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A lei do CristoA Sentinela — 1996 | 1.° de setembro
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A lei do Cristo
“[Estou] debaixo de lei para com Cristo.” — 1 CORÍNTIOS 9:21.
1, 2. (a) Como poderiam ter sido evitados muitos dos erros da humanidade? (b) O que deixou de aprender a cristandade da história do judaísmo?
“POVOS e governos nunca aprenderam nada da História, nem agiram segundo os princípios deduzidos dela.” Assim disse um filósofo alemão do século 19. De fato, o decurso da história humana tem sido descrito como “marcha de insensatez”, uma série de horríveis disparates e crises, muitos dos quais poderiam ter sido evitados se a humanidade tão-somente tivesse estado disposta a aprender de erros passados.
2 A mesma recusa de aprender de erros passados é destacada nesta consideração da lei divina. Jeová Deus substituiu a Lei mosaica por uma ainda melhor — a lei do Cristo. No entanto, os líderes da cristandade, que afirmam ensinar esta lei e viver segundo ela, deixaram de aprender algo da terrível insensatez dos fariseus. De forma que a cristandade tem deturpado a lei do Cristo e abusado dela, assim como o judaísmo fizera com a Lei de Moisés. Como se deu isso? Consideremos primeiro esta lei do Cristo — o que ela é, a quem e como ela governa, e o que a distingue da Lei mosaica. Depois examinaremos como a cristandade tem abusado dela. Aprendamos assim algo da História e tiremos proveito dela!
O novo pacto
3. Que promessa fez Jeová com relação a um novo pacto?
3 Quem, senão Jeová Deus, poderia produzir algo melhor do que uma Lei perfeita? O pacto da Lei mosaica era perfeito. (Salmo 19:7) Apesar disso, Jeová prometeu: “Eis que vêm dias . . . e eu vou concluir um novo pacto com a casa de Israel e com a casa de Judá; não um igual ao pacto que concluí com os seus antepassados.” Os Dez Mandamentos — o núcleo da Lei mosaica — foram escritos em tábuas de pedra. Mas Jeová disse a respeito do novo pacto: “Vou pôr a minha lei no seu íntimo e a escreverei no seu coração.” — Jeremias 31:31-34.
4. (a) Qual o Israel que está envolvido no novo pacto? (b) Quem mais, além dos israelitas espirituais, está sob a lei do Cristo?
4 Quem seria aceito nesse novo pacto? Por certo não “a casa de Israel” literal, que havia rejeitado o Mediador deste pacto. (Hebreus 9:15) Não, esse novo “Israel” seria o “Israel de Deus”, uma nação de israelitas espirituais. (Gálatas 6:16; Romanos 2:28, 29) A este pequeno grupo de cristãos ungidos com o espírito se juntaria mais tarde “uma grande multidão” de pessoas de todas as nações, que também procurariam adorar a Jeová. (Revelação [Apocalipse] 7:9, 10; Zacarias 8:23) Embora estas não estivessem incluídas no novo pacto, também estariam sujeitas a uma lei. (Note Levítico 24:22; Números 15:15.) Como “um só rebanho” debaixo de “um só pastor”, todos estariam “debaixo de lei para com Cristo”, conforme escreveu o apóstolo Paulo. (João 10:16; 1 Coríntios 9:21) Paulo chamou este novo pacto de ‘pacto melhor’. Por quê? Porque, em primeiro lugar, se baseia em promessas já cumpridas, em vez de em sombras de coisas vindouras. — Hebreus 8:6; 9:11-14.
5. Qual é o objetivo do novo pacto e por que será bem-sucedido?
5 Qual é o objetivo deste pacto? É produzir uma nação de reis e de sacerdotes para abençoar toda a humanidade. (Êxodo 19:6; 1 Pedro 2:9; Revelação 5:10) O pacto da Lei mosaica nunca produziu esta nação no mais pleno sentido, porque Israel, como um todo, rebelou-se e perdeu assim a sua oportunidade. (Note Romanos 11:17-21.) O novo pacto, porém, com certeza será bem-sucedido, porque é associado com um tipo bem diferente de lei. Diferente em que sentido?
A lei que pertence à liberdade
6, 7. De que forma oferece a lei do Cristo muito mais liberdade do que a Lei mosaica?
6 A lei do Cristo é repetidas vezes associada com a liberdade. (João 8:31, 32) É chamada de “lei dum povo livre” e “lei perfeita que pertence à liberdade”. (Tiago 1:25; 2:12) Naturalmente, toda a liberdade entre os humanos é relativa. Ainda assim, esta lei oferece muito mais liberdade do que sua predecessora, a Lei mosaica. De que forma?
7 Em primeiro lugar, ninguém nasce sob a lei do Cristo. Fatores tais como raça e lugar de nascimento são irrelevantes. Os verdadeiros cristãos escolhem livremente, de coração, aceitar o jugo da obediência a esta lei. Procedendo assim, descobrem que o jugo é benévolo, uma carga leve. (Mateus 11:28-30) Afinal, a Lei mosaica destinava-se também a ensinar ao homem que ele é pecador e tem grande necessidade dum sacrifício resgatador para ser remido. (Gálatas 3:19) A lei do Cristo ensina que o Messias já veio, que já pagou o preço do resgate com a sua vida e abriu o caminho para sermos libertados da terrível opressão do pecado e da morte! (Romanos 5:20, 21) Para sermos beneficiados com isso, temos de “exercer fé” nesse sacrifício. — João 3:16.
8. O que está incluído na lei do Cristo, mas por que viver segundo ela não requer que se guardem na memória centenas de estatutos jurídicos?
8 “Exercer fé” envolve viver segundo a lei do Cristo. Inclui obedecer a todos os mandamentos de Cristo. Significa isso guardar na memória centenas de leis e estatutos? Não. Ao passo que Moisés, o mediador do antigo pacto, assentou a Lei mosaica por escrito, Jesus, o Mediador do novo pacto, nunca escreveu nem uma única lei. Em vez disso, ele viveu essa lei. Por seu modo de vida perfeito, ele forneceu um modelo a ser seguido por todos. (1 Pedro 2:21) Talvez fosse por isso que a adoração dos primeiros cristãos era chamada de “O Caminho”. (Atos 9:2; 19:9, 23; 22:4; 24:22) Para eles, a lei do Cristo estava exemplificada na vida do Cristo. Imitar a Jesus significava obedecer a esta lei. O intenso amor que tinham a ele significava que esta lei estava mesmo escrita no seu coração, conforme profetizado. (Jeremias 31:33; 1 Pedro 4:8) E aquele que é obediente por amor nunca se sente oprimido — o que é outro motivo pelo qual a lei do Cristo pode ser chamada de “lei dum povo livre”.
9. Qual é a própria essência da lei do Cristo e de que modo envolve esta lei um novo mandamento?
9 Se o amor foi importante na Lei mosaica, ele é a própria essência da lei cristã. De modo que a lei do Cristo inclui um novo mandamento — os cristãos devem ter amor abnegado uns para com os outros. Devem amar assim como Jesus amou; ele depôs voluntariamente sua vida a favor de seus amigos. (João 13:34, 35; 15:13) De modo que se pode dizer que a lei do Cristo é uma expressão ainda mais sublime de teocracia do que foi a Lei de Moisés. Conforme esta revista já salientou anteriormente: “A teocracia é o governo de Deus; Deus é amor; portanto, a teocracia é o governo exercido por amor.”
Jesus e os fariseus
10. Como se contrastava o ensino de Jesus com o dos fariseus?
10 Assim, não surpreende que Jesus entrasse em conflito com os líderes religiosos dos seus dias. A “lei perfeita que pertence à liberdade” estava muito longe da idéia dos escribas e dos fariseus. Eles procuravam controlar o povo por meio de regulamentos estabelecidos por homens. Seu ensino tornou-se opressivo, condenatório e negativo. O ensino de Jesus, em nítido contraste, era extremamente edificante e positivo! Ele era prático, e tratava das necessidades e dos interesses reais das pessoas. Ensinava de forma simples e com genuíno sentimento, usando ilustrações da vida diária e recorrendo à autoridade da Palavra de Deus. Por isso, “as multidões ficaram assombradas com o seu modo de ensinar”. (Mateus 7:28) Deveras, o ensino de Jesus tocava-lhes o coração!
11. Como demonstrou Jesus que a Lei mosaica deveria ter sido aplicada com razoabilidade e misericórdia?
11 Em vez de acrescentar mais regulamentos à Lei mosaica, Jesus mostrou como os judeus deveriam ter aplicado esta Lei o tempo todo — com razoabilidade e misericórdia. Por exemplo, lembre-se da ocasião em que se dirigiu a ele uma mulher que padecia dum fluxo de sangue. Pela Lei mosaica, quem tocasse nela tornava-se impuro, de modo que ela não devia meter-se no meio duma multidão de pessoas! (Levítico 15:25-27) Mas ela estava tão desesperada de ser curada, que passou no meio da multidão e tocou na roupa exterior de Jesus. A hemorragia parou imediatamente. Será que ele a repreendeu por ter violado a Lei? Não; em vez disso, compreendeu a situação desesperada dela e demonstrou o maior preceito da Lei — o amor. Disse-lhe com empatia: “Filha, a tua fé te fez ficar boa. Vai em paz e fica curada da tua doença penosa.” — Marcos 5:25-34.
É permissiva a lei do Cristo?
12. (a) Por que não devemos presumir que Cristo seja permissivo? (b) Que demonstra que a criação de muitas leis leva à criação de muitas escapatórias?
12 Visto que a lei do Cristo “pertence à liberdade”, devemos então concluir que ela é permissiva, ao passo que os fariseus, com todas as suas tradições orais, pelo menos mantinham a conduta do povo dentro de limites estritos? Não. Os atuais sistemas jurídicos ilustram muitas vezes que, quanto mais leis há, tanto mais as pessoas encontram escapatórias para evadi-las.a Nos dias de Jesus, a multiplicidade dos regulamentos farisaicos incentivava a busca de uma escapatória, a realização perfunctória de obras despojadas de amor e o cultivo duma fingida fachada virtuosa para encobrir a corrupção interna. — Mateus 23:23, 24.
13. Por que resulta a lei do Cristo numa norma de conduta mais elevada do que qualquer código de leis por escrito?
13 A lei do Cristo, em contraste, não abriga tais atitudes. Na realidade, obedecer a uma lei que se baseia no amor a Jeová, e que é acatada por se imitar o amor abnegado que Cristo tinha pelos outros, resulta numa norma de conduta muito mais elevada do que seguir um código jurídico formal. O amor não procura escapatórias; ele impede que façamos coisas prejudiciais que algum código de lei talvez não proíba explicitamente. (Veja Mateus 5:27, 28.) Assim, a lei do Cristo nos induzirá a fazer algo a favor dos outros — mostrando generosidade, hospitalidade e amor — dum modo que nenhuma lei formal poderia obrigar-nos a fazer. — Atos 20:35; 2 Coríntios 9:7; Hebreus 13:16.
14. Que efeito teve sobre as congregações do primeiro século viverem elas pela lei do Cristo?
14 Ao ponto em que os membros das primeiras congregações cristãs viviam segundo a lei do Cristo, eles usufruíam um ambiente cordial, relativamente livre de atitudes rígidas, condenatórias e hipócritas, tão prevalecentes nas sinagogas daquela época. Os membros dessas novas congregações deveras devem ter achado que viviam segundo a “lei dum povo livre”!
15. Quais foram alguns dos esforços iniciais de Satanás para corromper a congregação cristã?
15 No entanto, Satanás estava ansioso para corromper a congregação por dentro, assim como havia corrompido a nação de Israel. O apóstolo Paulo advertiu que homens semelhantes a lobos ‘falariam coisas deturpadas’ e oprimiriam o rebanho de Deus. (Atos 20:29, 30) Ele teve de contender com judaizantes, que procuravam trocar a liberdade relativa da lei do Cristo pela escravização à Lei mosaica, que já fora cumprida em Cristo. (Mateus 5:17; Atos 15:1; Romanos 10:4) Depois do falecimento do último apóstolo, não havia mais quem restringisse essa apostasia. Assim passou a prevalecer a corrupção. — 2 Tessalonicenses 2:6, 7.
A cristandade profana a lei do Cristo
16, 17. (a) Que formas assumiu a corrupção na cristandade? (b) Como promoveram as leis da Igreja Católica um conceito deturpado sobre o sexo?
16 Assim como se deu com o judaísmo, a corrupção assumiu mais de uma forma na cristandade. Esta também caiu na armadilha de doutrinas falsas e de imoralidade. E os esforços dela para proteger seu rebanho contra influências externas muitas vezes mostraram-se corrosivos para o pouco que tinha sobrado da adoração pura. Passaram a proliferar leis rígidas e antibíblicas.
17 A Igreja Católica tem-se destacado em criar vastos conjuntos de leis eclesiásticas. Estas leis distorciam especialmente assuntos relacionados com o sexo. De acordo com o livro Sexuality and Catholicism (Sexualidade e Catolicismo), a Igreja assimilou a filosofia grega do estoicismo, que encarava todas as formas de prazer com suspeita. A igreja passou a ensinar que todo prazer sexual, incluindo o das relações maritais normais, é pecaminoso. (Contraste isso com Provérbios 5:18, 19.) Afirmava-se que o sexo era para a procriação, e nada mais. De modo que as leis da Igreja condenavam todas as formas de contracepção como pecado grave, exigindo às vezes muitos anos de penitência. Além disso, proibia-se que os sacerdotes se casassem, um edito que tem dado margem a muito sexo ilícito, até mesmo a abusos praticados contra crianças. — 1 Timóteo 4:1-3.
18. Qual foi o resultado da multiplicação das leis eclesiásticas?
18 Ao passo que as leis eclesiásticas se multiplicavam, elas eram compiladas em livros. Estes passaram a obscurecer e a substituir a Bíblia. (Note Mateus 15:3, 9.) O catolicismo, do mesmo modo que o judaísmo, desconfiava de escritos seculares e considerava grande parte deles uma ameaça. Este conceito logo foi muito além das cautelas sensatas da Bíblia no assunto. (Eclesiastes 12:12; Colossenses 2:8) Jerônimo, escritor eclesiástico do quarto século EC, exclamou: “Senhor, se alguma vez eu estiver de posse de livros mundanos e os ler, eu te terei negado.” Com o tempo, a Igreja passou a censurar livros — mesmo os sobre assuntos seculares. Assim, o astrônomo Galileu, do século 17, foi censurado por escrever que a Terra gira em torno do sol. A insistência da Igreja, de ela ser a autoridade derradeira em tudo — mesmo em questões de astronomia — a longo prazo servia para minar a fé na Bíblia.
19. Como promoveram os mosteiros um autoritarismo rígido?
19 O estabelecimento de regras pela Igreja florescia nos mosteiros, em que os monges se isolavam deste mundo para viver em abnegação. A maioria dos mosteiros católicos aderiu à “Regra de São Bento”. O abade (termo derivado da palavra aramaica para “pai”) dominava ali com autoridade absoluta. (Note Mateus 23:9.) Quando um monge recebia um presente dos pais, o abade decidia se esse monge ou outro deveria recebê-lo. Além de condenar vulgaridades, uma regra proibia toda a conversa banal e piadas, dizendo: “Nenhum discípulo deve falar coisas assim.”
20. O que revela que o protestantismo também tornou-se hábil em promover o autoritarismo antibíblico?
20 O protestantismo, que tentou reformar os excessos antibíblicos do catolicismo, logo também ficou hábil em promover regras autoritárias, sem qualquer base na lei do Cristo. Por exemplo, João Calvino, reformador de destaque, chegou a ser chamado de “o legislador da Igreja renovada”. Ele governou Genebra com uma multidão de regras severas, impostas por “anciãos”, cujo “cargo”, observou Calvino, “é supervisionar a vida de todos”. (Contraste isso com 2 Coríntios 1:24.) A igreja controlava as estalagens e regulamentava os tópicos de conversa permissíveis. Impunham-se pesadas penalidades por ofensas tais como canções frívolas e danças.b
O que se aprende dos erros da cristandade
21. Qual tem sido o efeito geral da tendência da cristandade de ‘ir além das coisas que estão escritas’?
21 Será que todas essas regras e leis funcionaram para proteger a cristandade contra a corrupção? Bem ao contrário! Atualmente, a cristandade está dividida em centenas de seitas, desde as excessivamente estritas até as crassamente permissivas. Todas elas, de uma ou de outra forma, ‘foram além das coisas que estão escritas’, permitindo que o pensamento humano governasse o rebanho e interferisse na lei divina. — 1 Coríntios 4:6.
22. Por que não significa que a lei do Cristo acabou só porque a cristandade a abandonou?
22 No entanto, a história da lei do Cristo não acaba em tragédia. Jeová Deus nunca permitirá que meros humanos eliminem a lei divina. A lei cristã está hoje em vigor entre os verdadeiros cristãos, e estes têm o grande privilégio de viver segundo ela. Mas, depois de examinar o que o judaísmo e a cristandade têm feito com a lei divina, talvez nos perguntemos: ‘Como podemos viver segundo a lei do Cristo e ao mesmo tempo evitar a armadilha de deturpar a Palavra de Deus com raciocínios e regras humanos, que minam o próprio espírito da lei divina? Que conceito equilibrado deve a lei do Cristo incutir hoje em nós?’ O artigo que se segue tratará destas questões.
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Vivemos segundo a lei do CristoA Sentinela — 1996 | 1.° de setembro
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Vivemos segundo a lei do Cristo
“Prossegui em levar os fardos uns dos outros e cumpri assim a lei do Cristo.” — GÁLATAS 6:2.
1. Por que se pode dizer que a lei do Cristo é hoje uma tremenda força em prol do bem?
EM Ruanda, Testemunhas de Jeová das tribos hutu e tutsi arriscaram a vida para proteger-se mutuamente contra a matança étnica que recentemente assolou aquele país. As Testemunhas de Jeová em Kobe, no Japão, que perderam membros da família no devastador terremoto, ficaram abaladas com a perda. No entanto, agiram prontamente para socorrer outras vítimas. Deveras, exemplos animadores de todas as partes do mundo demonstram que a lei do Cristo está em vigor hoje. É uma tremenda força em prol do bem.
2. Por que não entendeu a cristandade a lei do Cristo, e como cumprimos nós esta lei?
2 Ao mesmo tempo cumpre-se uma profecia bíblica a respeito dos “últimos dias” críticos em que vivemos. Muitos têm “uma forma de devoção piedosa”, no entanto ‘mostram-se falsos para com o seu poder’. (2 Timóteo 3:1, 5) A religião, especialmente na cristandade, muitas vezes é apenas uma questão de formalidade, não algo de coração. Dá-se isso porque é difícil demais viver segundo a lei do Cristo? Não. Jesus não nos daria uma lei que não pudesse ser seguida. A cristandade simplesmente não entendeu essa lei. Ela deixou de acatar as seguintes palavras inspiradas: “Prossegui em levar os fardos uns dos outros e cumpri assim a lei do Cristo.” (Gálatas 6:2) Nós ‘cumprimos a lei do Cristo’ por levar os fardos uns dos outros, não por imitar os fariseus, aumentando injustificadamente a carga de nossos irmãos.
3. (a) Quais são alguns dos mandamentos incluídos na lei do Cristo? (b) Por que seria errado concluir que a congregação cristã não deve ter regras além dos mandamentos diretos de Cristo?
3 A lei do Cristo inclui todos os mandamentos de Cristo Jesus — quer os de pregar e ensinar, manter os olhos puros e singelos, esforçar-se a manter a paz com nosso próximo, quer o de eliminar impurezas da congregação. (Mateus 5:27-30; 18:15-17; 28:19, 20; Revelação [Apocalipse] 2:14-16) Deveras, os cristãos têm a obrigação de cumprir todos os mandamentos na Bíblia, dirigidos aos seguidores de Cristo. E há mais envolvido. A organização de Jeová, bem como as congregações individuais, têm de estabelecer as regras e os procedimentos necessários para manter a boa ordem. (1 Coríntios 14:33, 40) Ora, os cristãos nunca poderiam nem mesmo reunir-se se não tivessem regras sobre quando, onde e como realizar essas reuniões! (Hebreus 10:24, 25) Cooperar com orientações razoáveis, estabelecidas por aqueles que receberam autoridade para isso na organização, também faz parte do cumprimento da lei do Cristo. — Hebreus 13:17.
4. Qual é a força impelente por detrás da adoração pura?
4 No entanto, os verdadeiros cristãos não permitem que sua adoração se torne uma estrutura de leis sem sentido. Não servem a Jeová apenas porque alguém ou uma organização os manda fazer isso. Antes, a força impelente por detrás da sua adoração é o amor. Paulo escreveu: “O amor do Cristo nos compele.” (2 Coríntios 5:14, nota, NM com Referências) Jesus ordenou aos seus seguidores que se amassem uns aos outros. (João 15:12, 13) O amor abnegado é a base da lei do Cristo, e compele ou motiva os verdadeiros cristãos em toda a parte, quer na família, quer na congregação. Vejamos como o faz.
Na família
5. (a) Como podem os pais cumprir a lei do Cristo em casa? (b) O que precisam os filhos receber dos pais, e que obstáculos precisam alguns pais vencer para dar-lhes isso?
5 O apóstolo Paulo escreveu: “Maridos, continuai a amar as vossas esposas, assim como também o Cristo amou a congregação e se entregou por ela.” (Efésios 5:25) Quando o marido imita a Cristo e trata a esposa com amor e compreensão, ele satisfaz um aspecto vital da lei do Cristo. Além disso, Jesus mostrou ter afeto especial por crianças pequenas, abraçando-as, pondo as mãos nelas e abençoando-as. (Marcos 10:16) Os pais que cumprem a lei do Cristo também mostram afeto pelos filhos. É verdade que há pais que acham difícil imitar o exemplo de Jesus neste respeito. Alguns por natureza não são expansivos. Pais, não permitam que considerações assim os impeçam de mostrar aos filhos o amor que sentem por eles! Não basta que vocês saibam que amam os filhos. Eles também precisam saber disso. E não o saberão a menos que vocês encontrem meios de mostrar seu amor. — Note Marcos 1:11.
6. (a) Precisam os filhos de regras estabelecidas pelos pais, e por que responde assim? (b) Que motivo básico para as regras domésticas precisam os filhos entender? (c) Que perigos se evitam quando a lei do Cristo prevalece na família?
6 Ao mesmo tempo, os filhos precisam de restrições, o que significa que os pais têm de estabelecer regras e às vezes impô-las pela disciplina. (Hebreus 12:7, 9, 11) Mesmo assim, é preciso ajudar os filhos progressivamente a entender o motivo básico dessas regras: que os pais os amam. E eles têm de aprender que o amor é o melhor motivo para serem obedientes aos pais. (Efésios 6:1; Colossenses 3:20; 1 João 5:3) O objetivo dos pais que usam de discernimento é ensinar aos filhos usarem sua “faculdade de raciocínio” para por fim poderem tomar boas decisões por conta própria. (Romanos 12:1; note 1 Coríntios 13:11.) Por outro lado, não deve haver regras demais, nem disciplina muito dura. Paulo diz: “Vós, pais, não estejais exasperando os vossos filhos, para que não fiquem desanimados.” (Colossenses 3:21; Efésios 6:4) Quando a lei do Cristo prevalece na família, não se aplica disciplina com ira descontrolada ou sarcasmo prejudicial. Num lar assim, os filhos se sentem seguros e edificados, não sobrecarregados ou arrasados. — Note Salmo 36:7.
7. Em que sentido podem os lares de Betel servir de exemplo no que se refere a estabelecer regras no lar?
7 Alguns dos que visitaram lares de Betel ao redor do mundo dizem que esses são bons exemplos de equilíbrio na questão de regras para a família. Embora essas instituições sejam de adultos, funcionam como famílias.a As atividades em Betel são complexas e requerem um certo número de regras — certamente mais do que na família comum. Não obstante, os anciãos que tomam a dianteira em Betel — nos lares, nos escritórios e nas atividades da gráfica — esforçam-se a aplicar a lei do Cristo. Acham que sua designação não é só organizar o trabalho, mas também promover o progresso espiritual e “o regozijo de Jeová” entre os seus colegas de trabalho. (Neemias 8:10) Por isso, esforçam-se a fazer as coisas de modo positivo e encorajador, e fazem questão de ser razoáveis. (Efésios 4:31, 32) Não é de admirar que as famílias de Betel sejam conhecidas pelo seu espírito alegre!
Na congregação
8. (a) Qual deve ser sempre nosso objetivo na congregação? (b) Em que situações têm alguns pedido regras ou têm tentado estabelecê-las?
8 Também na congregação, nosso objetivo é edificar uns aos outros no espírito de amor. (1 Tessalonicenses 5:11) Portanto, todos os cristãos precisam ter cuidado para não sobrecarregar outros por presumir que podem impor-lhes suas próprias idéias em questões de escolha pessoal. Às vezes, alguns escrevem à Sociedade Torre de Vigia pedindo regras em assuntos tais como qual o conceito que devem adotar para com certos filmes, livros e até brinquedos. No entanto, a Sociedade não tem autorização para examinar minuciosamente tais assuntos e emitir critérios sobre eles. Na maioria dos casos, trata-se de assuntos que cada pessoa ou chefe de família deve decidir, baseado no seu amor aos princípios bíblicos. Outros têm a tendência de transformar as sugestões e orientações da Sociedade em regras. Por exemplo, no número de 15 de março de 1996 de A Sentinela, publicou-se um bom artigo que incentivava os anciãos a fazer visitas regulares de pastoreio a todos os membros da congregação. Será que o objetivo foi o de estabelecer regras? Não. Embora aqueles que possam seguir essas sugestões irão obter muitos benefícios, alguns anciãos não estão em condições de fazer isso. De modo similar, o artigo “Perguntas dos Leitores” no número de 1.º de abril de 1995 de A Sentinela acautelou contra detrair da dignidade da ocasião do batismo por se ir a extremos, tais como festanças ou celebrações de vitória. Alguns têm levado este conselho maduro a extremos, estabelecendo até mesmo a regra de que enviar um cartão animador nesta ocasião seria errado!
9. Por que é importante que evitemos ser críticos e condenatórios demais uns dos outros?
9 Considere também que, se há de prevalecer no nosso meio “a lei perfeita que pertence à liberdade”, temos de reconhecer que nem todos os cristãos têm uma consciência idêntica. (Tiago 1:25) Devemos criar caso quando alguém faz escolhas pessoais que não violam princípios bíblicos? Não. Isso causaria divisões. (1 Coríntios 1:10) Quando Paulo nos advertiu contra julgar um concristão, ele disse: “Para o seu próprio amo está em pé ou cai. Deveras, far-se-á que ele fique em pé, pois Jeová pode fazê-lo ficar em pé.” (Romanos 14:4) Arriscamo-nos a desagradar a Jeová se falarmos um contra o outro sobre assuntos que devem ficar entregues à consciência de cada um. — Tiago 4:10-12.
10. Quem é designado para cuidar da congregação, e como devemos apoiá-los?
10 Lembremo-nos, também, de que os anciãos são designados para cuidar do rebanho de Deus. (Atos 20:28) Estão ali para ajudar. Devemos sentir-nos à vontade para nos dirigir a eles em busca de conselho, porque são estudantes da Bíblia e conhecem o que tem sido considerado nas publicações da Sociedade Torre de Vigia. Quando os anciãos observam uma conduta que poderia levar à violação de princípios bíblicos, oferecem destemidamente o conselho necessário. (Gálatas 6:1) Os membros das congregações seguem a lei do Cristo por cooperar com esses queridos pastores, que tomam a dianteira no seu meio. — Hebreus 13:7.
Os anciãos aplicam a lei do Cristo
11. Como aplicam os anciãos a lei do Cristo na congregação?
11 Os anciãos estão desejosos de cumprir a lei do Cristo na congregação. Tomam a dianteira na pregação das boas novas, ensinam à base da Bíblia para tocar corações, e, sendo pastores amorosos e gentis, conversam com as “almas deprimidas”. (1 Tessalonicenses 5:14) Evitam as atitudes não-cristãs existentes em tantas das religiões da cristandade. É verdade que este mundo está degenerando rapidamente, e os anciãos, assim como Paulo, sentem ansiedade pelo rebanho; mas eles mantêm o equilíbrio ao cuidarem de tais preocupações. — 2 Coríntios 11:28.
12. Quando um cristão se chega a um ancião em busca de ajuda, como pode o ancião responder?
12 Por exemplo, o cristão talvez queira consultar um ancião sobre um assunto importante que não é abrangido por alguma referência bíblica, direta, ou que requer equilibrar diferentes princípios cristãos. Talvez tenha recebido a oferta duma promoção no trabalho, com salário aumentado, mas com responsabilidades maiores. Ou o pai descrente dum jovem cristão talvez faça ao filho exigências que poderiam afetar seu ministério. Em situações assim, o ancião se refreia de dar a sua opinião pessoal. Em vez disso, ele provavelmente abrirá a Bíblia e ajudará a pessoa a raciocinar sobre os princípios relacionados. Poderá usar o Índice das Publicações da Torre de Vigia, se estiver disponível, para verificar o que “o escravo fiel e discreto” disse sobre o assunto nas páginas de A Sentinela e de outras publicações. (Mateus 24:45) Mas o que se faz quando o cristão depois toma uma decisão que ao ancião não parece sábia? Se a decisão não violar diretamente princípios ou leis bíblicas, o cristão verá que o ancião reconhece que a pessoa tem o direito de tomar tal decisão, sabendo que “cada um levará a sua própria carga”. No entanto, o cristão deve lembrar-se de que, “o que o homem semear, isso também ceifará”. — Gálatas 6:5, 7.
13. Em vez de os anciãos darem respostas diretas a perguntas ou darem sua própria opinião, por que ajudam eles a outros a raciocinar sobre os assuntos?
13 Por que é que o ancião experiente age assim? Pelo menos por dois motivos. Primeiro, Paulo disse a uma congregação que ele não era ‘o amo de sua fé’. (2 Coríntios 1:24) Ao ajudar seu irmão a raciocinar à base das Escrituras e a tomar sua própria decisão informada, o ancião está imitando a atitude de Paulo. Reconhece que sua autoridade tem limites, assim como Jesus reconheceu que havia limites para a autoridade dele. (Lucas 12:13, 14; Judas 9) Ao mesmo tempo, os anciãos dão prontamente conselho bíblico prestimoso, mesmo forte, sempre que necessário. Segundo, o ancião está treinando seu concristão. O apóstolo Paulo disse: “O alimento sólido . . . é para as pessoas maduras, para aqueles que pelo uso têm as suas faculdades perceptivas treinadas para distinguir tanto o certo como o errado.” (Hebreus 5:14) Portanto, para nos tornarmos maduros, temos de usar nossas próprias faculdades perceptivas, não esperando sempre que alguém nos forneça as respostas. O ancião, por mostrar ao concristão como raciocinar à base das Escrituras, o ajuda assim a progredir.
14. Como podem os que são maduros mostrar que confiam em Jeová?
14 Podemos ter fé em que Jeová Deus, por meio do seu espírito santo, influencie o coração dos verdadeiros adoradores. De modo que os cristãos maduros apelam para o coração dos seus irmãos, suplicando-os, assim como fez o apóstolo Paulo. (2 Coríntios 8:8; 10:1; Filêmon 8, 9) Paulo sabia que são principalmente os injustos, não os justos, que precisam de leis pormenorizadas para mantê-los na linha. (1 Timóteo 1:9) Não expressou suspeita ou desconfiança, mas fé nos irmãos. Escreveu a uma congregação: “Temos confiança no Senhor, quanto a vós.” (2 Tessalonicenses 3:4) A fé, a crença e a confiança que Paulo tinha nesses cristãos certamente contribuíram muito para motivá-los. Os anciãos e os superintendentes viajantes têm hoje objetivos similares. Como são animadores esses homens fiéis, ao passo que pastoreiam amorosamente o rebanho de Deus! — Isaías 32:1, 2; 1 Pedro 5:1-3.
Vivamos segundo a lei do Cristo
15. Quais são algumas das perguntas que podemos fazer a nós mesmos para ver se aplicamos a lei do Cristo no relacionamento com os nossos irmãos?
15 Todos nós precisamos examinar regularmente a nós mesmos para ver se vivemos segundo a lei do Cristo e se a promovemos. (2 Coríntios 13:5) Na realidade, todos podemos tirar proveito por perguntar: ‘Sou edificante ou crítico? Tenho equilíbrio ou vou a extremos? Tenho consideração para com os outros ou insisto nos meus próprios direitos?’ O cristão não procura ditar o que seu irmão deve ou não deve fazer em assuntos não especificamente abrangidos na Bíblia. — Romanos 12:1; 1 Coríntios 4:6.
16. Como podemos ajudar aqueles que têm conceitos negativos sobre si mesmos, cumprindo assim um aspecto vital da lei do Cristo?
16 Nos atuais tempos críticos, é importante que procuremos meios de encorajar-nos uns aos outros. (Hebreus 10:24, 25; note Mateus 7:1-5.) Quando olhamos para nossos irmãos e nossas irmãs, não significam suas boas qualidades muito mais para nós do que suas fraquezas? Cada um é precioso para Jeová. Infelizmente, nem todos pensam assim, nem mesmo sobre si mesmos. Muitos têm a tendência de ver apenas suas próprias falhas e imperfeições. Para animar a tais — e a outros — será que podemos tentar conversar com uma ou duas pessoas em cada reunião, deixando-as saber por que damos valor à sua presença e à contribuição importante que fazem na congregação? Que alegria é aliviar assim o fardo delas e cumprir a lei do Cristo! — Gálatas 6:2.
A lei do Cristo em operação!
17. De que maneiras diferentes vê você a lei do Cristo operando na sua congregação?
17 A lei do Cristo está em operação na congregação cristã. Observamos isso diariamente — quando as Testemunhas transmitem animadamente as boas novas, quando se consolam e encorajam umas às outras, quando lutam para servir a Jeová apesar dos problemas mais difíceis, quando os pais se esforçam a criar os filhos para amarem a Jeová de coração alegre, quando os superintendentes ensinam a Palavra de Deus com amor e cordialidade, incutindo no rebanho o zelo ardente de servirem a Jeová para sempre. (Mateus 28:19, 20; 1 Tessalonicenses 5:11, 14) Quando nós, pessoalmente, fazemos a lei do Cristo operar na nossa vida, como isso alegra o coração de Jeová! (Provérbios 23:15) Ele quer que todos os que amam a sua lei perfeita vivam para sempre. No vindouro Paraíso, veremos o tempo em que toda a humanidade será perfeita, sem haver violadores da lei, e quando todas as inclinações de nosso coração estarão sob controle. Que recompensa gloriosa por se viver segundo a lei do Cristo!
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