Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[Da enciclopédia Aid to Bible Understanding, edição de 1971, extraímos a matéria condensada que segue.]
JOÃO, AS CARTAS DE. [Continuação]
Três temas fundamentais
João lidou extensamente com três temas em especial, em sua primeira carta: o anticristo, o pecado, e o amor.
Quanto ao anticristo, falou de forma bem clara. Disse: “Estas coisas eu vos escrevo a respeito dos que estão tentando desencaminhar-vos.” (1 João 2:26) Tais homens negavam que Jesus Cristo era o Filho de Deus que tinha vindo na carne. Ele explicou que tais homens haviam estado na congregação, mas que tinham saído dela a fim de que pudesse ser demonstrado que não eram “dos nossos”. (2:19) Não eram da espécie dos leais e amorosos, que “tem fé para preservar viva a alma”, mas da espécie “dos que retrocedem para a destruição”. — Heb. 10:39.
Quanto ao pecado, alguns dos pontos destacados são: (1) que todos nós pecamos, e que aqueles que afirmam que não pecam não possuem a verdade, e estão fazendo Deus parecer mentiroso (1 João 1:8-10); (2) que todos devemos empenhar-nos na luta contra o pecado (2:1); (3) que Deus proveu um sacrifício propiciatório pelos pecados, por meio de Jesus Cristo, a quem possuímos como ajudador junto ao Pai (2:1; 4:10); (4) que aqueles que são cristãos verdadeiros não fazem do pecado um hábito; não continuam pecando, embora, às vezes, possam cometer um ato pecaminoso (2:1; 3:4-10; 5:18); (5) que existem duas espécies de pecado, a espécie que pode ser perdoada, e a espécie proposital e deliberada, que não é perdoável. — 5:16, 17.
Sobre o assunto do amor, João escreve mais livremente. Declara: (1) que Deus é amor (1 João 4:8, 16); (2) que Deus mostrou seu amor por deixar que seu Filho morresse como sacrifício propiciatório pelos nossos pecados, também, por fazer provisões, por meio de Cristo, para que seus ungidos se tornassem filhos de Deus (3:1; 4:10); (3) que o amor de Deus e de Cristo nos coloca sob a obrigação de mostrar amor a nossos irmãos (3:16; 4:11); (4) que o amor a Deus significa observarmos seus mandamentos (5:2, 3); (5) que o amor perfeito lança fora o medo, removendo as restrições à liberdade de palavra ou franqueza no falar para com Deus (4:17, 18); (6) que o amor aos irmãos não é apenas uma questão de palavras, mas de ações, dando-lhes as coisas que temos, se estiverem padecendo necessidade (3:17, 18); (7) que todo aquele que odeia seu irmão é um homicida simples (3:15); e (8) que os cristãos não devem amar o mundo nem as coisas que há nele. — 2:15.
ESBOÇO DO CONTEÚDO
I. Introdução: A realidade física da manifestação de Cristo na carne como a “palavra da vida” (1:1, 2)
II. Propósito da carta: Para que seus leitores tivessem “parceria conosco” e com o Pai e seu Filho, “para que a nossa alegria seja plena” (1:3, 4)
III. Ande na luz, e não na escuridão (1:5 a 2:29)
A. Deus é luz e em união com ele não existe escuridão (1:5, 6)
B. Se andarmos na luz, o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado (1:7)
C. Necessário o reconhecimento e a confissão dos pecados (1:8 a 2:2)
1. É mentiroso quem não reconhece seus pecados (1:8-10)
2. Jesus Cristo é ajudador e sacrifício propiciatório para “nossos pecados”, bem como para os do mundo inteiro (2:1, 2)
D. Aqueles que conhecem a Cristo observam seus mandamentos; em tais, o amor a Deus foi aperfeiçoado (2:3-6)
E. Odiar um irmão revela que pessoa não está na luz (2:7-11)
F. Elogiados vários membros da congregação cristã — crianças, moços e pais (2:12-14)
G. Amar o mundo não é amar ao Pai; mundo está passando (2:15-17)
H. Presença de anticristos prova que aquela é a última hora (compare com 2 Tessalonicenses 2:6-10); estes saíram, provando que “nem todos são dos nossos” (2:18-29)
IV. Filhos de Deus não praticam pecado (3:1-24)
A. Ungidos são agora filhos de Deus, com o tempo verão a Deus e serão como Ele (3:1-3)
B. Filhos de Deus e filhos do Diabo são identificados (3:4-18)
1. Filho do Diabo pratica pecado; pecadores originam-se do Diabo; Filho de Deus manifesto para desfazer as obras do Diabo (3:4-8)
2. Filho de Deus pratica justiça, e ama os outros, e não é como Caim, que matou seu irmão; “Sua semente reprodutiva”, em tal pessoa, impede-a de praticar o pecado (3:9-12)
3. Conflito com mundo, que odeia cristãos (3:13, 14)
4. Cristãos precisam amar seus irmãos; odiá-los é homicídio simples (3:15-18)
C. Devemos ter fé no nome de Jesus Cristo e franqueza no falar perante Deus, que conhece nosso coração (3:19-24)
V. Amem-se uns aos outros em união com Deus (4:1-21)
A. Prove as expressões inspiradas (4:1-3)
1. Quem confessa que Jesus Cristo veio na carne origina-se de Deus (4:2)
2. Quem não confessa isto é anticristo (4:3)
B. Os que são de Deus ouvem os Seus servos; os do mundo ouvem a expressão inspirada do erro do mundo (4:4-6)
C. Deus é amor; os que conhecem a Deus amam a Ele e aos seus próprios irmãos (4:7-21)
VI. Amor a Deus significa observar seus mandamentos (5:1-21)
A. Mandamentos de Deus não são pesados; segui-los conduz à conquista do (ou vitória sobre) mundo (5:1-4)
B. Fé em Jesus Cristo faz que pessoa o conquiste (5:5-12)
1. Três coisas, espírito, água e sangue, dão testemunho de Jesus Cristo como Filho de Deus (5:5-8)
2. O testemunho que Deus dá é o de que sua dádiva de vida eterna para seus ungidos é o seu Filho; portanto, é essencial ter fé no Filho (5:9-13)
C. Devemos ter fé de que, seja o que for que pedirmos, segundo a vontade de Deus, ele nos concederá (5:14, 15)
D. Podemos orar em favor dum irmão que pecou, exceto se for um pecado que incorra em morte (5:16, 17)
E. Quem é nascido de Deus não pratica o pecado; o mundo, contudo, jaz no poder do iníquo (5:18, 19)
F. O Filho de Deus forneceu aos fiéis a capacidade intelectual de obter conhecimento de Deus (5:20)
G. Os em união com Deus, “filhinhos”, devem evitar a idolatria (5:21)
SEGUNDA JOÃO
A segunda carta de João começa com as seguintes palavras: “O ancião, à senhora escolhida e aos filhos dela.” Assim, com jeito, João indicou que é o escritor. Era deveras um “ancião”, já tendo, por volta dessa época, cerca de 100 anos. Era também ancião no sentido do crescimento cristão, e era uma ‘coluna’ da congregação. (Gál. 2:9) Pedro usou uma expressão similar, referindo-se a si mesmo como “ancião”, em 1 Pedro 5:1.
Alguns imaginam que esta carta “à senhora escolhida” seja dirigida a uma das congregações cristãs, e que os filhos sejam filhos espirituais, os filhos da “irmã” (2 João V 13) sendo membros de outra congregação. Por outro lado, alguns sustentam a idéia de que a carta foi dirigida realmente a uma pessoa, talvez chamada Cyria (palavra grega para “senhora”).
Muitos dos pontos abordados por João em sua segunda carta são abreviações de idéias de sua primeira carta. Ele fala da verdade que permanece naqueles que realmente a conhecem, e da benignidade imerecida e da paz de Deus. Regozija-se de que alguns continuam a ‘andar na verdade’. Mostram amor uns aos outros e observam os mandamentos de Deus. No entanto, enganadores saíram pelo mundo afora, o anticristo negando que o Filho de Deus veio na carne. (Compare 2 João 7 com 1 João 4:3.) Nos versículos 10 e 11, amplia as instruções dadas em sua primeira carta, mostrando que medidas os membros da congregação devem tomar para com aqueles que se adiantam no ensino do Cristo, e que surgem com seus próprios ensinamentos ou os de homens. João ordena que não devemos cumprimentar a tais nem recebê-los no lar dum cristão.
ESBOÇO DO CONTEÚDO
I. Introdução: O “ancião” escreve, expressando o amor de todos os crentes pela “senhora escolhida” e os filhos dela (Vv 1-3)
II. Ande na verdade, mostrando amor, por obedecer os mandamentos de Deus (Vv 4-11)
A. João se regozija de que alguns dos filhos da senhora escolhida estejam andando na verdade e nos incentiva a mostrarmos amor uns aos outros (Vv 4-6)
B. Cuidado com enganadores, aqueles que se adiantam, não permanecendo no ensino do Cristo (Vv 7-9)
C. Tal enganador não deve ser recebido na casa da pessoa, nem ser cumprimentado, destarte evitando-se ter parte nas obras iníquas dele (Vv 10, 11)
III. Conclusão: O escritor espera visitá-los pessoalmente, e envia cumprimentos dos filhos de uma “irmã” da “senhora” (Vv 12, 13)
TERCEIRA JOÃO
A terceira carta do “ancião” era para Gaio, contendo saudações para outros da congregação. Foi escrita no estilo costumeiro de cartas. É tão semelhante, no estilo e na matéria, à primeira e à segunda cartas, que foi evidentemente escrita pela mesma pessoa, a saber, o apóstolo João. Não se tem certeza sobre quem era exatamente Gaio. Ao passo que há várias pessoas com este nome que são mencionadas nas Escrituras, este pode ter sido ainda um outro Gaio, visto que a carta foi escrita 30 anos ou mais depois das cartas de Paulo, de Pedro, de Tiago e de Judas.
João incentiva a hospitalidade cristã, e afirma que certo Diótrefes, que gostava de ocupar o primeiro lugar na congregação, não recebia com respeito as mensagens de João e de outras pessoas de responsabilidade, nem demonstrava qualquer respeito por outros representantes viajantes da primitiva congregação cristã. Ele até mesmo queria expulsar da congregação os que recebiam hospitaleiramente a tais irmãos. Assim sendo, João mencionou que, caso lá fosse pessoalmente, como esperava fazê-lo, ele corrigiria tais assuntos. (3 João Vv 9, 10) Elogia a Gaio certo irmão fiel, chamado Demétrio, que talvez tenha sido o portador da carta, instando com Gaio a que receba de forma hospitaleira aqueles que foram edificar as congregações cristãs.
ESBOÇO DO CONTEÚDO
I. Introdução: O ancião a Gaio, que anda na verdade (Vv 1-4)
II. Elogiado Gaio por mostrar hospitalidade aos irmãos que visitavam a congregação numa missão cristã (Vv 5-8)
A. Aconselhado a encaminhá-los em sua jornada com a mesma hospitalidade (Vv 6, 7)
B. Tal hospitalidade é uma obrigação cristã (V 8)
III. Diótrefes, ambicioso de ter uma posição, mostra desrespeito pela autoridade teocrática, e tenta expulsar aqueles que recebem com respeito os irmãos viajantes, o escritor mostra-se confiante de poder corrigir esses assuntos por meio duma visita pessoal (Vv 9, 10)
IV. Aconselhado Gaio a ser imitador do que é bom; mencionado Demétrio como alguém que obteve bom testemunho (Vv 11, 12)
V. Palavras finais de paz e de cumprimentos (Vv 13, 14)
Por todas as três cartas, vemos enfatizados a união cristã, o amor a Deus pela observância de seus mandamentos, evitar-se as trevas e andar-se na luz, mostrar-se amor aos irmãos e continuar-se a andar na verdade. Mesmo em sua velhice, este “ancião”, João, foi assim uma grande fonte de encorajamento e de fortalecimento para as congregações na Ásia Menor, e para todos os cristãos que lêem suas cartas. — Veja o livro “Toda a Escritura É Inspirada por Deus e Proveitosa”, pp. 245-249.
JUDAS, A CARTA DE. Uma carta inspirada das Escrituras Gregas Cristãs, escrita por Judas, irmão de Tiago, e, assim sendo, evidentemente também era um meio-irmão de Jesus Cristo. (Veja JUDAS N.º 4.) Dirigida “aos chamados que são amados em relação com Deus, o Pai, e preservados para Jesus Cristo”, esta carta geral evidentemente circulava entre todos os cristãos. — Judas 1.
Na época em que Judas escreveu sua carta se havia desenvolvido uma situação ameaçadora. Homens imorais e animalescos tinham penetrado furtivamente entre os cristãos, e estavam ‘transformando a benignidade imerecida de Deus em desculpa para a conduta desenfreada’. Por este motivo, Judas não escreveu, conforme tencionara originalmente, sobre a salvação que tinham em comum os cristãos chamados para o reino celeste de Deus. Antes, guiado pelo espírito de Deus, proveu exortações que ajudariam os co-crentes a enfrentar com êxito as influências corruptoras geradas dentro da congregação. Judas os admoestou a ‘travar uma luta árdua pela fé por resistirem às pessoas imorais, mantendo a adoração pura e a conduta excelente, e por ‘orarem com espírito santo’. (Judas 3, 4, 19-23) Baseando-se em exemplos tais como o dos anjos que pecaram, os habitantes de Sodoma e de Gomorra, Caim, Balaão e Corá, provou vigorosamente Judas que o julgamento de Jeová será executado sobre as pessoas ímpias, tão certamente como o foi sobre os anjos infiéis e os homens iníquos dos tempos antigos. Também expôs a degradação daqueles que tentavam macular os cristãos. — Judas 5-16, 19.
INFORMAÇÕES ÍMPARES
Embora breve, a carta de Judas contém informações que não são encontradas em nenhuma outra parte da Bíblia. Apenas ela menciona a disputa do arcanjo Miguel com o Diabo, para obter a posse do corpo de Moisés, e a profecia proferida por Enoque, séculos antes. (Judas 9, 14, 15) Não se sabe se Judas obteve tais informações por meio de revelação direta ou por um meio fidedigno de transmissão (seja oral, seja escrito). Se ocorreu esta última hipótese, isto talvez explique a presença duma referência similar à profecia de Enoque no livro apócrifo de Enoque (que se imagina tenha sido escrito provavelmente algum tempo durante o segundo e primeiro séculos A.E.C.). Uma fonte comum poderia ter fornecido a base para a declaração que consta da carta inspirada, bem como do livro apócrifo.
LOCAL E ÉPOCA DA ESCRITA
Provavelmente Judas escreveu sua carta na Palestina, visto não haver nenhum registro de ter alguma vez saído desta terra. É possível chegar-se a uma data aproximada dessa carta com base na evidência interna. Não ter Judas mencionado nem a vinda de Cestio Galo contra Jerusalém (66 E.C.), nem a queda daquela cidade diante dos romanos, sob Tito (70 E.C.), sugere que escreveu antes do ano 66 E.C. Caso mesmo uma parte da profecia de Jesus sobre a destruição de Jerusalém tivesse sido cumprida (Luc. 19:43, 44), Judas sem dúvida teria incluído esta execução do julgamento divino como outro exemplo admoestador. Visto que Judas, pelo que parece, citou a segunda carta de Pedro sobre os ridicularizadores que surgiriam no “último tempo” (compare 2 Pedro 3:3 com Judas 18), pode-se deduzir que tenha escrito sua carta depois disso, possivelmente em 65 E.C.
AUTENTICIDADE
O livro bíblico de Judas foi aceito como canônico pelos antigos catalogadores das Escrituras. Entre estes, do segundo ao quarto séculos E.C., achavam-se Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes, Eusébio, Cirilo de Jerusalém, Atanásio, Epifânio, Gregório Nazianzeno, Filástrio, Jerônimo e Agostinho. A carta também consta do Fragmento Muratoriano (c.170 E.C.)
[Continua]