Perseguição com a permissão de Jeová — por quê?
“Jeová sabe livrar da provação os de devoção piedosa, mas reservar os injustos para o dia do julgamento, para serem decepados.” — 2 Ped. 2:9.
1, 2. A que conclusão errônea talvez cheguem os perseguidores dos verdadeiros cristãos, e por que não intervém Jeová?
DESDE o dia em que Abel, segundo filho de Adão e Eva, foi morto pelo seu irmão ciumento, Caim, as fiéis testemunhas de Jeová têm sido odiadas e amargamente perseguidas. Um escritor inspirado, do primeiro século E. C., na sua carta aos hebreus, descreveu o tratamento que receberam, e Jesus de Nazaré, que também foi morto por opositores desencaminhados, advertiu de antemão seus verdadeiros seguidores de que eles também sofreriam perseguição similar. (Heb. 11:4, 36-38; João 15:18-20) Todos estes maus tratos não têm justificativa, e o Senhor Deus Jeová os poderia ter impedido. Por que não o fez? — Veja Habacuque 1:13.
2 Os que agem traiçoeiramente poderiam ficar com um falso senso de segurança. O salmista bíblico escreveu: “Por que é que o iníquo desrespeitou a Deus? Ele disse no seu coração: ‘Não exigirás prestação de contas.’” (Sal. 10:13; 76:7) Mas a demora de Deus em exigir uma prestação de contas não se deve a uma fraqueza ou à falta de preocupação com os oprimidos. Pedro, apóstolo de Jesus, nos assegura: “Jeová sabe livrar da provação os de devoção piedosa, mas reservar os injustos para o dia do julgamento, para serem decepados.” (2 Ped. 2:9) Portanto, a perseguição dos justos pelos iníquos serve a um propósito de Deus; às vezes, é verdade, ele a permitiu como castigo, quando seu povo o desagradou (Isa. 12:1), mas, na maior parte, a perseguição serviu para identificar os inimigos de Deus (Deu. 25:17-19), bem como os favoravelmente dispostos para com ele. (Mat. 25:34-36) Serviu como prova de integridade da parte de seu próprio povo, e, mediante a libertação deste, como vindicação do nome de Jeová. — 1 Ped. 4:1, 2; Pro. 27:11.
3. O que são os dramas proféticos, e que evidência deles há na Bíblia?
3 Os tratos de Deus com seu povo e os adversários deste, nos tempos passados, foram muitas vezes simbólicos ou representativos dos seus tratos conosco, hoje, e uma das narrativas mais dramáticas da Bíblia se encontra no livro de Ester. (1 Cor. 10:11; Gál. 4:24-26; Luc. 17:26-30) Será de grande proveito ler este livro inteiro. Daí, com os pormenores ainda bem lembrados, considere o significado deste drama profético dos nossos dias.
4. Como se identifica a questão do tempo do drama de Ester nos tempos modernos, e o que representa o Rei Assuero?
4 A história começa na corte do Rei Assuero, que governava o vasto império da Pérsia e da Média, desde a Índia até a Etiópia. “Ora, aconteceu . . . no terceiro ano de ele reinar, [que] ele deu um banquete a todos os seus príncipes e seus servos.” (Ester 1:1-9) O que sugere isso nos tempos modernos? No fim dos “tempos dos gentios” de dominação mundial, em 1914, chegara o tempo para o cordeiro do Rei Davi, Jesus Cristo, assumir sua autoridade celestial como Rei, para governar sobre todos os seus súditos com poder e autoridade régios, subjugando seus inimigos e enaltecendo os que aprovava. (Luc. 21:20-24; Sal. 110:1, 2; 1 Cor. 15:25; Mat. 24:45-47, Almeida) Numa previsão notável, fornecida ao apóstolo João, conforme registrada em Revelação 12:10, 12, houve pouco depois um tempo de grande alegria para os que compreendiam a profecia bíblica. “E ouvi uma voz alta no céu dizer: ‘Agora se realizou a salvação, e o poder, e o reino de nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo [Messias], porque foi lançado para baixo o acusador dos nossos irmãos, o qual os acusa dia e noite perante o nosso Deus! Por esta razão, regozijai-vos, ó céus, e vós os que neles residis!’” Havia, pois, finalmente, grande regozijo na corte celestial. Então, o Rei Assuero, sentado no seu trono régio em esplendor e exercendo autoridade ilimitada para com o seu vasto império, bem podia representar o poder régio nas mãos de Jesus Cristo neste “tempo do fim”. — Dan. 12:1-4.
5, 6. (a) O que se exigiu que a Rainha Vasti fizesse e com que resultado? (b) Como se reconhece o paralelo hodierno?
5 Além disso, podia-se esperar corretamente que os estudantes da Bíblia, na terra, que aguardavam estes eventos, participassem desta celebração alegre. (Sal. 97:1; 96:8) Que paralelo disso houve entre os súditos do Rei Assuero? “No sétimo dia, quando o coração do rei se sentia bem por causa do vinho, ele disse . . . que trouxessem Vasti, a rainha, no toucado real perante o rei, para mostrar aos povos e aos príncipes a sua lindeza; pois ela era linda de aparência. Mas a Rainha Vasti se negava a vir à palavra do rei transmitida por intermédio dos oficiais da corte. Em vista disso, o rei ficou muito indignado e se acendeu a sua ira no seu íntimo.” (Ester 1:10-12) E isso corretamente! Seria altamente prejudicial para o prestígio do rei e causaria desprezo para com a sua autoridade em todo o império. O rei procurou conselho jurídico dos seus sábios, que o aconselharam: “Se parecer bem ao rei, proceda da sua pessoa uma palavra real e seja ela inscrita entre as leis da Pérsia e da Média, para que não passe, que Vasti não pode entrar perante o Rei Assuero; e dê o rei sua realeza a uma companheira dela, uma mulher melhor do que ela.” Isto agradou ao rei e ele ordenou que fosse feito. — Ester 1:13-22.
6 Vasti, cujo nome significa “bela”, era a rainha, casada com o rei; mas, apesar desta posição preferencial que tinha, foi deposta porque não acatou as ordens do rei, de se juntar a ele na sua festa alegre. Nos eventos que cercaram a entronização do Messias, Jesus Cristo, nos céus, em 1914, participaram com o Rei, na sua celebração, todos os que aguardavam o reino de Deus? As profecias da Bíblia, junto com os fatos físicos em cumprimento, fornecem a resposta.
UMA PROVA DE LEALDADE
7. O que aconteceu em 1918, e o que exigia o propósito de Jeová para o “tempo do fim” no que se refere aos da classe ‘escrava’?
7 Em 1918, Jesus, o Mensageiro messiânico, acompanhou a Jeová ao templo espiritual de modo repentino e inesperado, para começar o julgamento do povo de Deus. (1 Ped. 4:17; Mal. 3:1) Jesus, o Messias, sabia de antemão que alguns dos que o procuravam não o faziam com motivação pura. Um dos objetivos do julgamento era expor esta atitude do coração daqueles que procuravam o reino messiânico de Deus e lidar concordemente com os que a demonstrassem. (Mat. 24:48-51) Assim como se dá com um amo de escravos, o Messias tinha a prerrogativa de agir segundo a sua própria vontade e a de seu Deus Jeová, ao tratar com os que biblicamente são chamados de classe ‘escrava’. O objetivo de Jeová, neste “tempo do fim”, já ficou estabelecido com muita antecedência. (Isa. 46:8-11) Não era importante que os plenos pormenores deste objetivo não fossem conhecidos da classe ‘escrava’, na terra. Seu voto de dedicação a Jeová os tornava responsáveis, para fazerem tudo o que Jeová e seu Rei messiânico lhes pedissem fazer, segundo a sua Palavra, as Escrituras Sagradas. Então, tendo sido eliminados do céu os inimigos de Jeová, chegara o tempo de o Rei messiânico e Juiz começar a cumprir o propósito de Jeová para com a terra. Ele sabia o que aguardava esta classe de servos na terra e sabia que apenas a união completa dentro de suas fileiras e a sinceridade quanto à execução do propósito de Deus os habilitariam a cumprir com a responsabilidade bíblica que haviam de ter. Por este motivo, pareceria que ele impunha aos seguidores ungidos de suas pisadas, na terra, uma prova muito severa para eliminar os que não aceitavam a sua direção. — Mal. 3:2, 3; 1 Ped. 2:4-8; Isa. 8:13-15.
8. Como foram provados os que afirmavam ser da classe da “noiva”? Com que resultado?
8 Permitiu-se o desenvolvimento de certas condições dentro da organização religiosa, que esquadrinhavam a profundeza da devoção de coração de cada um dos que afirmavam estar casados com o Rei messiânico, Jesus, como membro da classe da “noiva”. (Sal. 45:10-14; João 3:29) Sua submissão foi provada especialmente de três modos: primeiro, quanto a confiarem na doutrina da Palavra de Deus, conforme revelada através de seu canal de comunicação; segundo, quanto à sua disposição de participar na pregação destas boas novas do reino messiânico, que tinha de ser feita antes de se concluir o propósito de Jeová neste “tempo do fim”; e, terceiro, quanto à sua completa lealdade à sua organização terrestre, que ainda havia de ser edificada numa estrutura plenamente teocrática, o que se teria de fazer durante este “tempo do fim”. Isto era essencial, não só para habilitar seu povo a se manter firme e a enfrentar a severa perseguição, que Jesus sabia que ainda sofreriam, mas também para que seu povo estivesse pronto para assumir a obra de responsabilidade que teriam, depois de este atual sistema de coisas ter sido destruído na vindoura tribulação mundial. Durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, nenhum dos do povo de Deus se dava conta do pleno alcance desta responsabilidade religiosa que os aguardava. Contudo, os que amavam a Deus aceitaram sinceramente as provações que lhes sobrevieram de dentro da organização perturbada e a prova ardente imposta a eles para purgá-los e purificá-los, conforme predito pelo profeta Malaquias. Houve alguns, porém, que falharam e que se rebelaram, e, portanto, iguais a Vasti, não eram submissos quando veio a chamada de eles mostrarem sua beleza piedosa e sua submissão ao Rei messiânico.a — Luc. 14:17-21.
9. Que obra de colheita se havia de fazer durante o “tempo do fim”, e como foi ela predita?
9 Mais pormenores foram fornecidos por Jesus na sua ilustração do campo, no qual certo homem havia semeado trigo e no qual um inimigo havia passado a semear joio. Quando isso foi relatado ao amo, ele disse: “Deixai ambos crescer juntos até a colheita; e na época da colheita direi aos ceifeiros: Reuni primeiro o joio e o amarrai em feixes para ser queimado, depois ide ajuntar o trigo ao meu celeiro.” (Mat. 13:30) A colheita mencionada ali ocorreria após o julgamento no templo e se aplicaria aos que eram membros fiéis da “noiva” de Cristo, seus seguidores ungidos, que haviam de reinar com ele no céu. (Luc. 22:28, 29; Rev. 3:21) Mas não era do propósito de Deus ajuntar apenas este grupo. (Luc. 12:32) Sem que os ungidos o soubessem naquele tempo, Jeová tinha um propósito adicional, e este era ajuntar mais tarde uma grande multidão, que ele se propunha a usar como núcleo duma sociedade humana justa, que viveria na terra sob o reino messiânico. (João 10:16; 2 Ped. 3:13) Isto exigiria muito trabalho da parte dos ungidos, e eles teriam de estar unidos, porque a obra da pregação do reino messiânico seria feita no meio de grande oposição. (Mat. 10:16-18) Isto também foi prefigurado no drama de Ester, ao passo que se desenrolava.
SUBSTITUIÇÃO DOS INSUBMISSOS
10. Que medidas tomou o Rei Assuero para substituir Vasti, e como ficaram Mordecai e Ester envolvidos nisso?
10 Primeiro, porém, o Rei Assuero achou necessário substituir a rainha deposta. Seus conselheiros lhe recomendaram que se ajuntassem todas as virgens jovens, as mais belas de todo o domínio, para que ele escolhesse dentre elas aquela que lhe agradaria mais como sucessora de Vasti. Antes de qualquer jovem poder ser levada ao rei, tinha de ser corretamente preparada para se encontrar com ele. Isto incluía um ano de tratamento de beleza, incluindo massagens com diversas espécies de óleo, sob a supervisão estrita de Hegai, eunuco de confiança no serviço do rei. Ester, cujo nome significa “murta”, foi incluída entre estas jovens, e ela achou imediatamente favor aos olhos de Hegai, de modo que “ele se apressou em dar-lhe as suas massagens e seu alimento devido, e a dar-lhe sete moças escolhidas da casa do rei”. Ester não havia revelado qual era seu povo ou sua parentela, pois o seu próprio primo Mordecai lhe havia ordenado que não o revelasse. Mordecai sabia que Ester sofreria muitas mudanças de ambiente e pressões que poderiam induzi-la a se desviar da lei de seu próprio povo, na qual tinha sido instruída pelo seu tutor, Mordecai. Ele estava decidido a não deixar que o resultado final fosse este para ela. Por isso continuou a manter de perto a supervisão do bem-estar espiritual dela. “E Mordecai andava dia após dia diante do pátio da casa das mulheres para saber do bem-estar de Ester e o que se fazia com ela.” — Ester 2:1-11.
11. Quem ou o que é representado por (a) Mordecai? (b) Hegai?
11 Portanto, Mordecai, cujo nome significa “como murta pura, murta triturada”, representa aqueles do restante ungido que supervisionavam de modo fiel o julgamento no templo, durante a Primeira Guerra Mundial, e que estavam interessados em cuidar de que os que substituíam a classe de Vasti fossem corretamente preparados para serem aceitos pelo Rei. Nos tempos modernos, verificou-se que os da classe de Mordecai se desincumbiram fielmente de sua responsabilidade dada por Deus. (Mar. 24:45-47) Mas é preciso observar que o próprio Mordecai não estava pessoalmente encarregado de Ester nesta questão; isto era realizado através de Hegai, que estava a serviço do rei. Portanto, Hegai representa o arranjo sob a supervisão da classe de Mordecai, a fim de preparar os da classe de Ester para a apresentação correta ao Rei. — Efé. 5:26, 27.
12, 13. A quem tipificava Ester, como foram estes manifestos e que atitude semelhante à de Ester demonstraram?
12 Finalmente chegou o dia para Ester comparecer perante o rei. Dessemelhante de Vasti, que se havia estribado no seu próprio entendimento, na sua resposta à ordem do rei, Ester preferiu não levar nada consigo quando foi apresentar-se ao rei, exceto aquilo que o próprio Hegai recomendasse. Também hoje, os da classe de Ester se mostram modestos na avaliação de si mesmos e dispostos a seguir o arranjo preparado para eles no seu serviço prestado ao Rei. “E o rei veio a amar Ester mais do que a todas as outras mulheres, de modo que ela obteve mais favor e benevolência diante dele do que todas as outras virgens. E passou a pôr-lhe o toucado real sobre a cabeça e a fazê-la rainha em lugar de Vasti.” — Ester 2:12-18.
13 Deve ter sido deveras um dia alegre para o rei, ter diante de si, no trono, uma moça não só de grande beleza, mas também de modéstia e de apreço de sua relação com ele. Hoje, também, há grande regozijo ao se observar os que desde o fim da Primeira Guerra Mundial se tornaram novos crentes, recém-dedicados, que simbolizaram sua dedicação a Jeová Deus, mediante Jesus Cristo, por meio da imersão em água, a partir do ano de 1919 e especialmente até 1931. Os que entraram foram ungidos pelo espírito de Deus como membros mais novos da classe da “noiva”, porque a porta ainda não estava fechada à elevada vocação de reinar com o Messias celestial. Faziam-se substituições dos que foram rejeitados por causa de sua atitude insubmissa. Mas estes, iguais a Ester, não eram presunçosos quanto à sua nova posição. Continuaram a seguir o arranjo de Deus, assim como Ester seguia o de Mordecai. “Ester fazia o que Mordecai dissera, assim como quando viera a estar sob os seus cuidados.” — Ester 2:19, 20.
UM ATO DE LEALDADE DEIXA DE SER RECOMPENSADO
14. Como demonstrou Mordecai sua lealdade ao rei, e com que resultado?
14 Então acontece uma coisa na narrativa dramática, que, na ocasião, parecia de pouca importância na história, mas havia de desempenhar um papel notável no cumprimento dos eventos. Mordecai descobriu uma trama contra o rei e a relatou a Ester, que a revelou ao rei. A investigação provou a culpa dos pretensos assassinos e eles foram pendurados. (Ester 2:21-23) A frustração desta tentativa de assassinato do rei, por Mordecai deixou de ser recompensada na ocasião, embora ficasse permanentemente registrada nos anais a seu favor. O mesmo se deu no paralelo moderno. — Heb. 6:10.
15. Como mostram os da classe de Mordecai sua lealdade ao Rei, e como é isto trazido à atenção do Rei?
15 Os da classe de Mordecai, no seu serviço prestado ao Rei, propendem para a organização. Quando a organização começou a ter estrutura mais teocrática, depois de ter começado o julgamento no templo, notaram prontamente alguns que pareciam ter estado em harmonia com o progresso do propósito de Jeová até aquele tempo, homens de destaque na organização, mas que ficaram descontentes e que adotaram um proceder que pôs em perigo o bem-estar dos interesses do Reino, constituindo isso uma rebelião contra o Rei. (Jud. 16-19) A classe de Mordecai trouxe este assunto à atenção de Ester, que precisava aprender organização e ser fortalecida na lealdade ao Rei. Isto se deu especialmente visto serem novatos. (Rom. 16:17, 18) Por meio da classe de Ester, o Rei veio a saber quando estes recém-escolhidos da “noiva” de Cristo escolheram a lealdade ao Rei messiânico e à organização. No entanto, naquele tempo não se deu nenhuma recompensa especial à classe de Mordecai.
APARECE UM INIMIGO ANTIGO
16, 17. (a) Que destaque veio a ter Hamã, e quais eram os seus antecedentes genealógicos? (b) A quem representava Hamã, e por quê?
16 De fato, quase parecia que o ato de Mordecai não fora apreciado, porque a narrativa continua: “Depois destas coisas, o Rei Assuero engrandeceu a Hamã, filho de Hamedata, agagita, e passou a exaltá-lo e a colocar seu trono acima de todos os outros príncipes que estavam com ele. E todos os servos do rei que estavam no portão do rei dobravam-se e prostravam-se diante de Hamã, pois assim tinha ordenado o rei a seu respeito. Mordecai, porém, não se dobrava nem se prostrava.” — Ester 3:1-4.
17 O nome de Hamã, se for de origem persa, significa “magnífico; celebrado”, mas se corresponder ao paralelo hebraico, significa “barulho, tumulto, aquele que se prepara”, sem dúvida em sentido mau. Sendo filho de Hamedata (significando possivelmente “aquele que perturba a lei”), o agagita, ele era descendente de Amaleque, neto de Esaú. Esaú havia vendido sua primogenitura ao seu irmão gêmeo Jacó, do qual descendia Mordecai. Mas, Esaú odiava a Jacó e se opunha a ele amargamente, por Jacó ter tomado o que era legitimamente seu. (Gên. 25:29-34; 27:41) Além disso, em conformidade com esta hostilidade de Esaú para com Jacó, os descendentes dele, através de Amaleque, mostraram seu ódio ao próprio povo de Deus, os israelitas, quando o próprio Jeová libertou seu povo do Egito. Os amalequitas atacaram a retaguarda dos israelitas quando partiam, e por isso Josué os combateu com a ajuda das mãos erguidas de Moisés, e os derrotou. Por causa deste ataque vil contra os israelitas, Deus disse que eles haviam erguido a mão contra o trono de Deus e que Jeová guerrearia para sempre contra os filhos de Amaleque, e isto significava até mesmo nos dias de Mordecai e Ester. (Êxo. 17:8-16) Hamã representaria muito bem os clérigos da cristandade, nos tempos modernos, os quais venderam sua primogenitura referente ao reino de Deus em troca do enaltecimento entre os reinos deste mundo, e que combatem amargamente a Deus e o povo escolhido dele, assim como fizeram os amalequitas na antiguidade. — Mat. 23:5-7, 13-15; João 11:48-50, 53.
18. Como podia a classe de Hamã receber destaque neste “tempo do fim” quando Jesus Cristo está reinando no céu com todo o poder e autoridade?
18 Agora, Hamã fora enaltecido acima de Mordecai, e o Rei Assuero havia ordenado que todos se curvassem e prostrassem diante dele. Então, como podemos dizer que Assuero representa o poder régio nas mãos de Jesus Cristo? As Escrituras falam de Deus permitir a ocorrência de certas coisas, coisas más, aparentemente prejudiciais para a sua própria organização e na ocasião lesivas para o seu próprio povo. Um caso disso se encontra em 2 Tessalonicenses 2:11: “É por isso que Deus deixa que vá ter com eles a operação do erro [Deus lhes envia uma força para iludir (Centro Bíbl. Cat.)], para que fiquem acreditando na mentira.” Deus não é o autor do erro nem a fonte da ilusão, mas permite que vão ter com a classe que deseja ser afetada por eles. Por isso, no cumprimento do drama profético, Jeová quer que os de seu povo passem por certa prova, a fim de provarem que apóiam a sua soberania universal e para demonstrarem sua verdadeira integridade cristã, teocrática, a ele. O Senhor Jesus Cristo, reinando à mão direita de Jeová com todo o poder no céu e na terra, permite que se desenvolva tal situação. Ele deixa que os clérigos de toda a cristandade obtenham uma posição elevada neste mundo, no meio do qual vivem os da classe de Mordecai e da classe de Ester. Isto afeta a condição do povo do Senhor na terra. Não destrói a sua própria relação com o Rei messiânico, mas se mostra um perigo, ameaçando até mesmo a vida deles. — João 16:2, 3.
AMEAÇA DE ANIQUILAÇÃO
19. Que atitude adotou Mordecai para com Hamã, e por que não é muito difícil para alguns nos tempos modernos reconhecer seu cumprimento?
19 Mordecai, porém, recusou-se a se curvar diante de Hamã. As testemunhas de Jeová, hoje em dia, adotam a mesma atitude para com os clérigos da cristandade. (Sal. 139:21, 22) Em vista dos acontecimentos recentes no cenário mundial, isto talvez não seja difícil de entender. Devemos lembrar-nos, porém, que os eventos relacionados com este aspecto do cumprimento do drama profético começaram a ocorrer há alguns anos atrás, quando a rebelião não era coisa cotidiana e quando a freqüência à igreja era elevada e os líderes religiosos eram muito respeitados. Eles ocupavam posições elevadas em questões cívicas. Entraram em concordatas com líderes do mundo, não só para se fixarem de modo mais seguro, mas também para promoverem os interesses destes líderes seculares. Quando as testemunhas de Jeová, a classe de Mordecai, falou francamente contra eles, para expor a sua amizade com o mundo, que os tornava inimigos de Deus, era compreensível que aumentassem a tensão e a hostilidade entre estes servos de Deus e os clérigos da cristandade.b (Tia. 4:4) Entretanto, continuava a pregação de casa em casa por parte da classe de Mordecai, e a hostilidade dos clérigos aumentava até que finalmente se tornou evidente que estavam decididos a acabar completamente com a obra da classe de Mordecai.
20. (a) Qual foi a reação de Hamã, e o que se propôs fazer? (b) Que paralelo tem isso hoje?
20 Também Hamã, instigado ao extremo pelo seu orgulho e pela recusa de Mordecai, de se curvar diante dele, decidiu que aniquilaria não apenas Mordecai, mas todos os judeus. Com este fim, Hamã lançou sortes para determinar a ocasião mais auspiciosa, do ponto de vista de seus deuses, para se executar a sua trama. A sorte ou “Pur” caiu no décimo terceiro dia do décimo segundo mês lunar, adar. Ele apresentou então o assunto ao rei, acusando os judeus de serem contra a lei do rei e pedindo a publicação dum edito, em todo o império, autorizando a destruição deles. O Rei Assuero concordou, entregando a Hamã o seu próprio anel de sinete para selar o edito, tornando-o lei dos medos e dos persas, que não podia ser revogada. (Ester 3:5-15) Isto indicaria, nos tempos modernos, que o Senhor Jesus Cristo permitiria que os inimigos de seu povo fossem ao limite no seu esforço de cumprir seu objetivo de destruir a este. O resultado final, porém, caberia a ele decidir, assim como se deu também no caso de Mordecai e Ester. Estes acontecimentos dramáticos são o tema do artigo que segue.
[Nota(s) de rodapé]
a Veja o livro As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, em inglês (espanhol, alemão), páginas 64-73.
b Veja o livro As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, páginas 123-125, 129, da edição inglesa.
[Foto na página 560]
O Rei Assuero tornou Ester rainha em substituição da insubordinada Vasti.