Jeová me tem tratado de forma recompensadora
CONFORME NARRADO POR MABELLE ILETT
TENHO agora oitenta e sete anos e, amiúde, apoio-me nos braços de outras pessoas, de modo que não é fácil movimentar-me. Mas, estive na recente Assembléia “Palavra da Verdade” das Testemunhas de Jeová no Estádio Ianque, cidade de Nova Iorque. Ali, uma das enfermeiras da sede da Sociedade Torre de Vigia (E. U. A.), empurrou minha cadeira de rodas em volta do inteiro campo de beisebol, para que pudesse passar bem os olhos pela multidão. Como meu coração se alegrou ao ver as arquibancadas e contemplar dezenas de milhares de testemunhas de Jeová! Sim, por muitos motivos, a minha debilidade física é mais do que sobrepujada pela robusta alegria do meu coração, que exclama como o salmista Davi da antiguidade: “Cantarei a Jeová, pois ele me tem tratado de forma recompensadora.” — Sal. 13:6.
Foi um convite impresso para um discurso público que me ajudou a dar o primeiro passo no sentido de uma vida de recompensas espirituais. Na primavera de 1922, foi deixado em minha casa um panfleto, convidando as pessoas para ouvirem um discurso intitulado “Onde Estão os Mortos?” Quis muito ouvir este discurso e fiquei intrigada se meu marido, Ambrose, consentiria em me levar para ouvi-lo.
Quando Ambrose veio almoçar em casa, certo dia, mostrei-lhe o tratado. Ele me disse que estivera lendo um livro intitulado “O Plano Divino das Eras”, publicado pela organização que patrocinava o discurso público. Que coisa maravilhosa! pensei eu. Será que este livro continha a verdade que eu ansiava há tanto tempo? Será que este discurso me ajudaria em minha pesquisa em busca de conhecimento exato? As respostas logo vieram.
Ambos assistimos ao discurso. Quão revigorante foi aquela primeira reunião! Deleitou-me ouvir a evidência bíblica que refutava tais doutrinas como o inferno de fogo e o purgatório. Quando chegamos em casa, exclamei: “Já ouviu antes algo tão maravilhoso, querido? Estou tão contente de saber que não existe nenhum inferno ardente nem purgatório!” Ele concordou. Meus pensamentos então eram: Onde poderia obter mais destas informações maravilhosas? Qual é exatamente o propósito de Deus? O que tenho de fazer para agradar plenamente a Deus? Será que Deus me mostraria o caminho? Ele mostrou.
Aconteceu que uma paciente de meu marido (ele era médico) nos viu naquele discurso público. Ela me telefonou no dia seguinte para dizer-me que havia um estudo bíblico na vizinhança. Estudavam a Bíblia com o auxílio do livro A Harpa de Deus. Falei sobre isto com meu marido, e começamos a freqüentar o estudo bíblico na vizinhança.
Deleitei-me com este livro, A Harpa de Deus! O prefácio do livro dizia: “O leitor deverá considerar cada ponto aqui referido em conexão com a sua Bíblia, examinando cada proposição, para que possa ficar perfeitamente convicto por sua própria mente.” Fiz isso, examinando mais de setecentas citações bíblicas. Clara e ràpidamente, aprendi a respeito da criação da terra e do homem, a promessa abraâmica, o nascimento de Jesus Cristo, o resgate, a volta de Cristo e a glorificação de “a igreja”.
INICIANDO O MINISTÉRIO DE CAMPO
Por causa de estudar e de me reunir regularmente com o povo de Jeová, não demorou muito até que compreendi que eu também deveria ser proclamadora destas coisas alegres. Senti-me como Jeremias da antiguidade. Se retivesse a mensagem dentro de mim, isso seria como fogo nos meus ossos. Assim, simplesmente tinha de falar com outros o que aprendera sobre os propósitos de Deus, e Jeová me abençoou por assim fazer.
Embora ainda fosse iniciante no conhecimento bíblico, aproximava-me dos moradores e lhes falava a verdade da Bíblia, conforme a conhecia. Sempre me lembro com apreciação como certo irmão costumava-me observar enquanto eu trabalhava de casa em casa nos territórios rurais. Se sentia que me faltavam as palavras, saía logo do carro dele, punha-se ao meu lado e supria o conhecimento que me faltava. Esta era uma provisão amorosa e excelente apoio para mim, até que aprendi mais sobre a Palavra da verdade de Jeová e pude defender a verdade com mais madureza.
Nosso ministério de campo no setentrional Estado de Nova Iorque me lembrava a forma de Jesus Cristo pregar. Como Jesus fazia, assim íamos de povoado em povoado, de vila em vila, e de cidade em cidade. Aqueles dias de 1923 a 1929 estiveram cheios de recompensas para mim, e jamais os esquecerei. Jeová deveras me tratou de forma recompensadora, e havia então mais recompensas em reserva.
Em 1929, meu esposo e eu fizemos uma decisão de amplo alcance com respeito a nosso futuro no serviço de Jeová. A escolha foi a de continuar nosso serviço secular ou de expandir nosso ministério do Reino a outros campos. O que faríamos? Nossa decisão foi a de vender nossa casa em Watertown, Nova Iorque, com seus muitos confortos, e expandir nossos privilégios de pregação das boas novas do reino de Deus. Embora sentíssemos certa tristeza de deixar atrás amigos queridos e os pacientes de meu marido, servir a Jeová era mais importante para nós. Afinal de contas, não tínhamos dedicado a vida a ele? Desejando edificar nossa vida em torno daquele voto de dedicação, queríamos ir a outros lugares para servir ao nosso maravilhoso Deus, Jeová.
Assim, entramos na obra de pregação, de tempo integral em 1929. Nosso ministério nos levou a Maine, Vermont e New Hampshire no verão, e à Flórida no inverno. Demos testemunho às pessoas, oferecendo a elas ajudas bíblicas tais como os livros Libertação!, Criação e A Harpa de Deus. Que maravilhosos instrumentos eram tanto em alimentar-nos a mente com as preciosas verdades de nosso Deus, Jeová, como em ajudar outros a buscá-lo! Quando encontramos quaisquer pessoas muitíssimos interessadas, sempre as revisitávamos e verificávamos como é que iam passando. Nosso ministério neste campo continuou até o fim do ano de 1931. Então, Jeová nos recompensou com mais privilégios de serviço.
OBRA MISSIONÁRIA EM CUBA
Tínhamos ouvido dizer que havia necessidade de proclamadores do Reino em Cuba; assim,oferecemo-nos para ir para lá. Tendo espírito missionário semelhante ao do apóstolo Paulo, quatro de nós fomos servir quais missionários em Cuba. Sentimos o mesmo entusiasmo que os formandos da Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia sentem atualmente, quanto à perspectiva de irem quais missionários para terras estrangeiras. Quão bem me lembro de encher o carro com pertences para a viagem! Viajamos de carro até à Flórida e tomamos um navio de lá até Cuba.
Um ponto notável de nossa obra em Cuba, eu me lembro carinhosamente; foi um congresso que tivemos em 9 de novembro de 1932. O irmão Rutherford proferiu o discurso público perante uma assistência máxima de dez pessoas! A assembléia foi realizada numa casa particular em Havana, e passamos juntos boas horas regozijando-nos em Jeová e em sua bondade. Lembro-me quão vigorosamente o irmão Rutherford falou sobre as verdades bíblicas. Nessa ocasião, instruiu-nos a disseminar as boas novas a todas as partes de Cuba, a cobrir a ilha inteira. Também nos instruiu que, ao dar testemunho do Reino, não deveríamos deixar de lado as pessoas influentes de Cuba.
Fomos obedientes a tais instruções e testemunhamos a políticos, doutores, advogados, comerciantes, sacerdotes e freiras, bem como aos pregadores do protestantismo. Alguns foram bondosos, outros não foram; mas ainda assim pregamos as boas novas, quer ouvissem com prazer ou com desgosto. Lembro-me de um pregador me dizer que eu era mui presunçosa em ir até às portas com tal mensagem. Respondi-lhe: “A mensagem do Reino é para todos, e não me sinto presunçosa de vir até sua porta.” Tais rejeições não me desanimaram.
Jeová continuou a abençoar nossa obra em Cuba, e, com nosso carro, cobrimos virtualmente toda a ilha, oferecendo compêndios bíblicos tais como a edição em espanhol de A Harpa de Deus. Dou graças ao Senhor por tal maravilhosa experiência no estrangeiro! Mas, agora, Jeová tinha mais coisas para fazermos em Seu serviço. Ele nos tratou de forma recompensadora, habilitando-nos a entrar num novo campo de serviço.
SERVIÇO DE BETEL
Em 23 de outubro de 1933, meu marido e eu visitávamos os Van Amburghs no Betel de Brooklyn, a sede da Sociedade Torre de Vigia (dos E. U. A.). Depois do desjejum, o presidente da Sociedade convidou os irmãos Van Amburgh e Ilett ao seu escritório. Passaram duas horas. Sobre o que poderiam estar conversando? pensava eu. Por fim, o irmão Rutherford veio ao quarto dos Van Amburghs, onde me encontrava, e olhou-me bem nos olhos (como sempre fazia quando falava com uma pessoa) e perguntou diretamente: “Gostaria de vir para Betel e servir aqui com o irmão Ilett? Ocasionalmente os membros de nossa querida família ficam doentes e precisamos dum médico aqui.” Fiquei surpresa. Jamais esperava algo como isso! Respondi: “Se é a vontade de Jeová, sim, virei para Betel.” Assim, ambos entramos nas recompensas do serviço de Betel.
Meus anos em Betel se provaram deleitosos, trazendo-me uma variedade de privilégios. Servi na portaria de Betel, de tempos a tempos, durante muitos anos. Que prazer saudar o querido povo de Jeová, ao visitarem a sede da Sociedade! Que alegria e satisfação tive em responder suas perguntas e orientá-los aos vários lugares no lar de Betel!
Meu esposo Ambrose serviu fielmente em Betel até sua morte, em 1957. Embora sinta falta dele, não me sinto só. Jeová me tem tratado de forma recompensadora, e o serviço de tempo integral ajuda a recompor quaisquer perdas pessoais que encontremos na vida. Moro junto com quase 800 outras testemunhas de Jeová, e me regozijo de ver entre elas os estudantes da Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia, movendo-se de forma ocupada, estudando a Palavra de Deus de modo a se tornarem missionários eficazes das boas novas.
Embora esteja muito debilitada, nem sequer penso em deixar o trabalho de dar testemunho do reino de Deus. Escrevo cartas, envio publicações bíblicas, tentando cultivar o interesse dos que estão favoravelmente dispostos.
Tenho gratas memórias do passado recente, quando a organização moderna e visível de Jeová era mais jovem, mas vivo alegremente no presente, grata por toda a bondade presente de Jeová, olhando com confiança e com fé para o futuro.
Quão alegre me sinto de que minhas decisões na vida foram feitas ao redor de meu voto de dedicação a Jeová! Essas decisões corretas me levaram de uma recompensa a outra no serviço de Jeová. Jeová me tem tratado de forma tão recompensadora que posso perguntar e declarar, como fez Davi: “Que poderei retribuir ao Senhor [Jeová] por tudo o que ele me tem dado? Erguerei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor [Jeová]. Cumprirei os meus votos para com o Senhor [Jeová], na presença de todo o seu povo.” — Sal. 115:12-14, CBC; 116:12-14, Al.