Quão grave é a Aids na África?
Do correspondente de Despertai! na África
É PROVÁVEL que você tenha ouvido as predições. Eram aterradoras. Milhões de pessoas no continente africano pegariam AIDS. O sistema imunológico humano entraria em colapso, deixando as defesas naturais do organismo à mercê da invasão de terríveis doenças. Como no caso da peste bubônica que assolou a Europa no século 14, seguir-se-ia morte e destruição sem precedentes.
Daí houve uma calmaria. A mídia ficou saturada e o público se cansou de predições catastróficas sensacionalistas. Seria realmente tão ruim assim? Qual é exatamente a real dimensão da epidemia de AIDS na África?
“Ninguém sabe quais serão as futuras cifras”, diz o Dr. Andre Spier, pesquisador da AIDS. Mas ele não está otimista. “O número será elevado e altamente destrutivo para a inteira sociedade.” Similarmente, numa conferência internacional sobre a AIDS em Estocolmo, Suécia, em 1988, o Dr. Lars Kallings predisse que “dentro de apenas uns dois anos . . . haverá uma apavorante contagem de mortos”.
Já se passaram mais de “uns dois anos” desde essa predição. Hoje, muitas das predições estão ominosamente em vias de se concretizar. Cadáveres começam a substituir o que antes era apenas estatística. E o pior ainda está por vir.
Os Mortos e os Condenados a Morrer
Um rastro de morte e destruição está sendo deixado para trás em muitas partes da África subsaariana. “Em certos centros urbanos”, diz um artigo recente na revista científica Nature, “a AIDS é hoje a principal causa da morte de adultos e um dos maiores causadores da mortalidade infantil”. Numa certa cidade africana, os sacerdotes mal dão conta do grande número de funerais relacionados com a AIDS que têm de realizar.
Em outubro de 1991, os chefes de governo da Comunidade de Nações que se reuniram em Harare, no Zimbábue, receberam um documento com previsões ominosas a respeito da AIDS na África. Foi revelado que de 50 a 80 por cento dos leitos hospitalares em alguns países africanos estavam ocupados por pacientes com AIDS. A respeito de Uganda, onde é grande a incidência, o especialista em AIDS Dr. Stan Houston revelou que a AIDS já matou mais pessoas do que as que foram mortas nos últimos 15 anos de guerra civil naquele país.
Também inquietantes são as descobertas de médicos e cientistas em Abidjã, Côte d’Ivoire (Costa do Marfim). Durante vários meses, foram examinados todos os cadáveres nos dois maiores necrotérios da cidade. O resultado? A revista Science, que publicou a matéria, revelou que a AIDS foi “a principal causa da morte” entre homens adultos em Abidjã. A revista acrescenta que os números citados “provavelmente subestimam a real dimensão da mortalidade causada pela infecção do HIV [Vírus da Imunodeficiência Humana]”.
Mesmo a OMS (Organização Mundial da Saúde), que monitora a propagação mundial da doença, admite que isto é apenas a ponta do iceberg. Segundo a revista New Scientist, a OMS “tem certeza de que muitos países na África Oriental e Central têm comunicado apenas cerca de um décimo dos casos de AIDS . . . Os informes são incompletos e inexatos porque a inspeção é rudimentar”.
Infecção Latente
Algo terrificante a respeito da AIDS é o longo período de infecção que precede os reais sintomas físicos da AIDS plenamente desenvolvida. Por até dez anos o portador contaminado pode abrigar o mortífero HIV em seu corpo. Talvez pareça e se sinta saudável. A menos que a vítima faça um teste para detectar a doença, jamais saberá que enfrenta uma doença terminal — até que os sintomas se manifestem! É este aparentemente sadio, porém infectado, segmento da população que, sem saber, está disseminando a AIDS.
Testes de níveis de infecção com o HIV revelam o alcance do impetuoso avanço dessa praga mortífera na África. A revista African Affairs, por exemplo, revela que “a região densamente povoada nos arredores do lago Vitória . . . relata alta incidência [de HIV] . . . , variando de 10 a 18 por cento para adultos na categoria de baixo ou médio risco a 67 por cento para os que têm múltiplos parceiros sexuais”. Similarmente, segundo estimativas da revista Nature, “na população adulta em geral a infecção se tem disseminado constantemente desde 1984, alcançando 20-30% nos centros urbanos mais atingidos”. Imagine — quase um terço da população adulta sob sentença de morte dentro de dez anos!
Governos e líderes, outrora relutantes em revelar a extensão da AIDS, estão agora se conscientizando do pleno horror dessa epidemia. Um ex-presidente africano deu o seu aval à luta contra a AIDS — depois que seu próprio filho morreu dela. Outro líder governamental recentemente alertou que havia 500.000 pessoas infectadas com o HIV em seu país. A maioria dessas não sabiam que estavam mortalmente doentes e disseminavam o flagelo por meio de sua promiscuidade.
“Diga-lhes o Que Aconteceu Aqui”
À medida que a porcentagem de pessoas afligidas pela infecção do HIV aumenta sem parar, o número dos que por fim adoecerão gravemente e morrerão aumentará drasticamente. Na esteira disso, deixarão indescritível pesar e sofrimento. Foi o que se deu com Khamlua, de 59 anos, que vive na fronteira da Uganda com a Tanzânia, uma região assolada pela AIDS. Desde 1987 ele já sepultou 11 de seus filhos e netos — todos vítimas da AIDS. “Leve a minha queixa ao mundo”, suspira, abalado pela tragédia. “Diga-lhes o que aconteceu aqui.”
Devido às formas de propagação da AIDS, o que aconteceu com Khamlua na África ameaça acontecer em muitas partes do mundo. ‘Mas’, talvez pergunte, ‘por que é a África que sofre o grosso de tanta desgraça e sofrimento humano?’
[Destaque na página 3]
Em alguns países em desenvolvimento, “por volta de 1993, a AIDS será a maior causa de mortes”. — The World Today, Inglaterra.