Como treinar suas faculdades perceptivas
1. (a) Como devem os cristãos encarar a procura e o uso da sabedoria mundana? (b) O que podemos aprender do contraste que Paulo faz entre a sabedoria de Deus e a do mundo?
ESTE título talvez pareça cativante, pois muitos estão vivamente interessados em treinar e melhorar suas faculdades perceptivas, e fariam qualquer coisa e pagariam qualquer preço para alcançar isso. Com que objetivo? Precisamos admitir que muitas vezes se trata de um objetivo egoísta. Pode tratar-se do desejo de vencer os competidores nos negócios ou de aprender a compreender os outros, a fim de levar vantagem e se aproveitar deles. Isto talvez seja justificável do ponto de vista da sabedoria mundana, mas quem procura o favor de Deus não pode adotar tal ponto de vista. A motivação é errada. De qualquer modo, a Bíblia nos avisa diretamente contra os perigos da sabedoria e da percepção do mundo. O apóstolo Paulo disse muito sobre isso quando escreveu à congregação em Corinto. Contrastando a sabedoria do mundo com a de Deus, ele disse que “o mundo, pela sua sabedoria, não chegou a conhecer a Deus”. Explicou mais, que, ao se convocar os que formariam a congregação cristã, “não foram chamados muitos sábios em sentido carnal, . . . mas Deus escolheu as coisas tolas do mundo, para envergonhar os sábios”. Por quê? “A fim de que nenhuma carne se jacte à vista de Deus.” Nossa motivação ao buscarmos a Deus precisa sempre ser sincera e humilde. Por isso, conforme Paulo disse adicionalmente: “Falamos sabedoria entre os que são maduros, mas não a sabedoria deste sistema de coisas, nem a dos governantes deste sistema de coisas, os quais hão de ficar reduzidos a nada. Mas falamos a sabedoria de Deus em segredo sagrado, a sabedoria escondida.” E quão maravilhosamente Deus fez isso! Está tudo ali na Bíblia, livro que qualquer um pode ler, mas quão poucos são os que realmente percebem a sua sabedoria escondida! A maioria dos que acham que a aceitam como a Palavra de Deus dizem que ela se contradiz, mostrando assim imediatamente que nem começaram a reconhecer a grandiosa harmonia de toda ela. — 1 Cor. 1:21, 26-29; 2:6, 7.
2. Por que é a madureza essencial para o cristão, e o que está envolvido?
2 O que queria Paulo dizer quando disse: “Falamos sabedoria entre os que são maduros”? (1 Cor. 2:6) Isto desempenha um papel vital em treinarmos nossas faculdades perceptivas como cristãos. Tornar-se cristão verdadeiro envolve uma grande mudança em nosso conceito e modo de vida. Envolve também constante progresso e desenvolvimento. Veja o que podemos aprender de nossos irmãos em Corinto. Muitos lá eram vagarosos em fazer as necessárias mudanças. Simplesmente não se desenvolviam como cristãos. Não usufruíam a íntima união cristã. Em vez disso, havia divisões, olhando-se para homens como seus líderes, num espírito sectário, e não para Cristo como seu único chefe. Notando o espírito mundano de “ciúme e rixa”, Paulo teve de dizer-lhes: “Não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a homens carnais, como a pequeninos em Cristo. Eu vos alimentei com leite, não com algo [sólido] para comer, pois não éreis ainda bastante fortes.” Também, em harmonia com nossa consideração anterior, veja como Paulo advertiu mais adiante: “Ninguém seduza a si mesmo” por pensar que “é sábio neste sistema de coisas . . . Pois a sabedoria deste mundo é tolice perante Deus”. Portanto, não treine suas faculdades perceptivas no modo da sabedoria mundana com motivação egoísta! — 1 Cor. 1:10-13; 3:1-4, 18, 19.
3. Qual é o segredo do desenvolvimento cristão?
3 Encarando agora o aspecto positivo, veja como o mesmo escritor bíblico explica a relação íntima entre este processo de treinamento e a questão da madureza. Escrevendo aos cristãos hebreus, ele observa primeiro a tendência já mencionada de não se crescer e fazer progresso. Ele diz: “Ficastes obtusos no vosso ouvir. Pois, deveras, embora devêsseis ser instrutores, em vista do tempo, precisais novamente que alguém vos ensine desde o princípio as coisas elementares das proclamações sagradas de Deus”, acrescentando que “todo aquele que toma leite desconhece a palavra da justiça, pois é criancinha”. Daí ele revela o segredo do verdadeiro crescimento cristão, dizendo que “o alimento sólido . . . é para as pessoas maduras, para aqueles que pelo uso têm as suas faculdades perceptivas treinadas para distinguir tanto o certo como o errado. Por esta razão, agora que temos abandonado a doutrina primária a respeito do Cristo, avancemos à madureza”. — Heb. 5:11-6:1.
4. (a) Na nossa obra de treinamento, contra que nos precisamos prevenir? (b) De que maneira depende o treinamento correto da alimentação correta?
4 Isto mostra claramente que não só precisamos ter a motivação correta, mas também temos de verificar cuidadosamente que se use o método ou processo correto na obra de treinamento. Como cristãos, não nos atrevemos a nos estribar na nossa própria iniciativa ou no nosso próprio critério, decidindo por nós mesmos como fazer a distinção entre o certo e o errado. Este foi o argumento de Satanás quando originalmente deu o “sinal de avançar”: “Forçosamente se abrirão os vossos olhos [de percepção] e forçosamente sereis como Deus, sabendo o que é bom e o que é mau.” Com que resultado? “Abriram-se então os olhos de ambos”, sim, mas apenas para se tornarem cônscios de culpa. Tanto a sua motivação como o seu método eram errados. (Gên. 3:5-7) Em contraste com isso, observe a relação íntima entre o alimento sólido e o processo de treinamento. Conforme Paulo explica, o leite se refere às coisas elementares da Palavra de Deus, portanto, as verdades bíblicas mais progressivas, bem como a sua aplicação, são comparadas a alimento sólido. É necessário assimilarmos estas verdades para crescermos à madureza, sendo que constituem o único guia seguro pelo qual podemos ter ‘nossas faculdades perceptivas treinadas para distinguir tanto o certo como o errado’ de modo correto, aprendendo a perceber todas as coisas do ponto de vista de Deus.
5. Como foi esta regra fielmente exemplificada por Jesus, e que orientação prometeu ele para os nossos dias?
5 O próprio Jesus não foi exceção a esta regra. Durante o seu ministério, ele recorria às Escrituras para enfrentar toda tentação e todo desafio, dizendo: “Está escrito.” (Mat. 4:4-10) Não ensinava nem fazia algo de sua própria iniciativa. Alimentava-se da Palavra de Deus, não somente por aumentar em compreensão dela, mas também por aplicá-la a si mesmo de modo prático, nos seus princípios e nas suas profecias que se deviam cumprir na vida e no ministério dele. Assim podia dizer corretamente: “Meu alimento é eu fazer a vontade daquele que me enviou e terminar a sua obra.” Ele predisse também que, no fim deste sistema de coisas, haveria a classe dum “escravo fiel e discreto”, que seria encarregada de todos os bens dele, inclusive da provisão de “alimento no tempo apropriado”, garantindo assim a continuação, em nossos dias, do programa de alimentação, tanto com o motivo correto como com o método correto. — João 4:34; 14:10; Mat. 24:45-47.
6. De que maneiras devemos sempre procurar o desenvolvimento e o progresso?
6 Os homens alcançam e ultrapassam fisicamente sua madureza, mas ainda precisam de alimento sólido. Em sentido mental e espiritual, porém, há sempre lugar para desenvolvimento, por isso há maior necessidade de se ingerir e assimilar constantemente alimento espiritual. Devemos estar sempre ávidos de ‘avançar à madureza’. (Heb. 6:1) Para nós não serve mais alimentação à base de leite! Para começar, quando somos como “crianças recém-nascidas” ao obtermos o primeiro conhecimento da Palavra de Deus, ansiamos “o leite não adulterado pertencente à palavra”, mas devemos estar sempre prontos e ansiosos de progredir, com crescente apreço e prontidão de aceitar as responsabilidades maiores resultantes. — 1 Ped. 2:2.
7. Se houver falta de progresso, o que indica isso, e como advertiu Paulo contra os perigos envolvidos nisso?
7 A questão é que não podemos parar neste sentido. Se não progredirmos, começaremos a retroceder. Esta era a dificuldade de muitos daqueles cristãos hebraicos (judaicos). Seu interesse começava a diminuir, seu ouvido ficava obtuso, era novamente preciso que alguém lhes ensinasse as coisas elementares, desde o começo. Haviam perdido o contato e deixaram de conhecer a palavra da verdade. Ouvimos o mesmo relato a respeito de alguns de hoje, que ficaram negligentes depois de terem começado como verdadeiros cristãos com a dedicação e o batismo em água. Quer nos apercebamos desta tendência em nós mesmos, quer a vejamos em outros, podemos ficar indiferentes, esperando que estes de algum modo alcancem a salvação? Paulo não adotou tal atitude, mas indicou claramente o resultado, caso se persista em tal proceder ao ponto de se não gostar de qualquer oferta de ajuda. Ele disse; “É impossível, quanto aos que de uma vez para sempre foram esclarecidos . . . e que provaram a palavra excelente de Deus e os poderes do vindouro sistema de coisas, mas que se afastaram, reanimá-los novamente ao arrependimento.” — Heb. 6:4-8.
8. De que modo se deve equilibrar a advertência com o encorajamento?
8 Temos de ter cuidado, porém, de não ficarmos logo impacientes com alguns que parecem deixar-se levar pela indiferença, nem devemos abandoná-los. Paulo não fez isso. Observe o que ele escreveu a seguir: “No entanto, em vosso caso, amados, estamos convencidos de melhores coisas e de coisas acompanhadas de salvação, embora estejamos falando deste modo.” Ele nos deu um bom exemplo de como manter o devido equilíbrio, combinando advertência com encorajamento. Conforme ele escreveu mais adiante: “Persisti em lembrar-vos dos dias anteriores, em que, depois de terdes sido esclarecidos, perseverastes em uma grande competição, debaixo de sofrimentos.” Daí, depois de citar Habacuque 2:4: “‘O meu justo viverá em razão da fé’, e, ‘se ele retroceder, minha alma não tem prazer nele’”, Paulo acrescenta: “Ora, nós não somos dos que retrocedem para a destruição, mas dos que têm fé para preservar viva a alma.” Quão animador é isso! — Heb. 6:9; 10:32, 38, 39.
9. Em que sentido é Paulo um bom exemplo para nós?
9 Paulo certamente provou que suas faculdades perceptivas estavam bem treinadas, conforme mostra o modo como lidou com os muitos problemas nas diversas congregações, também pelo modo em que enfrentou e manejou a feroz oposição de seus inimigos. Manifestou-se também pelo modo em que Jeová o usou, pela operação do espírito santo, para escrever as muitas cartas que formam uma parte vital da Bíblia. Como se conseguiu tal treinamento cabal? Conforme ele mesmo diz, foi “pelo uso”, pelo uso constante e incansável, enquanto estamos sendo sustentados por nos alimentarmos continuamente de “alimento sólido” da Palavra de Deus. Paulo seguia nisso o exemplo perfeito dado por Jesus quando este estava na terra, e por isso podia dizer: “Tornai-vos meus imitadores, assim como eu sou de Cristo.” Portanto, prestemos mais atenção a este servo muito usado e fiel, ao procurarmos treinar nossas próprias faculdades perceptivas de modo piedoso. — Heb. 5:14; 1 Cor. 11:1.
PRESTAR MUITA ATENÇÃO
10. Conforme se mostra na Bíblia, de que modo devemos prestar bem atenção?
10 Encontramos na Bíblia muitas expressões que nos exortam a estarmos atentos e alertas com a motivação correta. Estes são apenas alguns exemplos: ‘Tendes de cuidar bem das vossas almas . . . para não agirdes ruinosamente.” “Se . . . deveras procurardes a Jeová, . . . certamente também o acharás, porque indagarás por ele com todo o teu coração e com toda a tua alma.” “Guarda-te para que não te esqueças de Jeová, teu Deus.” “Quanto eu amo a tua lei! O dia inteiro ela é a minha preocupação.” “Persisti em olhar, mantende-vos despertos.” “Prestai atenção . . . para que os vossos corações nunca fiquem sobrecarregados.” — Deu. 4:15, 16, 29; 8:11; Sal. 119:97; Mar. 13:33; Luc. 21:34.
11. Como enfatiza Paulo esta mesma coisa, e até que ponto?
11 No entanto, quando examinamos os escritos de Paulo, é possível que encontremos expressões ainda mais fortes. A percepção mental é importante, mas Paulo fala de terem “sido iluminados os olhos de vosso coração”, indicando um apreço de coração que vai além do conhecimento intelectual. Isto só resulta quando há uma corrente livre do “espírito de sabedoria e de revelação” da parte de Deus, para que possamos compreender “qual é a magnitude sobrepujante do seu poder para conosco, os que cremos”, e para que conheçamos “o amor do Cristo, que ultrapassa o conhecimento”, do ponto de vista humano. Novamente, ele não só nos diz para nos acautelarmos, mas para mantermos “estrita vigilância . . . porque os dias são iníquos . . . [e para prosseguirmos] percebendo qual é a vontade de Jeová”. Estas expressões têm um grau superlativo, abrangendo todo aspecto possível. — Efé. 1:17-19; 3:18, 19; 5:15-17; veja também Colossenses 1:9-11.
12. Que expressões similares ocorrem na carta aos hebreus, e que aspecto adicional atrai a nossa atenção?
12 A carta de Paulo aos hebreus não é exceção. Ele não só nos exorta a prestarmos atenção, mas a “prestarmos mais do que a costumeira atenção”. Não fala apenas dos que procuram a Cristo, mas dos “que seriamente o procuram”, e nos diz que devemos estar “olhando atentamente . . . Deveras, considerai de perto aquele [Jesus] que aturou . . . para que não vos canseis nem desfaleçais nas vossas almas”. Todavia, além destas expressões impressivas, o apóstolo apresenta um motivo adicional para prestarmos atenção detida, e este é que alguém está dando muita atenção a nós. Quem é, e quão detida é esta inspeção? — Heb. 2:1; 9:28; 12:2, 3.
13. (a) O que se enfatiza, a partir de Hebreus 3:7, e de que maneira se usa Israel como ilustração? (b) Que comentário enfático é feito em Hebreus 4:11, 12?
13 A resposta breve é que é Jeová quem olha de perto para nós, fazendo-o por intermédio de sua Palavra. Entendermos como isto funciona nos ajudará a treinar corretamente nossas faculdades perceptivas. Na primeira parte de sua carta, começando em Hebreus 3:7 e comentando os tratos de Deus com o antigo Israel, Paulo cita duas vezes o que “diz o espírito santo” no Salmo 95:7, 8: “Hoje, se escutardes a sua própria voz [a de Deus], não endureçais os vossos corações.” (Heb. 3:7, 8, 15) É isto o que ele enfatiza, a necessidade de se escutar bem de modo acatador, sempre que Deus fala. Isto nos ajudará a nos achegarmos mais a ele, resultando em fé cada vez maior. Paulo advertiu fortemente que evitemos o proceder contrário, dizendo: “Acautelai-vos, irmãos, para que nunca se desenvolva em nenhum de vós um coração iníquo, falto de fé, por se separar do Deus vivente”, e Paulo adverte mais contra ficar “endurecido pelo poder enganoso do pecado”. (Heb. 3:12, 13) Israel, como nação, mostrou-se desobediente à palavra de Deus e por isso não entrou no descanso de Deus. Observe que Paulo relaciona intimamente a desobediência com a falta de fé. (Veja Hebreus 3:18, 19.) Daí, no capítulo quatro, ele mostra que ainda resta um descanso prometido, em sentido espiritual, para os que são do Israel espiritual, a congregação cristã, e salienta a mesma necessidade de se prestar bem atenção, dizendo: “Façamos, portanto, o máximo para entrar naquele descanso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.” Reforçando o argumento, Paulo faz então a declaração impressionante: “Porque a palavra de Deus é viva e exerce poder, e é mais afiada do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e da sua medula, e é capaz de discernir os pensamentos e as intenções do coração.” — Heb. 4:11, 12.
14. (a) Qual é o conceito correto que devemos formar da Bíblia? (b) De que modo se pode dizer que ela é viva e vitalizadora?
14 Quão notável é esta descrição da Palavra de Deus, como se ela fosse uma pessoa viva com poderes de perspicácia que pode ver o que realmente há no coração. Chega à raiz das coisas. Como? Bem, a Bíblia não é apenas um livro religioso, escrito e compilado por homens devotos, da antiguidade, um registro antigo que trata do passado morto. Antes, como canal do espírito de Deus, pode-se dizer que é viva. É a Palavra de Deus, “sua própria voz”. Quando Davi escrevia e falava sob inspiração, não era Davi quem dizia isso ou aquilo, mas era ‘o espírito que falava’, conforme tanto Paulo como Davi se davam conta. (2 Sam. 23:2; Heb. 3:7) Não só é ela viva, mas pode transmitir vida de modo ainda mais maravilhoso do que no caso da vida humana. Conforme diz o apóstolo Pedro, falando dos que se tornaram cristãos, estes receberam “um novo nascimento, não por semente reprodutiva corrutível, mas por incorrutível, por intermédio da palavra do Deus vivente e permanecente”. (1 Ped. 1:23) Mas note agora a explicação adicional de Paulo em Hebreus 4:13, onde ele diz: “E não há criação que não esteja manifesta à sua vista, mas todas as coisas estão nuas e abertamente expostas aos olhos daquele com quem temos uma prestação de contas.” Paulo fala ali do próprio Jeová e de sua visão penetrante. As faculdades perceptivas dele são supremas, em todo sentido, sempre com a motivação correta e métodos muito eficientes. Em vista do precedente, não se torna claro que Deus nos vê e julga por meio da sua Palavra e de como agimos com relação a ela? Este é o melhor método, pois nos habilita em grande parte a nos examinarmos a nós mesmos pelos mesmos meios e ver qual é a nossa situação. Procuramos sinceramente harmonizar-nos com a Palavra de Deus em todos os aspectos de nossa vida, e tentamos isso vez após vez, apesar de nossas muitas falhas? Devemos fazer isso, conforme vamos considerar mais adiante. — Pro. 17:3.
15. Como indicam as Escrituras que todas as criaturas têm uma “prestação de contas” com Deus?
15 Numa ocasião ou noutra, todas as criaturas têm “uma prestação de contas” com Jeová, o Juiz Supremo. Parece que se usa o mesmo método, o da reação da pessoa à palavra de Deus por ocasião do julgamento. (Rev. 20:12) O mesmo se dá agora. Os da geração atual se revelam cada vez mais pela sua reação à mensagem bíblica da verdade, a mensagem do reino de Deus. (Mat. 24:14) O rei entronizado, Cristo Jesus, usa um método similar para separar as “ovelhas” dos “cabritos”, determinando a sua atitude para com ele à base de sua atitude e de seu comportamento para com “um dos mínimos destes meus irmãos”, quer dizer, um dos seus discípulos com esperança celestial. — Mat. 25:31, 32, 40, 45.
PRESTAR MAIS ATENÇÃO ÀS COISAS MAIS IMPORTANTES
16. (a) Que duas coisas exigem prioridade, e por quê? (b) O que salientou Jesus na sua profecia?
16 É importante treinarmos nossas faculdades perceptivas a fim de percebermos bem as nossas prioridades. Encaremos a questão. Há duas coisas muito preciosas — tempo e vida. Em certo sentido, ambos existem em quantidade reduzida. A vida não ficará reduzida sob a regência do reino de Deus, mas existe apenas um meio para se obter vida, apenas um meio de salvação, mediante o “sangue precioso” de Cristo. (1 Ped. 1:19) E o tempo certamente é limitado, já se tendo passado cerca de 57 anos da geração que presenciou o sinal do “tempo do fim”. (Mat. 24:34) Isto significa que precisamos ser criteriosos. Queremos ser orientados corretamente na seleção das coisas mais importantes que exigem mais atenção de nós, e reduzir e diminuir as coisas menos importantes para receberem cada vez menos atenção. A Bíblia nos deve guiar na decisão destas coisas. Por exemplo, veja o que Jesus disse na sua profecia sobre o “tempo do fim”, em que ele prosseguiu, depois de enfatizar a urgência do tempo: “Mas prestai atenção a vós mesmos, para que os vossos corações nunca fiquem sobrecarregados com o excesso no comer, e com a imoderação no beber, e com as ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vós instantaneamente como um laço. . . . Portanto, mantende-vos despertos [muito atentos], fazendo . . . súplica para que sejais bem sucedidos em escapar de todas estas coisas que estão destinadas a ocorrer”, não por sermos retirados do cenário da ação, mas por sermos preservados dos laços, por causa de nossa vigilância. Em resultado disso, seremos achados “em pé diante do Filho do homem”, no seu favor, e tendo mantido nossa integridade e perseverança. — Luc. 21:34-36; veja também 1 Coríntios 10:13.
17. Que relação mostra Paulo entre o escape e prestar muita atenção?
17 Mencionar Jesus o escapar nos faz lembrar novamente a carta aos hebreus. Ela foi escrita pouco antes do irrompimento da perseguição movida aos cristãos judaicos em Jerusalém e só nove anos antes da destruição daquela cidade. Hoje somos confrontados com uma situação similar. O tempo se esgota. A “grande tribulação” se aproxima rapidamente, e isto levanta a questão do escape. Escute a advertência de Paulo: “Cuidai de que não vos escuseis daquele que está falando [por não escutar ou não prestar atenção]. Porque, se não escaparam aqueles que se escusaram daquele que dava aviso divino na terra [quando os israelitas estavam junto ao monte Sinai], muito menos ainda [escaparemos] nós, se nos desviarmos daquele que fala desde os céus”, e que em breve sacudirá e removerá inteiramente o velho sistema de coisas. — Heb. 12:25-27.
18. Devemos prestar muita atenção apenas como dever? Por quê?
18 Acha que este assunto de se prestar detida atenção talvez seja bastante incômodo, senão um pouco amedrontador? Não precisa ser. Não deve ser. Preste atenção para que sua fé e sua devoção permaneçam fortes. Em outras palavras, preste atenção ao seu coração. Esta é a chave de toda a questão, tanto quanto se trata de sua pessoa, “pois dele [do coração] procedem as fontes da vida”. (Pro. 4:23) Não vê que, em vez de ser sua cabeça, é seu coração, o órgão que determina sua motivação, seu afeto e seus desejos, que realmente determina aquilo a que dará mais atenção, tendo ao mesmo tempo prazer nisso?
19. (a) Em que base pode tornar-se o prestar atenção um grande prazer? (b) Está o amor agápe corretamente envolvido nas relações pessoais, e de que modo especial se aplica isso a Jeová?
19 Em prova disso, já teve a experiência, especialmente quando passou da infância, de descobrir que prestava mais do que a costumeira atenção a determinada pessoa? Quão agradável e absorvente pode ser isso, influindo em todas as horas que passa acordado! E quando tal pessoa corresponde bem e começa a dar-lhe mais do que a costumeira atenção, quão emocionante isto pode ser! Nada pode impedir que lhe dê mais do que a costumeira atenção. Não é assim? Claro que sim, dirá, mas uma relação pessoal, desta espécie, é inteiramente diferente daquilo que estivemos considerando aqui. Ora, talvez não seja tanto assim. A questão do amor entra nisso; é certamente uma questão do coração. A forma mais elevada do amor, conforme explicado na Sentinela, é o amor agápe. Em vista do que às vezes se diz, cria-se a impressão de que esta forma de amor é tão superior e tão desejável porque se eleva acima das personalidades, sendo descrita como amor baseado em princípios corretos. Mas não foi assim que A Sentinela definiu a palavra grega agápe. Pedro, ao usar esta mesma palavra, não disse “amai-vos estritamente segundo os bons princípios provenientes do coração”, mas ele disse “amai-vos uns aos outros intensamente do coração”. (1 Ped. 1:22) Sim, o amor agápe pode ser intensamente pessoal, mas está sempre em plena harmonia com os princípios corretos e é governado por eles. Conforme disse A Sentinela, é um “amor segundo princípios”, mas isto não quer dizer que seja impessoal. Isto se dá especialmente com o nosso amor a Jeová. Não basta nem é correto amar a Deus como uma personificação longínqua, invisível e abstrata de bons princípios, uma grande Causa Primária, conforme alguns parecem fazer. Este foi o grande erro cometido pelos consoladores de Jó. Referiam-se a Deus pelo seu título, mas nunca pelo seu nome pessoal, Jeová. O mesmo se dá com os clérigos, os hodiernos consoladores de Jó. Mas Jeová é o Ser Supremo, a maior Personalidade, e ele nos convida, por darmos constantemente detida atenção, a chegarmos a conhecê-lo e amá-lo como Aquele que merece tudo o que possamos dar, tudo do coração, da mente, da alma e da força. Ele é o Originador e Juiz de todos os princípios retos e bons.
20. Qual foi e ainda é a causa básica de alguém se desviar da verdade?
20 Conforme é bem conhecido, nos anos recentes, milhares de pessoas vieram a ter um conhecimento da verdade e realmente se tornaram testemunhas de Jeová, e depois se perderam de vista ou foram desassociadas da congregação cristã. Neste último caso, a causa do desvio pode muitas vezes ser atribuída a uma forte influência pessoal exercida contra a verdade e seus elevados princípios. Por que acontecem tais coisas? Fundamentalmente, acontecem porque estes nunca permaneceram na verdade o tempo suficiente, nem se aprofundaram realmente para conhecer e amar a Jeová como pessoa, A Pessoa. Ora, amaram a verdade e o companheirismo feliz com os irmãos, bem como as perspectivas do Reino, mas nunca aprenderam a criar entre si mesmos e Jeová, assim como entre uma pessoa e outra, um apego firme e a devoção que nada pode desfazer.
21. Ao nos apegarmos ao proceder correto, que encorajamento recebemos, e de que fonte?
21 Não é impossível. Não é difícil demais, se empenhar nisso seu coração. Os homens e as mulheres fiéis da antiguidade fizeram exatamente isso, conforme descrito em Hebreus, capítulo 11. Provaram, pela fé, sua devoção leal sob severo sofrimento, sabendo que Jeová recompensa os que “seriamente o buscam”, prestando-lhe mais do que a costumeira atenção. (Heb. 11:6) De modo similar hoje, conforme mostra o registro no nosso Anuário (em inglês, espanhol, francês e alemão), há toda uma multidão dos que mantêm a sua integridade, em todo o mundo, e que mantêm o mesmo proceder de devoção firme. Também muitos dedicados maridos e esposas se mostram diariamente fiéis aos seus cônjuges, e temos de admitir que o amor entre o marido e mulher é pessoal, desde o início, desde quando começam a prestar atenção especial um ao outro. Usando novamente a palavra grega agápe, esclarece-se a responsabilidade primária do marido cristão: “Maridos, continuai a amar as vossas esposas, assim como também o Cristo amou a congregação”, sim, a cada um da sua classe da noiva, individualmente, a qual compõe a congregação cristã. — Efé. 5:25.
22. Como podemos formar o conceito correto sobre Cristo Jesus e de que modo nos ajudará isso?
22 Jesus Cristo, naturalmente, é nosso exemplo principal. Depois do registro que acabamos de mencionar, em Hebreus, capítulo 11, faz-se o apelo de que “corramos com perseverança a carreira que se nos apresenta, olhando atentamente . . . [e considerando] de perto aquele [Jesus] que aturou tal conversa contrária da parte de pecadores contra os próprios interesses deles”. (Heb. 12:1-3) Como o vê? Através dos olhos de quem o vê? Vê-o como alguém que merece ser seguido ou pensa como aqueles de quem se predisse que diriam: “Vendo-o nós, não há aparência, de modo que o desejássemos”? (Isa. 53:2) Para obtermos o ponto de vista correto, temos de olhar para ele, usando a Palavra de Deus como espelho. Assim como às vezes usamos um espelho para obtermos um ângulo diferente de uma pessoa, assim podemos usar a Bíblia para obter novo apreço do Filho de Deus. Isto nos ajudará a nos revestirmos de uma nova personalidade, semelhante à dele, e nos animará a nos harmonizarmos com a norma divina em todo aspecto de nossa vida, e nos ajudará a perseverar assim como Jesus perseverou até o fim. — Tia. 1:22-25.
[Foto na página 152]
Deus nos julga pelo modo em que agimos para com a sua palavra.