Televisão por satélite — poderia utilizá-la?
Três, de cada oito televisores no mundo, acham-se nos Estados Unidos, de modo que não é surpresa alguma que a moda da TV por satélite tenha pegado primeiramente ali. Os americanos apreciam muito seus 175 milhões de TVs. Ver TV é seu passatempo favorito. Mas ser viciado em TV não é apenas um problema americano.
Embora a França possua apenas 19 milhões de televisores, ver TV também é o passatempo favorito dos franceses, numa margem ainda mais ampla que nos Estados Unidos. No Canadá, onde 97,3 por cento de todas as famílias possuem TV, vê-se TV numa média de 23,7 horas por semana. No Japão, virtualmente toda família possui uma TV em cores. E, na Alemanha Ocidental, o passatempo favorito também é ver TV.
Cresce em popularidade, entre os telespectadores, a TV por satélite. Mas, o que é TV por satélite, e que efeito exerce sobre os telespectadores?
O CENÁRIO da área rural da América do Norte está mudando. Poeirentos caminhos serpenteantes ainda levam a antigas casas brancas de madeira, mas, no fundo do quintal, ergue-se agora uma grande antena parabólica, voltada boquiaberta para o céu como se fosse um visitante do século 21. E onde estão as crianças que costumavam brincar na estradinha do interior? Lá dentro, vendo TV por satélite.
A era da parabólica já chegou. Já no início de 1987, calculava-se que 1.600.000 sistemas de TV por satélite tinham sido vendidos apenas nos Estados Unidos, e outros 175.000 funcionavam no Canadá. A maioria destas instalações acha-se no interior, longe dos sinais regulares de TV, ou da TV por cabo.
Mas a TV por satélite espalha-se também pelas áreas urbanas.
Crescimento Explosivo — Por Quê?
Cerca de 250.000 sistemas de TV por satélite foram vendidos nos Estados Unidos em 1986, a custos que variavam de menos de US$ 1.000 a mais de US$ 5.000. Na maioria das indústrias, isso seria considerado espetacular, mas 1986 foi realmente um ano de queda de vendas. O ano marcante para as antenas parabólicas foi 1985, quando foram vendidos 625.000 sistemas, cerca de quatro de cada dez dos que existem hoje nos Estados Unidos. Se conhece alguém que possui uma antena parabólica, as probabilidades são de que esta tenha menos de dois anos.
Existem dois motivos básicos para o recente crescimento explosivo da indústria doméstica de TV por satélite — o preço e as opções. O preço de um sistema completo é atualmente inferior a US$ 2.500 (nos EUA), o que, embora não seja barato, pode muitas vezes ser financiado pelo vendedor. Mas por que desejaria alguém gastar cinco ou dez vezes mais numa antena de TV do que gastou com sua TV? Para captar todos aqueles canais — mais de cem deles. A escolha de programas oferecidos via satélites excede em muito o que está disponível na TV convencional, ou até mesmo na TV por cabo.
No início de 1987 havia 8 canais na TV por satélite dedicados a filmes, 12 aos esportes, 10 à religião, 14 às artes e à educação, 6 às notícias e aos assuntos públicos. Em adição, havia 9 canais que ofereciam serviços de compras a domicílio, um canal meteorológico, e 12 canais que transmitiam em línguas estrangeiras. A Universidade Nacional de Tecnologia (EUA) chega até a oferecer cursos por satélite, mais de 300 deles! Os serviços de rádio transmitidos por satélites incluem leituras para cegos e quase todo tipo de música imaginável.
Por outro lado, há quatro canais chamados “para adultos”, dedicados a matéria pornográfica, e outros canais passam filmes julgados objetáveis por pessoas com a consciência influenciada pela Bíblia. “Telespectadores inocentes, que talvez pensassem que ver filmes e concertos em casa simplesmente lhes abriria novos horizontes agradáveis, estão verificando que, em alguns casos, estão obtendo mais do que esperavam — ou desejavam”, observa o editor da seção de TV de um jornal de Los Angeles, EUA.
O Fim da “Carona”
O ano de 1986 será lembrado como momento decisivo da história da TV por satélite. Em 15 de janeiro de 1986, o primeiro grande canal de filmes misturou eletronicamente seus sinais. As empresas de TV por cabo, que retransmitiram os filmes por contrato, puderam decodificar os sinais, mas os donos de parabólicas receberam apenas uma tela cheia de linhas onduladas. Acabou-se a “carona”. Já em 1987, 36 outros canais tinham acompanhado aquele — inclusive os principais canais de filmes e de leituras para cegos. Ironicamente, apenas um dos canais pornográficos tinha realizado tal mistura de sinais.
Depois que tal mistura de sinais se tornou corriqueira, os donos de parabólicas tiveram a oportunidade de comprar ou alugar decodificadores de sinais recebidos do espaço. O mais popular de tais aparelhos custa quase tanto quanto uma TV em cores, e decodifica 15 dos 37 canais “escuros”. O engodo é que tal aparelho só funciona quando se paga a assinatura mensal para o respectivo canal. Estas taxas podem resultar numa grande soma. Com efeito, se o dono duma parabólica deseja decodificar todos os seus canais, isso poderia custar-lhe até US$ 1.000 por ano em taxas! E isto não inclui a compra ou o aluguel dos vários decodificadores necessários. Os donos de parabólicas esperam que a competitividade e os pacotes multicanais de decodificação reduzam tais custos, mas, evidentemente, acabaram-se aqueles ‘bons tempos’ para eles. O preço da TV por satélite está aumentando — e as escolhas estão-se reduzindo.
“Eu, como a maioria dos donos de parabólicas, não tenho acesso à TV por cabo”, escreveu um senhor de Louisiana, EUA. “Gostaria de ter: então não teria de pagar tanto pelo meu receptor de satélite! Os assinantes da TV por cabo só precisam pagar pequeno depósito de garantia pelo conversor, para receberem a TV por cabo, e então pagam uma taxa para serviços adicionais. Eu tive de comprar um receptor de satélite e, daqui a pouco, terei de comprar um decodificador que, com muita probabilidade, estará defasado quando o receber. Daí, terei de mandá-lo para o ferro-velho e obter um novo decodificador.”
Deveras, a mistura de sinais é, provavelmente, a causa rincipal da queda das vendas dos sistemas de satélites em 1986. Por que gastar todo esse dinheiro numa parabólica sem saber quanto custará utilizá-la daqui a um ano, ou o que conseguirá ver? Os produtores de equipamentos de TV por satélite enaltecem os novos decodificadores, baseados numa taxa, como uma espécie de tratado de paz entre os donos de parabólicas e os programadores, ou donos dos canais, mas tal louvor soa falso.
A realidade é que há decodificadores piratas sendo preparados que conseguem evitar ilegalmente a taxa mensal. Assim, o número de janeiro de 1987 da revista STV, uma revista dos EUA destinada especialmente aos telespectadores por satélite, comenta: “Nós [os donos de parabólicas] seremos rebaixados a uma condição de ladrões e piratas, termos que tanto nos esforçamos para eliminar.”
Vale a Pena?
Talvez more numa zona rural, e não consiga pegar uma recepção clara de TV, ou serviços da TV por cabo. Talvez fique ofendido diante do que acredita serem programas sem sentido, oferecidos pelas redes de TV, e anseia ter uma escolha maior. Mas, antes de investir num sistema domiciliar de TV por satélite, talvez deseje considerar seus custos ocultos e seu futuro incerto.
Talvez já tenha considerado estes assuntos. E talvez esteja disposto a gastar bem mais de mil dólares numa antena parabólica e no equipamento relacionado. Preparou-se para pagar taxas mensais para canais sem sinais misturados, que deseja ver. Também se dispõe a erguer a parabólica — que tem geralmente de 2,40 a 3 metros de diâmetro — em seu quintal. Compreende ainda que, não importa que sistema por satélite compre, este irá por fim precisar de manutenção. Além disso, está disposto a enfrentar os danos causados pelo vento, pelo gelo, e até por relâmpagos. Entende os perigos da programação imoral transmitida por satélites, e comprou um aparelho que obstrui os canais ruins.
No entanto, há outra coisa vital a considerar. Pergunte a si mesmo: ‘Será que realmente disponho de tempo para ver programas adicionais, ou isso me roubará tempo de empreendimentos mais sábios, tais como ler publicações edificantes, adquirir perícias úteis, e ajudar pessoas necessitadas?’
Há vinte e cinco anos, Robert M. Hutchins, bem-conhecido educador dos EUA, observou: “No decorrer de minha vida, a semana de trabalho foi reduzida em um terço, e a vida de trabalho foi abreviada em ambas as pontas pela proibição ao trabalho do menor, pelo prolongamento da educação, e pelos regulamentos de aposentadoria. Mas o tempo assim liberado foi transferido, com quase que exatidão matemática, para o televisor. . . . Não podemos dizer que estamos fazendo um uso inteligente do tempo livre de que agora dispomos.”
Em 1963, quando o Sr. Hutchins escreveu estas palavras, acabava de ser lançado o primeiríssimo satélite sincronizado de comunicações, o Syncom 2. No ano seguinte, o Syncom 3 transmitiria, pela primeira vez de uma órbita geoestacionária, um sinal internacional de TV. Isto ocorreu nas cerimônias de abertura da Olimpíada em Tóquio, para os Estados Unidos. Estes satélites foram os ancestrais de dezenas de instrumentos sofisticadíssimos, que atualmente acham-se em órbitas geoestacionárias a 35.900 quilômetros no espaço. Os progressos tecnológicos desde 1963 têm sido impressionantes, mas estamos utilizando mais sabiamente o nosso tempo livre?
Nossas TVs possuem mais canais, mas será que as estamos usando — ou serão elas que nos estão usando? Quem realmente controla a situação?
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Como Funciona a TV por Satélite
Um programa de TV por satélite começa como qualquer outro programa de TV — num estúdio de televisão. Este estúdio está equipado de ampla parabólica, que pode enviar o sinal do estúdio para um satélite no espaço. Este é o uplink (elo para o alto).
O satélite que recebe o sinal está situado numa área muito especial do céu, chamada de cinturão de Clarke, a cerca de 35.900 quilômetros acima do equador. Provavelmente sabe que, quanto mais distante um satélite se acha da Terra, tanto mais tempo leva para percorrer sua órbita. Os satélites situados a apenas algumas centenas de quilômetros giram em torno da Terra a cada 90 minutos, mais ou menos, mas um satélite situado a 35.900 quilômetros leva 24 horas para circundar a Terra. Visto que a própria Terra efetua sua rotação a cada 24 horas, o satélite parece estar imóvel no espaço. Diz-se que tal órbita é geoestacionária, ou síncrona. É como se o satélite estivesse no topo de uma torre de retransmissão situada a 35.900 quilômetros de altura, exceto que não existe torre alguma.
A missão do satélite é retransmitir os sinais de TV para a Terra. O sinal retransmitido (downlink) situa-se numa freqüência um tanto inferior e é muito menos potente que o uplink. Com efeito, a maioria dos satélites só transmite com cerca de 5 a 12 watts de potência por canal — muito menos do que uma lâmpada elétrica comum utilizaria. Todavia, este sinal fraco espalha-se — na maioria dos casos — pela inteira área continental dos Estados Unidos.
Como pode um sinal tão fraco ser alguma vez captado cá embaixo? Por meio de um disco especial chamado de antena parabólica, projetado para focalizar todos os sinais que a atinjam, concentrando-os num ponto único, quase da mesma forma que uma lente intensifica os raios solares. Na realidade, este aparelho é uma adaptação, como que feita no fundo do quintal, dos sofisticados radiotelescópios que os cientistas empregam para perscrutar as distantes galáxias. O sinal é agrupado por um pequeno aparelho chamado de concentrador de sinais. Dali, o sinal é adicionalmente ampliado e a freqüência é reduzida, de modo a poder ser enviada pelos fios até a TV.
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Cronologia da TV por Satélite
1945 — Arthur C. Clarke, autor de ficção científica, propõe que um satélite situado a uns 35.900 quilômetros acima do equador pareceria, vista aqui da Terra, imóvel no céu, e poderia ser utilizada para retransmitir sinais enviados da Terra.
1954 — Engenheiros da Marinha dos EUA fazem experiência com sinais de rádio que repicam da lua. Sinais de voz são por fim transmitidos entre Washington DC, e o Havaí, através da lua.
1955 — O engenheiro J. R. Pierce, dos EUA, analisa diversos sistemas de retransmissão por satélite numa influente comunicação científica, que mostrava que pequeníssimo poder de transmissão serviria para as comunicações transoceânicas, com a utilização de satélites.
1960 — O Echo, um balão revestido de alumínio de 30 metros de diâmetro é colocado em órbita e utilizado para retransmitir sinais de rádio.
1963 — O Syncom 2 torna-se o primeiro satélite de comunicações a atingir uma órbita síncrona no que é agora chamado de cinturão de Clarke, a 35.900 quilômetros acima do equador.
1964 — O Syncom 3 transmite do espaço o primeiro sinal transpacífico de TV; 11 países concordam em formar um sistema global de comunicações — o Intelsat.
1965 — Lança-se o Intelsat 1, com apenas um transponder capaz de retransmitir um canal de TV ou 240 conversações telefônicas simultâneas; a União Soviética começa a lançar sua série de satélites Molniya que não são geoestacionários, mas possuem órbitas que lhes permitem transmitir sinais para regiões no norte da URSS que não conseguem receber sinais dos satélites em órbita equatorial.
1975 — Inicia-se o primeiro serviço de TV por cabo transmitida por satélite.
1982 — Surge a indústria de TV por satélite, de uso domiciliar.