Canadá
Os índios iroqueses o chamaram de Kanata, que significa meramente “um grupo de choupanas”. Você, porém, talvez o conheça como o país do caçador de peles e dos esquimós, do alce e do urso-branco — e, de fato, dos “Mounties”, a Real Polícia Montada do Canadá, de casaco vermelho, ‘que sempre consegue pegar o foragido’.
Mas o Canadá de hoje é muito mais que isso. Este vasto país, com uma superfície de 9.976.139 quilômetros quadrados, é o segundo país maior do mundo. Estende-se sobre a América do Norte desde o Oceano Atlântico a leste até o pacífico a oeste. No sul, acham-se os Estados Unidos e ao norte, as águas glaciais das regiões árticas.
Dentro dos limites do Canadá acham-se as altas e majestosas Montanhas Rochosas, os milhares de cintilantes lagos e rios, e as trovejantes águas da mundialmente famosa catarata do Niágara. Também deleitam a vista os extensos campos com um mar de cereais dourados, e as grandes florestas de pinheiros, espruces, bordos, abetos e vidoeiros.
É o “lar” de 23.000.000 de pessoas. Por causa de regulamentos relativamente liberais sobre a imigração, acham-se entre a população do Canadá alemães, austríacos, caraíbas, escandinavos, espanhóis, gregos, holandeses, húngaros, italianos, iugoslavos, judeus, latino-americanos, poloneses, portugueses, russos e ucranianos. Dos países orientais chegaram os árabes, os chineses, os coreanos, os filipinos, os indianos orientais os japoneses e os paquistaneses. Anos atrás, antes de se estabelecer ali o homem branco, este país era o lar dos esquimós e de muitas nações variadas de índios norte-americanos. Felizmente, a pessoa ainda pode encontrar alguns desses entre os Crees, os Cayugas, os Mohawks, os Ojibways, os Kutanais e os Haidas.
Foi em 1534 que chegou ali Cartier, o explorador francês e em 1604 estabeleceu-se a primeira colônia francesa, permanente, onde hoje é o Canadá do leste. No fim da década de 1500, os britânicos chegaram primeiro à Terra Nova e às costas adjacentes. Mais tarde, os ingleses se espalharam onde hoje é conhecido por Nova Escócia, Quebeque e Ontário. Em 1763, o Canadá tornou-se parte do Império Britânico, embora retivesse ambos os idiomas oficiais, o francês e o inglês. A confederação veio em 1867 e a igualdade de posição como parte da Comunidade Britânica, em 1931. Atualmente, o Canadá se compõe de 10 províncias e dois territórios.
A população se concentra principalmente dentro de uma faixa estreita toda ao longo da fronteira repartida com os Estados Unidos, o número de pessoas por quilômetro quadrado diminuindo rapidamente ao passo que se vai em direção do norte. A maior parte das terras continua não-colonizada e não-desenvolvida, talvez apenas 12 por cento sendo agora ocupados por 90 por cento da população. Em parte, isso se dá por causa do clima rigoroso no inverno nas regiões setentrionais, embora os verões ali sejam agradáveis e esplêndidos.
Como é de imaginar, com os muitos imigrantes do Canadá vieram seus costumes interessantes e suas diversas religiões. Encontra-se ali evidência de budismo, islamismo, judaísmo e hinduísmo. Mas os maiores grupos religiosos são os dos chamados cristãos. O catolicismo romano é a maior denominação singela, tendo cerca de 10.000.000 de membros, a maioria na província de Quebeque. A Igreja Unida afirma ter mais de 3.000.000 de aderentes, e os anglicanos, outros 2.500.000. Os grupos protestantes menores, tais como os presbiterianos e os batistas, bem como os católicos ortodoxos, abrangem grande parte do restante da população, embora muitas pessoas não professem nenhuma religião.
UMA LUZ FRACA BRILHA NO LESTE
Foi no ano de 1880, o mais tardar, que uma fraca luz espiritual começou a reluzir no Canadá. Alguns canadenses haviam recebido de zelosos amigos e parentes nos Estados Unidos literatura e mensagem acalentadora a respeito da restauração de todas as coisas por meio do reino de Deus, às mãos do glorificado Jesus Cristo. (Atos 3:19-21; Rev. 21:1-5) Uma dessas publicações que fazem refletir — Alimento Para Cristãos Que Refletem (em inglês), publicado em 1881 — foi de grande aceitação ali. Como essa poderosa exposição dos erros doutrinais ensinados nas igrejas da cristandade eliminou o falso sofisma religioso!
Estas “boas novas” estavam sendo proclamadas por Charles T. Russell e um pequeno grupo de Estudantes da Bíblia, tendo sua sede em Allegheny (atualmente parte de Pittsburgo), Pensilvânia, E. U. A. A que ponto reagiram favoravelmente os canadenses à mensagem do Reino? Com efeito, evidencia-se uma gratidão genuína pela verdade bíblica na seguinte carta de um homem em Ontário (publicada na edição de janeiro/fevereiro de 1882 da Torre de Vigia [A Sentinela], em inglês):
“Poderiam, por gentileza, aconselhar-me quanto a cortar minhas relações com a igreja da qual sou membro? Sinto que não devo freqüentá-la, pois seria concordar com seus ensinamentos, nos quais agora não creio. Já há muito tempo, eu realmente não acreditava, mas não conhecia outro caminho melhor. Agora, graças a Deus, é diferente. Permaneço ao seu dispor na esperança da vida eterna.”
Um dos primeiros Estudantes da Bíblia, canadenses, foi William Brookman, pelo que parece um ex-clérigo. Sob a direção dele, reunia-se uma classe regularmente em Toronto.
Outro canadense que aceitou a verdade bíblica em data antiga foi Thomas Baker, dono de uma serraria em Elba Ontário, uma pequena comunidade cerca de 80 quilômetros ao noroeste de Toronto. Baker, homem muito religioso, fora superintendente da escola dominical anglicana. Mas a sua serraria zumbidora tornou-se um lugar em que também zumbiam as grandiosas novas do reino de Deus. Segundo as palavras de sua filha Annie: “Todo freguês que entrava recebia um tratado ou folheto, ou um livro. Acho que ele não deixou de dar a ninguém!”
Visto que Thomas Baker era tão conhecido, a saída dele da igreja estabelecida na comunidade suscitou muitas perguntas. Com efeito, foram tantas as pessoas que faziam perguntas a respeito disso que ele publicou um folheto apresentando os motivos de sua ação. Baker morreu em 1906, e o discurso fúnebre foi proferido por uma pessoa a quem ele próprio ensinara a verdade da Palavra de Deus.
Em fins da década de 1880, os colportores (proclamadores por tempo integral do Reino) partilharam as “boas novas” com Caleb Crandell. Ele aceitou literatura bíblica e recebeu os visitantes em sua casa em Crandell’s Corners (agora dentro de Porto Perry), Ontário. Não se formou grupo de estudo ali naquela época, mas sabemos que Caleb fez pelo menos uma viagem para ouvir C. T. Russell falar na Sala Massey, em Toronto. Crandell deleitou-se com o que viu e ouviu. Sua história muitas vezes contada era: Diversos clérigos, convidados ao palco para fazer perguntas, ficaram bastante aborrecidos por não conseguirem contradizer as respostas bíblicas corretas de Russell. Daí, tentaram todos juntos e ao mesmo tempo crivá-lo de perguntas. Russell chamou-os calmamente à ordem, pedindo-lhes que se portassem como cavalheiros e dizendo-lhes que teria a satisfação de responder a cada uma das perguntas. Crandell ficou impressionado de ver que os clérigos não podiam refutar os argumentos bíblicos de Russell. Por fim, simplesmente deixaram o palco e desapareceram no meio da multidão sem causar mais agitação.
A VERDADE BÍBLICA CHEGA AO CANADÁ DO OESTE
A luz da verdade brilhava até certo ponto no Canadá do leste quando um raio dessa luz penetrou nas trevas espirituais do Canadá do oeste. Em 1889, William Flewwelling, de Carberry, Manitoba, chegou a possuir o primeiro volume do “Plano Divino das Eras”, da série Aurora do Milênio (chamado mais tarde de Estudo das Escrituras), de C. T. Russell. Convicto de que encontrara a verdade, Flewwelling partilhou-a com outros, especialmente depois de se mudar para Vancúver, na Colúmbia Britânica, em 1890. Um homem que ouviu com apreço foi Robert Pollock. Logo foram realizadas classes de estudo bíblico no lar de Pollock. Pelo que sabemos, foi o primeiro de tais grupos na costa ocidental do Canadá.
Em anos posteriores, William Flewwelling ajudou a organizar grupos de estudos bíblicos em Asquith (cerca de 32 quilômetros a oeste de Saskatoon) e em Vadena, Saskatchewan. Mais tarde (em 1934), ele se mudou para Witchekan, Saskatchewan, e declarou as “boas novas” em toda aquela parte da província. William morreu em 1945, em Chitek Lake mas muitos de seus parentes continuam a obra de pregação do Reino que ele iniciou naquela região.
Naturalmente, a verdade bíblica chegou ao Canadá do oeste por outros meios também. Em 1889, o mesmo ano em que Flewwelling ouviu a verdade pela primeira vez, um homem bem intencionado jogou uma revista para dentro do carro-dormitório de um canadense num típico local de venda de cavalos em Fargo, na Dacota do Norte, E. U. A. “Olhe aqui, Mais”, disse o homem. “Isto é uma coisa que vai interessar-lhe!” Leslie Mais estava ali para vender uma manada de cavalos criados no seu sítio em Fort Qu’Appelle, nos Territórios Norte-Ocidentais (agora Saskatchewan). Era membro da Igreja Anglicana e assíduo leitor da Bíblia, e falava com outros sobre o que lia nas Escrituras. Não é de admirar que esse homem lançasse aquela revista para dentro de seu carro-dormitório! Sim, Mais leu toda aquela Torre de Vigia, logo se tornou assinante e continuou a ler esse periódico até sua morte em 1924.
A PRIMEIRA VISITA DE C. T. RUSSELL AO CANADÁ
Em 1891, o número de Estudantes da Bíblia na região de Toronto era suficiente para a realização do primeiro congresso de um dia de duração naquela cidade. O Pastor Russell visitou então, pela primeira vez, seus concrentes neste país. Durante a sessão da manhã de 22 de fevereiro, mais de 400 pessoas o ouviram dar discurso por mais de duas horas. Naquela tarde, cerca de 700 pessoas estavam presentes para ouvir o irmão Russell dar mais duas horas de discurso. À noitinha, ele falou perante uma congregação na outra extremidade de Toronto retornando ao local do congresso antes das nove horas da noite, a fim de participar de uma sessão de perguntas e respostas. Foi realmente um dia bem atarefado!
OPOSIÇÃO AO PASSO QUE SE ACELERAVA O RITMO
Acelerava-se o ritmo da difusão das “boas novas” neste país. Em princípios de 1891, certo colportor escreveu: “Embora eu tenha estado no Canadá por pouco tempo, tive o privilégio de ver despertar excelente interesse e a obra de colheita ser bem iniciada aqui. . . . há mais de 5.000 AURORAS [volumes da Aurora do Milênio] agora em Ontário, e a obra começou muito bem.”
Mas essa atividade não se deu sem oposição clerical. Pelo menos dois dos ministros da cristandade em Ontário queimaram publicamente exemplares da Aurora do Milênio e atacaram o irmão Russell, bem como os distribuidores dos livros.
Durante aquele tempo, o semanário Review, de Niágara Falls, trazia os sermões de C. T. Russell. O editor do jornal era o irmão James E. Anger, que admitiu: “Consegui trazer sobre mim mesmo [em 1892] boicote da parte dos cocheiros, dos Profanadores do Sábado, dos hoteleiros, da Igreja C[atólica] R[omana] e das igrejas protestantes da cidade.” Finalmente, ele teve de vender o jornal. Mas os descendentes do irmão Anger são testemunhas ativas de Jeová até hoje, e podemos contar umas 20 congregações cristãs espiritualmente prósperas nesta parte da península do Niágara.
Não obstante a oposição clerical e outra em princípios da década de 1890, alguns clérigos e ex-clérigos estavam sendo esclarecidos sobre assuntos espirituais. Outrossim, compreendiam a sua responsabilidade de ensinar aos outros a verdade da Bíblia. Um desses homens, John L. Lawson, escreveu para o irmão Russell em 1892, dizendo:
“O Senhor vem preparando-me por muitos anos para essas verdades do milênio. Em 1874, deixei [renunciei ao] o ministério Metodista Primitivo, na Inglaterra, onde estivera por nove anos . . . Desde então, fui levado a estudar a profecia; e seus volumes contribuíram para enriquecer, completar este ramo de estudo, muito além do que qualquer coisa que eu vira antes. A leitura deles é realmente para mim como sentar-me diante de um banquete de ‘alimento no tempo apropriado’ — as verdades preditas que estariam disponíveis, sendo exatamente isso para a família da fé. . . .
“Gostaria de ser de ajuda para os consagrados e vigilantes mas aqui neste matagal [canadense], temo não poder realizar muita coisa. Desejaria saber quais são os arranjos [da Sociedade] para os colportores e se conhecem algum campo onde há necessidade urgente de tais.”
Ao passo que cada vez mais pessoas aprendiam a verdade sobre Deus e viam a urgente necessidade de declará-la a outros, o ritmo da atividade do Reino continuava a se acelerar. Desenvolviam-se classes dos Estudantes da Bíblia num lugar após outro. Por exemplo, 1892 viu o começo das reuniões cristãs realizadas em Vitória, na Colúmbia Britânica.
Matthew Nelson, de Carberry, Manitoba, ouviu pela primeira vez a mensagem do Reino e a aceitou naquele ano. Em 1893, Nelson mudou-se para Grandview, Manitoba, e plantou ali as sementes da verdade bíblica. Não era incomum ele dirigir uma camioneta por 24 quilômetros, só na viagem de ida, em estradas não-pavimentadas simplesmente para visitar alguém que estivesse interessado! Isso não era fácil em estradas lamacentas. Na própria família de Nelson, sua mãe, suas irmãs e alguns parentes por afinidade reagiram todos favoravelmente a seus esforços. Em 22 de novembro de 1914, formou-se a primeira congregação em Grandview, e o irmão Nelson teve o privilégio de a superintender. Este muito ativo “incentivador” (conforme Matthew Nelson era chamado afetuosamente pelos Estudantes da Bíblia locais) foi de grande encorajamento para todos os seus associados cristãos até sua morte em 1945.
O INÍCIO NAS PROVÍNCIAS MARÍTIMAS
Entre os que aprenderam a verdade por volta de 1892 estavam Arthur N. Marchant e W. T. Dowden, de Halifax, Nova Escócia. Eles também aprenderam que os cristãos fazem alguma coisa. Vivem segundo as “boas novas” e falam a respeito delas. Decidido a isso Marchant tornou-se logo colportor, estando totalmente convicto de que não havia obra mais importante do que declarar as “boas novas”. Já em 1895, ele se empenhava em dar testemunho de modo sistemático e em cobrir freqüentemente todas as províncias marítimas, inclusive a ilha do Príncipe Eduardo, lançando assim uma base ali para excelente desenvolvimento futuro.
Arthur Marchant ajudou espiritualmente os interessados, estabelecendo grupos de estudo e treinando alguns a dar testemunho a outros. Ele batizou também os que desejavam dar esse importante passo.
Seja lembrado que essa obra não era feita com o conforto, a conveniência e a facilidade das viagens modernas. Amiúde, o irmão Marchant caminhava muitos quilômetros. Às vezes, andava de bicicleta, e no inverno andava às vezes de automóvel, quando havia um disponível — mas isso foi antes do advento dos aquecedores de automóvel. Ella Dow relembra uma ocasião em que Marchant estava dirigindo um carro aberto. Ele chegou à casa dela na zona rural “congelado até os ossos”, diz ela, acrescentando: “Tive de esfregar linimento nas pernas dele e enfiá-las no forno aberto para conseguir fazer voltar calor nelas!”
O irmão Marchant nunca vacilou com o passar dos anos. Certa vez, durante a primeira guerra mundial, foi preso em Halifax por distribuir o livro “O Mistério Consumado”. Sua fiança foi fixada em 10.000 dólares canadenses (cerca de Cr$ 300.000,00)! Quando o juiz perguntou qual era sua ocupação, ele respondeu sem hesitar: “Ministro do Deus Altíssimo!” Arthur N. Marchant terminou fielmente sua carreira terrestre em 23 de maio de 1940. Mas que tremendo trabalho de fazer discípulos realizou ele por quase 50 anos! Atualmente, na área de 132.000 quilômetros quadrados, que ele cobriu tão diligentemente, há mais de 80 congregações e mais de 4.500 testemunhas ativas de Jeová.
“COMO UM FOGO ACESO”
A menção das províncias marítimas faz lembrar um canadense a quem a palavra de Deus revelou ser com o tempo “como um fogo aceso”. (Jer. 20:9) Ele simplesmente tinha de falar a respeito dela. Nascido no Canadá em 2 de julho de 1877, foi criado por pais presbiterianos numa comunidade católica da Nova Escócia. Seu nome? Alexander Hugh Macmillan.
Com apenas uns 13 anos de idade, quando sua irmã mais nova morreu de difteria, o jovem Macmillan raciocinava: “A vida é curta e incerta. Se o que fazemos aqui tem a ver com o que seremos depois desta vida, então seremos muito tolos se não devotarmos nosso tempo a servir o Senhor agora, na esperança de termos algo melhor por toda a eternidade. Quanto a mim, tomarei minha posição e farei o que penso que agradará ao Senhor.”
Aos 16 anos de idade, Macmillan decidiu tornar-se pregador. Saiu de casa para freqüentar uma escola, a fim de se preparar para admissão num seminário teológico. Mas, daí, por algum motivo, teve um colapso nervoso. Quase prostrado Macmillan voltou para casa. Seu pai, mostrando consideração proveu-lhe fundos e logo o jovem estava a caminho de Boston Massachusetts, E. U. A. Obteve ali um exemplar do livro “O Plano das Eras” (ou “O Plano Divino das Eras”), de C. T. Russell. As verdades que continha tornaram-se “como um fogo aceso” dentro de Macmillan. Não podendo conter-se, saiu para a rua e parava as pessoas com o intuito de lhes dizer o que aprendera.
Certo dia, Macmillan se aproximou de uma pessoa totalmente desconhecida e lhe perguntou: “Sabe da grande promessa que Deus fez a Abraão, de que por meio de sua descendência todas as famílias da terra serão abençoadas?” O homem, surpreso, replicou: “De que Abraão está falando? — do Abraão que tem uma casa de penhores lá na Rua Salém?”
Bem, pelo menos Macmillan estava chegando à meta de sua juventude — a de se tornar pregador. Em setembro de 1900, este zeloso canadense foi batizado em símbolo de sua dedicação a Jeová Deus. Durante os anos que se seguiram, ele viajou por toda a parte declarando as “boas novas”, visitando congregações e edificando espiritualmente a concrentes. Ele terminou fielmente sua carreira terrestre como membro da família de Betel de Brooklyn, falecendo à idade de 89 anos, em 26 de agosto de 1966.
VISITAS EDIFICANTES DOS “PEREGRINOS”
A. H. Macmillan fora associado íntimo de C. T. Russell, e ambos mostraram profundo interesse pelos co-adoradores de Jeová. Russell vinha visitando diversos grupos canadenses de Estudantes da Bíblia durante congressos de um dia de duração, mas novas congregações, ou classes, foram formadas em muitos lugares e não era mais possível ele visitar a todas elas. Contudo, essas visitas, os discursos proferidos e a boa associação contribuíram muito para fortalecer o povo de Deus em sentido espiritual. Portanto, em 1.º de setembro de 1894, A Torre de Vigia anunciou que diversos irmãos habilitados, designados, visitariam as congregações. Mais tarde, esse serviço, prestado pelos representantes viajantes da Sociedade Torre de Vigia, foi chamado de obra de “peregrino”. Como era um dia típico durante a visita de um peregrino? Pode-se ter uma idéia por meio desta carta enviada ao irmão Russell:
“O irmão [George] Draper veio e já se foi. . . . Nossas reuniões não foram grandes, mas sinto-me seguro em dizer que havia um interesse intenso estampado em cada rosto, e que todos no nosso pequeno grupo e alguns de fora ficaram profundamente impressionados com todas as reuniões, que foram realizadas no nosso novo salão [em Toronto]:
“No domingo de manhã, às 10,30 horas, cerca de quarenta pessoas se reuniram em Balmy Beach . . . para presenciarem o símbolo do batismo em água. Era uma esplêndida e fria manhã, e ventava muito, causando forte rebentação de ondas o que tornava a ocasião mais interessante. Quatro irmãs e cinco irmãos foram [batizados] . . . Nosso pequeno grupo se sentia deveras feliz e alegre ao voltar para casa para se reunir novamente no nosso salão às 15 horas e ouvir nosso estimado irmão Draper apresentar mais das valiosas coisas da Palavra Sagrada.
“Às 19 horas, começou a nossa reunião final, com 88 ou 90 pessoas no salão, grande número de amigos e conhecidos dos estimados irmãos estando presentes . . . e, por volta das 21,30, nosso banquete de coisas gordurosas terminou para aquela ocasião, e acho que seria a coisa mais difícil imaginar rostos mais felizes do que os deles; todos estavam muito alegres com as coisas valiosas que ouviram.”
Em 1905, William Hersee, de Hamilton, Ontário, pôde fazer arranjos para entrar no serviço de peregrino. Embora estivesse bem em sentido financeiro e pudesse permanecer em Hamilton, Hersee tornou-se logo uma figura familiar para muitos ao passo que viajava pela América do Norte, servindo por muitos anos como peregrino aqui e nos Estados Unidos.
O irmão Hersee, que fora batizado em 1893, em London, Ontário era de estatura baixa, mas tinha ar impressionante. Especialmente nos anos posteriores, seus cabelos brancos faziam realçar sua disposição amável que se refletia, em parte, em ele dar atenção especial às crianças e a outros jovens. Um que era mero menino naquele tempo relembra:
“Depois do jantar, o irmão Hersee levou-me aos campos junto com meu irmão Joe, para passearmos durante o crepúsculo. Sentamo-nos um pouco, de costas contra um poste, e olhamos para os campos arados, em direção do sol poente na campina. Quem visse o sol se pôr na campina poderia apreciar o cenário diante de nós: o azul do céu em cima, o horizonte nesse momento, vermelho-carmesim com faixas de brilho laranja que se estendiam até longe no firmamento, e o sol, brilhando em todo o seu fulgor, qual enorme bola de fogo, aos poucos desaparecia de vista. Ao nosso redor, as árvores com os sons noturnos dos pássaros que se recolhiam, e ao longe no pasto, à nossa direita, cavalos rinchando ao mordiscarem a relva. Que magnífico ambiente para falar sobre as criações de Deus e seu reino com esse homem sereno e devotado! Essa foi uma ocasião que jamais esquecerei.”
Não é de admirar que até hoje, 50 anos depois que o irmão Hersee visitou seus lares, alguns ainda lembram seu ministério com satisfação e apreço. Especialmente nas suas orações, a sua profunda espiritualidade impressionava a jovens e a idosos. Um casal fez a observação: “Ele era grande fonte de encorajamento para nós dois. Suas orações eram deveras um estímulo, visto que parecia que transportava a pessoa para os próprios céus.”
William Hersee serviu a Jeová — e a co-adoradores do verdadeiro Deus — fielmente por metade de um século. O fim de sua carreira e serviço cristãos na terra chegou em 1943. É fácil ver como os esforços humildes e piedosos de tais peregrinos do passado fortaleciam espiritualmente a seus irmãos na fé.
MAIS LUZ EM MANITOBA
A grandiosa mensagem a respeito da ‘restauração de todas as coisas’ alcançou primeiro a Rapid City, em Manitoba, em 1898. (Atos 3:19-21) o colportor Geoffrey Webb entrou então em cena ali e pregou aos homens de negócios reunidos em volta do fogão bojudo, no fundo da loja de artigos gerais de A. W. Leflar. Por algum tempo, o resoluto anglicano Bowen Smith, que administrava o depósito local de madeiras, contradisse as observações de Webb. Mas Smith convenceu-se por fim e, junto com Leflar e diversos outros, organizou a primeira classe de Estudantes da Bíblia naquela parte do Canadá.
Leflar devotou-se de todo o coração a ensinar outros. Viajando a cavalo e de charrete, pregou entusiasticamente em grande parte do território adjacente. Quando C. T. Russell visitou aquela região e deu discursos ali, foram úteis o cavalo e a charrete de Leflar. De fato, até mesmo agora só é preciso um pouco de imaginação para visualizar o cocheiro e seu visitante nessa charrete puxada por um cavalo, ao passo que viajavam de lugar em lugar através daquelas vastas campinas!
Com o passar dos anos, o lar de Leflar se tornou o centro das atividades cristãs naquela parte do Canadá. Era o local de parada de muitos colportores e peregrinos. Realizaram-se ali pequenos congressos. Quando se formou uma congregação, A. W. Leflar tornou-se o primeiro superintendente. Todavia, nenhuma de suas atividades, ou as de outros Estudantes da Bíblia, naquela região, foi sem sacrifício e sem suportar oposição. As pessoas expressavam desprezo e ódio aos “russelitas”, como os chamavam, e isto dificultava o rumo dos cristãos. Não obstante, perseveraram sob perseguição, e o irmão Leflar serviu fielmente até sua morte em 1946.
IMPLANTA-SE A VERDADE EM ALBERTA
A determinação cristã e um espírito similar de abnegação resultou também na bênção de Jeová em Calmar, Alberta. Em 1895, o Estudante da Bíblia de nome August Dahlquist foi para lá procedente da Dacota do Norte, E. U. A. Foi seguido de uma “afluência” de escandinavos em 1889, pois famílias com nomes tais como Anderson, Engberg, Hammer, Melin e Peterson chegaram a Calmar, no Canadá, procedentes da vizinhança de De Lamere, Dacota do Norte. Essas famílias já eram ativos Estudantes da Bíblia quando deixaram os Estados Unidos.
Uma dessas famílias de pioneiros foi a de Knud Pederson Hammer. Ele era ministro ordenado, batista, na Dacota do Norte, quando um Estudante da Bíblia colocou um livro com ele em 1890. Segundo um dos descendentes de Hammer, esse pregador batista “logo reconheceu que esse continha a verdade. Como resultado, K. P. Hammer levantou-se na igreja, em 1891, e informou a congregação de que ele, sua esposa e seu bebê nos braços estavam saindo de ‘Babilônia’. Saíram com sua filha ainda bebê, Hannah, para nunca mais voltar para o domínio da religião falsa”.
Em 1892, o irmão Hammer visitou sua cidade natal em Skien, na Noruega. Por causa dessa visita, sua mãe e sua irmã manifestaram interesse na mensagem do Reino.
Fornecendo alguns pormenores posteriores, um descendente do irmão Hammer relata: “Segundo certo plano, em 1899, um grupo de 50 pessoas alugara um vagão de trem. Planejavam ir para a região de Calmar juntos. Aí estava, pois, um grupo organizado de Estudantes da Bíblia prestes a embarcar numa nova vida para um novo país. No momento em que o trem ia partir, K. P. Hammer recebeu um convite de Charles Taze Russell para ir à Noruega como representante da Sociedade e formar ali a primeira congregação. Depois de considerar o assunto com os irmãos, foi decidido que Hammer devia aceitar o convite de Russell.”
A família de Hammer foi a Calmar sob os cuidados de outros Estudantes da Bíblia, ao passo que ele viajou para a Noruega. Embora encontrasse algumas pessoas interessadas enquanto esteve ali, não se formou nenhuma congregação. Qual era a situação quando voltou para junto de sua família? O relato citado anteriormente continua:
“Uma agradável surpresa aguardava K. P. Hammer ao retornar. John Frederickson, um mestre carpinteiro e construtor, havia erigido, com a ajuda de outros irmãos, uma ótima casa pequena no sítio de Hammer. Este é apenas um dos muitos atos de amor e bondade que os irmãos demonstravam uns para com os outros naqueles tempos antigos.” — João 13:35.
As coisas espirituais vinham em primeiro lugar entre esses Estudantes da Bíblia em Calmar, entre os quais estava Andrew Melin. Seu filho relembra: “Toda vez que chegava nossa correspondência . . . passávamos a noitinha sentados em volta da mesa com apenas uma lâmpada a querosene para iluminação, e escutávamos papai ler nosso exemplar da Torre de Vigia. Vinha no começo em inglês, mais tarde, porém, recebíamos em sueco e então mamãe podia entender também.”
Os Melins, John Frederickson e K. P. Hammer, quer a pé quer a cavalo, deram testemunho extensivamente, trabalhando com os volumes da Aurora do Milênio. Não havia muitos lugares onde essas testemunhas de Jeová não fossem bem conhecidas no distrito de Calmar. Não era que tivessem muito tempo de sobra. Estavam num país em que o governo cedia terras aos colonos e tinham de trabalhar arduamente para limpar o terreno (pelo menos 8 hectares para obter o título), usando cavalos, bois e suas próprias mãos. A maior parte de seu alimento tinha de ser produzida ao mesmo tempo. Por fim, algumas dessas famílias de Estudantes da Bíblia tinham até 13 filhos. Portanto, para ganharem dinheiro para comprar as coisas necessárias, esses irmãos aceitavam qualquer serviço extra que aparecesse, mesmo ganhando apenas 35 centavos de dólar (Cr$ 10,00) por dia! Com efeito, eram abnegados, amorosos, diligentes, fiéis — e Jeová, portanto, os abençoou ricamente.
Ao passo que essas famílias cristãs cresciam, e mais pessoas recém-interessadas se associavam com elas, fez-se em Calmar uma construção de madeira para servir de local para reuniões. Os bons alicerces espirituais lançados naqueles dias, resultaram em muitas testemunhas leais de Jeová, e os nomes de família daqueles antigos Estudantes da Bíblia são agora bem conhecidos em todo o Canadá ocidental. Também, ainda há uma congregação cristã ativa em Calmar.
DESPONTA UM NOVO SÉCULO
É impossível mencionar os primeiros desenvolvimentos em todo lugar ou citar o nome de todas as pessoas e famílias que serviram a Jeová naquele tempo. Contudo, era evidente que Deus estava abençoando seu povo. Por exemplo, em 1899, o relatório das celebrações da Refeição Noturna do Senhor indicaram que havia muitos grupos pequenos, mas em desenvolvimento. Naquele ano, em Ontário as assistências foram as seguintes: Brantford 22, Dorchester 5, Goderich 4, Hamilton 10, London 7, Meaford 5, Niagara Falls 7 e Toronto 21. As assistências à Comemoração em Manitoba foram: Brandon 8, Clive 4 e Rapid City 10. Os relatórios de outras áreas incluíam Wharnock, na Colúmbia Britânica, 5; Regina, nos Territórios Norte-Ocidentais (agora Saskatchewan), 7, e Truro, na Nova Escócia, 8. Outros grupos também se reuniram naquele ano para comemorar a morte de Cristo.
Realmente, pois, ao despontar um novo século, a obra de anunciar a restauração de todas as coisas por meio do reino de Deus estava sendo estabelecida através do Canadá. Para fortalecerem os grupos de Estudantes da Bíblia em desenvolvimento, os peregrinos continuaram a visitar seus concrentes, e realizavam-se regularmente em vários lugares congressos edificantes.
Assim se dava que, ora aqui, ora ali, anglicanos, presbiterianos, batistas e outros — às vezes figuras destacadas nessas organizações — abandonavam corajosamente a religião falsa. (Rev. 18:1-4) Essas pessoas davam a conhecer a outros espontaneamente as verdades bíblicas que elas próprias aprendiam.
CRESCIMENTO APESAR DE OPOSIÇÃO
A expansão estava certamente em andamento. Por exemplo, o aumento de classes dos Estudantes da Bíblia em vários lugares não só significava reunir-se para estudo em lares particulares, mas alugar salões para reuniões aos domingos. Naturalmente, tal aumento acarretava oposição. Visando neutralizar o crescimento e a influência do povo de Jeová, alguns críticos religiosos chegaram muitas vezes a se exceder. Por exemplo considere o que aconteceu em Nashwaak, Nova Brunswick, em 1904, segundo relatado por Cecil Scott.
O madeireiro Hezekiah London, pessoa religiosa, construíra uma igreja num canto do sítio de sua família. Suas sete filhas cantavam todas no coral. Certo dia, London recebeu pelo correio alguma literatura que um amigo em Connecticut, E. U. A., Estudante da Bíblia, lhe enviara. Depois de ler essas publicações, Hezekiah escreveu para a “Casa da Bíblia” em Allegheny, Pensilvânia, E. U. A., e recebeu mais literatura. Pouco depois de a ler, ficou surpreso, certo domingo, quando o clérigo local falou sobre “Os Estudantes Internacionais da Bíblia e o Pastor Russell”. Não só era o sermão depreciativo; estava muito longe de ser verdade. Quase na metade desse, London levantou-se, pegou a esposa pela mão e disse para suas filhas no coral: “Venham meninas. Vamos para casa.” Todos os nove se retiraram. Visto que Hezekiah London havia doado a construção e era o principal esteio financeiro da igreja, a congregação logo ‘desmoronou’. O pregador foi embora e o prédio ficou fechado.
Pouco depois, Hezekiah London fez arranjos para que os peregrinos visitassem Nashwaak. Algumas semanas antes da chegada de um peregrino (cerca de duas vezes por ano), London saía de casa a cavalo ou de charrete numa segunda-feira de manhã e não voltava senão no sábado. Nessas viagens colocava tratados e folhetos com as pessoas muitos quilômetros ao redor e as convidava para os discursos que seriam dados pelo peregrino visitante. E o lugar para reunião? Exato! Foi a antiga construção da igreja no sítio de London, em Nashwaak, Nova Brunswick. Hoje, tantos quantos 30 dos parentes de Hezekiah London são Testemunhas de Jeová.
Não muito depois do fim do século, as congregações do povo de Deus cresciam em vários lugares. Todavia, em algumas partes do Canadá, a situação ainda era como nas comunidades maiores uma década ou mais antes. Por exemplo, havia áreas em Manitoba onde pessoas isoladas haviam aceito a verdade bíblica, mas não tinham íntima associação com outros cristãos e raramente recebiam visitas dos peregrinos. Não obstante, essas pessoas ficaram firmes, e Jeová as sustentou espiritualmente.
A senhora Sample, que morava perto de Souris, Manitoba, ilustra este ponto. Ela possuía nossa literatura desde 1897, e adquirira revistas de certo John Kerslake, mas procurava continuar na igreja para ensinar nas escolas dominicais da localidade. Em 1903, chegou o dia do rompimento. Ela se pôs de pé dentro da igreja e disse a todos os presentes a razão porque tinha de se separar da cristandade. Sua vizinha mais próxima procurou fazê-la voltar à igreja, e os pregadores entraram em ação. Mas nada disso adiantou. Ela se manteve firme. Mais tarde, a vizinha, a Sr.ª Nay, também aceitou a verdade. Mas tanta coisa a pessoa tinha de fazer sozinha. Eis como o filho da irmã Sample, John, descreveu a sua situação lá naqueles dias: “Não havia servo de congregação [superintendente presidente]. Não havia servo de estudos em que se apoiar. Não havia reuniões. Um coração contrito. Uma Bíblia desgastada. Longas horas de oração.”
AS “BOAS NOVAS” CONTINUAM A ATRAIR OS DE CORAÇÃO HONESTO
Continuaram a se manifestar as pessoas de coração honesto, com o desejo de agradar a Deus, e a decisão de servi-lo, apesar de todos os contratempos. Entre tais pessoas achava-se um ex-capitão do exército, William Meneray. Em 1906, enquanto limpava uma agência de telégrafos em Souris, Manitoba, pouco antes de voltar para casa em Vinipegue, ele encontrou algumas revistas A Torre de Vigia de 1893 e 1894. Embora fossem bastante antigas, levou-as consigo. A esposa de Meneray leu alguns dos periódicos e recomendou a leitura deles a seu marido. O primeiro artigo que ele leu era uma reimpressão de um folheto da Sociedade Torre de Vigia sobre o inferno. Bem, isso foi o começo. Meneray escreveu imediatamente para o escritório da Sociedade perguntando se havia pessoas em Vinipegue que tinham a mesma crença. Recebeu os nomes do Sr. Reginald Taylor e senhora e do Sr. Hamilton e senhora. Antes de 1906, houve alguma associação dos que acreditavam nessas coisas. Com efeito, as visitas dos peregrinos a Vinipegue eram alistadas na Torre de Vigia já em 1901, e, em 1905, publicava uma carta, provavelmente de Frances Hamilton, que falava sobre a celebração da Comemoração por parte dela e de seu marido. Mas, parece que a primeira congregação organizada em Vinipegue começou a funcionar em 1905 os 1906.
Não satisfeito com apenas pregar no seu próprio distrito, Meneray organizou um grande serviço de correspondência. Por esse meio, ele alcançava pessoas isoladas, enviando-lhes tratados e folhetos. Estes tinham títulos tão atraentes como Ladrões no Paraíso e o Que É a Alma? Algumas dessas publicações foram enviadas diretamente para Yukon. George Naish relatou que se suscitou o interesse dos Carment e dos Rainbow em Kamsack, Saskatchewan.
William Meneray fez certa vez uma viagem em volta do mundo com C. T. Russell e outros Estudantes da Bíblia, uma viagem que tornou evidente a tremenda necessidade de um testemunho mundial. O irmão Meneray manteve a fidelidade até o último dia de sua vida na terra, em 21 de janeiro de 1960.
Em 1911, Charles Cutforth, das planícies de Gilberto, em Manitoba, tornou-se ativo como testemunha de Jeová. Seu irmão, H. W. Cutforth, interessou-se também. o lar de H. W. Cutforth tornou-se o lugar de reunião local dos Estudantes da Bíblia. Com o tempo, Charles Cutforth tornou-se colportor e representante viajante da Sociedade Torre de Vigia. Seu filho John, tornou-se pioneiro (1941), serviu como superintendente viajante (1942) e se tornou membro do quadro de trabalhadores da filial da Sociedade em Toronto (1943). Cursou a Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia em 1946 e foi enviado para a Austrália. John Cutforth serviu ali como superintendente de circuito e de distrito. Mais tarde, foi enviado para Papua Nova Guiné, onde ainda serve fielmente.
James Gibson, de Haliburton, Ontário, foi outro homem de coração honesto que reconheceu a verdade de Deus nos escritos de C. T. Russell. Isso foi em 1907, quando ele recebeu a literatura enviada por James e Alexander Brown, parentes de sua esposa, em Novo Liskeard, Ontário. Mas, sua esposa, Margaret, não olhou com bons olhos naquela época para essas publicações. Após a morte de Gibson, em 1908, porém, ela foi visitar os Brown por seis semanas. Quando Margaret Gibson voltou, “apegou-se firmemente à verdade e não podia pensar nem falar sobre outra coisa”, conta sua neta, que também diz:
“Até sua morte, em 1929, minha avó dificilmente deixava passar um dia sem escrever ou falar a respeito da verdade a alguém. Antigamente, em Haliburton, ela ia a cavalo ou de charrete para fazer suas visitas. Visto que fora antiga colona na redondeza de Haliburton e zelosa trabalhadora na igreja, conhecia todo o mundo na região circunvizinha. o modo como ela testemunhava fazia lembrar os primeiros cristãos, pois ela preparava uma sacola com seus livros e as coisas necessárias prendia o cavalo à charrete e ia à casa de uma de suas amigas ou vizinhas, anunciando na sua chegada que tinha vindo para ficar ali até que entendessem a mensagem que trazia. Quando encontrava ouvidos atentos, ficava ali dois ou três dias, e lia atentamente as Escrituras com eles, mesmo com lamparina até tarde da noite. Por ela fazer assim a obra, muitas famílias puderam logo conhecer a verdade.”
Em 1911, a congregação de Toronto tinha 110 pessoas presentes à Comemoração. Outras classes, como eram amiúde chamadas, estavam também crescendo. Tantas quantas 108 classes através do Canadá foram visitadas pelos peregrinos naquele ano. o grupo de Vancúver estava tendo bom êxito com os discursos na Sala Pender aos domingos à noite. Samuel Withers (que morreu em 9 de março de 1971, com 96 anos) começou a se associar nessa época com o povo de Jeová. A verdade certamente lhe tocou o coração. Tão impressionado ficou com a matéria do “Plano Divino das Eras” que passou três noites sem dormir, “devorando-o” a bem dizer. Na terceira noite, a esposa acordou e perguntou: “O que você tem, para estar dizendo ‘louvado seja o Senhor’ tantas vezes, às três horas da madrugada?” Obviamente, era grato de obter resposta às suas muitas perguntas.
DECIDIDOS A DECLARAR A MENSAGEM DO REINO
Os que obtiveram conhecimento da verdade bíblica estavam ansiosos de partilhar as boas novas do Reino com outros. Como apenas um exemplo, foi no ano de 1912 que Julius W. Lundell tomou a decisão de fazer algo a respeito de seus contatos com a mensagem proclamada pelos Estudantes da Bíblia. Sua filha, Olive Mais, fornece alguns pormenores, dizendo:
“Julius W. Lundell ouviu a verdade pela primeira vez em 1903. Ele ensinava na escola dominical na Igreja ‘Missão Livre’ na Dacota do Norte [E. U. A.] quando outro instrutor lhe disse que ouvira um discurso que provava pela Bíblia que não há inferno. Daí, em 1910, meu pai chegou a Saskatchewan no norte como colono pioneiro de um sítio 20 milhas [32 quilômetros] ao norte do vilarejo de Maidstone. Certo dia, um vizinho lhe emprestou um livro sobre o assunto da evolução. Enfiado dentro deste estava um folheto sobre O Que Dizem as Escrituras Sobre o Inferno? Ali estava a prova daquilo que seu amigo lhe dissera.
“Dois anos mais tarde, apareceu um anúncio na publicação Free Press de Vinipegue, feito pelo irmão Meneray. Fazia a pergunta: ‘Sabe que os Tempos dos Gentios terminarão em 1914?’ [Luc. 21:14, Versão Rei Jaime] Meu pai encomendou literatura, e, quando chegaram os Estudos das Escrituras pelo correio, ele leu dia e noite sem cessar por uma semana. Com lâmpada a querosene, ele continuou a ler até tarde da noite. No fim da semana, sabia que encontrara a verdade. Com seus livros e a Bíblia debaixo dos braços, caminhava até as casas dos vizinhos para lhes falar sobre as boas novas. A reação deles foi: ‘Lundell enlouqueceu!’”
Mas isso estava longe de ser verdade, e foi só o começo do serviço ativo do irmão Lundell a Jeová. o relato de sua filha continua: “Plenamente convicto da verdade, meu pai encomendou e colocou caixas de literatura naqueles anos . . . Daí, em 1917, o irmão Andrew Melin, de Calmar, em Alberta, fez uma viagem a diversas colônias suecas para dar discursos bíblicos. Assim, ele veio à nossa comunidade, em Milleton, e foi o primeiro a prestar ajuda a meu pai para organizar suas atividades. Não demorou muito e a fotografia de meu pai aparecia nas notícias, e ele dava discursos em todas as escolas e salões próximos da comunidade, ao norte e ao sul do rio Saskatchewan.”
Contudo, dar discursos bíblicos não era tudo para declarar a mensagem do Reino. Quando viajava, o irmão Lundell sempre levava consigo uma mala cheia de literatura bíblica. Sua filha acrescenta: “Quer durante um leilão, quer durante a Feira de Lloydminster, podia-se sempre encontrar papai junto a seu carro, com um grupo de homens de pé ou sentados em volta, empenhados numa grande palestra ali. Quando chegava a hora de ir para casa, a mala com a literatura que havia levado estava vazia. Certa vez, quando ficamos atolados na lama e chegou um homem com um par de malas, seu pagamento saiu da mala marrom. Num restaurante grego, em Battleford do Norte, uma palestra que começara com o dono logo envolveu a todos no refeitório no fim, a mala estava novamente vazia.”
É por certo, elogiável tal determinação de dar a conhecer a mensagem do Reino a outros. Por causa de tão excelente espírito da parte do povo de Deus, um ótimo trabalho foi feito em declarar as “boas novas”. Por conseguinte, a primeira década de 1900 terminou com um grande aumento no número dos verdadeiros adoradores na maior parte do Canadá. o aumento era, pois, evidente em todas as províncias, e em grandes números em algumas delas. E um progresso similar vinha sendo feito na segunda década do século vinte. Mas revelou ser também um período que pôs à prova a fé desses sinceros Estudantes da Bíblia.
CLÉRIGOS LANÇAM ATAQUE VIOLENTO!
Uma das mais antigas congregações do povo de Jeová que foram estabelecidas no Canadá foi a de Hamilton, Ontário. Aquela forte e muito ativa congregação tinha de ser natural” mente desaprovada pelos clérigos. Não tendo nenhuma defesa bíblica contra as poderosas investidas da verdade, os clérigos recorreram à invectiva pessoal. Lançaram um ataque pelo que parece na tentativa desesperada de destruir um homem — C. T. Russell.
Um clérigo que costumava fazer isso em Hamilton era pregador batista, bombástico, de nome J. J. Ross. Em 1912, escreveu um panfleto insultuoso em que fazia muitas acusações falsas contra Russell. o irmão Russell, seguindo a admoestação de seu consultor jurídico, J. F. Rutherford, instaurou processo contra Ross acusando-o do crime de libelo difamatório. Como querelante, Russell assistiu ao julgamento para apresentar evidência, e se submeteu a um longo interrogatório minucioso e rigoroso de aproximadamente cinco horas. Depois do julgamento, seu oponente batista acusou falsamente a Russell de ter cometido perjúrio quando se lhe perguntou sobre seu conhecimento do grego. Essa acusação de “perjúrio” foi publicada no segundo panfleto de Ross em ataque a Russell. o clérigo fazia nele uma citação incorreta do que fora dito durante o julgamento, apresentando a pergunta do interrogador e a resposta de Russell como seguem:
P. “Conhece o grego?”
R. “Ah, sim.”
Omitindo a palavra “alfabeto” desta pergunta, Ross tentou provar que havia contradição direta na pergunta e na resposta posteriores:
P. “Está familiarizado com o idioma grego?”
R. “Não.”
O que realmente aconteceu se evidencia do registro oficial (Tribunal Policial da Cidade de Hamilton, Ontário, 17 de março de 1913). Este revela que C. T. Russell não cometeu perjúrio. O interrogatório minucioso (feito por George Lynch-Staunton, K. C.) foi como segue, segundo o livro as Testemunhas de Jeová no Canadá (em inglês), de M. James Penton:
“Pergunta: ‘Não professa, então, ter estudado o idioma latim?’
Resposta: ‘Não, senhor.’
Pergunta: ‘Nem o grego?’
Resposta: ‘Não, senhor.’”
Depois disso, perguntou-se a Russell se conhecia letras individuais gregas, e ele disse “talvez me engane com algumas delas”. Segundo o livro que acabamos de mencionar, pouco depois “Lynch-Staunton fez a seguinte pergunta a Russell: ‘Conhece o idioma grego?’ A resposta de Russell foi um enfático ‘Não’.”
Portanto, não havia dúvidas sobre o assunto, C. T. Russell não cometera perjúrio segundo a acusação falsa de Ross após o julgamento. Esse próprio caso foi mais tarde perante um júri de acusação, que se recusou a devolver o libelo acusatório. Portanto, o caso nunca foi perante a Corte Suprema de Ontário para julgamento. Segundo a regra legal em Ontário, só o procurador da coroa pode falar perante o júri de acusação. Não sabemos como o caso foi apresentado a esse ou o que fez que esse organismo o rejeitasse. Nunca se fez uma decisão sobre os méritos do caso. Nos seus escritos subseqüentes, Ross encarou este resultado inconclusivo como se tivesse ganho uma grande vitória. Ele e outros escolheram aparentemente esquecer que Russell não era o homem sob julgamento.
NÃO SE PERTURBARAM COM AS ARTIMANHAS DOS OPOSITORES
Não obstante o ódio do clero da cristandade, o povo de Jeová não se perturbou. Em 1913, realizou uma série de congressos, e foram assembléias bem-sucedidas. Por exemplo, cerca de 1.000 pessoas assistiram ao congresso em Vitória, Colúmbia Britânica, e cerca de 4.500 pessoas estiveram presentes ao de Vancúver. Esta série de assembléias abrangeu os centros maiores do oeste, antes da assembléia de uma semana de duração em Toronto. A assistência ali foi de cerca de 1.200 pessoas sendo que cerca de metade dos congressistas veio dos Estados Unidos.
Mais de 200 congressistas viajaram com C. T. Russell de um congresso a outro. Certa reportagem da imprensa anunciava a chegada do trem especial do congresso em Edmonton Alberta, e daí dizia:
“Quando se perguntou sobre a acusação de ser o Pastor Russell um pregador da ‘inexistência do inferno’, ele replicou:
“‘Não há ministro no mundo que pregue mais o inferno do que eu, mas o inferno que eu prego é o inferno da Bíblia e não do tipo de inferno de fogo, enxofre, forcado e escorrega de lixa. O inferno da Bíblia é a interpretação mais razoável dos termos grego e hebraico — Hades e Seol — que significam a condição da morte, o túmulo.’”
A respeito dessa última assembléia de 1913, em Toronto, A Torre de Vigia dizia: “Alguns assistiram a esse congresso em grande parte porque perceberam que um espírito mau de calúnia e de falsa representação estava, por algum motivo procurando causar dano a uma obra religiosa. Satanás e seus servos cegos e desencaminhados excedem-se nos seus empenhos de prejudicar a causa do Senhor. Às vezes, o Senhor passa por alto a ira do homem para seu próprio louvor e para promover a verdade. Como, por exemplo, no caso de um homem que, ao se lhe dizer que o Pastor Russell era o Anticristo, foi ver como era o Anticristo. Ao ouvir ali a alegre mensagem do Evangelho, cativou-lhe o coração e agora ele se regozija.”
No congresso de Toronto, alguns oponentes foram ao ponto de se apresentar no local com um enorme letreiro em que aparecia matéria depreciativa, inclusive os dizeres conspícuos “Russelismo, Aurorismo do Milênio, Doutrinas dos Diabos”. Mas a polícia os fez retirar-se. Segundo o News de Toronto (de 25 de julho de 1913), durante aquela semana “as atividades dos anti-russelitas de Toronto” não se limitavam apenas a essa cidade, pois o jornal dizia: “Literatura anti-russelita tem sido enviada em todo o mundo a diversas secretarias desse movimento, segundo o Sr. Philip Sidersky, de Baltimore, [E. U. A.], membro da Federação Nacional das Missões Evangélicas.” Mas o jornal News trazia uma manchete que indicava que os Estudantes da Bíblia “não se perturbaram” com as artimanhas dos opositores.
SATISFEITA A FOME ESPIRITUAL
Uma pessoa que assistiu ao congresso de Toronto, em 1913 foi Tassey Raycove. Ele fora o cantor da igreja ortodoxa local em Macedônia. Ele limpava também a igreja, o que lhe dava oportunidade de ler a Bíblia, guardada ali, mas que o sacerdote nunca a usava. A leitura das Escrituras causou em Raycove uma fome pela verdade que ainda o torturava depois de se mudar para o Canadá. Ali, teve oportunidade de investigar diversas religiões. Mas, uma após outra deixaram de o satisfazer. Ele era o principal ancião de um grupo de batistas búlgaros em 1913, quando o irmão Russell assistiu ao congresso de Toronto em que os opositores religiosos haviam tão veementemente tentado interromper. O filho de Tassey Raycove, Anthony, conta:
“A notícia desta visita foi recebida com ira e desprezo pelos religiosos babilônicos de Toronto, que disseram: ‘Aquele diabo do Russell virá à cidade no domingo.’ Meu pai repetiu as palavras, mas disse consigo mesmo: ‘Eu vou ouvi-lo assim mesmo.’ E isso foi o momento decisivo em sua vida, porque ouviu então pela primeira vez a mensagem que satisfaz a alma e que as ovelhas reconhecem como sendo a voz do Pastor Excelente.”
Depois de ouvir o discurso de Russell, de duas horas de duração, sobre a alma, Raycove obteve e leu avidamente um volume dos Estudos das Escrituras. Mandou pedir depois os outros volumes e os leu com a mesma avidez. “A busca da verdade tinha por fim terminado” declara seu filho, acrescentando: “Daí, deu-se o seu dramático rompimento com Babilônia, a Grande. o ministro estava dando um de seus sermões costumeiros sobre o inferno de fogo e enxofre quando cometeu o erro intencional, mas ‘fatal’, de citar incorretamente um texto da Bíblia. o ancião principal pulou de seu assento, pondo se de pé, e contradisse diretamente a declaração do ministro e censurou-o com severidade por citar incorretamente o texto.” Seguiu-se ali um breve, mas acalorado, debate que abriu os olhos de muitos membros.
OS PRIMEIROS PASSOS DUM SERVO FELIZ DE JEOVÁ
Foi na segunda década do século vinte que Thomas James Sullivan começou seu serviço fiel como escravo feliz de Jeová. Enquanto trabalhava em Brooklyn, Nova Iorque, E. U. A., em 1911, Sullivan ouviu um colega dizer que o Pastor Russell não acreditava no inferno. Essa declaração causou uma impressão nele, porque T. J. Sullivan nunca conseguira conciliar a doutrina do tormento eterno com o Deus de amor. (1 João 4:8) Entretanto, esse jovem nunca mais ouviu algo sobre essas crenças senão em 1913.
Em novembro daquele ano, Sullivan estava em Vinipegue, Manitoba, ajudando a instalar um sistema de conferir contas para uma cadeia de hotéis que estavam sendo construídos pelas companhias de estrada de ferro. Entre os funcionários estava uma jovem que sempre trazia uma Bíblia consigo, e tinha, expostos no seu escritório, seis volumes dos Estudos das Escrituras do Pastor Russell. Ela conhecia tão bem a Bíblia que até mesmo a gerência fazia muitas perguntas bíblicas a ela. Mas por que não deixar T. J. Sullivan continuar a história? Há alguns anos, ele escreveu:
“Às vezes, tínhamos de trabalhar até meia-noite ou mais. Visto que as artérias de transporte fechavam por volta de meia-noite, e ela tinha de fazer uma longa caminhada até sua casa, eu me oferecia para acompanhá-la. Essas caminhadas forneceram oportunidade adicional de considerar a Bíblia, e o ambiente era realmente inspirador. Para avaliar isso, a pessoa precisa conhecer os grandes campos abertos do noroeste. A temperatura oscilava geralmente entre 20 e 40 graus [28,9 a 40 graus centígrados] abaixo de zero a essa hora da noite. A neve se amontoava em cada lado das calçadas, entre três e cinco pés [0,90 e 1,5 metros] de altura. Um céu azul, frio e claro em cima e as luzes setentrionais, ou aurora boreal, através do firmamento acentuavam a grandeza e a majestade da criação de Deus. Falar a respeito dos propósitos de Deus em tais condições era para mim muito impressionante e sagrado. Parecia que tudo dentro de mim desejava alcançar o amor e o cuidado de tão maravilhoso Criador.”
T. J. Sullivan alcançou realmente tal amor e cuidado divinos. Ele começou a se associar com os Estudantes da Bíblia em Vinipegue e foi batizado como servo dedicado de Jeová antes da celebração da Refeição Noturna do Senhor em 1916. Pode-se acrescentar que em setembro de 1918 o irmão Sullivan se casou com a irmã Evelyn Finch, a primeira testemunha de Jeová que ele encontrara ao chegar ao Canadá, e que era a jovem que havia feito tanto empenho para ajudá-lo a conhecer os propósitos de Deus.
Em 1924, o irmão e a irmã Sullivan tornaram-se membros da família do Betel de Brooklyn. Ambos serviram ali fielmente pelo resto de sua vida terrestre. T. J. Sullivan foi um escravo feliz e fiel de Jeová em Betel (tornando-se por fim membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová) até sua morte em 30 de julho de 1974, à idade de 86 anos.
CUMPRIRAM-SE “OS TEMPOS DESIGNADOS DAS NAÇÕES”!
Houve grande expectativa com a chegada do ansiosamente aguardado ano de 1914! Alguns esperavam mais do que o que C. T. Russell ou A Torre de Vigia predissera. Houve muita especulação, e o fato de não se concretizarem algumas dessas esperanças pessoais podia levar a desapontamento, especial. mente para os espiritualmente imaturos. Mas a maioria dos maduros puderam ver que podia acontecer exatamente isso. Em fins de 1913, um canadense de bom discernimento escreveu à Sociedade.
“Embora nosso Pai celestial ache conveniente provar a fé de seu povo em vários pontos, parece, contudo, que no ano vindouro enfrentaremos uma prova mais severa de nossa confiança em Deus e na sua Palavra.
“Estou ciente, porém, de que a fé dos estimados irmãos é muito forte, e creio que continuarão a travar com êxito até o fim a boa luta pela fé.
“O Pastor Russell, conforme sempre o entendi, nunca afirmou que sua interpretação das profecias sobre cronologia fosse infalível. Seus escritos sempre me deram essa impressão.
“Se o ano de 1915 chegar e não se presenciar tudo aquilo que muitos irmãos esperam, pouco importará para mim. Sabemos ainda que a ‘Tua Palavra é a verdade’, e que nenhum jota ou til passará até que tudo seja cumprido. Sabemos adicionalmente que, segundo o sinal dos tempos, esse dia não está muito longe.
“Quando sofremos provações ardentes, lembremo-nos das palavras inspiradas: ‘Não lanceis fora pois, a vossa confiança, que tem uma grande recompensa.”
Deveras, o artigo principal da própria edição da Torre de Vigia (A Sentinela), que trazia esta carta, indicava que nem tudo o que se esperava que acontecesse em matéria de mudanças rápidas e radicais poderia ocorrer em apenas um ano. Mas dizia que “o último ano dos chamados ‘Tempos dos Gentios’ na Bíblia foi o Ano de 1914”. (Luc. 21:24, Almeida) o artigo declarava também: “Está além do poder de nossa imaginação visualizar um cumprimento em um só ano de tudo o que as Escrituras parecem indicar que se deve esperar antes de iniciar o reino de paz.”
Algumas congregações já eram bastante grandes em 1914. Em Toronto houve uma assistência de 204 pessoas à Comemoração naquele ano. Em Vancúver houve 195 e em Vinipegue, 105. Mas restava ver quem se apegava, por assim dizer, a uma data e quem servia a Jeová por amor.
O FOTODRAMA DA CRIAÇÃO
As pessoas que estavam ocupadas fazendo discípulos e que não estavam só ‘olhando para o relógio’ acharam emocionantes aqueles tempos. Entre as coisas que os ajudaram a alcançar muitas pessoas com as “boas novas” estava a produção audiovisual que se tornou ‘assunto do dia’ na época. Chamada de “Fotodrama da Criação”, consistia em diapositivos fotográficos e película cinematográfica, acompanhados de gravações fonográficas de discursos e de música. Todos os diapositivos e os filmes tiveram de ser coloridos à mão. O Fotodrama durava oito horas, e, em quatro episódios, levava o auditório desde a criação, através da história humana, até o clímax do propósito de Jeová para a terra e para a humanidade no fim do reino milenar de Jesus Cristo.
Um espetáculo de oito horas, sonoro e em cores em 1914? Quem o produziu? Um dos “magnatas” de Hollywood? Não. O Fotodrama foi produzido pela Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia. A entrada era inteiramente grátis e nunca se fez coleta. Outrossim essa produção sonora e em cores, que reunia fatos bíblicos, científicos e históricos, veio a existir anos antes de serem vistos pelo público em geral os filmes cinematográficos comerciais em cores e de longa metragem e os com o diálogo e a música gravados.
Tão boa era a qualidade da fotografia e do som do Fotodrama que alguns espectadores pensaram que C. T. Russell estivesse presente em pessoa quando ele apareceu na tela na cena inicial para apresentar o espetáculo. Quão vívida e emocionante foi a representação pictórica da ressurreição do filho da viúva, milagre realizado por Deus por meio do profeta Elias! E que prazer foi ver uma flor desabrochar e um pinto sair da casca do ovo! Sim, o emprego da fotografia de quadro a quadro tornou possível essas memoráveis caraterísticas do Fotodrama.
As congregações locais anunciaram o Fotodrama e convidaram o público. Alguns cartazes colocados nos prédios tinham 3,4 x 4,3 metros em tamanho. A reação foi surpreendente. Os cinemas ficavam superlotados semana após semana.
Em Hamilton, o Fotodrama foi exibido durante três semanas no Teatro da Grande Ópera, e em Toronto, no Grande Teatro. Quando as multidões saíam de uma das sessões, ouviram, pela primeira vez, a notícia chocante de que a guerra havia sido declarada na Europa. Isso deve ter inculcado indelevelmente na mente deles alguns dos pontos que acabavam de ser abrangidos na apresentação que viram e ouviram. Naquele tempo, em Toronto, o Fotodrama foi também exibido na Prisão Central (mais tarde transferida para Kingston).
Entre os métodos empregados para garantir que tantas pessoas quantas possível vissem o Fotodrama foi usado o de convidar os escolares às exibições desse. Por exemplo, em 1914, os alunos tiveram permissão de sair da escola para esse fim em Halifax, Nova Escócia. O mesmo se fez em Vitória, na Colúmbia Britânica, diversas classes assistindo ali. Charles W. Forbes, que tinha 14 anos nessa época, viu o Fotodrama desse modo e mais tarde tornou-se Estudante da Bíblia. Nunca esqueceu o que viu, e ele nos conta: “Estando o cinema superlotado, eu tive de ficar de pé junto com outros. Mas valeu a pena ver a obra do Grande Criador, especialmente mostrada na imensa e estrelada abóbada celeste, e indicava o que um todo-poderoso Deus havia produzido.”
Foram feitos esforços para mostrar o Fotodrama aos poloneses e aos ucranianos do Canadá. Havia exibições nos grandes centros como Toronto e Vinipegue, bem como em outros lugares no oeste. Foram feitas traduções do texto e das gravações em polonês e em ucraniano.
A beleza e dignidade do Fotodrama era tão imensa que hoje mais de 60 anos depois, há os que relembram as cenas e a mensagem, e até mesmo os locais das exibições. Para alguns esta produção educacional tem importância especial. Por exemplo, Della Smart, uma cristadelfa, estava confusa por causa do curso dos eventos mundiais e por causa de alguns ensinamentos de sua religião. Orou sinceramente a Deus pedindo ajuda para encontrar Seu povo, a fim de obter esclarecimento desses assuntos em sua mente. Alguns dias mais tarde, ela viu um anúncio do Fotodrama em Toronto. Assistiu à primeira sessão e compreendeu que suas orações foram respondidas. Isso foi em 1916. Agora, a irmã Smart, nos seus mais de noventa anos, continua a servir a Jeová o melhor que pode.
MAS NÃO AGRADOU A TODOS
Na maioria dos lugares, houve ótima cooperação da parte das autoridades e de outros, alguns cinemas foram até mesmo cedidos grátis para as exibições do Fotodrama. Mas em outros casos, houve oposição. Por exemplo, os clérigos de Toronto pregaram sermões contra o Fotodrama e procuraram fazer os gerentes do cinema cancelar os contratos. Todavia isso só serviu para dar-lhe publicidade.
Por volta de 1917, havia sido programado exibir o Fotodrama em Guelph, Ontário. O que aconteceu ali era típico dos esforços feitos para interromper a exibição dele e indica quem agia por trás disso. George Humphries, que morreu em 1974, era um bem-conhecido Estudante da Bíblia que trabalhava no jornal local, o Mercury de Guelph. Nos anos posteriores, eis como relatou ele a história da qual se lembrava bem:
“A primeira exibição no domingo foi bem. Houve boa assistência. Na noite de segunda-feira, durante a reunião do Conselho Administrativo da Cidade, o Conselho procurou frasear uma resolução como segue: ‘Seja resolvido que não se permitirá a exibição de películas cinematográficas aos domingos.’ Naturalmente, isto visava o Fotodrama. Então, um dos administradores observou: ‘Cavalheiros, temos de tomar cuidado com isso. Talvez sejam necessários filmes como esses para fins de guerra.’ Portanto, a resolução foi mudada para rezar: ‘Seja resolvido que não se permitirá a exibição de películas cinematográficas aos domingos, exceto para fins de guerra.’
“Não resta dúvida, naturalmente, de que tínhamos de exigir um esclarecimento desta questão. Eu e o operador tomamos medidas para ir falar com o prefeito em seu gabinete. Jeová nos deu a vitória nisso. Duas coisas salientes estavam em meu favor. o prefeito e meu patrão, o gerente do Mercury de Guelph, o Sr. J. I. Mcintosh, estavam em desavença. O Sr. Mcintosh disse-me: ‘George, obtenha todos os fatos e os imprimiremos.’ Dizer que eu me regozijei é pouco. o gerente do cinema, um católico, mostrou-me o código civil sobre as leis relativas à exibição de películas cinematográficas aos domingos. ‘Quando for falar com o prefeito’ disse ele, ‘mostre-lhe esta página onde a lei diz que, possuindo licença provincial para exibir filmes aos domingos, qualquer que interferir com a sua exibição de filmes aos domingos, quer seja municipal, quer de outra forma, será passível de uma multa de 700 dólares [cerca de Cr$ 21.000,00]’. De posse dessas duas armas, fomos falar com o prefeito em seu gabinete. Fomos chamados, e, quando nos sentamos, o prefeito olhou para mim e disse: ‘Sou contra vocês e usarei todos os meios, legais ou de outra forma, para impedir que exibam esses filmes.’ . . .
“Primeiro, mostrei-lhe o código civil. ‘Onde conseguiu isso?’ perguntou ele. ‘Com o gerente do cinema’, repliquei. Ele telefonou então, mandando chamar o administrador municipal. Quando este chegou, o prefeito lhe informou o que acontecera. Daí, disse ao administrador municipal: ‘O que lhe podemos fazer por isso?’ Este dignitário coçou a cabeça e fez a observação: ‘Podemos elevar a taxa do alvará.’ Isto não pareceu bem ao prefeito. Daí, fixou os olhos em mim e me perguntou: ‘Trabalha no Mercury?’ Com expressão de máxima satisfação no rosto, respondi: ‘Trabalho.’ Ele pareceu derrotado e disse: ‘Não tenho autoridade de fazê-los parar e nem de dizer que continuem.’ Com isso partimos.
“Fui ao escritório do Mercury e forneci todos os pormenores. Naquela tarde, o jornal trazia todos os pormenores na primeira página . . . Abrangia quase uma coluna inteira e a manchete declarava que não se podia parar o Fotodrama. No domingo seguinte, havia uma fila esperando que as portas se abrissem. o cinema ficou superlotado durante o resto da exibição do filme, inclusive durante o discurso público no fim. Podia-se ouvir as pessoas dizer: ‘Por que é que os clérigos estão contra isto?’”
AUMENTO DA OPOSIÇÃO CLERICAL
Os clérigos se opunham também à nossa obra por todos os meios possíveis. Por exemplo, considere o que aconteceu no caso do Estudante da Bíblia de nome Charles Matthews em 1914. Ele se tornou bastante ativo nas regiões da Estação Canaã e do Monte Birch, de Nova Brunswick, em falar sobre a guerra que viria em 1914, e algumas pessoas diziam que ele seria levado para um sanatório de débeis mentais. Mas, quando chegou a guerra naquele ano, eles disseram: “Parece que Charlie tinha razão. Já começou. Pensávamos que o mundo estivesse muito civilizado para acontecer isso.”
Mas foi diferente a reação dos clérigos. Algo tinha de ser feito para neutralizar a influência que Matthews poderia ter então sobre as pessoas. Concordemente, o clérigo R. M. Bynon programou um discurso que seria dado na Igreja Reformada do Monte Indiano, em Berry Mills, no condado de Westmorland, Nova Brunswick. Com que fim? Com o fim de “expor o russelismo”. O clérigo tinha um missionário consigo para apoiar seus pontos de vista. Matthews recebeu um convite que lhe foi entregue em sua casa. Durante o culto, o clérigo e seu associado falaram contra Russell e “suas” doutrinas. Um deles desafiou qualquer pessoa a refutar o que eles disseram. Mas, quando Matthews procurou falar, não lhe permitiram. Finalmente, um dos ministros pausou para dizer “Amém!” Imediatamente, um diácono respondeu: “Sim, amém! Agora deixem que Matthews fale!” Matthews falou, sim, por cerca de meia hora, fazendo uso da Bíblia. Daí, agradeceu à assistência a atenção dispensada. Um ministro tentou opor-se por pular de seu assento e gritar: “Este homem não é convertido. É pagão!” Com isso, porém, a multidão levantou-se e saiu.
Às vezes, havia total desonestidade da parte de algum clérigo. Por exemplo, em Vinipegue, James Kelly havia lido um dos volumes dos Estudos das Escrituras. Eis o que aconteceu pouco depois, segundo relatado pela sua filha, a Sra. Frank Wainwright:
“No domingo, papai, mamãe e todos nós seis saímos para assistir ao culto do Domingo de Páscoa na Igreja Metodista de Fort Rouge. Nunca esqueci aquele sermão, dado por [um clérigo de nome] Salton, porque pareceu tão maravilhoso. Portanto, fiquei confusa sem saber por que vez após vez meu pai franzia a testa e dava pequenas cotoveladas no braço de minha mãe para chamar a atenção dela, dizendo: ‘Lembre esse ponto’ ou: ‘Não esqueça o que ele está dizendo.’ Perto do fim deste sermão interessante, perguntava-me por que o Dr. Salton estragou seu discurso por veementemente avisar sua congregação a não ter nada que ver com esses ‘Estudantes da Bíblia’, especialmente sua literatura [e acusando falsamente] que seu líder, o Pastor Charles Taze Russell, era adúltero e idólatra. . . .
“Durante a longa caminhada de volta para casa, ouvi meu pai dizer para minha mãe que não se preocupasse com a preparação do almoço e que se sentasse e lesse pelo menos determinado capítulo do livro ‘A Batalha do Armagedom’. Perguntava-me por que mamãe ficou tão transtornada ao lê-lo. Finalmente, ela exclamou: ‘Ora, Jim! . . . o Dr. Salton citou palavra por palavra este capítulo — e sem dúvida outras partes deste livro.’ Daí, papai fez minha mãe virar para o frontispício para saber o nome do autor. Era Charles Taze Russell!”
A hipocrisia dos clérigos nos seus ataques contra Russell só serviu para abrir os olhos das pessoas de disposição justa. Começando no domingo seguinte mesmo, a família Kelly foi às reuniões dos Estudantes da Bíblia.
HISTERIA DA ÉPOCA DE GUERRA
Com a chegada da guerra, o clero encontrou uma nova arma para usar contra os Estudantes da Bíblia. A inimizade de alguns líderes religiosos invejosos e seu desejo ardente de impedir o crescimento desses cristãos podiam ser expressos por trás de uma aparência de patriotismo. Esses oponentes aproveitaram a histeria da época de guerra para tachar falsamente os cristãos neutros de serem um perigo para a segurança e o Estado. Isto significava que os próprios clérigos teriam de tornar-se patrocinadores da guerra, mesmo que isso os pusesse em oposição a seus irmãos-clérigos de outras nações. Esta contradição e negarem eles o “Príncipe da Paz” não parecia perturbá-los. (Isa. 9:6, 7) Eis um exemplo do ponto de vista dos clérigos, conforme relembra daquela época a Sra. Frank Wainwright:
“Lembro-me de que um dos mais ousados clérigos mandou declarar nos jornais: ‘Todo homem que morrer na linha de frente das trincheiras tem um passaporte grátis para o céu, e o próprio Deus não pode impedi-lo de entrar.’”
Tornou-se evidente para alguns a responsabilidade do clero em promover a guerra. Em 1924, o Telegram de Toronto relatava:
“Dois jovens universitários, não-graduados, do Colégio Universitário, R. V. Ferguson e W. S. McKay, apresentaram-se perante a Associação Geral de Ministério, de Toronto, para expor os conceitos a favor de ‘Não Mais Haver Guerra’, do grupo da Universidade. O Sr. Ferguson, de quem se diz que passou quatro anos e meio na Guarda Escocesa durante a guerra, declarou que ainda estava para encontrar o homem que tenha ido à guerra pelo princípio da coisa.”
Ferguson foi citado como tendo dito: “Cantávamos: ‘Avante, Soldados Cristãos’, e, daí, enchíamo-nos de rum, a fim de que pudéssemos executar o trabalho vil. Milhares de jovens se alistaram em estado de embriaguez, outros se alistaram para serem vistos de uniforme; outros foram engodados pela propaganda. O púlpito se tornou um posto de alistamento. A igreja foi cúmplice do pecado organizado. Os ministros recrutavam sargentos e as catedrais estavam cheias de estandartes.”
Deveras, a posição do clero na época de guerra, no tocante ao conflito armado, não passou despercebida. Mas o que dizer de sua posição com respeito às atividades dos verdadeiros cristãos?
Parece ingênuo ou injusto dizer que o alvo de alguns clérigos era silenciar os Estudantes da Bíblia? Ora, considere o que Ray H. Abrams escreveu, após a primeira guerra mundial, no seu livro Preachers Present Arms (Pregadores Apresentam Armas). Considerando o papel do clero na época de guerra, ele declarou: “É significativo que tantos clérigos tomaram parte agressiva em tentar exterminar os russelitas. Antigas rixas e ódios religiosos, que não receberam nenhuma consideração nos tribunais em época de paz, foram levados agora à sala do tribunal com o acesso da histeria da época de guerra.”
Mas, antes de relatarmos as ações adicionais de nossos oponentes religiosos, parece apropriado mostrar que, para o povo de Jeová, os anos entre 1914 e 1918 trouxeram outras grandes provações.
CRISTÃOS NEUTROS DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Os cristãos canadenses que mantiveram a neutralidade e respeitosamente recusaram envolver-se na Primeira Guerra Mundial tiveram de suportar diversos sofrimentos. (Isa. 2:2-4; João 17:16) Embora fossem inofensivas essas pessoas, diversas delas não só sofreram encarceramento, mas tratamento desumano, visando arrasá-las, arruinadas espiritualmente. Por exemplo, considere o que aconteceu com Ralph Naish e com Robert Clegg, em Vinipegue. George Naish, que serviu fielmente a Jeová em Saskatoon até sua morte em 1978, relatara:
“Certo dia [Robert Clegg] e meu irmão carnal Ralph foram levados para os banheiros e, ao recusarem novamente concordar em ser soldados, foram postos debaixo de chuveiros frio e quente alternadamente até que, depois de desmaiarem diversas vezes, perderam de vez os sentidos e não foi mais possível fazê-los recuperar os sentidos. Ficaram estirados no chão frio de laje durante muitas horas até que o Oficial da noite os encontrou durante sua inspeção. Foram então removidos para o hospital de S. Bonifácio onde, por algumas semanas, estiveram realmente bem doentes. Os jornais de Vinipegue fizeram muita publicidade disso no dia seguinte, mas receberam logo ordens da Junta de Informação Pública do governo de Otava para não mais publicarem isso, e foi-lhes dito que seriam tomadas certas medidas sob a Ação de Medidas de Guerra caso se fizesse publicidade adicional disso.”
Entre os canadenses que receberam tratamento brutal como cristãos neutros, além de Robert Clegg e Ralph Naish, estavam Frank Wainwright, Claude Brown, Lloyd Stewart, David Cook, Edward Ryan e John Gillespie. Com o tempo, esses homens foram enviados para a Inglaterra, onde por fim foram parar na terrível Prisão de Wandsworth.
A vida nessa prisão era estrênua, e os cristãos neutros encarcerados ali suportaram muitas dificuldades e provas de fé. Por exemplo, Frank Wainwright relembra: “Certa vez, por causa de nossa recusa de treinamento militar, diversos de nós fomos levados para um lugar retirado no pátio da prisão. Estavam ali enfileirados diversos homens uniformizados com varas nas mãos. Um por um, recebemos ordens de correr ao longo do pátio. Se a marcha era lenta demais, éramos agarrados e arrastados a distância toda e éramos fustigados nas costas e nas pernas pelos homens com as varas nas mãos. Fomos a seguir levados de volta para nossas celas. Nossas orações a Jeová para nos dar forças para suportarmos a pressão de tais espancamentos devem ter sido ouvidas, pois nunca mais houve tais ocorrências.”
Claude Brown era o único de cor neste grupo de cristãos, e “recebeu tratamento bem duro dos guardas e dos soldados”, relata o irmão Wainwright, acrescentando: “Certa vez, em Wandsworth, quando ele foi ameaçado com a advertência dos lemas da prisão ‘Aqui, ou vai ou racha’ e ‘Nós domamos leões’, Brown replicou: ‘Mas, olhe, sargento, nós não somos leões. Somos as ovelhinhas do Senhor!’ . . . Depois de ser solto [o irmão Brown], continuou a servir fielmente. Em 1923, foi convidado pela Sociedade Torre de Vigia a servir na África Ocidental para ajudar ali ‘Bíblia’ Brown e sua esposa.”
EVIDÊNCIA DA AJUDA E DA BÊNÇÃO DE JEOVÁ
Certamente, Jeová sustenta seu povo quando sofre por causa da justiça, e a sua fidelidade conduz a ricas bênçãos. (Mat. 5:10; Fil. 4:13) Às vezes, até mesmo os perseguidores cruéis por fim ‘transformam seu coração’. E o testemunho fiel amiúde produz bons resultados. Neste respeito, considere a experiência de George Naish, que declarou:
“No dia seguinte [depois de ser preso], fui levado perante o oficial do exército que comandava a prisão e, depois de longo esforço de fazer com que eu comprometesse outros e especialmente a família com a qual eu morava, ele pôs um relógio em cima de sua escrivaninha e me informou que eu tinha três minutos para responder a umas 20 perguntas ou seria ‘levado para baixo para o número seis e fuzilado imediatamente’. Asseguraram-me que se fez isso com ‘os fulanos covardes que não quiseram lutar pelo seu Rei e pelo seu pais’. A escaramuça verbal não surtindo efeito, ele gritou com toda a força de seus pulmões: ‘Sargento da Guarda!’ o sargento veio correndo com dois recrutas. Nisso, o oficial, um major, gritou o mais alto que pôde: ‘Levem este canalha covarde para baixo, para o número seis, e fuzilem-no !’ Nunca tendo passado antes pelo processo de fuzilamento, eu fiquei perturbado, para dizer o mínimo. Mas orei a Deus pedindo sua ajuda. Empurraram-me e cutucaram-me para dentro do porão e, ao chegar ao ‘Número 6’, a porta abriu-se totalmente e fui empurrado para frente com tremendo pontapé na traseira. Não fui fuzilado, embora nos meses que se seguiram desejasse algumas vezes que o tivesse sido. . . .
“Depois de algum tempo nessa prisão, fui transferido para o acampamento do exército, daí, sob tendas no terreno da Exposição, e assim tive mudança de cenário e de ação. Enquanto eu estava de pé entre as longas fileiras de tendas na frente do lugar de suprimento do quartel-mestre, um oficial jovem, de alta estatura, assistido por dois recrutas, veio rapidamente entre as fileiras. Ouvi o suficiente do que falavam para saber que eu era o assunto da conversa. Pondo-se de pé na minha frente, o oficial ordenou diversas vezes que eu tomasse posição de sentido e, visto que eu não fiz isso, ele me deu um golpe de pugilista debaixo do queixo, laçando-me para o meio das cordas de retenção da fileira oposta de tendas. Como não conseguia desembaraçar-me, ele se jogou por cima de mim e se pôs a estrangular-me. Depois de alguns momentos de intensa dor, desmaiei. A minha lembrança mais vívida do incidente é a mudança rápida da expressão de seu rosto, quando seu ódio ardente o transformou de humano para uma fera.”
Não obstante estas e outras dificuldades o irmão Naish disse: “Foi maravilhoso aprender pela experiência do dia-a-dia que Jeová realmente nunca nos deixa ou abandona. Muitas vezes na oração disse a meu Pai celestial que eu tinha a certeza de ter chegado ao fim de minha própria perseverança. Entretanto, algo sempre acontecia para reavivar meu ânimo e mostrar-me de novo que era seu poder que me sustentava.”
Outrossim, durante esse período de provação, George Naish teve muitas oportunidades de falar a outros sobre os propósitos de Jeová, edificando assim a sua própria fé e plantando algumas sementes. “Algumas dessas amadureceram”, disse ele, “como, por exemplo, no caso do sargento que nos fez desfilar pelas ruas da cidade [de Príncipe Alberto] para exercício. Anos mais tarde, quando eu trabalhava num território rural a alguns quilômetros de Saskatoon, visitei uma casa onde encontrei aquele antigo sargento, agora o Sr. Roger Barker. Ele convidou-me calorosamente a entrar. Depois de algumas visitas, ele e a esposa começaram a se associar com a congregação de Saskatoon e entraram na verdade.”
Lembra-se do major que se referiu a George Naish como “canalha covarde”? Bem, o irmão Naish o encontrou anos mais tarde num enterro em Yorkton. “Quando dei alguns passos para diante para começar o serviço”, relatou o irmão Naish, “ambos tivemos total surpresa. Após o serviço, ele me convidou a ir no seu carro até o cemitério. Começou imediatamente a pedir desculpas por causa do tratamento que me infligira anos antes. Foi difícil para ele crer que eu não tinha guardado nenhum rancor. Tivemos uma palestra calorosa sobre a verdade. Estes e outros encontros me fizeram compreender que, mesmo quando não podíamos falar sobre as coisas íntimas de nosso coração, nossas ações causaram firmes impressões em muitas pessoas durante aqueles anos de provação.”
Considere outra experiência que mostra que a perseverança no sofrimento pode conduzir a ricas bênçãos. Enquanto preso em certo lugar, George Naish teve a oportunidade de se associar com o irmão Charles Matthews e de ensinar a verdade a um co-detento. o irmão Naish escreveu:
“Concediam-nos breves períodos de conversação antes de irmos tomar as refeições ao meio-dia e à noite. Naturalmente, nós três falávamos quietamente sobre coisas espirituais. Louis Ratz, o co-detento, a quem me refiro, ficava observando Matthews e a mim com intenso interesse. Mais tarde, ele disse que isso foi sem entender o laço de união que tínhamos. Eu trabalhava à mesa ao lado dele e, quando surgia uma oportunidade, ele vinha a mim e insistia que lhe contasse de novo por que eu estava na prisão. Minha declaração constante de que era ‘porque eu não queria ir matar meu próximo’ finalmente foi entendida por ele, fazendo com que ele risse por muito tempo em voz alta. Fui perguntar-lhe o que estava achando tão engraçado. Ele replicou: ‘Tudo muito engraçado. Eu mato homem. Eu ganho prisão perpétua. Você não mata homem. Você ganha prisão perpétua.’ . . .
“Seu interesse era muito grande. Depois de eu ser solto finalmente consegui a soltura dele da prisão por intermédio da junta de liberdade condicional de Otava. Esse homem, que cumprira a pena de 16 anos na penitenciária, veio para a verdade e foi leal até sua morte há alguns anos.”
Não, não era fácil manter a neutralidade cristã durante o período da Primeira Guerra Mundial. Tampouco era coisa fácil suportar o tratamento duro, até mesmo brutal, por causa da justiça. Todavia, a perseverança nessas dificuldades produziu ótimos resultados. Deu-se testemunho, até mesmo alguns perseguidores ficaram impressionados, e houve alguns que aceitaram o verdadeiro cristianismo porque observaram a fidelidade dos proclamadores neutros do Reino. (1 Ped. 3:13-15) Não obstante seus sofrimentos, os do povo de Jeová certamente tiveram a Sua ajuda e bênção durante aqueles anos difíceis da guerra.
A OPOSIÇÃO ATINGE UM CLÍMAX
Naturalmente, nem todos os cristãos canadenses daquele tempo sofreram em prisões. Mas todos foram provados, e certamente tinham inimigos — opositores religiosos que procuravam silenciar os Estudantes da Bíblia. Sim, para os verdadeiros cristãos, o período entre 1914 e 1918 revelou ser um tempo de sofrimento por causa de sua consciência. Isto parecia atingir seu clímax ao passo que a guerra exigia mais e mais homens! especialmente ao ser publicado o “Mistério Consumado”, o sétimo e último volume dos Estudos das Escrituras. Pelo que parece, alguns clérigos ficaram atormentados com as expressões ali sobre a guerra, talvez devido à própria posição embaraçosa deles em época de guerra. Houve uma campanha minutíssimo maldosa e, pelo que parece, organizada, para “pegar” os Estudantes da Bíblia, campanha esta que se alastrou pela América do Norte — e começou no Canadá.
Será que exageramos as coisas? Absolutamente. Observe o que dizia Preachers Present Arms. O Dr. Abrams escreveu: “Uma análise do caso inteiro leva à conclusão de que as igrejas e os clérigos estavam originalmente por trás do movimento para eliminar os russelitas. No Canadá, em fevereiro de 1918, os ministros começaram uma campanha sistemática contra eles e suas publicações, especialmente O Mistério Consumado. Segundo o Tribune de Vinipegue, tinha sido chamada a atenção do Procurador-Geral para os russelitas, e a supressão de seu livro foi ocasionada, segundo se crê, diretamente pelas ‘representações do clero.’”
Em janeiro de 1918, os principais clérigos do Canadá fizeram um abaixo-assinado junto às autoridades civis para suprimir as publicações da Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia. Vê-se, mediante o fato de que mais de 600 pessoas assinaram o abaixo-assinado, que não era pequeno o número dos opositores. Muitas das publicações citadas haviam sido usadas por mais de 30 anos! Obviamente, não foi o verdadeiro patriotismo que impeliu esses clérigos a agir contra os Estudantes da Bíblia.
Que foi essa pressão clerical que levou o governo do Canadá a banir “O Mistério Consumado” se vê nas seguintes observações, impressas mais tarde no Tribune de Vinipegue: “As publicações banidas contêm, segundo se alega, declarações sediciosas e contra a guerra. Trechos de uma das recentes edições do ‘Mensário dos Estudantes da Bíblia’ foram denunciados do púlpito, há algumas semanas, pelo Rev. Charles G. Patterson, pastor da Igreja de Sto. Estêvão. Depois disso, o Procurador-Geral Johnson mandou pedir ao Rev. Patterson uma cópia da publicação. Acredita-se que a ordem do censor seja o resultado direto.”
Os documentos oficiais do governo do Canadá que foram abertos para investigação pública em anos recentes revelam claramente que o clero desencadeou realmente a ação em 1918 contra os verdadeiros cristãos nesse pais. Quando se sugeriu que foram os clérigos que fizeram isso, foi negado. Contudo, precisamente naquele tempo, o Censor-Chefe, o Cel. Ernest Chambers, tinha em seu arquivo uma carta do “Reverendo” A. E. Cooke, ministro da Primeira Igreja Congregacional de Vancúver, Colúmbia Britânica, que havia escrito o seguinte ao censor:
“Fui instruído pela Associação Geral de Ministério, de Vancúver, para chamar a sua atenção para um assunto que nos parece de considerável importância pública neste tempo. Como é de seu conhecimento, os seguidores do falecido ‘Pastor’ Russell . . . chamam-se ‘Estudantes Internacionais da Bíblia’ . . .
“Não seria bom proibir também a literatura propagandista desta associação, publicada nos Estados Unidos e enviada para o Canadá para distribuição por parte dessas pessoas?”
O censor-chefe, Cel. Chambers, escreveu em resposta. Na sua carta, que foi marcada “Confidencial”, ele dizia ao clérigo Cooke:
“Reverendo e Prezado Senhor: . . . sua comunicação transmitindo os conceitos de tal organismo influente como a Associação Geral de Ministério, de Vancúver, revelou ser muito útil para garantir uma ação neste assunto muito importante. . . .
“Considero que os ataques virulentos, nessas publicações, contra as Igrejas de todas as denominações, sem distinção, são dignos de nota, mesmo que as declarações abrangidas nesses ataques não possam ser descritas como sendo ‘objetáveis em sentido militar.’”
Esses documentos confidenciais do passado, agora abertos para exame público, revelam deveras que o clero desencadeou realmente a ação em 1918 contra o povo de Jeová. Sim, esses cristãos fiéis sofreram cerceamento de suas liberdades porque assim como Jesus Cristo, ousaram falar sobre a Palavra de Deus sem temor, expondo a hipocrisia do clero. — Mat. 23:1-39.
É bastante interessante que a proscrição canadense se deu em 12 de fevereiro de 1918, e, nos Estados Unidos, a ação oficial contra “O Mistério Consumado” foi tomada em 14 de março do mesmo ano. A ação dos E. U. A. foi também tomada depois das exposições por parte do clero.
PROSSEGUINDO COM FÉ
A proscrição foi imposta à organização dos Estudantes da Bíblia, bem como ao “Mistério Consumado”, e ao “Mensário dos Estudantes da Bíblia”. Foi notória durante esse tempo a fé e a determinação dos do povo de Jeová, convictos de que não haviam feito nada de errado, e estavam sob proscrição só devido à interferência clerical. Alguns estavam de pé às 6 horas da manhã ou estavam fora tarde da noite distribuindo tratados.
Confrontados com uma proscrição injusta, os cristãos canadenses mostraram-se “cautelosos como as serpentes, contudo, inocentes como as pombas”. (Mat. 10:16) Para ilustrar: Janet MacDonald notou o anúncio na imprensa: “A posse de quaisquer livros proibidos deixa o possuidor sujeito a uma multa que não exceda a 5.000 dólares [cerca de Cr$ 150.000,00] e cinco anos de prisão.” Mas será que isso intimidaria o povo de Deus? Não, absolutamente! A irmã MacDonald escreveu: “Logo que ouvimos isso, levamos nosso suprimento de livros para o galinheiro. Colocamos jornais entre as paredes para conservar limpos os livros, e os acondicionamos ali dentro pregando em seguida as tábuas. No dia seguinte, o policial da cidade chegou e perguntou a meu pai se havia cópias desse livro na casa, e ele respondeu ‘Não.’” Naturalmente que não! o suprimento estava no galinheiro.
A luta pela adoração pura estava sendo travada no Canadá. “Preparamos nossos suprimentos do ‘Mistério Consumado’ para rápida e ampla distribuição, prevendo a oposição”, escreveu T. J. Sullivan, acrescentando: “Quando a proscrição se tornou lei, os irmãos fizeram então circular um abaixo-assinado nos Estados Unidos e no Canadá para que o governo removesse as restrições colocadas sobre o livro, a fim de que as pessoas tivessem permissão de obter este compêndio bíblico sem interferência e sem molestarão.” Enquanto faziam circular o abaixo-assinado em Porto Artur, Ontário, Sullivan e outro irmão foram bem recebidos pelo povo em geral. Mas houve repercussões. o irmão Sullivan escreveu:
“A polícia obteve autorização para dar busca, revistou nosso quarto [de hotel] e encontrou nossos exemplares pessoais do ‘Mistério Consumado’. Fomos parar na prisão naquela noite, mas soltaram-nos no dia seguinte. Com toda a probabilidade a detenção e a publicidade fizeram mais no sentido de estabelecer os fatos diante do povo do que a circulação do abaixo. assinado teria feito. Os jornais colocaram manchetes na primeira página sobre nossa detenção . . . A polícia confiscou os quinhentos ou seiscentos exemplares do ‘Mistério Consumado’ enviados ao território para distribuição. Mas, naquela noite, enquanto a publicidade na imprensa estava no seu apogeu, a polícia de Porto Artur levou para casa exemplares do ‘Mistério Consumado’ para si e para seus amigos, de modo que o estoque inteiro foi distribuído para nós!”
Muitos lares particulares foram invadidos em vários lugares para se localizar e destruir literatura da Torre de Vigia, inclusive a encontrada nas bibliotecas pessoais. Até mesmo Bíblias foram confiscadas! Por exemplo, logo que chegou a Vinipegue a notícia da detenção de T. J. Sullivan e de seu associado, aconteceu o seguinte, segundo Sullivan relatou alguns anos mais tarde: “O exército enviou um caminhão cheio de soldados, que invadiram os lares onde nós nos hospedávamos nessa época, em busca da literatura proscrita. o exército podia prender-nos e podia invadir nossa casa e confiscar nossos bens, mas não podia julgar-nos. Éramos ainda civis e o tribunal civil insistia que cabia a ele fazer nosso julgamento. As autoridades civis, em Vinipegue, de qualquer forma, estavam aborrecidas com a maneira arbitrária de o exército invadir os lares e destruir os bens dos cristãos. Quando o exército invadia um lar, revirava realmente a casa. Pegava carvão, farinha, açúcar e outras coisas, misturava-os todos e os deixava a bem dizer sem poderem ser usados. Isto perturbava grandemente as autoridades civis, e alguns mostravam sua preocupação por serem muito bondosos ao lidarem conosco.”
Num número surpreendente de casos, as pessoas amistosas viram a injustiça da proscrição e apoiaram o povo de Deus. Sabiam que os Estudantes da Bíblia eram inofensivos, e eram bons cidadãos, embora tivessem crenças diferentes. Em certo lugar, um chefe de polícia avisou certa vez um de seus homens (que era Estudante da Bíblia) que seria melhor tirar um dia de folga, visto que a polícia ia estar ocupada naquela tarde revistando o Salão I. O. O. F., onde os Estudantes da Bíblia se reuniam. o objetivo era confiscar qualquer literatura encontrada ali. Isso deu tempo para os irmãos levarem a sua literatura para outro lugar. Um dos itens que os incursores encontraram foi uma lista intitulada “Servos”, referindo-se aos em posição de responsabilidade. Certo de que fizera uma grande descoberta, o policial que encontrara a lista apressou-se a ir mostrar ao oficial encarregado da incursão. Mas, não estando bem familiarizado com a terminologia bíblica, depois de proferir algumas palavras blasfemas, disse ao que a encontrara: “Não queremos os servos deles. Nós queremos os cabeças!”
Em outro caso, Roberta Davies diz que, durante uma batida da polícia num lar, um inspetor de polícia perguntou a uma jovem: “São seus aqueles livros?” “Sim”, respondeu ela verazmente. Ele ordenou: “Esconda-os, minha querida, antes que eu os veja.” Mais tarde, ele abandonou a força policial e disse a um Estudante da Bíblia que simplesmente não podia “fazer aquele tipo de trabalho sujo”. Ele não foi o único policial que se sentiu assim.
No seu empenho de localizar nossa literatura, soube-se que homens do governo interceptaram a correspondência particular de cristãos humildes. Não obstante isso e a invasão de muitos lares, a maioria das publicações nunca foi encontrada pelas autoridades. A literatura foi estocada seguramente em estábulos, porões e em outros lugares.
Num caso clássico no Oeste, a polícia local cortou colchões pelo meio, arrancou tapetes de escadas, desmontou um órgão e até mesmo peneirou a farinha na tulha, procurando exemplares do “Mistério Consumado”. Mas não conseguiu achar nenhum. Sem que o soubesse, porém, havia um exemplar desse livro amarrado com cordões no fundo do próprio banco em que o oficial encarregado estava sentado ao passo que dirigia seus homens durante a busca!
Quando as autoridades encontravam nossa literatura, amiúde o possuidor recebia elevada multa ou ia preso. Mas considere o que aconteceu no caso dos 10 Estudantes da Bíblia da região de Vancúver. Na biblioteca da prisão, viram os próprios livros por cuja posse estavam cumprindo sentenças de três meses de punição!
PROBLEMAS INTERNOS
Além de sofrerem como cristãos neutros e mais tarde dificuldades sob proscrição, os Estudantes da Bíblia no Canadá tiveram outras pressões e dificuldades a suportar durante o período da Primeira Guerra Mundial. Os problemas se desenvolveram dentro da organização. Mas para considerar esses desenvolvimentos, precisamos retroceder um pouco no tempo,
C. T. Russell estava ficando debilitado fisicamente antes do outono de 1916. Mas ele continuou o seu trabalho e cumpriu seus compromissos de dar discursos. Por exemplo, seu grande espírito de servir seus concrentes levou Russell mais uma vez ao Canadá em março de 1916. Seu itinerário era como segue: Toronto (11 de março), Peterborough e Lindsay (12 de março), Midland (13 de março), Baía do Norte (14 de março), Novo Liskeard (15 de março), Bracebridge e Barrie (16 de março), Guelph (17 de março), Brantford e Hamilton (19 de março) e Niagara Falls (20 de março). Deveras um programa extenuante!
Tal rotina pesada estava cobrando seu tributo. Na reunião de Toronto, Russell teve de sentar-se enquanto proferia seus discursos. Desde então, sua saúde piorou rapidamente. Sua morte ocorreu em 31 de outubro de 1916.
Com esse evento, houve tristeza, desapontamento e incerteza sobre o futuro. Será que continuaria a obra? Russell certamente tinha o conceito de que havia um grande trabalho para os verdadeiros cristãos fazerem. Durante uma sessão de perguntas, em Vancouver em 1915, ele havia dito: “Há um grande trabalho a ser feito, e exigirá milhares de irmãos e milhões em dinheiro para fazê-lo. Donde virão estes, eu não sei — o Senhor conhece seu próprio trabalho.”
“Um grande trabalho a ser feito!” Milhares para fazê-lo! Quão emocionante — para a maioria. Alguns, porém, começaram a mostrar espírito de oposição à direção de Brooklyn na execução do próprio trabalho que Russell havia mencionado. Algumas pessoas começaram a ter idéias de ‘assumir a direção’ em lugar de Joseph F. Rutherford, que fora devidamente eleito para substituir a Russell. Não só se viu esse espírito de rebelião em certas pessoas que haviam tido excelentes privilégios na sede da Sociedade em Brooklyn, mas também no Canadá houve os que tiveram tais idéias. Isto e a prisão de Rutherford e de seus associados, sob acusações falsas, em 1918, parecia ser tudo o que os sinceros podiam suportar. As coisas pareciam estar despedaçando-se. Sobrevieram tempos de provação a todos!
Em Toronto, cerca de 30 pessoas se afastaram da congregação e formaram seu próprio grupo. Tentaram por meio de cartas e outros métodos atrair seguidores. Mas essa atividade terminou em cerca de dois anos. Também, houve em Montreal os que se afastaram. A dissensão que continuou até princípios da década de 1920 afetou grandemente as áreas de Vancúver e de Vitória. o ex-peregrino Charles Heard iniciou o chamado movimento “Firme” que afetou classes em todo o oeste do Canadá, muitas congregações ficando ‘divididas pela metade’ em números. Alguns dissidentes formaram seus próprios grupos locais e atacaram abertamente a Sociedade Torre de Vigia acusando falsamente que fora abandonada por Jeová.
Toda esta pressão interna causou muita perturbação. Com o tempo, porém, tornou-se claro que as pessoas indignas esta. vem sendo separadas dos fiéis. (1 João 2:19) Eram precisos homens e mulheres de verdadeira fé e coragem para fazer a grande obra de pregação e de ensino que ainda estava à frente.
UMA FILIAL NO CANADÁ
Mas não havia só ‘más notícias’ durante aqueles anos. Houve muita coisa para regozijo. O progresso da obra de pregação do Reino levou à formação de uma filial da Sociedade Torre de Vigia em Vinipegue, em 1.º de janeiro de 1918. Walter F. Salter foi designado como primeiro administrador de filial, e quatro pessoas foram convidadas a fazer parte do quadro dos trabalhadores.
Em 1920, a filial foi transferida para Toronto, onde operou primeiro em local bastante conveniente, à Rua Dundas, 270, Oeste. o prédio era usado também por uma oficina de consertos de teto de carros. (Os carros naquele tempo não tinham tetos de metal.) Havia bom espaço para escritório na frente e espaço para expedição nos fundos. Mais tarde, duas pequenas impressoras foram levadas ali para a impressão de convites e de um folheto sobre o inferno. Naquela época, não havia dormitórios na filial. Portanto, os trabalhadores se hospedavam na casa de outros Estudantes da Bíblia, ou em pensões, e providenciavam suas próprias refeições. Os que faziam então parte do pessoal eram W. F. Salter, Frank Wainwright, Charles Cutforth, Julia Loeb, Winnifred McCombe e Edna VanAlstyne.
SUSPENSA A PROSCRIÇÃO!
Para maior felicidade naquele tempo, houve a suspensão da proscrição injusta do “Mistério Consumado”, do “Mensário dos Estudantes da Bíblia” e da Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia. Isto se deu em 1.º de janeiro de 1920, bastante tempo depois do fim da guerra que supostamente justificava a proscrição.
É interessante notar que o clero canadense levantou objeção à restauração da liberdade de imprensa e de religião depois da guerra. Entrou até nas notícias, tendo adotado uma resolução sobre o assunto. Por que não queria a remoção das restrições da época de guerra? Pode-se ter uma idéia dos seus pensamentos no fato de ter feito esforços para colocar a Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia na lista de um panfleto do Ministério do Trabalho, de agosto de 1920, que avisava sobre organizações consideradas subversivas. Mas o irmão Rutherford protestou junto ao Ministério do Trabalho, e o público ficou informado a respeito da situação mediante um protesto impresso que foi distribuído.
EFETUA-SE UMA REVIVIFICAÇÃO
Quanto regozijo houve quando o fim da guerra tornou novamente possível a realização de nossos congressos! E quão alegre ficou o povo de Deus de que a soltura da prisão do irmão Rutherford e de seus associados os habilitou a assistir a algumas dessas assembléias! Em 1919, foram realizados congressos em Vinipegue, Calgary e Vancúver. Realizaram-se doze de tais congressos no Canadá durante 1920.
A presença de J. F. Rutherford e de alguns de seus associados aos congressos canadenses nos anos após sua soltura da prisão e sua absolvição das falsas acusações contra eles atraiu grandes multidões de pessoas interessadas a essas reuniões. Assim se deu na série de assembléias no Canadá ocidental em 1921. O primeiro desses congressos foi realizado em Vinipegue, de 5 a 7 de agosto. Essa era a própria cidade em que morava o clérigo e o político que haviam instigado a proscrição do “Mistério Consumado”, seguida de uma onda de perseguição, inclusive da detenção de Rutherford e de seus associados. Como reagiu o povo em geral à visita do irmão Rutherford? Calcula-se que 6.000 pessoas estiveram presentes à reunião pública.
O período do após-guerra foi marcado pela revivificação do povo de Jeová. Foi notório neste respeito o congresso de 1919 em Cedar Point, Ohio, E. U. A. Reanimou o entusiasmo pela obra de evangelização entre os Estudantes da Bíblia no Canadá e em outras partes. Foi lançada ali a nova revista A Idade de Ouro (agora chamada Despertai!), que deu ímpeto à obra a fazer. Veio então o ano de 1922 e houve outro congresso emocionante em Cedar Point. Os que assistiram a esse voltaram para casa decididos a pregar até mesmo em regiões além de seu território próximo. Certamente, o povo de Jeová havia sido revivificado. Havia de anunciar deveras o Rei e o Reino!
DISSEMINAÇÃO DO SERVIÇO DO REINO
Este espírito impeliu os servos de Deus a disseminar sua obra de declarar a mensagem do Reino. Sim, haviam sido muito ativos antes de 1922. Por exemplo, em apenas um ano — 1920 — as colocações, no Canadá, do livro “Mistério Consumado” haviam ultrapassado 65.000 exemplares! Mas, nesse tempo, depois do congresso de 1922, em Cedar Point, o lema para os agentes de publicidade do Reino era ‘de volta ao campo’! E estavam decididos a dar um testemunho, não só nos seus próprios territórios locais, mas nas regiões distantes do campo canadense.
Por exemplo, Charles V. Johnson fez trabalho de colportor até o interior da região do rio da Paz, no norte de Alberta, complementando as atividades dos que haviam pregado ali antes. Em 1919 um Estudante da Bíblia de nome Nielson havia trabalhado ao longo da estrada de ferro, subindo para o norte até o lago Lesser Slave. Ficava a 720 quilômetros da fronteira dos E. U. A., naquela época, uma considerável distância em direção ao norte! John Hamilton fez serviço de pioneiro no distrito do rio do Espírito, entre 1923 e 1934.
A respeito de um sistema usado pelos proclamadores do Reino em Saskatoon, George Naish escreve: “Amiúde, eram vistos nos fins-de-semana dois dos irmãos carregados de literatura tomar o trem e dirigir-se para algum vilarejo não muito longe de onde se faria o trabalho de casa em casa ataque o retorno do trem, quer naquele dia, quer no dia seguinte tornasse possível voltarem para casa. Quando não podíamos voltar senão no dia seguinte, o que nos deixava a noitinha ou parte dela depois de ter sido trabalhada a cidade, caminhávamos em direções diferentes até as casas dos sítios alcançáveis a pé, o que significava uma distância de três a seis quilômetros. Trabalhávamos em meio círculo, retornando ao vilarejo ou aldeia, tomávamos o trem e voltávamos para casa cansa dos, mas felizes pelos privilégios partilhados.”
Quão laboriosos eram os proclamadores das “boas novas” naquela época? Bem, considere o que sucedeu certa vez quando foi cometido um engano no pedido de literatura, resultando na chegada de mais de 2.000 exemplares dos Estudos das Escrituras para um pequeno grupo distribuir. Aquele que sc enganou ao fazer o pedido relembra: “Grande foi minha perplexidade, certo dia, ao voltar para casa . . . Fui cumprimentado pelo porteiro do prédio, que me perguntou: ‘O que é que afinal vocês rapazes encomendaram?’ Expliquei: ‘Apenas alguns livros.’ A resposta dele foi: ‘Devem ter encomendado uma biblioteca pública.’ . . . O que faríamos com 288 coleções de livros, num total de 2.016 livros encadernados? Meu companheiro não aceitou minha sugestão de escrever ao escritório da Sociedade Torre de Vigia em Toronto a respeito do assunto Insistiu que a solução era mais e mais serviço de campo para se colocar a literatura. É bastante interessante que, em menos de um ano, esgotaram-se completamente os Estudos das Escrituras, o que indica o trabalho árduo dos irmãos na congregação.”
Para a disseminação do serviço do Reino, usamos todos os meios de transporte — bicicletas, charretes e “coches” (carro de quatro rodas puxados por cavalos). Havia também carroças feitas de velhas carrocerias de automóvel. No inverno, estas eram cobertas e se chamavam de “cabooses”. Embora fossem aquecidas com pequenos fogões a lenha e mantivessem o passageiro aquecido, havia o perigo de serem incendiadas se capotassem. No caso de charretes abertas, providenciava-se algum aquecimento com pedras do campo, aquecidas a noite inteira, que eram colocadas na charrete aos pés da pessoa. Cobertores e mantas de pele de búfalo completavam o equipamento.
Às vezes, o povo de Jeová cobria grandes áreas formando caravanas de automóveis primitivos. Os estribos do lado de fora, na parte de baixo das portas, dos automóveis, eram usados naquele tempo como lugar para preparar refeições ou separar literatura! Levavam consigo equipamento para tendas, que serviam de acomodações necessárias para dormir.
Loretta Sawyer relembra seu tempo de colportora, usando cavalo e charrete em Saskatchewan. Ela relata:
“O território a mim concedido estendia-se, desde minha casa, por cerca de 35 milhas [56 quilômetros] para o norte até o rio Saskatchewan, por 35 milhas para o oeste e limitava-se com o mesmo rio, para o sul até a principal linha de estrada de ferro e daí para o leste, em direção de minha casa. Abrangia cerca de 900 milhas quadradas [2.300 quilômetros quadrados] . . .
“Nunca fiquei sem acomodação para a noite, quer para mim, quer para meu cavalo. Jeová sempre proveu. Ocasionalmente, tinha de pagar uma pequena importância, mas nunca alguém foi rude ou deixou de nos acomodar. Além de ser hospedada para passar a noite, eu e meu cavalo recebíamos nossa refeição matinal, e a pedra para meus pés era aquecida para um início quente naqueles dias frios do outono nos campos abertos.”
Foi nessa época também que uma pequena classe começou a se desenvolver bem em Wakaw, Saskatchewan. Isto influiu definitivamente na obra de pregação do Reino nesse país. Wakaw se tornou local para assembléias dos Estudantes da Bíblia. Essas causaram manchetes na comunidade, visto que até 400 pessoas vinham ali de outras regiões. Emil Zarysky, de Wakaw, tornou-se muito ativo entre seus conterrâneos ucranianos na província e realizou um imenso trabalho. Serviu como colportor e como peregrino por algum tempo. Em 1926, havia 104 pessoas presentes à Comemoração em Wakaw e o crescimento foi rápido. Podemos contar pelo menos 44 pioneiros e missionários que saíram daquela pequena congregação. Tantas quantas 15 pessoas ainda estão no serviço de tempo integral, entre as quais está Joseph Lubeck, Olga Campbell (ambos servindo agora no Betel de Brooklyn), Victoria Sieinens e Helen Held.
PRONTOS PARA EXPANSÃO
Os anos de 1922 e 1923 viram aumento na pregação do Reino no Canadá. Em 1922, a assistência à Comemoração foi de 2.335 pessoas. Certamente, o princípio da década de 1920 foram anos de progresso cristão nesse país. E o povo de Jeová olhava para o futuro com otimismo, pois a Torre de Vigia de 15 de dezembro de 1923, declarava: “Nosso novo local é bem iluminado confortável, espaçoso. Temos 5.600 pés [c. 520 m2] de espaço útil — o suficiente para as nossas necessidades atuais, com margem para expansão futura.”
“Novo local”? Sim, obtivera-se um lugar melhor para a filial da Sociedade. Apenas mais tarde é que o pessoal seria acomodado no local. Mas esse local maior permitiu a ampliação da gráfica. A proclamação do Reino podia então ser feita no Canadá com mais força como nunca antes.
PROCLAMAÇÃO DO REINO EM QUEBEQUE
Em 1923 Alexander Deachman e Peter Allan Robertson foram enviados a Quebeque como colportores especiais. Um relatório do campo de Quebeque durante aquele ano declara:
“Nossa média de livros [colocados] por semana não diminuiu muito, e atualmente, podemos conversar com as pessoas de modo inteligente sobre assuntos simples. Na noite de domingo do dia 10 de junho, na Sala Leboeuf, em Valleyfield, exibimos o ‘Fotodrama’. O salão estava cheio de franceses e de ingleses e, como resultado direto, vinte e cinco livros foram [colocados]. O senhor em cuja casa nos hospedamos pediu que exibíssemos o ‘Drama’ em sua casa; concordemente, em 13 de junho, este foi exibido. Dezessete adultos estiveram presentes todos católicos franceses. o pároco inglês iria usar nossos dia. positivos para mostrar na Igreja, em 18 de junho, mas não nos foi possível esperar até domingo em Valleyfield. . . . Os pastores protestantes cumprimentaram-nos bem calorosamente . . . não resmungaram e ambos possuíam alguns dos livros do irmão Russell. Na nossa pensão, uma das crianças disse que ela achava que nunca mais iria à Igreja; nós éramos muito melhores que os sacerdotes. Tudo indica um despertamento. O Rei preparou o caminho para sua mensagem; só resta os trabalhadores serem achados difundindo as boas novas.”
Entre os privilegiados a pregar em Quebeque naqueles dias estava Janet MacDonald (embora isso fosse antes de seu casamento com o Estudante da Bíblia, Howard MacDonald, em 1928). Janet começara a declarar as “boas novas” em Montreal em 1924. Naquela época, ela participou na distribuição de uma resolução que acabava de ser adotada no congresso de Columbus, Ohio, E. U. A. A resolução, em forma de tratado, era intitulada “Eclesiásticos Acusados”, e expunha claramente a natureza mortífera da religião falsa. A irmã MacDonald relatou mais tarde:
“Seguindo o itinerário esboçado pela Sociedade, fomos a muitas vilas, tais como Granby, Magog, Asbestos e outras, nas Comunas do Leste. Para evitarmos oposição, começamos a distribuir o tratado de casa em casa às 3 horas da madrugada, e por volta das sete ou oito horas, quando a cidade entrava em atividade, nosso trabalho tinha terminado. Diversas vezes, fomos detidos pela polícia, que tentou intimidar nos para abandonarmos a cidade. Um exemplo foi em Magog, onde a polícia nos levou perante o tribunal. Não foi feita nenhuma acusação mas tínhamos de pagar 15 dólares [cerca de Cr$ 450,00] paro nos deixarem ir embora. Dissemos que não tínhamos 15 dólares, então reduziram para 10. Dissemos que não tínhamos 10, então abaixaram para 5. Dissemos que não tínhamos 5, então nos deixaram ir embora.
“Em Coaticook, enfrentamos mais dificuldade séria em maio de 1925. Uma turba encabeçada pelo chefe dos Cavaleiros de Colombo cercou-nos e tentou forçar-nos para dentro de uma camioneta. Corremos para a estação da estrada de ferro e nos refugiamos na sala de espera. o chefe da estação viu que a turba se aproximava e trancou ambas as portas. Eles se moveram em círculo, mostrando os punhos e batendo na janela. Logo o líder da turba voltou com a polícia.
“Fomos detidos e levados para a prefeitura, onde se convocou imediatamente um tribunal. Fomos acusados de ‘publicar libelo blasfemo’, por causa da crítica feita contra o clero. A única testemunha chamada foi o sacerdote católico, local. Fomos levados a Sherbrooke, sendo fechados naquela noite numa cela imunda, infestada de insetos, onde fui tão picada que precisei de tratamento por diversas semanas.
“O julgamento foi feito no dia 10 de setembro perante o Magistrado Lemay, que decidiu seguir a lei. Disse ele: ‘Não há neste caso nenhum libelo blasfemo e rejeito a acusação feita contra os acusados.’“
Claramente, não era fácil anunciar o Rei e o Reino em Quebeque naquele tempo. Contudo, ali, como em outras partes do Canadá, os fiéis proclamadores das “boas novas” prosseguiram. Havia um grande trabalho a fazer e eles estavam ansiosos de fazê-lo.
A MENSAGEM DO REINO “NO AR”!
No começo da década de 1920, havia um novo meio para anunciar o Reino, e os Estudantes da Bíblia não hesitaram em tirar proveito disso. Antes de 1923, haviam feito algum uso do novo meio, o rádio. Por exemplo, Smith Shuttleworth, de Brandon, dera alguns discursos bíblicos pela Estação CKX. Todavia, os Estudantes da Bíblia no Canadá não tinham estação própria.
No verão de 1923, George Naish, de Saskatoon, entrara em contato com um advogado da localidade que tinha trabalhado no Corpo de Transmissões durante a guerra. Certa vez, Naish viu no chão algumas foras de uns 18 metros de comprimento e perguntou a respeito delas. Foi-lhe dito que eram material para torre de transmissão. Mais tarde, o irmão Naish ficou pensando que serviriam para fazer ótimas torres de estação de rádio. Por que não termos uma estação de rádio local para irradiar a verdade bíblica?
Tendo recebido incentivo do escritório da Sociedade em Toronto, a congregação local empreendeu esse projeto. No fim do outono, comprou-se terreno num lugar elevado na parte noroeste de Saskatoon; as toras que se acaba de mencionar e outras peças de equipamento foram compradas como material de segunda mão, e os Estudantes da Bíblia, de Saskatoon, construíram uma estação de rádio. Na primavera de 1924, aquela estação com potência de 250 watts, a CHUC — uma das primeiras estações religiosas do Canadá — entrou “no ar”. Naquela época, só havia mais uma estação em Saskatoon, com apenas mais sete no país inteiro!
O que dizer do programa em si mesmo? Durante as horas limitadas de transmissão, foram feitos discursos bíblicos, perguntas bíblicas foram respondidas e foram apresentadas seleções musicais. William Flewwelling, que tinha excelente voz para rádio, dava amiúde discursos e respondia a perguntas. Hilda Essen entoava cânticos, segundo era solicitada, e houve seleções de coral pelos que tinham talento na congregação local, sob a direção do Estudante da Bíblia de nome Costa Wells, que fizera esse tipo de trabalho sob a regência de S. Betts no Palácio de Cristal em Londres, Inglaterra.
A reação pública foi excelente. Cuidou-se atentamente de toda a correspondência e enviou-se literatura bíblica às pessoas interessadas, ou foram feitas visitas a tais. A estação CHUC era o meio para alcançar muitas pessoas em áreas remotas. Por exemplo, a Sra. Graham, de McKague (cerca de 185 quilômetros de Saskatoon) deu boa acolhida e começou a difundir a mensagem do Reino no território do Vale do Rio Carrot. Quando a recepção radiofônica se tornou especialmente boa, a CHUC alcançava os contrafortes dos Rockies, na Alberta ocidental, e até o norte dos Estados Unidos, a uma distância de 320 a 480 quilômetros. Com tantas pessoas interessadas buscando a verdade, era essencial a expansão, conforme George Naish indicou, dizendo:
“Não demorou muito e a expansão se tornou imperativa. Nesse tempo, a Companhia de Piano Heintzman construiu uma ótima loja no centro de Saskatoon. Telefonei para o gerente e falei sobre a possibilidade de usar uma parte da principal loja como estúdio três vezes por semana. Em compensação, iniciaríamos e terminaríamos cada programa com o anúncio de que este é o Estúdio da CHUC, no Edifício de Heintzman, no centro de Saskatoon. O gerente parecia duvidoso de início, mas disse que iria estudar com seus superiores. Fez isso, e em poucas semanas, estávamos transmitindo por meio de algo que era inteiramente novo naquele tempo — por controle remoto. Ficamos sabendo por intermédio do inspetor de estação de rádio naquele tempo que nossa pequena estação CHUC fora pioneira neste campo.”
EXPANSÃO DE NOSSO SERVIÇO DE RÁDIO
Em 1925, a Sociedade Torre de Vigia tornou-se proprietária da Estação CHUC, e seus estúdios foram mudados para o Edifício Regent, um antigo cinema comprado para esse fim. Em Toronto, a Sociedade operou a Estação CKCX (a partir de 1926). Um dos seus programas destacados foi o discurso “Está Próximo o Maior Conflito da Terra”, proferido pelo irmão Rutherford em 1926, no Teatro Pantages. A CKCX se tornou o centro de uma rede nacional de emissoras que transmitiam a mensagem do Reino. Falando-se de passagem, Margaret Lovell relembra que o locutor de rádio, Neville Maysmith (que tinha sido ator antes de se tornar Estudante da Bíblia) originou os prefixos musicais ao mencionar as letras CKCX. Desde então, outros têm seguido este estilo.
Com a expansão da nossa obra radiofônica, a Sociedade iniciou em 1926 a Estação CHCY em Edmonton. Estabeleceu também uma quarta estação, a CFYC, em Vancúver. Além dessas estações de rádio que difundiam a mensagem do Reino tanto a Sociedade como as congregações locais dos Estudantes da Bíblia compravam, às vezes, tempo em estações comerciais em vários lugares. Por exemplo, a CJCB foi usada em Sidnei, Nova Escócia. Após uma transmissão — o discurso de Rutherford “O Reino’ a Esperança do Mundo” — um coronel, J. A. MacDonald, disse a Daniel J. Ferguson: “As pessoas da Ilha do Cabo Breton ouviram ontem uma mensagem que foi a melhor que já se ouviu nesta parte do mundo. Foi simplesmente maravilhoso.”
UMA CADEIA INTERNACIONAL DE RÁDIO!
O ano de 1927 foi deveras emocionante. Selecionara-se Toronto, Ontário, como local para congresso, de 18 a 26 de julho. Os congressistas chegaram de todos os estados dos E. U. A., de todas as províncias do Canadá e até mesmo da Europa. Quando J. F. Rutherford deu o discurso público da assembléia, “Liberdade Para os Povos”, falou a mais pessoas num só tempo do que qualquer outro homem fizera até então. Não só havia ali uma assistência visível de cerca de 15.000 pessoas, no Coliseu e em outros lugares das dependências da Feira, mas, mediante controle remoto, fez-se bom uso das instalações da rádio CKCX. Fazia parte de uma cadeia internacional de 53 estações. Sim, milhões ouviram a mensagem através da maior cadeia de estações de rádio até aquele tempo!
Graham McNamee, o famoso locutor daquele tempo da Companhia Nacional de Radiodifusão, foi enviado para Toronto, para apresentar o orador. Por meio de outros arranjos especiais, o discurso foi também ouvido na Austrália e na Inglaterra. É interessante que, embora o prefeito desse boas vindas aos congressistas vindos à cidade, os jornais de Toronto mantiveram silêncio sobre este evento histórico. Todavia, para dar cobertura aos eventos diários do congresso, a Sociedade publicou seu próprio jornal chamado “O Mensageiro”.
LUTA PELA LIBERDADE DE RADIODIFUSÃO
Atormentado pelo crescente e eficiente uso do rádio para levar a verdade bíblica ao povo, o clero fez muita pressão sobre as autoridades governamentais. Portanto, em 8 de março de 1928, a Associação Canadense de Radiodifusão anunciou abruptamente que as licenças da Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia para radiodifusão não seriam renovadas. De início, não apresentaram nenhum motivo. Levantou-se um grande protesto contra este ataque à liberdade de expressão, e foi feita imediatamente uma campanha de um abaixo-assinado para conservar as estações no ar. Por fim, 466.938 assinaturas foram apresentadas, pedindo a suspensão da proscrição da radiodifusão pelas emissoras de propriedade da Associação.
A posição oficial do governo foi expressa por P. J. A. Cardin, Ministro do Ministério da Marinha e Direito de Pesca e católico romano. Afirmando que houve muitas reclamações contra as radiodifusões feitas pelos Estudantes da Bíblia, mas sem identificar os reclamadores, dizia: “A matéria transmitida pelo rádio é geralmente descrita pelos reclamadores como tendo-se tornado intolerável; a propaganda feita sob o nome de discursos bíblicos diz-se que é antipatriótica e ultrajante a todas as nossas igrejas. A evidência parece indicar que o teor da pregação é que todas as igrejas organizadas são corrutas e estão aliadas às forças injustas, que o inteiro sistema da sociedade está errado, e que todos os governos devem ser condenados. o Ministério está persuadido de que, no interesse do público em geral, as licenças dos Estudantes da Bíblia não devem ser renovadas.”
Com esta fraseologia, não é difícil identificar a fonte das reclamações. Naturalmente, as coisas foram apresentadas como sendo piores do que eram, com alguns pontos relatados que foram tirados do contexto. Todavia, nessa base, a bem dizer, qualquer emissora de rádio ou jornal que criticar outros deve ser fechado. Este ponto foi observado nas expressões durante os debates da Assembléia Legislativa, resultantes do abaixo-assinado. Um Membro da Assembléia resumiu especialmente bem a questão, dizendo:
“Bem, não sou membro da Associação dos Estudantes da Bíblia. . . . Mas gostaria de perguntar: quando é que designamos um Ministro do Governo como censor da opinião religiosa? Através de toda a história, os grupos religiosos têm criticado outros grupos religiosos. Penso que a grande Igreja Católica Romana falou às vezes bem duramente a respeito dos hereges; acho que a Igreja Anglicana, no seu Credo Atanasiano, expressa coisas muito fortes contra os que não acreditam nesse credo; e tenho ouvido evangelistas dizer às pessoas geralmente para onde irão, a menos que creiam nas doutrinas pregadas então a elas. Declara-se que os Estudantes da Bíblia condenam outros grupos religiosos. Por que devemos punir os Estudantes da Bíblia simplesmente porque seguem as pisadas de outros grupos religiosos? Se os Estudantes da Bíblia devem ser interditados porque condenam tanto a católicos como a protestantes, não vejo por que o Sentinel [de Orange] e o Catholic Register não devam ser suspensos.”
Fazendo reportagem sobre o assunto, A Torre de Vigia declarava: “Enviamos um de nossos advogados a Otava, e, na entrevista com o Governo, o único motivo encontrado era que foi cortado o sermão de certo pregador por entrar no ar nossa estação. Nossa estação, porém estava claramente dentro de seu horário e o pregador havia passado quinze minutos da hora. Mas isso não era desculpa, naturalmente, para recusar dar licença a outras estações em partes diferentes do Canadá.”
Se o governo canadense achou que sua ação arbitrária podia permanecer oculta, teve decepção. Os protestos e pedidos de explicação foram muitos. o Sr. Cardin obviamente não estava preparado para o rebate. Os Membros da Assembléia Legislativa exigiram uma explicação sobre o que o governo estava fazendo. Uma ampla generalidade a respeito de “um grande número de protestos” talvez tenha parecido satisfatória a Cardin ao passo que inutilmente procurava esquivar-se da questão, mas os Membros da Câmara não estavam satisfeitos. Dois Membros da Assembléia Legislativa, de mentalidade liberal, J. S. Woodsworth e A. A. Heaps, não se deixaram convencer com a explicação fraca apresentada pelo Ministro da Marinha e Direito de Pesca. Portanto, exigiram que apresentasse toda a correspondência e as reclamações que disse que havia recebido.
A pressão de protestos continuou também fora da Câmara dos Comuns. o grande abaixo-assinado, contendo 466.938 assinaturas, foi apresentado à Assembléia Legislativa. Também, 1.500 telegramas e milhares de cartas foram enviados protestando contra a ação do governo. Houve reuniões de protesto em massa em várias partes do Canadá.
No ínterim, na Assembléia Legislativa, os membros que estavam ansiosos de que a justiça fosse feita não afrouxaram suas exigências no sentido de que o Sr. Cardin apresentasse as reclamações, que, alegava ele, haviam feito com que recusasse renovar as licenças de radiodifusão. Houve uma demora sem explicação. Finalmente, após repetidas solicitações, as reclamações foram apresentadas em 7 de maio de 1928.
Houve perante a Câmara dos Comuns, de 31 de maio a 1.º de junho de 1928, um longo debate sobre a questão. J. S. Woodsworth estabeleceu a tendência geral do debate. Indicou habilmente que, depois de todas as semanas de demora, ele encontrara principalmente recortes de jornais que falavam do cancelamento! O Sr. Cardin, tendo sido apanhado com muito poucas reclamações para justificar sua ação de cancelar as licenças, tentara defender a sua posição fraca por inserir matéria publicada depois de ter tomado a sua ação arbitrária!
Um orador após outro se levantou na Câmara dos Comuns para atacar a ação do governo contra o povo de Jeová. Entre eles estava certo Sr. Irvine, que disse: “Se eu tiver de escolher entre fazer meus filhos ouvir essa coisa [jazz] e alguns dos programas enobrecedores e esclarecedores, transmitidos pelos Estudantes da Bíblia, prefiro que parte dessa outra matéria seja tirada do ar e que os programas dos Estudantes da Bíblia sejam permitidos, mesmo que eu não concorde com seus pontos de vista religiosos. Deveras, acho que o assunto de religião não deve entrar nessa questão de forma alguma, o princípio da liberdade religiosa e da tolerância religiosa supostamente já foi decidido há séculos.”
Às 23 horas, o debate não tinha terminado. Continuou no dia seguinte, em 1.º de junho de 1928. Cardin debateu-se para sustentar sua posição totalmente infundada, ao passo que os outros membros o crivavam de perguntas às quais ele não pôde responder. Ele produziu no total três reclamações de Vancúver, cinco de Edmonton, seis de Saskatoon e algumas de Toronto. (As Testemunhas de Jeová no Canadá, pág. 100, em inglês) Ou, conforme um Membro da Assembléia Legislativa o disse: “Em outras palavras, o Ministério suspendeu as licenças, e depois de ter feito isso, procurou achar evidência para justificar-se em sua ação. Não acho justo isso, não é a espécie de ação que devemos tentar justificar nesta câmara.”
As ações arbitrárias do governo foram expostas. Ao mesmo tempo, deu-se um testemunho. (Mat. 10:18) Um grupo relativamente pequeno estava na cena do acontecimento nacional, e o país inteiro teve de saber das suas exigências justas.
As autoridades, desconsiderando quase meio milhão de assinaturas do abaixo-assinado e afirmando que estavam simplesmente dando ao público o que este desejava, sustentaram a sua posição. As licenças nunca mais foram concedidas. Por isso, a obra de radiodifusão da mensagem do Reino teve de ser continuada usando-se outras estações. Em 1931, havia 21 estações que transmitiam os discursos gravados do irmão Rutherford como programa semanal.
ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DOS ESTUDANTES DA BÍBLIA DO CANADÁ
A atividade incrementada dos servos de Deus e outras circunstâncias levaram à formação da Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia do Canadá. Esta associação legal ainda serve os interesses das Testemunhas de Jeová nesse país. Por exemplo, possui o título de propriedade da filial.
Quando se formou esta Associação em 1925, havia 12 membros da família do Betel de Toronto. Também, nessa época, havia nesse país, em média, 1.000 proclamadores públicos do Reino ocupados no campo, junto com 71 colportores, em 70 companhias ou congregações.
COMEÇAM AS BATALHAS JURÍDICAS
Toda esta atividade causou novamente reações. As autoridades e a polícia instigadas pelo clero começaram a interferir cada vez mais na nossa obra pública de evangelização. Começou a haver detenções em Quebeque, Ste-Anne-de-Beaupré, Westmount e Montreal. Estes casos e um em Calgary foram ganhos numa das primeiras de uma série de batalhas jurídicas em prol da liberdade de expressão.
Quanto ao caso de Calgary, o Herald de Calgary noticiava: “NÃO SE EXIGE LICENÇA PARA VENDER LITERATURA RELIGIOSA NA CIDADE. A venda de literatura religiosa, onde o elemento de ganho não é fator, não é mascatear dentro do significado dos regulamentos municipais para tornar necessário que o vendedor de tal literatura obtenha licença antes de fazer as vendas. Esta foi a decisão entregue, no sábado, pelo Magistrado Sanders no tribunal policial, no caso de H. B. , da Sociedade Bíblica Internacional, sob a acusação de infração dos regulamentos.”
TRABALHO DE “EQUIPE ESCOLAR”
Seja mencionado que em 1924 o povo de Jeová organizou um trabalho que teve grande efeito em muitas comunidades. Chamado de trabalho de “Equipe Escolar”, consistia em dar testemunho em certa área e em convidar as pessoas para um discurso apresentado numa escola local.
Em geral, dois estudantes da Bíblia trabalhavam juntos nesse arranjo. Milhares de pessoas foram alcançadas em todo o Canadá. Os trabalhadores viajavam de uma comunidade a outra, às vezes estando num lugar diferente para o discurso cada noite. Ocasionalmente, eram dados dois discursos aos domingos. Não era trabalho para preguiçosos!
CARROS-CAMPING FACILITAM A OBRA
Para o testemunho nas zonas rurais, amiúde era necessário que os proclamadores do Reino morassem fora de casa por semanas seguidas. O que se podia fazer para prover acomodações em tais circunstâncias? Bem, algumas congregações usavam um tipo de carro-campina. Harry Marshall, de Portage la Prairie, em Manitoba, foi quem provavelmente construiu o primeiro. Mas que aspecto tinha?
Era um vagão de fabricação caseira, com equipamento para comer e dormir dentro dele, sendo preso a um chassi de caminhão Chevrolet ou Ford. Era uma melhoria das tendas que alguns haviam usado. Esses carros-campina talvez tenham sido os precursores dos “carros-reboques” populares hoje, presos à traseira de automóveis.
ÊNFASE À PREGAÇÃO DE CASA EM CASA
No ano de 1927, deu-se ênfase a fazer visitas de casa em casa aos domingos. Este tipo de trabalho de pregação foi bastante chocante para algumas pessoas, pois consideravam o domingo “O dia do Senhor” em que ninguém devia trabalhar. Naturalmente, desconsideraram o fato de que seus clérigos ‘trabalha. vem’ no púlpito nesse dia.
Houve molestarão da parte da polícia em alguns lugares, e alguns servos de Jeová foram presos. Mas o trabalho de pregação prosseguiu. Houve oposição surpreendente da parte de alguns “anciãos” em certas congregações dos Estudantes da Bíblia. Esses homens achavam que não era dignificante visitar as pessoas assim. Pelo menos, sustentavam ser esta a razão de sua oposição. Mas é evidente agora que os que se opuseram a essa obra eram os remanescentes dos que mostraram oposição em 1916 e depois. Nessa ocasião, ou eles tinham de executar a obra do Senhor ou os outros veriam que não estavam em harmonia com o que a congregação do povo de Deus em geral considerava ser seu privilégio e sua responsabilidade. Portanto, alguns desses homens se afastaram naquela época.
Com os grupos que cresciam continuamente e o bom êxito na obra de pregação em público, e apesar da contínua luta com os clérigos que empregavam todos os métodos à sua disposição para silenciar os proclamadores da mensagem do Reino, mais uma década findou. Houve muitas realizações excelentes. Por exemplo, o trabalho com carro-campina foi maravilhoso para se alcançar as pessoas onde não havia congregações dos Estudantes da Bíblia. É digno de nota que se atingiu um auge de 125 colportores em 1930, um aumento excelente sobre os 63 que estavam ativos em 1926.
INCREMENTADA ATIVIDADE ENTRE A POPULAÇÃO DE LÍNGUA FRANCESA
Também, foi durante a década de 1920 que nossa obra começou a florescer entre o povo de língua francesa, de Quebeque e Ontário. Em 1927, funcionava em Montreal uma congregação francesa com 18 pessoas. Esses e outros proclamadores do Reino, de língua francesa, declaravam vigorosamente as “boas novas” na Província de Quebeque.
Nessa época, também, havia desenvolvido uma classe francesa de 30 pessoas em Chiswick, no norte de Ontário, a primeira congregação francesa do povo de Deus em Ontário.
USO DE BARCOS NA DECLARAÇÃO DAS “BOAS NOVAS”
Em fins da década de 1920, J. D. MacLennan foi enviado para a Terra Nova para organizar nossa obra ali de modo melhor, e providenciou-se um barco para serem alcançadas as pessoas nos portos fora das grandes cidades da Terra Nova, de outra forma inacessíveis. Mas o que dizer dos muitos braços de mar e ilhas ao longo da costa ocidental do Canadá? Bem, no ano de 1930, Arne e Christina Barstad e Arthur Melin estavam declarando a mensagem do Reino de Vancúver até o Alasca, viajando no barco Charmian. Naquele ano, juntou-se a eles Frank Franske, que vinha dando testemunho nas costas da Terra Nova e do Labrador. A sua designação era muito incomum — o paraíso de um pintor! Os montes chegavam até o mar, anunciando os povoados e os barcos nas passagens estreitas entre suas paredes escarpadas. As ondas subiam e desciam uns oito metros em Príncipe Rupert, e até onze metros no Alasca.
Era uma nova experiência para Arthur Melin. Ele pregara em Alberta e, com seu primo Elmer Melin, fora pioneiro na região circunvizinha do lago Pigeon e do lago Conjuring. Mas havia aí muito mais água. Franske tinha tido experiência de ter passado algum tempo na Terra Nova. Contudo, no Pacífico era diferente. Mas Barstad tinha experiência como marujo, e assim estavam em boas mãos. Visitaram com entusiasmo vilarejos de pesca, conjuntos residenciais das firmas, serrarias e caçadores de peles e mineiros isolados. Também, visitaram os portos aduaneiros do Alasca. Visitaram remotos vilarejos de índios. Muitas das pessoas contatadas reagiram favoravelmente com o tempo, e foram formadas congregações em resultado de suas primeiras visitas.
O Charmian estava equipado de poderoso alto-falante que podia ser ouvido por quilômetros sobre as águas. Portanto, foi muito útil para se alcançar pessoas ao longo da costa. Depois de um discurso bíblico transmitido através do aparelho de som no barco, a pregação era muito agradável. Era fácil colocar literatura, e às vezes até 100 livros eram distribuídos numa só tarde ou noitinha.
Em 1931, o Charmian foi reconstruído sob a orientação de George Young e Frank Franske. Os Barstad puderam continuar seu trabalho ao longo da costa com diferentes tripulantes nos anos que se seguiram. Franske e sua esposa voltaram para o Charmian junto com os Barstad em 1940, até que uma proscrição do governo pôs fim a seu serviço com o barco. As autoridades confiscaram mais tarde o Charmian.
Após a segunda guerra mundial, Franske levou seu próprio barco a muitas partes no mesmo território com excelentes resultados. Famílias índias, tais como os Schooners, em Namu aceitaram a verdade. Em questão de 12 meses, nessa parte do campo canadense, Franske e James Quinn obtiveram mais de 1.500 assinaturas para nossos periódicos. Portanto, por diversos anos, foram usados barcos eficientemente na difusão da mensagem do Reino.
COLPORTORES PROSSEGUEM FIRMES NA OBRA
Os colportores estavam bem organizados em princípios da década de 1930. Além dos que trabalhavam sozinhos, havia cerca de sete “acampamentos” ou grupos. Esses “acampamentos” de colportores se achavam na Colúmbia Britânica, Manitoba, Alberta-Saskatchewan, Quebeque, Ontário do leste, Ontário do sudoeste e nas províncias de Maritime. Eles moíam seu próprio trigo, preparavam suas próprias refeições e trocavam literatura com alimento fresco. Pregavam nas zonas rurais fazendo uso de carro-campina em caravanas de acampamentos durante os meses em que o clima permitia isso. No inverno, esses colportores se mudavam para uma casa grande numa cidade onde podiam ajudar uma congregação local a cobrir seu território. Às vezes, esses grupos se mudavam para diversas cidades durante um só inverno.
Por volta desse tempo, os colportores começaram a ser chamados de pioneiros. E, em algumas regiões, realmente ‘abriram caminho’. Por exemplo, Arthur Melin e David Hadland fizeram excelente trabalho na região circunvizinha e a oeste do lago Burns, na Colúmbia Britânica. Em todo aquele território, que trabalharam no verão de 1932, não havia nenhum proclamador do Reino sequer. Com um Ford Modelo “A” e mais tarde com outro automóvel, cobriram uma grande área. Plantou-se a semente, e Jeová deu o crescimento. Há hoje 10 congregações nessa mesma área.
Naturalmente, o trabalho não foi realizado sem problemas e sem oposição. Em Hull, Quebeque, em 1932, três pioneiros foram presos e acusados falsamente de estarem distribuindo literatura sediciosa. Eles cuidaram do seu próprio caso perante o Juiz Achim, seguindo as orientações de Brooklyn quanto ao processo, e foram abençoados com a vitória. As condenações poderiam significar sentenças de cinco a 20 anos!
Foi também no ano de 1932 que o pioneiro Frank Lyster foi preso em Sherbrooke, Quebeque. Outrossim, naquele ano, houve um motim em Lachine, Quebeque. Janet MacDonald, uma pioneira especial que servia ali naquela época, relembra que havia em algumas cidades motins de 200 e 300 pessoas. Acrescenta ela:
“Quando nos encaminhávamos por entre a multidão, alguns se tornavam mais agressivos do que outros, e davam-nos pontapés ou socos. o ponto culminante seria em Lachine. O irmão Demorest foi jogado um lance de escada abaixo por um irado filho de um vereador. Eu estava trabalhando do lado oposto da rua e fui informada sobre a ocorrência por um homem que era favorável a nós e que me aconselhou a deixar o distrito. Eu e Demorest decidimos partir ambos ao mesmo tempo, mas tivemos dificuldade de passar entre a turba e, quando chegamos finalmente onde o carro estaria estacionado, descobrimos que não estava lá. Howard (meu marido) e os dois outros ir mãos tinham ido à procura de proteção policial, que foi recusada categoricamente. Estávamos esperando apenas por alguns minutos, quando ele voltou. Quando o irmão Demorest e eu tentamos entrar no carro, houve um atirar de ovos por todos os lados. o dono de uma casa comercial empurrara para a rua um engradado inteiro de ovos para a turba os usar. Era janeiro e os ovos se quebraram e congelaram, ficando o carro com aspecto horrível.”
As Testemunhas conseguiram partir sem sofrer dano físico, exceto o que se deu com o irmão Demorest. Mais tarde, instaurou-se processo contra isso. Um dos líderes da turba foi multado e teve de indenizar os gastos com o conserto do carro.
Houve também casos em que a polícia tentou interferir com um grupo que, com o uso de um carro-camping estava trabalhando nas províncias de Maritime. As autoridades tentaram fazer parecer que os pioneiros faziam uma obra comercial e que tinham de ter licença ou alvará. Isto aconteceu em Newcastle, Dalhousie, Bathurst, Campbellton, Grand Falls e Edmundston em Nova Brunswick. A interferência, porém nunca foi além do ponto de se ter de ir até a delegacia de polícia, porque Daniel Ferguson e Roderick Campbell haviam obtido, junto a uma autoridade na capital, uma carta que declarava que nossa obra não era de natureza comercial. Em geral, ao se mostrar essa carta à polícia, ela não tomava nenhuma ação adicional contra nós.
UMA OLHADA MAIS DE PERTO EM QUEBEQUE
Conforme já se observou, Quebeque nos anos 30 estava tornando-se um campo de batalha pela liberdade de adoração. E quem estava por trás da perseguição dos verdadeiros cristãos ali? Bem, se resta alguma dúvida em sua mente, dê uma olhada mais de perto nas nossas atividades naquela província durante aquela década cheia de eventos, e se tornará evidente a identidade dos principais opositores do povo de Jeová.
Houve muita oposição a nossa obra em Quebeque durante o inverno de 1931. Às vezes, Alfred Ouellette era detido pela polícia diariamente (em algumas ocasiões, duas vezes num dia), sendo levado à delegacia para interrogatório. Isto aconteceu também com Ovila Gauthier. Amiúde, a polícia dizia: “Recebemos telefonema do sacerdote [que disse] que vocês não têm autorização para fazer esta obra.”
Em 1932, as autoridades de Quebeque começaram a usar contra nós a antiga acusação falsa de sedição — isto nos casos que envolviam apenas diferenças de conceitos religiosos. (Veja Atos 24:1-8) o primeiro desses casos no Canadá se ouviu em Hull, Quebeque, onde Emery St. Amour e Wilfrid Spicer foram falsamente acusados de distribuírem literatura sediciosa. Todavia, o magistrado negou provimento a acusação.
No outono de 1933, uma carriagem de 40 automóveis, com 158 Testemunhas, partiu de Montreal, após uma assembléia, e percorreu 260 quilômetros até a Cidade de Quebeque. As 6,30 horas da manhã seguinte, cada qual se achava no seu local designado de antemão, estando de prontidão para começar uma rápida distribuição de três folhetos grátis em francês. Em questão de uma hora e meia, 45.000 folhetos foram distribuídos em toda a cidade, causando bastante agitação entre os sacerdotes. Trinta Testemunhas foram apanhadas e acusadas falsamente de ‘conspiração sediciosa’. Imagine só!
Apenas seis dessas Testemunhas foram finalmente levadas a julgamento. o primeiro desses casos que foram julgados foi o dos pioneiros George Barrett e George Brodie. Durante o julgamento de seis dias de duração perante um magistrado c um júri na Cidade de Quebeque, o demandante convocou como testemunhas dois sacerdotes católicos e dois clérigos proles. tentes, os quais disseram que, na opinião deles, a literatura das Testemunhas de Jeová era sediciosa. Sim, foram pronunciados culpados. Os acusados foram multados em 300 dólares (cerca de Cr$ 9.000,00) cada um ou mais cinco meses de prisão. Interpôs-se, sem êxito, recurso deste caso junto ao Tribunal de Recursos de Quebeque, que decidiu que a crítica feita pelas Testemunhas de Jeová à Igreja católica era sedição. Portanto interpôs-se a seguir recurso junto à Corte Suprema do Canadá, que revogou a decisão em base puramente técnica, de que a sentença fora impropriamente pronunciada. Por conseguinte, a decisão do tribunal de Quebeque de que criticar a Igreja constituía evidência de sedição não foi revogada e permaneceu parte da lei de Quebeque.
Em vista disto, as Testemunhas de Jeová podiam ser acusadas de sedição toda vez que distribuíssem uma publicação que discordasse do catolicismo. As autoridades reconheciam isto, e se tornaram comuns as acusações de sedição, resultando cm condenações em quase todos esses casos, entre 1935 e 1940.
UMA BÊNÇÃO A REMOÇÃO DOS ANCIÃOS ELEITOS
Por algum tempo, era uma causa de dificuldades nas congregações a existência de anciãos eleitos. Segundo o entendimento da época, esses eram eleitos democraticamente para o cargo. Naturalmente, muitos eram homens devotados que tinham mentalidade espiritual e eram verdadeira bênção para seus concrentes. Todavia, outros eram simplesmente bons com vereadores ou de outra forma eram persuasivos. Tinham talvez boa cultura ou posição na comunidade, e eram os mais populares, embora nem sempre fossem os mais adequados para as responsabilidades da congregação. Amiúde, a época dessas eleições livres era de tensão e de ressentimentos.
Quando a Sociedade Torre de Vigia designou diretores de serviço, e começou a ser incentivada em medida maior a obra de pregação pública, os “anciãos eletivos” que não queriam dar testemunho de casa em casa começaram a causar problemas. Eles próprios não se empenhavam na obra de evangelização e desencorajavam outros de fazê-la.
Embora alguns anciãos e peregrinos se tornassem infiéis havia, porém, os que eram leais e verdadeiros. Um exemplo esplêndido foi George Young, que deixou bons antecedentes de trabalho árduo, obras cristãs, bondade e consideração. Em todo o Oeste ele era conhecido como o “Evangelista” Young, e os cinemas ficavam superlotados para seus excelentes discursos. Ele foi designado como peregrino e serviu em todo o Canadá. Também, visitou congregações do povo de Deus nas Antilhas. Mais tarde, o irmão Young foi enviado à América do Sul para ajudar no desenvolvimento da obra do Reino ali, especialmente no Brasil. Foi até mesmo enviado à Rússia para tentar organizar a obra ali, mas a oposição governamental fez com que tivesse de deixar aquele país. Depois de continuar em outras designações por muitos anos, George Young morreu fiel a Jeová em 1939.
Portanto, quando olhamos para trás, para a época dos “anciãos eletivos”, temos de reconhecer que muitos homens que naquela época se desincumbiram das responsabilidades congregacionais serviram com muita fidelidade. Todavia, houve problemas, e foi preciso solucionados.
Que alívio e bênção foi para os fiéis ao terminar em 1932 o sistema de “anciãos eletivos”! A Sentinela indicou que alguém era ancião segundo a Bíblia ao ser qualificado em sentido espiritual e designado teocraticamente. As reuniões do povo de Deus foram então marcadas pela boa ordem, paz e união. Era evidente o espírito de Jeová. O resultado foi crescimento — progresso.
PROSCRITOS OS DISCURSOS RADIOFÔNICOS DE RUTHERFORD
Em 1933, sob a instigação do clero anglicano, a Comissão Canadense de Radiodifusão procurou novamente abafar a mensagem do Reino transmitida pelos canais de radioemissoras. Desta vez, a proscrição foi imposta a todos os discursos grava dos do Juiz J. F. Rutherford. Queira notar que se infiltrara a opinião pessoal na comunicação oficial da Comissão às estações de rádio em todo o Canadá. Ela dizia:
“Os discursos de certo Juiz Rutherford, um agitador antisocial, estrangeiro, não devem ser transmitidos pelas estações canadenses até que a continuidade ou os discos dos mesmos sejam submetidos à Comissão Canadense de Radiodifusão para aprovação. Assinado, Hector Charlesworth, Presidente.” (O grifo é nosso.)
Quem, porém, instigava Charlesworth a tal proceder? The Telegraph, Journal de S. João, Nova Brunswick, noticiou: “Hector Charlesworth, presidente da Comissão de Radiodifusão, declarou que foi recebida uma reclamação séria de um grupo de clérigos anglicanos em S. João.” (O grifo é nosso.) Esta reportagem citava alguns desses clérigos.
Começou em todo o país uma forte campanha de protesto contra a proscrição da radiodifusão. Entrou em ação com a distribuição de 1.350.000 exemplares de um “Importante Aviso ao Povo”, de quatro páginas, para familiarizá-lo com os fatos da questão. Daí, circulou um abaixo-assinado de costa a costa Houve 406.270 assinaturas, e recebeu muita publicidade na imprensa. A Assembléia Legislativa foi inundada de cartas de protesto e cartas de resolução de organizações sindicais e outras. o abaixo-assinado foi apresentado ao Governador-Geral e isto deu início a debates na Assembléia Legislativa. o Primeiro-Ministro prometeu considerar a questão, mas não foi feito nada a respeito.
A decisão de Charles-Worth de manter a proscrição é evidenciada pela resposta dele a uma estação que desejava agir com justiça nessa questão e também salvaguardar-se financeiramente em tempos difíceis. A Idade de Ouro (predecessora de Despertai!) noticiou:
“Uma das estações do Canadá enviou um telegrama para o Sr. Charlesworth declarando, com efeito, que, ‘embora não concordemos plenamente com os discursos do Juiz Rutherford, não conseguimos achar nada que fosse de natureza anti-social ou comunista. O teor de sua radiodifusão é dirigido contra outras formas de religião e é a exaltação de seu próprio credo que nós chamaríamos de fundamentalismo. Acreditamos que devemos aceitar radiodifusões de toda natureza nos interesses da liberdade de palavra, conquanto não entrem em conflito com o governo democrático. Nos tempos atuais, a perda de rendimentos causa-nos dificuldades’. Complementando este telegrama, a estação telefonou para o Sr. Charlesworth, a fim de obter permissão para continuar a radiodifusão por pelo menos duas semanas de qualquer forma, e a resposta foi: ‘Absolutamente não.’”
MAS A VERDADE REPERCUTE!
Não obstante a proscrição da radiodifusão, discursos bíblicos gravados continuaram, porém, a ser ouvidos em todo o Canadá. Por volta de 1931, passamos a usar fonógrafos em nosso trabalho de pregação. Foram projetados para tocarem discos gravados e amplificarem o som por meio de alto-falantes. Os fonógrafos usados nesse país foram projetados e construídos na filial da Sociedade no Canadá. Tocariam os mesmos discursos gravados de J. F. Rutherford que eram usados nas estações emissoras. Por conseguinte, quando a pressão religiosa causou o cancelamento do nosso horário no rádio em 1933, a Sociedade começou a fazer maior uso de fonógrafos portáteis. Os discursos gravados foram tocados em cada vez mais salões e locais de congresso.
Havia também um modelo desse fonógrafo que podia ser usado em automóveis, fazendo deles assim carros sonantes. Esses poderosos aparelhos de som podiam ser ouvidos por vá. rios quilômetros quando se colocava o volume no máximo. Uma inovação canadense foi montar os alto-falantes sobre um mastro telescópico que podia ser erguido uns doze metros, para projetar o som a uma distância maior.
Embora houvesse muita oposição clerical ao nosso uso de fonógrafos, o público em geral apreciava o que as Testemunhas de Jeová estavam procurando fazer. Muitas pessoas aprenderam a verdade de Deus por este meio, e foram formadas congregações em resultado dos discursos que faziam refletir.
Um relatório da Columbia Britânica declara: “Certo homem em Langley estava consertando o telhado de seu estábulo e ouviu uma voz que falava sobre o assunto ‘Onde Estão os Mortos?’ Não conseguia ver ninguém, mas ouviu cada palavra desse discurso. Além disso, ele não quis dizer para ninguém o que ouvira de medo que pensassem que ele estava louco. Portanto, guardou tudo para si. Na manhã do domingo seguinte, quando alguém bateu à sua porta trazendo o próprio folheto Onde Estão os Mortos?, o mistério foi solucionado! Em pouco tempo, formou-se uma congregação em Langley para todos os novos discípulos.”
Durante a década de 1930, o fonógrafo portátil veio também a ser usado em nossas atividades de testemunho. De início, era usado em palestras bíblicas com pessoas interessadas. Mais tarde, esses fonógrafos foram usados no nosso trabalho de pregação de casa em casa, e a mensagem do Reino foi apresentada por meio desses. Eram usados discos com os discursos bíblicos, gravados, do irmão Rutherford (cada um de quatro minutos e meio de duração) nos territórios de língua inglesa, e havia muitos assuntos disponíveis. Essas gravações foram usadas no Canadá a partir de 1934. Num só ano, em 1938, mais de 900 fonógrafos foram enviados às Testemunhas no Canadá, perfazendo um total de quase 2.500 deles que estavam sendo usados naquele tempo.
Sim, foi um período de entusiástico serviço do Reino. Ora em 1935, havia mais de 2.200 proclamadores das “boas novas’ que estavam ativos em 150 congregações em todo o Canadá! Também, no fim de 1935, haviam sido feitos os ajustes necessários para os 16 membros da família de Betel de Toronto, a fim de serem acomodados na sede da filial.
DIFICULDADES INTERNAS
Nossa obra progredia. Contudo, parece que 1936 foi um ano de crise. Houve dificuldades dentro e fora da organização. De todos os lados havia oposição no campo. Na vizinhança de Chéticamp, Nova Escócia, as pessoas jogavam água quente e até mesmo leitelho nos publicadores do Reino. Em Ste. Anne des Chênes, Manitoba, uma turba confundiu os automóveis de alguns turistas norte-americanos com os de um grupo de Testemunhas e atirou pedras, ovos e tomates nos carros. Os residentes da cidade ficaram embaraçados justificadamente. Em Quebeque, continuou forte oposição à nossa obra.
Mas tivemos também problemas internos a enfrentar. Centralizavam-se em torno do então encarregado da filial, W. F. Salter. Parece que desde 1935 ele não estava de pleno acordo com o conceito bíblico sobre a “grande multidão”, conforme apresentado nas publicações da Torre de Vigia. (Rev. 7:9) Imagine dizer ele às pessoas: “Não há necessidade de dar testemunho de casa em casa senão depois do Armagedom!” Se as pessoas adotassem esse conceito, seria certamente impedida a obra de alcançar essa “grande multidão”.
Soube-se que Salter achava que ele seria um novo canal de comunicação para as Testemunhas de Jeová e que A Sentinela imprimiria com o tempo os seus conceitos, como a ‘salvação universal’. Escreveu também a um encarregado de filial na Europa dizendo que ele (Salter) esperava ser o próximo presidente da Sociedade Torre de Vigia. Laura French, membro da família de Betel de Toronto, relata que algumas das observações de Salter durante o estudo da Sentinela, da família de Betel, nas noites de segunda-feira, eram desconcertantes, de modo que quando se fez votação mais tarde quanto a quem devia dirigir o estudo, a maioria votou contra ele e a favor de Frank Wainwright.
As coisas tinham de vir à tona. O irmão Rutherford foi a Toronto, fez uma reunião de cinco horas com os membros da família de Betel e fez com que alguns deles lessem as cartas que haviam escrito, apresentando queixas contra Salter. Daí o irmão Rutherford apresentou evidência de que Salter vinha tentando influenciar os irmãos a se desviar da organização para si próprio, evidência obtida não só no Canadá, mas também na Inglaterra e na Alemanha. Salter foi substituído como encarregado da filial e recebeu um prazo de duas semanas para se mudar. (Sete outros foram convidados a partir naquele tempo, a maioria sendo simpatizantes de Salter.) Rutherford foi muito paciente com Salter durante a reunião e durante o tempo em que se acumulava evidência contra ele.
Percy Chapman, que servira zelosamente por muitos anos no Betel de Londres, tornou-se o novo encarregado da filial, e voltou a paz à família de Betel. Mas uma barragem de cartas e literatura de Salter, enviada a muitas Testemunhas e seguidores dele, tornou claro que não houve arrependimento de sua parte. Por conseguinte, ele foi desassociado em 1937 pela congregação de Toronto.
A REORGANIZAÇÃO PRODUZ INCREMENTADA FORÇA ESPIRITUAL
Nos três anos seguintes, houve intensiva reorganização do trabalho de pregação do Reino, o inteiro pais sendo organizado em 14 divisões, cada uma tendo um servo divisional encarregado. Deu-se ênfase à atividade de revisitas. Os ajustes congregacionais em 1938 resultaram em maior paz, união e eficiência no trabalho.
Durante esse período, houve também alguns ajustes no pessoal do Betel de Toronto. Por exemplo, Leo K. Greenlees chegou a Betel, em Toronto, em 13 de junho de 1936. Ele fora pioneiro por cinco anos em Ontário, Montreal e nas províncias de Maritime. Em Betel, o irmão Greenlees teve muitos privilégios excelentes. Com o tempo, tornou-se o tesoureiro da filial do Canadá e da Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia do Canadá. Em 1964, o irmão Greenlees foi convidado para o Betel de Brooklyn, onde ele serve agora como um dos membros do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.
Lá atrás, em 24 de agosto de 1937, Jack Nathan chegou da Inglaterra, desembarcando primeiro em Montreal e daí indo para o Betel de Toronto. Na primavera de 1938, ele começou o que então se chamava de serviço de zona, que era similar à atividade de um superintendente de circuito hoje. o irmão Nathan cobriu toda a península do Niágara e foi em direção ao norte até Kitchener e Guelph. Naquela época, relembra ele, havia umas 20 congregações naquela designação, com cerca de 700 publicadores do Reino. Desde então, porém, tem havido notável crescimento nessa região.
Faz quatro décadas que o irmão Nathan começou a servir no Betel de Toronto, onde ainda continua suas atividades para o louvor de Jeová. Contudo, ao olharmos para trás para o começo de seu serviço prestado a seus concrentes no campo canadense, é evidente que ele recebeu então um bom treinamento. Preparou-o para o importante papel que desempenharia um pouco mais tarde, mantendo-o em contato com seus irmãos em todo o país para os encorajar e os manter organizados para as atividades de pregação do Reino nas circunstâncias difíceis que logo lhes sobreviriam.
A OBRA NA TERRA NOVA
A filial da Sociedade Torre de Vigia no Canadá vinha cuidando da obra de proclamação do Reino na Terra Nova. Mas o verão de 1936 trouxe mudança na supervisão da obra ali. Visto que toda a expedição da Sociedade era feita de Nova Iorque e um pequeno depósito era mantido na Terra Nova, achou-se então melhor que a filial dos Estados Unidos cuidasse da obra na Terra Nova.
Em 1938, a Terra Nova passou novamente a ser supervisionada pela filial da Sociedade no Canadá. Esse arranjo continuou até 1945, quando uma filial separada foi estabelecida na Terra Nova. Embora em 1949 a Terra Nova se tornasse parte da confederação que forma o Canadá, permanece uma filial separada, da Sociedade.
PERTO DO FIM DOS ANOS 30
Chegávamos perto do fim de uma década de emocionante expansão e progresso congregacional. Sim, os anos 30 no Canadá deram evidência de um aumento contínuo e salutar. O número dos proclamadores do Reino subira de 798 em 1931 para 4.269 em 1939. o número de pioneiros aumentara de 126 para 294 durante o mesmo período.
Mas nuvens de guerra assomavam no horizonte. O ano de 1939 trouxe outra emergência internacional, e com ela o despertar de sentimentos dos elementos patrióticos que tão rapidamente se tornaram extremistas nas suas exigências com os outros. Enfrentamos problemas com cerimônias nacionalistas nas escolas, problemas em conexão com trabalho secular, problemas porque estávamos decididos a permanecer neutros. Finalmente, fomos confrontados com um tremendo problema que nos sobreveio em meados de 1940.
MAIS UMA VEZ PROSCRITOS!
A vinda da Segunda Guerra Mundial em 1939 forneceu aos inimigos religiosos outra oportunidade de tentar interromper as atividades do povo de Jeová. Tendo fracassado até então na sua batalha jurídica aberta, especialmente em Quebeque, nossos adversários clericais passaram a agir nos bastidores, para engodar os políticos a cumprir o desejo deles.
O verão de 1940 foi um tempo sombrio para as nações ocidentais que apoiavam a causa dos Aliados na guerra. Os exércitos de Hitler haviam invadido a maior parte da Europa. A França caiu em questão de semanas. Nessa atmosfera tensa o Ministro da Justiça, do Canadá, Ernest Lapointe, católico romano, da Cidade de Quebeque, pôs-se de pé na Câmara dos Comuns em 4 de julho de 1940 e anunciou: “Desejo colocar na mesa da câmara um decreto que declara ilegal a organização conhecida por Testemunhas de Jeová.”
Portanto, subitamente e sem aviso ou oportunidade de defender sua posição, as Testemunhas de Jeová e a Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia no Canadá foram proscritas em 4 de julho de 1940. A propriedade da Avenida Irwin, 40, Toronto, e os fundos no banco em nome da A. I. E. B. foram confiscados pelas autoridades. Em 5 de julho de 1940, a filial foi lacrada pela Real Polícia Montada do Canadá.
Para impedir a importação e distribuição de nossa literatura o governo declarou também ilegais a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pensilvânia e a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Nova Iorque, Inc., E. U. A. Isto ocorreu cerca de um mês após a proscrição da A. I. E. B. Portanto, felizmente, tivemos tempo de enviar parte do nossa equipamento de impressão e de nossa literatura para os Esta dos Unidos. Todavia, desta vez parecia certamente que as Testemunhas de Jeová estavam liquidadas no Canadá.
SOBREVIVEMOS À PROSCRIÇÃO INSPIRADA PELO CLERO
A proscrição imposta em 4 de julho de 1940, fez desencadeai imediatamente uma onda de perseguição contra as Testemunhas de Jeová no Canadá. Logo no dia seguinte, a Polícia Montada começou a invadir lares particulares e Salões do Reino das Testemunhas e confiscou estoques de Bíblias e de outras publicações religiosas. A filial da Sociedade foi ocupada pela polícia.
Após a imposição da proscrição, em algumas áreas a perseguição foi muito intensa. Por exemplo, foi interrompida uma reunião para a celebração da Refeição Noturna do Senhor na Cidade de Quebeque e outra em Montreal. Crianças foram expulsas das escolas e afastadas de seus pais tementes a Deus. Muitas Testemunhas foram processadas e encarceradas. Ao todo, havia mais de 500 processos. Foram esses cristãos acusa. dos de alguma ação má? Não. Foram punidos meramente por serem Testemunhas de Jeová!
A proscrição provocou muita crítica amarga da parte do público. Era patente para muitos cidadãos canadenses, inclusive para as autoridades governamentais, que a campanha contra esses cristãos humildes era totalmente injusta. Angus Macinnis, Membro da Assembléia Legislativa de Vancúver disse à Câmara dos Comuns: “Desejaria dizer com toda a minha convicção que a denúncia e a perseguição das Testemunhas de Jeová sob a justificativa dos regulamentos do Canadá é uma constante vergonha para este pais, para o Ministério da Justiça e para o povo canadense.”
Finalmente, as Testemunhas de Jeová obtiveram uma oportunidade de desafiar a proscrição. Em 1942, uma Comissão Selecionada da Câmara dos Comuns fez uma revisão da proscrição e permitiu que Charles Morrell e Robert McNaul respondessem, em favor das Testemunhas de Jeová, às acusações infundadas feitas pelo governo.
Em 23 de julho de 1942, a Comissão recomendou unanimemente a supressão da proscrição. Eis aqui alguns comentários dos membros da Comissão, citados dos debates oficiais da Assembléia Legislativa:
“Nenhuma evidência foi apresentada perante a comissão pelo Ministério da Justiça que indicasse que em algum tempo as Testemunhas de Jeová devessem ser declaradas uma organização ilegal.”
“É uma vergonha para o Domínio do Canadá que pessoas vejam processadas por causa de suas convicções religiosas do modo como essas pobres pessoas foram processadas.” (O grifo é nosso.)
Não obstante esta recomendação o então Ministro da Justiça, Louis St. Laurent, recusou-se ainda a suspender a proscrição. (St. Laurent estava substituindo Lapointe, que morrera em novembro de 1941.) Um ano mais tarde, a proscrição ainda vigorava. Em 21 de julho de 1943, o governo foi novamente atacado na Câmara dos Comuns por recusar legalizar as Testemunhas.
Victor Quelch, Membro da Assembléia Legislativa, de Acádia, observou: “Faz a pessoa realmente perguntar-se se a ação contra as Testemunhas de Jeová é em grande parte por causa de sua atitude para com os católicos romanos, em vez de sua atitude de natureza subversiva. . . . Esta pergunta está sendo feita em todo este país. Pergunta-se-me isto de uma extremidade do Canadá à outra.”
O Excelentíssimo G. C. Crerar, Ministro da Defesa, negou veementemente esta sugestão, declarando: “Ele suscitou a pergunta sobre se a diretriz do governo concernente às Testemunhas de Jeová estava inspirada no ataque delas contra a igreja católica, romana. . . . essa conclusão não tem fundamento, absolutamente.” (O grifo é nosso.)
Mas os arquivos oficiais, desde que foram abertos ao público, provam que o Sr. Crerar estava errado! Foi, na realidade, uma carta (em francês) do palácio do Cardeal Villeneuve, católico, dirigida ao Ministro da Justiça Lapointe que causou a imposição da proscrição. Eis uma tradução da carta para o português:
Arquidiocese de Quebeque
Chancelaria
Quebeque, 27 de junho de 1940
Prezado Senhor:
Sua Eminência o Cardeal seria feliz se chamasse a atenção do Excelentíssimo Sr. Ernest Lapointe, Ministro da Justiça para o anexo editorial principal de Quebeque, a respeito das publicações da Torre de Vigia ou das Testemunhas de Jeová.
Certos livros e panfletos, enviados novamente em data recente pelo correio, e especialmente o periódico Consolação, representam tudo o que há de mais desmoralizador e destrutivo da força espiritual do país.
Agradecendo-lhe antecipadamente, prezado senhor, a sua gentil consideração dispensada a esta carta, permaneço
Sinceramente ao seu dispor
Paul Bernier, Chanceler
Para: Secretário Particular
do Exmo. Sr. Ernest Lapointe
Ministro da Justiça
OTAVA, Ontário
A carta acima foi, na realidade, um pedido do cardeal par que Lapointe declarasse ilegais as Testemunhas de Jeová La pointe sabia que seu poder dependia do cardeal e responder logo. A parte ulterior deste drama de sigilo e intriga é a seguinte carta (traduzida do francês), enviada uma semana mais tarde pelo secretário particular de Lapointe ao chancele do Cardeal Villeneuve:
PESSOAL
4 de julho de 1940
Monsenhor Paul Bernier
Chanceler da Arquidiocese
Palácio do Cardeal
QUEBEQUE
4 de julho de 1940
Sr. Chanceler:
Ao receber sua carta de 27 de junho, empreendi cumprir o desejo de Sua Eminência o Cardeal, no sentido de dirigir a atenção do Ministro para as suas exposições, bem como para o editorial publicado por L’Action Catholique, a respeito da Torre de Vigia, das Testemunhas de Jeová e da Consolação.
O Sr. Lapointe me deu permissão de transmitir-lhe por telefone a informação confidencial de que a dita organização das Testemunhas de Jeová será declarada ilegal a partir de hoje junto com a solicitação de que Sua Eminência, o Cardeal, seja informado disto.
Esta carta é para confirmar o que acabo de lhe dizer pelo telefone.
Entendo que Sua Eminência, o Cardeal, será devidamente informando da ordem do Ministério relativa às Testemunhas de Jeová.
Queira aceitar, Sr. Chanceler, a expressão de meus agradecimentos e de minha elevada consideração.
A carta foi assinada pelo secretário particular de Lapointe. Desde o tempo em que o cardeal fez o pedido, levara apenas sete dias para que a proscrição fosse imposta. Houve grande regozijo no palácio do cardeal. Seu chanceler escreveu para o secretário particular de Lapointe em 8 de julho de 1940. Segundo traduzido do francês, essa carta dizia:
Sou-lhe muitíssimo grato pela sua ansiedade de chamar a atenção do Excelentíssimo Sr. Lapointe para o assunto de minha carta de 27 de junho.
Não preciso acrescentar, — visto que Sua Eminência já deverá ter escrito para o Sr. Lapointe, a fim de expressar sua satisfação a respeito da ordem ministerial em questão, — quanto essa pronta e feliz solução merece nossos elogios e agradecimentos.
Queira aceitar a renovada expressão de minha gratidão e de meu profundo apreço.
Paul Bernier, sacerdote.
Portanto, embora o Excelentíssimo G. C. Crerar tivesse negado veementemente, perante a Assembléia Legislativa em sessão pública, qualquer influência da parte da Igreja Católica, a verdade de que a proscrição contra as Testemunhas de Jeová foi maquinada diretamente do palácio do cardeal católico romano, na Cidade de Quebeque, é estabelecida pelos próprios arquivos do governo.
Entretanto, apesar do poder do cardeal e do Ministro da Justiça de Quebeque, as pressões sobre o governo da parte dos membros, de mentalidade justa, da Assembléia Legislativa e de outros canadenses resultaram na supressão da proscrição em 14 de outubro de 1943, quando a guerra ainda estava no seu apogeu. Tal inversão da situação durante aquele período crucial da história era realmente uma admissão de que não havia base já de início para a proscrição.
Levou ainda mais alguns meses de luta árdua, requerimentos, cartas, mandados judiciais e demanda para conseguirmos que o recalcitrante Ministro da Justiça, St. Laurent, suprimisse a proscrição sobre a Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia (13 de junho de 1944) e a Sociedade Torre de Vigia (22 de maio de 1945). Mas, por fim, estávamos prontos para a expansão do após-guerra.
PROBLEMAS DA ÉPOCA DE GUERRA APÓS A PROSCRIÇÃO
A supressão da proscrição restabeleceu as Testemunhas de Jeová como organização legal, livre, para prosseguir com suas atividades religiosas. Todavia, o país ainda estava em guerra e ainda havia muitos problemas jurídicos para o povo de Deus. Entre estes, achavam-se: a isenção do serviço militar para os ministros das Testemunhas de Jeová, a detenção de Testemunhas nos campos governamentais por escusa de consciência, e o direito de escolares cristãos refrearem-se da saudação à bandeira. Quase coincidindo com a supressão da proscrição, o jovem pioneiro Glen How, de Toronto, foi admitido na Ordem dos Advogados da Província de Ontário. Ele se tornou muito ativo nas muitas batalhas jurídicas que se seguiram.
O alistamento no serviço militar havia sido introduzido no Canadá no ano de 1940. Havia provisão de isenção para “ministro de denominação religiosa”. Todavia, nenhum dentre os servos de Jeová podia reivindicar a isenção enquanto vigorava a proscrição, visto que a organização religiosa das Testemunhas de Jeová era nesse tempo considerada ilegal. A supressão da proscrição mudou o panorama. Em Toronto, abriu-se um escritório como Testemunhas de Jeová do Canadá. Havia então uma organização visível para defender o povo de Jeová.
LUTA PARA OBTER RECONHECIMENTO
Em novembro de 1943 enviou-se um mandado judicial ao Ministro do Trabalho, solicitando isenção para os ministros das Testemunhas, de tempo integral, em funções especiais. O governo recusou conceder isenção. Embora as Testemunhas de Jeová no Canadá tivessem 15.000 pessoas na assistência durante a Comemoração naquele ano, esta foi a única religião que as autoridades não quiseram reconhecer como tendo sequer um ministro.
Foi preciso lutar nos tribunais em favor desta questão. O primeiro caso de vulto foi a defesa de Earl Kitchener Stewart, julgado em 1943, e para o qual se interpôs recurso junto ao Tribunal de Recursos da Colúmbia Britânica, depois de ter sido julgado pelo tribunal de inferior instância de Vancúver. Os bons antecedentes do irmão Stewart como proclamador do Reino, de tempo integral, desde 1938, não fizeram nenhuma diferença. Não se deu provimento à sua defesa e ele foi pronunciado culpado.
Destemidamente, o povo de Jeová fez outra tentativa. O governo quis alistar Leo K. Greenlees, membro da filial de Toronto (agora do Corpo Governante), que fora ministro de tempo integral desde 1931. Ao invés de esperar que as autoridades instaurassem processo, moveu-se ação para julgamento declamatório, intitulada Greenlees v. Procurador-Geral do Canadá. O processo exigia uma declaração de que Leo Greenlees era ministro, não-sujeito ao recrutamento. Foi uma ação ousada, que deixou os opositores surpresos. A guerra ainda continuava e qualquer coisa que tinha a ver com o militarismo era considerada quase sacrossanta. Todavia, eis aqui uma organização que acabava de sair da proscrição. Em vez de se encolher quietamente, fazia exigência ousada de justiça e tratamento eqüitativo. As Testemunhas de Jeová estavam de volta no cenário e todos ficaram sabendo!
O caso Greenlees recebeu plena audiência pelo Sr. Juiz Hogg, da Corte Suprema de Ontário. L. K. Greenlees, Percy Chapman e Hayden C. Covington apresentaram a evidência. Não obstante a forte evidência, o juiz não deu provimento à ação à base de um fraco e capcioso raciocínio. Interpôs-se recurso junto ao Tribunal de Recursos de Ontário, que também pronunciou uma decisão evasiva, recusando essencialmente tratar da verdadeira questão jurídica. A seguir, fez-se requerimento para permissão de interpor recurso junto à Corte Suprema do Canadá. Mas recusou-se a dar provimento ao recurso em base técnica de que não havia reivindicação financeira no caso.
A única solução que restava era interpor recurso junto ao Conselho Privado de Londres, Inglaterra. Apresentaram-se os autos do processo em Londres para audiência durante outubro de 1946. Pouco antes do tempo para argumentação, porém o governo ab-rogou a lei do alistamento. Não havia mais lei a respeito da qual argumentar; portanto, o caso terminou sem uma decisão final. Pelo menos, o irmão Greenlees foi protegido.
POSTOS EM LIBERDADE DOS CAMPOS
Diversas Testemunhas de Jeová, por escusa de consciência, haviam sido forçadas a trabalhar nos campos do sertão canadense. Tal prática continuou por um período de quatro anos até 15 de julho de 1946. Em certa época, havia 283 Testemunhas em tais campos. Era fácil sair desses campos fazendo um pagamento nominal para a Cruz Vermelha, um proceder que a maioria achou inaceitável. Embora o Ministério do Trabalho dissesse muito sobre colocar homens a serviços essenciais, o verdadeiro objetivo era amiúde impedir que os pregadores de tempo integral das Testemunhas de Jeová ficassem livres para declarar as “boas novas”.
No verão de 1946, todos os que apresentaram escusas de consciência no Canadá haviam sido soltos, exceto 73 Testemunhas de Jeová. Preparou-se um mandado judicial, em que se indicou a posição arbitrária e contraditória que o Ministério havia adotado, a fim de conservar esses cristãos encarcerados após terem sido soltos todos os demais que apresentaram escusas de consciência. Cópias da exposição foram enviadas a amistosos Membros da Assembléia Legislativa. Alguns ficaram indignados ao descobrirem o que o governo estava fazendo. Começaram a “crivar” o Ministério do Trabalho de perguntas embaraçosas na Câmara dos Comuns.
Em 10 de julho de 1946, John Diefenbaker, M. P. (mais tarde Primeiro-ministro do Canadá), perguntou: “Quantos membros das Testemunhas de Jeová ainda estão retidos nos campos de concentração?” Esta espécie de pressão foi demais para o Ministério. Em 15 de julho de 1946, todos os campos de trabalhe forçado foram fechados. Concordemente, esses jovens proclamadores do Reino ficaram livres para participarem da expansão cristã do após-guerra.
A QUESTÃO DA SAUDAÇÃO À BANDEIRA
A questão da saudação à bandeira, que envolveu os cristãos no Canadá, surgiu quase paralelamente com a dos Estados Unidos. A publicidade dos Estados Unidos sobre esta questão só alastrou no Canadá, e, a partir de aproximadamente 1940, diversas juntas de educação em todo esse país começaram a estabelecer cerimônias compulsórias de saudação à bandeira.
Diversas ações judiciais contestaram o poder das juntas de educação de forçar cerimônias de saudação à bandeira e quanto ao hino nacional. Um desses casos foi o de Ruman v. Lethbridge, em Alberta. O tribunal decidiu que a junta de educação tinha o poder de forçar os alunos a participar. Mas a legislatura provincial mostrou elevado respeito pela liberdade e mudou a Legislação de Educação, a fim de que os filhos das Testemunhas de Jeová ficassem livres para freqüentar a escola sem molestarão.
A principal prova judicial, porém, deu-se em Hamilton, Ontário, onde um caso prolongado continuou desde 1940 até 1945. Vinte e sete crianças foram expulsas da escola em Hamilton por recusarem saudar a bandeira e cantar o hino nacional. Foi preciso estabelecer uma Escola do Reino, particular, a fim de que as crianças não fossem impedidas de receber educação.
Moveu-se ação legal, solicitando-se que o tribunal ordenasse a readmissão das crianças na escola sem terem de participar das cerimônias quanto à bandeira e ao hino. Este caso foi julgado em Hamilton, em 30 e 31 de março de 1944. o magistrado do tribunal, o Sr. Juiz Hope, um militar altamente patriótico decidiu contra as Testemunhas de Jeová e disse que a junta de educação não só tinha o poder de requerer os exercícios, mas também, “um dever imperativo de exercer seus poderes”. Essencialmente, esta decisão exigia que todas as demais juntas de educação na província expulsassem os filhos das Testemunhas de Jeová, caso não participassem dos exercícios de saudação à bandeira e em entoar o hino.
Este caso foi levado perante o Tribunal de Recursos de Ontário, onde foi debatido em março de 1945. A guerra ainda estava em andamento, o fervor patriótico era intenso, e as Testemunhas de Jeová estavam reorganizando-se após a proscrição. Quando os debates iniciaram, o tribunal se mostrou bastante hostil. Foi preciso manter uma posição firme, ao passo que os três juízes faziam rapidamente uma barragem de perguntas sobre as Testemunhas de Jeová e suas crenças. O antagonismo inicial, porém, começou a se desvanecer, e os juízes deram uma audiência muito justa. Subseqüentemente, decidiram de modo unânime a favor do povo de Jeová, tornando, assim, possível a nossos filhos freqüentar a escola e receber educação sem terem de participar de exercícios que ferem sua consciência.
Esta decisão foi um choque terrível para a Junta de Educação de Hamilton e para seus juristas que foram veementes nos seus ataques contra as Testemunhas de Jeová. Procuraram interpor recurso junto à Corte Suprema do Canadá, mas a Corte recusou-se a dar provimento. Concordemente, a decisão favorável do Tribunal de Recursos de Ontário foi a decisão final. Por mais de 30 anos, esta excelente decisão tem sido muito útil em repelir os “patriotas” que, de tempos a tempos, têm procurado renovar esta questão.
A LUTA PELA LIBERDADE EM QUEBEQUE
Com o fim da proscrição e com a aproximação do fim da Segunda Guerra Mundial, o tempo em 1944 havia amadurecido para renovada atividade de pregação do Reino em Quebeque. O primeiro-ministro da província era Maurice Duplessis, um político ardiloso e sem princípios, que trabalhou em íntimas relações com o clero católico. Duplessis foi descrito por um historiador como sendo “um demagogo decidido a conservar a província confortavelmente segura, atrasada e corruta”.
Nesse tempo, havia um pouco menos de 300 Testemunhas em toda a Quebeque. Logo que reassumiram a sua atividade de pregação na área de Montreal, começaram a ser feitas contra elas, segundo os regulamentos locais, acusações de “atentado a ordem pública”. Em fins de 1944, houve aproximadamente 40 de tais casos. O número dos processos aumentou rapidamente em 1945, e os olhos do país inteiro estavam voltados para a luta em setembro de 1945, quando os amotinados católicos atacaram as Testemunhas em Châteauguay e Lachine. Mas este pequeno grupo de cristãos intrépidos se manteve firme contra esses ataques. — Jer. 1:19.
No fim de 1945, o número de casos jurídicos havia subido para mais de 400. Mas o fim disto não estava à vista. Em fins de 1946, havia mais de 800 casos pendentes nos tribunais de Montreal, Verdun, Outremont, Lachine, Cidade de Quebeque, Sherbrooke e outros centros! Estes casos jurídicos e as constantes detenções eram uma molestarão cansativa para o povo de Jeová. Há o lado humano de tais ações, como é de imaginar. Não era fácil suportar detenções, tensões, demoras com pressão, humilhação, perda de empregos e contínua frustração.
“O ÓDIO ARDENTE DE QUEBEQUE”
Algo tinha de ser feito para aliviar a grande pressão sobre as fiéis Testemunhas em Quebeque. Portanto, realizou-se uma assembléia especial em Montreal, de 2 a 3 de novembro de 1946. Estiveram presentes N. H. Knorr, então presidente da Sociedade Torre de Vigia, e o consultor jurídico da Sociedade procedente de Brooklyn, H. C. Covington. O discurso concludente do irmão Knorr intitulava-se: “O Que Devemos Fazer?”
Havia comoção no ar ao passo que uma assistência que estava na expectativa e emocionada ouvia o irmão Knorr dar a resposta lendo ao público, pela primeira vez, o documento, agora histórico: “O Ódio Ardente de Quebeque a Deus, a Cristo e à Liberdade É Uma Vergonha Para Todo o Canadá”. Era um tratado bem forte! Em tom firme e medido, Knorr proclamou como mensagem de condenação, a denúncia de Jeová contra a administração corruta da Província de Quebeque. O panfleto era uma declaração dura e sem rodeios dos fatos que nunca foram contestados.
O irmão Knorr anunciou que em 15 de novembro de 1946 — apenas 12 dias mais tarde — começaria uma distribuição grátis desse tratado através do Canadá e que continuaria por 16 dias. Isto foi um forte convite para ação!
DUPLESSIS DECLARA “GUERRA SEM MISERICÓRDIA”
O panfleto “O Ódio Ardente de Quebeque” foi rapidamente difundido através do pais, inclusive em Quebeque. Começou nesse tempo realmente a sério a batalha jurídica. Duplessis declarou publicamente “Guerra sem Misericórdia Contra as Testemunhas de Jeová”. Em vez de 800 casos jurídicos, logo tivemos 1.700. Duplessis renovou a antiga lei sobre sedição e, em pouco tempo, havia mais de 100 de tais acusações. o pais inteiro começou novamente a observar a luta em Quebeque
Em 4 de dezembro de 1946, Duplessis, na sua fúria, lançou um bumerangue jurídico, que se voltou contra ele. Ele cancelou injustamente a licença de vender bebidas alcoólicas do restaurante de propriedade de Frank Roncarelli, que era Testemunha de Jeová. Este ataque contra os meios de vida de um homem irritou a comunidade comercial em todo o Canadá. Todos podiam ver que um ditador sem princípios controlava Quebeque. Cidadãos proeminentes de Montreal realizaram uma grande reunião de protesto.
Enquanto o país ainda estava indignado por causa da ação arbitrária de Duplessis, o magistrado Jean Mercier, juiz católico romano da Cidade de Quebeque, lançou outro bumerangue. O pioneiro especial John Maynard How estava em audiência perante Mercier, em 17 de dezembro de 1946, sob a acusação de perturbar a tranqüilidade, uma simples acusação de ter violado os estatutos municipais. O magistrado Mercier, porém perdeu completamente o autodomínio. As manchetes gritavam: “Juiz Açoita Seita de Jeová. Diz Merecerem Prisão Perpétua.” Certa história explicava: “Mercier disse que foram emitidas ordens para que a polícia de Quebeque prenda toda pessoa que se sabe ou se suspeita ser testemunha de Jeová que encontrar, e incumbiu seu tribunal para que continue a fazer um expurgo implacável de todos os simpatizantes.”
O homem que fez estas declarações era um juiz que se pensava que fosse justo e imparcial. A conduta de homens como Duplessis e Mercier provava quão exatas — com efeito moderadas — eram as acusações que apareceram no panfleto “O ódio Ardente de Quebeque”. Eram típicos da reação da imprensa os títulos dos seguintes editoriais:
Retorna a Quebeque a Era do Obscurantismo (Star de Toronto)
Que Juiz! (Journal de Otava)
Volta da Inquisição (The Globe and Mail de Toronto)
O Mau Cheiro do Facismo (The Gazette, Baía de Glace)
Em vez de baterem em retirada da luta, as Testemunhas de Jeová lançaram um segundo volante, um panfleto intitulado “Quebeque, Falhou a Seu Povo !” Esta resposta às acusações falsas de Duplessis foi distribuída em janeiro de 1947, e desta vez a distribuição foi feita à noite, a fim de serem evitadas as contínuas detenções do povo de Deus por parte da polícia de Quebeque.
Ocorrendo paralelamente com essa comoção, estava em curso uma batalha jurídica muito ardente na Cidade de Quebeque. o pequeno grupo de pioneiros ali — Laurier Saumur, John Maynard How, Gerald Barry e Russell Herbert Headworth — enfrentou uma série de ações judiciais em tão rápida sucessão, ora comparecendo diante da vara do magistrado Mercier e saindo de lá, ora entrando na prisão e saindo de lá, que os jornais intitularam isso “A Batalha dos Mandados”. Toda essa atividade fornecia assunto para a imprensa, de modo que as histórias de Quebeque se tornaram parte das notícias diárias em todo o país. Muitas pessoas de coração honesto admiravam a posição intrépida das testemunhas cristãs de Jeová.
Em fevereiro de 1947, quatro pioneiros especiais da Cidade de Quebeque — três dos quais estavam em liberdade sob fiança — foram a Ithaca, Nova Iorque, E. U. A., para serem estudantes da nona turma da Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia. Enquanto se achavam em Gileade, o caso de Laurier Saumur e de Gerald Barry foi levado perante a Corte Suprema do Canadá. Mas a Corte se recusou a dar audiência ao caso em base técnica. Em resultado disso, Laurier Saumur teve de deixar a Escola de Gileade em junho, antes da formatura, e ir de volta para a prisão na Cidade de Quebeque, a fim de completar sua sentença. Negando assim a Corte Suprema ouvir o caso, voltamos aos tribunais de Quebeque com mais de 1.700 casos pendentes naquele tempo.
O fiel Gerald Barry cujo caso estava também na Corte Suprema, morreu em maio de 1947. Ele fora pioneiro desde 1908 e começara a servir em Quebeque em 1924. Ele era, deveras como os descritos pelo apóstolo Paulo, que disse: “O mundo não era digno deles.” — Heb. 11:38.
PORQUE NÃO PARTICIPAR DA LUTA PELA LIBERDADE?
Agora já está certamente ciente da coragem e da determinação que o povo de Jeová demonstrou na Província de Quebeque. Parece apropriado, neste ponto, contar-lhe a respeito de duas irmãs carnais e espirituais em fins de sua adolescência. Elas ouviram a respeito da perseguição de seus concrentes em Quebeque — quantos deles haviam sido atacados por amotinados, espancados e presos — e começaram a pensar: “Temos nossa juventude, energia e saúde; ora, uma designação como essa seria ideal para nós, pois desejamos participar realmente na luta pela liberdade junto com os irmãos que já estão ali.”
Foi assim que, em 1.º de maio de 1946, as duas jovens pioneiras, emocionadas com a perspectiva de serem designadas para servir em Quebeque, se acharam em Montreal. Uma delas, Victoria Dougaluk, escreveu há alguns anos:
“Não demorou muito e passamos a sofrer aquilo a respeito do qual havíamos lido. Minha irmã foi detida e foi levada regularmente tantas vezes perante o tribunal do juizado de menores, e eu assistia constantemente às sessões na sala de audiência do juiz municipal, que o juiz me informou certo dia que eu era a maior amolação que já houve naquele lugar. Tivemos muitas oportunidades de dar testemunho, não só ao pessoal do tribunal, mas a outros detentos. Desenvolveu-se forte vínculo de amor entre os irmãos que tiveram as mesmas experiências de prisão; lembro-me especialmente de certa ocasião: Diversos de nós fomos levados ao mesmo lugar e, enquanto se conseguia a fiança, os mais velhos, ou os que tinham famílias em casa, foram soltos primeiro. No fim, duas de nós sobramos. Passaram-se seis dias, sem que soubéssemos quando chegaria nossa vez. Finalmente, conseguiu-se fiança, mas só para uma. A irmã francesa que estava comigo disse: ‘Duas ou nada’; assim renunciou à sua liberdade imediata para permanecer comigo. Apreciei isso mais do que se pode expressar em palavras. Com o tempo, as testemunhas de Jeová chegaram a ser muito respeitadas por causa de sua luta pela liberdade, visto que todas as tentativas de nos desanimar fracassaram. Seus esforços de neutralizar nosso zelo fizeram com que ficássemos mais do que nunca decididas a prosseguir e a achar as ovelhas naquela área.”
DE VOLTA ÀS ACUSAÇÕES DE SEDIÇÃO!
Com a ajuda do espírito de Jeová, e com tal amor, fé, lealdade e determinação, o povo de Deus em Quebeque enfrentou o adversário. E o inimigo não havia desistido da luta. O ardor da exposição no panfleto “O ódio Ardente de Quebeque” fez Duplessis ir à procura de mais armas de ameaça e opressão. Além da grande quantidade de casos de estatutos municipais, voltou-se para o antigo recurso de fazer acusações difamatórias de sedição. Mais de 100 de tais acusações foram feitas contra 50 Testemunhas. Estes casos foram impetrados em Sherbrooke, Amos Montreal e St-Joseph-de-Beauce. Como evidência, os querelantes se basearam nos dois panfletos “O ódio Ardente de Quebeque” e “Quebeque, Falhou a Seu Povo!”
O primeiro caso de sedição que foi julgado foi o de Aime Boucher, um homem manso e sincero, de baixa estatura, que morava nas montanhas do sul da Cidade de Quebeque, num sítio que ele cultivava usando bois. O irmão Boucher era pobre em bens materiais, mas rico em amor e fé. Seu caso foi ouvido em St-Joseph-de-Beauce, em novembro de 1947, perante o Juiz Alfred Savard, antigo associado jurídico do falecido Ministro da Justiça Lapointe, que havia decretado a proscrição em 1340. O Juiz Savard era extremamente hostil e dirigiu palavras cheias de preconceito ao júri. Naturalmente, houve sentença condenatória.
O Tribunal de Recursos de Quebeque apoiou a condenação e interpôs-se recurso junto à Corte Suprema do Canadá. Esta Corte ordenou primeiro que o caso voltasse a Quebeque para novo julgamento, mas Jeová estava conosco e foi-nos concedida uma audiência sem precedentes. A Corte revogou a sua própria decisão depois de um segundo argumento e ordenou uma completa absolvição. Visto que não houve instigação à violência, os panfletos das Testemunhas de Jeová não podiam ser sediciosos. Por conseguinte, todas as acusações de sedição feitas por Duplessis tiveram de ser rejeitadas. Nenhuma sentença condenatória foi mantida. Jeová vindicou seu povo!
A decisão do caso Boucher foi provavelmente a mais importante vitória jurídica que o povo de Jeová ganhou no Canadá. Venceu o ataque da Igreja-Estado contra as liberdades das Testemunhas de Jeová e de todos os outros canadenses. Também, atualizou a lei e tornou obsoleta toda jurisprudência padrão sobre sedição nesse país. Todos os códigos civis tiveram de ser mudados! o reitor Bowker, da Faculdade de Direito da Universidade de Alberta, declarou: “Um julgamento como o de Boucher v. O Rei vale tanto quanto uma dezena de declarações dos direitos da liberdade de expressão.”
DERROTADA A CENSURA POLICIAL
Os casos de sedição foram todos rejeitados. Isto foi esplêndido. Mas ainda restava um monte de mais de 1.600 acusações contra estatutos municipais. o que dizer destas? Era fundamental nesses casos o empenho das autoridades de Quebeque de sujeitar à censura policial toda disseminação de informações. Era típico o Decreto 184 da Cidade de Quebeque, que dizia: “É proibido distribuir nas ruas de Quebeque qualquer livro, panfleto, folheto, circular, tratado que seja sem autorização prévia, por escrito, do Chefe da Polícia.”
Para vencermos este estatuto de censura, pleiteamos um caso, como teste, na Cidade de Quebeque, em 1947, pedindo que o decreto fosse declarado ilegal. No tribunal, três clérigos — um sacerdote católico, um clérigo anglicano e um rabino judeu — apareceram como testemunhas a favor da Cidade de Quebeque. Procuraram persuadir o magistrado a decidir contra as Testemunhas de Jeová. Havia aqui evidência adicional de que os políticos e as religiões principais estavam unidos contra os verdadeiros servos de Deus!
Este caso, intitulado Saumur v. Quebeque, foi também levado perante a Corte Suprema do Canadá e debatido ali durante sete dias. Em 6 de outubro de 1953, a Corte, constituída de nove juízes, decidiu a favor das Testemunhas de Jeová numa decisão dividida de cinco contra quatro. A vitória nesta questão pôs fim a centenas de casos de decreto ainda pendentes nos tribunais de Quebeque. A decisão Saumur também é reconhecida no Canadá como uma decisão que serve de orientação, de benefício para todo o povo canadense.
Certo colunista ficou tão emocionado com esta grandiosa decisão que as seguintes observações apareceram no Telegram de Toronto:
“DIREITOS IGUAIS PARA TODOS
“Uma grande fogueira na Colina da Assembléia Legislativa deve celebrar a decisão da Corte Suprema do Canadá no caso de Saumur, uma fogueira digna de uma grande ocasião. Poucas decisões na história da justiça canadense foram mais importantes. Poucos tribunais podem ter prestado melhor serviço do que este para o Canadá. Nenhum outro colocou os canadenses que valorizam a posse da liberdade tão profundamente em dívida. . . . A libertação não pode ser celebrada com as fogueiras que merece.”
É interessante que na época em que este caso foi julgado, a filial do Canadá havia solicitado a todos os irmãos que orassem a Jeová sobre o resultado da questão. Tanta coisa dependia de uma decisão favorável neste caso! (1 Tim. 2:1, 2) o resultado final indica que houve resposta favorável da parte do “Ouvinte de oração”. (Sal. 65:2) Deveras, “a súplica do justo, quando em operação, tem muita força”. — Tia. 5:16.
A ÚLTIMA RESISTÊNCIA DE DUPLESSIS
A essa altura, todas as leis que Duplessis tinha nos códigos haviam sido vencidas pelas Testemunhas de Jeová. Mas, ainda assim, ele não tinha terminado. Em janeiro de 1954, ele introduziu na legislatura de Quebeque uma nova lei que, afirmou ele, poria termo às atividades das Testemunhas de Jeová. Essa lei, conhecida por Projeto de Lei 38, entrou em vigor em 28 de janeiro de 1954, às 17 horas. Mas, às 9 horas da manhã seguinte, o consultor jurídico das Testemunhas de Jeová estava na porta do palácio da Justiça para mover ação em contestação da validade da nova lei e exigir uma injunção para impedir seu uso.
A ação judicial relativa ao Projeto de Lei 38 continuou por um período de 10 anos, e o julgamento desta ação foi muitíssimo interessante. F. W. Franz (agora o quarto presidente da Sociedade Torre de Vigia), quando foi a Quebeque como testemunha perita, apresentou maravilhosa evidência em apoio de Jeová e de seu povo.
O consultor jurídico das Testemunhas de Jeová chamou uma testemunha especialmente relutante — Maurice Duplessis! Ele se sentiu ultrajado por ter sido forçado a comparecer em razão de ser citado pelas Testemunhas de Jeová. Por duas horas e meia, Glen How reinquiriu este arrogante e irascível homenzinho, para a grande irritação de Duplessis.
A seu devido tempo, a Corte Suprema do Canadá recusou decidir sobre a validade da lei, em base técnica de que as Testemunhas de Jeová haviam instaurado processo antes de ter sido usado contra elas o Projeto de Lei 38. Mas, se as autoridades viessem a usar essa lei, a base técnica usada pela Corte Suprema ficaria sem efeito. O Projeto de Lei 38 não tem estado em vigor e permaneceu sem uso desde 1954. Duplessis havia feito sua última resistência!
Em 1959, Duplessis sofreu a ignomínia de ser o primeiro dentre os primeiros-ministros na história do Império Britânico a ser forçado a pagar pessoalmente indenizações a um cidadão por ter feito algo no cargo oficial. A Corte Suprema do Canadá lhe ordenou pagar os danos e custos de cerca de 50.000 dólares [uns Cr$ 1.500.000,00] para o irmão Frank Roncarelli por ter suspendido sua licença de venda de bebidas alcoólicas no seu restaurante. Pouco depois desta última frustração, Duplessis morreu.
Certamente, Duplessis poderia ter se poupado a muito vexame, se acatasse o bom conselho de Gamaliel. Esse mestre em Lei declarou: “Não vos metais com estes homens, mas deixai-os em paz . . . senão podereis talvez ser realmente achados como lutadores contra Deus.” — Atos 5:38, 39.
EXPRESSÕES DE APREÇO
Muitos comentaristas jurídicos do Canadá reconheceram a excelente contribuição feita pelas Testemunhas de Jeová à lei e à liberdade nesse país. Frank Scott, ex-reitor da Faculdade de Direito da Universidade McGill, disse o seguinte a respeito dos casos das Testemunhas: “Devemos ser gratos de que temos neste país algumas vítimas da opressão do estado que defendem seus direitos. A vitória delas é a vitória de todos nós.” Ele disse também: “Cinco das vítimas, cujos casos chegaram até a Corte Suprema do Canadá na última década, e que contribuíram tão amplamente na elucidação de nossa lei, eram testemunhas de Jeová.”
Escrevendo em Faculty of Law Review (Universidade de Toronto), outro comentarista jurídico descreveu as Testemunhas de Jeová como “o grupo mais responsável de sustentar os privilégios do cidadão”. Também, Ivan C. Rand, ex-juiz da Corte Suprema do Canadá, ao descrever alguns de nossos casos observou que “os lobos lutam em alcatéias, mas o leão luta sozinho”.
Mediante estas declarações de autoridades reconhecidas, torna-se claro que as Testemunhas de Jeová, uma minoria lutando contra grandes contratempos, fizeram, por meio de sua posição corajosa, uma grande contribuição para a liberdade canadense. Sua vitória é a vitória pela liberdade do povo do Canadá. A liberdade de adoração, de imprensa, de palavra e de reunião foram todas protegidas mediante os casos que envolveram as Testemunhas de Jeová.
Sim, as Testemunhas de Jeová são gratas de que seus aparecimentos em público no tribunal resultaram, deveras, em se dar um testemunho e que assim ajudaram a “defender e estabelecer legalmente as boas novas” no Canadá. (Mar. 13:9; Fil. 1:7) Mas as Testemunhas são especialmente gratas ao Grande Legislador, Jeová que sempre sustenta seu povo. Conforme disse certa vez o kei Ezequias: “Sede corajosos e fortes. . . . Com ele [o Rei da Assíria] há um braço de carne, mas conosco está Jeová, nosso Deus, para nos ajudar e para travar as nossas batalhas.” — 2 Crô. 32:7, 8.
AVANTE, NOS ANOS 60!
Com o caminho desimpedido de todas essas batalhas jurídicas, os cristãos canadenses entraram entusiasticamente na década de 1960. Em abril de 1960, Clayton Morrell, que servira como pioneiro, superintendente de circuito e membro da família do Betel de Toronto por muitos anos, foi designado como o novo superintendente da filial. Manifestando um excelente espírito e sendo uma pessoa muitíssimo acessível, era também bom organizador que se empenhou em continuar a boa obra realizada até então. Naquela época, a família de Betel tinha 44 membros.
Através do país, havia seis distritos, 61 circuitos e 805 congregações. Naquele ano de 1960, houve um auge de 38.382 proclamadores ativos do Reino, perfazendo a proporção de uma Testemunha para cada 465 pessoas no Canadá.
Até junho de 1960, tinha havido suficientes decisões em tribunal em nosso favor para podermos iniciar mais uma vez em Quebeque nosso trabalho de pregação de casa em casa com a Bíblia e ofertas de literatura. Nessa época, essa província era igual ao resto do Canadá neste respeito. A primeira assembléia de distrito toda em francês, realizada naquele verão em Verdun, foi um feliz marco no desenvolvimento das atividades cristãs em Quebeque. Mais de 3.000 pessoas estiveram presentes, cerca de 1.000 dentre tais sendo pessoas interessadas. Que mudança de situação! A batalha jurídica em Quebeque tinha terminado. A influência sacerdotal e a oposição estavam desvanecendo se. Os publicadores do Reino de língua francesa eram maiores em número do que as Testemunhas de língua inglesa naquela província. O crescimento na maior cidade, Montreal, tinha sido tal que em 1959 havia sete Salões do Reino para acomodar 22 congregações, e diversos outros salões estavam sendo construídos em toda a província. Até mesmo a Cidade de Quebeque teria seu próprio Salão do Reino das Testemunhas de Jeová.
Em 1.º de agosto de 1960, a primeira congregação italiana no Canadá começou a funcionar em Toronto. Embora começasse com apenas 40 publicadores, prometia rápido crescimento. Falando-se de passagem, há atualmente 33 congregações italianas através do Canadá, com mais de 2.000 publicadores. Quão satisfatório tem sido ver o desenvolvimento até agora de 14 congregações espanholas e portuguesas, 12 congregações gregas, uma congregação chinesa e outra coreana!
Portanto, por volta de 1960 tudo estava calmo para uma década de intensa atividade. Na maior parte, foi um período de paz e de edificação espiritual.
A ESCOLA DO MINISTÉRIO DO REINO
Em 1.º de janeiro de 1961, houve um evento importante no Canadá — a abertura da primeira Escola do Ministério do Reino na filial de Toronto. Em fins de agosto daquele ano, 151 superintendentes e pioneiros especiais haviam completado o curso. Muitas foram as expressões de apreço daquilo que se aprendera. Alguns até mesmo disseram que mudaram de personalidade durante aquele curso de quatro semanas. Até 1971 tinha havido 152 classes da Escola do Ministério do Reino no Canadá, acomodando 3.370 estudantes. Assim, um grande número de superintendentes e pioneiros especiais recebeu tal treinamento excelente que os equipou mais plenamente para as designações de responsabilidade nas suas congregações locais durante os anos 70.
Cursos revisados da Escola do Ministério do Reino, nos anos que se seguiram, forneceram treinamento para todos os anciãos das congregações no Canadá, 5.980 tendo feito o curso mais recente em 1977. Assim, desde o começo da Escola do Ministério do Reino em 1961, ela tem sido de ajuda real em preparar muitos para serviço adicional nas congregações e no campo.
A QUESTÃO DA TRANSFUSÃO DE SANGUE
No decorrer dos anos, neste pais, a posição tomada pelas Testemunhas de Jeová, relativa à santidade do sangue, resultou em muita publicidade desfavorável e inimizade. (Atos 15:28, 29) Com efeito, a onda crescente de ressentimento público por causa de nossa recusa de aceitar transfusões de sangue atingiu um clímax em 1961. Portanto, parece apropriado neste ponto de nossa narrativa considerarmos essa questão, dando alguns pormenores.
Os jornais haviam usado manchetes sediciosas e terminologia desorientadora com respeito à suposta eficácia do sangue em questões de saúde e de vida. Desde a década de 1950, houve uma reação pública tão adversa à nossa posição sobre o sangue que a hostilidade que se enfrentava às portas durante o trabalho de pregação do Reino podia ser comparada só àquilo que se enfrentou nos Estados Unidos durante a década de 1940, quando tantas pessoas desafiaram as Testemunhas de Jeová com respeito à nossa posição sobre a saudação à bandeira e a guerra. No Canadá, explosões muito sentimentalistas e até mesmo ameaças de condenação tomaram o lugar da razão e do respeito.
Um caso, lá atrás em 1956, fornece exemplo da irresponsabilidade dos meios noticiosos em incitar o público e em deixar de informar adequadamente ambos os lados da questão. Em Hamilton, uma moça de 17 anos de idade (e por conseguinte alguém com idade legal em Ontário para fazer sua própria decisão em questão de saúde e tratamento) recusou uma transfusão de sangue prescrita pelos médicos ali. Ela havia sido tratada no Hospital de Clínica Geral em Hamilton por causa de sua condição física que fora um problema desde seu nascimento. Ela havia sobrevivido até então, muito embora se acreditasse que não viveria muito tempo depois de seu nascimento Portanto, ela fez a decisão que achou ser sensata para continuar seu tratamento sem violar os princípios cristãos.
Com este simples exercício de um direito fundamental do homem, o que resultou? Bem, o que viu uma pessoa na primeira página do Star, de 17 de fevereiro de 1956, de Toronto? Uma manchete de jornal, com letras de mais de seis centímetros de altura — e que rezava: “MOÇA DE 17 ANOS PRECISA MORRER?” Estas letras enormes — como as reservadas geralmente para guerra mundial e outras catástrofes globais — estavam acompanhadas do título adicional “Testemunha de Jeová Recusa Sangue”. Indicando que essa jovem morreria por recusar sangue, o título secundário do mesmo artigo a chamava “Moça Condenada”. A tendência de incitar os leitores estava em evidência no parágrafo inicial do artigo, numa frase que predizia que a decisão da paciente “suscitará, é de esperar, uma nova onda de indignação nesta cidade”.
Por que estava tão certo o Star de que esta jovem morreria, falando de “morte certa” se não recebesse sangue? Era porque os médicos no hospital deram essa impressão. Disseram ao repórter que mesmo com transfusão “a moça não tem possibilidade de sobrevivência por mais de dois anos”. Combinando observações desta espécie com a terminologia inexata (tal como sangue “que dá vida”) foi o suficiente para incitar indignação nas pessoas. o artigo passava a dizer que a vida da moça se estava “escoando”.
Mas o que aconteceu com essa testemunha de Jeová? Ela não recebeu transfusão — e recebeu alta do hospital em boa saúde! Mas, será que os médicos então telefonaram para os jornais para dizer: ‘Temos notícias maravilhosas para vocês! A moça se recuperou! Todos devem saber disso!’? Não! Não disseram uma palavra sequer quando ela recebeu alta. Deviam telefonar para a imprensa? Ora, como é que os jornais ficaram sabendo do caso de início?
As notícias a respeito da recuperação desta jovem e da alta que recebeu chegaram aos jornais porque um repórter curioso começou a perguntar sobre a condição dela e descobriu que ela recebera alta para ir para casa. É elogiável que o Telegram de Toronto fez reportagem desta matéria e publicou uma fotografia da sorridente jovem Testemunha, descrevendo-a como sendo “o retrato da saúde”. Ora, ela sobrevive até hoje! Nos anos que se seguiram, ela se casou e tem agora sua própria família.
Tomamos bastante espaço para lhe falar sobre apenas este caso relacionado com transfusão. Mas é bem típico da maioria deles! As reportagens nos jornais começam em geral com grandes manchetes ostensivas na primeira página e predições funestas. Daí, há o alarido e a hostilidade do público. A seguir vem um conceito mais sensato, quando médicos e Juristas sem preconceito consideram os fatos. Finalmente, aparece, se é que aparece, uma história fraca na última página dum jornal falando sobre a recuperação do paciente e sobre sua alta do hospital. Naturalmente, tem havido exceções, mas esta seqüência de eventos tem se repetido vez após vez.
MUDANÇA DA MARÉ
Entre as pessoas refletivas, porém, algo começou a mudar a maré. O quê? Em diversos lugares, houve a publicação dos fatos que apresentaram o outro lado da história da transfusão de sangue. Por exemplo, a edição de outubro de 1960, do Canadian Bar Journal trazia um artigo penetrante e bem pesquisado sobre os aspectos jurídico, clínico e religioso da questão da transfusão de sangue. A publicação Canadian Doctor reimprimiu o artigo num suplemento especial de sua edição de dezembro de 1960, concedendo umas 24 páginas de espaço à matéria. Este artigo penetrante alcançou o povo nos campos jurídico e clínico, as pessoas que podiam afetar favoravelmente a situação.
Na edição de 26 de agosto de 1961, da revista nacional do Canadá, Maclean’s, apareceu um artigo intitulado “Três Transfusões de Sangue Dentre Quatro São com Muita Probabilidade Mais Nocivas do que Curativas”. Foi escrito por um médico assistido por Sidney Katz, um jornalista especializado em artigos sobre medicina. Foram expostos neste artigo os abusos das transfusões desnecessárias, o qual visava ajudar o público, que havia sofrido pelo que parece uma “lavagem cerebral” para crer que as transfusões de sangue só podiam ser benéficas, nunca nocivas, ou mesmo um perigo.
A edição de 27 de maio de 1961 do Canadian Medical Association Journal trazia um artigo digno de nota, escrito pelos Dou” fores Max Minuck e Ronald S. Lambie. Intitulado “Anestesia e Cirurgia Para Testemunhas de Jeová”, pôs de modo geral fim à atitude entre muitos médicos de que as Testemunhas eram um grupo religioso sentimentalista, com as quais era difícil de lidar e que os problemas resultantes de casos de transfusão de sangue eram a culpa ‘dessas pessoas ingênuas’. No parágrafo inicial, os escritores apontaram o dedo para quem era realmente responsável pelas cenas sentimentalistas nos hospitais ao surgir uma questão de transfusão de sangue. Disseram que a sua consideração dos casos “salientou o fato de que existe considerável confusão, tendências sentimentalistas, intolerância e ignorância, não só com respeito aos credos das Testemunhas, mas também para com as responsabilidades legais e éticas envolvidas no seu tratamento médico”. (O grifo é nosso.) Mais adiante no artigo, os Doutores Munick e Lambie acrescentaram que, em outros casos em que o médico tem de lidar com circunstâncias que não são ideais, há um modo calmo, objetivo e paciente de lidar com o problema, o médico fazendo o melhor que pode em tais circunstâncias. Daí, disseram:
“Mas, amiúde, no caso de Testemunha[s] de Jeová, a equipe da cirurgia fica emotiva, confusa e irracional, porque o compromisso do paciente é religioso e não físico. As Testemunhas de Jeová não são o único grupo religioso que tem de recusar, por motivo de religião, certos aspectos da prática médica aceita. Outros grupos, tais como os católicos romanos, também têm de recusar algumas formas de tratamento médico, e aceitamos o ponto de vista deles. Similarmente, as crenças de Testemunha[s] de Jeová devem ser respeitadas e toleradas.”
Esse raciocínio é um crédito muito maior para a profissão médica do que a prática de alguns médicos que falam uma coisa para o paciente e daí “recorrem ao sangue”, dizendo que “o que o paciente não sabe não lhe causará dano”. Não só há falta de ética nessa atitude; ela é desonesta e desrespeita os direitos dos outros. Realmente, homens que podem estar errados no seu diagnóstico até 45 por cento das vezes, segundo algumas autoridades, deviam ser mais modestos. Conforme um equilibrado médico, o Doutor Arthur Kelly (então secretário da Associação Médica Canadense), o expressou:
“A onisciência médica é uma qualidade raríssimas e as normas estabelecidas do passado são modificadas e suplantadas pelo conhecimento atual. Que nós, em nosso orgulho, não nos tornemos arrogantes e exijamos tal sujeição da vontade de nossos pacientes. Considero preferível que certas pessoas morram antes da hora, a que nós usurpemos seus direitos e deveres irrevogáveis de terem a custódia de sua própria saúde.”
Em anos mais recentes, tem havido uma relação constantemente melhor entre médico e paciente nestes assuntos que envolvem a questão do sangue. Muitos têm sido os médicos com suficiente coragem de usar sua habilidade que respeitaram os conceitos religiosos, sinceros, de pacientes Testemunhas. Em princípios da década de 1970, foram feitas visitas aos principais hospitais de Toronto, a fim de haver melhor entendimento com os administradores e diretores dessas instituições. As Testemunhas que visitaram foram recebidas com muito respeito bem como as informações fornecidas, extraídas de periódicos médicos, indicando o que se pode fazer sem o uso de sangue. O folheto da Sociedade Torre de Vigia O Sangue, a Medicina e a Lei de Deus (direitos autorais de 1961) foi de grande ajuda em alcançar esses homens e muitos médicos. É interessante que alguns médicos nos pedem agora quaisquer informações adicionais que pudermos fornecer dos periódicos médicos.
Hoje em dia, o público parece ficar agitado só nos casos de criancinhas a respeito das quais os médicos dizem que precisem de uma transfusão. Mas os fatos mostram que as Testemunhas de Jeová não estavam erradas na sua posição. Em geral, seus filhos sobreviveram, apesar das predições funestas de alguns médicos. Por outro lado, houve diversos casos em que tomaram as crianças e deram transfusões de sangue por ordem do tribunal. Infelizmente, porém, depois de transfusões forçadas, 12 dessas crianças foram devolvidas mortas a seus pais contristados.
Todavia, a matéria impressa nos periódicos legais, médicos e outros, bem como a produzida pela Sociedade Torre de Vigia tem dado bons resultados. Felizmente, também, em 1960 e em 1963, foi possível interpor recursos junto à Corte Suprema de Ontário, logrando êxito em apoio do direito de as Testemunhas de Jeová decidirem sobre tratamento médico para si e para seus filhos.
ENDIREITAR AS COISAS
Em 1970, a profissão médica procurou obter maior poder conferido pelo governo de Manitoba para forçar transfusões de sangue às crianças das Testemunhas de Jeová. Isto deu ensejo a comparecer perante uma comissão legislativa para mostrar os perigos desta proposta lei do ponto de vista das famílias e da boa prática médica. Dois membros dessa comissão haviam perdido fazia pouco tempo um membro da família após transfusão de sangue. A exposição de três horas de duração, feita pelo irmão Glen How, perante uma comissão legislativa, atenciosa e muito respeitosa, foi seguida da supressão da legislação. Deu-se excelente testemunho e resultou em muita publicidade favorável.
Com relação a um desastre de automóvel, em março de 1976 um médico legista relatou erroneamente que uma de nossas irmãs havia morrido por falta de transfusão de sangue. Mas foi possível dialogar com o Médico Legista de Ontário, um homem imparcial e de bom senso. Este, por sua vez, deu oportunidade ao irmão Glen How de dirigir a palavra, durante uma reunião, a todos os médicos legistas de Ontário. Ele foi bem recebido e forneceu-se uma apresentação por escrito a todos os presentes. Suprimiu a pressão deste tipo de caso, em que se dá uma idéia errônea ao público, colocando as Testemunhas de Jeová à mercê de um médico legista que tem preconceito, e de quaisquer recomendações desfavoráveis resultantes de um inquérito de médico legista. Prevalece agora um conceito mais objetivo.
Similarmente, em razão de uma reportagem de jornal, de que a Faculdade de Medicina e Cirurgia de Ontário estava planejando adotar novos regulamentos a respeito de casos de Testemunhas de Jeová, fez-se uma longa apresentação à Faculdade em nosso favor. Pedia que continuassem a respeitar os direitos do paciente, tratando o ‘homem como um todo’ e que os médicos examinassem melhor os benefícios de tratamentos bem sucedidos sem transfusão de sangue. Parece que se produziu um efeito apaziguador por meio desta apresentação. Todavia, parece necessária contínua vigilância neste respeito no Canadá.
PUBLICIDADE NACIONAL FAVORÁVEL
Em 1977, o programa “Acesso”, da Associação Canadense de Difusão fez uma apresentação de meia hora pela televisão, principalmente a respeito do desvirtuamento da questão da transfusão de sangue. Durante o programa, milhões de espectadores, através do Canadá, viram três pessoas que supostamente deviam estar “mortas”, segundo as predições. Mas, lá estavam elas, com vida e passando bem! Elas ou seus pais puderam explicar por que haviam tomado as medidas que adotaram para preservar sua vida e manter uma boa consciência cristã.
Daí, dois médicos foram entrevistados. A um deles, ao Dr. C. B. Baker, de Toronto, perguntou-se quantas operações cardíacas a céu havia feito sem uso de sangue. Baker respondeu:
“Fizemos até agora um total de 37 . . .”
“Sem o uso de sangue?”
“Exatamente.”
“É um tipo inferior de tratamento?”
“É um tipo melhor de tratamento . . . dizem amiúde as enfermeiras no tratamento intensivo: ‘Por que não opera todos os seus pacientes sem usar sangue? Eles passam tão bem.’”
“Então, não se trata de uma operação de Testemunha[s] de Jeová. Pode ser aplicado a qualquer paciente?”
“E o empregamos o máximo possível em outras pessoas agora, especialmente devido à nossa experiência com as Testemunhas de Jeová. Ora, isso nos ensinou muito, que as pessoas a quem não se dá sangue passam melhor!”
Também foi entrevistado durante este programa o Doutor Denton Cooley, o famoso cirurgião cardiologista do Instituto de Cardiologia do Texas Estados Unidos. Ele falou a respeito de uns 20 anos de cirurgia cardíaca a céu, sem o uso de sangue, envolvendo mais de 600 operações.
O público ficou deveras impressionado. Muitas pessoas disseram às Testemunhas que mudaram definitivamente de conceito depois de terem visto o programa. Algumas pessoas até mesmo escreveram à ACD expressando seu apreço em razão da remoção de tanto preconceito da mente do público por meio dessa apresentação honesta. o produtor executivo do programa falou mais tarde sobre “a grande quantidade de cartas em reação ao programa sobre as Testemunhas de Jeová”, tornando impossível responder a todas elas. Ele acrescentou: “Eu diria que o seu programa pode ser contado como um de nossos esforços mais bem sucedidos desta época.”
Houve a distribuição mais recente em todo o país do folheto As Testemunhas de Jeová e a Questão do Sangue (direitos autorais de 1977). Foram fornecidos exemplares dele a todos os médicos, administradores de hospital, advogados, juízes e enfermeiros. Este apelo razoável recebeu reação favorável. Muitos médicos, administradores e advogados insistiram em tirar mais tempo do que o solicitado pela Testemunha visitante para considerar minuciosamente a matéria do folheto. Parece certamente que a distribuição desta publicação servirá de maior ponto de apoio em nossa contínua batalha em prol do respeito pela santidade do sangue.
Poderíamos dizer muito mais sobre este assunto. Entretanto não podemos encerrar esta parte da história da verdadeira adoração no Canadá sem expressarmos nossos agradecimentos às muitas Testemunhas individuais, inclusive aos anciãos, pais e membros da família que se mantiveram firmes diante dos muitos contratempos para obedecer à lei de Deus sobre o sangue. Isto tem significado muitas vezes resistir aos escárnios e às pressões durante horas estando a pessoa gravemente enferma ou talvez agonizante, ou suportar insultos e ameaças da parte de enfermeiros, médicos, juízes e outros. Foi preciso passar noites em claro tentando consolar e apoiar os que fizeram tal decisão, ou fazer incontáveis telefonemas tentando encontrar um médico favorável que aceitasse tratar de um caso grave. Os concrentes têm contribuído em hospedar, alimentar e cuidar de outra forma dos parentes do enfermo nestes casos. Tampouco podemos desperceber a fé dos pais que sofreram terríveis experiências de se lhes tirar a criança e lhe dar uma transfusão de sangue forçada. Seria preciso um livro para descrever tudo isso.
Tampouco seria justo deixar de mencionar a bondade, a consideração e o amor expressos por muitos enfermeiros, médicos e juízes em diversos casos em que surgiu a questão da transfusão de sangue no Canadá. A sua compaixão não será despercebida. E venha o que vier, as Testemunhas de Jeová no Canadá continuarão a olhar para seu Pai celestial em busca de ajuda ao passo que se mantêm firmes na sua decisão de ‘abster-se do sangue’. — Atos 15:28, 29.
TEMPOS DE FORTALECIMENTO
Voltemos à nossa narrativa da década de 1960. O ano de 1961 trouxe ao Canadá o programa da Assembléia de Distrito Adoradores Unidos, com toda a sua instrução valiosa. Assistiram em Vancúver às sessões em inglês 28.952 pessoas e 606 foram batizadas. Durante essa notável assembléia, foi lançada a com. preta Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, em inglês, para a grande satisfação dos congressistas. À assembléia de língua francesa, em Otava, 2.242 pessoas compareceram, e 37 foram batizadas.
Em março de 1961, houve outra mudança em Betel, pois foi então que faleceu o amado Clayton Morrell. Eugene Rosam, que nessa época era instrutor da Escola do Ministério do Reino, foi designado como o próximo superintendente de filial. Serviria nessa qualidade por cerca de quatro anos.
Esforçando-se em continuar a obra que fora iniciada para fortalecer as congregações, o irmão Rosam visitou todos os superintendentes de circuito e de distrito em reuniões especiais programadas em sete locais através do Canadá. Formou-se um sétimo distrito. Também, foram feitos esforços no empenho de consolidar a atividade num nível que desse margem a maior experiência, progresso e desenvolvimento de habilidades aos proclamadores do Reino. Os resultados foram bons, e, com o passar do tempo, viu-se o desenvolvimento de uma organização mais forte no Canadá.
Em virtude de certa situação que se desenvolvera com o passar dos anos, alguns homens que assumiam responsabilidades em conexão com as nossas assembléias não estavam sendo usados ou deixaram de ser usados como superintendentes nas suas próprias congregações. Mas esta situação mudou. Todos os que serviam em tais cargos durante as 11 Assembléias de Distrito “Ministros Corajosos”, em 1962, (às quais 44.711 pessoas assistiram) e durante todas as assembléias de circuito subseqüentes e outras tinham de ser homens que se qualificavam como superintendentes nas congregações locais de onde residiam. Apropriadamente, pois, o desejo era que ocupassem cargos de supervisão somente homens que se qualificavam segundo a Bíblia.
A RELIGIÃO “DE MAIS RÁPIDO CRESCIMENTO”
Jeová estava coroando de êxito os nossos esforços. Ele nos estava dando o aumento. Nós sabíamos disso, mas outros também observaram isso. Por exemplo, o Star de Windsor publicou um artigo escrito por Maurice Jefferies, de Otava, sobre os resultados do mais recente Recenseamento Canadense naquele tempo (1961). Concordava com a manchete de jornal, que rezava: “Testemunhas de Jeová, Os Que Crescem Mais Rapidamente”. A breve notícia dizia: “NOTA DO RECENSEAMENTO: o último relatório sobre as denominações religiosas indica que as Testemunhas de Jeová constituem no Canadá a denominação que mais rapidamente cresce. Dobrou o seu número na última década, de 34.596 para 68.018.”
O elevado número indicado pelo recenseamento era em resultado do modo como os recenseadores consideravam as pessoas quais “membros de igreja”. Assim como no caso de outros grupos religiosos contaram as crianças e os que estudavam a Bíblia com as Testemunhas de Jeová. Todavia, era evidência que Jeová estava abençoando nossa obra de fazer discípulos.
Naturalmente, ainda tínhamos adversários religiosos. No ano de 1963, houve instauração de processo contra três sacerdotes católicos romanos, visto que alguns remanescentes, que eram conservadores convictos, recusaram aceitar a vigência das decisões da Corte Suprema, que garantiam liberdade de palavra e de adoração em Quebeque. Um sacerdote foi condenado sob a acusação de tentativa de agressão, ao passo que se interpôs recurso nos outros dois casos.
A OBRA ATINGE TERRITÓRIOS REMOTOS
Não obstante o aumento e o excelente desenvolvimento espiritual, tínhamos ainda, em meados dos anos 60, “bastante pare fazer na obra do Senhor”. (1 Cor. 15:58) Em 1964, foram feitos esforços de alcançar algumas pessoas nos confins dos territórios a nós designados. Escrevemos muitas cartas aos esquimós no norte, e lhes enviamos 2.930 peças de literatura. Houve alguns resultados animadores. Também, foi possível ir de avião a algumas das aldeias isoladas dos índios no norte de Manitoba. Também, foram feitos esforços de alcançar as pessoas nas ilhas situadas fora da costa oriental do Canadá, as possessões francesas de S. Pierre e Miquelon. Os cristãos que foram ali como turistas puderam dar testemunho informal e assim proporcionar alegria a algumas pessoas interessadas. Foram escritas cartas suplementares a tais na tentativa de conservar seu interesse pela verdade bíblica.
Esta obra em territórios remotos tem continuado. Muitas viagens de avião e de canoa foram feitas em anos recentes até as regiões do norte. Alguns irmãos forneceram suas próprias aeronaves para uso dos pioneiros que trabalham nesses territórios. Os resultados têm sido excepcionais. Muitas centenas de publicações foram colocadas, e estudos bíblicos têm sido dirigidos por correspondência. Os índios, os esquimós, os caçadores de pele e outros não foram deixados de lado nessas regiões pelos zelosos e decididos pregadores que fazem discípulos.
Depois de muitas tentativas de dar andamento à nossa obra nas ilhas de S. Pierre e Miquelon, a filial da Sociedade na França conseguiu designar em 1975 um casal de pioneiros especiais ali. Eles têm sido diligentes e fiéis numa designação difícil. Mas, Jeová os tem abençoado. Incluindo-os há agora cinco publicadores do Reino ali que dão testemunho aos ilhéus e realizam reuniões regularmente.
Falando-se de regiões remotas, durante o ano de serviço de 1965, achou-se melhor transferir o Território de Yukon, embora seja parte do Canadá, para a filial da Sociedade no Alasca. As estradas de acesso e a geografia indicaram que tal decisão era boa. O Alasca podia cuidar melhor das necessidades da obra de pregação do Reino ali.
Em princípios de 1965, tornou-se necessário, por motivo de saúde, que Eugene Rosam deixasse o Betel de Toronto e voltasse a servir as congregações no campo. Leo K. Greenlees foi chamado de volta de Brooklyn para cuidar da filial nesse país, assumindo esses deveres em março daquele ano. Mas, em outubro de 1965, Kenneth A. Little voltou de seu treinamento especial em Brooklyn para se tornar o próximo superintendente da filial do Canadá.
EXCELENTE PROGRESSO EM QUEBEQUE
Demonstraram excelente espírito os dispostos a fazer sacrifícios para pregar em territórios retirados. Contudo, havia também necessidade em outras partes — e os cristãos canadenses não se eximiram. Concordemente, para Quebeque, 1968 foi o ano em que muitas pessoas e famílias aceitaram o convite feito no Ministério do Reino (edição canadense) e pelos superintendentes de distrito de se mudarem de outras partes do Canadá para ajudarem a proclamar as “boas novas” em francês.
Por alguns anos, em Montreal, a Sociedade tinha, de tempos a tempos, uma classe para ensinar francês aos pioneiros especiais designados para Quebeque. Naquele tempo, nossos irmãos produziram um tipo de compêndio sem igual para se ensinar conversação em francês num período muito curto. Concentrava-se em expressões que as Testemunhas precisariam na sua obra de evangelização e de participação nas reuniões. Sucessivamente, considerava um dia típico na vida de uma pessoa e abrangia a linguagem que necessitaria até o fim do dia. Os instrutores encenavam esses incidentes da vida real com ajudantes e exigia-se que o estudante empregasse o francês necessário em cada situação. Assim, dava-se mais ênfase ao francês oral do que ao francês escrito, de modo que os estudantes tinham suas idéias e seus pensamentos nesse idioma. Devotavam diariamente oito horas ao estudo do idioma, a duração do curso variando de quatro a sete semanas. Ensinou-se assim mais de 1.000 pessoas a falar francês para seu importante trabalho em Quebeque. Entre essas há muitas Testemunhas que se mudaram expressamente para essa província a fim de declararem ali as “boas novas”.
Foi digno de nota este excelente espírito de ser prestativo. O Anuário de 1970 (em inglês) falava sobre estarmos ‘emocionados com o progresso da obra de pregação em Quebeque’, com muitas mais Testemunhas para ajudarem em nosso trabalho ali. E o que dizer dos resultados? Bem, as pessoas reagiram favoravelmente. Por exemplo, uma pessoa leu o livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, em francês, em apenas três horas e declarou que isto era realmente a verdade.
ASSEMBLÉIA “PAZ NA TERRA”
Ao findar a década de 1960, usufruímos uma ocasião especial de banquete espiritual — a Assembléia Internacional “Paz na Terra”, realizada no Parque de Exposição Nacional do Pacífico, em Vancúver. Com uma assistência de 65.609 pessoas, essa assembléia marcou um novo recorde para os congressos no Canadá. O Anuário de 1970 (em inglês) relatava:
“Uma pessoa, que escreveu ao jornal Sun de Vancúver e cujo comentário foi publicado naquele jornal, dizia: ‘Sou residente desta cidade por mais de quarenta anos e moro perto do Parque E. N. P. Desejaria expressar meus agradecimentos à Assembléia Internacional das Testemunhas de Jeová. Nunca antes se reuniu nesta área uma multidão de pessoas tão esmeradas e com tanta consideração.’ . . .
“Havia congressistas presentes em Vancúver procedentes de trinta países. Um cinegrafista de televisão, que estava tirando fotografias das grandes multidões de pessoas e da atividade no estádio, disse: ‘O que mais me impressionou foi o fato de eu não receber nenhum empurrão ou encontrão no meio de uma multidão de mais de 50.000 pessoas.’”
APRECIADAS AS PUBLICAÇÕES CRISTÃS
Através dos anos, muitas pessoas expressaram profundo apreço de nossas publicações baseadas na Bíblia. Algumas dessas publicações, como o livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, influíram grandemente na obra de pregação do Reino neste país. Por exemplo, considere o livro Veio o Homem a Existir por Evolução ou por Criação? (direitos autorais de 1967). Teve um impacto notável no campo canadense. No primeiro ano completo depois de seu lançamento, mais de 64.000 exemplares foram enviados às congregações neste país. Houve realmente grande aceitação desse livro da parte do público! Alguns superintendentes de circuito e pioneiros puderam colocar dois ou três exemplares numa só porta. Um sacerdote católico romano e dois rapazes chegaram à filial de Toronto para obter exemplares desse livro. Ao ver um que estava de amostra, o sacerdote exclamou: “Lá está! É esse o livro!” Parece que um bispo em visita, procedente da África do Sul, recomendara muito que obtivessem um exemplar dessa publicação que faz meditar.
São também dignas de nota as observações feitas em fins dos anos 60 por um editor de jornal em Trenton, Ontário. Comentando a nossa literatura que chegava à sua mesa de trabalho, ele disse:
“Entre a superabundância de publicações interessantes, algumas chegam regularmente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias, conhecida melhor por Testemunhas de Jeová. Esta é uma organização que, segundo o critério de qualquer pessoa, impõe respeito. As revistas são todas bem escritas, com muita pesquisa, e bem à parte das fomentadas teorias religiosas, especiais, das quais muitos talvez discordem, a sociedade abrange todos os aspectos da vida humana e do mundo que Deus deu ao homem. Defende os princípios bíblicos, e inculca nos seus aderentes as idéias da honra e da pureza, de se ser bom cidadão e ter conduta impecável, que um mundo dilacerado pelas distorções da chamada liberdade faria bem em ler.
“Sobre moral e ética, as idéias expostas são irrepreensíveis em qualquer base. Há outras publicações boas. Somos gratos de que as idéias que aparecem impressas, novas ou antigas, são predominantemente sadias. Mas, considerando todas as coisas, as publicações da Torre de Vigia são muito superiores quanto a relações sadias e consideração cabal. Talvez haja algo para meditação para outros que não têm tanto êxito nisso, os argumentos da norma de conduta promovida nessas publicações tendo sempre uma razão de ser. Rejeitam-se hoje em dia as regras arbitrárias. Eis aqui, pelo menos, publicações que dão razões sólidas para qualquer linha de procedimento. São um tônico revigorante no meio de uma geração louca pelo sexo e que sujou suas publicações com o mesmo.”
O AUMENTO NOS ANOS 70
Ao entrarmos nos anos 70 e refletirmos sobre os 90 anos prévios em que se levou a luz a este país, ficamos emocionados e maravilhados. O que produziu um século inteiro de pregação do Reino? Expansão e aumento que continuou nos anos 70.
No ano de serviço de 1970 houve sete auges no número de publicadores, seis dos quais em seqüência. Em dezembro de 1969, ultrapassou-se pela primeira vez no Canadá o marco de 45.000 publicadores. O auge para o ano de serviço foi muito animador, a saber, 46.808 em maio de 1970.
Mas o que dizer dos anos desde então? Bem, o que tem acontecido até agora na década de 1970 nos convence de que Jeová está levando a obra a um termo bem-sucedido nesta geração. Queira notar os aumentos indicados pelos números da tabela que segue:
Não está evidente o aumento? Sim, realmente, e vê-se uma excelente indicação de potencial de aumento na assistência à Comemoração: Quase o dobro de pessoas esteve presente a essa celebração em 1978 em comparação com o número de proclamadores do Reino no Canadá!
Onde se acham todas essas pessoas? Principalmente muitas pessoas comuns de coração humilde que aceitam as coisas ensinadas na Palavra de Deus. Muitas dessas pessoas ficaram desenganadas com os sistemas da religião falsa que degradam a Bíblia e seus princípios justos. Reconhecem que a cristandade só provê fúteis ritos religiosos semana após semana, sem alimento espiritual que dá esperança. Numa narrativa sobre e Canadá, o Anuário de 1971 (em inglês) fornece um bom exemplo disso, dizendo:
“Certa senhora ouviu um anúncio pelo rádio sobre uma assembléia de circuito a uma distância de umas setenta e cinco milhas [uns 120 quilômetros]. Embora nunca tivesse entrado em contato com as Testemunhas de Jeová antes, viajou de ônibus para ir assistir. Na assembléia, ela obteve um exemplar do livro Verdade e da Bíblia, e encontrou um pioneiro que concordou em visitá-la. Ao chegar lá para o primeiro estudo, o irmão pioneiro ficou sabendo que o chefe da família havia distribuído vinte e seis Bíblias entre as pessoas na sua vizinhança que assim como ele, estavam dessatisfeitas com a igreja. Depois do primeiro estudo bíblico, esse homem deixou de fumar, após o segundo estudo, ele destruiu todas as imagens de sua casa e pediu assinaturas de A Sentinela e Despertai! Após o terceiro estudo, perguntou como poderia assistir às reuniões da congregação, embora fossem realizadas a uma distância de vinte e cinco milhas [uns 40 quilômetros]. Em menos de cinco meses esse homem, sua esposa e seu filho mais velho, de quinze anos de idade, começaram a participar no serviço de campo. Já tiveram êxito em despertar o interesse de outro casal com doze filhos para a verdade, sendo que essa segunda família estuda agora e assiste às reuniões da congregação, embora tenha de viajar quarenta e sete milhas [uns 75 quilômetros] para isso o primeiro casal ofereceu fornecer madeira para a construção de um Salão do Reino naquela região e está fazendo progresso na verdade.”
QUANDO A TELEVISÃO HONRA A DEUS
Em anos recentes, a televisão nos tem concedido diversas oportunidades de difundir “as boas novas” no Canadá. Por exemplo, considere o que aconteceu lá no ano de 1966. O Anuário de 1967 relatava: “O grande evento no Canadá este ano foi a maravilhosa série de congressos. Os irmãos foram realmente abençoados e ficaram maravilhados com as suas Assembléias de Distrito ‘Filhos da Liberdade de Deus’. Foi notável a publicada que estas assembléias receberam de costa a costa. Foi extraordinária a rede nacional de televisão, de quarenta e sete emissoras afiliadas com a Associação Canadense de Difusão, que transmitiu um excelente programa sobre as testemunhas de Jeová através do Canadá. Também outra rede de televisão com onze estações associadas, transmitiu um programa de meia hora sobre as testemunhas de Jeová. Portanto, o público canadense aprendeu certamente por meio da televisão alguma coisa sobre a organização das testemunhas de Jeová.”
Mencionamos antes nesta narrativa um programa favorável de televisão um tanto recente sobre a questão da transfusão de sangue. Contudo, a televisão tem sido usada para honrar a Jeová de outro modo ainda — por se usar a programação de televisão por cabo. As associações de TV por cabo que provêem transmissão por antena a várias comunidades precisam também, segundo exigido por lei, operar uma estação por cabo e apresentar programas do povo da comunidade. Cerca de cinco anos atrás, depois de termos usado uma estação de televisão por cabo em Toronto, em conexão com alguma publicidade para uma assembléia de distrito no verão, a diretoria ficou tão satisfeita com a qualidade do programa que pediu mais desses programas.
Deste modo, começou uma série deles e tem continuado até agora. Todavia, desde que esses programas começaram a ser apresentados através de uma só estação, aumentaram ao ponto em que foram usados em 54 estações através do Canadá. Até o presente, cerca de 200 programas foram produzidos sob títulos tais como “Sentir Prazer em Educar os Filhos”, “O Alcoolismo — Um Problema Internacional”, “O Papel da Mulher na Religião”, “Nosso Espantoso Universo” e “Diferenças Raciais — Será que Importam?” Estes programas são na maioria em inglês, mas alguns foram também apresentados em italiano e em francês. Os programas duram meia hora, são a cores e incorporam diapositivos e película cinematográfica para suplementar a palestra que é feita em forma de discurso. Muitas estações apresentam esses programas semanalmente.
As pessoas que vivem trancadas no seu apartamento estão sendo alcançadas com estas apresentações. Outras, que não querem falar com as Testemunhas de Jeová à plena vista de seus vizinhos, assistem aos programas no recesso de seu lar. Em resultado disso, quando damos testemunho em tais territórios, algumas portas se abrem agora por ter sido aberta a mente de alguns. As pessoas reconhecem que a matéria desses programas as fez meditar. Outro benefício desses programas é que diversos cônjuges descrentes, que antes não queriam escutar seu consorte cristão, assistem agora regularmente aos programas. Isto os tem ajudado a aprender o que as Testemunhas de Jeová realmente crêem. O resultado é que alguns mudaram de atitude e não mais se opõem a seu cônjuge em questões tais como assistir a reuniões e a assembléias e ensinar as verdades bíblicas aos filhos.
AMPLIAÇÃO DA NOSSA FILIAL
Com o aumento das atividades de pregação do Reino e de fazer discípulos por parte dos cristãos canadenses, aumentou também a necessidade de ampliação da filial. Portanto, foi um dia feliz quando recebemos aprovação do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová para a construção de um anexo de dois pavimentos à nossa gráfica e uma ampliação do lado norte do Lar de Betel de Toronto para um novo Salão do Reino. Isto era evidência tangível do crescimento em resultado da bênção de Jeová. Havia especialmente grande necessidade de espaço para a gráfica. A construção começou em novembro de 1974 e terminou em junho de 1975. Mais de 2.000 visitantes chegaram, em excursão, em 28 de junho, o dia da “visitação pública”. O irmão N. H. Knorr deu o discurso da dedicação em 29 de junho de 1975.
O novo Salão do Reino, com suas cores cálidas e sua tribuna de bom gosto, serve de excelente lugar de reunião para três congregações — inglesa, italiana e espanhola. E certamente ficamos contentes de ter um anexo da gráfica, de 1.486 metros quadrados. Parecia tão grande na ocasião! Em questão de um ano porém, estávamos usando todo o espaço e precisávamos de mais! Por isso, o próprio Lar de Betel estava ficando pequeno. O que podíamos fazer?
A situação apertada, o crescente barulho da estrada de 14 faixas de tráfego bem diante de nossas dependências e a incrementada poluição devido ao tráfego levaram à conclusão de que se precisava de outro local. Além disso, não havia condição de maior expansão nesse local. Portanto, mais uma vez houve regozijo quando, em fevereiro de 1977, recebemos a aprovação para mudar de local a filial da Sociedade em Toronto.
Com isso, começou-se a procurar um local. Depois de cerca de seis meses de procura e mais alguns meses de negociações, encontrou-se uma propriedade no interior, numa nova comunidade chamada Halton Hills, Ontário. Solicitou-se em novembro de 1977 licença para construir.
Houve muita emoção! Muitos voluntários ansiosos mal podiam esperar para que começasse a obra, o trabalho mais pesado e principal da construção seria feito por empreiteiros construtores profissionais, mas muito do trabalho menor, interno, e de acabamento seria feito pelas mãos amorosas pela energia do povo de Jeová.
Embora não demos indevida ênfase a construções materiais a nova construção da filial será deveras um lembrete da bondade de Jeová. Ele tem dado grandes aumentos em proclamadores do Reino neste país e esse crescimento tornou necessário aumentar as dependências.
UNIDOS EM SERVIR FIELMENTE
Hoje, no Canadá, 66 irmãos estão servindo no circuito. Sete anciãos servem como superintendentes de distrito. Também, durante o ano de serviço de 1978, 1.671 pessoas serviram como pioneiros regulares e 286 como pioneiros especiais.
Parece apropriado mencionarmos aqui algo sobre os trabalhadores de tempo integral nessa filial da Sociedade no Canadá. A família do Betel de Toronto é composta agora de 105 homens e mulheres. A idade, em média, é de 37 anos, havendo muitos jovens entre eles. A média de anos de serviço de tempo integral é de 14. Mas pode-se dar um quadro mais completo da idade e da madureza desse grupo do seguinte modo: Há dois membros que estão na casa dos 80 anos, quatro, na casa dos 70 e 11, na casa dos 60. Jack Nathan devotou 54 anos ao serviço de tempo integral em vários setores. Laura French está há 51 anos em tal serviço, Janet MacRae, 48 e Ralph Brodie, 45. Outros vinte e sete devotaram 20 anos ou mais ao serviço de tempo integral. Sete membros da família do Betel do Canadá professam ser seguidores ungidos de Jesus Cristo. É bastante aparente, pois, que há apreciável estabilidade espiritual nessa família de trabalhadores de tempo integral.
Um grande número de devotados publicadores de congregação continuam zelosamente a proclamar as “boas novas” em todo este país. Quão maravilhoso é servirmos todos juntos, fielmente, para a honra de nosso Pai celestial!
CONGRESSOS INTERNACIONAIS “FÉ VITORIOSA”
Quão apropriado foi que as assembléias de 1978 foram intituladas Congressos Internacionais “Fé Vitoriosa”! Após quase 100 anos de atividade cristã, houve bastante evidência no Canadá de que Jeová nos tem abençoado com uma fé que vence o mundo. E não há outro lugar melhor para ver alguma dessa evidência do que Montreal, na Província de Quebeque. Imagine só: Desde os dias do ódio ardente na forma de oposição por parte das autoridades decididas a nos destruir, chegamos agora a ter a elogiável cooperação da parte das autoridades municipais e provinciais! De um período em que havia apenas algumas Testemunhas na cidade chegamos a um tempo em que se realizou um congresso internacional com uma assistência de 80.008 pessoas! Como os tempos mudaram!
Que regozijo foi ver o famoso Estádio Olímpico cheio de congressistas de língua inglesa, de ver o Velódromo cheio de uma multidão de congressistas de língua francesa, bem como ver outras dependências do complexo do Olímpico com grandes números de pessoas! Houve sessões em sete idiomas.
O programa foi, naturalmente, excelente. Mas a parte que mais provavelmente será lembrada por mais tempo foi o arranjo de visitar as pessoas de Montreal nos seus lares na manhã de sexta-feira do congresso. Aonde quer que a pessoa fosse naquele dia, podia ver as Testemunhas de Jeová fazer visitas às casas ou paradas em esquinas de ruas movimentadas, oferecendo a literatura especialmente preparada para o povo e convidá-lo para as sessões do congresso. As reportagens nos jornais estavam de acordo de que as Testemunhas se achavam em toda a parte. Certo locutor de rádio disse que as pessoas deviam escutar as Testemunhas e adquirir a literatura oferecida. Acrescentou ele: ‘Ao fazerem isso, não pensem que estarão fazendo um favor para as Testemunhas. Elas é que lhes fazem um favor por lhes fornecerem essa informação.’ E o povo de Montreal mostrou-se favorável. Foi amistoso e receptivo. Muitos dos residentes mais antigos devem ter pensado na diferença agora em comparação com há alguns anos: As Testemunhas que outrora eram atacadas por motins e encarceradas estavam agora na cidade como hóspedes bem-vindos, tendo plena liberdade de adoração! A fé cristã triunfou em face das grandes dificuldades.
Significa isso que as Testemunhas tirariam agora indevida vantagem das circunstâncias mudadas? Não, pois a polícia de Montreal observou que as Testemunhas eram o grupo ‘mais bem disciplinado’ com o qual já lidaram. Essa disciplina se demonstrou na boa organização do campo de “trailers” e tendas, de 45 hectares, que nossos irmãos estabeleceram a pouca distância do Estádio Olímpico. Alojou 15.000 congressistas durante os cinco dias.
O resultado disso foi um grande testemunho para a cidade. Mais de 25 horas na TV e no rádio e uns 500 artigos nos jornais deram grande publicidade ao evento.
Foram realizados congressos internacionais também em Vinipegue, Manitoba; Vancúver, na Colúmbia Britânica; e Edmonton, em Alberta. A assistência total para os quatro congressos foi de 140.590 pessoas. Houve 1.226 pessoas que se batizaram em símbolo de sua dedicação cristã a Deus.
JEOVÁ ABENÇOA A PERSEVERANÇA NAS OBRAS JUSTAS
Aquela fraca luz espiritual que reluziu no Canadá em princípios da década de 18S0 tornou-se tão brilhante como ao meio-dia. De uma ou duas pessoas, passou agora para quase 65.000 proclamadores muito ativos das “boas novas” neste país. Ora, desde a imposição da proscrição em 1940 até 1977, o aumento no número de Testemunhas ativas foi de mais de 902 por cento!
Muito mais importante, porém, do que a estatística é a condição espiritual dos cristãos canadenses. Enfrentaram dificuldades, sobreviveram a proscrições e suportaram a hostilidade do público. Poucos foram os que os defenderam na questão da liberdade de palavra. Contudo, hoje, as pessoas informadas admitem que as Testemunhas de Jeová destruíram o domínio da ditadura clerical em Quebeque e que suas batalhas jurídicas tiveram o efeito de preservar as liberdades de todos os canadenses. Como foi no caso dos cristãos primitivos, as testemunhas canadenses de Jeová continuam confiantemente a prosseguir não obstante as objeções do mundo. Fazem isso com fé, sabendo que “a mão de Jeová” está com eles. — Atos 11:21.
Naturalmente, não foi possível mencionar nesta narrativa todas as pessoas que deram de sua energia e devotaram sua vida à obra de declarar a mensagem do Reino no Canadá. o tempo não nos permitiria citar todos os exemplos de abnegação e devoção. Além de todos os trabalhadores ainda no Canadá, 755 canadenses foram enviados como missionários. Dentre estes, 198 ainda estão no serviço no estrangeiro, com outros 130 ainda no serviço de tempo integral neste país. Os que foram enviados fora do país tiveram excelentes privilégios.
Deveras, os atos das Testemunhas de Jeová no Canadá, nos últimos 100 anos, constituem uma história emocionante da fé individual. Mas o que dizer do futuro? As perspectivas são excelentes! Houve neste pais 120.060 pessoas presentes à comemoração da Refeição Noturna do Senhor em 1978. Portanto, parece evidente que, com a bênção de Jeová, as fileiras dos proclamadores do Reino continuarão a crescer neste país. — 1 Cor. 3:6-9.
Por conseguinte, podemos dizer com alegria que a obra de pregação está sendo feita aqui antes do fim deste sistema de coisas. A obra de fazer discípulos continua, em obediência às palavras de Jesus. (Mat. 24:14; 28:19, 20) Os cristãos canadenses deixaram brilhar a sua luz, e dezenas de milhares de pessoas reagiram favoravelmente. — Mat. 5:14-16.
Quando for escrito o capítulo final a respeito da declaração das “boas novas” em toda a terra, que Jeová ache que os trabalhadores nesta parte do campo, chamada agora de Canadá, serviram bem, merecendo assim o largo sorriso de Sua aprovação e favor. Os proclamadores do Reino neste país já podem testificar a veracidade da declaração: “A bênção de Jeová — esta é o que enriquece, e ele não lhe acrescenta dor alguma.” — Pro. 10:22.
[Fotos na página 171]
A divulgação das “boas novas” nos tempos antigos — por carro—camping
— por barco
— por “caboose” puxado a cavalo
[Mapa na página 77]
Para o texto formatado, veja a publicação)
CANADÁ
TERRITÓRIOS NORTE-OCIDENTAIS
Inuvik
Rio Mackenzie
YUKON
COLÚMBIA BRITÂNICA
Vancúver
Vitória
Oceano Pacífico
ALBERTA
Calgary
SASKATCHEWAN
Saskatoon
Regina
MANITOBA
Vinipegue
Baía de Hudson
ONTÁRIO
OTAVA
Novo Liskeard
Hamilton
Toronto
QUEBEQUE
Cidada de Quebeque
Montreal
TERRA NOVA
NOVA ESCÓCIA
Truro
Halifax
Oceano Atlântico
[Tabela na página 165]
Ano Auge Pubs. Congr. Ass. Comemoração
1970 6.808 788 93.503
1971 49.204 790 97.518
1972 50.166 797 100.755
1973 52.773 863 104.707
1974 58.452 919 110.847
1975 60.759 979 114.744
1976 62.880 1.011 120.533
197T 63.090 1.033 120.958
1978 61.836 1.035 120.060