‘Jeová tem lidado comigo de modo recompensador’
Conforme narrado por Karl F. Klein
QUANTAS bênçãos maravilhosas há em conhecer e servir a Jeová! Ao rememorar as coisas, sinto-me como Davi, que disse: “Vou cantar a Jeová, pois lidou comigo de modo recompensador.” (Salmo 13:6) Ele deveras tem feito isso! Por exemplo, tenho o privilégio de fazer parte da equipe da sede das Testemunhas de Jeová, e tenho observado essa família crescer de cerca de 150 para mais de 3.000. Que bênção maravilhosa isso tem sido!
Todavia, mesmo antes de eu aprender a verdade, Deus já lidava comigo de modo recompensador. Minha mãe não só era muito submissa e abnegada, mas também sempre citava textos ao admoestar ou corrigir a nós, os filhos dela. Permita-me contar-lhe algo sobre aqueles dias do passado.
Começamos a Andar na Verdade
Meu primeiro contato com a verdade bíblica deu-se na primavera setentrional de 1917, quando achei um convite que anunciava um discurso sobre o inferno. Isto despertou vivo interesse em mim, pois parecia que eu sempre fazia o que era errado, e assim me preocupava bastante de ir para um inferno ardente ao morrer. Quando mostrei o convite a mamãe, ela me incentivou a ir, dizendo: “Mal não lhe fará, e talvez faça até algum bem.” Eu e Ted, um dos meus irmãos mais moços, fomos ouvir o discurso patrocinado pelos Estudantes da Bíblia, como eram conhecidas as Testemunhas de Jeová naqueles tempos. O orador, por meio das Escrituras e da lógica, mostrou de forma mui eficaz que a Bíblia não ensina um inferno de fogo. Tudo me parecia tão razoável que, ao voltar para casa, exclamei: “Mamãe, não existe inferno, e eu sei disso!” Ela concordou, acrescentando que o único “inferno” que havia era aqui mesmo na Terra, visto que ela própria havia sofrido bastante.
Haviam anunciado outro discurso para a tarde do domingo seguinte, mas ninguém conversou conosco, meninos de 11 e 10 anos. Depois de irmos à Escola Dominical e à igreja, naquela manhã, brincamos com outros meninos da vizinhança. Mas, tudo parecia não dar certo naquela tarde. Refletindo na gratificante experiência da semana anterior, eu disse para mim mesmo: “Karl, Deus está tentando dizer-lhe que você não devia querer divertir-se, mas devia ir ouvir outro daqueles excelentes discursos bíblicos.” Assim, eu e Ted fomos lá de novo, e, desta feita, os Estudantes da Bíblia conversaram conosco e instaram a que voltássemos no domingo seguinte. Concordamos, e temos comparecido às reuniões cristãs desde então. Rememorando o passado, é fácil ver como, com muita freqüência, Jeová me dava um leve puxão de orelha, por assim dizer, quando eu fazia algo que não devia. Tive de aprender que a vida não consiste em isto E aquilo, mas em isto OU aquilo.
Tudo isto aconteceu em Blue Island, um subúrbio de Chicago, Illinois, EUA. (Ao nascer, no sudoeste da Alemanha, eu era uma criança muito doentia, e, quando tinha cinco anos, nossa família emigrou para os Estados Unidos, e por fim, fixou-se naquela cidade.) Ali os Estudantes da Bíblia também mantinham estudos bíblicos no meio da semana, baseados no livro Tabernacle Shadows (Sombras do Tabernáculo). Comecei imediatamente a freqüentar estes estudos e achei-os interessantíssimos, em especial porque o dirigente utilizava um modelo do Tabernáculo para explicar tudo que era considerado. No entanto, levou algum tempo até que entendi a necessidade de escolher entre tais reuniões e a Igreja Metodista, onde há bem pouco tempo tinha recebido a confirmação.
Visto ser apenas um menino, e meus pais serem muito pobres, os Estudantes da Bíblia generosamente me forneceram todos os compêndios bíblicos necessários. Quanto me regozijei de aprender a verdade sobre a alma, a Trindade, o Reinado Milenar de Cristo, e assim por diante! Não demorou muito para que começasse a partilhar alegremente a distribuição de O Mensário dos Estudantes da Bíblia e das Notícias do Reino (ambas em inglês). Já na primavera setentrional de 1918, discerni o privilégio de fazer minha consagração, como se chamava então a dedicação, e de ser batizado. Em casa, isto não representava problema algum, pois mamãe demonstrava interesse no que eu aprendia, e papai, que era um pregador metodista já por 20 anos, estava agora viajando bastante. Ele só vinha para casa, por uns dias, umas três ou quatro vezes por ano.
Uma Prova do Amor Fraterno
Naqueles dias, disseram-nos: ‘Se quiser permanecer na verdade, leia os sete volumes dos Estudos das Escrituras de capa a capa todo ano.’ Naturalmente, eu queria permanecer na verdade, e, assim sendo, obediente que era, li cabalmente tais volumes todo ano, até que vim para Betel. Isto equivalia a ler dez páginas por dia, algo muito deleitoso, visto que tinha uma sede insaciável de conhecimento.
Pouco depois de meu batismo, em 1918, minha lealdade aos co-Estudantes da Bíblia foi posta à prova. Grassava a I Guerra Mundial, e, embora os irmãos mais destacados tivessem sido presos injustamente por causa da questão da guerra, os que estavam na liderança não avaliavam plenamente a necessidade da neutralidade cristã. Alguns que viam esta questão com clareza se ofenderam, e separaram-se dos Estudantes da Bíblia, chamando-se a si mesmos de Standfasters (Perseverantes). Eles me avisaram que, se permanecesse junto aos Estudantes da Bíblia, eu perderia a oportunidade de ser do “pequeno rebanho” dos seguidores ungidos de Jesus. (Lucas 12:32) Mamãe, embora não fosse dedicada ainda, ajudou-me a fazer a decisão certa. Não podia imaginar-me deixando aqueles com quem eu tanto aprendera, e, assim, decidi correr o risco, ficando com meus irmãos Estudantes da Bíblia. Este foi realmente um teste de lealdade. Desde então, tenho observado muitos outros testes similares de lealdade. Quando se cometem erros, os que não são inteiramente leais de coração parecem utilizar-se deles como desculpa para largarem tudo. — Compare com o Salmo 119:165.
De grande encorajamento para mim, em meus esforços de servir a Jeová, foi o congresso, em 1922, de Cedar Point [Ohio, EUA], dos Estudantes da Bíblia. Ali ouvimos J. F. Rutherford (então presidente da Sociedade Torre de Vigia, EUA) proferir a entusiástica convocação: “Anunciai, anunciai, anunciai, o Rei e seu reino.” Embora, desde o início, eu tivesse participado em várias formas de dar testemunho, foi nesse congresso que fui pela primeira vez de casa em casa, oferecendo publicações bíblicas à base duma contribuição. Isso me pareceu tão difícil!
Por causa disso, não participei de novo em tal testemunho de casa em casa senão no congresso de Columbus, Ohio, EUA, em 1924. Depois disso, havia pelo menos uma pessoa que participava nessa atividade regularmente em nossa congregação local. Desde então vim a avaliar com apreço quão vital é esse ministério, não só para se pregar as boas novas do Reino, mas também para fortalecer a fé da própria pessoa, e para o cultivo de todos os demais frutos do espírito. (Gálatas 5:22, 23) Não resta dúvida sobre isso: Participar regularmente no ministério de campo é, de muitas formas, recompensador para a pessoa.
“Na Terra de Betel, Tomarei Minha Posição!”
Os arranjos congregacionais eram um tanto diferentes naqueles tempos. Quando ainda era um simples adolescente, fui eleito ancião, dirigia o Estudo de Livro de Congregação, fazia arranjos para a vinda de oradores públicos de Chicago, e me certificava de que tais discursos fossem anunciados, tanto no jornal local, como por meio de convites. Depois do congresso de Columbus, Ohio, em 1924, vi abrir-se a oportunidade de fazer uma petição para servir na sede mundial do povo de Jeová. Há muito tempo eu havia fixado meu coração em tal serviço de Betel, mas súbita mudança das circunstâncias em casa fizeram parecer que esta não era a vontade de Jeová para mim. No entanto, isto foi apenas algo temporário, pois eu realmente vim para Betel em 23 de março de 1925.
Minha alegria era tão grande que, ao escrever para casa, parafraseei a música “Dixie” com as seguintes palavras: “Na Terra de Betel, tomarei minha posição, para viver e morrer na terra de Betel.” [Em versão livre.] Depois de 62 anos, ainda sinto o mesmo quanto a Betel. Alguns comentários, diga-se de passagem, parecem apropriados quanto ao modo como Jeová tem lidado comigo, vez após vez. Somente depois de me ter resignado a não ter algo muitíssimo desejado, se parecia não ser da vontade de Deus, é que eu o obtinha. Isto me fazia lembrar de Abraão ser testado quanto a estar disposto a desistir do filho, ‘a quem tanto amava’. — Gênesis 22:2.
No serviço de Betel, minha primeira atribuição foi trabalhar na sala de composição da gráfica da Sociedade, na Rua Concord, 18, Brooklyn, Nova Iorque. Não demorou muito, fui transferido para o porão, a fim de ajudar a operar “O Velho Encouraçado”, como era chamado afetuosamente uma rotativa da Sociedade daqueles dias. Usávamo-la para imprimir milhões de tratados. E, naquele tempo, cada uma de nossas duas revistas tinha uma tiragem de 30.000 exemplares. Atualmente, para cada edição, a tiragem média de A Sentinela é de 12.315.000, e de Despertai! é de 10.610.000 exemplares.
Quando jovem, tinha tomado lições de violino por dois anos. Assim, ao vir para Betel, ofereci-me a tocar na orquestra, que ensaiava duas noites por semana, e tocava nas manhãs de domingo, com transmissão pela estação de rádio da Sociedade, a WBBR. Verificando que era necessário um violoncelista, comprei um violoncelo e comecei a tomar aulas de música.a Em 1927, dez de nós fomos convidados a tocar por tempo integral na estação da Sociedade em Staten Island. Esse foi o começo de meus privilégios musicais, que têm prosseguido no decorrer dos anos.
“Karl, Tome Cuidado!”
Como eu gostava de música! Poder devotar todo o meu tempo a ela era deveras gratificante. Enquanto servia em Staten Island, tive também o raro privilégio de ficar mais familiarizado com J. F. Rutherford, que era então o presidente da Sociedade Torre de Vigia (EUA). Isto se deu porque ele passava a metade de cada semana ali, uma vez que tais cercanias tranqüilas eram muitíssimo favoráveis à escrita — e quanta coisa ele, escrevia!
O irmão Rutherford era como um pai compreensivo e amoroso para mim, muito embora, repetidas vezes, tivesse oportunidade de me repreender por eu violar alguma regra. Lembro-me especialmente duma ocasião em que ele me deu uma ríspida censura. Da próxima vez que ele me viu, disse alegremente: “Olá, Karl!” Mas, por me sentir ainda ferido, simplesmente murmurei um cumprimento. Ele replicou: “Karl, tome cuidado! O Diabo está atrás do irmão!” embaraçado, repliquei: “Oh! Não é nada, irmão Rutherford.” Mas, ele tinha muito maior noção das coisas, e, assim, repetiu seu aviso: “Muito bem. Simplesmente fique alerta. O Diabo está atrás do irmão.” Quão certo estava ele! Quando nutrimos ressentimento contra um irmão, especialmente por nos dizer algo que ele tem direito de dizer, por ser seu dever, ficamos propensos a cair nos laços do Diabo. — Efésios 4:25-27.
Certa vez, devido a algum mal-entendido, foi erroneamente comunicado ao irmão Rutherford que eu tinha feito um comentário muito crítico a seu respeito. No entanto, em vez de ficar indignado, ele comentou: “Bem, o Karl fala demais, e diz coisas que realmente não quer dizer.” Que excelente exemplo para todos nós, caso ouçamos alguém dizer coisas nada elogiosas a nosso respeito! Sim, o irmão Rutherford tinha um grande coração, e era muito compreensivo. Ele demonstrou isto para comigo, por um lado, por repetidas vezes fazer exceções no meu caso quando circunstâncias incomuns pareciam recomendar isto, e, por outro lado, por pedir desculpas em mais de uma ocasião, quando ele, impensadamente, me causou algum dano.b Poder-se-ia acrescentar que as orações do irmão Rutherford, na adoração matutina, também o tornaram muito querido para mim. Embora tivesse uma voz tão forte, quando ele se dirigia a Deus, parecia um garotinho conversando com seu querido pai. Que excelente relacionamento revelava ele ter com Jeová! Minha fé ficava fortalecida ao ver um homem de tamanha estatura espiritual na liderança, e eu sentia que era assim que devia ser na organização de Jeová.
Retorno a Brooklyn
A permanência da orquestra em Staten Island durou apenas dois anos e meio. Daí, fomos transferidos para Brooklyn, onde fora construído um novo estúdio de rádio. Depois de ter tocado na orquestra por cerca de dez outros anos, esta foi dissolvida, e de novo comecei a trabalhar na gráfica, primeiro na encadernação de livros, e, mais tarde, nas prensas. Mas, não demorou muito até que fui transferido para o Departamento de Serviço, onde, por diversos anos, tive o privilégio de cuidar de cerca de 1.250 pioneiros especiais — designando-lhes territórios, respondendo à correspondência deles, e assim por diante. Todo mês, também tinha o privilégio de compilar o relatório de serviço de campo dos Estados Unidos e países adjacentes. Que bênçãos maravilhosas! Bem significativa delas era o prazer de usufruir excelente relacionamento com o irmão T. J. Sullivan, que era então o superintendente do Departamento de Serviço. Durante o tempo em que trabalhei neste departamento, o número de publicadores do Reino aumentou de 100.000 para quase 375.000 em todo o mundo. Que alegria é ver que, desde então, as Testemunhas de Jeová aumentaram umas oito vezes, para mais de três milhões!
Começando com a presidência de N. H. Knorr, fiquei contente de ver que mais ênfase foi dada a tornar cada Testemunha um ministro habilitado, capaz de proferir sermões às portas. Também, naquele tempo, treinavam-se irmãos a proferir discursos públicos. O início da Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia (EUA) foi de interesse especial para mim, visto que meu irmão Ted (que me acompanhara naquele primeiro discurso dos Estudantes da Bíblia, e tinha servido como pioneiro desde 1931) participou da primeira turma.c
Mudança de Atribuições
Certo dia, na primavera setentrional de 1950, o irmão Knorr convidou a mim e a outro irmão a irmos ao seu escritório, e perguntou-nos se gostaríamos de servir no Departamento de Redação. Quando lhe disse que para mim não importava onde é que eu servia, ele me censurou, dizendo que, quando uma pessoa recebe um privilégio adicional de serviço, deve mostrar-se ansiosa de aceitá-lo. Em realidade, contudo, minha atitude se devia à minha saúde precária, que sempre fora um problema para mim, exigindo que eu levasse muito a sério a questão da nutrição e do exercício. Na realidade, nada poderia agradar-me mais do que gastar todo o meu tempo pesquisando e escrevendo artigos, especialmente sobre assuntos bíblicos. Mas eu sabia que tal tarefa não seria fácil. Com efeito, a respeito do Departamento de Redação, o irmão Knorr certa vez me disse: “É aqui que se faz o trabalho mais importante e mais difícil.”
Em 1951, vários de nós, do Betel de Brooklyn, usufruímos um grande banquete espiritual no congresso “Adoração Limpa” em Londres. Depois de também assistirmos ao congresso de Paris, vários de nós visitamos algumas das outras filiais da Sociedade, incluindo a de Wiesbaden. Ali conheci Gretel Naggert, que 12 anos depois aceitou minha proposta de se tornar a irmã Klein. Depois de servir em Betel por 38 anos como solteiro, achei que poderia servir melhor, tendo-a como a companheira da minha vida. Desde que me casei, tive de concordar com Salomão, que disse: “Achou alguém uma boa esposa? Achou uma coisa boa e obtém boa vontade da parte de Jeová.” (Provérbios 18:22) Sim, novamente nesse caso, Jeová estava lidando comigo de modo recompensador, pois Gretel me tem sido de grande ajuda, de várias formas.”d
Irmão Knorr — Como um Irmão Mais Velho
Meu relacionamento com o irmão Rutherford tinha sido como o de um pai amoroso e seu filho. Mas agora, visto que o irmão Knorr era apenas alguns meses mais velho do que eu, nosso relacionamento era mais parecido com o de irmãos — o irmão mais velho inclinando-se a mostrar impaciência diante das falhas do mais moço. Gretel filosofava bastante diante de tais diferenças. ‘Afinal de contas’, dizia ela, ‘não se pode esperar que um eficiente executivo e um músico muito romântico vejam sempre as coisas do mesmo modo!’ Mas, para que tal declaração não seja mal interpretada, devo acrescentar que o irmão Knorr era meu orador favorito. Ele certa vez se referiu a mim como sua sombra, pois eu aparecia sempre no lugar onde ele discursava. O que é mais, ele apreciava tanto a música quanto eu, e reintroduziu o cantar em nossas reuniões congregacionais. Ele se interessava realmente pela publicação de cancioneiros. — Efésios 5:18-20.
Nisso eu também podia ver que Jeová tinha o homem certo dirigindo a Sua obra na Terra, pois o irmão Knorr era um excelente organizador. Ele avaliava especialmente a importância da espécie correta de educação, como se pode depreender dos arranjos feitos para a Escola do Ministério Teocrático, a escola missionária de Gileade, a Escola do Ministério do Reino e a Escola de Iniciantes em Betel.
Tudo isso nos traz à mente uma observação que me foi feita, certa vez, pelo coordenador da filial na Grã-Bretanha. Ele comentou que o irmão Knorr tinha a excelente qualidade de não se deixar influenciar por personalidades ao fazer nomeações organizacionais. Isso acontecia mesmo, pois, caso ele se deixasse influenciar, eu jamais teria recebido todos os privilégios que ele permitiu que eu tivesse, relacionados com congressos, música, redação, e assim por diante. Neste sentido, o irmão Knorr era um bom imitador de Jesus Cristo. Como assim? Bem, a quem Jesus tinha afeição especial? A João. Mas, a quem foi que Jesus confiou “as chaves do reino”? A Pedro, apesar da impetuosidade desse apóstolo. — Mateus 16:18, 19; João 21:20.
Na verdade, quão recompensador tem sido o modo de Jeová lidar comigo, apesar das minhas fraquezas e falhas! Todavia, embora tenha sido altamente favorecido por cerca de 50 anos, o maior dos privilégios ainda estava à frente. Em novembro de 1974, fui convidado a me tornar membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Este convite me deixou tão estupefato que precisei ser encorajado a aceitá-lo. Entre outras coisas, foi-me indicado que um bom número de outros também tinha sido convidado. Na realidade, sete outros foram convidados, aumentando o número de membros do Corpo Governante naquele tempo de 11 para 18.
Aquele que me encorajou a aceitar esta designação mais recente foi Frederick W. Franz, que, em 1977, sucedeu ao irmão Knorr como presidente da Sociedade. Desde que cheguei a Betel, eu me havia achegado a ele por causa de seu conhecimento bíblico e por sua disposição amigável. Naqueles primeiros dias, costumávamos assistir juntos às reuniões de oração, louvor e testemunho, em alemão. Desde aqueles dias, diversos dos meus marcos teocráticos estiveram ligados a ele. Um destes foi acompanhá-lo, junto com meu irmão e sua esposa, na visita aos nossos irmãos que serviam sob proscrição na República Dominicana. Nunca antes, nem depois, fui alvo de expressões tão calorosas e tão sinceras do amor cristão. Isto significava tanto para nossos concrentes ali que nos arriscamos a meter-nos em dificuldades com Trujillo a fim de visitá-los!
Anos depois, o irmão Franz, eu e minha esposa, junto com vários outros, incluindo A. D. Schroeder, visitamos as terras bíblicas e vários países da América do Sul, inclusive a Bolívia, onde Gretel servira como missionária por mais de nove anos. Viajar com o irmão Franz invariavelmente significava privilégios adicionais de serviço, uma vez que ele insistia em partilhar a tribuna com seus colegas. Mais recentemente, partilhamos privilégios nas assembléias na Europa e na América Central. Rememorando, parece que o irmão Franz sempre tem sido um fator de equilíbrio para mim. Por exemplo, durante a nossa viagem pelas terras bíblicas, um irmão de nosso grupo se meteu em reais dificuldades com a polícia por tirar fotos proibidas, causando-nos assim atrasos de viagem. Mostrei-me fortemente indignado, mas o irmão Franz apenas sorriu e disse: “Acho que ele está aprendendo sua lição.” E estava mesmo! Não resta dúvidas disso: Minha associação com o irmão Franz tem sido outro modo pelo qual Jeová tem lidado de modo recompensador comigo.
Nem Tudo “Era um Mar de Rosas”
Nem posso eu desperceber o modo recompensador como Jeová lidou comigo em relação ao meu trabalho designado. Com muita freqüência, um projeto deu muito certo graças a fatores sobre os quais realmente eu não tinha controle. (Compare com Salmo 127:1; 1 Coríntios 3:7.) E tenho observado isto com freqüência a nível organizacional. Por exemplo, há uns 40 anos a Sociedade adquiriu um abrigo de carruagens, na Rua Willow, para usarmos como garagem. Bem, caso não fôssemos donos daquela casa, não poderíamos ter construído um túnel que liga o prédio Towers com o restante do conjunto de Betel. Quando precisávamos de mais espaço habitacional, conseguimos comprar o Hotel Towers. Quando precisamos de mais espaço para os escritórios, conseguimos comprar o conjunto Squibb. E tais prédios acham-se a uma curta distância de Betel. Muitas coisas similares aconteceram, para o benefício da organização de Jeová em outros países.
Devido à fraqueza herdada e à minha natureza impulsiva, minha vida teve seu quinhão de provações e de tribulações, inclusive um colapso nervoso, depois de eu já estar em Betel por nove anos. Naquela época, o Salmo 103 foi deveras reconfortante para mim, bem como as palavras de Paulo em Romanos 7:15-25. Poder-se-ia adicionar que tive um quinhão e tanto de infortúnios, como fratura da rótula, vértebras quebradas, etc. Minhas próprias falhas e as de outros impediram que minha vida fosse um “mar de rosas”. Mas, com a ajuda de Jeová, vim a avaliar que, ‘se Ele permite, eu posso suportá-lo’, segundo indicado em 1 Coríntios 10:13. Também, ‘quanto menos viver, mais útil posso ser’. Entre outras lições que tive de aprender acha-se a necessidade de cultivar “uma atitude de espera pelo Deus da minha salvação”, e estar disposto a comportar-me como “menor”. — Miquéias 7:7; Lucas 9: 48.
Daí, também, repetidas vezes tive reais motivos de me sentir como Davi, depois do incidente que envolvia Nabal. (1 Samuel 25:2-34) Ele ficou grato a Jeová e a Abigail, porque o impediram de ter culpa de sangue por eliminar a inteira casa de Nabal. Sim, Jeová me tem impedido de cometer gravíssimos erros. Ele tem feito isso por meio de seus anjos, de sua providência e da ajuda provida, não só por irmãos maduros, mas também por muitas das excelentes “Abigails” cristãs. Devo acrescentar que sou grato a Jeová de que, quando estava espiritualmente fraco, não surgia bem de perto a oportunidade de ceder à tentação, e, quando ela surgia, eu estava suficientemente forte, em sentido espiritual, para não ceder. Em outras palavras, nunca coincidiam a inclinação de fazer o erro e a oportunidade para isso, pois Jeová sabia que, no fundo do coração, eu realmente desejava continuar a fazer o que é certo. Quão grato sou de que Jeová não fica vigiando os erros! — Salmo 130:3.
Nem desperceberia eu o modo recompensador como Jeová tem lidado comigo e com outros por prover-nos excelente alimento espiritual através dos anos. (Mateus 24:45-47) Não há dúvida de que a luz da verdade está brilhando de forma cada vez mais resplandecente para os justos. (Salmo 97:11) Desde que comecei a tomar ‘o leite da palavra’, eis algumas das muitas e excelentes verdades espirituais que o povo de Jeová veio a entender: a distinção entre a organização de Deus e a organização de Satanás; que a vindicação de Jeová é mais importante do que a salvação de criaturas; que as profecias de restauração aplicam-se ao Israel espiritual; que a conduta e a pregação cristãs são igualmente importantes; e que criaturas fracas e imperfeitas, como nós, podem alegrar o coração de nosso Deus, cujo nome inigualável temos o privilégio de portar como Testemunhas de Jeová. — 1 Pedro 2:2; Provérbios 27:11; Isaías 43:10-12.
Não tenho eu motivos de cantar a Jeová, porque ele tem lidado comigo de modo recompensador? É claro que tenho!
[Nota(s) de rodapé]
a Carey Barber era o segundo violinista dessa orquestra. Mal imaginávamos, ele e eu, que 61 anos depois ainda tocaríamos na mesma “orquestra”, mas um tipo diferente de música! A Sentinela de 15 de fevereiro de 1983 contém a história da vida de C. Barber.
b A respeito de suas declarações desorientadas quanto ao que poderíamos esperar em 1925, ele certa vez nos confessou, em Betel: “Eu me fiz de tolo.”
c A história de sua vida foi publicada na edição em inglês de A Sentinela de 1.º de junho de 1957, páginas 329-31.
[Foto na página 17]
A orquestra da WBBR em 1926, incluindo K. F. Klein e C. W. Barber.
[Foto na página 18]
J. F. Rutherford era como um pai para mim.
[Foto na página 19]
Com Gretel, minha esposa — uma das formas como Jeová tem lidado comigo de modo recompensador.
[Foto na página 20]
N. H. Knorr era como um irmão mais velho.
[Foto na página 21]
F. W. Franz — verdadeiro amigo e um fator de equilíbrio.