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A integridade dos cristãos primitivos posta à provaA Sentinela — 1958 | 15 de julho
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A Integridade dos Cristãos Primitivos Posta à Prova
JESUS declarou uma verdade que vem sendo demonstrada diariamente, quando disse: “Sé vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas como não sois do mundo, antes vos escolhi eu do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece.” (João 15:19) Embora muitos cristãos professos não apreciem o significado destas palavras, os verdadeiros cristãos têm-no avaliado até os nossos dias. (2 Tim. 3:12) Nunca se uniram à filosofia materialista que governa não somente a vida social e política deste mundo, mas também a religiosa. Em vez de depositarem a sua confiança nos homens, olham para “a cidade que tem os fundamentos, cujo arquiteto e edificador é Deus”. A adoração que prestam a Deus não depende da posse de ajudas para a devoção, feitas pelo homem, mas ‘adoram o Pai em espírito e em verdade’. — Heb 11:10; João 4:23.
O cristianismo primitivo espalhou-se rapidamente, e, à medida que “isto acontecia, veio a perseguição, exatamente como Jesus predissera. “Havia muitas razões que levavam a populaça a odiar os cristãos, a quem, antes de tudo, consideravam antipatriotas. Embora entre os romanos fôsse a maior honra ter os privilégios da cidadania romana, os cristãos anunciavam que eram cidadãos do céu. Esquivaram-se dos cargos públicos e do serviço militar”, 1 mantendo sua Integridade como soldados de Cristo. (2 Tim. 2:3) Além disto, seus opositores os tachavam de ‘odiadores da humanidade’ e anarquistas, porque não participavam das atividades sociais e políticas da comunidade.2 Sabiam que, a fim de sua adoração ser aceitável a Deus, tinham de ‘guardar-se a si mesmos isentos da corrupção do mundo’. — Tia. 1:27.
A princípio, o irrompimento da oposição foi instigado pelos pastores religiosos locais, os quais temiam a perda de influência e de lucros. “Os cristãos eram odiados pelos idólatras, e sofriam inumeráveis injustiças e atrocidades às mãos da populaça, mesmo quando não havia perseguição da parte do govêrno. . . . O mero fato de a pessoa ser cristão, não importando quão puro fôsse seu caráter, quão exemplar sua vida, expunha-a a toda indignidade que se possa conceber, da parte da populaça que adorava ídolos. Os magistrados locais, cedendo aos clamores dos amotinados, não forneciam proteção aos que eram acusados de ser discípulos de Jesus.”3 E, conforme está indicado no livro História Eclesiástica, de Mosheim, eram em geral os chefes religiosos os que instigavam à perseguição. “Tinha-se tornado costume comum perseguir os cristãos, e até mesmo matá-los, tantas vezes quantas os sacerdotes pagãos, ou a populaça sob a instigação dos sacerdotes, exigissem a destruição deles.”4
Não era difícil os chefes instigarem o povo, cuja mente estava saturada de superstições. O livro O Cristianismo e O Império Romano relata o seguinte acerca da sua crença: “Se ele negligenciasse a adoração das deidades locais, e — mais ainda — se fôsse desrespeitoso para com elas, quer em atos, quer em palavras, o deus ficaria irado, e sua maldição atingiria não somente o ofensor imediato, mas também os que o toleravam. Ainda mais, todo membro do Estado estava obrigado a promover o bem-estar dele, pela observância religiosa. Não podia deixar de cumprir seus deveres religiosos, assim como não podia deixar de pagar impostos.”5 Esta era a mentalidade dos romanos. Acreditavam supersticiosamente que fôsse vital impor a submissão em assuntos religiosos, ou destruir os ofensores. “Se o império tivesse sofrido qualquer calamidade recente, por uma peste, fome ou guerra fracassada; se o Tibre tivesse transbordado ou o Nilo não tivesse passado além das suas margens, ou se a terra tivesse tremido, ou se a ordem regular das estações tivesse ficado interrompida, os pagãos supersticiosos estavam convencidos de que os crimes e a irreverência dos cristãos, que eram poupados pela excessiva indulgência da parte do govêrno, tinham finalmente provocado a justiça divina.”6 De modo que o clamor do povo fazia com que muitos magistrados cedessem ao pedido: “Para os leões com os cristãos!”
AS AUTORIDADES PARTICIPAM NA PERSEGUIÇÃO
Quando Jesus disse: “Pagai, pois, de volta a César as coisas de César, mas a Deus as coisas de Deus”, êle estabeleceu claramente o princípio que governaria a relação dos cristãos com as autoridades civis. Eles são neutros. Não se insurgem em rebelião contra os governos, mesmo quando são perseguidos injustamente. Dão, porém, seu apoio ativo ao reino celestial de Deus. Por conseguinte, quando Jesus explicou a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo”, Pilatos não pôde achar falta nêle. — Mat. 22:21, NM; João 18:36.
Apesar do fato de os cristãos serem pessoas que cumpriam a lei, chegou o tempo em que o próprio imperador se uniu aos outros em acumular abusos sobre os cristãos. Havia-se alastrado o rumor de que Nero era responsável pelo incêndio de Roma. Empregando diabolicamente o desprêzo popular dos cristãos, fêz dêles bode expiatório, a fim de desviar a atenção de si próprio. Tácito é citado como relatando o que se seguiu: “Várias formas de escárnio foram adicionadas para aumentar a agonia mortal dêles. Cobertos de peles de animais selvagens, estavam destinados a morrer estraçalhados por cães, ou por serem pregados em cruzes, ou por serem incendiados e queimados depois do crepúsculo, como iluminação noturna. Nero ofereceu o seu próprio jardim para tal espetáculo, ... um sentimento de compaixão para com êles começou a surgir, à medida que os homens sentiam que êles estavam sendo imolados não para o proveito da Comunidade, mas para saciar a selvageria de um só homem.”1
Durante os reinados de Vespasiano e Tito, a oposição da parte do estado diminuiu, apenas para se renovar sob as instigações de Domiciano, por volta do fim do primeiro século.7 Diz-se que chegaram-lhe relatórios acêrca da crença cristã na volta de Cristo, no poder do Reino. Bem semelhante a Herodes, na ocasião do nascimento de Cristo, êle considerava isto uma ameaça, temendo que alguém reclamasse ser herdeiro do trono, e, portanto, investigou o assunto. Embora alguns fossem martirizados, nenhum edito geral foi emitido.3, 5
Contudo, em poucos anos, o rápido crescimento do cristianismo na Ásia Menor atraiu mais a atenção das autoridades. Plínio o Môço, procônsul naquela região, relatou o assunto ao Imperador Trajano. Isto resultou numa legislação oficial em forma de carta escrita por Trajano, em 112 E. C., que dizia a respeito dos cristãos: “Não se deve fazer uma busca deles. Se, realmente, forem acusados e provada fôr a sua culpabilidade, devem ser castigados, com esta restrição, porém, de que, se o acusado negar ser cristão, e tornar evidente que não o é, por invocar nossos deuses, seja ele . . . perdoado pelo seu arrependimento. Acusação anônima, de espécie alguma, deverá ser aceita’ na instauração de processos.”7
Os juízes ofereciam muitas vezes liberdade a seus prisioneiros com o aparentemente simples requisito de “lançar alguns grãos de incenso sobre o altar”. Os cristãos, seguindo o exemplo de Cristo, que não quis fazer um ato de adoração para com o Diabo, em proveito pessoal, mantiveram firmemente a sua integridade. Quando tal esforço da parte do tribunal não tinha efeito, eles empregavam o suborno, e então a vítima era torturada e “toda arte de crueldade era empregada para subjugar tal obstinação inflexível, e, segundo o parecer dos pagãos, criminosa”.6 Embora tal procedimento oficial continuasse em operação durante muitos anos, não se deve pensar que todos os casos fossem então manejados pelos tribunais e que se tivesse imposto completa restrição aos sacerdotes que desejavam oprimir os cristãos. Ao contrário, ainda conseguiam incitar as multidões nos jogos públicos a exigir a morte dos cristãos. Em adição, “estava no poder dos presidentes perseguir os cristãos com impunidade, sempre que o desejassem”.4
Os cristãos fiéis mantiveram com firmeza a sua integridade, permaneceram neutros quanto aos assuntos do mundo, obedecendo a todas as leis justas, mas reservavam a sua adoração exclusivamente a Jeová Deus. Roma deu destaque ao assunto por exigir que o estado fosse pôsto acima de Deus. “Os cristãos estavam expostos às penalidades pelo sacrilégio e pela alta traição, pelo sacrilégio por se recusarem a adorar os deuses do estado, pela alta traição por se recusarem a adorar o gênio do imperador, em quem a majestade do estado estava incorporada, com as ofertas costumeiras de vinho e incenso.”5 Mas os cristãos, tendo plena confiança em Jeová Deus, que possui o poder da vida, declararam terminantemente: “Precisamos obedecer a Deus como dominador, antes que aos homens.” (Atos 5:29, NM) Em virtude de não serem parte do mundo, os verdadeiros cristãos são odiados pelo mundo. Mas, porque mantêm a integridade para com o Deus Vivo, êle demonstrará seu amor por êles por conceder-lhes vida para toda a eternidade em que o servirão.
REFERÊNCIAS
1 The Great Events by Famous Historians, Vol. III, F. P. G. Guizot, pág. 246; F. W. Farrar, pág. 142.
2 On the Road to Civilization, A World History, 1937, Heckel e Sigman, págs. 237, 238.
3 The History of Christianity, por J. S. C. Abbott, págs. 238, 239, 255, 256.
4 Inatitutes of Ecclesiastical History, de Mosheim, Décima Segunda Edição, págs. 55-57.
5 Christianity and the Roman Empire, por W. E. Addis, págs. 54, 55, 59, 69.
6 History of Christianity, por Edward Gibbon, págs. 233-235.
7 Library of Biblical and Theological Literature, “History of the Christian Church”, de G. Crooks e J. Hurst, págs. 165168.
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Para dar um pouco de vida à igrejaA Sentinela — 1958 | 15 de julho
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Para Dar um Pouco de Vida à Igreja
Certa igreja em Manchester, Inglaterra, precisava de um pouco mais de vida. Revelando o que o pastor fazia, o jornal Sentinel, de Kamloops (Colúmbia Britânica), de 30 de setembro de 1957, disse: “No domingo, os pés batiam, e os membros da congregação balanceavam-se ao ritmo acelerado da música de igreja arranjada em tempo de jazz. ‘A música esta noite é um pouco fora do comum’, disse o Rev. A Gower-Jones, da Igreja Anglicana. Junto ao côro havia um tamborileiro, dois guitarristas, um violinista de jazz e o organista costumeiro da igreja, que tocavam os hinos em estilo de swing. ‘É difícil mudar a música na igreja’, disse o ministro, ‘mas se a igreja há de ter vida então devem fazer-se mudanças’.”
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