Índia
A Índia está situada numa península meridional do continente asiático. Devido a seu tamanho, este vasto país bem que pode ser chamado de subcontinente.
A Índia possui várias divisões fisiográficas. As montanhas ao norte incluem o mundialmente famoso Himalaia, com seus majestosos picos cobertos de neve. Aqui se encontram as nascentes de sistemas fluviais tais como o do Ganges e do Bramaputra.
As Grandes Planícies se situam em frente do Himalaia, estendendo-se em ambos os extremos até incluírem o fértil delta do Ganges a leste, e o semi-árido deserto de Rajastã, a oeste. O sinclinal gangético, coberto de aluvião, é uma das áreas mais férteis da terra, mas também é o segundo vale fluvial mais densamente povoado do mundo.
Estendendo-se desde o Mar da Arábia, a oeste, até à Baía de Bengala, a leste, acha-se o planalto peninsular, conhecido como Decão. O extremo ocidental é famoso por sua grandeza emocionante. A beleza criativa de Deus se manifesta através de assombrosos picos dos quais cascateiam quedas d’água que fluem por canais desgastados pelo tempo. Um panorama de vales escarpados cheios de verdes caleidoscópicos, se estende muito abaixo perdendo-se à distância. Esta cadeia ocidental alimenta três rios importantes, o Godavari, Críxena e o Caveri.
A Índia é rica de vidas animais, tanto selvagem como domesticada. O raro leopardo-das-neves oculta-se no Himalaia, ao passo que o laborioso elefante é encontrado nas florestas ao sul. A oeste, preserva-se o decrescente leão asiático, ao passo que em quase todas as florestas se encontra a pantera. O majestoso tigre, em números decrescentes vagueia pela maioria das florestas da Índia, mas o rinoceronte em extinção, só é encontrado em estado livre no nordeste. Em várias áreas, há variedades de antílopes selvagens, búfalos, cães, hienas, ursos, cervos e macacos.
Entre os animais domesticados, o búfalo-da-índia é criado especialmente por causa do seu leite. A agricultura ainda acha indispensável o boi. Também se utilizam mulas como bestas de carga.
POVO E RELIGIÃO
O povo da Índia constitui cerca de um sétimo da raça humana e se compõe mormente de sete raças. No entanto os dois povos predominantes são os nórdicos, com suas caraterísticas européias distintivas (que residem no norte da Índia) e os drávidas, de pele escura e de constituição física franzina (que moram principalmente nas áreas sulinas).
A Constituição indiana reconhece quinze línguas oficiais, a principal das quais é o hindi, que se diz ser falado por 181 milhões de pessoas. Todavia, cerca de 872 línguas e dialetos são falados pelos vários grupos tribais e étnicos! Na atualidade, o inglês continua sendo a língua do comércio e da indústria.
O hinduísmo é a religião mais antiga sobrevivente da Índia. Predominava ali quando o império persa se estendia até à Índia, no sexto século antes da Era Comum. Outras religiões nativas são o budismo e o jainismo, ambas as quais começaram por volta do tempo em que os judeus sofriam seu cativeiro babilônico, no sexto século A. E. C. Mais tarde, no século quinze de nossa Era Comum, fundou-se o siquismo. Cerca de 10 por cento da população se compõe de muçulmanos, que invadiram pela primeira vez a Índia no oitavo século E. C. Apenas 2,5 por cento dos 609 milhões de habitantes da Índia são membros das religiões da cristandade. Em 1973, havia cerca de quatorze milhões de cristãos professos na Índia, grande porcentagem dos quais vivia em Querala, no sul da Índia.
CHEGA À ÍNDIA O CRISTIANISMO VERDADEIRO
Afirma-se que o apóstolo Tomé plantou as sementes originais do cristianismo verdadeiro na terra da Índia. Isso, contudo, é pura lenda. Não dispõe de prova fidedigna, apesar de que, num subúrbio da cidade de Madrasta, existe uma colina pequena conhecida como Colina de S. Tomé. Ali se supõe que o apóstolo sofreu martírio. A colina é cercada por um santuário dedicado a ele. Caso a lenda fosse verídica, ter-se-ia de dizer também que Satanás tinha tido muito êxito em plantar seu “joio” no meio da semente excelente dos filhos do Reino, pois o cristianismo apóstata floresceu naquela parte do sul da Índia. — Mat. 13:24-30, 36-43.
De forma alguma legendário, porém, é o seguinte: Em 1905, S. P. Davey, estudante de ciências que fora para os Estados Unidos, conheceu Charles Taze Russell, o primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia dos EUA. Depois de passar algum tempo com ele estudando a Bíblia, Davey voltou para sua província nativa de Madrasta naquele mesmo ano a fim de iniciar ali a obra do Reino. Pregando entre seus concidadãos de língua tâmil, com o tempo estabeleceu cerca de quarenta grupos de estudo bíblico em Nagercoil e arredores, no extremo sul da península indiana.
Naquele mesmo ano, A. J. Joseph, um estudante de 21 anos começou a pesquisar a verdade bíblica. Joseph e seus pais pertenciam à comunidade da Igreja Anglicana. Seus pais tinham instilado no jovem Joseph o profundo apreço pela Bíblia. No entanto, tinha muitas perguntas. Entrando em contato com algumas publicações adventistas, Joseph procurava explicações mais claras da Bíblia. Sentia-se perturbado com os dogmas da Trindade e do batismo de bebês, que nem seu pai nem ninguém que ele conhecia conseguia explicar satisfatoriamente.
O pai de Joseph sugeriu que ele escrevesse a P. S. Pulicoden, chefe do movimento adventista no sul da Índia, perguntando se este possuía quaisquer livros que explicassem a doutrina da Trindade. Pulicoden enviou ao inquiridor Joseph o volume de Charles T. Russell, The At-one-ment Between God and Man (A Expiação Entre Deus e o Homem). Este volume habilitou o jovem Joseph a ver a verdade sobre a supremacia de Jeová Deus, a relação entre Jeová e Seu Filho, Jesus Cristo, e o significado do espírito santo. Depois de ler este volume da série Estudos das Escrituras, e obter dele o endereço da Sociedade, não demorou muito até que Joseph possuísse todas as publicações de Russell, enviadas dos Estados Unidos. Tornou-se leitor regular da Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo. Joseph também começou a distribuir O Mensário dos Estudantes da Bíblia e outros tratados semelhantes.
O início de 1906 encontrou a família de Joseph morando perto do povoado mercantil de Cotaiam, centro do comércio de temperos e da borracha, no estado real de Travancore (Querala). Ansiosamente, Joseph se pôs a traduzir o Plano Divino das Eras (Volume 1 dos Estudos das Escrituras) para sua língua nativa, malaiala. O Estudo XII e sua “Tabela das Eras” eram então usados pelo pai de Joseph, e seu primo Oommen, e pelo próprio jovem Joseph, em disseminar zelosamente a verdade bíblica entre amigos e parentes. Nos povoados orizicultores e nas plantações de coqueiros e cercanias, palmilharam arrozais infestados de mosquitos e selvas úmidas e quentes, a fim de partilhar com outros as suas crenças recém-adquiridas.
Perto do fim de 1906, Joseph contraiu grave afecção pulmonar. A conselho médico, mudou-se para o clima mais seco de Cudapá, povoado situado no distrito oriental do Estado de Madrasta, a cerca de 645 quilômetros a nordeste de sua casa. Aqui, num fértil vale fluvial situado entre as colinas de Veliconda e Palconda, aproveitou o ensejo para estudar intensamente a Bíblia. Mesmo antes de sua recuperação disseminou com entusiasmo a verdade, por distribuir tratados obtidos do irmão Russell, nos Estados Unidos. Para fazê-lo, Joseph até mesmo aprendeu télugo, língua local das pessoas entre as quais morava então. Quer prevalecessem as monções ensopadoras quer o sol causticante, Joseph se esforçava, nas aldeias e povoados, a levar ao povo a mensagem do Reino.
VISITA SIGNIFICATIVA
Sendo leitor ávido da Torre de Vigia, Joseph ficou sabendo que o irmão Russell, ao fazer uma viagem mundial em 1912, visitaria a Índia. A cidade de Madrasta seria visitada, de modo que Joseph aproveitou a oportunidade para ouvir Russell e conseguir uma audiência pessoal com ele. Em Madrasta, o irmão Russell discursou no Salão da ACM e, embora sua agenda estivesse repleta, concedeu a Joseph uma audiência pessoal que durou duas horas. Isto resultou em se lançar verdadeiro alicerce para a disseminação da verdade bíblica na Índia. Russell e seu grupo também prepararam a base para a expansão futura, por proferirem discursos por toda a Índia, na cidade religiosa de Benares, na histórica cidade de Lucnau e em Trivandrum, Cotaracara, Nagercoil, Purã e Vizagapatã, bem como nos portos comerciais de Calcutá e Bombaim.
Quando Russell chegou de Madrasta para Trivandrum, S. P. Davey recebeu Russell na estação ferroviária e o adornou com uma grinalda de flores no típico estilo indiano. O representante do governo britânico, conhecido como Residente Político, recebeu hospitaleiramente o irmão Russell e o convidou a ficar na Residência. Fez arranjos para que o primeiro presidente da Sociedade falasse no auditório municipal Jubileu de Vitória, da cidade. Russell também falou num povoado próximo, chamado Niaracade, onde Davey morava. Depois disso, o nome do povoado foi mudado para Russellpurã, que significa O Lugar de Russell, e é chamado assim até os dias de hoje.
Tais reuniões vieram a ser notadas pelo marajá de Travancore, que convidou C. T. Russell ao palácio real. O regente hindu tratou Russell mui respeitosamente e solicitou uma foto dele. Mais tarde, a foto do irmão Russell foi pendurada no palácio do marajá. Russell também fez arranjos para que o marajá fosse presenteado com os seis volumes dos Estudos das Escrituras, bem como com a Bíblia.
Mais para o sul, em Nagercoil, o irmão Russell encontrou o irmão Joshua Jacob, sendo adornado com uma grinalda de flores. O discurso bíblico de Russell ali provocou uma comoção e tanto entre os membros da Igreja da Missão de Londres. Algum tempo depois, eis o que aconteceu, conforme lembrado pelo irmão Jacob: “Certo dia, eu proferia um discurso logo do lado de fora da igreja, quando um arruaceiro me derrubou com um soco. Levantei-me de novo e disse-lhe: ‘Estamos proclamando o segundo advento de nosso Messias, e vocês não devem tratar-nos desse modo.’ Em conseqüência deste entrevero, tivemos o ensejo de ajudar alguns dos membros da igreja da Missão de Londres a conhecer a verdade.”
Algum tempo depois destes eventos, S. P. Davey ficou viciado em bebidas fortes. Ele comprara uma propriedade para a realização das reuniões com o dinheiro que o irmão Russell lhe dera. Mas, ao meter-se em dificuldades financeiras, vendeu a propriedade a uma missão religiosa local. Aqueles que ele juntara em classes de estudo bíblico se espalharam. A maioria deles voltou às suas igrejas. Outros, contudo, permaneceram fiéis e se associaram com o irmão Joseph na obra do Reino.
TRAVANCORE OUVE A MENSAGEM DO REINO
No ínterim C. T. Russell convidara Joseph a assumir a obra de proclamar as boas novas como carreira por tempo integral. Sua saúde era incerta e ele modestamente reconhecia suas limitações. Ademais, era uma decisão perscrutadora, a de se devia abandonar seu posto secular num escritório do governo local. Com grande timidez, Joseph respondeu favoravelmente ao convite do irmão Russell. Sentia-se como o Jeremias de antanho, incapaz de assumir tal carga de responsabilidade. — Jer. 1:4-8.
Joseph solicitou ajuda e a obteve. O irmão R. R. Hollister, dos Estados Unidos, foi designado a trabalhar na Índia e chegou aqui em 1912. Juntos, ele e Joseph formularam um plano para a tradução das publicações da Sociedade em malaiala, para serem distribuídas por todo o estado de Travancore, adornado de coqueirais.
Sua primeira produção foi “Os Sinais dos Tempos”, tirada do Mensário dos Estudantes da Bíblia. Hollister designou Joseph a fornecer certa quantidade destes tratados ao irmão Devasahayam, em Neyyattinkara, aldeia produtora de arroz a cerca de 16 quilômetros ao sudeste de Trivandrum. Devasahayam também representava a Sociedade em Travancore.
Viajando de carro de boi, Joseph circulou os tratados em sua viagem. Os bois lentos o transportaram por trilhas serpenteantes, ladeando arrozais verdes bruxuleantes. Penetraram em bosques de areca, enquanto Joseph pacientemente suportava os insetos que zumbiam e as condições abrasadoras espalhando constantemente as verdades libertadoras aos membros da cristandade. Atravessando os muitos rios de Travancore e rodeando lagoas orladas de palmeiras, Joseph prosseguiu cada vez mais para o sul, através desta região pitoresca, espalhando a “palavra da vida” até que, por fim encontrou-se com Devasahayam, em Neyyattinkara. — Fil. 2:14-16.
Travancore gozava da distinção de ter a maior porcentagem de alfabetizados de toda a Índia. Isto se dava, talvez, porque muitas das missões educacionais da cristandade floresciam entre os malabares. Enfiados no meio da população, quer dos pescadores costeiros, dos orizicultores das planícies, dos trabalhadores das plantações de chá, dos madeireiros de teca, quer dos produtores de borracha, os programas educativos das missões produziram mais amplo número de cristãos professos neste estado do que em qualquer outro através da Índia. Sendo Travancore, e seu estado vizinho de Madrasta, um campo frutífero para a disseminação das verdades bíblicas, nossa obra foi avante. Mas, Joseph não estava satisfeito, solicitou mais ajuda, visto que o irmão Hollister não se fixou de forma permanente na Índia.
O irmão Russell convidou A. A. Hart, de Londres, e S. J. Richardson, colportor de Cingapura, a se transferirem para a Índia. Assim, quando Hart chegou, em 1913, ele e Joseph viajaram para visitar Devasahayam em Neyyattinkara, e os três traçaram planos para a promoção da obra. No entanto, Devasahayam não perseverou, e não existe registro do que ele fez exatamente com as publicações que lhe foram fornecidas. Mas, a evidência é que ele era muito parecido com muitos “evangelistas” independentes da Índia: Procurava fazer que as pessoas o seguissem, ao invés de levá-las a Cristo. Seu trabalho reduziu-se a nada.
Em Tiruvella, no norte de Travancore, contudo, o fiel irmão Joseph e seu colega, irmão Hart, estabeleceram uma sede provisória da qual cobririam a parte norte do estado. Naqueles dias, a obra consistia principalmente na distribuição de tratados e em proferir discursos públicos baseados no “Plano Divino das Eras”. A obra progrediu bem, especialmente nesta área setentrional. No ínterim, o irmão Richardson chegou de Cingapura e começou a trabalhar na cidade de Madrasta. Pregava mormente entre os alfabetizados e a comunidade anglo-indiana de língua inglesa, que já professavam ser cristãos. Assim, em 1913, pequeno grupo de estudo da Bíblia foi formado na cidade de Madrasta.
Em Travancore, a obra progredia rapidamente, embora não sem grande oposição. Proferiam-se discursos públicos na maioria dos chamados centros e principais aldeias “cristãos”. Não demorou muito até que se formaram pequenos grupos de estudo da Bíblia em muitas localidades. Mas, logo, irromperia a Primeira Guerra Mundial.
Em vista da possível interrupção de todas as comunicações com os Estados Unidos e a Europa devido à guerra, Hart e Richardson foram chamados de volta à Inglaterra, em novembro de 1914. Joseph, cheio de zelo e entusiasmo, fez o melhor que pôde para continuar sozinho, mas logo começou a solicitar de novo ajuda externa. O irmão Russell então pediu a Hart, de Londres, que voltasse para a Índia. Chegando em julho de 1916, o irmão Hart logo se dirigiu às províncias setentrionais do país, distribuindo principalmente compêndios bíblicos em inglês entre os anglo-indianos. Tais descendentes da raça inglesa eram cristãos nominais em suas crenças e modos de vida.
IMPORTANTES “PRIMEIROS”
Em 1916, os irmãos fizeram arranjos para a primeira assembléia do povo de Jeová na Índia. Realizou-se em dezembro, na cidade de Tiruchirapalli, no sul do Estado de Madrasta. O irmão Hart organizou este congresso nacional dos “Estudantes da Bíblia” na Índia. Pelo menos quatro irmãos vieram da Ilha do Ceilão, e um total de trinta e cinco pessoas estavam presentes nesta ocasião histórica.
Naquele tempo, os diapositivos do Drama Eureka, do Fotodrama da Criação da Sociedade Torre de Vigia (EUA) eram usados extensivamente. Muitos na Índia viram essa apresentação visual do propósito de Deus para a terra e o homem. Naqueles dias, naturalmente, o uso de eletricidade não era tão difundido como é hoje. Assim, tais diapositivos eram projetados por meio de geradores de gás acetileno.
Muitos tratados foram publicados sobre “Onde Estão os Mortos?” e “A Volta de Nosso Senhor”. Os irmãos também ficaram emocionados de terem uma tradução do livro O Plano Divino das Eras em malaiala, em um só volume. Vários membros de coração honesto das igrejas estavam sendo despertados espiritualmente e estavam associando-se em classes de estudo bíblico por todas as aldeias. Junto à planície costeira de Travancore, estes pequenos grupos surgiram em lugares tais como Cotaiam, Aymanam, Chingavanam, Talapady, Meenadom, Ayerkunnam, Kanghazha, Valiyamala e Neermankuzhy. Com efeito, Meenadom teve a distinção de ser a primeira congregação das Testemunhas de Jeová estabelecida no país da Índia.
OPOSIÇÃO E PROSCRIÇÃO
Após a publicação de O Mistério Consumado, em 1917, surgiram reais dificuldades. O próprio A. A. Hart começou a se opor à própria obra que ajudara a iniciar. Alguns dos crentes locais de Travancore tropeçaram diante de O Mistério Consumado e colocaram-se ao lado de Hart. Ele publicou uma carta-aberta aos “Estudantes da Bíblia” em Travancore, e ele mesmo retornou para lá a fim de tentar persuadir os irmãos a apoiá-lo na oposição à Sociedade Torre de Vigia (EUA). Alguns se desviaram e aceitaram a liderança de Paul S. L. Johnson, dos Estados Unidos, que liderara similar revolta naquele país. Mas, em geral, tais esforços não provocaram muita perturbação na Índia.
A oposição, contudo, surgiu duma fonte diferente. Quando o irmão Rutherford e seus co-trabalhadores nos Estados Unidos foram detidos e encarcerados sob a falsa acusação de sedição em 1918, a notícia chegou aos jornais da Índia. Em conseqüência disso, o governo britânico começou a agir contra nossos irmãos na Índia.
A. A. Hart, embora se tornasse desleal à Sociedade, terminava então uma excursão de pregação no Ceilão e no sul da Índia. Ao chegar à casa do irmão Joseph, em Cotaiam, Travancore, o marajá local lhe entregou uma notificação. Baseada em instruções dos regentes ingleses, exigia que Hart deixasse o país em questão de sete dias. Ele foi para a Austrália. Os livros da Sociedade Torre de Vigia (EUA) foram então proscritos, embora se fizessem esforços de ocultar os estoques em mãos.
Todavia durante a proscrição, a obra do Reino continuou a progredir. Foi nessa época, em 1919, que o irmão K. K. Ipe entrou em contato com a verdade. Ipe era hindu e viu pela primeira vez a Bíblia quando era educado na escola duma missão. Também teve alguma associação com a organização dos “Brethren” (“Irmãos”). Mas, quando ouviu a verdade em Cotaiam, reconheceu a voz do “pastor excelente” e “consagrou-se” ou dedicou sua vida a Jeová. — João 10:14, 15.
Visto que os seguidores de Paul Johnson eram ativíssimos nessa área, o que pensava deles o irmão Ipe? “Bem”, admitiu, “tudo era muito confuso depois de deixar o hinduísmo. Os johnsonitas me enganaram e eu os segui por algum tempo. Mas, logo comecei a ver o engano de seus ensinos e rapidamente os abandonei em favor do povo de Jeová, e aqui tenho permanecido.”
Nossa obra era realizada sob proscrição e usávamos apenas a Bíblia. Os discursos públicos e as reuniões de estudo bíblico continuaram com zelo constante por parte dos fiéis. Em 1920, K. C. Chacko, de Puthuppally, fugiu de “Babilônia, a Grande”, e tomou sua posição do lado de Jeová. Falando sobre as primeiras reuniões cristãs a que ele assistiu em Travancore, disse: “Era prática aceita que o presidente chamasse as irmãs para fazerem orações.” Mas, quando se tomaram medidas corretivas, os irmãos cooperaram com elas.
A VERDADE SE ESPALHA, APESAR DA OPOSIÇÃO
A proscrição terminou em 1920. Logo depois disso, o irmão Joseph apelou para J. F. Rutherford, a fim de obter permissão para reimprimir O Plano Divino das Eras em malaiala. Foram fornecidos recursos e, em 1923, 1.000 exemplares foram supridos. Isto novamente forneceu grande impulso à obra, em especial em Travancore.
À medida que a verdade se espalhava, também o fazia a oposição por parte do clero. O clérigo T. J. Andrew, da Igreja Anglicana, desafiou Joseph para um debate público sobre o assunto da alma, e o desafio foi aceito. Andrew tornou disponível sua igreja, na cidade de Totacade, e o debate foi anunciado por meio de convites. Assim, no domingo à tarde cerca de 300 pessoas compareceram. A proposição era: “As Escrituras ensinam claramente que a alma humana é imortal, eterna e não pode jamais morrer.” Andrew deveria afirmar; Joseph o negaria.
Andrew falou primeiro, por uma hora, mas o único texto que usou foi 1 Coríntios 2:11: ‘Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está?’ (Versão Almeida) Joseph replicou com numerosos textos, mostrando a diferença entre espírito e alma. O resultado foi uma impressão mui favorável e muitos se dirigiram a Joseph depois do debate, desejosos de ouvir mais. Daí, nesta cidadezinha de Totacade, no coração da Travancore rural, formou-se uma nova congregação.
Joseph então solicitou à Sociedade que designasse mais auxiliares de tempo integral na Índia. Quatro irmãos foram escolhidos: seu próprio primo, irmão K. C. Oommen, e os irmãos Mani, de Totacade, K. C. Chacko, de Cotaiam, e K. M. Varughese, de Talapady. Varughese era professor e sabia escrever bem nitidamente em malaiala. Durante muitos anos, transcrevia, para o impressor, os manuscritos que o irmão Joseph preparava em malaiala. Os cinco irmãos trabalhavam como equipe, excursionando pelas aldeias e povoados de Travancore, proferindo discursos, demonstrando as classes de estudo bíblico e distribuindo os tratados e outros compêndios bíblicos.
O irmão Joseph procurou então estender sua obra a outras partes da Índia. Enquanto se recuperava da doença em Cudapá, Estado de Madrasta (agora Andra Pradexe), há cerca de dezessete anos atrás, Joseph aprendera télugo. Empreendeu então uma excursão pelo antigo estado de Hiderabade, espalhando tratados bíblicos e proferindo discursos. Ao fazê-lo deparou com o jornal em télugo, Millennial Light (Luz Milenar), que continha alguns resumos das publicações da Sociedade Torre de Vigia (EUA). Isto moveu Joseph a escrever ao irmão Rutherford, solicitando autorização para editar algumas de nossas publicações em télugo. Por conseguinte, foram publicados 2.000 tratados sobre “Onde Estão os Mortos?” e 5.000 sobre “A Volta de nosso Senhor”. Joseph fez então extensiva excursão pelo então estado de Hiderabade, distribuindo-os. Obteve um Catálogo das Missões Cristãs na Índia e à base dele, conseguiu visitar a maioria dos centros das Missões Cristãs.
No ínterim, em outras partes da Índia, faziam-se tentativas isoladas de disseminar a verdade bíblica. O soldado inglês, Frederick James, conhecido popularmente como Jimmy James, abandonou o exército, “consagrou-se” ao Deus da Paz, Jeová, e fixou-se em Cawnpore (Campur), nas setentrionais Províncias Unidas (Utar Pradexe), onde trabalhou como técnico de eletricidade.
Em sua situação solitária, o irmão James pregou a Palavra de Deus, especialmente entre seus ex-colegas militares. Um rapaz do exército que demonstrou interesse especial foi Jack Nathan. Enquanto servia no exército inglês, ouvira um clérigo dizer que um “sujeito engraçado”, chamado James, tinha informações sobre a volta do Senhor. Nathan, porém, teve dificuldades em encontrar Jimmy James. Quando finalmente o encontrou, sua primeira palestra prosseguiu até às três horas da madrugada, ao andarem os cerca de oito quilômetros de volta ao alojamento de Nathan. Nathan reconheceu de imediato as explicações como sendo aquilo que há muito procurava. Em 1921, Nathan compareceu à Refeição Noturna do Senhor, em casa de James, em Cawnpore. Ao todo, cinco pessoas estavam presentes. Depois disso, Jack Nathan pregou a seus colegas soldados, e, ao retornar à Inglaterra, em 1923 conseguiu deixar o exército e seguir uma vida de dedicação a Jeová Deus. Ele agora serve como membro da família de Betel em Toronto, Ontário, Canadá.
O ZELO CONFRONTA OS OPOSITORES
Em algum tempo, na última metade de 1923, de volta a seu estado natal de Travancore, Joseph proferia um discurso bíblico em Pallam, um povoado ao sul de Cotaiam. Na estrada, sob uma árvore frondosa, Joseph falava a uma multidão de ouvintes quando um fanfarrão se despencou sobre ele, agarrou sua barba grande (que deixou crescer a conselho médico, para proteger sua garganta e seus pulmões, devido à sua anterior debilidade) e interrompeu a reunião. O irmão Joseph foi literalmente arrastado por quase 6 quilômetros até as fronteiras da cidadezinha de Cotaiam, antes de o soltarem. Mas, seu zelo não arrefeceu.
Um transeunte que testemunhara esta cena feia dirigiu-se à casa de Joseph para mostrar-lhe solidariedade e o convidou a ir à própria aldeia dele, Chingavanam, e a permanecer ali por uma semana para proferir discursos bíblicos. Este senhor temente a Deus construiu um local de reuniões, com bambu e folhas de palmeiras. Joseph mandou imprimir convites para anunciar as reuniões e, durante uma semana inteira, cerca de 300 a 400 pessoas conseguiram receber instruções da Palavra de Deus. Este senhor amigável aceitou a verdade, e formou-se uma congregação em Chingavanam.
Estes eventos atraíram grande dose de atenção. As Igrejas Católica Romana e Cristã Síria, e a Igreja Anglicana, combinaram-se todas em opor-se à verdade. Chamavam as Testemunhas de ateus, porque não criam na doutrina da Trindade. E publicaram artigos escandalosos que conspurcavam o caráter de Charles Taze Russell. Assim, Joseph obteve exemplares dum folheto, Grande Batalha nos Céus Eclesiásticos, de J. F. Rutherford, e os distribuiu a todos os clérigos de língua inglesa que conhecia nessa área. Observe, por favor, que essa oposição partia de pessoas que professavam ser cristãs; nunca de muçulmanos ou de hindus. Em cada reunião realizada por nossos irmãos, naquele tempo, havia alguma forma de pressão hostil e distúrbios por parte de arruaceiros. Uma tática favorita da oposição era gritarem e tocarem tambores, e batucarem em latas a fim de abafar a mensagem do Reino — seu único argumento contra a verdade bíblica!
Kozhencherry é uma aldeia situada numa área produtora de pimenta e gengibre de Travancore, e é a fortaleza da seita Marthoma (S. Tomé) Reformada Cristã. Decidiu-se que o Fotodrama da Criação seria exibido aos residentes de Kozhencherry, mas os irmãos tiveram dificuldades em conseguir um salão conveniente. Por fim, obteve-se permissão de usar a escola local do governo. Joseph chegou ali, com seu equipamento, por fim montou o projetor com sua lâmpada de acetileno, e prosseguiu com o programa. Subitamente, fanáticos religiosos desencaminhados, sob a liderança de seu sacerdote irado, surgiram em cena. Com gritos estridentes perturbaram a reunião. Embora se fizesse um apelo de ajuda à polícia, não houve nenhuma ajuda.
Mais para o sul, em Cundara, acha-se entrincheirada a seita jacobita, com seu seminário teológico. Cundara era outro local de hostilidades. No meio do ambiente pacífico de majestosas palmeiras e luxuriantes bananeiras, o irmão Joseph proferia um discurso, explicando a “Tabela das Eras”, quando uma multidão, liderada pelo sacerdote, entrou em cena, batendo em latas e erguendo uma cacofonia de vozes ensurdecedoras que abafaram as palavras do orador. Os meliantes religiosos rasgaram a “Tabela das Eras” e sumiram com ela. Outros lançaram estrume de vaca no irmão Joseph. Um senhor hindu interveio para ver de que se tratava o tumulto, e perguntou ao sacerdote se isto significava seguir o exemplo de Jesus Cristo ou o dos opositores de Cristo. Ameaçou chamar a polícia. Nisso, o sacerdote deu o fora e a multidão se dispersou.
AVANTE COM A OBRA
Nossa obra em Travancore estava progredindo. Circulava O Plano Divino das Eras em malaiala e, em 1920, Está Próximo o Tempo (segundo volume dos Estudos das Escrituras) foi impresso.
Em 1924, obteve-se papel da filial suíça da Sociedade (EUA) e uma edição em malaiala do folheto Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão foi publicada.
Nesse mesmo ano, o irmão Rutherford enviou dinheiro para Joseph, para que comprasse um terreno e construísse um lugar de reuniões em Meenadom, onde se situava a mais antiga congregação da Índia. Abrigada no meio de arrozais orlados de palmeiras, e jaqueiras carregadas de frutos, resultou ser deleitoso lugar de reuniões.
Também em 1924, o irmão A. J. Joseph fez extensiva excursão ferroviária por toda a Índia, falando sobre assuntos tais como “A Volta do Senhor” e “Onde Estão os Mortos?”. Partindo de Cotaiam, Travancore, esta excursão de discursos o levou em direção ao norte, até que por fim chegou a Calcutá.
Daí, da famosa capital da juta, Calcutá, continuou para o noroeste, para a cidade hindu de peregrinações, Alaabad, e, dali, para o norte, até Cawnpore sede da indústria têxtil. Seu próximo local de discursos foi Agra, a cidade do Taj Mahal. Então dirigiu-se para o noroeste, para um posto militar em Ambala. Por fim chegou a seu lar, nas profundezas do sul da Índia, depois de percorrer cerca de 5.798 quilômetros. Certamente se tratava dum nobre empenho a ser realizado sozinho, mas era acompanhado do vigor da parte de Jeová. (Fil. 4:13) Deste modo, o “solo” da Índia estava sendo preparado para a obra futura do povo de Deus neste amplo país.
O ano seguinte foi marcado por tragédias pessoais para o irmão Joseph, mas deixemos que ele nos conte isso em suas próprias palavras: “Em 1925, ocorreu grande calamidade em minha família. Por causa de grave forma de disenteria, morreram três de meus filhos. Isto foi um grande choque para mim e minha esposa, mas fomos confortados por nossa firme fé na ressurreição. Jeová nos sustentou a ambos, para podermos suportar a calamidade com coragem e fortaleza, e para irmos avante com a obra.”
INICIA A EXPANSÃO
Quando se abateu a histeria da Primeira Guerra Mundial, fez-se outra tentativa de estabelecer a obra do Reino abrangendo “toda a Índia”. Num congresso dos “Estudantes da Bíblia” no Palácio de Alexandra, Londres, Inglaterra, em maio de 1926, Joseph F. Rutherford indagou sobre os irmãos naquele país que pudessem ir para a Índia, a fim de consolidar e ampliar a obra do Reino ali. George A. Wright e Leslie Shepherd foram escolhidos, mas por alguma razão, Leslie Shepherd foi substituído por Edwin Skinner.
Wright e Skinner, ambos jovens e solteiros, partiram de navio de Londres em julho de 1926, chegando em Bombaim perto do fim do mês, no meio das monções torrenciais da Índia. A. J. Joseph e um colega, chamado Abraham, encontraram-se com eles no cais. Joseph ficou por alguns dias, para lhes fornecer em primeira mão algumas informações sobre o âmbito da obra já feita na Índia, e os resultados alcançados. Nomes e endereços de interessados, conhecidos como leitores da Torre de Vigia (Sentinela), foram obtidos, principalmente anglo-indianos, empregados pelo serviço de telégrafo do governo e das ferrovias. Estes eram famílias de per si ou pequenos grupos espalhados por toda a Índia, desde o longínquo norte, em Queta, até Madrasta, no sul. Assim, o escritório mais centralizado da Sociedade Torre de Vigia (EUA) em Bombaim provia instalações e orientação aprimoradas para a obra do Reino na Índia.
Os irmãos Wright e Skinner alugaram uma casa na Avenida Lamington, na área central da cidade de Bombaim. A administração da filial foi alterada, Edwin Skinner tornando-se o novo superintendente da sucursal. O território para a filial ampliada abrangia toda a Índia, Birmânia, Ceilão, Pérsia e Afeganistão, enorme área, com ampla população.
Seus esforços iniciais foram anunciar dois discursos públicos, “Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão” e “Onde Estão os Mortos?”. Para estes, alugaram o velho Cinema Wellington, em Dhobi Talao, Bombaim. Isto resultou em entrarem em contato com alguns do público que compareceram e deixaram seus nomes e endereços. Cultivou-se tal interesse e pequeno grupo se reuniu para estudo bíblico na filial. Tais pessoas eram cristãos nominais, ligados à Missão Luterana Alemã da Basiléia, que operava mormente nas áreas ocidentais da então Presidência de Madrasta, em Mangalore, onde o canarês é a língua regional. Os discursos foram proferidos em inglês, tal língua sendo usada em comum pelas pessoas de Bombaim que são empregados no comércio e na indústria.
Aconteceu que os vizinhos do lado dos irmãos Wright e Skinner eram cristãos nominais da comunidade anglo-indiana. Explicaram prestimosamente aos recém-chegados onde havia uma concentração de “cristãos” e, especialmente, da comunidade anglo-indiana que sabia ler inglês. Tais áreas foram visitadas e o livro A Harpa de Deus amplamente distribuído entre tais pessoas. Isto levou os irmãos ao distrito de Parel, na parte norte da cidade de Bombaim, onde a Grande Ferrovia da Península da Índia tinha extensivas oficinas mecânicas, dispondo de instalações recreativas e um auditório.
Alugando este auditório do Instituto Ferroviário, nossos irmãos anunciaram outros discursos públicos bíblicos. Estes resultaram frutíferos, levando a conhecerem George Waller, empregado da oficina ferroviária que já possuía algumas das publicações da Sociedade e já estava um tanto familiarizado com nossa mensagem. Arranjou-se então um estudo bíblico semanal na casa de um dos operários. Este, então, foi o início da obra de pregação organizada do Reino na cidade de Bombaim. George Waller provou ser uma Testemunha de Jeová de extraordinário zelo. Morreu em 1963, fiel até o fim.
PARA O INTERIOR
Havia apenas dois irmãos na filial de Bombaim, em 1926. Isto significava que apenas um se aventurava pelo amplo interior, enquanto o outro ficava em Bombaim, para cuidar das responsabilidades da filial. Skinner fez primeiro arranjos de explorar o território, a fim de achar os Estudantes da Bíblia interessados. Primeiro viajou de trem até a cidade de Madrasta, para encontrar-se com o irmão Wrightman, que morava em condições muito precárias junto com a esposa e três filhos, no distrito de Royapuram. Pequeno grupo se reunia em sua casa, para os estudos semanais da Bíblia. Um soldado inglês, então lotado em Madrasta, também demonstrava interesse, e proveu bondosamente acomodação para o irmão Skinner.
Três dias depois, o irmão Skinner prosseguiu viagem, partindo da costa leste e atravessando o país em direção ao oeste, até Cotaiam, em Travancore, então um estado nativo, governado por um marajá. Foi ali que a obra do Reino criara suas primeiras raízes devido à zelosa atividade de A. J. Joseph. Agora ela progredia com certa intensidade. Skinner permaneceu em Travancore por cerca de uma semana, servindo a um pequeno congresso. Deste modo, conseguiu conhecer cerca de quarenta dos irmãos e irmãs mais ativos e zelosos.
Indo ainda mais para o sul, Skinner fez sua primeira visita à ilha de Ceilão, produtora de chá, atualmente chamada Sri Lanka. Em Colombo, procurou ajudar a congregação local de cerca de vinte Estudantes da Bíblia, liderados pelo irmão Van Twest.
OUTRA EXCURSÃO EFICAZ
Por volta do início de 1927, Skinner fez outra excursão, desta feita penetrando nas seções setentrionais da Índia. Munido dos nomes e endereços dos assinantes da Torre de Vigia e dos Estudantes da Bíblia, partiu para uma viagem que começou em Agra, a alguns quilômetros ao sul de Délhi. Ali conheceu Frank Barrett, um anglo-indiano que trabalhava no Departamento dos Telégrafos.
Barrett era um trabalhador entusiástico que certa vez estivera lotado na cidade sagrada hindu de Alaabad. Centenas de milhares de peregrinos viajavam periodicamente para lá a fim de adorar seus deuses hindus na confluência dos “sagrados” rios Jamuna e Ganga, mais popularmente conhecidos como o Ganges. Assim, o irmão Barrett montava uma barraca e exibia as publicações e tratados da Sociedade para venda e distribuição gratuita às enormes multidões. Barrett tomara a iniciativa de traduzir para o hindustani (romanizado) um tratado sobre o assunto Aabadi Zindagi (“Vida Eterna”).
Continuando de Agra, Skinner voltou-se para o norte, para o povoado acantonado de Ambala, no Punjab oriental. Ali encontrou Clarence Manning, que morava nas instalações do Telégrafo do Governo e o incentivou a fazer o que pudesse para espalhar as boas novas do Reino. Foi ali que o superintendente da filial descobriu que o norte da Índia pode ser desconfortavelmente frio em janeiro, pois relata: “Bem me lembro de me sentar à mesa do jantar, à noite, junto com a família Manning, vestindo um casacão, por causa do frio. As casas, nessas partes, são construídas com paredes grossas e tetos altos para serem confortáveis nos meses intensamente quentes do verão, sem quaisquer arranjos para aquecimento em janeiro.”
Prosseguindo no Punjab (que significa “Cinco Rios”), Skinner atravessou o Sutlej, tributário do Rio Indo. Parou na cidade universitária de Laore, principal metrópole do Punjab e predominantemente muçulmana. Aqui conheceu V. C. W. Harvey, outro telegrafista, e ficou na casa dele. Harvey fez arranjos para um discurso público na Municipalidade. Com fins de obter prestígio, persuadiu influente advogado, que não estava na verdade, a atuar como presidente. Mais tarde, voltando na direção inversa, Skinner retornou a Bombaim.
EXPANSÃO DO TESTEMUNHO DO REINO
Na parte final de 1926, foi iniciado nas manhãs de domingo, o testemunho de casa em casa. Em Bombaim, tal obra promoveu maior progresso na atividade do Reino. Mas, a idéia principal era deixar publicações, sem nenhuma idéia de retornar para incentivar o estudo da Bíblia, exceto em casos incomuns em que se manifestava definitivo interesse. Mesmo então, não se dirigiam estudos bíblicos domiciliares. Antes tais pessoas eram convidadas a ir ao local comum de reunião para os estudos de grupo. Crendo que o Armagedom viria muito em breve, os irmãos se empenhavam em cobrir tanto território quanto possível com a mensagem do Reino em forma impressa.
Nos primeiros anos, Wright e Skinner se revelavam em viajar a lugares distantes, em especial aos centros “cristãos”, com a única idéia de distribuir publicações. Isto era feito principalmente nas colônias ferroviárias em que sempre havia concentração de “cristãos” anglo-indianos. Tais colônias ferroviários consistiam de qualquer número, entre vinte ou trinta, até algumas centenas de famílias. Amiúde havia vagas disponíveis nos “dormitórios dos viajantes” onde os ferroviárias que operavam os trens passavam a noite.
Cerca de um ano após chegar na Índia, o irmão Skinner recebeu uma remessa de 10.000 exemplares de Libertação, uma edição em brochura do livro editado em 1926. Dez mil livros para apenas dois pioneiros! Não havia local de armazenagem para tal quantidade na filial; assim, fizeram imediata pesquisa para instalações mais cômodas. Um anúncio no jornal local os levou a alugar um apartamento, junto com espaçoso depósito no subúrbio de Colaba. Assim, o escritório da filial foi transferido da área central de Bicula para o subúrbio da zona sul, na Avenida Colaba, 40, que serviu como sede durante doze anos.
Logo depois de receber esta remessa do livro Libertação, o irmão Skinner fez uma segunda viagem à província setentrional do Punjab. Desta feita, tomou um navio até Carachi, onde permaneceu uma semana neste importante porto do comércio de trigo. Como era costumeiro, Skinner procurou os cristãos nominais, novamente na colônia ferroviária, em especial, e nas áreas dos anglo-indianos, colocando muitos exemplares de Libertação entre eles.
Deixando Carachi, no Delta do Indo, de trem, prosseguiu para a aldeia de Queta, no norte, capital do Beluquistão britânico, situada a cerca de 1.676 metros acima do nível do mar, e a 863 quilômetros de Carachi. Havia aqui um leitor da Torre de Vigia (Sentinela), Walter Harding. Harding era guarda ferroviário, e morava na colônia ferroviária. A esposa de Harding, sendo membro da igreja local, era um tanto avessa às verdades bíblicas que seu marido proclamava.
Skinner foi apresentado a um clérigo metodista um tanto jovial que o convidou para jantar. Ali, Skinner pôde conhecer outros membros do rebanho metodista e falar-lhes sobre o reino de Deus e a esperança dum paraíso restaurado na terra. O próprio Harding era como uma voz solitária ‘que clamava no deserto’ deste posto da cristandade.
Depois da morte de um de seus filhos, a Sra. Harding captou a verdade e também o fizeram todos os seus filhos, alguns deles se tornando pioneiros de tempo integral. Assim com a família Harding, em Queta, e sua posterior transferência para Raualpíndi, Carachi e Laore, pode-se dizer que a obra do Reino estava firmemente estabelecida aqui na região norte da Índia, que mais tarde iria tornar-se o estado separado do Paquistão, que significa “terra santa”.
DECLARAR AS BOAS NOVAS PELO RÁDIO
A expansão do testemunho do Reino por meio do rádio foi também tentada. Inaugurou-se uma estação de rádio em Bombaim, em 1928, e obteve-se permissão de usá-la para transmitir a mensagem do Reino.
O primeiro discurso de dez minutos, proferido pelo irmão Skinner, foi ouvido pelo irmão James na cidade distante de Cawnpore. Depois disso, escreveu à filial, comentando o discurso. Após alguns de tais discursos, contudo, foi negada a permissão para se usar as instalações transmissoras, o pretexto sendo que só se devia permitir que as igrejas ortodoxas transmitissem tópicos religiosos.
ALCANÇAR PESSOAS DE MUITAS LÍNGUAS
Sempre cônscios do problema lingüístico da Índia, onde se usam quinze línguas principais, sempre se buscaram meios de tornar a mensagem do Reino disponível em mais línguas indianas. No estado de Travancore, os irmãos de língua malaiala já possuíam O Plano Divino das Eras em sua língua. Então se imprimiram A Harpa de Deus e o folheto Liberdade dos Povos em malaiala.
O folheto Angústia Mundial — Por Quê? O Remédio tornou-se disponível em seguida em canarês para ser distribuído em Bombaim, entre os “cristãos” da Missão da Basiléia e em seu estado nativo, ao sul.
Mangalore, centro costeiro de exportação de café e de sândalo, possui considerável população católica romana e protestante. É a sede da Missão Luterana Alemã da Basiléia, com suas amplas propriedades e faculdade. Viajando para lá, o irmão Skinner foi recebido por certo Sr. Aiman, membro desta Missão da Basiléia e editor de pequena revista religiosa editada em canarês. Depois de palestrar com Skinner sobre tópicos religiosos, fez arranjos de publicar trechos de nosso livro Libertação. Deste modo, os membros da igreja obtiveram verdades adicionais da Bíblia em seu próprio idioma. Fizeram-se também arranjos para que o irmão Skinner proferisse um discurso público no Auditório da Faculdade da Missão da Basiléia. O livro A Harpa de Deus foi oferecido no fim do discurso. Logo se fizeram arranjos para que os membros desta mesma Missão da Basiléia estudassem semanalmente a Bíblia com a ajuda de A Harpa de Deus na língua canarês.
Nossa obra em Travancore progredia inexoravelmente apesar de dificuldades. Os irmãos tinham de andar muitos quilômetros sob o sol abrasador, havendo poucas facilidades para os confortos pessoais da vida. Em 1928, as quatorze congregações nativas, compostas de quarenta e um publicadores ativos do Reino e treze pioneiros, tiveram êxito em organizar 550 reuniões públicas, a que compareceram cerca de 40.000 pessoas.
Deveras, já então havia sessenta e dois “trabalhadores de classe”, conforme os chamávamos então, fazendo realmente o melhor que podiam na Índia para espalhar a mensagem do reino de Jeová. Era evidente que eram necessários mais trabalhadores para alcançar o país inteiro. Por isso, solicitou-se mais pioneiros à sede da Sociedade. Em resposta, quatro ingleses viajaram de navio da Grã-Bretanha em direção à Índia. Claude Goodman e seu colega, Ron Tippin, aportaram em agosto de 1929, apenas alguns meses depois de Ewart Francis, de Gloucester, e seu colega, Stephen Gillett, terem chegado. Depois de breve apresentação aos irmãos em Bombaim, e dos métodos de se fazer as coisas na Índia, tais pioneiros foram designados a seus respectivos territórios.
CERTO ÊXITO EM PUNJAB
Adicional esforço foi então feito de espalhar a mensagem do Reino no Punjab. Curta viagem marítima trouxe Claude Goodman e Ron Tippin a Carachi.
A seguinte experiência ilustra como Jeová cuida de seus servos fiéis: Depois de passarem uma semana, vivendo nos alojamentos mais baratos disponíveis, Ron Tippin testemunhou à proprietária dum grande hotel em Carachi. Ela obteve publicações e perguntou onde é que estava hospedado. Quando lhe foi dito, ela convidou estes dois irmãos a serem seus convidados enquanto estivessem na cidade. Visto que os pioneiros não recebiam nenhuma mesada pessoal da Sociedade, esta era, deveras, maravilhosa provisão, habilitando esses dois irmãos a continuar servindo de modo dignificante com os fundos necessários para a obra adiante.
De Carachi, Goodman e Tippin foram para o norte, para a cidade desértica de Hiderabade, na província de Sind. Agora cada um seguiu seu caminho, visto que Tippin foi para Queta, no norte, para ajudar a família Harding, ao passo que Goodman viajou para Ambala, a fim de incentivar a família Manning. Era extremamente quente aquele verão de 1930, e a maioria das pessoas de língua inglesa tinham ido para Mussoorie, recanto fresco nas colinas, a cerca de 2.012 metros acima do nível do mar, no Himalaia. Assim, de trem e a cavalo, Goodman as seguiu, a fim de partilhar a mensagem do Reino com elas.
Enquanto se achava ali, Goodman soube que Moandas C. Gândi estava em Mussoorie, como convidado dum rico comerciante. Relata Goodman:
“O nome de Gândi não significava então nada para mim, exceto que era um político muito controvertido que visava conseguir a liberdade da Índia do domínio inglês. Mas, era humano, e assim, tinha tanta necessidade da mensagem do Reino como qualquer outro. Assim, enquanto trabalhava no território, cheguei a seu lar temporário e decidi solicitar-lhe uma audiência. Depois de algum tempo, ele veio, vestido de sua familiar roupa tecida em casa, com um cajado na mão, e me convidou para caminhar com ele pelos lindos jardins. Ao caminharmos, conversávamos, e pintei um quadro do novo mundo às portas. Gândi prometeu que iria ler nossas publicações, visto que seu anfitrião já as possuía em sua biblioteca.” Assim, dezessete anos antes de seu assassinato, aquele que trouxe a independência à Índia e que veio a ser chamado “Pai da Pátria”, teve a oportunidade pessoal de aceitar a regência do governo de Deus.
Depois de algum tempo em Ambala, Goodman de novo encontrou-se com Tippin. Juntos, partiram para Lacre, em resposta às muitas cartas recebidas das aldeias no Punjab, ao redor da cidade. O escritor de tais cartas veio a ser um clérigo independente. Não sabendo falar punjabi e não tendo nenhuma publicação bíblica em tal idioma, só puderam proferir discursos baseados na “Tabela das Eras”, usando este clérigo como intérprete. Grandes massas se reuniram para ouvi-los, mas soube-se mais tarde que o principal interesse dos aldeões era que nossa “Missão” construísse uma escola ou um hospital para eles.
TESTEMUNHO COM CASA MÓVEL
As casas móveis eram uma nova modalidade de serviço na Índia em 1929. Manejados por dois irmãos, e bem supridos de publicações, estes veículos estavam equipados com as necessidades domésticas. Com eles, a Sociedade podia então estender a atividade de pregação do Reino a mais zonas rurais, independente de hotéis e transporte público. Vivendo num “lar missionário móvel”, cada equipe procurava os chamados centros “cristãos” do norte ao sul e do leste ao oeste deste amplo subcontinente, estendendo a tais pessoas as boas novas de salvação.
Em muitos casos, nossos irmãos itinerantes visitavam os locais das missões da cristandade, até mesmo usufruindo a hospitalidade dos clérigos locais em seus confortáveis bangalôs. Naquele tempo, as agudas diferenças entre “Babilônia, a Grande”, e a organização de Jeová não eram tão claramente reconhecidas. (Rev. 17:3-6; 18:4, 5) No entanto, criavam-se divisões ao se ouvirem os discursos públicos e quando nossas publicações eram lidas. Alguns destes clérigos europeus estavam mais preocupados em propiciar aos rapazes e às moças treinamento vocacional em suas escolas e instituições do que em fornecer instrução religiosa da Bíblia.
Naqueles dias, a viagem numa casa móvel pelas estradas às vezes resultava ser uma empresa arriscada, pois as estradas não eram nada mais do que trilhas de carros de boi, e os rios não tinham pontes. Na estação seca, os leitos dos rios ficavam mais ou menos secos, havendo apenas correntes rasas e faixas de areia. Atravessá-los exigia freqüentemente o esvaziamento parcial dos pneus e, por vezes, a remoção da carga, levando-se os itens a pé pela corrente rasa. Uma vez seguros do outro lado, os irmãos tinham de encher os pneus com uma bomba manual, e carregar de novo o veículo antes de seguirem caminho. Na estação chuvosa, arranjava-se uma espécie de transporte local de barca por se ligarem duas chatas usadas no campo por meio de tábuas de madeira, formando uma plataforma sobre a qual um carro ou pequeno ônibus pudesse ser transportado. Trilhas dos carros de boi, naturalmente, tornavam-se lamaçais. Apesar dos riscos enfrentados, estavam agora sendo alcançadas pelas verdades bíblicas algumas áreas dantes inacessíveis.
Em certa ocasião, naqueles tempos primitivos, George Wright excursionava com a casa móvel pelas Províncias Unidas (Utar Pradexe) quando se acercava a estação quente. O irmão Skinner juntou-se a ele em Cawnpore. Depois de pernoitarem como hóspedes da família James, dormindo sob as estrelas, por ser muito quente na casa banhada pelo sol, estes dois pioneiros partiram numa viagem de 362 quilômetros até Naini Tal, importante local de veraneio a 1.951 metros acima do nível do mar, nas montanhas do Himalaia. Subiram a estrada estreita e serpenteante até o Tal, ou Lago, de Naini. A única estrada transitável em Naini Tal era a estrada plana em torno do lago, mas apenas o carro do vice-rei tinha permissão de utilizá-la. Todos os outros veículos tinham de parquear no estacionamento municipal na loja próxima do lago.
Nossos irmãos se alojaram na Hospedaria da ACM e trabalharam as residências espalhadas pelas colinas íngremes. Trilhas ziguezagueantes levavam às encostas das montanhas tornando o trabalho de casa em casa um tanto laborioso. Skinner, sendo um pouco mais jovem e tendo constituição mais robusta que Wright, ficou com as partes mais elevadas. No ínterim, o irmão Wright, que tinha problemas cardíacos, visitou os lugares mais baixos. Muitas publicações foram deixadas nas casas dessas pessoas.
De Naini Tal, nossos irmãos abriram caminho pelas montanhas até Ranikhet, enclave onde estavam situados soldados ingleses casados. Ali também foram distribuídas algumas de nossas publicações. Seguindo de Ranikhet, os irmãos chegaram ao fim da estrada transitável, em Almora. Dali, podiam contemplar os assombrosos e imponentes picos cobertos de neve do Himalaia. Nesta aldeia distante de Almora, a cristandade plantara algumas de suas missões religiosas. Assim, essas pessoas isoladas também tiveram a oportunidade de receber testemunho do reino estabelecido de Jeová.
PENETRANDO NUM VALE RECLUSO
Enquanto estavam nessa região elevada, perto do Nepal, Skinner e Wright ouviram dizer que o famoso bispo metodista da cristandade, Dr. Stanley Jones, possuía sua ashram, ou vivenda solitária religiosa, enfiada num vale recluso conhecido como Sath Tal (Sete Lagos). “Assim, lá fomos nós tentar uma entrevista com este famoso missionário estadunidense”, diz o irmão Skinner. “Rodando pela estrada sinuosa de cascalho, por fim chegamos ao local, e descobrimos, aninhada neste vale montanhoso, uma propriedade bastante extensa, composta dum prédio principal e de várias cabanas. O prédio principal era confortavelmente mobiliado, possuindo espaçosa sala de jantar, com carpete de lado a lado . . .
“Ao visitar o prédio principal, fomos apresentados ao Dr. Stanley Jones, que nos recebeu hospitaleiramente e nos convidou a almoçar com ele e os vinte ou mais outros missionários que viviam na ashram. A refeição foi servida em verdadeiro estilo indiano — caril e arroz sendo servidos num thali, ou prato de metal, e sendo comidos com as mãos, todos os participantes sentados no chão. Forneceram colheres para mim e para George Wright!”
“Após o almoço houve uma discussão aberta da obra destes missionários, todos sendo protestantes, mas de várias igrejas denominacionais. Lembro-me bem de Jones sublinhar o ponto de que o individualismo era a chave do progresso, e a autodeterminação a linha que tais missionários deveriam seguir. Não foi considerada nenhuma base bíblica para suas atividades nas missões. Ao sermos dispensados da sala de jantar, fizemos uma tentativa de atrair o Dr. Jones para uma palestra sobre doutrinas bíblicas, mas ele declinou e não quis aceitar um dos livros da Sociedade.”
Nesse ponto, o irmão Skinner deu meia-volta. Ao passo que o irmão Wright continuou a trabalhar na área de Naini Tal, Skinner viajou de ônibus, descendo a estrada da montanha para a estação ferroviária em Kathgodam. Ali tomou um trem para Lucnau e dirigiu-se pelas amplas planícies banhadas de sol para Bombaim, no outro lado do subcontinente.
PROGRESSO NO PUNJAB
No início de 1931, o irmão Skinner empreendeu outra excursão à província do Punjab. Isto deveria tornar-se um acontecimento anual na estação seca do ano, as viagens começando normalmente no início de janeiro. Skinner escolheu especialmente a área dos grandes rios do Vale do Indo, terra de aldeias abertas ao longo do grande sistema de canais de irrigação.
Um professor indiano “cristão”, chamado Samuel Shad, que morava em Khanewal, ofereceu-se para traduzir os folhetos da Sociedade em urdu, e para servir de intérprete enquanto Skinner excursionava por tais aldeias. Escolhendo várias aldeias compostas inteiramente de cristãos nominais, partiam primeiro de trem, de Laore, em seguida talvez de tonga puxada a cavalo (um veículo de passageiros de duas rodas), daí, às vezes, a cavalo. Gastavam-se dois ou três dias em cada aldeia.
Os aldeões moravam em casas construídas de barro secado ao sol, tendo tetos de calmo ou de madeira. Dentro delas, as acomodações eram primitivas. A pessoa dormia num charpoy, um catre de quatro pernas de estrutura de madeira, com cordas entrecruzadas.
Mas, tais visitas eram sempre experiências felizes e revigorantes, pois, ao voltarem de suas plantações de cana-de-açúcar ou campos de cereais, estes lavradores se sentavam por ali em seus charpoys, com a Bíblia na mão. Alguns fumavam um hookah (um cachimbo refrigerado a água com um tubo de quase um metro de comprimento). Mas, tais pessoas viravam dum texto para outro à medida que a verdade de Deus lhes era explicada. Eram todos cristãos nominais associados com várias seitas da cristandade, exceto a católica romana, visto haver muitos poucos grupos católicos em tal área.
Organizaram-se reuniões públicas nos lugares maiores, tais como Raiwind, Renala Khurd e Okara. Com o tempo, alguns se ofereceram para o serviço de pioneiro, mas, com a vinda da Segunda Guerra Mundial, perdeu-se a maior parte desses interessados. O solo foi semeado, contudo, em preparação para os formandos de Gileade que viriam mais tarde para tal área, quando foi formado o novo estado do Paquistão.
As pessoas eram duramente oprimidas por seus amos das missões. As missões obtiveram concessões de terra do governo para as cultivarem, e, por sua vez, cediam tal terra aos cultivadores. Isto era feito com o ajuste de que os cultivadores contribuiriam anualmente parte do valor de suas colheitas à missão, até que a terra fosse paga, e então ela se tornaria sua propriedade. Na maioria dos casos, porém, isto só acontecia em teoria. Bastava simplesmente que houvesse chuvas fracas, e às vezes verdadeira seca para reduzir o valor de suas colheitas, resultando que tais pessoas quase sempre estavam endividadas com suas missões.
Quando a mensagem do Reino alcançou tais pessoas, desejavam romper com as missões, mas não podiam fazê-lo, nem ousavam. Houve muitos casos de verdadeiro sofrimento, quando alguns se viram privados de seus terrenos. Muitos transigiram e jamais conseguiram livrar-se das garras de Babilônia, a Grande. Quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, e tornou-se impossível o íntimo contato com a filial em Bombaim, até mesmo Samuel Shad, que tanto fizera na abertura dessa área à mensagem do Reino, voltou à organização da cristandade para ter um ganha-pão, e morreu nas garras de Babilônia, a Grande.
IDA E VOLTA A PARIS
A Sociedade programou um congresso internacional em Paris, França, em maio de 1931. O irmão Skinner conseguiu permissão de assistir a ele, e, por causa de insuficiente tempo para reservar uma passagem de navio para a Europa, viajou através do Golfo Pérsico e então por terra, passando por Basra, Bagdá, Istambul prosseguindo até Paris.
No congresso de Paris, Skinner teve o privilégio de ter uma palestra pessoal com Joseph F. Rutherford, o segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia (EUA). A fim de intensificar a obra do Reino na Índia, o irmão Skinner obteve permissão de comprar um veículo para usar como outra casa móvel.
NOVOS TRABALHADORES NO CAMPO INDIANO
Enquanto gozava curtas férias junto com sua família, em Sheffield, Inglaterra, o irmão Skinner conheceu os irmãos Randall Hopley e Clarence Taylor, que eram colportores (hoje chamados pioneiros). Indagados se gostariam de servir a Jeová na Índia, disseram que sim. Destarte, com a permissão da Sociedade, os irmãos Hopley e Taylor partiram de navio das docas de Londres, chegando em Bombaim em setembro de 1931. O irmão Skinner estava a postos para acolher estes pioneiros, ao descerem em solo indiano.
Depois de uma semana, mais ou menos, em Bombaim, familiarizando-se com o calor e a umidade pegajosa, os pioneiros se foram para suas novas designações. Hopley e Taylor viajaram para Poona, passando pelos cênicos Gats ocidentais. Logo se ocuparam em distribuir as publicações da Sociedade entre os habitantes deste posto militar de considerável tamanho.
Depois de trabalharem em Poona por alguns meses, a doença moveu-os a fazer uma viagem de 193 quilômetros até Bombaim. Ao se recuperarem, aceitaram nova designação de serviço na província de Sind e também no Punjab, no noroeste da Índia. Munidos de caixas de publicações e camas de campanha, com os requisitos para dormirem, Hopley e Taylor partiram de trem, ladeando as Colinas Aravalli passando por Marwar Junction e Luni, prosseguindo em direção a Hiderabade e Carachi. A viagem de trem de três dias, de terceira classe, não era um passeio alegre, mas era a mais barata.
Hospedando-se com Florence Seager, que os tratou com extraordinária bondade humana, os irmãos Hopley e Taylor espalharam a Palavra de Deus em amplas áreas de Carachi. Dali, foram para a Planície do Indo que ascendia em direção norte para as montanhas Kirthar até Queta, a cerca de 1.676 metros acima do nível do mar. A própria Queta se situa numa planície aberta, cercada de montanhas, algumas a 3.353 metros de altitude. Aqui, contentes com o clima acolhedor, em contraste com o calor das planícies, Hopley e Taylor passaram muitos dias alegres na pregação do Reino. Logo, contudo, nossos dois irmãos estavam a caminho de novo, desta feita indo para a capital da Índia britânica, Délhi, a sede do histórico Grão-Mogol.
Délhi consiste em duas partes, a Velha Délhi e a Nova Délhi. Visto tratar-se duma cidade muito maior que as anteriores que haviam visitado, os irmãos Hopley e Taylor conseguiram passar ali mais tempo do que o usual. Verificaram ser fácil colocar publicações em Délhi, mas não tão fácil convencer os hindus e outros de que a vida só poderia vir como resultado do sacrifício de resgate de Jesus Cristo.
Os irmãos verificaram que o verão em Délhi era insuportavelmente quente, de modo que visitaram o local de veraneio nas colinas, Naini Tal, aninhado no sopé do Himalaia. Várias escolas européias se localizavam ali, e nossos irmãos conseguiram levar a mensagem da Bíblia aos professores, bem como aos moradores das planícies e aos ricos profissionais que ali procuravam refúgio do calor do verão.
Ao completarem seu trabalho em Naini Tal, os dois irmãos partiram para uma extensa viagem de trem que os manteria ocupados durante os próximos dois anos e meio. Seguindo o costume dos anteriores pioneiros, em cada lugar eles procuravam as chamadas Áreas “cristãs” e distribuíram centenas de livros e folhetos. Grandes extensões territoriais, especialmente nas Províncias Unidas, foram cobertas desse modo. Mathura, suposto local de nascimento de Críxena, “deus” imoral do hinduísmo; Agra, velha capital do Imperador Akbar; Lucnau, importante entroncamento ferroviário; Cawnpore, cidade de fabricação de artefatos de couro; Alaabad, sagrada para os muçulmanos e hindus, e Benares, a cidade “eterna” do hinduísmo — todas foram visitadas por sua vez, dando-se-lhes a oportunidade para que aprendessem sobre os propósitos e a organização de Jeová.
Concomitantemente com esses eventos, Claude Goodman e Ron Tippin retornaram à Índia, vindo de sua designação na Birmânia. Aportaram em Calcutá, porto interior, na época das monções. Ao verem massas e mais massas de gente, ficaram pensando em como esta cidade pululante poderia vir a receber as boas novas. Pelo que sabiam, ninguém naquela cidade pertencia ao “Caminho”. (Atos 9:1, 2) Arranjando um quarto simples perto da Rua “Free School” (Escola Livre), usaram caixas como cadeiras, caixas como mesa e o chão como cama. Grande porcentagem das pessoas só conhecia a língua bengali. Assim, os pioneiros só puderam concentrar-se no pequeno número dos que sabiam ler em inglês. Desta forma, iniciou-se a obra em Calcutá.
“O REINO, A ESPERANÇA DO MUNDO”
Em julho de 1931, os Estudantes da Bíblia adotaram seu novo nome de “Testemunhas de Jeová”. Agora, numa campanha especial, o folheto, O Reino, a Esperança do Mundo, foi distribuído aos clérigos, políticos e grandes negociantes nas principais nações, avisando a esses líderes destacados qual era nosso novo nome.
Esta campanha chegou, com o tempo, à Índia, e grande parte de 1932 foi gasta em traduzir o folheto Reino para as línguas nativas indianas. Como se regozijaram os pioneiros no norte em ter este folheto em urdu, gujarati e hindi, para ser usado entre as pessoas do Punjab, Bombaim e das Províncias Unidas! Nas Províncias de Travancore e de Madrasta, os irmãos se empenharam intensamente em distribuir o folheto Reino em malaiala e tâmil. Nesse ínterim, os pioneiros se ocupavam em colocar a edição inglesa nas mãos do clero. Dos 7.320 folhetos em inglês e dos 14.603 no vernáculo, 2.468 foram para os líderes eclesiásticos da cristandade na Índia. Foi gratificante ver a ampliação de nossas atividades de tradução.
PERCORRENDO A ÍNDIA CENTRAL COM A CASA MÓVEL
A obra de testemunho com a casa móvel também se desenvolvia. Havia agora dois destes veículos percorrendo as estradas e trilhas indianas. Em agosto de 1932, Claude Goodman e Ron Tippin foram enviados até Jhansi, capital histórica dos guerreiros Mahratta, mas atualmente um centro de comércio agrícola, para ali pegarem uma das casas móveis. Aprendendo rapidamente a dirigir, Goodman e Tippin o encheram de suprimentos essenciais, inclusive caixas de publicações em inglês, além de folhetos em urdu e hindi.
Estes corajosos pioneiros abriram caminho bem por dentro da Índia central. Tornaram-se peritos em atravessar rios, não parando diante de praticamente nada, a fim de levar a Palavra de Deus ao povo. A rotina, ao cruzar os rios, era esvaziar parcialmente os pneus, retirar o cano de descarga do cano de distribuição, remover a correia do ventilador, besuntar de graxa os fios da ignição e tapar o cárter e outras aberturas. Invariavelmente, o barulho do motor trazia nativos indagadores, que pareciam surgir de toda parte. Ao cruzarem o rio Maanadi, perto da aldeia de Sambalpur, quebrou a mola principal, que ajeitaram da melhor forma possível, e decidiram prosseguir até Cutaque sem parar para testemunhar às aldeias em caminho.
Depois de passarem por Rampur, pararam a casa móvel a cerca de 16 quilômetros além dela, na selva, e prepararam-se para pernoitar neste lugar. Mais tarde, ouviram um carro passar pela estrada, o que era um acontecimento raro, e mais tarde o ouviram de novo. Logo os irmãos adormecidos foram despertados por altos gritos. Era um pelotão policial junto com seu superintendente. O rajá local passara por ali antes e vira a luz da casa móvel. Ele exigiu que voltassem para Rampur e pernoitassem ali, ou que um guarda armado vigiasse o “veículo” a noite toda, visto tratar-se duma região perigosa de elefantes e de tigres. Relutantes, os irmãos retornaram “mancando”, sob escolta. No dia seguinte, decidiram trabalhar aquele lugar. Todo o mundo tinha ouvido a história do rajá e os irmãos quase que se tornaram celebridades. Distribuíram praticamente tudo que tinham no sentido de publicações. Isso fez que os pioneiros pensassem em Jonas receber uma ‘carona’ em parte do caminho para seu território em Nínive. — Jonas 1:17; 2:10; 3:1-3.
E AGORA, RUMO AO SUL
Cutaque está situada no deita do Rio Maanadi, e é o nódulo do sistema de canais de irrigação do Orissa. Foi a essa cidade que nossos viajantes chegaram “mancando”, até que pararam sua camioneta quebrada. Depois de gastarem alguns dias, consertando a casa móvel, obtendo suprimentos de publicações enviadas de Bombaim, e suprindo-se das necessidades físicas da vida, Goodman e Tippin giraram o volante para o sul, seguindo a estrada pela costa oriental da Índia em direção do Cabo Comorin.
Dormindo na selva, banhando-se em rios e testemunhando ao longo do caminho, os dois pioneiros prosseguiram lentamente sua viagem para o sul. Visto terem informado a filial, em Bombaim, onde é que estariam em determinada data, as publicações lhes eram enviadas para renovar seu estoque. Desta forma, milhares de livros e folhetos foram deixados, fornecendo a muitas famílias a oportunidade de se voltarem para a Bíblia em busca de esperança.
Em Puri, os irmãos viram enorme veículo religioso, pesando talvez umas 18 toneladas e encimado pelo ídolo hindu, Juggernaut. Trata-se do título do culto dos deuses pagãos, Vixenu e Críxena, e o ídolo é arrastado todo ano pela cidade. Diante dele, centenas de devotos se prostram, à medida que muitos outros puxam as grossas cordas. Que bênção é conhecer a verdade que nos liberta! — João 8:32.
TESTEMUNHAR COM SOM E IMAGENS
Em 1933, Florence Seager visitou a filial em Bombaim e doou uma vitrola feita pela Sociedade, para ser usada na Índia. Sendo a primeira de sua espécie neste país, este fonógrafo movido a pilha possuía seu próprio amplificador e um prato de dezesseis polegadas. Com tal presente, introduziu-se na Índia nova modalidade de nossa obra. Agora as casas móveis podiam ser convertidas em carros-sonantes. A obra de fonógrafo foi iniciada em Bangalore, onde havia uma pequena assembléia naquele ano.
Estas casas móveis fizeram um serviço imensuravelmente valioso em alcançar incontáveis lugares com a mensagem de salvação. Em questão de minutos os dois alto-falantes eram montados no teto da casa móvel e ligados ao amplificador. Assim, em mercados, parques, nas avenidas principais — onde quer que houvesse pessoas — os discursos bíblicos gravados eram postos “no ar”. Nos domingos, a uma curta distância das igrejas locais, assuntos como “Purgatório”, “Trindade” e “Por Que os Clérigos Se Opõem à Verdade?” foram transmitidos, à medida que as igrejas se esvaziaram e os membros voltavam para casa. Amiúde muitos vinham até o carro e solicitavam publicações. Os clérigos com freqüência tentavam incitar violência. E, às vezes, os nativos primitivos trepavam em cima da casa móvel, tentando encontrar a fonte da “voz”.
Uma das casas móveis operava um projetor de cinema. Nos lugares distantes, os indianos nativos contemplavam um novo fenômeno em sua vida — o Fotodrama da Criação!
A fim de usar sua casa móvel, como carro-sonante, George Wright comprou um gerador. Com uma conexão improvisada o acoplando ao motor do carro, ele produzia sua própria eletricidade para a projeção dos diapositivos do Fotodrama. Naqueles dias primitivos, os irmãos tinham de improvisar a fim de tornar seu equipamento operacional. Como lâmpada para o projetor, Wright amiúde usava uma lâmpada do farol principal duma locomotiva, fornecida por amigável capataz de locomotivas.
Por volta desse tempo, o irmão Skinner acompanhou o irmão Wright numa excursão pelas Províncias Unidas. Em certa aldeia, alugaram um auditório escolar para exibir o Fotodrama. Enquanto George Wright estava lá em cima, no auditório, exibindo os diapositivos, Edwin Skinner permanecia sentado no carro, mantendo os olhos fixos no voltímetro e certificando-se de que mantinha uma velocidade padrão a fim de evitar estourar a lâmpada.
VALENTES TRABALHADORES NO CAMPO
Em meados dos anos 30 foram dados os passas para a produção de publicações no vernáculo para o inteiro campo indiano, sendo que vários folhetos se tornaram disponíveis em tâmil e urdu. Pela primeira vez na história de nossa obra na Índia, a saída de publicações atingiu a casa dos seis algarismos, visto que, em 1934, 102.792 livros e folhetos foram distribuídos.
Por volta desse tempo, Gerald Garrard, um pioneiro alto, esguio e jovial, passou nove meses testemunhando aos habitantes de Calcutá. Tinha seus problemas de saúde, principalmente devido ao calor. Uma experiência, contudo, compensou todas as inconveniências. Enquanto trabalhava sozinho nas casas comerciais de Calcutá, Garrard entrou em contato com um senhor cujo pai era Testemunha de Jeová em Londres, Inglaterra. O irmão Garrard estímulou o interesse de William King e ele veio a entrar na verdade.
O companheiro posterior de Garrard foi um irmão Vanderbeek, que tinha sido comandante naval. Trabalhou como amoroso exemplo, junto com Garrard, em Calcutá, e realmente morreu ali, vítima da febre tifóide. Foi uma ocasião dolorosa. O irmão Vanderbeek morreu num domingo à noite. Garrard enterrou seu companheiro na manhã de segunda-feira e então celebrou a Comemoração da morte de Cristo nessa mesma noite.
Maude Mulgrove, mulher franzina, porém vivaz, que tinha sido enfermeira hospitalar, entrou rapidamente na verdade em Bombaim e empreendeu o serviço de pioneiro em 1935. De imediato, foi enviada para trabalhar em Bangalore, a capital do estado nativo de Misore, local famoso por sua excelente seda. Achando-se a uma altitude de 949 metros acima do nível do mar, Bangalore tinha um clima saudável para seus amplos alojamentos militares das tropas inglesas. Aqui, a irmã Mulgrove, uma das pioneiras mais bem sucedidas da Índia, iniciou sua carreira de pregação de tempo integral.
A ÍNDIA EM FINS DA DÉCADA DE 30
Por volta dessa época, o irmão Randall Hopley excursionava pela maior parte do sul da Índia. Em Negapatã (agora chamada Nagapatinam), juntou-se a ele um jovial pioneiro chamado George Puran Singh, ex-membro da religião sique, que aceitou o verdadeiro cristianismo enquanto morava na Malaia. Hopley conseguiu ajudar este jovem pioneiro a desenvolver sua capacidade de testemunhar, enquanto trabalhavam juntos.
Para o norte, no Punjab, um bom trabalho estava sendo feito por quatro pioneiros indianos e seis outros proclamadores do Reino. Nesta província fértil, havia dezesseis aldeias e povoados onde se realizavam reuniões regulares, freqüentadas por 166 interessados. Era preciso determinação e coragem para se perseverar na obra, visto ser evidente a necessidade de liderança correta e de fortalecimento dos mais fracos. O Exército da Salvação expulsou oito homens da terra que cultivavam porque tais pessoas haviam deixado de se identificar com tal organização religiosa e se associavam com a organização de Jeová. Mesmo assim, o campo no Punjab permanecia amplo, sendo poucos os trabalhadores.
Em dezembro de 1938, o superintendente da filial da Austrália, Alex MacGillivray, visitou a Índia junto com Alfred Wicke. Realizou-se um congresso no local de veraneio, montanhoso, de Lonavla, a 129 quilômetros a sudeste de Bombaim. Para testar a profundidade dum lago próximo para a imersão Claude Goodman e Ewart Francis entraram na água, chegando até a nadar um pouco antes de voltarem para relatar os fatos. Duas semanas depois, o irmão Goodman estava hospitalizado, gravemente enfermo com a temível febre tifóide e Ewart Francis estava morto. Possivelmente, isto foi conseqüência do contato com água infetada. A perda de um dos nossos mais eficientes pioneiros por certo foi um golpe para a obra.
Como resultado da visita do irmão MacGillivray, e com o consentimento da Sociedade, foram feitos arranjos para que a filial da Austrália fornecesse à Índia uma pequena prensa.
Os anos de 1926 a 1938 tinham presenciado imensa dose de serviço árduo dos pioneiros na Índia. Dezenas de milhares de quilômetros foram percorridos e grandes quantidades de publicações foram distribuídas. Muitos e muitos lugares tinham sido alcançados. Todavia, apresentavam se poucos resultados para tudo isso no sentido de aumentos. Em 1938 havia dezoito pioneiros e 273 “publicadores de companhia”, perfazendo um total de cerca de 300 Testemunhas no país todo. Estes irmãos fiéis estavam espalhados por entre vinte c quatro congregações, disseminadas por toda a Índia. Mas, fazia se com que os irmãos se tornassem mais cônscios da necessidade de serem proclamadores e instrutores das boas novas. Gradualmente, a obra estava sendo melhor organizada no sentido de se relatar o serviço de campo, fazer revisitas e dirigir estudos bíblicos domiciliares.
Já por algum tempo, pensava-se que a filial da Sociedade na Índia deveria ter instalações mais dignas do que as da Avenida Colaba, 40. Obtendo-se a permissão, o escritório de Bombaim se mudou para outras instalações na Rua Bastion 17, no distrito comercial de Bombaim. Além de melhores instalações, o novo prédio tinha fácil acesso à estação ferroviária e a outros centros, para se tratar dos assuntos da Sociedade. Mas, logo depois dessa mudança, irrompeu a Segunda Guerra Mundial.
ENQUANTO SE TRAVAVA A GUERRA
A guerra trouxe restrições que aumentaram progressivamente. Assim, a filial mudou-se de novo para seu antigo local. Lá em Sind e no Punjab, a obra do Reino então se confinava, mais ou menos, às duas grandes cidades de Carachi e Laore. Não se pregava muito em outras partes dessas províncias. Todavia, fazia-se certo progresso no que é agora chamado de Paquistão.
O governo inglês, que regia a Índia nesse tempo, exigia que os nomes de todos os varões europeus, súditos britânicos, lhe fossem entregues para possível convocação para o serviço militar. As Testemunhas de Jeová na Índia obedeceram a esta solicitação de “César” e o irmão Skinner, superintendente da filial, enviou uma lista de nomes, junto com uma carta que declarava expressamente a posição cristã de neutralidade. — Mat. 22:21; João 15:19; 17:14; 2 Tim. 2:3, 4.
O resultado da explicação foi que os irmãos que estavam inclusos nesta Lei do Serviço Nacional foram eximidos do serviço militar, embora o governo britânico fizesse esforços de conseguir que nossos pioneiros varões fizessem algum tipo de serviço nacional. Perguntaram se eles teriam alguma objeção a trabalhar nos Correios. A resposta do irmão Skinner foi no sentido de que não temos objeção alguma ao trabalho dos Correios em si, mas nossa obra cristã é proclamar o Reino de Deus ao povo, e objetamos ser retirados dessa atividade. Por conseguinte, as autoridades seculares permitiram que os pioneiros continuassem livres para realizar seu serviço, dado por Deus, de proclamar as boas novas.
CONTRABALANÇAR A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO FALSA
A má influência da adoração falsa foi demonstrada por incidentes ocorridos em 1940. Numa pequena aldeia, uma multidão de católicos romanos tentou ‘forjar a desgraça por decreto’ por esforçarem-se em fazer com que o poder civil proibisse o uso de nosso fonógrafo. (Sal. 94:20) Uma petição, assinada por 150 pessoas, inclusive por três sacerdotes católicos, foi enviada ao juiz, queixando-se de suposto insulto à igreja deles. Ao examinar o assunto, o juiz avisou os 150 signatários que não interferissem com as Testemunhas de Jeová, e permitiu que nossa obra continuasse.
Outra escaramuça religiosa ocorreu no mesmo ano, em outra cidade. Dois pioneiros indianos foram atacados por um pastor religioso por distribuírem publicações entre “seu rebanho”. De imediato, os pioneiros mandaram imprimir folhetos, trazendo à atenção esta “luta” anticristo, e então os distribuíram por toda a localidade. Levou-se às pressas um carro-sonante para o local, e foram transmitidos alguns discursos bíblicos. Em resultado disso, um grupo de “cristãos” indianos chegou a ver a diferença entre a cristandade e o cristianismo, e se tornou ativamente empenhado em divulgar a mensagem do Reino.
INDO DE BARCO A REGIÕES REMOTAS
As boas novas foram levadas às regiões distantes de Travancore, com suas águas interioranas orladas de árvores, por meio dum barco. Um grupo de pioneiros malabares alugou um barco rural movido a remo. Viajando pelas aldeias isoladas nas águas interioranas, conseguiram proferir discursos públicos e distribuir publicações para mais de mil pessoas. Cerca de seiscentos livros e folhetos foram distribuidor em dezesseis povoados, de outra forma inacessíveis. Assim, nessa terra de abundantes arrozais e delgadas palmeiras, deu-se eficaz testemunho sobre o reino de Deus.
AUMENTO DOS ESFORÇOS EM TRAVANCORE
Um ponto alto da obra em Travancore foi alcançado em 1941, quando A Sentinela começou a ser publicada na língua malaiala, na prensa da própria Sociedade. Talvez recorde que a filial australiana da Sociedade forneceu à Índia pequena prensa, em 1938. o pioneiro Claude Goodman foi designado para superintender a impressão de A Sentinela para os irmãos malabares.
“Eu não sabia nada sobre impressão e não conhecia a língua malaiala, em que A Sentinela seria impressa”, admitiu o irmão Goodman. “O primeiro problema foi vencido por ler livros sobre o assunto; o segundo, pela mímica, ao explicar ao irmão K. M. Varughese o que eu lia nos livros. Dentro de alguns meses, imprimirmos nossa própria revista em malaiala tão bem, ou ainda melhor, do que a firma comercial fazia antes.” Sem dúvida, a introdução da prensa foi um passo definitivo à frente na promoção da obra do Reino no sul da Índia.
Pelo simples peso das circunstâncias, o trabalho com nossa casa móvel chegou então ao fim. As restrições do tempo de guerra criaram aguda escassez de gasolina, e o racionamento limitava as distâncias que podíamos percorrer. Ademais, a filial da Sociedade na Índia passava por grave redução do apoio financeiro de outras filiais estrangeiras. Assim, julgou-se ser a vontade de Jeová que as casas móveis fossem vendidas e se usasse o dinheiro em outros campos da atividade do Reino. No entanto, tremenda obra satisfatória tinha sido feita por estes veículos, ao estender o testemunho do reino de Deus a todas as partes da Índia.
DECLARAR SOB PROSCRIÇÃO AS BOAS NOVAS
Certo dia, na primavera setentrional de 1941, o irmão Underwood pregava de casa em casa em Patna, capital do Estado de Biar, para onde tinha sido designado como pioneiro. De súbito, chegou a polícia no local e o prendeu, levando-o para a delegacia. Ali, confiscaram todas as publicações que possuía em sua pasta. Subseqüentemente, as publicações específicas que Underwood possuía foram oficialmente proscritas pelo governo. O que ocorreu em Biar automaticamente se seguiu em todo estado da Índia. Assim, o governo expediu a Notificação N.º 21-C, de 14 de junho de 1941, confiscando todas as publicações da Sociedade.
A filial de Bombaim da Sociedade Torre de Vigia (EUA) sofreu uma batida policial e todas as publicações foram confiscadas. Mas, a mão de Jeová não era curta. Não tendo necessidade de estacar grandes quantidades de publicações e não recebendo a ajuda financeira da sede de Brooklyn, a filial da Índia foi transferida para instalações menores e menos custosas no distrito de Colaba. Ainda que A Sentinela estivesse proscrita agora, não se perdeu nenhum número durante esse inteiro período. Jeová se certificou de que os irmãos fossem supridos do alimento espiritual. Com freqüência, navios mercantes que aportavam na Baía de Bombaim levavam marujos que eram Testemunhas de Jeová, e, invariavelmente, traziam o último exemplar de A Sentinela para a filial.
Daí, galhardamente, mas com discrição, cortavam-se estênceis e a matéria era impressa num mimeógrafo, e fornecida aos irmãos espalhados por toda a Índia. Nos anos posteriores, os livros “A Verdade Vos Tornará Livres” e “Está Próximo o Reino”, bem como alguns folhetos, foram todos publicados em forma mimeografado, encadernados e distribuídos aos irmãos. Em conseqüência disso, por todo o período de proscrição uma abundância de provisões para estudo bíblico se tornaram disponíveis, graças aos cuidados amorosos de Jeová.
Lá no campo, os irmãos sofriam interferências por parte das autoridades governamentais, influenciadas pela histeria bélica. Ao sul, em Cotaiam, chegou o dia em que um camburão da polícia parou fora do depósito da Sociedade e confiscou a pequena prensa. Ficou sob custódia policial durante toda a segunda guerra mundial. Lá no norte, em Calcutá, nossos pioneiros foram assediados pela polícia e privados de todas as publicações que possuíam.
Fez-se ao vice-rei inglês, Lorde Linlithgow, um apelo em favor da liberdade de adoração, mas ele simplesmente fez ouvidos de mercador para o povo de Jeová. Os irmãos, contudo, estavam determinados a ‘levar a batalha até à porta’ e o folheto God and the State (Deus e o Estado) foi enviado a todas as legislaturas políticas e a muitas das instituições educacionais da cristandade, ao passo que tantos clérigos quantos foi possível localizar receberam o folheto Teocracia.
Em janeiro de 1942, o fiel e amado Joseph F. Rutherford morreu. O novo presidente da Sociedade Torre de Vigia, Nathan H. Knorr, travou imediatamente correspondência com todas as filiais e, com um enfoque amoroso, estabeleceu boas comunicações com elas. Foi reconfortante sentir este contato de perto com a sede, no meio de hostis condições da guerra.
Logo se implementava nova campanha de estudos bíblicos domiciliares, cada publicados do Reino cobrindo sistematicamente seu próprio território, tomando nota dos interessados e revisitando-os, para dirigir um estudo bíblico no lar deles, numa base regular, quando possível. Ademais, todos os trabalhadores de tempo integral, de língua inglesa, na Índia, foram convidados a alistar-se como pioneiros especiais, gastando 175 horas por mês no serviço de campo.
Ao norte, em Laore, Jacob Forhan, um persa, servia como pioneiro especial junto com seu colega inglês, Clarence Taylor. Subitamente, em março de 1942, ambos foram presas sem acusação formal e encarcerados. Taylor foi liberto, mas Forhan ficou detido por três meses. Por meio de repetidos recursos e entrevistas pessoais, fizeram-se esforços de conseguir que as autoridades governamentais declarassem a ofensa pela qual o irmão Forhan fora preso. Existia forte suspeita de que certo clérigo da Igreja Anglicana, chamado Johnson, tinha submetido um relatório falso e malicioso à polícia contra esse pioneiro. Quando indagado em pessoa se tinha feito tal relatório Johnson o negou. Não se disse ao irmão Forhan qual era sua ofensa, mas, quando liberto, continuou bravamente a pregar no mesmo território.
A irmã Kate Mergler, outra pioneira especial, também enfrentou dificuldades. Ao sul, no lindo local de veraneio montanhoso de Cotagiri, nas Colinas do Nilgiri, ordenou-se-lhe que deixasse o distrito dentro de uma semana, no mês de julho. Tal ordem provinha do governador da Província de Madrasta um católico romano. A razão dada foi que sua presença em Cotagiri era considerada “prejudicial aos esforços eficientes de guerra”! Nossa jovem irmã escolheu ‘obedecer a Deus antes que ao homem’ e continuou sua obra de pregação ordenada por Deus. (Atos 5:29) Foi presa e condenada a dezoito meses de detenção simples na prisão de mulheres de Vellore, Província de Madrasta. Interpôs-se recurso e a irmã Mergler foi solta depois de ficar detida por cerca de seis meses.
Por algum tempo, o superintendente da filial e seus companheiros no escritório de Bombaim tinham suportado o perturbados clangor do equipamento bélico que rolava pelas ruas à noite. O escritório estava numa via de acesso para a área militar de Bombaim, onde se localizavam os tanques canhões de campanha e outros suprimentos pesados militares ingleses. Era um tumulto à noite. Daí, com autorização da Sociedade, a filial mudou se de novo, desta vez para a Rua Love, 167, uma residência mais espaçosa e econômica no distrito mais tranqüilo de Bicula. Este local serviu como centro de nossa atividade cristã na Índia durante os seguintes dezoito anos, até 1960, quando a Sociedade comprou seu próprio prédio nos subúrbios de Santa Cruz, a 21 quilômetros ao norte de Bombaim.
Estando confiscada a prensa da Sociedade, e os impressores de fora tendo medo de trabalhar para nós, os irmãos malabares do sul da Índia não podiam obter publicações para o serviço de campo. Todavia, persistiram em testemunhar apenas com a Bíblia. No entanto, pequena quantidade de publicações em inglês penetraram até esse estado. Aumentou a oposição católica romana e uma turba católica certa vez interrompeu uma reunião cristã por jogarem estrume de vaca no orador. No dia seguinte, nosso galhardo irmão visitou cada casa nesse mesmo povoado e ofereceu-lhes a mensagem de vida.
Embora o governo banisse nossas publicações, jamais deixamos de tentar imprimir algo. Em 1942, uma amostra do folheto Esperança chegou de Brooklyn. Visto que tal falhe to estava tão obviamente fora do alcance de quaisquer Regras de Defesa da Índia, a filial solicitou ao governo que garantisse que não o confiscaria, caso fosse impresso. Depois de considerável delonga o governo central concordou em fazer uma exceção para tal folheto, embora tomando muito cuidado de declarar que não impediria que os governos provinciais o proscrevessem, caso achassem apropriado fazê-lo. O folheto Esperança foi impresso pela “Uniform Printing Press”, de Bombaim. Na capa de trás de cada folheto apareciam as seguintes palavras: “Por autorização do Governo da Índia, este folheto está isento da aplicação da Notificação do Governo de N.º 21-C, datada de 14 de junho de 1941.”
Entre as notáveis assembléias do povo de Deus nessa época achava-se a realizada em Bombaim, em janeiro de 1943. Esta reunião de três dias resultou ser a maior assembléia de língua inglesa para a Índia até à data. Setenta e sete publicadores estavam presentes, inclusive dois do Ceilão.
RECOMPENSADOS OS FERVOROSOS ESFORÇOS
Vários irmãos e irmãs birmaneses procuravam refúgio da ocupação japonesa da Birmânia, e estes se fixaram na capital da Índia, Nova Délhi. Aqui, no meio do esplendor das cerimônias imperiais e de espaçosas avenidas, formou-se pequena congregação das Testemunhas de Jeová. A irmã Phyllis Tsatos tinha um parente que trabalhava no quartel-general militar inglês em Délhi. Certo dia, esse parente a apresentou a três soldados ingleses, com os quais foram iniciados estudos bíblicos. Um destes soldados era Peter Palliser, que se tornou Testemunha de Jeová, serviu por algum tempo como superintendente de circuito na Grã-Bretanha e, mais tarde, exerceu a supervisão da filial da Sociedade no Quênia. O mais velho dos três soldados tinha esposa na Grã Bretanha que era Testemunha e que conscienciosamente enviava cada número de A Sentinela para seu marido. Os irmãos de Délhi conseguiam enviar cada edição para o escritório de Bombaim, onde era reproduzido para circulação na Índia.
A muitos quilômetros ao sudeste, em Poona, as pioneiras, Maude Mulgrove e Edith Newland, apegavam-se zelosamente à sua designação. Bem inesperadamente, um juiz distrital ordenou-lhes que deixassem Poona. Embora se interpusesse um recurso junto ao governo de Bombaim, a ordem foi mantida. As duas pioneiras aceitaram uma designação em outra parte da mesma província, mas tal ação autoritária que resultou em sua partida se tornou de domínio público. Fred Hurst, pregador batista, leu sobre isso no jornal. Isto o moveu a procurar publicações da Sociedade Torre de Vigia. Sondou em todas as livrarias e, por fim, encontrou um dos volumes intitulados “Vindicação”. Dele, obteve o endereço da Sociedade na Índia. Uma carta que enviou ao escritório em Bombaim resultou numa visita pessoal de Edwin Skinner. O clérigo Hurst reconheceu de imediato a doutrina da “Trindade” como sendo antibíblica e começou a interessar-se pela verdade. Sua esposa opôs-se-lhe amargamente, mas seu coração era correto. Depois de meditar cuidadosamente, demitiu-se da Igreja Batista, foi para a Austrália ganhar um meio de vida, e se tornou uma ativíssima Testemunha de Jeová.
Continuavam os esforços fervorosos em Travancore e nossa obra ali progredia continuamente. Era feita essencialmente no vernáculo, entre os indianos nativos. Os irmãos ali eram, na maioria, pobres quanto aos bens deste mundo, tendo um salário médio de oito anãs diários. Em 1943, isso eqüivalia a apenas dois centavos de dólar estadunidense (Cr$ 0,30). Suas casas eram choupanas de folhas secas de palmeira, ou casinhas feitas de laterita (um barro ferruginoso que endurece quando se seca). Devido às circunstâncias difíceis, tais pessoas estavam tão inteiramente ocupadas em ganhar a vida que dispunham de pouco tempo para nossa mensagem. Em alguns casos, porém, estas condições as moviam a ver qual é o único remédio — o reino de Deus.
Os pioneiros especiais estabeleciam notável registro de serviço. Estavam espalhados pelo país, um aqui, outro acolá. Entre eles havia baluartes tais como George Wright, Clarence Taylor, Randall Hopley, Gerald Garrard e Jacob Forhan. A grande massa da população, não professando o cristianismo, era mentalmente avessa à Bíblia, e isto tornava bem poucos e com largos intervalos os territórios realmente trabalháveis. A pessoa nunca deparava com quarteirões e mais quarteirões de casas que apresentassem muitas possibilidades de estudos bíblicos. Era preciso muito esforço e energia para procurar as pessoas que talvez mostrassem interesse ou os mentalmente capazes de entender a mensagem da Bíblia. Empenhar-se no serviço de campo por 175 horas cada mês em tal território, numa temperatura geralmente oscilando entre 27 e 46 graus centígrados, exigia tanto vigor físico como espiritual. Mas, pela bondade imerecida de Jeová, estes servos fiéis faziam um bom trabalho. Podiam ver alguns resultados de seus anos de serviço, pois, em 1943, havia trinta e sete congregações na Índia, com um total de vinte pioneiros e 381 publicadores.
PROSSEGUE A OBRA APESAR DA PROSCRIÇÃO
Os irmãos sofriam grave pressão financeira, estando desligados da sede da Sociedade em Brooklyn, Nova Iorque. Mas, de novo, a mão de Jeová não era curta. (Isa. 59:1) De várias fontes, surgiam contribuições que mantinham em operação a obra.
Em Délhi, treze clérigos que pertenciam a seis saltas diferentes (anglicana, presbiteriana, metodista, batista, católica romana e ‘americana’) uniram-se num ataque contra as Testemunhas de Jeová. Publicaram malicioso opúsculo intitulado “Aviso a Todos os Cristãos em Délhi”. Continha falsas alegações entre elas que as Testemunhas de Jeová estavam proscritas por motivos políticos. O irmão Basil Tsatos replicou por publicar um tratado de disposição similar e com o mesmo título, mas não trazendo nada mais senão citações diretas da Bíblia. Embora este tratado não emanasse da Sociedade tanto o impressor como Basil Tsatos foram processados.
Estes problemas não impediram que o povo de Jeová continuasse sua obra todo-importante de pregar o reino de Deus e de fazer discípulos. Por exemplo, em janeiro de 1944, realizou-se um congresso em Bombaim, desta feita na área intensamente católica romana de Bandra. Também, o reavivado serviço de “Servo aos Irmãos” (obra de circuito) foi introduzido na Índia em 1944. Um dos pioneiros especiais Ronald Tippin, foi treinado para trabalhar entre os publicadores de língua inglesa e visitava as congregações em Délhi, Calcutá, Bombaim, Bangalore e quatro outros lugares. A. J. Joseph servo do depósito em Cotaiam, Travancore, realizava o serviço entre as vinte e oito congregações em seu próprio campo vernacular.
Conseguir organizar bem os irmãos em Travancore foi um processo extremamente lento. Nem todos eles possuíam relógio, o que significava que a pontualidade em chegar às reuniões e a duração de tais reuniões não eram estritamente exatas. A posição do sol no céu, ou uma sensação no estômago, às vezes, eram as orientações principais quanto à hora. Ao estudar, os irmãos pareciam tão envolvidos que limitar os estudos a uma hora parecia bem impossível. Estes fiéis de Travancore tinham de copiar à mão toda a matéria de estudo de A Sentinela. Todavia, mantinham-se atualizados com seus estudos semanais regulares.
O FIM DA PROSCRIÇÃO
As circunstâncias então evoluíram paulatinamente até que se deu o fim da proscrição das publicações da Sociedade na Índia. Margrit Hoffman, jovem cidadã suíça que servia como enfermeira de crianças dum destacado oficial do exército inglês na Índia, entrou em contato com as publicações da Sociedade e se correspondeu por algum tempo com a filial em Bombaim. Quando terminou seu contrato, ela foi batizada e mais tarde começou a servir como pioneira. Enquanto era pioneira em Nova Délhi, a irmã Hoffman visitou a casa dum parlamentar de Madrasta. Este político se prestou a ouvi-la enquanto ela explicava a natureza de nossa obra. Também suscitou o assunto da proscrição governamental sobre nossa obra e como foi inspirada pelo clero. Este líder amigável concordou em propor perguntas sobre isso no Parlamento.
Entrementes, Basil Tsatos praticava fisioterapia e empenhava-se em tratar Sir Srivastava, o ministro dos alimentos no Gabinete do Vice-rei. Ao ministrar o tratamento, Tsatos testemunhou a ele, considerando a proscrição e a atitude dos clérigos para com nossa obra. Ele também mencionou que o Sr. Skinner, nosso encarregado da filial em Bombaim, fizera tentativas frustradas de discutir o assunto com o Sr. Jenkins, Ministro do Interior. Para deleite de nosso irmão, Sir Srivastava disse: “Bem, não se preocupe. O Sr. Jenkins vai aposentar-se dentro de alguns dias e um grande amigo meu irá ocupar seu lugar no Gabinete do Vice-rei. Logo que o ocupar peça ao Sr. Skinner que venha procurar-me e eu o apresentarei a Sir Francis Mudie.”
Foram feitos arranjos para que o irmão Skinner visitasse Délhi e falasse com Sir Francis Mudie, o recém-nomeado ministro do interior do Governo Central. Depois disso, fez se uma petição dirigida a todos os membros do Legislativo Central, para que nos ajudassem a suscitar perguntas oficiais perante a Assembléia Legislativa sobre as razões de ser imposta a proscrição. Dois membros não-cristãos do Parlamento assumiram nossa causa, obtiveram completos pormenores e formularam treze perguntas. Estabeleceu-se uma data para que elas fossem propostas no Parlamento. O irmão Skinner, Margrit Hoffman e Basil Tsatos estavam presentes na galeria dos visitantes, no dia em que as perguntas foram propostas.
O momento crítico surgiu quando se perguntou: “É verdade que o governo da Índia proscreveu as publicações da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA), e, se for, por que razões?” Imagine a eletrizante alegria dos irmãos quando ouviram Sir Francis Mudie dizer, em resposta: “A proscrição foi imposta como medida de precaução, mas o Governo decidiu agora rescindir a proscrição.” Tal declaração foi feita em 21 de novembro de 1944. Dezoito dias depois, em 9 de dezembro, foi oficialmente removida a proscrição. Podíamos agora importar e imprimir as publicações da Sociedade e distribuídas através da Índia sem a ameaça de intervenção oficial.
Na última semana de 1944, programou-se um congresso para Jubbulpore (Jabalpur), importante cidade militar e ferroviária, a 991 quilômetros ao nordeste de Bombaim. Sendo o centro missionário da cristandade para as Províncias Centrais (Madia Pradexe), era um local ideal para fazer com que a cristandade soubesse que as Testemunhas de Jeová não estavam mais sob proscrição governamental. Pela primeira vez em três anos e meio, distribuímos publicações nas ruas para o público, e em suas casas, sem recear a intervenção oficial.
EXPANSÃO EM BOMBAIM, APESAR DA OPOSIÇÃO
A proscrição certamente não freou a expansão em Bombaim. O irmão Kaunds recebeu o endereço de Benjamim Soans. Como Arthur Kaunds, Benjamim Soans era da área do sul de Canara, na costa sudoeste da Índia, e ambos falavam canarês. Soans tinha conhecimento da Bíblia e era redator dum jornal em canarês. No entanto, era empregado da Oficina de Telefones de Bombaim, junto com cerca de vinte outros que pertenciam à mesma comunidade religiosa, a Missão Protestante Alemã da Basiléia.
Em curto tempo, Soans já falava com seus colegas e logo ele conseguiu que outros assistissem ao estudo bíblico em sua casa. Num mês, Benjamim Soans já dirigia um estudo bíblico com um grupo de amigos, e dentro de nove meses — no início de 1946 — foi batizado. Imediatamente, foi designado a terminar a tradução de “A Verdade Vos Tornará Livres” em canarês, iniciada pela irmã Rose Robello. Depois disso, o irmão Soans foi o tradutor da edição em canarês de A Sentinela até que morreu, em dezembro de 1966. Sua filha, Joanna Soans, sucedeu a seu pai como tradutora de A Sentinela em canarês para a Sociedade.
Certa noite, muitos publicadores da Congregação de Bombaim se empenhavam no testemunho nas ruas, em Flora Fountain, quando uma turba desregrada de jovens católicos chegaram ao local para vender tratados que anunciavam seu culto. Quando alguém parava a fim de falar com uma Testemunha ou aceitar uma revista, um jovem católico tentava rudemente enfiar seu folheto sob o nariz da pessoa, tentando frustrar a Testemunha.
De semana em semana, os membros da Ação Católica mudavam de tática. Numa ocasião posterior, vários arruaceiros católicos cercavam uma única Testemunha, tentando desviar a atenção dela. Tais métodos tornaram as Testemunhas mais intrépidas, ao invés de intimidá-las. Os irmãos reagiram por bradarem lemas tais como “Por Que o Papa Combate a Liberdade”. Isto fazia que os transeuntes sorrissem e trazia desconforto aos opositores, que sumiram, deixando o campo para as Testemunhas.
INQUIETAÇÃO DO APÓS-GUERRA
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, as condições na Índia se deterioraram rapidamente num estado de inquietação por todo o país. Amplas multidões perderam seus empregos. Os presas políticos libertados reassumiram sua luta em prol da independência nacional. Anunciou-se que a Grã-Bretanha propunha conceder o autogoverno ao povo, e os assuntos públicos rapidamente se degeneraram numa condição que beirava à anarquia. As comunidades religiosas competiam umas com as outras pelo poder — até mesmo por sua própria existência, por fim chegando a golpes violentos em Calcutá e Bombaim. A marinha e a força aérea indianas se sublevaram. Greves dos correios e telégrafos prejudicavam as comunicações. A fome e a morte pairavam sobre o país, ameaçando centenas de milhares. Essas eram as condições em 1945.
Permita que o irmão Garrard relate um incidente dessa época: “Durante os motins contra os brancos, sermos apanhados pelas turbas não era nada agradável. No entanto, nossos pensamentos sempre se dirigiam para Jeová. Lembro-me da primeira vez que uma turba de cerca de cinqüenta pessoas ameaçou matar-me, mas não sabiam como começar. Por fim me deixaram ir embora, porque eu era um pregador. Em outra ocasião, três de nós fomos apanhados bem no meio de duas turbas. Antes de as dificuldades começarem, sente-se ‘cãibras’ no estômago, mas uma vez comece, sentir-se-á tão calmo como gostaria de ficar. O espírito de Jeová parece neutralizar seu próprio temor. Simplesmente mostra confiança nele. Não resta outra coisa a fazer, e, com surpresa, observa como tudo acaba bem.”
O país todo era uma só massa fervente de descontentamento. Mas, no meio deste mar revolto da humanidade, destacava-se um grupo insignificante de pessoas, falando-se em sentido numérico. Imperturbáveis diante das condições, inabaláveis em sua decisão de adorar a Deus e pregar seu reino, as Testemunhas de Jeová exortavam as nações a que se alegrassem junto com Seu povo. — Deu. 32:43.
ESPIRITUALMENTE VIVAS NO MEIO DO TUMULTO
Para encorajar a jovem congregação de Calcutá, a Sociedade realizou um congresso ali, em 1946. Cria-se que o discurso “O Príncipe da Paz” fosse um bálsamo suavizante para as horríveis feridas deixadas pelo recente e terrível derramamento de sangue em Calcutá. A Liga Muçulmana declarara o dia 16 de agosto como Dia da Ação Direta. Naquela data grande número de hindus foram mortos em Calcutá, e suas propriedades foram saqueadas e destruídas. A cidade tornou-se cenário de um dos mais brutais motins comunais.
Desde 1940, a Liga Muçulmana tinha causado agitação em favor dum separado Estado Muçulmano do Paquistão. Destacado advogado, M. A. Jinnah, propôs tal idéia para o noroeste da Índia, visto ser predominantemente muçulmano. Nas províncias de Sind e Punjab, cresciam os sentimentos de ódio entre os hindus e os muçulmanos, até chegarem a um ponto explosivo. No meio de tais condições em Carachi, Raualpíndi e Laore, alguns pioneiros tentaram manter viva a obra do Reino, mas as condições atemorizantes distraiam as massas. Até mesmo muitos publicadores indianos deixaram de associar-se com a Sociedade em sua campanha de pregação. Pelo que parece, tinham-se tornado Testemunhas originalmente com um motivo ulterior, esperando obter apoio financeiro. Assim, a obra nessa Área que se tornaria o Paquistão se reduziu a um nível baixo.
TENTATIVA DE SONDAR O MODO DE PENSAR HINDU
A respeito do território da Índia, em geral, a primeiríssima dificuldade que confronta o publicador do Reino é encontrar Possa haver conjugação de idéias. Para um graduado hindu, algo pode ser tanto verdadeiro como falso. Se acha que o fogo queima, então isso é verdadeiro para você, e se ele acha que não, então isso é verdade para ele. Ele concordará que seu argumento cuidadoso e lógico é a verdade, mas, no minuto seguinte, concordará com o exato oposto. Ambos são verídicos, afirma ele!
O hindu talvez demonstre respeito superficial pela Bíblia, mas, na realidade, não tem apreço pelas Escrituras Sagradas como um todo. Para ele, não existem coisas tais como a verdade e o erro. Tudo é verdade e tudo é erro. Não existem coisas tais como o mal e o bem. O mal é bom e o bem é mau. Não existe nenhum Deus e não existe nenhum Satanás. Nós somos Deus e nós somos Satanás. Tudo é Deus. Essa cadeira em que se senta — pensa que não tem vida? Isso é porque não consegue detectar suas ondas mais elevadas de pensamento, ou comunicar-se com a inteligência dela, que, afirma ele, é superior à sua. Essa cadeira também é Deus, afirma ele!
VISITA ALTAMENTE PROVEITOSA
Era esse o tipo de território em que labutava um punhado de pioneiros durante muitos anos, e em que os missionários de Gileade estavam prestes a servir. Coincidindo com a chegada dos primeiros missionários de Gileade em 1947, o irmão N. H. Knorr, visitou a Índia, sendo essa a primeira visita dum presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA) desde que o Pastor Russell ali estivera, em 1912.
Na segunda-feira, 14 de abril de 1947, o irmão Knorr, acompanhado do irmão M. G. Henschel, partiram de Rangum, Birmânia de hidroavião. Amerissaram no Rio Hooghly, próximo de Calcutá, e os irmãos os receberam na margem do rio. As condições não eram lá muito calmas. Os hindus e os muçulmanos estavam numa disposição de luta e havia toques de recolher em algumas partes da cidade. Ao viajarem por Calcutá num ônibus caindo aos pedaços, os irmãos Knorr e Henschel registraram as seguintes impressões:
‘As roupas das pessoas de início nos atraíram . . . A maioria dos homens trajavam dhotis, que parece não ser nada mais do que alguns metros de tecido de algodão enrolados na parte inferior do corpo e presas na cintura. Muitos usavam pugris de várias cores sobre a cabeça, uma espécie de turbante que indicava sua nacionalidade. Em algumas partes, destacava-se o fez. Era interessante observar os hindus bem vestidos usando camisas, tais como as usadas no ocidente, mas com as pontas penduradas por fora da calça. As mulheres usavam seus brilhantes saís e abundantes braceletes e argolas de prata ou de ouro. Algumas mulheres usavam brincos e pendentes em seus narizes; outras tinham pedrinhas no nariz. . . .
‘Daí, vimos pela primeira vez uma vaca andando pela calçada. Ela parecia ter o direito de passagem e todas as pessoas pareciam permitir que tivesse pleno controle das coisas. Daí, vimos mais vacas e bois sagrados. Isto era algo novo para nós. Estávamos acostumados a ver vacas num pasto ou curral, ou num estábulo, mas vê-las andando pelas ruas principais duma cidade de quatro milhões de pessoas, comendo algumas verduras numa quitanda pelo caminho e só sendo escorraçadas para irem para outra quitanda ou comendo algo pela calçada que alguém deixou cair tudo isto era tão diferente dos outros países visitados! Eram animais “sagrados”. . . .
‘Logo chegamos ao Salão do Reino, e a reunião foi realizada com quinze irmãos. O toque de recolher, anunciado pela polícia, impedira que alguns viessem. . . . Pudemos transmitir-lhes o amor e as saudações de seus irmãos em outras partes do mundo, bem como lhes dar admoestações espirituais. . . . Em geral, por toda essa metrópole, o ar é parado, quente e tímido. Havia uma boa brisa naquela noite. Não era exatamente frio, mas era agradável para a assembléia de 100 pessoas que ouviam o irmão Knorr discursar. . . . Esta era a última reunião que feríamos com os irmãos em Calcutá, e significava dizer-lhes adeus.’
Em Bombaim, havia muito o que fazer na filial, e o relatório continua: “Durante o dia todo, trabalhamos junto com o acompanhamento das lamúrias de mendigos e da buzina incessante dos taxis e ônibus. Há tanta gente nas ruas que os motoristas simplesmente continuam buzinando a todo o tempo.”
A assembléia teve bom início no Salão de Conferências da Faculdade de Economia e Sociologia, da Universidade de Bombaim, um local deleitoso, bem no coração da cidade. No primeiro dia — terça-feira, 22 de abril — 114 pessoas estavam presentes e seis foram batizadas.
Ilustrando a superstição religiosa dos hindus, houve um incidente enquanto os irmãos Knorr e Henschel iam para a assembléia, no segundo dia. O relatório declara: “A caminho do salão da assembléia, encontramos um senhor que transportava água. Fomos informados que ele tinha água ‘santa’ dum poço próximo. O poço é tido como sagrado pelos hindus e sua água é bebida regularmente por alguns. Relatou-se que, faz algum tempo, um dos intocáveis que queria beber água baixou um balde dentro do poço e tirou um pouco de água para si. Isto ‘profanou’ o poço e seguiu-se um tumulto. Mas não purificou a água. A única coisa que os fanáticos religiosos podiam fazer para tornar ‘santa’ de novo a água era tomar sete baldes cheios de estrume de bois sagrados e jogá-los dentro da água. Depois disso, os hindus podiam novamente beber esta água ‘santa’ e usá-la para finalidades sagradas. Declara-se também que este poço é uma das maiores causas da cólera em Bombaim.”
Naquela sessão matutina, o irmão Knorr esboçou a obra na Índia e o que se propunha para o futuro. Isto foi bem escolhido e os irmãos se sentiram felizes com tal anúncio da reorganização da obra na Índia. Compareceram 120 pessoas de Carachi, Délhi, Madrasta, Travancore, Calcutá, Ceilão e muitos outros lugares. Era notável sua determinação de proclamar as boas novas do Reino.
Para o discurso público, “O Gozo de Todo o Povo”, havia 504 pessoas presentes. Essa informação visava especialmente as pessoas do Oriente. Partir no fim desta assembléia não foi fácil. Mas, lá se foram nossos visitantes da terra atribulada da Índia.
TERRA EM CHAMAS!
Em 20 de fevereiro de 1947, o Governo britânico declarou sua intenção de deixar a Índia em junho de 1948, e designou o Lorde Mountbatten, como vice-rei, para realizar a transferência de poderes. A Liga Muçulmana reagiu mediante motins sangrentos. Assassínios, saques, incêndios e violência geral convulsionaram a Bengala Oriental, o Punjab e a Província da Fronteira Noroeste. Como resultado, o partido político nativo do Congresso aceitou a divisão da Índia, resultando no separado Estado do Paquistão.
O horror final irrompeu em 15 de agosto, quando o país se dividiu no Paquistão muçulmano e a Índia hindu. Aguilhoados pelo fanatismo religioso, pelo temor e pela pobreza, hindus, siques e muçulmanos atacaram uns aos outros com quaisquer armas que conseguiram pegar — facas, machados, espadas e fogo. Também, houve um tráfego sem precedentes de caravanas, nas duas direções. Milhões de pessoas se mudavam — os muçulmanos fugiam da Índia para o Paquistão, e os siques e hindus fugiam apressadamente do Punjab para a Índia. Certo correspondente descreveu uma caravana como tendo 116 quilômetros de comprimento. Outra notícia revelava um comboio de refugiados, totalizando 400.000, certamente um recorde. Era uma trilha de miséria, subnutrição e de cadáveres em ambas as direções. Havia perniciosa reação em cadeia de represálias, marcadas pela crueldade e pela carnificina humana. No meio deste holocausto irrestrito, o irmão Cotterill se achava do lado paquistanês da Divisão, servindo aos irmãos em Carachi.
A designação seguinte de Cotterill era uma assembléia de circuito em Dera Dun, um dos centros de motins. O funcionário que fazia as reservas tentou desencorajá-lo de viajar no que poderia ser uma viagem-pesadelo. O irmão Cotterill, porém, arrazoava: “Se Jeová quiser, tentarei chegar lá.” Escreveu ele:
“Assim, depois de alguns dias felizes com os irmãos em Carachi, eu parti. O trem corria, pelo que parece, cautelosamente em direção ao norte, passando por Multã e Montgomery. Ao nos aproximarmos de Laore, havia muita evidência de confusão, visto que muitos refugiados fugiam do Paquistão, e outros da Índia. Um devoto muçulmano que estava em meu compartimento colocou muitas vezes seu tapete de orações no chão e orou a Alá, sem dúvida pedindo proteção. A cena me lembrava Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Depois de ficar sentado a noite toda na plataforma, peguei um trem que se pensava estar indo para a Índia. O vagão estava lotado, eu podia sentir o medo no ar. Tudo estava sossegado em meu compartimento. Eu lia A Sentinela e emprestei ao senhor ao meu lado uma Despertai! para ele ler. Nosso compartimento de primeira classe, construído para alojar seis pessoas, por fim tinha quarenta pessoas!
“Multidões de pessoas superlotavam as plataformas de cada estação. Viajando pelo país, observei comboios numerosos de refugiados, com camelos, cavalos, pôneis, ovelhas e cabritos. Felizmente, nunca vi ninguém ser morto. Todavia, bens cheios de humanos estavam sendo massacrados, até mesmo o trem anterior ao nosso. Em Amritsar, siques, armados de longas facas montadas em varapaus, revistavam cada vagão, prontos a matar se achassem que era correto. Simplesmente orei a Jeová, por meio de seu Filho, Cristo Jesus, para me manter calmo e seguro, se fosse a Sua vontade. Realmente me senti bem calmo, ao continuar a ler a sua Palavra, as Escrituras Sagradas.
“Homens, mulheres e crianças, e até mesmo cabritos, estavam empilhados no teto dos vagões, junto com suas bagagens e bens. Um quacre estadunidense . . . me deu um pacote do exército norte-americano e eu comi alguns biscoitos e chocolate. Por fim, chegamos em Saaranpur, depois da fronteira, onde consegui algo para comer, junto com o rapaz que estava lendo Despertai! Soube que era um soldado muçulmano do exército indiano que voltava ao quartel-general. Ele me disse que aquele tinha sido o dia mais terrível de sua vida. Caso os outros soubessem que ele era muçulmano, teria sido morto. Era, provavelmente, o único muçulmano naquele trem.
“Na manhã seguinte, fui de ônibus para Dera Dun, onde proferi o discurso apropriado ‘Bem-aventurados os Pacificadores’. Nessa área, os siques e muçulmanos matavam-se uns aos outros. Eu e o irmão Gerald Garrard acompanhamos as irmãs até a segurança de seus lares. Para a sessão final da assembléia, tínhamos cerca de seis pessoas, devido aos toques de recolher estritos que existiam. Minha parada seguinte era Calcutá, onde o irmão Randall Hopley era o servo aos irmãos. Tivemos nossa assembléia de circuito no Auditório da ACM em Chowringhee, onde foi bom para mim conhecer pela primeira vez os irmãos de língua bengali. Então iniciei uma viagem muito longa de trem até Travancore. Aqui, em Talapady, os irmãos malabares entoaram o cântico inicial junto com todos os irmãos mais velhos sentados juntos, em estilo dum coro. . . . Foi necessário oferecer alguns conselhos aos irmãos de língua malaiala quanto a sermos Testemunhas de Jeová. Alguns deles haviam, quando preenchiam os formulários de recenseamento do governo, declarado sua religião como sendo ‘russelitas’. Imagine só!
“Dando meia-volta, parti para Bangalore, onde encontrei os irmãos e instei com eles a que tivessem apreço pela necessidade de aceitarem o convite de Jeová de apoiar as assembléias de circuito. Indo para Madrasta, para realizar uma assembléia pequena, porém feliz, vim a cultivar profundo amor pelos irmãos de língua tâmil. De Madrasta, voltei a Bombaim, para juntar-me ao irmão Carmichael em nossa designação missionária de língua marata.”
MAIS AJUDA DE GILEADE
Homer e Ruth McKay, graduados da oitava turma da Escola de Gileade, em 1947, certamente acharam que seu novo lar na Índia apresentava um contraste e tanto com sua anterior terra natal, o Canadá. Depois de longa viagem, foram saudados em Bombaim pelos colegas de turma, Dick Cotterill e Hendry Carmichael, junto com outros irmãos.
No início de 1947, quando o irmão Knorr se pôs de pé e inspecionou a cozinha do Betel de Bombaim, fez a observação lacônica: “Isso despedaçaria o coração duma mulher estadunidense.” Bem, agora Ruth McKay foi designada como cozinheira e arrumadeira do lar de Betel. Mas, vamos deixar que ela relate sua história: ‘Eis aqui um lar diferente de todos em que eu já havia estado. A cozinha não tinha pia, apenas uma bica no canto, com pequena faixa de cimento para impedir que a água escorresse por todo o chão. Não havia um suprimento de água durante as 24 horas do dia, mas tinha-se de guardar água para as horas em que seu fornecimento era cortado. O fogão da cozinha era um receptáculo portátil de metal, chamado sigri, que funcionava com carvão e no qual só cabia uma panela. Não havia refrigerador. Assim, comprava-se diariamente a comida na mercearia. Tudo tinha de ficar coberto, segundo aprendi por experiência própria, pois os itens deixados expostos se tornavam uma visão favorita dos corvos. Eles levaram mais de um ovo. Comeram o centro dum pudim ou torta antes de eu ter aprendido essa lição.’
A respeito das circunstâncias do povo, a irmã McKay comentou: “De início, as péssimas condições das pessoas, e a forma como viviam nos fizeram imaginar como iríamos prosseguir sob tais condições. Era muito deprimente. Mas, com o passar do tempo, a necessidade de ajudá-las a aprender a verdade suplantou tais pensamentos. Cada vez mais, dissemos a nós mesmos que na verdade o novo sistema de coisas após o Armagedom é a única solução para limpar este velho sistema mundial.”
Homer McKay foi designado como servo aos irmãos de tempo parcial, na área de Bombaim. Seu circuito abrangia grande área e população, porém poucos proclamadores do Reino. Para visitar um publicador isolado, ele viajou cerca de 792 quilômetros de Bombaim a Hiderabade, uma viagem de trem de cerca de quinze horas. Outra vez, viajou de Bombaim por uma distância de 491 quilômetros, para visitar uma família isolada em Amedabad. Relembrando sua experiência numa reunião pública ali realizada, escreveu Homer McKay:
“Amedabad é uma cidade de cotonifícios, de mais de um milhão de habitantes, onde alugamos um salão para nosso discurso. No entanto, a única publicidade foi o pouco trabalho que fizemos durante a semana, além dum cartaz improvisado que penduramos no prédio. Além da família interessada, só havia três outras pessoas — muçulmanas — na assistência. Ali estava eu, num amplo salão, com cadeiras para 500 pessoas e só cerca de sete na assistência!”
A IMPRESSÃO FEITA DE NOVO EM NOSSA PRENSA
Logo após a Segunda Guerra Mundial, a Sociedade conseguira permissão para a compra duma prensa plana Chandler & Price dos Estados Unidos. Por fim, foi instalada num pequeno depósito a cerca de três quilômetros da filial de Bombaim. Tipos malaialas tinham sido comprados em Travancore, e alguns tipos em inglês também foram adquiridos. Claude Goodman iniciou suas operações, ajudado por K. T. Matthew. Anteriormente, a edição malaiala de A Sentinela tinha sido composta no escritório da Rua Love, daí, impresso numa firma comercial. Assim, Agora conseguirmos fazer tanto a composição como a impressão. No entanto, a impressão de matéria em qualquer outra língua tinha de ser feita inteiramente por gráficas comerciais.
Incidentalmente, a prensa da Sociedade que imprimia a edição em malaiala de A Sentinela, era operada originalmente por um pedal. Tratava-se dum trabalho árduo durante os meses úmidos do verão; algum tempo mais tarde, a Sociedade comprou um motor elétrico para a prensa e as dificuldades operacionais foram removidas.
SURGEM NOVOS INTERESSADOS EM BOMBAIM
Certo dia, em 1949 enquanto os irmãos Harsha Karkada e Satyanathan trabalhavam com revistas na rua, perto da Fonte Flora, colocaram uma revista em canarês com certo Sr. Rocky D’Souza. Sua residência resultou ser um lugar em que cinqüenta solteirões dormiam, no estilo de pensão, usando parte do prédio como clube para homens, ao qual afluíam outros para fins recreativos. Praticamente todos os membros desse clube eram cristãos professos da área de Bramavar, na costa Concam da Índia ocidental. Cada semana que os irmãos Karkada e Satyanathan visitavam Rocky D’Souza, conheciam diferentes membros do clube e mantinham com eles palestras bíblicas. Gradualmente, o interesse se desenvolveu num estudo regular, com vinte a trinta pessoas presentes.
A oposição surgiu da parte de outros membros. No auditório comum, havia um grande altar com uma cruz religiosa e velas acesas. Os que estudavam logo viram que Deus não se agradava da adoração de ídolos e aguardavam uma oportunidade de remover inteiramente a cruz do clube. Esta surgiu quando os membros fizeram arranjos para caiar o interior do prédio e o altar foi removido para a limpeza da primavera. Jamais foi reinstalado, pois a cruz e o altar simplesmente sumiram. Isto causou grande comoção e uma divisão entre os membros do clube; assim, ficou decidido submeter o assunto à votação. Por estreita maioria, os interessados aprovaram a remoção. O presidente do clube, P. P. Lewis, tornou-se Testemunha dedicada, como também o fizeram Rocky D’Souza e vários outros. Discursos públicos regulares eram proferidos no clube, todo domingo de manhã, e compareciam de quarenta a cinqüenta pessoas, inclusive as famílias de membros não residentes. O desenvolvimento desses interessados novos resultou ser verdadeiro estímulo para a obra em Bombaim.
RETROSPECTIVA DA OBRA INICIAL DE CIRCUITO
Em 1949, Hendry Carmichael iniciou sua nova designação de viajar por toda a Índia como superintendente de circuito. Abriram-se novas localidades para visitas, inclusive Kolar Gold Fields, onde o irmão Ponniah, médico, e Robert Rushton e família, trabalhavam com a congregação local. Esta visita resultou ser interessante em mais de uma forma. Escreveu Carmichael: “Kolar Gold Fields (Campos de Ouro de Kolar) é, como o nome dá a entender, sede das minas de ouro, que se afirma serem as mais profundas do mundo. Descer pela Poço de Clifford, que é de per si o poço mais profundo da mundo, uma descida de 1.981 metros, era uma emoção e tanto. Era deveras surpreendente ver a imensidão das operações da mina neste nível, com oficinas, corpo de bombeiros lojas de explosivos e uma rede de trilhos para transporte do minério. No entanto, tive a oportunidade de descer pele Poço de Heathcote a mais de 2.743 metros abaixo da superfície, onde, apesar do enorme sistema de ar condicionado, a temperatura era de 43 graus centígrados. Aqui me foi oferecida a oportunidade de abrir um buraco na rocha, onde esta vem fazendo novo corte no veio aurífero. . . .
“Notável acontecimento naquele ano foi o de iniciar um circuito de doze congregações e uma família isolada em Travancore. Em agosto, junto com o irmão A. J. Joseph, que servia como intérprete para nossos irmãos de língua malaiala cobrimos cerca de 966 quilômetros por diferentes meios de transporte, além de 129 quilômetros a pé. Ainda consigo lembrar-me duma visita a Uputara, na Cadeia Alta ali, onde depois de chegar em fins da noite, verifiquei que todos os ir mãos me esperavam em seu Salão do Reino de teto de calmo para ouvirem o discurso! . . .
“Para visitar a congregação de Cangaza, tomamos um ônibus para começar nossa viagem pela zona rural. As cadeiras eram bancos de madeira que se estendiam de lado a lado do veículo e nos quais os passageiros se apinhavam, dó cada lado, junto com suas compras, que incluíam cabritos galinhas, e outros animais, até o ônibus não poder contei mais nada. (Mas, não se estabelece nenhum limite. Assim se outros desejam viajar, eles se penduram nos lados e na traseira, onde quer que possam colocar um pé e onde si possam agarrar. Enchem o teto até que ele se pareça a uma multidão de pessoas com um motor rodando e roncando em baixo.)
“Esta era apenas a primeira etapa de nossa viagem. Em certo lugar, descemos e fomos caminhando em fila única pela floresta de palmeirais. Anoiteceu, de modo que torcemos folhas de palmeiras, transformando-as em tochas para iluminar nossa vereda. A caminhada parecia infindável, mas, horas depois, chegamos e recebemos calorosa acolhida. . . .
“Travancore possui um clima quente e úmido e está ricamente adornada de palmeiras de diferentes variedades, entremeadas de arrozais e aldeolas. Ao passo que seus habitantes não possuem muito no sentido de dinheiro vivo, produzem muitas coisas de que necessitam e fazem linda utilização das folhas de palmeiras para cobrir os tetos e para fabricar bandejas para se comer. Das cascas do coco fazem utensílios. A região orizicultora é entrecruzada de canais de irrigação sobre os quais o único modo de andar é sobre palmeiras caídas. Isto aumenta os riscos do testemunho de casa em casa. O que me surpreendeu foi que, quando se programou um discurso público, fui levado para uma clareira ou cruzamento de trilhas rurais no meio duma floresta de palmeiras. Ali aguardei pacientemente e, quando estava quase prestes a calcular que ninguém viria, os irmãos apareceram. Como souberam onde era o local da reunião é algo que ainda não consegui descobrir. Por fim, cerca de duzentas a trezentas pessoas se reuniram para escutar e nunca se satisfariam com apenas uma hora. Tratava-se dum grande evento e queriam ouvir tudo que podiam. Ali se sentaram, de cócoras ou sobre árvores caídas, ouvindo cuidadosamente e verificando isso em suas Bíblias . . .
“O clímax dessa viagem a Travancore foi uma assembléia de três dias em Talapady, de 2 a 4 de setembro de 1949. Quão contentes ficamos quando o irmão Skinner veio de Bombaim para proferir o discurso público, ao qual compareceram 800 pessoas!”
MISSIONÁRIOS PERSEVERAM EM CALCUTÁ
Os missionários recém-estabelecidos em Calcutá tentavam aprender bengali, língua dessa arca. Para ajudar a iniciar a obra do Reino nesse campo, em 1949, a Sociedade produziu uma edição em bengali do folheto O Gozo de Todo o Povo. Naturalmente, foi preciso algum tempo para que os missionários se ajustassem às condições diferentes. Relembra a irmã Marie Zavitz: “Certo dia, quando fazia o serviço de rua, dei meia-volta e ali estava um homem, em pé com enorme jibóia de cerca de 3 metros de comprimento. A cobra olhava diretamente para mim. Não gosto de cobras. Eu gritei e corri rua abaixo.” Tratava-se apenas de um itinerante encantador de serpentes indiano que tentava ganhar seu sustento.
Continua a irmã Zavitz: “Houve outra ocasião em que testemunhava de casa em casa e uma senhora queria uma revista, mas me pediu que a colocasse nos degraus. Assim fiz. Daí, a senhora pegou a revista do chão e, ao me dar a contribuição, deixou-a cair na minha mão, de modo que a sua mão não tocasse na minha. Senti-me ferida por ela pensar ser tão santa que não queria pegar a revista da minha mão. Isso provinha de suas práticas de sistemas de castas.
Certa vez iniciei um estudo com uma ‘cristã’ indiana e a levei comigo a outro estudo. Em caminho, encontramos com um senhor na rua com quem eu colocara um livro. Assim, paramos para falar com ele sobre o livro. Da próxima vez que fui estudar com esta senhora indiana, ela me disse que não sairia mais comigo. Quando lhe perguntei a razão, ela disse: ‘Bem, como vê, sou indiana e não posso ser vista conversando com um homem na rua, pois do contrário ficaria infamada por toda a vizinhança. Não posso falar com um homem na rua mesmo que ele seja meu parente.’ Algum tempo depois, porém, ela se ofereceu para sair de novo comigo, e, com o tempo, livrou-se desse problema. Ela entrou na verdade e, com o tempo, se tornou pioneira especial, e agora anda sozinha pelas ruas.”
Recorda Gerald Zavitz: “De início pensamos que iria ser num campo frutífero, mas logo descobrimos que seu interesse era superficial. Estavam dispostos a escutar, mas não criam. Ainda se apegavam à sua própria filosofia, e, de início, eu imaginava que podia tentar raciocinar com eles sobre sua idéia do Carma, por exemplo. Sua teoria do Carma ensina que tudo acontece segundo a vontade de Deus e que sempre há algo bom em tudo. Assim, tentei usar uma ilustração bem definida sobre o assassinato de Moandas Gândi. Por certo tratava-se dum crime diabólico; não poderia haver nenhum bem nisso! Mas, não, havia algum bem nisso, simplesmente não conseguíamos compreender qual era. Assim desisti da idéia de tentar arrazoar com eles sobre tal teoria. Embora um casal de hindus tenha aprendido a verdade aqui em Calcutá, verificamos ser mais proveitoso estudar com os ‘cristãos’ indianos.”
MAIOR PROGRESSO NO CAMPO BENGALI
Na parte final de 1949, Hendry Carmichael, graduado de Gileade, fez uma visita de circuito a Bengala. Escreveu ele: “Enquanto estava em Canchrapara, visitando a recém-formada congregação, programou-se uma viagem até Chapra, aldeia a 126 quilômetros ao norte de Calcutá. O clero e os missionários da cristandade fizeram tudo o que puderam para impedir o proferimento dum discurso público em Chapra. Mas, apesar disso, perto de sessenta pessoas compareceram, numa noite enluarada, numa clareira ao ar livre. Nossa luz artificial provinha duma lamparina de querosene. Depois do discurso uma senhora idosa bengali disse: ‘E imaginar que tenho escutado o clero por toda a minha vida sem jamais saber que todas essas coisas estavam na Bíblia!’”
Carmichael escreveu mais: “Ao ir de casa em casa em Chapra, iniciei com dois companheiros e acabei com cerca de quinze pessoas que me seguiam. As casas eram construídas sobre plataformas de barro endurecido ao sol, a cerca de 60 centímetros do solo, e os tetos de folhas de palmeira se inclinavam até elas, sobrepondo-se às plataformas de barro a fim de impedir que as chuvas torrenciais salpicassem no interior. Quando convidados a entrar, agachávamo-nos para entrar, subindo na plataforma, daí, sentávamos no chão com todas as outras quinze pessoas. Todas escutavam e arrazoavam sobre as Escrituras, à medida que as considerávamos. Nesta área, muitas vezes eu me sentava, até as primeiras horas da madrugada, explicando as verdades bíblicas, e ainda assim já estava de pé no alvorecer para disseminar as boas novas em lugares mais distantes.”
RELANCE AO PROGRESSO
Em 1949, na Índia, havia um superintendente de circuito que servia a 270 publicadores e 23 pioneiros especiais em 29 congregações — 13 malabares, 1 bengali e 15 inglesas.
Por volta da época em que nasceu a nova República da Índia, em 26 de Janeiro de 1950, a filial da Sociedade em Bombaim estava atarefada em transferir suas prensas do subúrbio de Sewri para um depósito próximo do escritório da Rua Love. Era uma prensa relativamente nova, mas, ao ser descarregada, certos suportes de madeira escorregaram e a prensa caiu ao chão, quebrando uma parte vital da maquinaria. Todavia, foi consertada e logo estava operando bem de novo.
SOBREVIVENDO A UM CICLONE E UMA AVALANCHA!
Certa ocasião, quando o superintendente de circuito, Hendry Carmichael, estava prestes a partir de Darjeeling, terrível ciclone assolou essa área. Foi acompanhado de chuvas torrenciais que somaram 1.270 milímetros em dois dias. Isto provocou vários deslizamentos de terra que devastaram toda a região, varrendo bustis, ou aldeias, e levando à morte todos que estavam nelas. Com efeito, a casa vizinha daquela em que estava o irmão Carmichael foi varrida por um deslizamento. Pedras e destroços se empilhavam sobre o local em que ele estava, enchendo-o de água e de sedimentos. Ouvindo dizer que Darjeeling ficara isolada do mundo e que talvez levassem meses para abrir um caminho até lá, Hendry Carmichael e o pioneiro Melroy Wells-Jansz decidiram tentar arriscar-se em sair de lá por seus próprios meios. Ademais, estavam programados para dirigir um batismo na próxima etapa da viagem de circuito.
“Primeiro subimos uns 300 metros até uma velha estrada militar que ladeava uma cordilheira”, relatou o irmão Carmichael. “Ao chegar à estrada, verificamos que se achava em péssimas condições . . . lutamos para passar por montes de destroços e de árvores, e por fim chegamos a Ghoom. Dali, atormentados pela fome, lutamos cansativamente a seguir pela estrada principal, que amiúde desabava por trás de nós à medida que avalanchas vindas das montanhas a levavam de roldão. Uma avalancha caiu entre nós, mas conseguimos reunir-nos. Por fim, fomos forçados a parar. Diante de nós havia um abismo engolidor de cerca de 12 metros de largura e 610 metros de profundidade, com uma torrente trovejante lançando-se na garganta. Tudo que restava da antiga ponte ferroviária eram os dois trilhos sustentados pelos dormentes Vibravam no meio do ar, perto das águas trovejantes . . .
“Refugiamo-nos naquela noite numa cabana ferroviária abrigada na ponta da cordilheira, acima da qual uma grande pilha de rochas ameaçavam desabar a qualquer momento Depois de uma noite sem dormir, de indescritível dificuldades, saímos para enfrentar de novo aqueles dois trilhos. . . . A chuva caía torrencialmente e o vento agitava os trilhos, mas por fim ambos conseguimos atravessar para o outro lado No entanto, nossas tribulações não terminaram, pois logo chegamos a Sonada, onde nos vimos confrontados com outro abismo. Mas, desta vez, não restava nenhum trilho de trem . . . Escalamos a encosta do penhasco até uma altura de 914 metros, às vezes muito cautelosamente, com as costas volta das para o penhasco, avançando aos poucos por saliências perigosas até que não havia mais saliências. Os deslizamentos levaram até mesmo as saliências, forçando-nos a reorientar nossos passas até que encontramos outra coisa em que subir. Por fim, arrastamo-nos até o topo do penhasco, penetrando numa floresta, guarida de ursos selvagens. Descemos até Curseongue, depois de caminharmos por dois dias e uma noite. Chegamos famintos, cobertos de lama, com os pés cheios de bolhas e sangrando, mas salvos, e sãos em outros sentidos. Um sacerdote católico romano, que presenciou nossa chegada, espalhou as notícias entre os aldeões. Todavia, alcançamos c objetivo de nossa visita.”
VIAGEM RECOMPENSADORA AO SUL DA ÍNDIA
Foi decidido que o irmão Skinner devia fazer uma viagem ao sul da Índia e visitar os irmãos em Canara do Sul e Travancore. Hendry Carmichael, o superintendente de circuito, embora estivesse recuperando-se de grave operação, acompanhou o superintendente da filial nesta viagem. Os dois irmãos partiram de Bombaim por um vapor costeiro e pararam em Mangalore para passar o fim-de-semana. Ali encontraram um grupo de quatorze interessados que estudavam bem regularmente A Sentinela em canarês. Nenhum deles sabia falar inglês muito bem, e não havia nenhum intérprete. Portanto, o discurso público foi anunciado como um discurso em inglês, sendo orador o irmão Skinner. Tendo apenas um dia para anunciar o discurso, foi surpreendente notar que noventa pessoas compareceram.
No local seguinte, Cochim, programou-se uma assembléia no esforço de desenvolver essa parte do campo Sob a regência inglesa, Cochim tinha sido um estado separado de Travancore, com seu próprio marajá e seu sistema de governo, embora as pessoas do Estado de Cochim falassem malaiala, como os de Travancore. Até aquele tempo, contudo, a maior parte do trabalho no campo malaiala tinha sido feita no meridional Estado de Travancore. A sessão inicial desta assembléia de Cochim teve 210 pessoas na assistência. De trinta a quarenta interessados vieram de Travancore. Havia ali 110 Testemunhas empenhadas na atividade de testemunho na assembléia, e os olhos do povo de Cochim quase que saltaram ao verem de vinte a trinta irmãs andarem pela cidade com cartazes que anunciavam o discurso público — algo jamais visto em Cochim. É uma cidade saturada de catolicismo romano, tendo um bispo residente. Todavia houve excelente assistência de 1.022 pessoas na reunião publica, tornando a maior assembléia já realizada na Índia até aquele tempo. Era gratificante observar vinte e cinco pessoas serem batizadas e encontrar um grupo de homens de língua inglesa que desejavam formar-se numa congregação.
AVALIANDO O AUMENTO
Espalhar os missionários pelo país serviu como força estabilizadora e trouxe confiança aos irmãos indianos locais, ao servirem unicamente juntos.
Em Calcutá, diversos estudos bíblicos tinham sido iniciados com hindus. Poderia este ser um grande passo no campo hindu? Trinta e oito estudos bíblicos domiciliares estavam sendo dirigidos entre os hindus bengalis e o relatório dizia: “Isto é apenas o começo.” No entanto, junto com os comentários esperançosos havia expressões caraterísticas: “Aceitam estudos por delicadeza”, “para aprimorar seu inglês”, “como estudo comparativo, mas com a determinação de que jamais mudarão de religião”. Certo relatório expressava a verdade geral que revelava a atitude da maioria dos hindus, dizendo: “Há apatia geral a qualquer religião revelada, e não conseguem aceitar a idéia dum resgate.”
Enviara-se, em 1950, um questionário aos irmãos para ver exatamente quantos estudos bíblicos estavam sendo dirigidos com os que não professavam ser cristãos. O resultado mostrava que, em toda a Índia, 114 estudos bíblicos domiciliares eram dirigidos com hindus, budistas e outros que não eram “cristãos”. Cerca de cem tinham sido iniciados, mas foram descontinuados. Trinta e quatro dessas pessoas assistiam às nossas reuniões, onze tinham participado no serviço de campo e duas foram batizadas. Em 1951, as respostas revelavam que havia oitenta e três estudos bíblicos, uma queda de trinta e um. Mas, treze pessoas que não tinham sido cristãos nominais participavam da obra de testemunho e três foram batizadas. Por conseguinte, o aumento provinha mor mente dos que professavam o cristianismo. Tinha sido encorajador ajudar cinqüenta e nove novos discípulos a dedicar-se e batizar-se naquele ano, alcançando-se um auge de 499 Testemunhas.
DIFICULDADES EM POONA
Disseminar o cristianismo verdadeiro na Índia não era apreciado por certos movimentos político-religiosos, em especial o R. S. S. ou Rashtriya Seva Sangh (Servos do País), conhecidos através do país como o grupo que assassinara Moandas C. Gándi, em 1948. Em outubro de 1951, tentaram criar dificuldades durante uma assembléia de circuito em Poona. Em 14 de outubro o irmão Skinner deveria proferir um discurso público no Salão Gokhale, numa localidade predominantemente hindu. Mas, uma multidão de arruaceiros anticristãos interromperam a reunião e os irmãos tiveram que ir embora, no meio de vaias de “Saiam da Índia!” Houve ao mesmo tempo, ameaças de violência. Até mesmo a polícia não conseguiu restaurar a lei e a ordem.
Todos os irmãos se reuniram no Salão do Reino de Poona onde terminaram o programa da assembléia. Depois disso, os irmãos Skinner e Carmichael foram à delegacia e apresentaram queixa. Daí, fizeram-se planos de realizar outra reunião pública no mesmo salão, em 31 de outubro, mas desta vez com proteção policial. Os irmãos organizaram outra campanha de publicidade e distribuíram 10.000 convites, tanto em marata como em inglês. Quando chegou a hora de começar a reunião estavam presentes dois oficiais de polícia e cerca de doze soldados. Mal o irmão Skinner terminara a introdução quando irromperam de novo as dificuldades. A polícia interveio mas rapidamente ficou em inferioridade numérica, e logo se juntaram multidões de pessoas que berravam, de modo que parecia que os irmãos e interessados reunidos corriam perigo.
No entanto, ferisse um arranjo com um vizinho, cujo portão dos fundos dava para o terreno do salão, para que, em caso de dificuldade, abrisse o portão e deixasse que os irmãos fugissem. Assim, enquanto a polícia lutava com tremenda desvantagem na frente, os irmãos quietamente saíram sem serem observados, e nenhum sofreu ferimentos. Mais tarde, os jornais fizeram considerável publicidade do assunto, a maior parte do qual sendo desfavorável ao povo de Jeová. Uma carta de protesto contra o cerceamento da liberdade de palavra e de adoração foi enviada pelo superintendente da filial ao Ministro dos Assuntos Internos, do Governo de Bombaim, com cópias para o Primeiro Ministro Nehru e o inspetor-geral da polícia do Estado de Bombaim.
OUTRA VISITA SUSCITA OTIMISMO
Notável acontecimento para a Índia se deu quando os irmãos Knorr e Henschel chegaram em Janeiro de 1952. Separaram-se em Carachi, Paquistão, o irmão Henschel indo para Délhi e Calcutá e o irmão Knorr para Bombaim e o sul da Índia.
Em Madrasta, o irmão Knorr reuniu-se com um grupo de missionários. Nesse mesmo dia, às 16 horas, 57 irmãos se reuniram para ouvir um discurso. Às 18 horas, 95 vieram ao discurso público.
No dia seguinte, os irmãos Knorr e Skinner se dirigiram para a assembléia em Ernaculam, chegando por água de Cochim. Havia 260 sorridentes irmãos de Travancore esperando os viajantes, para saudá-los. “Embora só pudéssemos conversar com eles através dum intérprete, seu amor teocrático era manifesto, como o do povo de Jeová em toda a parte”, escreveu o irmão Knorr. A assistência da assembléia ficou emocionada com o lançamento do livro “Seja Deus Verdadeiro” em malaiala. À noite, 700 pessoas assistiram à reunião pública.
“No dia seguinte, pegamos um avião para Bombaim, onde me juntei ao irmão Henschel e ouvi suas experiências em Délhi e Calcutá”, escreveu o irmão Knorr. Em Délhi, o irmão Henschel encontrou vários interessados, especialmente ao trabalhar de casa em casa junto com um pioneiro local. Seu discurso na primeira noite foi grandemente apreciado pelos irmãos e, no segundo dia, 73 pessoas vieram a reunião pública, sua maior assistência até aquela data.
Em Calcutá, 75 pessoas lotaram o Salão do Reino para a visita do irmão Henschel. A pequena, mas crescente congregação ali estava sendo ajudada pelos cinco missionários, irmão e irmã Zavitz, Marjorie Haddrill, Florence Williams e Joyce Larke. Declarou o irmão Knorr: “A Casa das Artes, famosa por suas mostras de pintura e de tecelagem, foi alugada para o discurso público e 205 pessoas ouviram ser respondida a pergunta ‘Enfrentará a Religião a Crise Mundial?’ Novamente nesse caso houve encorajadora margem de novos interessados para maior cultivo no futuro.”
É interessante que o irmão Knorr também escreveu: “Um pioneiro, que trabalha em Darjeeling, na fronteira do Nepal, falou de centenas de missionários sectários ali que fugiram da China por causa da perseguição. Darjeeling não é uma cidade muito grande, e a pessoa fica imaginando o que tantos missionários poderiam estar fazendo ali. O irmão explicou que não fazem tanta coisa. Alguns deles juntam criancinhas e lhes ensinam cânticos, após os quais as crianças receber as porções prometidas de arroz. É a comida que provoca o interesse, e, quando a comida fica escassa nesse país, apresentam-se maiores números. No entanto, as crianças não aprendem nada sobre o que a Bíblia ensina. Outros missionários oferecem chás da tarde gratuitos, e, quando as pessoal se ajuntam para o chá, e as crianças cantam, tiram-se fotos que os missionários se aprazem em mandar para os Estados Unidos, ou para outras partes, para provar o que estão ‘realizando’. À base disso, solicitam mais dinheiro, fazendo assim uma fraude desta prática.
“Visto que a verdade expõe tais extorsões e hipocrisia, esses sectaristas se ressentem muito das Testemunhas de Jeová e da presença de seus missionários na Índia. Amiúde tentam obrigar as pessoas a rejeitar nossa mensagem por ameaçá-las com a perda do emprego, do tratamento médico ou da instrução para seus filhos. Mas, rapidamente se torna patente quem são os verdadeiros amigos das pessoas. Quando muda o governo, de tempos a tempos, colocando no controle os chamados pagãos, os missionários pseudocristãos, com freqüência, vão embora para um lugar onde a vida seja mais fácil. Por conseguinte, não vivem de acordo com as exigências apostólicas . . . pesada culpa recai sobre eles pelo modo em que sua falsa religião falha assim para com a humanidade.”
A assembléia principal então programada para a Índia seria em Bombaim. Iniciou-se em 14 de janeiro de 1952. Daí, numa reunião particular, instou-se com os missionários a que aprendessem a língua falada pela maioria, em cada localidade.
“Houve grande alegria nessa assembléia com o lançamento de ‘Seja Deus Verdadeiro’ em canarês”, escreveu o irmão Knorr. “Outro destaque se deu no discurso público. Eu tinha recebido um bilhete ameaçador, marcado com a foice e o martelo comunistas. O escritor se referia a um distúrbio anterior que interrompera uma reunião pública em Poona, há alguns meses. A polícia foi avisada, mas tudo correu suavemente e grandiosa assistência de 784 pessoas ouviram o discurso. Muitos fizeram perguntas depois dela. Deve-se mencionar que 43 se apresentaram para a imersão em água.”
Incidentalmente, 29 das pessoas batizadas nessa assembléia eram irmãos de língua canarês-concani, que provinham daquele clube da comunidade encontrado pelos irmãos Karkada e Satyanathan, lá em 1949. Durante a assembléia, o irmão Knorr conversou com Arthur Kaunds, dizendo que gostaria de ver seis desses irmãos de língua canarês-concani se mudarem para seu campo lingüístico como pioneiros especiais. Logo depois que Kaunds revelou isso aos irmãos, os pioneiros John Maben e Raphael Louis partiram de Bombaim para servir onde havia mais necessidade. Mais tarde, seguiram-se outros, inclusive Ruzario Lewis. Ele foi para Coondapur, daí para Bramavar, onde trabalhou intensamente para estabelecer congregações.
Durante o breve intervalo entre as visitas de 1947 e 1952 do irmão Knorr, houve aumento. Em 1947 só havia 198 publicadores na Índia britânica. No entanto, em novembro de 1951 houve na Índia um auge de 514. Ademais, havia 23 missionários e 18 pioneiros locais que serviam na Índia. Compreensivelmente, nossos visitantes da sede da Sociedade partiram com uma sensação de otimismo quanto à intensificação da proclamação do Reino neste vasto país.
MISSIONÁRIOS SÃO FONTE DE ENCORAJAMENTO
Na verdade, continuou a haver aumento no ano de 1952, apesar de oposição religiosa. Agora que a irmã Jeffries tinha partido de Bombaim para trabalhar com Marjorie Haddrill, no lar missionário de Calcutá, Margrit Hoffman teve como nova companheira a Nasreen Mall, uma pioneira indiana.
Ali em Bandra, as irmãs Hoffman e Mall trabalhavam numa área paupérrima, entre pessoas assoladas pela pobreza e que moravam em barracos e elas enfrentaram severa oposição dum sacerdote católico romano que entrou num barraco onde Margrit Hoffman considerava a Bíblia com um certo Sr. William Parmar. O sacerdote perdeu por com preto o controle, arrancou alguns folhetos da mão da irmã Hoffman e tentou chutá-la. Ele rasgou os folhetos e ameaçou-a com violência, afirmando que tais pessoas eram “seu rebanho”. Logo se juntaram os vizinhos e induziram-se as crianças a maltratar a irmã sempre que ela estivesse por perto desse local. Mas, Margrit Hoffman persistiu e o senhor em cujo barraco ocorreu esta cena se tornou um publicador regular do Reino. O irmão William Parmar teve a coragem de ficar firme em favor do que era correto. Daquele grupinho de barracos, com o tempo, sete publicadores do Reino usufruíram sua liberdade da “prisão” católica romana.
Délhi, capital da Índia, tornou-se novo local para um lar missionário. No princípio de 1952, os irmãos canadenses, Bernard Funk e Peter Dotchuk, chegaram da Escola de Gileade à Índia, e foram enviados para a capital. A Sociedade transferiu os irmãos George Singh e Arthur Sturgeon de Madrasta para juntar-se a eles em trabalhar junto com a pequena, porém crescente congregação dali.
Não demorou muito até que os novos missionários aprendessem o que teriam de enfrentar quanto à população não-cristã. Por exemplo, para Bernard Funk, “os hindus pareciam enganosos e evasivos em tudo que se procurava discutir”. Ele também observou uma tendência de fugir da responsabilidade, como no caso em que “um morador nos encaminhou ao ‘irmão mais velho’, daí, o irmão mais velho nos encaminhou ao pai, e o pai ao senhorio”. Ademais, o irmão Funk observou que as igrejas da cristandade tinham ensinado as pessoas a esperar que a religião fornecesse alguns benefícios materiais, “de modo que muitos fingiam estar interessados, ao passo que realmente tinham outros motivos no coração”. Daí, também, ele verificou que os costumes sociais estavam tão diretamente ligados à adoração ‘que a mudança de religião significava a violação da maioria dos costumes, que muitos não podiam imaginar ser capazes de fazer’. No entanto, os missionários perseveraram, declarando a mensagem do Reino e sendo uma fonte de encorajamento para as Testemunhas locais.
BONS RESULTADOS EM BRAMAVAR
A influência dos missionários foi também um estímulo para a obra do Reino em Bramavar. Na costa de Concam, na Índia, ao redor da área de Bramavar, há numerosos estuários pontilhados de ilhotas, em muitas das quais residiam famílias interessadas na verdade. O irmão Carmichael lembrou sua atividade ali, na obra de circuito: “O meio de comunicação entre as regiões das águas interiores era um tronco de árvore escavado, impulsionado por longos varapaus. Sempre que falamos a multidões de centenas de pessoas, ao ar livre, manifestou-se interesse.”
A respeito da mesma visita de circuito, Arthur Kaunds escreveu: “Ao redor de Bramavar e dos povoados adjacentes, surgiram estudos e interessados em várias ilhas fluviais. Estes ‘cristãos’, de formação ‘seria’ e católica romana, aprendiam a verdade. Nós nos sentávamos ao redor duma lamparina de querosene, em suas casas de adobe, aprendendo e entoando cânticos do Reino. Entre estas aldeias, um bom número de ‘cristãos’ se tornaram Testemunhas de Jeová, a verdade espalhando-se originalmente a eles através de seus parentes crentes do clube comunitário de Bombaim.”
Nessa volta do circuito a Bramavar e seu distrito, programou-se um discurso público em uma aldeia, num cinema construído de esteiras. Vieram 130 pessoas ouvir o discurso mas todas ficaram ensopadas quando uma chuvarada desabou sobre elas. Impávidas, anunciaram outra reunião no dia seguinte. Naquele tempo, 300 pessoas assistiram a ela e muitas deixaram seus nomes e endereços com os pioneiros, para serem visitadas. Numa aldeia próxima, realizou-se uma reunião pública, mas a oposição impediu que se alugasse um auditório público. Assim, programou-se uma reunião ao ar livre. Toda a aldeia ficou alvoroçada ao se fazer publicidade dela, e compareceram 150 pessoas para ouvir o orador. De novo, vários nomes foram dados, e os pioneiros canareses conseguiram ótimo início em sua nova designação.
PROBLEMAS COM A ENTRADA DE MISSIONÁRIOS
Dali em diante, começaram definitivamente a aumentar as dificuldades de se enviar missionários para a Índia, especialmente os cidadãos norte-americanos. A comunidade hindu, como um todo, ressentia a presença de missionários “cristãos”. Sempre havia algumas pequenas soltas de hindus que apela” vem ao Governo para que limitasse as atividades missionárias. Foi no ano de 1953 que se começou a ver tal movimento. Além de alguns berros e distúrbios localizados, contudo, isso não influiu na obra das Testemunhas de Jeová como um todo.
Ao passo que o Governo tinha sido induzido a investigar a obra de alguns dos missionários da cristandade, e até mesmo tomara medidas contra alguns, pelo que parecia ser sua interferência em assuntos políticos, éramos gratos a Deus de que nenhuma intervenção séria foi sentida pelas Testemunhas de Jeová. A imprensa pública tinha sido o foro de muitas discussões em favor e contra a obra missionária “cristã”. Os protagonistas da luta contra a atividade evangélica organizavam reuniões públicas para incitar os sentimentos populares contra a obra dos missionários. Certa notícia de jornal dizia: “O presidente do Partido Mahasaba hindu extremista disse, numa reunião pública, que a obra de 5.000 missionários aqui na Índia é uma ameaça à solidariedade e integridade da Índia.”
Em 1952, houve dificuldades prolongadas em se conseguir que um missionário da Torre de Vigia (EUA) entrasse no país. Depois de muitos problemas para conseguir um visto de entrada, Howard Benesch veio casar-se com Molly Thompson, em Bangalore. Permaneceram em Bangalore, mas não lhe foi permitido permanecer por muito tempo na Índia. O Governo recusou estender seu visto temporário após doze meses. Assim, a Sociedade enviou o irmão e a irmã Benesch para Daca, no Paquistão Oriental, (atual Bangladesh), para tentar desenvolver a obra do Reino ali. Eram as únicas Testemunhas dó Jeová no Paquistão Oriental.
Alguns graduados de Gileade que eram cidadãos estadunidenses foram designados para a obra missionária na Índia, em 1953, mas foi-lhes redondamente recusada a permissão de entrarem no país. Dali em diante, apenas os cidadãos da Comunidade Britânica que tinham sido educados em Gileade foram designados à Índia, visto que esta também era membro da Comunidade.
ASSEMBLÉIA TOTALMENTE EM MALAIALA
Agora que um lar missionário tinha sido aberto em ErnaKulam, em Travancore, decidiu-se realizar uma assembléia totalmente em malaiala. O local escolhido foi Upputhara povoado bem acima, na Cordilheira Alta, e a assembléia foi organizada pelo superintendente de circuito, V. C. Itty. O local estava além dos estados produtores de chá, a 24 quilômetros da mais próxima agência dos correios. Mas, em 1953 havia uma pequena congregação de cerca de 20 publicadores ali. Os irmãos locais ganhavam a vida cultivando pimenta gengibre e outros temperos. O irmão Skinner estava presente naquela assembléia e se recorda:
“Os irmãos tinham erguido um pandal, isso é, um telhado protetor de folhas “rançadas de palmeira e apoiadas por varas de bambu. A estrutura não tinha paredes, de modo que a brisa pudesse soprar e trazer algum alívio do calor. Alugaram um gerador portátil, que fornecia energia para três lâmpadas acima da tribuna, e para o amplificador de 30 watts. A publicidade foi feita com faixas, cartazes e convites num raio de 8 a 16 quilômetros. A sessão inicial teve uma assistência de 283 pessoas, inclusive muitos interessados, e na reunião pública, contamos 522, mas muito mais pessoas puderam ouvir à distância através de dois alto-falantes colocados em árvores fora do pandal. Infelizmente, houve uma tempestade na hora da reunião pública e a chuva, sem dúvida, impediu alguns de comparecer à reunião. Foram imersas 27 pessoas num riacho próximo.
“O que mais me agradou foi o modo em que dois missionários enfrentaram a língua malaiala. Douglas Fraser proferiu um discurso em inglês, mas uma introdução de cinco minutos em malaiala. Seu irmão, Donald, apresentou uma demonstração de 45 minutos, com a ajuda de dois irmãos locais, tudo em malaiala.”
ASSEMBLÉIA “SOCIEDADE DO NOVO MUNDO”
A Assembléia “Sociedade do Novo Mundo” das Testemunhas de Jeová foi programada para a cidade de Nova Iorque em 1953. Uma onda de excitação grassava entre os irmãos da Índia quando foi anunciado que alguns delegados indianos compareceriam a ela. Que deleite foi o irmão A. J. Joseph ver sua filha caçula, Gracie, cursar a Escola de Gileade junto com sua colega indiana, Nasreen Mall. Pouco compreendiam que trariam para sua terra nativa um bom número de outros missionários. Entre os delegados da Índia que compareceram à famosa assembléia internacional em Nova Iorque, em 1953 achava-se o irmão A. J. Joseph. Mais tarde, os congressistas partilharam com os irmãos da Índia as boas coisas ouvidas fazendo isso numa assembléia “idêntica” em Bombaim. Havia 358 irmãos presentes na reunião de Bombaim, e 48 pessoas foram batizadas. Uma multidão final de 707 pessoas chegaram para ouvir o discurso público “Após o Armagedom — o Novo Mundo de Deus”.
BASE PARA EXPANSÃO
Lançou-se o alicerce para mais expansão na Índia pouco antes dessa assembléia, com a chegada de mais graduados de Gileade, junto com as irmãs Gracie Joseph e Nasreen Mall. Preparou-se um segundo lar missionário em Trichur Travancore. Ali, a família de missionários foi designada ao campo de língua malaiala, sendo a irmã Joseph sua instrutora lingüística.
Mais para o norte, em Ahmednagar, o irmão Cotterill recebeu a companhia dum novo missionário, Percy Gosden, da Austrália. Ali trabalharam juntos no campo de língua marata. Ainda mais para o norte, nas planícies do Rio Sutlej, no Punjab oriental, instalou-se outro lar missionário, em Jullunder. Cinco missionários foram designados para lá, inclusive Nasreen Mall, que agora já podia trabalhar em sua própria Área lingüística de urdu. Assim, tinham chegado na Índia 13 outros graduados de Gileade, aumentando o total destes trabalhadores bem treinados para trinta e um.
UM SIQUE ACEITA A VERDADE
Por volta desse tempo, Samuel Waller, de Bombaim, testemunhava na rua, anunciando um discurso público, quando um rapaz da religião sique parou para receber um convite. Imagine só a surpresa dos irmãos quando este sique com turbante entrou no Salão do Reino para ouvir um discurso. Seu nome era Harjit Singh Dadyala. Concordou em receber um estudo bíblico, usando-se o livro “Seja Deus Verdadeiro”.
Na religião sique, todos os homens deixam seus cabelos ficar bem compridos e jamais se barbeiam. Enrolam seus cabelos longos, de que muito se orgulham, formando uma bola no alto da cabeça, e a cobrem com um turbante. Assim os irmãos ficaram ainda mais surpresos quando este cavalheiro sique entrou certo dia no seu Salão do Reino em Bombaim, com o cabelo cortado e penteado no estilo ocidental e com a barba bem escanhoada. Evidentemente, era bastante humilde para aprender e não receava trilhar a vereda da verdade. Não foi fácil para Harjit Singh Dadyala fazer uma dedicação a Jeová e batizar-se. Por duas vezes foi expulso da casa de seu pai, espancado e ameaçado de morte, caso não renunciasse ao cristianismo. Mais tarde, fez petição para o serviço de pioneiro. O irmão Dadyala progrediu gradualmente até o ponto de lhe ser dada a oportunidade de receber treinamento em Gileade.
BOM TRABALHO DAS TESTEMUNHAS INDIANAS
Os irmãos indianos faziam excelente trabalho em todo campo. Em Délhi, o idoso irmão Addison era empregado “‵ escritório central do governo, onde testemunhava à sua equipe enquanto esperava o ônibus, cada dia. Isto levava a comentários sarcásticos da parte de muitos, mas ao exame, por parte de outros. Logo um hindu começou a estudar a Bíblia e freqüentar algumas reuniões. Rapidamente, ele se alistou na Escola Teocrática e começou a participar regularmente no serviço de campo. Foi batizado numa assembléia de circuito em Jullunder. Este novo irmão, R. P. Nigam, influenciou seu sobrinho hindu, I. P. Nigam, a estudar a Bíblia e este também, começou a assistir regularmente às reuniões.
No sul da Índia, havia um impulso de se disseminar o verdadeiro cristianismo entre os não cristãos. O jovem irmão Eric Falcon, que dirigia uma fazenda nos arredores meridionais de Bangalore, começou a introduzir a verdade entre seus lavradores. Os lavradores de Falcon eram analfabetos na maioria. Sua língua materna era o télugo. O irmão Falcon sabia tal língua e conseguia falar lhes sobre o Deus verdadeiro, Jeová, e sobre seu Filho, Jesus Cristo. Devia trave cerca de 100 trabalhadores na fazenda dele, junto com sua famílias. Por fim, cerca de vinte de tais lavradores se dedicaram a Jeová e foram batizados Apesar de serem analfabetos, iam às aldeias vizinhas nos fins-de-semana a fim de partilhar com outros o que aprenderam sobre Cristo e o Reino de Deus.
DIFICULDADES DE NOVO EM POONA
Na época da Comemoração, em 1954, mais uma vez surgiram dificuldades em Poona. Richard Cotterill, que trabalhava como missionário em Ahmednagar, foi designado a viajar para Poona e cuidar dos arranjos da Comemoração ali. O pequeno grupo a celebrou no sábado, e Cotterill pernoitou ali para proferir um discurso público no dia seguinte. Ele conta o que aconteceu:
“Acabávamos de realizar o estudo da Sentinela quando grande multidão de hindus de língua marata, encabeçados por um de seus líderes que já havia interrompido reuniões anteriores, chegou pouco antes de começar o discurso. Após a primeira frase, clamaram: ‘Fale em marata! Fale em marata!’ Foi-lhes lembrado que o discurso foi anunciado como sendo proferido em inglês, que havíamos programado discursos em marata e os havíamos proferido muitas vezes em Poona. Mas, o que eles queriam era criar dificuldades. Tentamos ir para o salão do hotel, visto que estávamos do lado de fora, no jardim. Mas, eles nos impediram de proferir o discurso ali. Daí, fizeram que a polícia levasse a mim e às irmãs Mulgrove e Newland para a delegacia. Um de seus líderes subiu na tribuna elevada . . . e entoou a frase: ‘Nós o amamos, Sr. Skinner.’ Daí, veio o coro: ‘Mas, vá embora da Índia.’ ‘Nós o amamos, Sr. Cotterill’ — daí, o coro: ‘Mas vá embora da Índia.’ Mais tarde, ouvimos que se ordenou ao povo na área acantonada de Poona que não aceitasse publicações das Testemunhas de Jeová.”
Não muito depois desse incidente, os irmãos Cotterill e Percy Gosden foram transferidos de Ahmednagar para Poona. A mudança parecia prática, visto que Poona era uma área mais e mais cosmopolitana. Várias famílias de língua marata, em Poona, mostravam algum interesse pela verdade, e foi possível aos dois missionários edificar a pequena congregação dali. Para ajudá-los e incentivá-los em sua atividade, a Sociedade tornou disponível, naquele ano, a edição em marata de “Seja Deus Verdadeiro”.
DE NADA ADIANTA A OPOSIÇÃO
Devido aos excelentes exemplos dos missionários, a obra de pioneiro especial entre os irmãos locais continuou a expandir-se. Ruzario J. Lewis, um dos irmãos de língua canarês-concani, tornou-se pioneiro especial e trabalhou em seu distrito nativo original da costa de Concam, ao redor de Bramavar. Suas entusiásticas atividades não escaparam da atenção dos líderes religiosos católicos locais, que incitaram seus membros a opor-se à sua obra. Em certa ocasião, até mesmo incendiaram sua pequena canoa. Nela, o irmão Lewis tinha viajado ao testemunhar pelas águas interioranas de Bramavar. Todavia, ele se apegou à sua designação, e as pessoas de coração honesto corresponderam a ele. Por exemplo, o clero e os líderes católicos tentaram impor uma proscrição de suas atividades, empenhando-se de fazer com que fosse expulso da área. Mas, o irmão Lewis recorreu ao chefe da aldeia local, chamado Patel. O Patel convocou uma reunião dos católicos e de Lewis, para ouvir a ambos os lados. Depois de ouvir a explicação bíblica do irmão Lewis sobre sua obra, designada por Deus, muito embora o chefe da aldeia fosse hindu, ele anunciou que o irmão Lewis poderia permanecer e continuar com suas atividades de pregação.
Isto, contudo, não freou os católicos. Mandaram matai o irmão Lewis. Certa noite, quando ele voltava para casa depois de um dia no serviço de campo, ele andava por uma trilha na selva, no escuro. Ao se aproximar duma lagoa um bandido pulou sobre ele para tentar empurrá-lo centra dela e afogá-lo. Lutaram corpo a corpo na beira da água e, providencialmente, apareceu alguém, no que o atacante o largou e fugiu. Depois disso, o irmão Lewis planejou seguir diferentes rotas ao ir para seu território e ao voltar dele
Em uma aldeia, morreu um filhinho de dez dias de uma interessada. Entre tais aldeões, uma das desculpas mais comuns para não mostrarem interesse pela verdade se centralizava na pergunta: “Quem me enterrará quando eu morrer?” A morte deste bebê provocou especulação ali quanta ao que as Testemunhas de Jeová fariam sobre isso.
A Igreja Católica local não quis permitir que o bebê fosse enterrado em seu cemitério. Assim, Ruzario Lewis agiu. Depois de se dirigir às autoridades locais, foi-lhe concedido um terreno de modo que as Testemunhas de Jeová tivessem seu próprio cemitério. O irmão Lewis proferiu tão excelente sermão no enterro que centenas de pessoas ouviram falar dele e isto suscitou grande interesse. Incidentalmente, num período de vinte e dois anos, a partir de 1954, Ruzario Lewis ajudou 94 pessoas a se tornarem publicadores dedicados da reino de Deus.
ENFRENTAR RESTRIÇÕES
O livro Que Tem Feito a Religião Pela Humanidade? era altamente apropriado para os povos da Ásia, visto conter muitas verdades importantes sobre o budismo, o islamismo e o hinduísmo. No entanto, alguns não gostaram do que dizia sobre suas religiões não-cristãs. Assim, em 1955, o Governo indiano proibiu a distribuição pública do livro, embora permitisse que os irmãos possuíssem seu exemplar pessoal. Podiam estudar juntos essa publicação e usar o que aprenderam no serviço de campo.
Impunham-se restrições sobre os missionários estrangeiros como um todo, visando limitar a atividade missionária a obra puramente social, educativa ou médica. Uma comissão governamental foi formada para investigar as atividades das missões cristãs. Em 1955, um exemplar do folheto Cristandade ou Cristianismo — Qual É a “Luz do Mundo”? foi enviado ao presidente desta comissão. Ele acusou o recebimento do folheto e replicou: “Assim como a Cristandade difere do Cristianismo (como declara seu folheto), assim também o Cristianismo difere de Jesus, o Filho de Deus. Parece-me que a mente humana sobrepujou o tipo institucional de religião (de templo, igreja e mesquita), e procura nova luz, de modo que um homem possa encontrasse com outro homem sob o vasto dossel celeste, tendo a verdade como sua escritura e seu coração animado pela bondade amorosa.” O escritor era hindu e sua declaração provavelmente reflete a idéia geral do hindu instruído mediano. Muitos jamais entram em seus templos hindus. Afirmam procurar a verdade, mas confiam nas filosofias dos homens. — Col. 2:8.
AJUSTES ENTRE OS MISSIONÁRIOS
Surgiu então novo centro missionário em Amedabad, em Gujara. Fora da cidade de Bombaim, isto era o início do campo de língua gujarate. Amedabad é uma cidade famosa por ser um local de encontro da arquitetura hindu, muçulmana e jaína. Transformara-se numa cidade manufatureira de algodão e de seda, onde coisas tais como renda, jóias e esculturas em madeira também são produzidas. Com o tempo, várias famílias de língua gujarate, dentre os cristãos professos, aceitaram a verdade.
O irmão Cotterill foi então designado à obra de circuito e sua atividade o levou virtualmente de um extremo da Índia ao outro. Ele viajou até os lares missionários de Travancore Bangalore e Madrasta, daí, até Calcutá e prosseguiu até Darjeeling e Kalimpong. Em 1955, em Darjeeling, o ponto de partida para a escalada dos montes Himalaia, Cotterill conheceu o guia xerpa Tenzing Norgay, o homem que foi o primeiro a alcançar o pico do Everest, junto com Sir Edmund Hillary. O irmão Cotterill testemunhou a Tenzing, falando sobre a vida eterna e o usufruto das lindas montanhas de Jeová, sob condições perfeitas. Tenzing correspondeu de forma amigável e prometeu ler o folheto Base Para se Crer em um Novo Mundo.
Surgiram várias circunstâncias que deixaram vagas em alguns lares missionários. Por exemplo, Nasreen Mall, então designada a Campur (Cawnpore), ficou muito doente e teve de sofrer séria operação, da qual jamais se recuperou. A morte de Nasreen Mall foi um golpe para o campo missionário.
O PROBLEMA DE AJUSTAR-SE
Em julho de 1955, no Estádio Ianque, cidade de Nova Iorque, formava-se a vigésimo quinta turma da Escola d Gileade. Entre os formandos achava-se Mammoottil Aprem Cheria, que antes servia no Betel de Bombaim e que também tinha sido pioneiro em Travancore. Ele e outros dessa turma foram designados à Índia.
Em 17 de novembro de 1955, quando dois dos missionário June Riddell e Branda Stafford, chegaram em Bombaim havia motins nas ruas, com tiroteios e incêndios de casas. Isto, naturalmente, não reduziu o problema de ajustar-se a novas circunstâncias. A irmã Riddell (agora Sra. June Pope disse o seguinte, sobre suas primeiras impressões: “Depois de longa viagem marítima, quando o navio finalmente atracou e desembarcamos, o calor parecia envolver-nos como se fosse um cobertor. Subitamente, avistamos uma linda senhora vestida com o que, para mim, parecia ser o vestido mais gracioso que eu já tinha visto. Sim, isso foi o começo. A senhora parecia ser uma princesa indiana. Ela acenava para nós, e quando nos aproximamos para falar com ela, ela se identificou como a irmã Agnes Kamlani. Ao partirmos em seu carro, ela nos contou que o marido dela, que estava na verdade, era anteriormente hindu. Era um ator cinematográfico, um comediante, mas agora iria divertir-se com nossa reação às coisas novas para nós. . . .
“À noite, os chacais uivavam, e rapidamente fechávamos todas as janelas, imaginando que também poderia haver tigres por ali. Na primeira semana, ocorreu um roubo no lar dos Kamlani. O roubo, e os motins, contribuíram para aumentar a sensação de desolação.
“Daí, também, a pobreza, a doença, o calor e, o que era destacado a mentalidade filosófica hindu, me fizeram cada vez mais cônscia de que, se eu havia de perseverar nesta designação na Índia, só poderia ser pelo espírito de Jeová. Ele provou ser um refúgio em todas as ocasiões, sempre manifestando seu contínuo interesse em todos que o servem. Tem valido plenamente a pena dar testemunho neste país. Considero isso como um privilégio. Há pessoas amáveis, aqui, como nos demais países, e ter pequeno quinhão em ajuda algumas delas a servir Jeová tem mais do que compensado qualquer escassez que tenhamos sentido.”
As irmãs Stafford e Riddell foram designadas a Campur para juntar se às irmãs Moss e Haddrill. Ao partirem, par sua viagem de trem de 1.347 quilômetros, estavam tão nervosas que trancaram todas as portas e janelas. A irmã Stafford (agora Brenda Norris) fala deste incidente embaraçoso de viagem: “Quando o trem chegou a Jansi Junction e gradualmente parou, eu e June decidimos que compraríamos algumas bananas dum vendedor na plataforma. Assim, saltei com coragem do trem e estava adquirindo as bananas quando subitamente, o trem começou a mover-se com certa velocidade. Rapidamente corri atrás do trem, mas, quanto mais rápido eu corria, mais velozmente parecia correr o trem. June me acenava freneticamente da janela do trem, instando-me a correr mais. Daí, de forma tão inesperada como tinha partido, o trem parou. Estava trocando de linha. Que sensação de alívio senti ao compreender que não estava, afinal das contas, sendo deixada para trás, numa terra estranha! Mas, que vergonha passei ao ter de voltar atrás, com a cabeça baixa, passando por todas as pessoas que tinham olhado surpresas para mim à medida que eu corria pela plataforma!”
MISSÃO A MANGALORE
A Sociedade fizera arranjos para que os missionários novos, Christiansen e Norris, iniciassem a obra do Reino no campo de língua canaresa, tendo por sede Mangalore. Eles, também, teriam alguns problemas em ajustar-se. Hendry Carmichael, que mui recentemente se casara com uma irmã local, anglo-nepalesa, Joyce Webber foi designado a levar os dois missionários novos a Mangalore, achar um lar apropriado e fixá-los em sua designação. Disse o irmão Carmichael: “Jamais me esquecerei de seus semblantes de receio e ansiedade quando encontramos tanta gente de Mangalore que sofria daquela temível doença, a elefantíase. Diz-se que uma de cada quatro pessoas sofre dessa doença na cidade. No entanto, ficaram reconfortados quando lhes informei que poderiam evitar tal doença por dormirem embaixo dum mosquiteiro.”
Foram gastas duas semanas para se achar e mobiliar uma casa em Mangalore. No ínterim, os três irmãos pernoitaram num hotel. ‘Nessas duas semanas, andávamos como que atordoados’, admitiu mais tarde o irmão Norris. ‘Usávamos o tempo para nos acostumar com o ambiente estranho e as vistas incomuns. Esse primeiro caso de elefantíase foi o pior que já vi. Vimos esse caso, cada dia, durante duas semanas, porque o doente era um mendigo brâmane hindu que vinha diariamente ao nosso quarto de hotel para pedir dinheiro. Desde o início aprendemos a não receber mendigos.’
‘Na nossa primeira refeição em Mangalore, o garçom simplesmente usava uma tanga suja, com alguns cordões ao redor do ombro para indicar que era brâmane. Colocou três grandes folhas de bananeira na mesa rústica de madeira e jogou água sobre elas. Supunha-se que assim lavaríamos as folhas. Em seguida, trouxe grande quantidade de arroz cozido e o colocou no centro de nossos “pratos” de bananeiras. Daí, de várias tigelas, tirou colheradas de diferentes legumes com molho de caril, mas não conseguíamos diferenças uns dos outros. Todos ardiam muito com os temperos! Não havia talheres, de modo que enfiamos os dedos. Logo, com os olhos lacrimejantes, os narizes escorrendo e a língua ardendo eu e o irmão Christiansen olhamos um para o outro e ficamos imaginando o que é que comíamos.’
Apesar dos problemas de ajuste, os missionários perseveraram. Escreveu o irmão Norris: “Fixamo-nos em nossa designação, onde trabalhávamos junto com uma congregação de cerca de trinta publicadores de língua canaresa, e daí pioneiros especiais, Harsha Karkada Jr. e Raphael Louis Harsha Karkada Jr. nos ensinou o canarês. Logo comece um estudo bíblico com certa Sra. Soans, que não sabia nada de inglês. Toda sexta-feira, sentávamos juntos, examinando o livro ‘Seja Deus Verdadeiro’ em canapés. Foi uma grande ajuda para que eu aprendesse o idioma, e, quando veio a ocasião de ser transferido para outra designação, Sra. Soans já havia começado a assistir às reuniões. Cultivamos genuíno amor pelos irmãos canareses.”
PROGRESSO NO CAMPO TÂMIL
Grande passo à frente na obra do Reino entre o povo de língua tâmil na Índia e no mundo foi dado em 1956, quando a Sociedade começou a imprimir mensalmente A Sentinela em tâmil. Era agora a quarta edição vernacular indiana da A Sentinela. As outras eram em malaiala, impressa desde 1927, em urdu, desde 1953, e em canarês, desde 1954.
O grande problema de se conseguir tradutores capazes e fidedignos sempre existiu. Para a edição em tâmil, havia uma irmã viúva em Madrasta, com dois filhos para sustentar. A fim de obter seu ganha pão, Lily Arthur era professora. A Sociedade a designou pioneira especial. A irmã Arthur podia então devotar todo seu tempo à tradução e ao serviço de pioneiro mesmo, na cidade de Madrasta. Lily Arthur perseverou em sua adoração a Jeová e tornou-se excelente trabalhadora fidedigna em favor do povo de Deus. Sua filha Rathna, foi criada na “regulação mental de Jeová” tornou-se pioneira especial e casou-se com Richard Gabriel, pioneira especial. Os três então cooperaram na obra editora da Sociedade em tâmil, e no serviço de pioneiro em Madrasta. — Efé. 6:4, NM, Ed. 1971, em inglês.
A irmã Lily Arthur diz o seguinte sobre o progresso do irmãos tâmiles com o passar dos anos, desde 1956: “Quando iniciamos nossa obra de pregação, não dispúnhamos de nenhuma publicação em nossa língua. Achamos dificílimo apresentar a mensagem do Reino em tâmil. Quando fazíamos a obra de testemunho em tâmil, passamos pelas casas onde só sabiam tâmil, porque ainda estávamos cheios do vocabulário da cristandade. Eu mesma, sendo filha dum clérigo, estava repleta dele. Tivemos de despojar-nos por completo de nosso velho vocabulário e aprender o novo, teocrático, antes de podermos explicar a palavra pura da verdade ao povo tâmil. A Sentinela em tâmil ajudou a todos nós, irmãos tâmiles a fazer isso. Com o decorrer dos anos, tenho tido o privilégio de observar os irmãos edificarem gradualmente um novo vocabulário, com a ajuda de A Sentinela, e começarem a dar testemunho eficaz, com liberdade de palavra. Em resultado disso, vimos o aumento do número de irmãos tâmiles, como evidência da bênção de Jeová.”
TEMPO DE MUDANÇA
A nova República da Índia achou por bem fazer ajustes em suas fronteiras. Assim, entrou em vigor, em 1956, um grande plano de reorganização estadual. Muitas das anteriores divisões foram reajustadas, talvez combinando-se e ampliando-se algumas divisões pequenas, reduzindo-se outras divisões, e alguns nomes foram alterados. O principal fator determinante na reorganização dos estados era a língua. Exemplificando: Os dois estados anteriores de Travancore e Cochim usavam ambos o malaiala. Assim, os dois estados, além da parte de língua malaiala do Estado de Madrasta, foram combinados sob o novo nome de Querala. Certas partes do Estado de Madrasta em que se falava canarês foram separadas desse estado e fundidas com o Estado de Misore, onde a língua predominante era o canarês. Isto suscitou ressentimentos entre certas áreas da população, em especial nas fronteiras, onde tais mudanças foram especialmente sentidas. Os ressentimentos irromperam em violenta inquietação e tiroteio, e esta foi uma das causas dos motins de Bombaim nessa época. A cidade de Bombaim fora colocada no Estado de Madrasta, para grande ressentimento do povo de língua gujarate. Manifestaram sua ira por motins violentos nas ruas de Bombaim. Por fim, contudo, as condições se estabilizaram e o povo se acostumou a nova organização estadual.
No novo estado de Querala, a comunidade católica romana era um campo frutífero para nossos publicadores. O irmão K. T. Varghese entrou em contato com um rapaz chamado Sr. Joseph, em Trivandrum. Este começou a tomar firme posição pela verdade, embora sua família não deixasse de opor-se. Os pais dele queriam que fosse instruído para o sacerdócio católico romano e o mandaram para uma instituição católica na Goa portuguesa. Devido à saúde ruim, o Sr. Joseph volto para Trivandrum, onde conseguiu emprego num escritório em que trabalhava o irmão K. T. Varghese. O irmão Varghese conversou, com jeito, com este rapaz de 21 anos sobre a Bíblia, e respondeu com bondade às suas muitas objeções visto que ele cria que somente a Igreja Católica Romana ensinava a verdade. Quando suas perguntas foram respondida biblicamente, ele concordou em receber um estudo bíblico domiciliar. Logo ficou convicto de que realmente aprendia a verdade, e pôde ver os erros da doutrina católica. O Sr. Joseph era antes um membro da “Legião de Maria” em Trivandrum e esta organização tentou em vão romper a integridade dele, para com Jeová. Ele logo se batizou.
VISITA ENCORAJADORA
Em 1956, a Índia usufruiu uma visita dum representam, do Betel de Brooklyn, F. W. Franz. Ele dava a volta ao mundo, numa excursão de serviço e sua viagem incluía a Índia. Depois de passar oito horas de ansiosa espera, de quarentena no Paquistão, o irmão Franz ficou por fim em condições de cumprir seus compromissos nos nove dias seguintes sem mais delongas. Foi uma grande surpresa quando o irmão Franz visitou Stephen Smith, em Nova Délhi, no meio da manhã da segunda-feira, 24 de dezembro. Os missionários e os irmão locais de Délhi tinham feito arranjos para recebê-lo no aeroporto de Palam às 18,40 daquela noitinha e ali estava ele na cidade, sem que a maioria dos irmãos se apercebesse disso! Assim inverteu-se o processo. O irmão Franz foi ao aeroporto de Palam para encontrar-se com nossos irmão indianos. Foi uma surpresa muito agradável quando ele chegou no carro dum interessado e se encontrou com a multidão que viera dar-lhe boas-vindas. No costume indiano usual, uma irmã de tenra idade colocou uma grinalda perfumada de rosas e de crisântemos em volta do pescoço dele, como boas vindas tradicionais a este grande subcontinente.
No dia seguinte era “Natal”. Na Índia, os hindus, junto com os cristãos nominais, aproveitam ao máximo o dia 25 de dezembro, enviando cartões uns aos outros e demonstrando o chamado espírito do Natal. Os irmãos em Délhi aproveitaram o feriado para a atividade de revistas. Ao todo, 21 irmãos e irmãs participaram no serviço de campo naquele manhã, e os irmãos Franz e Smith se revelaram em testemunhar nas casas, ao trabalharem juntos.
Os irmãos então se reuniram no Auditório Público do Departamento de Obras Públicas. Às 16 horas, depois de excelente jantar, a assistência de 85 pessoas ouviu o irmão Franz discursar sobre o assunto “A Paz do Novo Mundo em Nossos Tempos — Por Quê?” Havia presentes hindus, siques, jaínas, maometanos e cristãos professos. Depois do discurso, o orador se misturou à vontade com a assistência, e ficou feliz de considerar pormenores dos assuntos em que eles mostraram interesse.
Era apenas uma assembléia de um dia. Assim, no dia seguinte, o irmão Franz foi levado para ver alguns dos pontos atrativos famosos de Délhi. Expostos no templo moderno, chamado Birla Mandir, achavam-se deidades hindus tais como Brama, Vixenu, Xiva e a deusa Durga. Pintada do lado direito da entrada principal, em sânscrito, hindi, e inglês, havia as palavras: “Aquele que é conhecido como Vixenu é na verdade Rudra, e aquele que é Rudra é Brama uma entidade que funciona como três deuses, isso é, Rudra, Vixenu e Brama.” Como isso é surpreendentemente parecido ao credo da Trindade, da cristandade!
O irmão Franz em seguida foi para Calcutá, onde se planejara uma assembléia de dois dias. Duzentos cartazes e 5.000 convites foram usados para se anunciar tal assembléia. O programa de dois dias da assembléia incluía uma manhã para o serviço de campo e também para uma sessão em bengali. O irmão Franz falou então a 69 irmãos bengalis por meio dum intérprete. Sublinhou a necessidade de não se escutar os que falam contra a organização de Jeová e seus modos teocráticos de pregação. Fez-se um apelo para o trabalho de pioneiro, na proclamação do Reino.
No segundo dia da assembléia, dez candidatos se apresentaram para o batismo — três bengalis, três hindustanis um biari e três anglo-indianos. Nessa noite, os congressistas ficaram felicíssimos quando a Casa das Artes ficou repleta da maior multidão já vista em Calcutá, e 261 pessoas ouviram atentamente ao discurso “A Paz do Novo Mundo em Nossos Tempos — Por Quê?” Para a sessão final, 135 pessoas permaneceram, apreciando as observações do irmão Franz, à medida que mostrava a necessidade de se permanecer na organização pela pureza, obediência e fidelidade. Na manhã seguinte, 49 irmãos foram até o aeroporto de Dum para despedir-se do irmão Franz que iria de avião para Rangum, Birmânia.
OUTRA VISITA NOS EDIFICA
Enquanto F. W. Franz estava em Délhi e Calcutá, o irmão N. H. Knorr visitava Bombaim. O melhor auditório da cidade o Salão Sir Cowasji Jehangir, já tinha sido alugado pela Associação de Passageiros Ferroviários para uma conferência. Mas, o secretário da Associação concordou em mudar a data da conferência de modo que pudéssemos usar esse salão, enquanto o irmão Knorr estivesse em Bombaim. A única coisa que nos cobraram foi o custo dos selos a fim de avisar seu membros de que o terceiro dia de sua conferência tinha sido cancelado.
Fez-se excelente publicidade durante várias semanas ante da assembléia, e os irmãos se sentiram muito bem recompensados, porque 1.080 pessoas lotaram o auditório — a maior assistência pública em uma de nossas assembléias na Índia até então. O assunto era “Paz em Nossos Tempos — Por Quê?
O irmão Knorr disse o seguinte sobre sua visita à Índia, em 1956: “Foi . . . necessário que eu e o irmão Skinner fôssemos a diferentes partes de Bombaim, a fim de tentarmos encontrar melhor local onde construir um Salão do Reino, uma filial e pequena gráfica para cuidar de nossa obra. . . . Parecia agora que logo obteremos um ótimo local e ficaremos prontos para construir nossas próprias instalações, mudando de nosso atual local, na Rua Love. . . . Quando isto foi anunciado na sessão final do congresso, os irmãos ficaram tremendamente entusiasmados, felizes de compreender que algo novo seria construído na Índia, pois esta era mais uma evidência do atividade em expansão neste grande país de muitos milhões de habitantes. . . .
“Os irmãos na Índia ficaram contentes de poderem operar seu próprio restaurante tipo expresso, o primeiro da Índia e o fizeram muito bem. Os irmãos da filial acordavam bem cedo e iam até o salão para dar andamento na preparação de alimento para as multidões.”
AUMENTAM AS PROVISÕES ESPIRITUAIS
Em 1957 saiu da prensa o primeiro número de A Sentinela em bengali. Dali em diante, os irmãos da região bengali, na, cidades como Calcutá e nos povoados adjacentes de Cancha para e seu distrito, podiam receber um suprimento regular de matéria tanto para seu sustento espiritual como para sul obra de fazer discípulos.
Durante 1957, a Sociedade produzia 2.100 exemplares de cada número da Sentinela em tâmil, enviando pelo correis alguns deles para o Ceilão, a Birmânia, Cingapura, Fidji, Maurício, África do Sul e Suriname. No entanto, foram entes feitos arranjos para imprimir-se a edição de A Sentinela em tâmil com tipos, ao invés de mimeografada.
PIONEIROS INDIANOS PERSISTEM EM SEU TRABALHO
Considere agora o bom trabalho que os pioneiros indiano, faziam. Raro incidente ocorreu quando um pioneiro isolada conseguiu que um hindu estudasse a Bíblia. O hindu interessado tinha um irmão que era um sanyasi (asceta hindu) que já visitara quase todo local de peregrinações da Índia. Ele veio morar por algum tempo com o irmão, e ficou surpreso de encontrá-lo estudando as Escrituras. Ele, também, começou a ler a Bíblia. Isto provocou muita discussão entre o irmão e o pioneiro. “Daí”, escreveu o pioneiro, “para nossa surpresa, seus cabelos longos, sujos e trançados, e sua barba, que por muitos anos não havia perfumado com óleo ou creme, desapareceram. Ele . . . assistiu ao estudo da ‘Sentinela’ junto com seu irmão.”
ASSEMBLÉIAS “VONTADE DIVINA”
Vinte e um delegados da Índia compareceram à Assembléia Internacional “Vontade Divina” das Testemunhas de Jeová, em Nova Iorque, em 1958. Quatro dos estudantes de Gileade que se formaram ali eram Noel Hills, Gerald Seddon, Alice Itty e Sarah Matthew, todos da Índia.
A Assembléia “Vontade Divina” da própria Índia foi realizada em Bombaim, de 27 a 30 de outubro de 1958. As Testemunhas ali se empenharam em conseguir hospedagens para os irmãos que vinham de toda a Índia. A bênção de Jeová era evidente, pois conseguiu-se um palácio desocupado de um dos anteriores marajás da Índia. Nele, 65 irmãos, usando sua própria roupa de cama, dormiram nos chãos de mármore. Uma organização de caridade muçulmana tornou disponíveis dois andares duma hospedaria recém-construída, de quatro andares, que proveu espaço para cerca de 50 irmãos.
As sessões da assembléia foram realizadas em sete línguas. No discurso público “O Reino de Deus já Domina — Está Próximo o Fim do Mundo?”, um total de 1.009 pessoas lotaram o auditório, para nosso grande deleite. Também, durante esta assembléia, 45 novos irmãos simbolizaram sua dedicação a Jeová por se batizarem em água.
MAIS DE MIL PREGADORES!
Já nessa época, havia 40 graduados de Gileade trabalhando na Índia, em várias designações. Eles, associados com seus irmãos daqui, trabalharam laboriosamente, e o ano de 1958 trouxe grande alegria a todos. O total de publicadores ultrapassou o marco dos 1.000, pela primeira vez na história da Índia! Nossa média mensal de publicadores para 1958 foi realmente de 1.091. Foram necessários cinqüenta e três anos para se alcançar os primeiros mil publicadores do Reino.
Agora, com mais de 1.000 publicadores espalhados pela Índia, além de outras mil pessoas interessadas conforme indicado pela assistência da Comemoração em 1958, havia necessidade de fortalecer a obra de distrito e de circuito neste país. Isto, por sua vez, fortaleceria a organização como um todo.
Por volta dessa época, a irmã Pope estudava a Bíblia com certa Sra. K. Peters, esposa dum médico e que era professora da seita Adventistas do Sétimo Dia. Uma vez convicta da verdade, até mesmo a visita de um dos seus principais ‘pastores’ europeus deixou de desviá-la. Após esse encontro, ele comentou com a irmã Pope: “A senhora está levando uma de nossas melhores trabalhadoras indianas.” Deveras, a irmã Peters tornou-se uma Testemunha extremamente zelosa. Algumas de suas avançadas habilitações acadêmicas foram bem utilizadas para traduzir as publicações da Sociedade para o hindi.
Ao vir o aumento na Índia, todas as espécies de pessoas acatavam a mensagem de Deus, e, em muitos casos, foi preciso muito tempo para eliminar os costumes deste sistema de coisas. Alguns não conseguiam fazer a transformação necessária, e outros voltaram a seus velhos modos de agir. Desde que se tornou claro que a desassociação era correta em 1952, o número de casos não era tão destacado entre as Testemunhas na Índia. Mas, em 1959, sendo desassociadas quatorze pessoas num só ano, a necessidade de se manter limpa e pura a organização de Jeová foi vigorosamente trazida a atenção da filial. Até esse tempo, 81 pessoas já tinham sido desassociadas. Isto, no entanto, pavimentou o caminho para uma organização mais forte.
CIRCUNSTÂNCIAS QUE EXIGIAM MELHORA
Não existiam métodos uniformes de se realizar a obra de distrito e de circuito. Por exemplo, as assembléias de circuito só eram realizadas quando conveniente. As congregações não eram visitadas regularmente por superintendentes de circuito. As visitas duravam dois ou três dias e consistiam primariamente em reuniões especiais, o superintendente de circuito proferindo muitos discursos longos. Mas, a visita dos superintendentes de circuito não era considerada como um tempo para incrementada atividade de campo.
A respeito das condições desse tempo, Hadyn Sanderson em sua designação de viagens, relatou que, em uma congregação em Querala, havia mais de cem pessoas, a maioria das quais eram batizadas, e que assistiam regularmente às reuniões. No entanto, apenas dezesseis relatavam como publicadores. Quando lhes perguntavam: “É russelita?”, a maioria respondia: “Sou.” Os irmãos compareciam às reuniões conforme a posição do sol no céu. Não havia tal coisa como começar as reuniões em determinada hora. Em algumas congregações, tocava-se uma campainha cinco minutos antes da hora de se começar; daí, a reunião não começava senão depois que todos os irmãos haviam chegado. Os irmãos se sentavam de um lado do local de reuniões e as suas esposas e outras irmãs do outro lado, segundo seu costume religioso local. Assim, as famílias não se sentavam juntas nas reuniões.
O irmão Sanderson também relatou que as assembléias de circuito eram grandemente apreciadas, mas não se dava muita atenção ao programa. Os irmãos tinham por hábito agrupar-se na tribuna após as sessões e entoar temas bíblicos adaptados à música de filmes populares. Os presidentes dos discursos públicos sempre proferiam longas introduções. Um irmão falou vinte minutos antes de introduzir o orador.
À medida que o irmão Sanderson viajou na obra distrital, não só ensinou princípios bíblicos, mas deu ênfase a princípios de organização. Os superintendentes de circuito foram treinados, e, daí, ajudaram outros superintendentes. Havia boa disposição, mas não o conhecimento organizacional. Programaram-se visitas regulares às congregações, além de visitas sistemáticas aos circuitos. Então, pela primeira vez, os circuitos foram planejados de tal modo que cada um tivesse uma assembléia a cada seis meses.
A partir de dezembro de 1959, havia 8 circuitos na Índia. As viagens do irmão e da irmã Sanderson eram árduas. Ele conta: “Tínhamos nossas arcas no lar missionário de Madrasta, mas nenhuma hospedagem ali. Apanhávamos o que precisávamos para os próximos seis meses, ao passarmos pela cidade. No domingo, servíamos a uma assembléia em Bangalore e, na terça-feira seguinte, estávamos programados para estar em Darjeeling, a uma distância de 2.679 quilômetros, e isso envolvia cinco baldeações de trens em caminho para lá.” O perímetro de um distrito, naquela época, ia desde Trivandrum, passando por Bombaim e Amedabad, atravessando Délhi, Darjeeling e Calcutá, e então descendo até Madrasta, e retornando de novo a Trivandrum via Bangalore — a cerca de 6.437 quilômetros.
NOVO PRÉDIO DA FILIAL
No ínterim, houve significativos acontecimentos em Bombaim. O crescente número de Testemunhas na Índia exigia novo prédio da sucursal, para dispor de instalações melhoradas para ajudar os irmãos no campo. Assim, em novembro de 1959, assinou-se um contrato para a construção dum prédio na agradável área residencial de Santa Cruz do Oeste, a cerca de 21 quilômetros ao norte do centro de Bombaim. O próprio terreno media 38 por 27 metros. Os construtores começaram a obra de edificação em 2 de novembro de 1959. Houve consideráveis dificuldades em conseguir cimento. Os estoques eram controlados e racionados. Embora a Sociedade conseguisse todo o cimento necessário, isto só foi possível mediante lento processo que envolvia várias formalidades. Nos doze meses seguintes, a construção tomou forma. Em uma estrutura de dois pavimentos, de armação de concreto, com paredes de tijolos. Toda a sua parte da frente era revestida de pedra, o que dava beleza e dignidade ao prédio. Numa ponta se localizava a entrada principal, ladeada de blocos de mármore cinza, e, de cada lado dos degraus, havia potes florais. A portaria de entrada também constituir uma sala de recepção, era adornada por um painel de vidro gravado a água-forte, representando a terra paradísica. No térreo se localizava o refeitório, a cozinha, o depósito geral e o escritório da filial. O prédio também incluía seis quartos de dormir e um espaçoso e bem iluminado Salão do Reino que podia receber 150 pessoas. Lá em cima, no terraço, havia espaço adequado para reuniões ao ar livre. O prédio todo estava localizado no meio dum jardim de beleza paradísica.
Mudamos para o escritório em novembro de 1960, apenas doze meses após iniciada a construção. O novo prédio da filial foi dedicado a Jeová no mês seguinte, quando o superintendente de zona, G. D. King, visitou a Índia. O irmão Skinner, um dos oradores, esboçou os primórdios da obra do Reina na Índia e seu crescimento até aquela época, relacionando isto com a profecia de Zacarias 8:23. No discurso de dedicação, o irmão King expressou gratidão a Jeová, o Dador deste ótimo prédio novo, que seria exclusivamente devotado a fazer a Sua vontade.
ALCANÇAR MUITOS GRUPOS LINGÜÍSTICOS
Um pioneiro relata como os irmãos não raro transpunham os problemas lingüisticos. A maioria das pessoas sabem que a Índia é uma terra de muitas línguas, mas, às vezes é difícil transmitir clara idéia do que realmente significa tal problema. Este pioneiro encontrou muitos interessados dentre um grupo de católicos tâmiles numa aldeia em que tal idioma não é normalmente falado. A língua materna do pioneiro era o canarês, mas ele também falava inglês. Para transpor a dificuldade de dirigir estudos bíblicos com esses tâmiles, o pioneiro, duas vezes por mês, levava um senhor local que sabia tanto tâmil como inglês, e eles cooperavam, à medida que se dirigia um estudo bíblico domiciliar com a ajuda dum livro em inglês. Uma das irmãs escreveu: “Oh, vocês deviam assistir nosso último estudo de quinta-feira! Havia doze pessoas ali: gente que falava canarês, marata e inglês. Um irmão explicava o que era dito às pessoas canaresas, outro irmão dizia a mesma coisa aos malabares, e eu falava em hindustani para os maarastrianos. Eram um grupo de gente muito feliz!”
À medida que os irmãos desenvolviam perícia na obra de fazer discípulos, precisavam de maiores suprimentos de publicações, em especial nas línguas vernaculares indianas. Assim, em 1960, a Sociedade começou a publicar Despertai! em malaiala — um grande passo à frente, para tal revista numa língua indiana. Em 1961, Despertai! foi publicada em tâmil, em Madrasta. Já nessa época, a Sociedade fornecia A Sentinela em suas línguas vernaculares — malaiala, canarês, tâmil, urdu, marata e bengali. Outras publicações vernaculares indianas (livros e/ou folhetos) fornecidas no período de 1959-1961, foram distribuídas em nove idiomas. Esses idiomas eram o bengali, gujarate, hindi, cabarés, marata télugo, tâmil, malaiala e urdu. Assim, a Sociedade fazia genuíno esforço de estimular-nos a alcançar os povos da Índia com a mensagem do Reino.
Por cerca de 55 anos, o irmão A. J. Joseph tinha sido o principal tradutor da Sociedade para o malaiala, mas, nos últimos anos ele ficara cada vez mais debilitado devido à senilidade. A saúde do irmão Joseph foi gradualmente se agravando até que ele não mais podia continuar a traduzir, e, assim, foi liberado de tal responsabilidade quando tinha 77 anos, em 1961.
A ESCOLA DO MINISTÉRIO DO REINO É UMA AJUDA
O recenseamento oficial do governo, em 1961, revelava que a população da Índia era de mais de 439.000.000 de habitantes, e deste número apenas 24 por cento eram considerados alfabetizados. Tínhamos então a proporção de uma Testemunha para cada 303.129 habitantes. Ademais, 97 por cento das pessoas na Índia moravam em território não-designado. Isto significava que as Testemunhas de Jeová na Índia pregavam entre 4.392.347 habitantes, ou apenas 3 por cento dos habitantes! Certamente, ‘os trabalhadores eram poucos.’ — Luc. 10:2.
Deveras, vigoroso treinamento era necessário para equipar os irmãos ainda mais para fazerem valer seus esforços, e para aprimorar a qualidade de sua pregação. Para isso, a Sociedade introduziu a Escola do Ministério do Reino, na Índia, em dezembro de 1961. A primeira turma de 25 estudantes de língua inglesa era composta de superintendentes de circuito, pioneiros especiais, missionários e superintendentes congregacionais. Por viverem e trabalharem no Betel de Bombaim, os estudantes viram algo da organização da filial. Era uma experiência que eles apreciavam.
A formatura da segunda turma da Escola do Ministério do Reino foi especialmente impressionante, visto que alguns dos estudantes receberam novas designações distantes de suas cidades natais. Começaram-se então a abrir novos territórios. Os irmãos M. A. Cheria, M. C. Joseph e P. J. Matthew foram enviados como pioneiros especiais para tão longe quanto Xilongue, em Assam, a cerca de 4.023 quilômetros de Bombaim.
Estes três irmãos conseguiram bem mais de 200 assinaturas nos primeiros dois meses em Xilongue. Não demorou muito, naturalmente, para que os líderes religiosos ficassem alarmados. Certa ocasião, um sacerdote católico romano, de um seminário local, junto com alguns de seus estudantes, procuraram avistar-se com os irmãos Cheria, Joseph e Matthew, e isto foi arranjado. O primeiro problema que afligia o sacerdote era a doutrina da Trindade. Segundo todos os relatos, os irmãos certamente ganharam o debate, pois dois dias mais tarde um dos estudantes encontrou P. J. Matthew e ameaçou surrá-lo, dizendo: “Você confundiu nosso ‘padre’ e ele é o nosso professor.” Foram dados, então, dos púlpitos das igrejas, numerosos avisos contra as Testemunhas de Jeová. Apesar disso, contudo, foram iniciados muitos estudos bíblicos bons.
No início de 1963, e por um período de doze meses, mais ou menos, 68 estudantes se beneficiaram do segundo turno da Escola do Ministério do Reino na Índia. Foram divididos mais ou menos por igual em três diferentes grupos lingüísticos canarês, inglês e malaiala. Visto que o irmão R. J. Masilamani falava cinco línguas indianas, conseguiu instruir as três turmas. A turma malabar se reuniu no estado de Querala, e as outras duas no Betel de Bombaim.
VISITA DE ZONA QUE PROMOVE O PROGRESSO
As visitas anuais dos superintendentes de zona trouxeram ao campo e à filial indianos uma união mais definida com a sede mundial da Sociedade Torre de Vigia em Nova Iorque. No papel de superintendente de zona, M. G. Henschel chegava então à Índia, procedente dos países do Oriente Médio, via a terra montanhosa do Afeganistão. Em 3 de fevereiro de 1962 o irmão Henschel desceu no Aeroporto de Santa Cruz, em Bombaim, para sua visita à filial aqui.
Irmãos de toda a Índia chegaram a Bombaim para a assembléia de distrito programada para coincidir com a visita do irmão Henschel. Os das aldeias de Querala, no sul, viram pela primeira vez uma cidade moderna. Outros procederam do longínquo norte. Certa família viajou desde o Nepal no Himalaia. Sua viagem de quatro dias se iniciou no meio da neve acumulada e terminou no calor tropical.
Em uma das sessões da assembléia, o irmão Henschel falou aos 770 congressistas sobre a importância de assimilarem conhecimento bíblico, por causa dos esforços do Diabo de desviar o povo de Deus das Escrituras. Ele também sublinhou a necessidade de produzirmos nossa própria salvação com temor e tremor. (Fil. 2:12) Em outra ocasião, o irmão Henschel apresentou um programa de lindos diapositivos coloridos que mostravam a obra de nossos irmãos ao redor do mundo. Era emocionante ouvir como Jeová fazia com que Seu nome fosse declarado em toda a terra. Isto, sem devida, fortaleceu a determinação de todos os irmãos reunidos de aderir realmente à organização terrestre de Jeová.
Os congressistas falavam nove línguas diferentes, inclusive inglês. O auditório foi dividido em seções lingüisticas e os discursos em inglês eram transmitidos por alto-falantes a cada uma destas. Ali, os tradutores recebiam as informações e as vertiam para suas línguas respectivas. Esta assembléia foi outro trampolim que impulsionou o avanço da organização unida do povo de Jeová na Índia.
Em resultado da visita de zona do irmão Henschel foram feitos alguns ajustes proveitosos. Cria-se que treinar os irmãos indianos nas responsabilidades organizacionais na filial seria proveitoso no caso de os missionários terem de deixar o país. Havia crescentes dificuldades em conseguir mais missionários para a Índia e em mantê-los.
ENFRENTAR OBSTÁCULOS COM PUBLICAÇÕES
No entanto, o crescente rebanho do povo de Jeová na Índia não achava as coisas fáceis, devido ao governo nacional recém-criado. No empenho de promover mais os produtos domésticos, faziam-se restrições às importações. Graças a um recente decreto oficial do Inspetor do Comércio de Importações do Governo, de que publicações nas línguas vernaculares indianas não podiam ser importadas, fez-se uma tentativa de proibir a importação das publicações da Sociedade em inglês. Embora afrouxassem o decreto sobre publicações em inglês, a quantidade de importações em inglês foi grandemente restringido. Por conseguinte, de 1962 em diante, a filial da Sociedade só tinha permissão de solicitar licença de importação uma vez por ano, e somente para publicações em inglês.
Para contrabalançar tal obstáculo, o irmão Knorr autorizou a filial a mandar imprimir na Índia suas próprias publicações vernaculares. Em seus esforços de conseguir isso, os irmãos se viram confrontados com outro obstáculo — a obtenção de suficiente papel de imprensa. As importações deste também eram controladas e tornava-se ilegal comprar papel de imprensa sem licença governamental. A compra do papel de imprensa era restrita às necessidades de circulação da Sociedade. Isto representava grandes problemas quando tentávamos aumentar a circulação das revistas. Apesar da necessidade de percorrer muitas formalidades oficiais, a filial da Índia conseguiu, porém, manter supridos de publicações vernaculares os irmãos no campo.
INÍCIO EM GOA
O enclave português de Goa era constante ‘espinho na carne’ do governo indiano. Em 1961, o exército indiano penetrou em Goa e expulsou os regentes portugueses. Em 1962 o exército indiano se retirou, deixando Goa para ser administrada por um governo civil.
Embora se fizessem esforços de enviar pioneiros para Goa nos primeiros meses não se permitiu que ninguém entrasse ali sem um visto. Mesmo quando tal restrição foi extinta, era difícil que cidadãos não goenses entrassem ali. Todavia, a Sociedade teve êxito em enviar os pioneiros especiais, Benedicto e Gretta Dias para Margao, no distrito Salcete de Goa. Visto que Goa era sólida fortaleza católica romana, nos primeiros anos o progresso foi lento. Mas, o irmão Ruzario Lewis conseguiu edificar o interesse local até que se tornou uma congregação progressista.
AJUDA PARA OS SUPERINTENDENTES VIAJANTES
Devido aos circuitos amplos da Índia, um superintendente viajante às vezes gastava um dia inteiro viajando entre as congregações e grupos isolados. Em alguns lugares, esses irmãos e suas esposas tinham de alojar-se com Testemunhas paupérrimas, que não dispunham de acomodações para eles. Em outros lugares, os hotéis forneciam um quarto, sem roupa de cama. Quando havia roupa de cama, esta já tinha sido usada, ou estava infestada de pulgas. Assim, a Sociedade passou então a fornecer aos superintendentes de circuito e suas esposas, lençóis, travesseiros, toalhas, um balde e uma bacia de plástico, e até mesmo sabonete. Essas provisões significavam que os irmãos viajantes sempre tinham muita bagagem para carregar em suas longas viagens de trem. Mas, esta inconveniência valia a pena, visto que satisfazia suas necessidades domésticas e significava uma boa noite de repouso. Também significava que podiam trabalhar melhor ao servir seus concrentes.
CHEGANDO ÀS ILHAS ANDAMAN E NICOBAR
O povo de Jeová na Índia tem tentado todas as oportunidades para levar a mensagem do Reino até os extremos de seu território. No ano de 1963, a irmã Mariamma Enose começou a semear as sementes da verdade nas Ilhas Andaman, no Porto Blair e vizinhança.
As Ilhas Andaman e Nicobar fazem parte duma elevada cadeia de montanhas submarinos que saem das águas da Baía de Bengala e se estendem por cerca de 805 quilômetros entre a Birmânia e Sumatra. O Canal de Dez Graus separa os dois grupos de ilhas. As Ilhas Andaman consistem em cerca de 239 ilhas grandes e pequenas; as Nicobar são dezenove ilhas. A capital é Porto Blair, situada em Andaman do Sul.
A maioria dos 115.133 habitantes das Ilhas Andaman e Nicobar se originaram da Índia e ganham seu pão mediante a árvore padouk e a indústria de madeira de teca, além do cultivo da borracha, pimenta, café, cocos e castanhas de caiu.
Em 1964 já havia suficientes publicadores nessas ilhas para se poder enviar um superintendente de circuito para incentivá-los e treiná-los. Na primeira visita a Porto Blair, Robert Masilamani foi apresentado a três hindus que trabalhavam nas mesmas pedreiras que o marido de Mariamma Enose. Todos mostravam vívido interesse na verdade bíblica. Antes, um deles era devotado ao deus hindu, Xiva. A fim de cumprir um voto, deixava crescer os cabelos e a barba, que seriam cortados no templo. No entanto, esta devoção religiosa não o impedia de jogar durante esse tempo.
Enquanto pregava de casa em casa, o irmão Masilamani encontrou dois senhores de língua télugo, da Igreja Metodista. Um era o presidente da igreja local e o outro era o tesoureiro.
Na segunda visita do irmão Masilamani às Andamans, o presidente da igreja, Sr. Asirvadam, manifestou interesse definido. Ele, junto com sua família, demitiu-se da igreja e mais tarde se tornaram Testemunhas dedicadas e batizadas. Em visitas subseqüentes, o tesoureiro, Sr. Solomon Raju, junto com outras famílias da mesma igreja, demitiram-se como membros e deram o passo do batismo. Com o tempo muitos ex-hindus faziam parte da congregação de Porto Blair.
ASSEMBLÉIA “BOAS NOVAS ETERNAS” EM DÉLHI
Seguramente, a Assembléia “Boas Novas Eternas” das Testemunhas de Jeová, que se movimentou através do mundo em 1963, foi um fator contribuinte para o progresso da organização emergente de Jeová na Índia! Havia 583 congressistas que rodeavam o mundo para esta assembléia internacional.
Relatando sobre a parada em Nova Délhi desta assembléia ao redor do mundo, escreve Edwin Skinner: “Obtivemos permissão para que um grupo de irmãos entrassem na alfândega do aeroporto para ajudar os visitantes e orientá-los quanto às formalidades de saúde, imigração e alfândega. Adicionalmente, as irmãs indianas, trajando seus graciosos e coloridos saris ou vestido salwa-kamis do norte da Índia, saudaram cada congressista com uma grinalda de flores e a saudação tradicional indiana, Namaste (‘eu o(a) saúdo’). . . . Cada vôo, durante os quatro dias de chegadas, foi saudado da mesma maneira, quer de dia ou de noite.
“Os congressistas vieram de 27 países diferentes. Pequeno grupo veio pela estrada de Cabul Afeganistão, atravessando as montanhas escarpadas do Desfiladeiro Quiber, atravessando o Paquistão e chegando a Índia. . . . Um grupo de 110 pessoas veio do Ceilão, atravessando de barco o que é conhecido como ‘Ponte de Adão’, que separa a ilha do continente indiano, e daí viajando de trem os 2.304 quilômetros em uma só direção até Délhi. Uma viagem de 2.300 quilômetros de trem na Índia, com acomodações de terceira classe, sem leitos ou ar condicionado, e com banheiros primitivos, é algo que precisa experimentar para poder avaliar corretamente. Mas, os irmãos se sentiam felizes.
“Os irmãos que moravam no sul da Índia também formavam grande grupo e fizeram uma longa viagem similar de trem de bem mais de 1.600 quilômetros até Délhi. Para eles, era como viajar por um país estrangeiro. Pela primeira vez na vida, ouviram pessoas que falavam outro idioma, viram pessoas que usavam roupas diferentes, que moravam em tipos diferentes de casas, e numa região bem diferente de sua nativa Querala ou Madrasta. Para muitos, isso significou gastar suas mui percas economias a fim de reunir-se com seus irmãos de outras terras.”
Descrevendo o local do congresso, escreveu o irmão Skinner: “A assembléia foi realizada na impressionante e linda Vigyan Bhavan (Casa da Ciência), o auditório de prestígio da Índia. Este excelente prédio contém um luxuoso auditório que acomoda 1.069 pessoas.
“Uma vez dentro do auditório, todo acarpetado e dotado de ar condicionado, os congressistas se sentaram nas confortáveis poltronas. Cada poltrona tinha sua própria mesinha de escrever e estava equipada com fones de ouvido, com seletor de canais e controle de volume, mediante o qual se podia selecionar qualquer uma das quatro traduções, além de se captar o discurso na tribuna. Quase a metade do auditório foi usada exclusivamente pelos congressistas indianos que ouviam os discursos em canarês, malaiala, tâmil e urdu/hindi. Os irmãos de língua marata também foram bem cuidados, quer pela tradução direta da tribuna, quer numa sala separada.”
Os 583 visitantes ao redor do mundo foram alojados no excelente Hotel Ashoka de 320 aposentos, de propriedade do Governo. Durante os cinco dias, o refeitório, nas horas das refeições, foi ocupado predominantemente pelas Testemunhas de Jeová, todas elas usando os cartões de lapela do congresso. Elas conversavam tão calorosamente que alguns do pessoal hoteleiro começaram a falar sobre os “irmãos que sentam nesta mesa” ou a dizer “aquele irmão ali deseja falar-lhe”.
Alguém que pertencia a uma seita da cristandade perguntou ao gerente do hotel como ele passava com toda essa “gente de Jeová”. O gerente respondeu: “São as pessoas mais disciplinadas que já tivemos no hotel. Ficaríamos contentes de receber mil delas, se tivéssemos espaço.” Acrescentou: “Às vezes nas temos mais dificuldades com cinqüenta pessoas do que com todo esse grupo de 583.”
Mas, que dizer do programa do congresso? Foi deveras proveitoso, em sentido espiritual. Por exemplo, falando sobre o assunto “Mulheres Fiéis na Sociedade do Novo Mundo”, F. E. Skinner indicou que, na Índia, havia muitas cristãs fieis, capazes e maduras. Mas, Skinner disse que eram demasiadas as mulheres que ficavam sobrecarregadas como escravas em casa e dispunham de muito pouco tempo ou de incentivo para estudar. Apelou para os maridos, para que cuidassem de suas esposas da mesma forma que Cristo cuida de sua congregação-esposa. — Efé. 5:21-33.
O grande dia da assembléia em Délhi foi quinta-feira, 8 de agosto, quando o programa apresentou a leitura da Resolução, que foi adotada entusiasticamente pelos 901 congressistas presentes. Entre os estimulantes discursos se achava o discurso público do irmão Knorr sobre “Quando Deus For Rei Sobre Toda a Terra”. Para este, a assistência foi a maior que as Testemunhas de Jeová já haviam conseguido na Índia — 1.296 pessoas, inclusive cerca de 305 estranhos, apesar duma tardinha bem úmida.
O irmão F. W. Franz proferiu o discurso “De Que Deus É Testemunha?” Este discurso sobre Isaías, capítulos 43 e 44, foi o momento decisivo para um hindu na assistência que se associava com as Testemunhas de Jeová já por alguns anos, mas nunca fizera sua dedicação a Deus. Quando Franz explicou como o adorador pagão abate uma árvore, usando a metade dela para esculpir um deus para si mesmo, diante do qual se prostrará, e a outra metade para fazer uma fogueira para aquecer-se e assar seu pão, este hindu viu a insensatez de tudo isso. Nessa mesma noite, expressou sua dedicação a Jeová e foi batizado no dia seguinte.
Entre os 44 candidatos ao batismo nesta assembléia achava-se Annabelle Lartius, de Alaabad, que tinha observado seu próprio irmão, George, seguir um proceder firme em face de oposição parental. Ela estava proibida de sair no serviço de campo. Na Índia, é raro que uma mulher faça valer seu direito de obedecer a Deus antes que aos homens, mas a Sr.tª Lartius fizera todo o serviço de campo que podia. (Atos 5:29) Com dificuldades, ela veio à assembléia e, tendo feito sua dedicação, submeteu-se ao batismo.
NOVAS EXPERIÊNCIAS NO SERVIÇO DE CAMPO
O que os viajantes ao redor do mundo mais apreciaram foi o serviço de campo. A maioria dos irmãos visitantes conseguiram testemunhar várias vezes em inglês.
Um irmão americano de descendência judaica travou uma palestra bíblica com um cavalheiro hindu, que o interrompeu, dizendo: “Mas esta mensagem é mais para os ocidentais do que para nós. Somos uma nação que ama a paz e cremos na igualdade. São os senhores que segregam os homens negros dos brancos. Por que deveria eu ler o seu livro sagrado?” O irmão, com muito jeito, indicou que ele não estava fazendo visitas como representante dos Estados Unidos, ou de qualquer país chamado cristão, mas sim de um grupo de pessoas que seguem os princípios bíblicos. Ele mostrou que a Bíblia ensina que Deus não é parcial, mas que em toda nação, o homem que pratica a justiça lhe é aceitável. (Atos 10:34, 35) Só porque as chamadas nações cristãs não seguiam esses bons princípios, mostrou ele, isso não tornava sem valor a Bíblia. Antes, ela continha sabedoria para pessoas de toda nação. O cavalheiro hindu apreciou este argumento e aceitou com prazer algumas publicações, em especial quando soube que o próprio irmão sabia o que significava sofrer discriminação, sendo de descendência judaica.
EXCURSÕES ESCLARECEDORAS
Os visitantes tiveram, também, algumas experiências novas, ao fazerem excursões que tinham sido programadas. Andando então sob chuva torrencial, os visitantes sentiram algo quanto às monções indianas. Mas o espírito estava animado e gostaram de tudo. Daí, com guarda-chuvas gotejantes, capas molhadas e sapatos encharcados, entraram em seus ônibus para um passeio pelas verdadeiras ruas do comércio da Índia. Ali viram mendigos que já eram aleijados de nascença, rastejando sobre as mãos e tocas das pernas, e jinriquixás, carros de bois, bicicletas, pedestres e carros, junto com as vacas sempre presentes — todos lutando à cata de espaço nas ruas estreitas e congestionadas. Pequenas casas de chá e restaurantes, cheios de fumaça, pontilhavam por toda a parte, com suas fogueiras de carvão em que os homens, despidos até à cintura, preparam com as mãos os saborosos chappaties e outras guloseimas, tão do agrado do paladar indiano.
Uma búfala, que fornece o leite para o povo indiano, veio perambulando rua abaixo como uma rainha. Na esquina duma rua, um senhor se agachava na frente dum hidrante, deliciando-se calmamente com seu banho. Daí, no meio de tudo isso, veio um enterro muçulmano, apenas de homens, e todos se revezavam em levar o corpo, que jazia sobre um catre aberto. Os muçulmanos enterram seus mortos. Os hindus sempre os cremam numa pira fúnebre ao ar livre.
Havia uma vaca que comia alguns legumes colocados na calçada para as donas-de-casa comprarem. Algo que não provocou surpresa para os congressistas estrangeiros foi a história da ‘vaca sagrada’. Os serviçais do templo colhem a urina da vaca para usá-la em seu ritual, e até mesmo põem gotas dela em sua ‘água benta’ para beber. Não são apenas os hindus que fazem, mas os parses também.
A Assembléia “Boas Novas Eternas” foi um marco na marcha à frente da obra do Reino na Índia. Os irmãos que vieram a Nova Délhi, procedentes do Irã e do Afeganistão, sentiram-se especialmente abençoados, visto não terem números suficientes para realizar assembléias em seus próprios países. Também constituiu uma experiência ímpar para os irmãos indianos reunirem-se com seus conservos de outras terras e trabalharem com eles. Que evidência deleitosa da união existente na sociedade da Nova Ordem, onde não existem barreiras nacionalistas!
AJUDADOS DE VÁRIAS FORMAS
Excelente forma de ajudar e instruir os irmãos tem sido pelo uso das histórias da vida dos cristãos fiéis, segundo publicadas em A Sentinela. A história do irmão A. J. Joseph foi publicada no número de 15 de julho de 1964 (edição em português). O irmão Joseph, que afirmava ser um dos seguidores ungidos de Cristo, morreu com oitenta anos em 18 de dezembro de 1964. Tinha sido realmente um instrumento para estabelecer a obra do Reino na Índia e vira a organização aqui crescer de um só homem para mais de dois mil. Passaram-se cinqüenta e nove anos desde que o irmão Joseph iniciara sua busca de Jeová, o verdadeiro Deus, em 1905. Deveras, o progresso tinha sido lento nessa terra não cristã. Mas, em 1964, havia traços definidos de uma organização teocrática, evidentes por toda a Índia.
Em 1968, numa assembléia de distrito em Bangalore, no Salão Raja Venkatarama, alguns fanáticos hindus locais tentaram acabar com a reunião. Na noite de sábado, besuntaram estrume de vaca na faixa que anunciava o discurso público e, no domingo, por sobre as portas e as paredes da entrada. Os irmãos limparam isso antes de começar a sessão matutina, de modo que os irmãos em geral não o notaram. Em resultado de boa publicidade jornalística, o governo estadual interessou-se pela assembléia. Designaram o inspetor de polícia Dennis para assistir a todas as sessões e preparar um relatório completo para o governo do que transpirara da assembléia.
O Inspetor Dennis informou o irmão Hongal, superintendente do congresso, de que as principais coisas que ele tinha que relatar eram se houvera quaisquer conversões na assembléia, se qualquer comunidade ou religião específica tinha sido criticada ou se tinha havido qualquer discussão sobre política. No dia final, Hongal perguntou ao inspetor que opinião este formara. Dennis replicou que ficara muito bem impressionado com as coisas que vira e ouvira, o suave funcionamento de todos os departamentos e a cooperação bem disposta dos irmãos.
Daí, num modo cândido, o irmão Hongal perguntou a Dennis que tipo de relatório tencionava formular. O inspetor respondeu: “Estou num dilema sobre isso. O relatório deve ser enviado ao ministro do partido governamental, de modo que se quaisquer membros da oposição suscitarem o assunto da assembléia das Testemunhas de Jeová na Assembléia Estadual, o ministro lhes possa fornecer informações específicas a respeito desta assembléia. No entanto, se eu colocar em meu relatório que todos os oradores persistiam em dizer ‘Verifiquemos Revelação, ou Marcos, ou os Salmos’, nem o ministro nem os membros da oposição conseguirão imaginar de que se trata o relatório. Assim, manterei simples e sucinto o meu relatório, e declararei simplesmente que não se tratou de nada objetável.”
A caraterística notável da inteira série de assembléias em 1968 foi a assistência total de 3.132 pessoas nas quatro reuniões, 122 pessoas dando o passo do batismo. Isto é digno de nota, em comparação com o número total de Testemunhas que havia então na Índia — 2.337. Revelava-se assim um potencial realístico para a organização continuar crescendo na Índia.
As assembléias de 1964 a 1968 treinaram os irmãos indianos em eficientes processos organizacionais. E, era gratificante notar que, na assembléia de Bangalore, em 1968, a inteira administração estava sob a direção dos irmãos indianos, tendo a Victor Hongal como superintendente da assembléia e Prabhakar Soans como presidente da assembléia. Ademais, durante alguns anos, em Querala, nossos irmãos indianos cuidaram inteiramente das assembléias. Certamente, evidenciava-se na Índia uma organização cristã forte e unida.
AUMENTO NAS FILEIRAS DOS PIONEIROS
Os alistamentos de pioneiros cresciam de ano em ano, à medida que Jeová movia seu povo a corresponder à necessidade de pregadores de tempo integral. De 1965 a 1970, houve um aumento de 179 pioneiros (66 especiais e 113 pioneiros regulares), perfazendo um total de 375 pioneiros em 1970. Os pioneiros por certo constituíam a espinha dorsal da atividade de campo na Índia, expandindo consideravelmente a obra de estudos bíblicos, até uma média semanal de 3.024, em 1970.
CRISTÃOS NEUTROS ENFRENTAM PROVAS
Durante os distúrbios da guerra não declarada entre a Índia e o Paquistão, em 1965, o povo de Jeová, embora pouco numeroso, permaneceu firme como um farol no meio do mar de milhões de pessoas desassossegadas, indicando-lhes os limites seguros da organização de Deus. Houve algumas inconveniências, devido aos blecautes nas cidades, dificultando as reuniões noturnas. O povo de Bombaim tinha de recolher-se por volta das 20 horas e não se permitia que nenhum transporte circulasse depois dessa hora. Mas, essa guerra de 48 dias não produziu efeitos prejudiciais sobre a obra do Reino.
Em Alaabad, o irmão Norris foi acusado de ser um espião do Paquistão, só porque fazia anotações em seu registro de casa em casa, quando estava na obra de pregação. Foi espancado por um patriota fanático que conseguiu juntar uma turba que ameaçou atacar o missionário, caso ele fizesse qualquer movimento indiscreto. A polícia foi chamada e ela prendeu o missionário, enquanto permitia que seu agressor ficasse livre. O superintendente distrital da polícia encerrou o caso, dizendo: “O povo está ficando patriota demais. Pedimos-lhes que não tomem a lei em suas próprias mãos.” Sem se perturbar, contudo, o povo de Deus continuou sua obra vital de salvar vidas.
Em virtude do crescente ódio entre as nações, medidas nacionalistas mais estritas foram tomadas pelos respectivos governos. Tais medidas criaram grave problema para nossas crianças em idade escolar. Confrontaram-se com a questão de neutralidade cristã, por motivo da adoção, por todas as escolas, da cerimônia de entoar o hino nacional. Em alguns casos, não se concedeu às crianças a isenção de participar nisso. Vários filhos de Testemunhas foram expulsos das escolas e outros simplesmente deixaram de comparecer a elas. Alguns dos irmãos agiram segundo o conselho bíblico que obtiveram, ao passo que outros país pareciam ignorá-lo.
O superintendente de distrito do estado de Querala, em 1965, conseguiu conversar com vários mestres-escolas a respeito da neutralidade cristã das Testemunhas de Jeová. Por exemplo, o superintendente viajante, Funk, conversou com o diretor de uma das escolas em que nossos filhos estavam inscritos. O diretor ouviu com simpatia e concedeu isenção às Testemunhas de Jeová de participar na cerimônia do hino. Na época das provas seguintes, contudo, o diretor não estava presente e um professor católico romano recusou-se a deixar que nossos filhos se apresentassem para fazer os exames, visto que não haviam participado na cerimônia do hino naquela manhã. Uma carta explicativa foi enviada ao escritório educacional do distrito, em Canjirapali, Querala junto com uma petição dos pais das crianças que estudavam nesse ginásio. Mas, isso não produziu resultados favoráveis. Alguns dos filhos mais velhos, privados agora de sua instrução secular, alistaram-se como pioneiros e continuaram a obter instrução para a vida, ajudando outros a fazer o mesmo.
Em Nova Délhi, um causídico que advogava perante o Supremo Tribunal da Índia editava uma revista chamada “O Jurista Indiano”. Este advogado obteve permissão da Sociedade para reproduzir na íntegra o artigo “A Bandeira, o Juramento, e Deus”, publicado em Despertai!, em inglês, de 8 de junho de 1965 (8 de dezembro de 1965, em português). Isto colocou com clareza a questão controversial da bandeira perante a classe jurídica da Índia, e revelou a posição bíblica das Testemunhas de Jeová neste assunto. — Êxo. 20:4, 5; 1 João 5:21.
AMPLIADA A OBRA EDITORIAL
A obra editorial foi impulsionada ainda mais quando se fizeram preparativos para editar A Sentinela em hindi, a língua nacional da Índia. Houve prolongadas demoras para se conseguir a permissão oficial devido às formalidades exigidas. Primeiro, o representante da Sociedade teve de fazer uma declaração perante um magistrado da cidade onde a revista seria publicada, que neste caso era Ranchi. Daí, tal processo não teve andamento por algumas semanas, mas, por fim, foi dada a autorização para a impressão, em novembro de 1965. O primeiro número de A Sentinela em hindi saiu da prensa em janeiro de 1966, numa impressão de 1.500 exemplares.
Certo dia, no início de 1966, o pioneiro especial, George Gregory, esperava alguns publicadores que se reuniriam em certo cruzamento, em Secunderabad. Ele notou que o encarregado da Sociedade Bíblica da Índia saía de sua loja. O irmão Gregory aproximou-se rápido dele e lhe ofereceu a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. O gerente a aceitou prontamente, junto com alguns folhetos. Dias depois, o irmão Gregory recebeu uma carta deste gerente da Sociedade Bíblica, solicitando três outros exemplares da Tradução do Novo Mundo.
Ao entregar as Bíblias, Gregory descobriu que a Sociedade Bíblica preparava uma revisão das Escrituras em télugo. O grupo de tradutores para o télugo ficou tão impressionado com a Tradução do Novo Mundo que decidiram fazer uso dela em sua revisão. O bispo local alegadamente dissera que a Tradução do Novo Mundo era a melhor tradução em inglês que ele já tinha lido.
Tanto o bispo como o gerente vieram ao Salão do Reino ouvir o seguinte discurso público. Convidaram o irmão Gregory a estar presente quando a comissão de tradução para o télugo fazia seu trabalho, no dia seguinte. Gregory fez isso, e quatro outras Tradução do Novo Mundo foram colocadas com eles.
INTEMERATOS APESAR DE CONTRARIEDADES
Era gratificante ver os irmãos indianos se apresentando voluntariamente para o serviço de pioneiro especial, porque se tornava cada vez mais difícil conseguir a entrada de missionários na Índia. Só podiam vir como substitutos de missionários que partiam da Índia. No período de 1965 a 1970, a Índia perdeu vários missionários, por diversos motivos.
Ainda mais tarde, o Governo removeu a concessão de permitir até mesmo as substituições de missionários no país. Agora, não mais se permitiriam missionários estrangeiros!
Apesar desses retrocessos no campo missionário, a obra na Índia progrediu. Os irmãos indianos atingiram maior espiritualidade e se ofereceram para o serviço de pioneiro especial e para posições de supervisão. Assim, de 1965 a 1970, à guisa de exemplo, vários irmãos indianos foram designados superintendentes de circuito, dois deles sendo ex-hindus. Estar a Índia produzindo agora seus próprios superintendentes de circuito era outro indício de que emergia uma organização teocrática madura.
O LIVRO “VERDADE” É UMA BÊNÇÃO
Em 1968, providenciou-se o maravilhoso compêndio bíblico A Verdade Que Conduz à Vida Eterna. Editar tal livro em hindi, canarês, malaiala, tâmil, télugo e urdu envolvia muita tradução, verificação, revisão, composição e impressão. A impressão foi feita por firmas de fora, mas a supervisão deste trabalho pela filial foi possível através dos pioneiros especiais que trabalhavam nas cidades onde se fazia tal impressão. Todos os tradutores eram Testemunhas de Jeová que tinham bom entendimento do inglês, bem como da língua indiana, e da verdade.
A filial dirigia todo esse trabalho por controle remoto, como uma torre de controle de aeroporto que orienta, pelo radar, várias aeronaves, quando há neblina. Todavia, a obra foi realizada pela bondade imerecida de Jeová. Por fim, muitos estudos bíblicos domiciliares estavam sendo dirigidos com pessoas interessadas nas edições vernaculares do livro Verdade.
Para ilustrar: Um grupo de 40 pessoas começara a estudar o livro Verdade em malaiala. Quando o sacerdote local ouviu falar nisso, denunciou do púlpito as Testemunhas de Jeová como sendo beberrões e arruaceiros. Uma senhora se levantou imediatamente e bradou: “Isso é falso. Meu filho era beberrão quando freqüentava sua igreja, mas agora estuda com as Testemunhas de Jeová, e poderá vê-lo levar uma Bíblia na mão, ao invés duma garrafa.”
Em outro caso, um católico romano leu o livro Verdade em uma semana. Quando o publicador voltou, o católico comentou: “Esse livro é necessário para todos os cristãos.” Iniciou-se de imediato um estudo. Chegaram ao assunto de se adorar a Deus com espírito e verdade. (João 4:24) Na semana seguinte, o publicador notou que todos os quadros de imagens religiosas tinham sido removidos das paredes, e, em seu lugar, havia um simples texto bíblico: “Quanto a mim e aos da minha casa, serviremos a Jeová.” — Jos. 24:15.
VISITA BREVE, MAS PROVEITOSA
No ínterim, o irmão Knorr fazia extensiva viagem de serviço pelo Extremo Oriente, retornando a Brooklyn através da Índia e da Europa! Nesta visita de maio de 1968, a preocupação primária do irmão Knorr era inspecionar a filial. Ele ficou contente de ver pela primeira vez o prédio da filial da Índia, desde que fora construído, em 1960. Mas, também discursou aos irmãos num cinema ao ar livre em Bombaim. Mais de 600 pessoas estavam presentes para este discurso, sobre o tema: “Não Te Deves Esquecer.”
A visita do irmão Knorr também oferecia a oportunidade de se considerar os problemas de impressão e do custo de operação então existentes. A Sentinela era publicada em sete idiomas — bengali, hindi, canarês, malaiala, marata, tâmil e urdu. Despertai! era publicada em duas línguas, malaiala e tâmil. Toda impressão era feita por firmas de fora, visto não ser economicamente possível que a Sociedade as imprimisse.
O irmão Knorr concedeu permissão para a compra de uma máquina gravadora “Bradma”, com sua máquina impressora acompanhante, fabricadas na Índia. Isto facilitava a rápida expedição das revistas e nos dava um meio mais eficiente de manter os arquivos de endereços dos pioneiros e das congregações.
Visto que o depósito na filial mostrava-se então inapropriado, o irmão Knorr aprovou a construção de uma garagem externa para os veículos da filial. A garagem existente no prédio principal pôde então ser usada como depósito adicional para os estoques de publicações.
AVALIANDO O IMPACTO DE NOSSA OBRA
Indicando que a organização pura de Jeová emergia mais destacadamente no meio do crescimento confuso das falsas religiões da Índia, havia o impacto quieto, porém eficaz, que exercia sobre certos membros das gigantescas religiões do país. Assim como o gotejar incessante da água pode desgastar uma rocha, assim também as atividades incessantes da organização de Jeová desgastaram a resistência dos corações duros à mensagem do Reino. A maioria dos hindus não fazem nenhuma investigação significativa do propósito predito de Jeová por meio dum estudo da Bíblia. Os dogmas e as práticas más das falsas religiões da cristandade muito contribuíram para o preconceito que existe na mente dos hindus sinceros. Mas, alguns acataram gradualmente a verdade. Seis por cento do total de publicadores na Índia, em 1969, eram de ex-hindus.
Enquanto trabalhava na cidade de Hiderabade, o irmão Boothapaty, pioneiro especial, teve a seguinte experiência: “Ao visitar certo lar hindu, notei que o pai e quatro filhos prestavam grande atenção, emocionados com a perspectiva dum novo sistema justo que viria. Aceitaram prontamente um folheto em télugo e, na revisita, iniciamos um estudo bíblico.
“O pai, que era mecânico, logo convidou outra família a assistir ao estudo, perfazendo um total de dez a doze pessoas que assistiam semanalmente a ele. Quando recebemos o livro Verdade em télugo, prontamente passamos a estudá-lo. Por causa de sua simplicidade e declarações diretas, o progresso foi rápido. Sendo hindus, manifestou-se alguma oposição familiar, sendo feitas tentativas de acabar com o estudo. No entanto, tinha-se lançado forte alicerce, e a família suportou a pressão. Rapidamente, começaram a freqüentar as reuniões, embora morassem a 6 quilômetros de distância. Eles romperam todos os seus vínculos com a religião babilônica e se tornaram publicadores regulares das boas novas.”
Conseguir isso com uma família de hindus em questão de nove meses é uma proeza e tanto na Índia. Naturalmente, a Jeová se dá o crédito por tal consecução.
Por outro lado, em 1969, 93 por cento dos publicadores do Reino na Índia antes se associavam com as várias seitas da cristandade. Na realidade, boa porcentagem das Testemunhas de Jeová na Índia, em 1969, eram antes católicos romanos. Exemplo disso era um jovem seminarista de Melucavumatom, Querala. Tinha estudado sete anos num seminário para se tornar sacerdote católico romano, mas, naqueles anos, observara grande parcialidade e injustiça. Isto o convenceu de que o catolicismo romano não era a verdade e, assim, abandonou o seminário. Sua tia, uma das Testemunhas de Jeová, o visitou e fez com que se interessasse pelo seu entendimento da Bíblia. Ela o convidou à casa dela no Vale do Céu, uma fazenda produtora de chá na Cordilheira Alta.
Enquanto este ex-seminarista estava ali, V. P. Abraham, o superintendente de circuito naquele tempo, visitou a congregação, conheceu este jovem católico e o animou a assistir às reuniões locais. Que diferença! O rapaz notou imediatamente o amor e a união verdadeiros que prevaleciam entre as Testemunhas. Impressionado, voltou para Melucavumatom e começou intenso estudo da Bíblia junto com as publicações da Sociedade. O pioneiro especial A. D. Samuel dirigiu o estudo e, embora as reuniões fossem realizadas a uma distância de 32 quilômetros, o rapaz comparecia regularmente a elas. Logo estava partilhando as boas novas com outros e informando a seus amigos, parentes e a seus antigos superiores do seminário, sobre sua nova forma de adoração.
HONESTIDADE E DETERMINAÇÃO
Lenta, porém seguramente, edificava-se na Índia uma organização de adoradores corretos, que se tornava conhecida por sua integridade aos verdadeiros princípios bíblicos. Um caso que sublinhou isto se deu em Gajalaconda, em Andra Pradexe, onde havia pequena congregação de Testemunhas de Jeová. Uma das irmãs era professora numa escola em que era prática comum falsificar os registros de freqüência. Por que os professores faziam isso? Para criar boa impressão diante das autoridades educacionais. Nossa irmã se recusou a falsificar seus registros, e foi chamada perante o diretor para explicar por que fornecia os totais corretos, visto que influíam na média da escola. Ela foi ameaçada de ser transferida para outra escola, caso não obedecesse ao costume escolar desonesto. Nossa irmã permaneceu firme para com sua consciência treinada pela Bíblia, e seu senso de honestidade cristã. Explicou a seus superiores escolares qual era seu entendimento real do cristianismo. Evidentemente eles ficaram impressionados, pois a retiveram como professora, na mesma escola.
Outra evidência de que surgia uma forte organização de cristãos unidos na Índia foi o intimorato esforço dos irmãos na cidade de Madrasta de construir seu próprio Salão do Reino. O irmão F. P. Anthony, engenheiro civil no Departamento de Obras Públicas da cidade de Madrasta obteve a supervisão da compra do terreno e da construção do prédio. A Sociedade fez arranjos para que a congregação conseguisse um empréstimo. Comprou-se um terreno adequado na Estrada Brick Kiln, no subúrbio chamado Vepery, de Madrasta. Depois de feitas as plantas satisfatórias, construiu-se um novo Salão do Reino excelente, bastante grande para acomodar cerca de 150 pessoas. Depois disso, a congregação fez rápido progresso e tornou-se a maior da Índia. Com o tempo, foi dividida em duas congregações perfazendo um total de quatro na cidade de Madrasta.
ASSEMBLÉIAS “PAZ NA TERRA”
Estas foram realizadas em Bombaim, Madrasta e Cochim. Quinhentos irmãos, de quatorze estados diferentes, vieram a Bombaim, alguns desde Siquim, o reino himalaia ao norte. A hospedagem constituiu um problema, visto que Bombaim é notavelmente superpovoada. Bem em frente do local da assembléia havia uma escola católica romana para moças. O diretor foi muito cooperador em permitir que a usássemos como dormitório, e cerca de 80 irmãos foram alojados ali. Outra provisão inesperada foi feita dum bangalô dum marajá, onde trabalhava a mãe de um dos irmãos. Conseguiram-se acomodações para 30 irmãos ali. Daí, o irmão Jack D’Silva, de Bombaim, persuadiu sua firma a permitir que os irmãos usassem seus apartamentos de luxo, reservados para os convidados da firma. Ali foram alojadas outras 30 pessoas. A assembléia de Bombaim foi realizada em cinco idiomas diferentes. Surpreendentemente, durante o drama bíblico de Jonas, vieram dez freiras católicas romanas dum convento próximo.
A assembléia de Madrasta, desta série, foi realizada no espaçoso Teatro do Museu, sendo feitas em uma sala separada as sessões de télugo. Tudo foi traduzido para nossos irmãos de língua tâmil que se achavam no auditório principal. No terreno do salão de assembléia, ergueu-se um pandal, ou barracão de telhado de palha, para o restaurante. A assistência na reunião pública foi de 814 pessoas, sendo que 42 novatos deram o passo da imersão em água.
A terceira e última assembléia foi em Cochim, o porto e estação naval indiana na costa ocidental do que é agora o estado de Querala. Esta assembléia foi realizada no Salão Comemorativo Nehru. Centenas de irmãos ficaram contentes de poder dormir no próprio salão; isso era barato e conveniente. Até mesmo o prefeito de Cochim ajudou na obra de hospedagem. Tornou disponíveis aos irmãos vários bangalôs do Governo, usualmente reservados para autoridades. Todas as hospedagens grátis foram designadas aos irmãos que mereciam confiança quanto a deixarem uma impressão favorável em seus anfitriões. Muitos moradores compareceram à assembléia, e, quando tudo terminou, verteram lágrimas em ter de despedir-se de seus hóspedes cristãos.
Dentre as 1.253 pessoas presentes no discurso público, 153 eram pioneiros. Outros 43 candidatos foram batizados.
ALCANÇAR O POVO DE SIQUIM
O estado montanhoso de Siquim acha-se sob a filial da Índia da Sociedade Torre de Vigia (EUA). Eis como o irmão Pope descreveu uma de suas viagens iniciais para alcançar os irmãos na terra acidentada de Siquim:
“O principal meio de transporte é o trem, que usualmente preferimos. Amiúde, é preciso movimentar-se de jipe ou de ônibus pelas trilhas mais íngremes. Aqui, é preciso ter veículos que realmente enfrentem as estradas, mas, amiúde, eles não existem . . . O resultado é que os nervos e a equanimidade dos passageiros sofrem severos testes. Um desses casos se deu numa viagem pelo sopé do Himalaia, para se chegar a Darjeeling, quando o jipe começou a tremer perturbadoramente nas suas rodas da frente depois de uns 1.600 metros de viagem, mais ou menos. Isto tornava necessário que se freasse bruscamente para impedir a perda do controle do veículo. Depois de vencer uma rampa íngreme duma estrada estreita da montanha, com precipícios de um lado, chegamos a uma parada compulsória num posto policial de controle. Aqui, depois de investigação de perto, descobriu-se que a direção apresentava defeitos, visto que o volante podia mover-se 120 graus para a direita ou para a esquerda antes de a engrenagem mover as rodas dianteiras. Quando este grave defeito foi indicado ao motorista, ele insistiu que estava thik hojáega, querendo dizer que ‘tudo estava bem’. Conseguimos vencer uma faixa de 80 quilômetros de estrada montanhosa sem nos desviarmos dela por completo; assim, talvez o motorista estivesse certo no que disse. As graves dores de cabeça que contraímos, porém, mostravam que não concordávamos com ele.
“Foi um prazer visitar de perto a fronteira de Siquim. Embora não conseguíssemos entrar, os irmãos sempre reservavam tempo para nos visitar na vizinha Darjeeling. Amiúde, bem cedo de manhã, ouviam-se tímidas batidas à porta, quando nos presenteavam com ovos, laranjas e legumes, como sinal de seu apreço. Dependendo da disponibilidade de fundos e de transporte, isso significava que tinham percorrido 22,5 quilômetros, amiúde a pé, de Siquim. Na mesma semana, eles retornavam ao povoado pelos mesmos meios, para averiguar se tudo ia bem com os membros idosos da família, e então voltavam.
“O que torna isto mais incomum é que as famílias envolvidas antes tinham sido hindus, mas, devido à liderança zelosa de um membro da família, outros ficaram grandemente encorajados. Este membro zeloso da família, que é agora irmão, ouviu o som da verdade e gostou dele. Ele dá boa ajuda a outros, nesse território montanhoso isolado de Siquim, que buscam o caminho que conduz de volta à paz do paraíso.”
Siquim acha-se, na maior parte, situado no Himalaia, e o budismo é a religião estatal. Cerca de um quarto dos 7.299 quilômetros quadrados do território montanhoso é coberto de florestas. Áreas de gigantescas coníferas chegam à linha da neve no Siquim setentrional. As orquídeas dão colorido a este pequeno estado do Himalaia. Florestas de rododendros cobrem inteiras encostas das montanhas. Flores alpinas cobrem os vales e desfiladeiros mais altos. Neste ambiente pitoresco, há 22 publicadores do reino de Jeová que proclamam as boas novas entre calculadamente 194.000 habitantes, a maioria dos quais são budistas e hindus.
AS “BOAS NOVAS” ALCANÇAM O NEPAL
O país vizinho do Nepal, o único estado hindu independente do mundo, também entra no quadro da atividade teocrática da Índia. O país jaz nas encostas meridionais do Himalaia. Faz divisa, ao norte, com o Tibete, a este com o Siquim, e, ao sul e a oeste, com a Índia. O Nepal tem uma população de cerca de doze milhões. Goza da distinção de possuir o pico mais elevado do mundo, o Monte Evereste, e também de produzir alguns dos mais duros lutadores do mundo — os gurcas.
Há algum tempo, a família do irmão A. B. Yonzan, natural do Nepal, mudou-se de Calimpongue, Índia, para Catmandu, a capital do Nepal. Muito embora fosse proibido o proselitismo, resultando em serviço de campo limitado, esta família fez excelente trabalho em declarar as boas novas do reino de Deus às pessoas daquele país. O serviço secular do irmão Yonzan o colocou em contato íntimo com autoridades governamentais, e até mesmo com a corte real. Por conseguinte, nossas publicações cristãs chegaram à família real.
ACONTECIMENTOS ORGANIZACIONAIS
O ano de 1971 levou à Índia o alicerce para nova modalidade da organização teocrática. Por meio das Assembléias de Distrito “Nome Divino”, realizadas em sete locais grandemente espalhados, foi esboçado o arranjo apostólico para o governo das primitivas congregações cristãs. O discurso “A Organização Teocrática no Meio das Democracias e do Comunismo” explicou como era desejável que as congregações hodiernas fossem administradas por corpos de anciãos espirituais habilitados. Quão apropriado foi que esta apresentação também fosse feita numa assembléia do estado de Querala, onde a Índia democrática possuía um de seus mais fortes elementos comunistas!
Esta foi a maior reunião do povo de Jeová já realizada na própria área em que a obra de Deus fora estabelecida neste país. Por não haver nenhum salão suficientemente grande na Cidade de Cotaiam, conseguiu-se o enorme campo de Desfiles Policiais. Ali construiu-se enorme e sombreado dossel, com ramos de coqueiros. Neste ambiente tépido, tropical, 2.259 pessoas ouviram como as congregações cristãs seriam governadas no futuro.
No início de 1972, a obra de circuito na Índia foi cabalmente reorganizada. Os superintendentes visitantes davam menos atenção a registros e números. Dava-se ênfase ao encorajamento dos irmãos para o serviço de campo e à edificação da condição espiritual das congregações.
Em setembro de 1972, as congregações indianas implementaram a administração pelos corpos de anciãos. Isto resultou ser um grande passo à frente na estabilidade espiritual das congregações. A maioria das congregações da Índia acataram com entusiasmo tal arranjo.
Tal arranjo, contudo, revelava um nível relativamente baixo de madureza espiritual e de falta de experiência em lidar com problemas locais. Certas dificuldades iniciais indicavam que alguns dos irmãos designados tinham motivos errados ou não possuíam habilitações espirituais. O arranjo de anciãos também indicava as congregações que precisavam de ajuda espiritual. À guisa de exemplo, de um total de 247 congregações (inclusive em locais onde só viviam um ou dois irmãos), até meados de 1976, apenas 121 possuíam anciãos designados. Por isso, muitos dos 416 servos ministeriais designados precisavam servir como superintendentes substitutos.
Sem dúvida, o efeito geral, na Índia, tem sido o de elevar o padrão de supervisão. Isto também contribuiu para o aumento de 22 por cento do povo de Jeová na Índia durante os anos desde que começou o arranjo de anciãos. Mais importante, porém, é que os novos acontecimentos organizacionais mostraram que a obra de Deus não depende de nenhum homem. Antes, focaliza-se a atenção em Cristo, como cabeça da congregação, havendo anciãos designados como um corpo interdependente e unido, que serve a seus irmãos.
EXPLORADAS AS REGIÕES VIRGENS
No extremo nordeste da Índia, foram explorados territórios virgens e a verdade penetrou em regiões quase que inacessíveis. Esta parte da Índia, que se situa no Trópico de Câncer, compreende sete territórios distintos. Ao norte, fazendo fronteira com o Tibete e a China, acha-se Arunachel Pradexe. Mais para o sul, chegando à fronteira da Birmânia, primeiro vem Nagalândia, e então Manipur. A sudeste de Manipur acha-se Mizorã e Tripura. Megalaia repousa entre Bangladesh e o Vale do Bramaputra. Por fim, margeando o gigante Rio Bramaputra, acha-se Assam, que forma parcialmente a passagem estreita que leva a Bengala e ao resto da Índia.
Estas áreas são, na maior parte, sopés de colinas no extremo oriental da cadeia do Himalaia, alcançando uma altitude de 792 a 1.463 metros acima do nível do mar. Que beleza cênica, que picos altaneiros, rios borbulhantes, quedas-d’água, lagos montanhosos, vales e campinas verdejantes! Dezenas de tribos habitam os vales. Cada vale possui diferente tribo, com seu próprio dialeto. Certas tribos aderem a costumes matriarcais. Outras, até tempos recentes, eram formadas por caçadores de cabeças. Agora, pela primeira vez, tais tribos começaram a ouvir a mensagem do reino de Deus.
Por alguns anos, a obra de pregação do Reino era feita por pioneiros especiais sediados em Xilongue, em Assam, e dali a verdade se disseminou. O irmão Basumatary aprendeu a verdade em Xilongue, e, mais tarde, partiu para sua aldeia nas selvas, Digaldongue, a fim de partilhar seu ‘tesouro’ recém-encontrado com seus parentes e co-aldeões. (Pro. 2:1-5) Esta viagem de cerca de 200 quilômetros exige que se vá de trem, daí de ônibus, em seguida de carro de boi, e, por fim, a pé pela floresta.
O irmão Basumatary logo começou a agir, construiu um Salão do Reino simples e passou a realizar reuniões cristã regulares. Mais tarde, um pioneiro especial visitante ficou surpreso de encontrar dezoito pessoas reunidas na casa do irmão Basumatary. Tinham muitas perguntas bíblicas. Relatou o pioneiro especial: “Doze já tinham deixado a Igreja Luterana e freqüentavam as reuniões no Salão do Reino. Fiquei grandemente encorajado de conhecer um senhor de 70 anos que tinha sido pregador luterano por dezesseis anos, mas agora rompera todos os laços com tal religião. Ele ficou privado de seu ganha-pão em resultado disso, mas exclamou: ‘Consegui sair de “Babilônia, a Grande”, e agora estou na organização de Deus.’” A congregação de Digaldongue, agora espalha as boas novas aos povoados vizinhos naquela região distante de Assam.
A verdade também alcança as Colinas Casi, no Estado de Megalaia. Ali, prevalece o sistema matriarcal entre as tribos, e a chefia gira em torno da esposa, os filhos e as filhas recebendo o nome da mãe. Todavia, uma senhora casi aceitou a verdade e reconheceu a necessidade de fazer mudanças em sua vida. Embora pertencesse à Igreja Presbiteriana, tinha vivido com um homem durante vinte anos e tinha tido dele sete filhos, sem terem-se casado, embora gozasse da aprovação do pastor deles. Agora, conhecendo a verdade, esta senhora casi, considerou tais assuntos com seu companheiro. Ele achou esquisito que ela sugerisse que legalizassem seu casamento e que ele assumisse a chefia da casa. De início, recusou assumir tais responsabilidades, mas por fim, compreendeu sua posição. Eles legalizaram seu casamento, e a senhora e seus filhos vieram a ter o nome do marido. Logo depois, esta senhora casi foi batizada, e é animador ver sua alegria à medida que ela e seus filhos freqüentam as reuniões e participam na pregação da mensagem do Reino a outros nas Colinas de Casi.
RESPONSABILIDADE ADICIONAL EM BANGLADESH
Lá em dezembro de 1971, a Índia achou-se envolvida numa guerra com o vizinho Paquistão. Em 3 de dezembro, no dia em que irromperam as hostilidades, as tropas indianas penetraram no Paquistão Oriental. Três dias depois, nascia um novo país — Bangladesh. A guerra de treze dias findou em 16 de dezembro de 1971, tendo Bangladesh se separado do Paquistão e se tornado aliado da Índia. Em 1973, pediu-se à filial de Bombaim da Sociedade Torre de Vigia (EUA) que cuidasse da obra em Bangladesh. Pelo que se sabia, não viviam ali quaisquer publicadores ativos do Reino, embora houvesse alguns assinantes de nossas revistas naquela região. Mandaram-se cartas a esses assinantes, mas apenas uma pessoa respondeu ao ponto de mostrar interesse ativo em estudar a Bíblia. Embora não fosse possível para os pioneiros indianos obterem vistos de residência, os irmãos P. Singh e P. Mondol, pioneiros especiais indianos, foram enviados a Bangladesh por limitado período de tempo.
ASSEMBLÉIAS “VITÓRIA DIVINA”
A assembléia nacional “Vitória Divina” na Índia, realizada em Madrasta, em setembro de 1973, era algo como uma míni-assembléia internacional. Irmãos de nove países diferentes estavam presentes e as sessões foram realizadas em nove línguas indianas, além do inglês. Foi o maior congresso já realizado na Índia! A assistência do discurso público foi de 3.225. Nesta assembléia, 175 pessoas foram imersas — o maior batismo de per si na Índia!
Nosso local da assembléia, conhecido como Abbotsbury, tinha testemunhado um ‘casamento de prestígio’ na parte inicial do mês. Para o mesmo, ergueu-se uma construção temporária. Mas, o local fora deixado num estado quase caótico. O trabalho parecia grande demais para os poucos irmãos disponíveis antes do congresso. No entanto, o superintendente da assembléia, Bernard Funk, comentou: “Apenas uma semana antes de nossa assembléia, a então primeira-ministra da Índia, Sra. Indira Gândi, visitou a cidade de Madrasta e aconteceu que foi feito um arranjo para que ela falasse no local da assembléia! Assim, o local inteiro foi arrumado e recebeu uma ‘limpeza geral’ bem na ocasião da Assembléia ‘Vitória Divina’!”
TRATADOS “NOTÍCIAS DO REINO” FAZEM BOM TRABALHO
Pouco depois da assembléia nacional de Madrasta, os tratados Notícias do Reino foram distribuídos com grande zelo. Essa obra proveu tremendo estímulo para ajudar as pessoas recém-habilitadas a começar a atividade de pregação. Nenhum humano realmente sabe até que ponto esta distribuição de tratados está tendo resultados positivos. Mas, sem dúvida, muito tem sido feito por esse trabalho.
Exemplificando: Em Madurai, no sul da Índia, um senhor recebeu um tratado durante a distribuição regular de casa em casa. Quando visitou seu pai, numa aldeia remota, levou consigo o tratado. Pensou que seu pai, um pregador local, estaria interessado nele. E estava mesmo! O Sr. Solomon escreveu à filial, pedindo informações adicionais, e foram mandadas instruções à Congregação Madurai, em Tamil Nadu.
De imediato, o irmão Alexander, um dos superintendentes e pioneiro especial, foi procurar o Sr. Solomon. Ele viajou até o ponto em que o ônibus conseguiu levá-lo e, daí, caminhou por outros 10 quilômetros sob o sol abrasador e, por fim o encontrou. Iniciou-se de imediato um estudo bíblico. Meses depois, na Assembléia de Distrito “Soberania Divina” em Madurai, em 1975, o irmão Solomon foi batizado. Deveras, um excelente resultado da distribuição de tratados!
EXPANSÃO NA SEDE
Em 1973 se compreendeu que o prédio da filial da Sociedade na Índia precisava ser ampliado em consonância com a incrementada atividade nacional e com as exigências de assembléia da cidade de Bombaim. Os novos planos arquitetônicos foram preparados por um dos mais antigos arquitetos da Índia. A construção começou em 8 de dezembro de 1973, sob a supervisão de Frank Schiller, irmão canadense que servia onde havia mais necessidade.
Construiu-se um telhado onde antes era um terraço aberto, e o próprio terraço foi então convertido num lindo Salão de Assembléias para Bombaim. Este era o primeiro de sua espécie na Índia e acomoda cerca de 600 irmãos confortavelmente. O Salão de Assembléias também serve como Salão do Reino para duas das congregações de Bombaim.
Esta construção possibilitou à Sociedade converter o antigo Salão do Reino num espaçoso escritório, além de fornecer um quarto extra de dormir para Betel. O escritório original no térreo, foi utilizado para os departamentos de revistas e de assinaturas, e como depósito adicional.
Fixou-se o dia 15 de junho de 1974 como o “dia da dedicação” do prédio. Isto serviu como incentivo para manter em andamento a obra de construção. Conforme planejado, as instalações ampliadas foram concluídas e a dedicação ocorreu segundo programada.
SIQUIM SE UNE À ÍNDIA
Em setembro de 1974, o Parlamento indiano conferiu ao Siquim a condição de estado “associado” da União Indiana. Nessa época, havia 21 Testemunhas de Jeová em Siquim. Em vista das ligações políticas deste país com a Índia, considerou-se apropriado incorporar os relatórios de serviço de campo de Siquim ao da Índia.
Gantoc é cenário de laboriosa atividade cristã. Ali, quatro pioneiros especiais trabalham junto à congregação. Outras congregações que funcionam no Siquim estão localizadas em Chungbung e Samdong.
Em 1976, Robert Rai, irmão e ancião siquimês que morava em Londres, Inglaterra, viajou de automóvel com sua esposa até o Siquim com fundos para construir um Salão do Reino em Chungbung. Em questão de dois meses, tiveram êxito em construir uma estrutura bastante ampla para acomodar 60 pessoas. Tendo feito isso, o irmão e a irmã Rai retornaram à sua casa em Londres.
1975 — ANO MEMORÁVEL
Na verdade, o ano de 1975 foi uma época estimulante para os irmãos na Índia. No início do ano, tivemos a memorável visita de dois membros do Corpo Governante, N. H. Knorr e F. W. Franz. Testemunhas de partes distantes da Índia viajaram até Bombaim para ouvir os irmãos visitantes. Durante dois dias espiritualmente edificantes, 948 pessoas lotaram todos os cantos do recém-ampliado prédio da filial. Entre outras coisas, o irmão Knorr instou com os jovens a se empenharem em busca de responsabilidades na congregação.
O próximo evento emocionante foi a Refeição Noturna do Senhor, em 27 de março. Pela primeira vez na Índia, a assistência ultrapassou o marco das 10.000 pessoas. Isto mostrava que as 4.531 Testemunhas aqui estão realmente atarefadas, e lhes deu o incentivo para continuarem trabalhando arduamente no serviço de Jeová.
QUESTÃO DO SANGUE
No ínterim, os irmãos no campo tornavam-se mais fortes em seu apreço da necessidade de aderirem aos princípios bíblicos. Para ilustrar: A irmã Muniyamma, pioneira especial na Congregação Fazenda Paraíso próxima de Bangalore, apresentou grave tumor abdominal, perdeu muito sangue e se tornou muito fraca, fisicamente. Quando ela se recusou a aceitar uma transfusão de sangue, um hospital de propriedade duma igreja recusou-se a aceitar seu caso. A irmã Muniyamma foi levada a outro hospital, que também se recusou a operá-la sem sangue. Já então seu caso era crítico. No ínterim, o irmão Mall, de Bangalore, parente do principal médico do primeiro hospital, o tinha convencido a aceitar o caso da irmã Muniyamma. O médico a operou sem sangue e a irmã Muniyamma sobreviveu. Isto foi tremendo testemunho para as autoridades eclesiásticas que dirigiam o hospital, e a inteira equipe hospitalar passou a respeitar as Testemunhas de Jeová. Agora, a irmã Muniyamma já está de volta à sua designação de pioneira, partilhando a mensagem da vida com outros.
AMPLIANDO O TESTEMUNHO
A obra de pregação do Reino avança nos territórios bem no nordeste. Por exemplo, em Imphal, Manipur, o pioneiro especial, K. V. Joy, encontrou um adolescente da tribo de Tangkhul Naga. Embora o rapaz começasse imediatamente a estudar a Bíblia, logo surgiram dúvidas, devido à pressão dos seus fanáticos colegas batistas, e ele parou de estudar. Mas, este naga, cujo nome é Grace, mais tarde encontrou o nome de Deus, Jeová, num livro escolar e também aprendeu dessa publicação que os costumes populares “cristãos” têm origem pagã. Ele reiniciou seus estudos bíblicos com o irmão Joy.
Então a pressão religiosa comunitária se tornou intensa. Relata esse jovem: ‘Os líderes de minha tribo ameaçaram-me com as seguintes alternativas: abandonar minha nova religião e voltar à Igreja Batista; ou pagar uma multa de 250 rúpias; ou ser morto segundo o costume tribal. Tais ameaças foram ignoradas, e com o tempo, meu irmão mais velho Angam, meu primo, Narising, e eu, nos demitimos da igreja. Em 1975, fui batizado em símbolo de minha dedicação a Jeová. Logo depois, Angam e Narising também foram batizados e eles continuaram em minha aldeia para espalhar a verdade aos membros de minha tribo, que, até há alguns anos, era formada de caçadores de cabeças. Até mesmo, na frente de algumas casas na minha aldeia, há crânios humanos pendurados, como lembrete do passado sombrio.’
A verdade de Deus em forma impressa também se irradia pelas áreas tribais do nordeste. Entre 1973 e 1975 foram distribuídos por cerca de dezessete pioneiros especiais, um total de 4.769 livros e cerca do dobro de revistas. A maioria desses pioneiros especiais eram do distante estado de Querala, que possui a maior concentração de Testemunhas na Índia. Aqueles pioneiros do sul da Índia estavam dispostos a deixar suas terras natais a fim de servir em territórios estranhos, a cerca de 1.930 quilômetros de distância. Era como uma designação estrangeira para eles, tendo de aprender novas línguas e trabalhar entre pessoas de natureza inteiramente diferente. Em questão de alguns anos, a verdade se espalhou, e cinqüenta pessoas locais desses territórios tribais foram batizadas. Alguns se tornaram disponíveis para traduzir as publicações para seus próprios dialetos.
Ao haver mais trabalhadores disponíveis, a Sociedade iniciou a obra em grandes cidades, anteriormente “virgens” no que dizia respeito à pregação do Reino. Por exemplo, estabeleceu-se um lar missionário em Patna, estado de Biar. Ali, servia a família Alford. A Sra. Barbara Alford e seus quatro filhos eram cidadãos indianos que emigraram para o Canadá e encontraram a verdade ali. Com o tempo, Josephine Alford cursou a Escola de Gileade e foi designada à Índia. Assim, a mãe, Barbara Alford, e seus filhos, ofereceram-se todos em retornar à Índia para servir no lar missionário da cidade de Patna.
AUMENTO DA OBRA EDITORIAL
Na Índia, os estados foram determinados principalmente pela língua local, cada um tendo sua própria língua. Um livro em certa língua tinha de ser impresso onde tal língua era falada. Tivemos de achar um local com boa prensa e onde houvesse pioneiros especiais disponíveis para supervisionar a impressão. Na maioria dos casos, os pioneiros tiveram de ser treinados para saber como um bom livro podia ser produzido, e este treinamento foi realizado por meio de correspondência com a filial. Cartas e mais cartas foram trocadas nesse processo! Os pioneiros também tiveram de melhorar em conhecimento de sua própria língua, para ficarem aptos a verificar com exatidão a obra de impressão. Deste modo, a filial de Bombaim opera sua organização impressora em onze localidades diferentes por um sistema de ‘controle remoto’.
No entanto, em muitos casos, esse arranjo também envolvia ensinar às firmas comerciais como produzir livros do alto padrão exigido pela Sociedade. Em vários lugares, esses impressores achavam que seu alto padrão de impressão se devia, principalmente, ao treinamento recebido por meio da cuidadosa supervisão dos pioneiros que cuidavam da impressão das publicações da Sociedade.
Os servos de Jeová há muito se interessam em conseguir que a verdade bíblica chegue às muitas línguas da Índia. Já em 1912, o primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia (EUA), C. T. Russell, fez arranjos para que nossos folhetos fossem traduzidos em hindustani, gujarate, malaiala, télugo, marata e tâmil, as seis línguas principais da Índia. No início de 1976, a filial da Índia supria publicações para seu próprio campo em vinte idiomas diferentes. Nos últimos cinco anos, 636.677 de nossos livros foram publicados neste país — mais de 500 por cento mais do que nos cinco anos anteriores. A Sentinela é preparada em sete línguas, com a perspectiva de duas outras no futuro próximo. Despertai!, é editada em duas línguas indianas. As revistas são enviadas desta filial para 73 outros países. Para conseguir fazer toda essa obra editorial, mais de cinqüenta irmãos trabalham na tradução, impressão e expedição na filial.
Em virtude da recente diretriz governamental indiana, as importações de publicações sofreram severas limitações. Fazia-se regularmente o pedido de licença de importação de publicações, no valor de 40.000 rúpias (Cr$ 75.000,00). Todavia, ano após ano isto foi reduzido até o valor de 10.000 rúpias. Em 1975, solicitamos licença de importação de livros no valor de 50.000 rúpias. Imagine só a nossa alegria quando chegou a licença, autorizando a importação de livros de Brooklyn no valor de 50.000 rúpias! A bênção de Jeová tinha resultado em ricos suprimentos de alimento espiritual para a Índia.
ASSEMBLÉIAS DE DISTRITO REVELAM CONTÍNUO CRESCIMENTO
Ao se passar cada ano, realizaram-se regularmente assembléias de distrito, e crescente número de cidades por toda a Índia receberam testemunho mais intensificado. As assembléias revelam contínuo crescimento no número de pessoas interessadas nos propósitos de Jeová. Por exemplo, nas quinze Assembléias “Soberania Divina”, realizadas aqui em 1975, 243 pessoas foram batizadas, e a assistência ao discurso público foi de 6.061. Nessa época, havia 4.300 publicadores do Reino na Índia.
Produzir dramas bíblicos para essas assembléias aumentou o trabalho na sede. Imagine só a quantidade de trabalho feito para se produzir temas de dramas em dez línguas numa pequena filial, ou sob a supervisão desta! De início, a matéria precisa ser traduzida. Daí, os indivíduos precisam ser treinados para representar os personagens bíblicos para a gravação. Em seguida, o grande problema é gravar a fita. Na filial são preparados apenas dramas em quatro idiomas. Os restantes são feitos pelos irmãos espalhados pelo campo. Na maioria dos casos, eles dispõem de equipamento limitado e encontram dificuldades em achar bastantes irmãos e irmãs capazes para preencher todos os personagens.
Seu ‘estúdio’ de gravação talvez seja uma casa bem humilde. Não raro, os irmãos não começam suas gravações senão depois da uma hora da madrugada, pois então são reduzidos os ruídos da vida diária. Em certo caso, dois irmãos foram designados para lançar pedras nos charcos vizinhos a fim de silenciar as rãs que coaxavam. Aprontar um programa para a assembléia de distrito envolve seis meses de trabalho árduo. Mas, o apreço demonstrado pelas pessoas que assistem a uma assembléia em sua língua materna faz com que cada minuto gasto valha a pena.
NOVA ADMINISTRAÇÃO DA FILIAL
Como em outros países, no início de 1976 a supervisão da obra de pregar o Reino no campo indiano foi transferida para uma comissão de filial com um presidente em rodízio e um coordenador permanente. Este arranjo foi visto como um passo à frente, em especial para se cuidar do fardo mais pesado de trabalho e de quaisquer problemas possíveis. Ampliou a responsabilidade de supervisão para os irmãos locais, e também permitiu maior visão dos problemas do campo, por se ter um membro da comissão em maior contato com as operações de campo.
BASE PARA A FUTURA COOPERAÇÃO COM DEUS
Com vívida antecipação dos maravilhosos eventos que ocorrerão nesta geração, as Testemunhas de Jeová na Índia, no Nepal e em Bangladesh se preparam para as provas à frente, por se manterem achegadas à organização visível de Jeová. O último auge de publicadores na Índia foi de 4.687, e 11.204 pessoas compareceram à Comemoração da morte de Cristo em 14 de abril de 1976. Apenas onze cristãos verdadeiros, na Índia, professaram ser seguidores ungidos de Jesus.
A Índia, embora dotada de vasta área e população, está recebendo testemunho do reino estabelecido de Jeová. Especialmente desde 1912, a verdade bíblica está sendo declarada entre os prolíficos milhões de habitantes da Índia. Esforços árduos têm sido feitos de levá-la ao povo — por meio da distribuição de milhares e mais milhares de Bíblias e de outras publicações cristãs, por campanhas de discursos públicos através de carros-sonantes, pela obra com fonógrafos, pelas apresentações de informações bíblicas de casa em casa, pelas revisitas e estudos bíblicos domiciliares. Apesar de condições climáticas muito difíceis, riscos à saúde e outras dificuldades, milhões de pessoas têm tido a oportunidade de ouvir a mensagem bíblica de salvação. É gratificante ver que milhares de pessoas responderam de modo favorável!
A Índia tem provado o crescimento gradual duma organização teocrática, que emergiu de grupos espalhados de publicadores isolados, em diferentes áreas lingüísticas para tornar-se um corpo intimamente entrelaçado e unido de evangelizadores cristãos. Este foi o resultado, apesar da indiferença da religião falsa e dos surtos esporádicos de fanatismo, de proscrições durante as duas guerras mundiais, das contendas políticas e de outros problemas. Em todas essas circunstâncias, Jeová tem estado conosco, e, como suas Testemunhas, sentimo-nos profundamente gratos de poder ‘cooperar com Deus’. — 2 Cor. 6:1.
[Foto na página 53]
Uma casa móvel, com vitrola, usada para a pregação das “boas novas” na década de 30.
[Foto na página 110]
Filial em Bombaim.