre a Macedônia e a Grécia. O General Lisímaco recebeu a Ásia Menor e a Trácia. Seleuco I Nicátor ficou com a Mesopotâmia e a Síria. E Ptolomeu Lago, ou Ptolomeu I, governou o Egito e a Palestina. De modo que, do único vasto reino de Alexandre surgiram quatro reinos helenísticos, ou gregos.
Dos quatro reinos helenísticos, o governo de Cassandro mostrou ser o mais curto. Poucos anos depois de Cassandro assumir o poder, sua linhagem masculina morreu, e em 285 AEC Lisímaco tomou posse da parte europeia do Império Grego. Quatro anos depois, Lisímaco morreu numa batalha com Seleuco I Nicátor, dando a este o controle sobre a maior parte dos territórios asiáticos. Seleuco tornou-se o primeiro da linhagem de reis selêucidas na Síria. Ele fundou Antioquia, na Síria, e a tornou sua nova capital. Seleuco foi assassinado em 281 AEC, mas a dinastia que ele fundou continuou no poder até 64 AEC, quando o general romano Pompeu fez da Síria uma província de Roma.
Das quatro divisões do império de Alexandre, o reino ptolomaico durou mais tempo. Ptolomeu I assumiu o título de rei em 305 AEC e tornou-se o primeiro dos reis, ou faraós, macedônios do Egito. Tornando Alexandria a capital, começou imediatamente um programa de desenvolvimento urbano. Um dos seus maiores projetos de construção foi a famosa Biblioteca de Alexandria. Para supervisionar esse grande projeto, Ptolomeu trouxe da Grécia um famoso erudito ateniense, Demétrio de Falero. Relata-se que, no primeiro século EC, a biblioteca já abrigava um milhão de rolos. A dinastia ptolomaica continuou a governar no Egito até cair diante de Roma, em 30 AEC. Roma substituiu então a Grécia como a dominante potência mundial.
O QUE DISCERNIU?
• Como foi dividido o vasto império de Alexandre?
• Até quando continuou a Síria a ser governada por reis selêucidas?
• Quando terminou o reino ptolomaico do Egito?
[Mapa]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
A DESINTEGRAÇÃO DO IMPÉRIO DE ALEXANDRE
Cassandro
Lisímaco
Ptolomeu I
Seleuco I
[Fotos]
Ptolomeu I
Seleuco I
[Diagrama/Fotos na página 139]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
POTÊNCIAS MUNDIAIS DA PROFECIA DE DANIEL
A enorme estátua (Daniel 2:31-45)
Quatro animais saem do mar (Daniel 7:3-8, 17, 25)
BABILÔNIA a partir de 607 AEC
MEDO-PÉRSIA a partir de 539 AEC
GRÉCIA a partir de 331 AEC
ROMA a partir de 30 AEC
POTÊNCIA MUNDIAL ANGLO- AMERICANA a partir de 1763 EC
MUNDO POLITICAMENTE DIVIDIDO no tempo do fim
[Foto de página inteira na página 128]
[Foto de página inteira na página 147]