Por que celebrar a Ceia do Senhor
Jeová Deus, por meio do seu Filho, ordenou que os cristãos celebrassem a ceia do Senhor. Quando compreendidas, as razões disso parecerão tanto simples como poderosas e convincentes.
FOI na noite de terça-feira, 3 de abril de 1958. Exatamente quinhentas pessoas superlotavam o Salão do Reino na Rua Colúmbia Heights,136, em Brooklyn, Nova Iorque ocupando não só todos os assentos, mas também todo o espaço disponível para ficar em pé. A assistência compunha-se de cristãos dedicados e seus amigos que acompanhavam com vivo interesse um discurso bíblico. Qual era o ponto de interesse — o orador? Não, embora este fosse o presidente da Sociedade Torre de Vigia. Antes, era a ocasião, a celebração da ceia do Senhor. O que é a ceia do Senhor e por que deve ser celebrada?
Ceia do Senhor é o termo usado para descrever o arranjo instituído por Jesus na noite em que foi traído. Em suma, compõe-se duma palestra bíblica, do oferecimento de graças e da participação de pão e vinho. Alguns chamam a isso de Eucaristia, por causa de Jesus “dar graças” naquela ocasião. É também chamado de Comunhão e de Missa. Sem dúvida, o termo mais apropriado é “refeição noturna do Senhor”. — 1 Cor. 11:20, NM.
Alguns professos cristãos, tais como os quacres, objetam a esta celebração, dizendo que ela dá ênfase a “coisas externas inúteis”. Em apoio da sua atitude citam: “O reino de Deus não significa comer e beber”, e:“Nenhum homem vos julgue, portanto, pelo comer e beber.” No entanto, o exame dos contextos mostra que o apóstolo Paulo, o escritor destes textos, não estava absolutamente falando da refeição noturna do Senhor, mas sim das restrições da lei mosaica. Não podemos separar estes textos do seu contexto e usá-los para contradizer as palavras claras de Jesus: “Continuai a fazer isto em memória de mim.” — Rom. 14:17; Col. 2:16; Luc. 22:19, NM.
Depois há certos liberais que afirmam que Jesus não tinha nenhuma intenção de instituir qualquer celebração. Apontam para o fato de que a ordem de celebrar a refeição noturna do Senhor é encontrada apenas nos escritos de Lucas e de Paulo e fazem questão de apontar para as leves variações nos relatos de Mateus, Marcos, Lucas e Paulo. No entanto, se crermos que as Escrituras Gregas Cristãs são deveras a Palavra de Deus, como todos os cristãos devem crer, então o relato de apenas um escritor já é o bastante para a nossa fé, e entenderemos prontamente que um relato pode ser mais completo do que outro. Tampouco acharemos falta com as variações menores, que antes dão prova de que os diversos escritores escreveram independentemente; sendo Mateus, incidentalmente, a única testemunha ocular dentre os quatro.
NEM SACRIFÍCIO, NEM SACRAMENTO
O precedente torna claro que a razão da celebração da ceia ou refeição noturna do Senhor é que Cristo a ordenou. Mas por que a ordenou? Fez isso porque naquela ocasião o pão e o vinho se transformavam literalmente na sua carne e no seu sangue, uma transformação que é chamada de “transubstanciação”? E é Jesus assim realmente sacrificado pelos nossos pecados cada vez que se celebra a ceia do Senhor? Esta é a alegação de alguns que afirmam que esta mudança foi o maior de todos os milagres feitos por Jesus. Mas, como podia ter sido assim quando Jesus ainda tinha toda a sua própria carne e seu próprio sangue na ocasião em que ele disse: “Tomai, isto é o meu corpo. . . . Isto é o meu sangue”? E se este fosse o maior de todos os milagres de Jesus, não é estranho que nenhum dos escritores bíblicos chama atenção a este estupendo milagre, se fosse milagre? — Mar. 14:22, 23, So.
De fato, o tradutor católico romano Matos Soares, embora use “é” em conexão com a refeição noturna .do Senhor, fazendo Jesus dizer: ‘Isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue’, usa a palavra “representa” num caso similar, na ilustração do semeador: “A [semente] que caiu em boa terra, representa aqueles que, ouvindo”, etc. Se Jesus usou a palavra “é” no sentido de “representa” na parábola do semeador, não é razoável concluir-se que ele queria dizer a mesma coisa quanto ao pão e ao vinho, em vez de se insistir que ele realizou então o seu milagre mais notável? Certamente que é! E é por isso que traduções tais como as de Moffatt, Williams e a Tradução do Novo Mundo rezam: “Isto significa” ou “isto representa meu corpo”. — Luc. 8:15.
Quanto a esta ceia do Senhor ser uma repetição exangue do sacrifício de Cristo, note-se em primeiro lugar que tal sacrifício não poderia tirar os pecados, pois lemos que “sem derramamento de sangue não há remissão”. Foi por isso que Deus proibiu que os israelitas comessem sangue: “Porque a alma da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará expiação.” É por causa disso que “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”. Além disso, Paulo, especialmente em hebreus, capítulo 9, enfatiza repetidas vezes que Cristo morreu apenas uma, vez e que não morreria mais. Torna-se assim claro que nenhum arranjo exangue, que se repita, pode ser um sacrifício que remova pecados. — Heb. 9:22; Lev. 17:11; 1 João 1:7, Al.
Muitas organizações protestantes, embora opostas aos ensinos da transubstanciação e que a ceia do Senhor seja um sacrifício, ensinam não obstante que é um sacramento. O que é um sacramento? O sacramento é um ato religioso que supostamente concede mérito aos que o praticam. É a refeição noturna do Senhor tal sacramento e é a sua remissão de pecados “a parte mais necessária disso”, conforme afirmava Lutero?
Em primeiro lugar, note-se que em parte alguma das Escrituras se menciona qualquer sacramento. Quanto a isso há o testemunho da Cyclopædia de McClintock e Strong, cujos editores, embora considerassem a ceia do Senhor como sacramento, declaram não obstante: “Uma lição negativa, de significado nada pequeno, é ensinada pelo fato de que o termo sacramento não ocorre no N. T.; nem é a palavra grega mysterion alguma vez aplicada quer ao batismo, quer à ceia do Senhor, quer a qualquer observância externa.” Não, a idéia de que qualquer observância externa confira mérito é contrária aos princípios de Deus e ao seu entendimento da humanidade; tais coisas se celebram muito facilmente sem sinceridade. Para os cristãos, tanto o batismo como a refeição noturna do Senhor são apenas símbolos sem significado, a menos que a realidade tenha sido realizada ou tenha ocorrido.
Nenhuma celebração ostensiva pode obter o perdão dos pecados é a lição que Deus ensinou à nação de Israel. É por isso que ele lhes disse, pelo profeta Isaías, que ele estava farto de seus sacrifícios e ‘não se agradava deles’, e que Paulo escreveu ser “impossível que sangue de touros e de bodes tire pecados”. E é por isso que procuramos em vão qualquer declaração no sentido de que devemos celebrar a refeição noturna do Senhor para que se nos perdõem os pecados, como se isso, segundo disse Lutero, fosse a parte mais necessária. — Isa. 1:11; Heb. 10:1-4.
Ao contrário, somos informados: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os nossos pecados e para nos purificar de toda a injustiça.” “E a oração de fé sarará o indisposto, e . . . se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Portanto, confessai abertamente vossos pecados um ao outro e orai um pelo outro, para que possais ser curados” espiritualmente. Sim, “se alguém cometer um pecado, temos” — a refeição noturna do Senhor? Não, mas — “junto ao Pai um ajudador, Jesus Cristo, um justo. E ele é um sacrifício propiciatório pelos nossos pecados”. — 1 João 1:9; Tia. 5:15, 16; 1 João 2:1, 2, NM.
UM MEMORIAL DA MORTE DE CRISTO
Se a celebração da ceia do Senhor não é nem um sacrifício, nem um sacramento, se não tira os pecados, então por que ordenou Jesus: “Continuai a fazer isto em memória de mim”? Por esta mesma razão, como memorial. Deve comemorar o que se deu no dia da Páscoa, no 14 de Nisan de 33 E. C., segundo o calendário lunar dos hebreus, assim como a própria Páscoa comemorava o que ocorrera 1.545 anos antes, em 14 de Nisan de 1513 A. C. E o que foi que se deu naquele tempo? Jeová Deus fez para si um grande nome por derrotar os deuses do Egito, por destruir os primogênitos do Egito e por libertar os israelitas oprimidos do jugo da escravidão. — Êxo. 9:16; 1 Sam. 6:2-6; 2 Sam. 7:23.
Se o evento naquele tempo merecia ser comemorado, e certamente o merecia, então quanto mais merece ser comemorado o que aconteceu no ano 33 E. C. Jeová Deus ganhou ali uma vitória ainda maior sobre Satanás e seus demônios, visto que estes foram incapazes de desviar Jesus, o Filho de Deus, do seu proceder de fidelidade até a morte; Deus provou assim, por meio de Jesus, que o Diabo foi mentiroso quando se jactou de que Deus não podia ter homem na terra que lhe fosse fiel. E Jesus, por aquela morte sacrificial, proveu não somente uma libertação temporária, religiosa, política e econômica, e isso apenas para uma nação Pequena, mas ele abriu com isso o caminho papa que toda a humanidade pudesse ser liberta de toda espécie de escravidão, no tempo devido de Deus.
Assim vemos por que Cristo ordenou que seus seguidores comemorassem a sua morte por comerem pão asmo e beberem vinho tinto, símbolos de seu corpo e de seu sangue. Fez isso para que fôssemos bem lembrados da maravilhosa demonstração da supremacia de Jeová, que se deu naquela ocasião, bem como da maravilhosa expressão de sua justiça e de seu amor; ter ele tanto respeito pelos seus princípios justos e tanto amor pela humanidade, que estava disposto á oferecer o seu Filho unigênito. Foi também para que tivéssemos sempre viva apreciação daquilo que Cristo Jesus fez a favor de nos, do sofrimento e da morte que ele estava disposto a padecer, para que nós pudéssemos ficar reconciliados com Deus e obter a vida eterna. E a refeição noturna do Senhor deve tanto fazer-nos querer seguir como nos ajudar a seguir o exemplo dado por Jesus, de manter a integridade apesar de grandes obstáculos.
Outrossim, a refeição noturna do Senhor deve ser ocasião dum exame de si próprio, quanto a se o cristão que participa dos emblemas o faz de maneira digna da refeição ou não, assim como Paulo mostra em 1 Coríntios 11:27-32. E, finalmente, serve para incutir em todos os que são do corpo espiritual de Cristo a sua unidade: “O cálice de bênção que abençoamos, não é a participação no cálice do Cristo? O pão que partimos, não é a participação no corpo do Cristo? Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos participamos desse um só pão.” — 1 Cor. 10:16, 17, NM.
QUEM E QUANDO?
Quem pode participar da refeição noturna do Senhor? Todos os cristãos sinceros? Não. Por que não? Porque o contexto do registro da instituição do Memorial por parte de Jesus, bem como o testemunho de outros textos, mostra que é limitado aos que têm a esperança de participar da glória celestial de Jesus Cristo, número que as Escrituras mostram limitado a 144.000. Os fatos mostram que hoje sobra apenas um pequeno restante deste número que começou a ser selecionado em Pentecostes do ano 33 E. C. Todos os homens de boa vontade, porém, são bem-vindos e devem vir e observar a celebração, porque também lhes faz lembrar o que foi feito por Jeová Deus e Jesus Cristo e como podem mostrar a sua apreciação disso.
Quantas vezes e quando deve ser celebrada a refeição noturna do Senhor? Não importa quantas vezes os outros professem fazê-lo, não há justificativa bíblica para que seja celebrada mais de uma vez por ano, assim como a Páscoa, comemorando a libertação do Egito, foi celebrada uma vez por ano, e isto na noite de sua libertação, 14 de Nisan. Visto que Jesus instituiu a sua refeição noturna na noite de 14 de Nisan, é apropriado que continuemos a celebrá-la na mesma data. Nisan é o primeiro mês do ano lunar judaico e começa com a lua nova, visível, mais próxima do equinócio da primavera (do hemisfério setentrional). Este ano, o dia 14 de Nisan cai em 10 de abril. As testemunhas de Jeová, em todo o mundo, atenderão a ordem de Jesus de “fazer isto em memória de mim” por se reunirem, depois das 18 horas, nos seus Salões do Reino, a fim de celebrar a ceia do Senhor. Associe-se com elas e receba as bênçãos resultantes de sua presença ali!