‘Mas eu não amo a Jeová!’
ROBERTO era apenas menino quando sua mãe se tornou Testemunha de Jeová. Durante alguns anos, ele a acompanhava ao Salão do Reino, e até mesmo na pregação, embora nunca fosse batizado. Quando atingiu os fins da adolescência, porém, parou de se associar com as Testemunhas. Cambaleando de uma má situação para outra, arruinou a sua vida. Embora ainda afirme crer em muitas das coisas que aprendeu da Bíblia, isso não tem bastado para fazê-lo querer voltar à organização de Jeová. Por que se sente Roberto assim?
Considere outro exemplo. Davi fora por alguns anos ministro de tempo integral. Ocasionalmente, surgiam-lhe na mente perguntas sobre certos ensinos bíblicos. Mas ele sempre resolvia os problemas por raciocinar que, assim como na solução dum quebra-cabeça, não se desiste logo só porque uma ou duas peças não parecem prontamente encaixar-se. Contentava-se em esperar que Jeová provesse o esclarecimento. Mas, em certo ponto, no decorrer do tempo, Davi afirmou que ele não se podia mais satisfazer assim. Renunciou aos seus privilégios de serviço, e em pouco tempo abandonou a verdade. O que causou tal mudança de pensamento?
Certamente, é confrangedor ver aqueles que amamos desistirem da corrida pela vida. Sem dúvida, queremos fazer todo o possível para ajudá-los. (2 Coríntios 12:15; Gálatas 5:7) Mas o que realmente induz alguém a desviar-se da verdade? O que se pode fazer para ajudar a tais a voltar à corrida? E o que deve a pessoa fazer quando essas tendências começam a se desenvolver nela?
Coração, Consciência e Fé
Há uma coisa digna de nota a respeito daqueles que renunciaram à verdade. A maioria deles não o faz porque não mais acredita que esta seja a verdade. Muito pelo contrário, muitos deles dizem: “Sei que esta é a verdade, mas. . .”, ou: “Se existe alguma verdade, eu sei que é esta.” Bem no fundo do coração, muitos deles ainda crêem que aquilo que aprenderam da Bíblia é a verdade. Mas, de algum modo, afrouxaram a mão e perderam seu zelo. Tiago disse: “A fé sem obras está morta.” — Tiago 2:26.
A verdadeira fé envolve mais do que apenas ter conhecimento ou crer que alguma coisa seja verdade. Em vez de apenas ser um processo mental, a fé envolve o coração figurativo, porque a Bíblia nos diz: “Com o coração se exerce fé para a justiça.” (Romanos 10:10) Portanto, a Bíblia aponta razoavelmente para o coração como fonte do problema, quando alguém começa a desviar-se. Conforme Paulo advertiu: “Acautelai-vos, irmãos, para que nunca se desenvolva em nenhum de vós um coração iníquo, falto de fé, por se separar do Deus vivente.” — Hebreus 3:12.
Como evidência de que o coração está profundamente envolvido, poderíamos ouvir Diana, que se havia afastado. Quando concristãos tentaram ajudá-la, ela respondeu francamente: “Não posso voltar para Jeová. Eu não o amo!” Ela sabia que a única coisa que podia ajudá-la a permanecer achegada a Jeová Deus era o amor a ele como Pessoa, e como o Digno da sua devoção. De fato, foi este tipo de amor que no começo a motivara a dedicar sua vida a Jeová. Mas, por alguma razão, não sentia mais tal amor. Sem este, ela sabia que faria as coisas apenas pró-forma, se fosse voltar. Mas, como é que se perde um amor que antes se sentia tão profundamente?
Bem, Paulo mencionou “um coração iníquo, falto de fé”. Em alguns casos, tal falta de fé resulta de se permitir que o coração deseje aquilo que Jeová Deus proíbe, ou de se resistir a algo que ele ordena. O coração fica assim dividido e não é mais pleno para com Jeová. Daí, sentindo que o proceder que se adotou não é aprovado por Deus, a maneira fácil de evitar outros confrontos é ‘separar-se do Deus vivente’. (Veja Gênesis 3:8-10.) Em vez de se arrepender, o “coração iníquo” passa a apagar a Jeová e seu propósito da vida da pessoa. A pessoa sem fé renuncia assim à verdade.
Em outros casos, em vez de sofrer dores de consciência por certo proceder adotado, a pessoa deixa que o coração a induza traiçoeiramente a procurar um escape intelectual por meio de dúvidas, críticas ou mesmo apostasia. Se puder convencer-se de que toda a estrutura da sua fé é errada, não se sentirá mais obrigada a viver dentro dos limites dela. Tais pessoas repelem a boa consciência e ‘sofrem naufrágio no que se refere à sua fé’. — 1 Timóteo 1:19.
Naturalmente, alguém pode renunciar à verdade por outros motivos. Mas, não importa qual seja, envolve quase invariavelmente o coração. Por este motivo, o seguinte conselho é deveras bem oportuno: “Mais do que qualquer outra coisa a ser guardada, resguarda teu coração, pois dele procedem as fontes da vida.” — Provérbios 4:23.
O Restabelecimento É Possível
Requer coragem admitir que as nossas próprias inclinações erradas são a causa de termos perdido a fé. Mas este é o primeiro passo para iniciarmos nosso retorno a uma relação sólida com Jeová. A experiência de Estêvão, pioneiro na Inglaterra, ilustra bem este ponto.
Embora Estêvão nunca abandonasse completamente a verdade, em certo momento começou a sentir um vazio e uma falta de convicção. Quando pregava a outros, suas palavras lhe pareciam vazias. Quando Estêvão se encontrava entre os seus irmãos e irmãs espirituais, sentia-se deslocado, como se não fosse um deles.
Felizmente, para Estêvão, ele reconheceu que o problema era ele mesmo. “Não cometi o erro de me isolar, a fim de analisar as coisas, como se houvesse alguma fonte de inspiração dentro da carne imperfeita, que pudesse prover as respostas certas”, lembra-se Estêvão. (Veja Romanos 7:18.) Antes, deu-se conta de que tinha de esquadrinhar o coração e desarraigar dele os desejos enganosos que o desencaminhavam da verdade. Começando desde o princípio, empenhou-se em reafirmar seu amor a Deus e a fé na Palavra Dele. Hoje, Estêvão é feliz em servir como missionário.
Como Outros Podem Ajudar
Nem todos os que perderam ou estão perdendo seu domínio da verdade enxergam as coisas tão claramente como Estêvão. De fato, muitas vezes é esta perda de clara visão espiritual que leva ao colapso final. É neste ponto que concristãos podem ser de ajuda. (Romanos 15:1; Gálatas 6:1) Mas, qual é o melhor modo de fazer isso?
É óbvio que não basta convidar ou encorajar tal pessoa a voltar. É preciso identificar e remover obstáculos. Precisa-se fazer esforços para apelar para o coração do enfraquecido ou inativo. Palestras francas, mas bondosas, de coração a coração, podem ajudar a pessoa. O uso de textos tais como 1 Timóteo 1:19, Hebreus 3:12 e Jeremias 17:9, 10, pode ajudá-la a esquadrinhar bem fundo o seu coração para ver o que a induz a “se separar do Deus vivente”.
Uma vez identificadas as causas, os esforços devem ser no sentido de lidar com elas. O coração físico, doente, requer cuidados, e talvez uma dolorosa cirurgia, se o paciente há de sobreviver. Algo similar acontece com o coração figurativo, doentio. Desejos errados, tendências à independência, ou outros fatores, que fazem com que o coração se perca, têm de ser removidos, se ele de novo há de reagir bem. Cristãos ativos poderiam muito bem orar com o inativo, até mesmo estudar a Bíblia com ele, se os anciãos acharem isso aconselhável. Somente assim pode o coração ser reanimado e a pessoa passar novamente a amar a Jeová. — Provérbios 2:1-5.
Isto se deu no caso de Diana. Palestras com cristãos maduros ajudaram-na a reconhecer o que ela precisava fazer para reavivar seu amor a Jeová. Quando se deu conta de que passara de novo a conhecer intimamente a Jeová, Diana aceitou a ajuda oferecida. Depois de estudar a Bíblia por cerca de um ano, ela e seu marido tornaram-se novamente louvadores ativos de Jeová.
Visto que o amor envolve ação, freqüentemente o mais eficiente é fazer o que Jeová diz, e sentir a sua ajuda amorosa. Sim, a atividade ajuda a pessoa a recuperar o amor que antes movia seu coração. (Salmo 34:8) Isto pode começar por se darem os passos ativos para combater desejos errados ou para corrigir tendências impróprias do coração. Cada vitória nesta batalha é um passo a mais para fazer o coração voltar a Jeová. (Provérbios 23:26; 1 Pedro 2:1-3) Ao passo que o coração fica convencido, aumenta o desejo de compartilhar com outros o que há nele. Portanto, assim que publicadores anteriormente inativos do Reino se habilitam, devem ser ajudados a participar na pregação, porque “com o coração se exerce fé para a justiça, mas com a boca se faz declaração pública para a salvação”. — Romanos 10:10.
Para aqueles que acham que não mais amam a Jeová, o caminho de volta para a vida piedosa pode ser longo e difícil. Todavia, o restabelecimento espiritual de Estêvão e de Diana são evidência de que pode haver uma mudança de coração. Sim, o restabelecimento é possível pela operação do espírito de Jeová, pela aplicação da sua Palavra e pela renovada cooperação com a sua organização. Esperamos e oramos sinceramente que tais pessoas possam ser ajudadas a se alegrar novamente com a adoração e serviço sagrado de Jeová, como aqueles que de todo o coração amam a Jeová. — Marcos 12:30; 1 Coríntios 13:8; 3 João 1-4.