Por que se voltam para os tóxicos
NÃO há respostas simples quanto a por que as pessoas se voltam para os tóxicos. Alguns peritos sugerem que há tantos motivos para o abuso dos tóxicos quanto há pessoas que incorrem nisso. Todavia, há uma razão fundamental para o problema.
É que os tóxicos se acham tão disponíveis. Por exemplo, mais de 525 toneladas de barbituratos apenas são produzidos cada ano nos EUA. O público estadunidense consome a maior parte desta tonelagem pelas receitas médicas. O Dr. Mitchell S. Rosenthal disse que, em 1971, os médicos prescreveram suficientes drogas que alteram a disposição que dariam “para manter todo homem, mulher e criança nos [Estados Unidos] quer ‘ligado’, ‘desligado’ ou ‘por fora’ durante um mês inteiro”.
Mas, são perigosas estas drogas “legais” prescritas? Constituem significativo fator da atual crise de abuso de tóxicos?
Drogas Usadas na Medicina
Os barbituratos são sedativos, que os médicos comumente prescrevem para induzir o sono. Há cerca de 26 tipos deles. Praticamente todos os barbituratos são produzidos por laboratórios farmacêuticos legais, mas grande parte do estoque é desviado para canais ilegais. Nas ruas, as pílulas são chamadas “tranqüilizantes” ou “desligadores”. Tão grande se tornou o problema que as envolve que as autoridades chamaram 1972 de “o ano do tranqüilizante”.
O vício às vezes resulta de se confiar regularmente em drogas para conseguir dormir. Muitas outras pessoas abusam delas simplesmente para “divertir-se”, e se tornam viciadas. Cerca de um milhão de pessoas nos EUA são viciados em barbitúricos. Viciado é aquele que precisa de drogas para evitar a angústia da privação. A privação súbita pode ser tão severa para o viciado em barbitúricos que pode até matá-lo. Também, mais de 3.000 pessoas nos EUA morrem, cada ano, devido a doses excessivas de barbitúricos!
Há também um dilúvio de estimulantes, conhecidos comumente como “bolinhas” ou “boletas”. As anfetaminas são as principais. Os médicos amiúde prescrevem-nas para reduzir o apetite, diminuir o cansaço ou aliviar a depressão. No entanto, calcula-se que a metade das anfetaminas fabricadas legalmente acaba atingindo canais ilegais. Tais drogas, também, são perigosas, e já mataram ou estragaram a vida de muitos.
Assim, as drogas “legais”, prescritas pelos médicos, constituem fator principal na crise de tóxicos. Todavia, os tóxicos que captam a maioria das manchetes constituem, provavelmente, problema ainda maior.
Drogas sem Emprego Médico Aceito
A heroína é a mais perigosa delas. De dez a doze toneladas por ano são contrabandeadas para os EUA, segundo se relata. Cerca de 560.000 estadunidenses são viciados em heroína, ou cerca de dez vezes o número no início dos anos 60. A heroína deveras constitui uma praga mortífera!
Apenas na cidade de Nova Iorque, morrem cada dia quatro pessoas devido a seus efeitos! O custo médio diário do hábito de heroína é de Cr$ 260,00 a Cr$ 325,00. Para conseguir tal dinheiro, os viciados roubam mais de Cr$ 19.500.000,00 em bens, apenas na cidade de Nova Iorque, em média, cada dia! Não é de admirar que Newsweek noticiasse: “A Cidade de Nova Iorque . . . está sendo morta pela heroína.”
LSD (dietilamida do ácido lisérgico) é o mais potente de dezenas de alucinógenos. Nos anos recentes, muitos laboratórios secretos começaram a produzi-lo. Assim, apesar da grande demanda, o preço de um tablete de LSD caiu para cerca de um décimo de seu custo há alguns anos. Embora não seja fisicamente habituógeno, como a heroína ou os barbitúricos, o LSD produz efeitos esquisitos nos que o usam.
Basicamente, tal droga provoca mudanças das sensações. A visão fica especialmente alterada. Podem ocorrer ilusões e alucinações, mesmo meses depois de se tomar a última dose. Numa “viagem ruim”, as imagens percebidas podem ser terrificantes. Também, sob os efeitos do LSD, a pessoa se torna muito suscetível às sugestões e influências de outros e do ambiente. Assim, as notícias amiúde contam horríveis experiências. Por exemplo, o Daily Mail de Londres, de 26 de abril de 1973, noticiou como um professor sob a influência do LSD tentou andar sobre o Rio Tâmisa e desapareceu sob a superfície das águas sem lutar.
Devido à maconha, as dimensões da crise de tóxicos aumentam. Embora a maconha seja ilegal, calcula-se que 24 milhões de estadunidenses a tenham usado, e talvez oito milhões o façam regularmente. O efeito da maconha sobre os que a usam é mais brando que o do LSD, embora ela, também, produza a distorção dos sentidos. Quando se fuma maconha, cinco minutos podem parecer uma hora. Os sons e as cores talvez pareçam intensificados. Também, os habituados têm sofrido efeitos adversos, titubeando em andar, tendo tremores nas mãos, desordens de pensamentos e perturbações da percepção.
Será que inalar sua fumaça prejudica o corpo? Interessante é que uma carta recente dos doutores em medicina do Colégio de Médicos e Cirurgiões da Universidade de Colúmbia, de Nova Iorque, observou: “A fumaça de maconha provoca o câncer em culturas de tecido do pulmão humano.” O Dr. Morton A. Stenchever, que dirigiu uma equipe de pesquisas da Universidade de Utah, concluiu: A maconha “talvez seja uma droga muito mais perigosa do que imaginávamos”.
Todavia, apesar do dano causado pelas drogas, as pessoas continuam a usá-las. Por quê? Por que milhões mais se voltam para elas a cada ano?
Sociedade Obsedada Pelas Drogas
Muitas autoridades lançam a culpa sobre a obsessão da sociedade moderna pelas drogas. Explicou certo médico: “Qualquer pessoa que ouça os comerciais ou leia anúncios sobre drogas sabe que pode acalmar-se, estimular-se, cair no sono, perder peso e amainar várias dores e desconfortos por tomar uma ou outra pílula.” Prescrevem-se drogas para quase qualquer sintoma.
O Dr. Matthew Dumont, diretor da reabilitação de drogas do Departamento de Saúde de Massachusetts, declarou: “Se houver qualquer fonte de per si da ameaça de tóxicos nos Estados Unidos de hoje, esta é minha fraternidade — a dos médicos. . . . Os médicos anotam prescrições de 13 bilhões de tabletes de anfetaminas e barbitúricos a cada ano.” A Comissão Especial Sobre o Crime da Câmara dos Deputados dos EUA pensava de modo similar, afirmando: “A culpa [pela ameaça das drogas] recai redondamente sobre nossos laboratórios farmacêuticos, os vendedores de drogas a atacado e no varejo e os médicos.”
Mas, a culpa não é só deles. Os consumidores adultos também são culpados. Deviam compreender que as drogas são venenos, e, assim deviam usá-las apenas quando seus possíveis benefícios fossem maiores que seu dano.a Todavia, se os adultos tomam drogas para todo problema ou tensão, ou mesmo por prazer, por que deveriam evitá-las os jovens? Será surpresa que os jovens arrazoem: ‘Se os adultos fumam, ficam bêbados e tomam pílulas, por que não deveria eu me divertir fumando maconha ou tomando “desligadores”?’
Que o uso parental de drogas é um fator em os filhos se voltarem para as drogas tem sido documentado por vários estudos. Para exemplificar: um dos principais estudos canadenses chamam o abuso de drogas de “comportamento aprendido”. “Os adolescentes modelaram seu uso de drogas de acordo com o uso parental”, explicaram os psiquiatras da Fundação de Pesquisas do Vício, de Toronto. Por certo, então, se não quer que seus filhos abusem dos tóxicos, não deve fumar, abusar do álcool nem tomar pílulas sem necessidade.
Mais do que o correto exemplo adulto, porém, se faz necessário. A associação correta fora do lar também é vital. Um estudo feito pelos Amigos da Pesquisa Psiquiátrica verificou que 84 de cada 100 viciados foram iniciados nas drogas por seus “amigos”. Quando se lhes oferecem tóxicos, muitos jovens os aceitam por curiosidade. Talvez, de início, achem agradáveis seus efeitos. Mas, daí, tornam-se “fisgados”, e logo se encontram em terríveis dificuldades.
No entanto, há outros motivos para se voltar para as drogas. Não é simplesmente por estarem tão disponíveis e porque vivemos numa sociedade orientada para as drogas. Quais são estes outros motivos?
Vida Insatisfatória, Frustrada
O Dr. James E. Anderson, perito em problemas de tóxicos, apontou uma razão fundamental, explicando: “O uso de drogas é, com efeito, um sinal de que existia um vácuo na vida duma pessoa.” Similar observação teceu o Dr. Matthew Dumont, que disse: “Temos de considerar o que falta na vida dos jovens que as usam.”
Bem amiúde, o problema se acha na família. Esta foi a descoberta duma pesquisa de técnicos, administradores e conselheiros no Condado de Dade, Flórida, EUA. Também, o Dr. L. James Grold, professor-assistente clínico da Universidade do Sul da Califórnia, observou: “Tenho verificado, quase que invariavelmente, que o problema básico se acha no lar.” Disse: “O adolescente amiúde começa a experimentar drogas tiradas do gabinete de remédios da família como meio de evitar a tensão e a frustração que existe na casa.” Mas, quais são as causas de dificuldades na casa?
Amiúde os pais estão envolvidos demais em tentar vencer na vida. As mães talvez se sintam negligenciadas, e se tornem confusas sobre seus alvos ou papel na vida. Existe pouca comunicação livre. E existe pouco companheirismo ou genuína consideração de um pelo outro. Assim, muito embora se forneça de tudo aos filhos em sentido material, estes se sentem frustrados, dessatisfeitos ou simplesmente entediados. Tomam drogas para encher o vazio — numa busca pelo prazer e para “divertir-se” — ou apenas para pensar feridas emocionais.
Às vezes os jovens utilizam o abuso dos tóxicos como meio de se vingar dos pais. Certo filho duma famosa estrela do cinema explica por que usa drogas: “Queria chocar a mamãe — atingi-la bem no meio dos olhos. Queria as atenções dela, mesmo se isso lhe doesse. Eu me sentia ferido; queria que ela também se sentisse ferida.”
Mas, não são apenas os problemas no nível familiar que fazem os jovens se voltar para os tóxicos. Muitos jovens acham que todas as instituições, com efeito, se estão desintegrando. Observam a guerra, os assassinatos, a ganância, a hipocrisia, e, por toda a parte, a busca desesperada de coisas materiais. Isto os repele. Assim, “desligam-se” desta forma de vida. Sua atitude com freqüência é, com efeito, ‘comamos, bebamos, alegremo-nos, pois amanhã talvez morramos’. Assim, voltam-se para o modo de vida agitado e para os tóxicos — tudo para “divertir-se” e para excitar os sentidos.
Qual, então, é a solução?
É a Educação a Solução?
Em muitas escolas instituíram-se programas de educação sobre tóxicos, mas sem real êxito. Com efeito, os programas amiúde suscitaram curiosidade, e, em resultado, os jovens se voltaram para os tóxicos para ver que efeitos eles realmente produzem. A Dra. Helen Nowlis, pioneira na educação sobre tóxicos, ilustrou o fracasso dos programas. Apagando um cigarro disse: “Veja, sou um exemplo. Sei o que fumar me pode causar. E continuo fumando.”
Assim, são necessários mais do que programas que simplesmente falam dos danos causados pelos tóxicos. Mas, como pode a motivação suficiente ser provida, de modo que os jovens se refreiem de usar tóxicos, e para que os já viciados os larguem?
Um editorial no jornal canadense The Spectator apontou uma resposta. Comentando o amplo uso da maconha, disse: “A humanidade sempre ansiou o estímulo dos sentidos. Contra isto, a lei é impotente; a única arma eficaz é a religião, e a condição geralmente triste dela em nossa sociedade dispensa comentários.”
Por que a religião do mundo tem sido triste fracasso em enfrentar o problema dos tóxicos? Um dos motivos principais é que tem endossado o estilo de vida, a filosofia e os alvos deste sistema, as próprias coisas que os jovens rejeitam como vazias e desprovidas de significado. Mas, há uma solução para o problema dos tóxicos! A base dela é a educação que motive a pessoa a adotar uma filosofia de vida inteiramente diferente, e a perseguir alvos completamente diferentes dos que são populares hoje.
Muitos toxicômanos acharam uma solução, e agora usufruem verdadeira satisfação na vida. Tornaram-se de excelente ajuda para suas comunidades, e ajudam outros a encontrar uma vida significativa. Permita que um deles lhe conte como se inclinava para as profundezas do vício, e então achou um meio de enfrentar com êxito o problema dos tóxicos.
[Nota(s) de rodapé]
a Drugs (Drogas), Biblioteca Científica de Life, publicado por Time-Life, diz na página nove: “Todas as drogas são venenos, e todos os venenos são drogas. . . . No sentido mais amplo, uma droga — ou um veneno — é qualquer substância química que possa realizar uma alteração na função ou na estrutura do tecido vivo.”